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Brasil. Mate todos eles!


Amazonização do trabalho, consenso bolsonarista
e algumas distopias políticas do primeiro de maio
no Brasil

Por Gil Felix Publicado el May 6, 2020

Se realmente tem algo memorável do 1o. de maio desse ano


é o consenso. Mas isso não tem muito de novo, daí o legado
da greve e da denúncia desde 1886. De novo mesmo é que
ele é um consenso praticamente unívoco, com instrumentos
de dominação hegemonista distintos daqueles dos últimos
30 anos. E radical; do radicalismo a sério, que advém das
condições, mais do que das contingências. Não é só discurso,
blefe ou efemeridade. Não se trata só de matar os chamados
“líderes”, os mártires, é para matar todos.
A ordem de Bolsonaro é clara e explícita. Não avança no
sentido de uma ruptura e autogolpe por conta das atuais
limitações de seus seguidores que, até o momento, se
limitaram a um apelo sem eco no generalato, e da sua própria
ojeriza aos trabalhadores e aos pobres em geral. Mas esse é
o único isolamento político que ele enfrenta, de fato, em
termos de ação política, quando defende o discurso da
ditadura da exploração do trabalho em tempos de risco de
infecção e morte dos trabalhadores pelo novo Coronavirus.
Na verdade, a agenda política que o sustenta é morbidamente
consensual. E, na prática, avança a passos largos, por
exemplo, com as reformas, que, como todos sabem, não são
novidade, como é o caso das principais, na regulação de
Estado da previdência social e do trabalho formal. Também
não é novidade que são mundiais, demonstram a totalidade
da nossa atual sociedade de classes e, em especial,
encurtando o assunto, o sentido da acumulação de capital
hoje. Mas sobre isso cabe uma ressalva sociológica, em dois
tempos – em circunstâncias da política do novo coronavirus,
diríamos até, mais propriamente, cientíaca, para não deixar de
provocar uma boa parcela dos colegas de proassão formados
dos anos 90 pra cá.

O conteúdo das reformas da previdência social foi e é


logicamente contrário ao avanço da produtividade do
trabalho. Ao contrário de diminuir o tempo de trabalho para
todos que trabalham, no sentido de jornadas menores ou
menos intensas, por exemplo, ou, ao menos, ainda dentro da
miserável jaula de ferro do mundo do trabalho atual, ao invés
de aumentar o tempo de aposentadoria, as reformas se
sustentaram no discurso de que o tempo de vida aumentou e,
logo, pasmem, também deve aumentar o tempo de trabalho.
Na prática, pesquisas sérias como as de colegas que
acompanham o tema há décadas já demonstraram, essas
mudanças não apenas retardaram, mas chegaram até mesmo
a retirar o acesso à aposentadoria de uma enorme fração dos
trabalhadores superexplorados brasileiros.

O conteúdo das reformas trabalhistas, idem. Ao invés de


garantir que todos trabalhem, fez com que aqueles que
trabalham tenham que acar mais tempo procurando trabalho
e, ao mesmo tempo, tenham que trabalhar mais e por mais
horas quando estão “empregados”. Essas reformas azeram
com que se substituíssem os empregos com alguma
estabilidade laboral e direitos trabalhistas como férias ou
limite de jornada de trabalho pelos trabalhos uberizados. Ou
seja, logicamente, também o oposto, mais horas de trabalho
para aqueles que trabalham e mais tempo sem trabalho, já
que a essência dessas reformas foi, justamente, dar liberdade
total para o agente patronal recrutar quando e onde ele
preferir e, obviamente, demitir.

Essas chamadas reformas, como eu destaquei, são políticas


antigas, vide as terceirizações que há décadas abarcam a
fração mais numerosa ou, às vezes, quase total das maiores
empresas no Brasil, em todos os setores. E ainda não
acabaram, uma vez que sequer a última reforma foi
considerada suaciente. Prepara-se uma mais radical, em meio
a mais 2,5 milhões de desempregados por um patrão que foi
denominado, morbidaconsensualmente, novo Coronavirus.
Esse sim, reiacado bem mais poderoso.

Temos utilizado o termo “uberização” no Brasil, com a


explosão exponencial dos trabalhadores que foram
submetidos à empresa de aplicativos Uber e a trabalhos
análogos à Uber, por exemplo, em São Paulo. Mas, com a
crise do novo Coronavírus, mundializada, talvez tenhamos
que acrescentar à lista de exemplos do que chamamos,
conceitualmente, de uma super-circulação, também um termo
que nos apetece singularmente: a amazonização do trabalho.

A empresa Amazon, com as greves e lutas dos trabalhadores


em vários países, por um lado, e com o aumento da fortuna
do seu proprietário por outro, é o exemplo mais citado do que
signiaca a exploração brutal do trabalho e a exposição dos
trabalhadores à doença e à morte. Com o advento do novo
Coronavirus, associado aos sistemas eletrônicos já antes
aprimorados para controle de corpos, medição e demissão
dos seus trabalhadores, a Amazon é mais uma das
expressões desse novo velho mundo do trabalho. Para nós, a
amazonização ganha também uma associação oportuna com
as expectativas de superação do que seria um aspecto
designado como atrasado do trabalho amazônico, da
superexploração do trabalho dos trabalhadores das empresas
agropecuárias, do peão-de-trecho, dos grandes projetos, das
mineradoras e das suas centenas de terceirizadas, assim
como das periferias, favelas e palaatas miseráveis de Belém e
de Manaus, que somarão às causas já ultra-violentas das
mortes por subnutrição, assassinatos, leptospirose etc,
também as causadas pelo novo vírus.

Mas, voltando ao argumento, fato é que a ampla aliança


contra Bolsonaro é bem sucedida naquilo que se propõe:
hegemonizar, tutelar e criar um campo político-institucional
frente à convocação bolsonarista de autogolpe, isolando as
alternativas políticas da esquerda revolucionária, contra-
institucional ou até mesmo aquelas minimamente anti-
sistêmicas nesse momento em que o consenso burguês
pressupõe essa agenda mórbida contra os trabalhadores.

Porém, uma vez que essa agenda já retirou as condições


sociais de possibilidade de apoio político desse campo por
parte dos trabalhadores, a tutela chega apenas até o limite do
arco das próprias organizações que têm pouca ou quase
nenhuma potência para a ação política em condições de luta
proletária favelizada, amazonizada. E o radicalismo político
que advém da condição burguesa contemporânea, por outro
lado, não admite quaisquer concessões, não apresenta um
espaço social para mediadores e conciliadores na Europa e
nos EUA e, obviamente, muito menos, na América Latina. Até
mesmo no Brasil, em que historicamente se arruma a casa
por cima, amadurecem as condições para entrar em jogo a
política da esquerda revolucionária.

Outros 1os. de maio virão.

* Gil Felix. Cientista social e professor da Universidade


Federal da Integração Latino-americana (UNILA)

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