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EDITORIAL

Espiritualidade missionária
SUMÁRIO
setembro 2010/07

A
cima de tudo, a espiritualidade missionária se alimenta
de uma profunda experiência de Deus que jamais poderá
ser guardada só para si, mas partilhada numa perspec-
tiva sem fronteiras. Antes de ser uma tarefa, a Missão é
contemplação do amor de Deus pela humanidade, que
faz com que entremos em plena comunhão com Ele. Para 1. Desocupação forçada é resultado
ser mais concreta, a espiritualidade missionária se fundamenta da desigualdade no campo.
na encarnação de Jesus Cristo: é “espiritualidade pé no chão”. Americana, SP.
Foto: João Zinclar
Os Evangelhos relatam a vida e a ação de Jesus andando pelas
vilas, pelas praias e campos, pelos desertos e povoados, nas mais 2 - Professor Faustino Teixeira.
diferentes realidades. Por isso, a espiritualidade de Jesus é uma Foto: Jaime C. Patias
vida completamente inserida e encarnada na história humana.
Podemos dizer que a espiritualidade missionária é profética,
 Mural-----------------------------------------------------04
apostólica, evangélica e universal. Cartas
Profética porque se identifica com o profeta por excelência, Jesus
Cristo. Disso nasce a força e a coragem de anunciar e denunciar.  OPINIÃO--------------------------------------------------05
Quem é o povo em situação de rua?
Hoje, mais do que nunca, somos chamados a anunciar o Reino de Júlio Renato Lancellotti
Deus e a denunciar todas as situações de anti-Reino. Esta edição
 Juventude missionária----------------------------06
traz reflexões com inspiração profética quando denuncia projetos O encontro dos jovens com Jesus
impostos pela ordem econômica numa visão de desenvolvimento Patrick Oliveira Urias
predatório, como a construção
 PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
Arquivo

da Hidrelétrica de Belo Monte Congresso Vocacional


e a crescente concentração de Rosa Clara Franzoi
terras nas mãos de poucos. Por  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
isso, é urgente garantir ao povo Notícias do Mundo
brasileiro o direito à terra e à Conic / Fides / Notícias do Planalto / Rádio Vaticano
soberania alimentar para cor-  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
rigir uma gritante desigualdade Palavra fecunda
social, que gera tanta miséria Patrick Gomes Silva
no campo e na cidade.  TESTEMUNHO ------------------------------------------12
Apostólica porque está Felicidade no nome e na vida
alicerçada na experiência dos Raffaelita Baravalle
apóstolos e das primeiras co-  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
munidades cristãs que, desde É muito mais que isso!
Cristo das Nações. Humberto Dantas
o começo constituíram-se como
comunidades missionárias. “A comunhão eclesial é a chave da  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15
Missão”, nos lembra o papa Bento XVI em sua mensagem para o Plebiscito Popular
Nelito Dorneles
próximo Dia Mundial das Missões. Destacamos aqui esta dimen-
são presente hoje, nas comunidades eclesiais que, organizadas e  especial -------------------------------------------------19
atuantes nas mais diversas realidades, testemunham valores do I Congresso Missionário de Seminaristas
Mensagem dos participantes
Reino na promoção humana, na defesa da criança e na valorização
da juventude, no diálogo ecumênico e inter-religioso, integrando  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
Hidrelétrica de Belo Monte
fé e vida na atuação política e na convivência harmoniosa com Dorival Gonçalves Junior
o meio ambiente.
Evangélica porque tem o Evangelho de Jesus Cristo como  África - --------------------------------------------------22
Doações atrasam o desenvolvimento?
ponto central que ilumina e torna autêntica a Missão. A obediente Michael Mutinda
escuta da Palavra de Deus, conforme destacamos na página de
espiritualidade, no Mês da Bíblia, é fundamental na caminhada  Ásia -------------------------------------------------------23
Não tenha medo, pequeno rebanho!
missionária. É o Evangelho que leva o missionário, e não o mis- Mário de Carli
sionário o Evangelho. Esse princípio faz parte da vida de inúmeros
 infância missionária ------------------------------24
missionários e missionárias, leigos, animadores, seminaristas, Sou criança, também tenho direitos!
consagrados e ordenados, que deixam tudo pelo Reino. Roseane de Araújo Silva
Universal porque, animada pelo Espírito de Deus que ama sem
 ENTREVISTA Faustino teixeira ---------------------26
fronteiras, está preocupada com a humanidade toda. Cultivando Diversidade, dom de Deus
uma espiritualidade missionária, qualquer pessoa ou comunidade Jaime Carlos Patias
cristã nunca deveria fechar-se em si mesma. A Igreja discípula  ATUALIDADE----------------------------------------------28
missionária, no encontro com Jesus, guiada pelo Espírito e in- Comunhão eclesial é a chave da missão
terpelada pela realidade, escuta, aprende e anuncia o Reino de Maria Emerenciana Raia
Deus para a humanidade toda.   volta ao brasil---------------------------------------30
CIMI / CNBB / revista Missões / Zenit

- Setembro 2010 3
ISSN 2176-5995
Mural do Leitor
Ano XXXVlI - Nº 07 Setembro 2010 Missionário em Tefé agradecer sinceramente a todas essas
Como posso agradecer ao Senhor por comunidades e paróquias, e, de uma
Diretor: Jaime Carlos Patias tantas graças recebidas na Missão? Eis a forma muito especial, à paróquia de Bom
pergunta que ecoa do meu coração após Jesus, onde exercia mais recentemente
Editor: Maria Emerenciana Raia mais de 15 anos dedicados à Prelazia a função de pároco; do mesmo modo, a
de Tefé, no Amazonas. A resposta não minha profunda gratidão a Deus e à minha
Equipe de Redação: Patrick Gomes pode ser dada facilmente, porque não há Congregação, os Espiritanos do Distrito
palavras para expressar a minha imensa da Amazônia, pelo dom da minha vocação
Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César
alegria e gratidão a Deus e às pessoas e pela Missão realizada com eles; o meu
Caldeira, Mário de Carli, Vanessa Ra-
que tive a graça de conhecer e amar, de agradecimento é também extensivo a
mos, Jonathan Constantino e Michael
partilhar a minha vida e testemunhar a fé, todo o clero e seminaristas da Prelazia
Mutinda
evangelizando e sendo evangelizado. (A de Tefé, aos religiosos e religiosas, aos
despedida aconteceu no 11 de julho na agentes de pastoral e cristãos leigos e
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
paróquia Bom Jesus). leigas, aos amigos e amigas da Igreja de
Roseane de Araújo Silva, Humberto
A minha experiência de vida mis- Tefé e ao povo da Amazônia em geral.
Dantas, Dirceu Benincá e Gianfranco
sionária na Amazônia foi tão rica e pro- Vocês continuarão presentes no meu
Graziola
funda, tão gratificante e marcante, que coração e nas minhas orações.
por mais que eu fale ou escreva sobre
Agências: Adital, Adista, CIMI, isso, quero dizer muito mais do que Padre Teodoro Mendes Tavares, missionário da Congregação do
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência consigo expressar. Ainda guardo vivo Espírito Santo, Prelazia de Tefé, AM (Boletim da Prelazia de
Notícias do Planalto e Vaticano na lembrança tudo isso e aproveito para Tefé, agosto de 2010).
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:
Mensagem da XXII Assembleia do Instituto Mariama - IMA
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Nós, bispos, presbíteros e diáconos Batista Lopes, Manoel Dias de Oliveira
do Instituto Mariama, reunidos na XXII e padre José Maria Xavier. Isso leva a
Administração: Luiz Andriolo Assembleia, em São João Del Rei, entre crer que, mesmo diante do ocultamento
os dias 26 e 30 de julho, refletimos sobre histórico, os artistas negros conseguiram
Sociedade responsável: a contribuição dos nossos antepassados imprimir seus traços no embelezamento e
Instituto Missões Consolata na arte sacra, a partir de Minas Gerais. na riqueza cultural e religiosa do nosso país.
(CNPJ 60.915.477/0001-29) Num clima de intensa fraternidade A espiritualidade do encontro nos levou
e partilha, com irmãos vindos dos mais a participar na vida das comunidades que
Impressão: Editora Parma diferentes estados do Brasil, trouxemos nos acolhiam e, assim, auxiliados por
Fone: (11) 2462.4000 inquietações a respeito da causa do nosso dom Zanoni Demettino Castro, e pelo
povo negro e da postura do presbítero negro Documento de Aparecida, aprofundamos
Colaboração anual: R$ 50,00 em meio a esta realidade tão desafiadora. a dimensão da missionariedade, no de-
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 Faz parte da opção que fizemos, como sejo de crescermos na comunhão e na
Instituto Missões Consolata Igreja, identificarmo-nos com a realidade participação em uma Igreja, chamada a
(a publicação anual de Missões é de 10 números) do nosso povo, fazendo valer direitos, deixar a pastoral da conservação para ir
superando preconceitos e promovendo ao encontro das pessoas em sua realidade
Missões é produzida pelos a vida. Assim, acreditamos contribuir na concreta. Este passo deve ser dado a
Missionários e Missionárias da Consolata construção de uma sociedade mais justa partir do reencantamento com a pessoa
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP e solidária, sinal do Reino de Deus. O de Jesus Cristo, como seus verdadeiros
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP professor, historiador e especialista em discípulos missionários.
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR arte sacra, Antônio Gaio Sobrinho, em sua Não podemos deixar de registrar a
brilhante reflexão, nos ajudou a perceber grande perda que tivemos recentemente,
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa que, embora não seja tarefa muito fácil com o falecimento dos nossos quilombo-
Missionária Latino-Americana) e da UCBC encontrar referências documentais sobre las, padres Getúlio, liturgista, e Antônio
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) a contribuição dos negros na arte sacra, Aparecido da Silva (Pe. Toninho), grande
sabemos que trouxeram da África técnicas, incentivador da caminhada da pastoral
Redação habilidades, saberes e conhecimentos afro e co-fundador do Instituto Mariama.
Rua Dom Domingos de Silos, 110 artísticos, que aqui foram utilizados e res- Sob a proteção da Negra Mariama,
02526-030 - São Paulo significados. Muitos negros e mulatos se convidamos a todos para o próximo en-
Fone/Fax: (11) 2256.8820 distinguiram como mestres em diferentes contro na diocese de São Mateus, Espírito
Site: www.revistamissoes.org.br artes. Citamos: Aleijadinho, Aniceto de Santo, de 25 a 29 de julho de 2011.
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Sousa Lopes, Venâncio do Espírito Santo,
João da Mata, Ireno Batista Lopes, Luiz Instituto Mariama

4 Setembro 2010 -
Quem é o povo

OPINIÃO
em situação de rua?
de Júlio Renato Lancellotti
Operações de limpeza buscam,
pela imposição, tratar as pessoas

A
Prefeitura de São Paulo acaba de divulgar o Censo da
população em situação de rua. Elaborado pela Funda-
ção Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, ele é
que sobrevivem nas ruas. O grande
realizado a cada três anos, por força da lei 12.316, que
estabelece a política pública para essa população na
incômodo é ético, e não estético.
cidade de São Paulo.
Antes convém ressaltar que até hoje o Instituto Brasileiro de em todas as grandes cidades brasileiras. Convém ressaltar que a
Geografia e Estatística – IBGE, não efetua o Censo da população população em situação de rua é heterogênea e que necessita de
de rua no Brasil, já que ele é realizado por domicílio, e esta popu- respostas diferenciadas. O Censo comum pensa que basta abrir
lação não é contemplada. A partir de ações do Fórum Nacional, albergues e que tudo será resolvido. As pastorais e as entidades
do qual participou a Pastoral de Rua, o Movimento Nacional da que atuam na área há muito vêm apontando para políticas que
População em Situação de Rua, entre outros, o governo federal contemplem moradia, trabalho, saúde e educação como pontos
publicou em decreto que cria o Convite Interministerial para Políticas essenciais no encaminhamento das ações.

Saídas possíveis
Jaime C. Patias

Portas de saída são urgentes, levando em


conta a complexidade que envolve as pes­soas
que encontram nas ruas seu ultimo e único lu-
gar. Na questão da moradia são necessárias
repúblicas, moradias sociais, acesso à moradia
definitiva, aliada à possibilidade de trabalho. Na
saúde a questão mental é de extrema urgência,
como o tratamento para dependência química e
problemas crônicos. Questão sempre importante
é a metodologia do trabalho com a população de
rua, que vive o estabelecimento de círculos de
confiança. O imediatismo sempre traz respostas
desastrosas como as operações de limpeza que
buscam pela imposição e formas degradantes,
tratar as pessoas que sobrevivem nas ruas.
Todo processo socioeducativo é lento e de
construção, e supõe agentes preparados e dis-
ponibilidade de convivência. Toda pessoa que
chega à situação de rua acumula muitas perdas,
vulnerabilidade pessoal e social, uma história
densa de conflitos, de possibilidades e impos-
Povo de Rua reivindica respeito e justiça, Catedral da Sé, São Paulo, SP.
sibilidades. A convivência possibilita entender a
Públicas para a população de rua, o IBGE realizou um Seminário visão de mundo e de si mesmo que carregam e que se manifesta
Internacional e o Ministério do Desenvolvimento Social começou no comportamento pessoal e social.
a realizar o Censo desta população em municípios de maior porte. Como se vê e como se sabe é uma tarefa difícil, mas, pos-
A partir do próximo Censo, a população de rua passará a fazer sível, que nos educa a caminhar por caminhos complexos, mas,
parte formal dos brasileiros recenseados. de grande humanização. A rua não é lugar para se viver, mais
O Censo da cidade de São Paulo indica uma população de sair dela é processo intrincado e exigente, cuja urgência se es-
13.666 pessoas, número maior que mais da metade da popu- tabelece pelos que sofrem a situação de rua e não pelos que se
lação dos municípios paulistas. O Censo pode e deve ajudar a incomodam com a sua presença. O grande incômodo é ético, e
estabelecer políticas públicas para este segmento da população, não estético. As pessoas que estão na rua são cidadãos e para
que não perdeu sua cidadania e tem que ter preservada a sua quem tem fé, nossos irmãos e irmãs! 
dignidade humana. Dos muitos pontos que o Censo e a pesquisa
qualitativa apontam, um dos que chamam nossa atenção é o Júlio Renato Lancellotti, membro da Pastoral do Povo de Rua e pároco da paróquia São Miguel
aumento dessa população na capital paulista, fenômeno idêntico Arcanjo, Região Belém, São Paulo.

- Setembro 2010 5
Juventude

Arquivo
Roteiro do Encontro
Tema do mês: O Encontro com Jesus

a) Acolhida e oração inicial


b) Apresentação do tema
c) Evangelho (Mc 10, 17-22 – em teatro)

O encontro dos jovens


d) Momento de reflexão pessoal (silêncio)
e) Reflexão em grupos (questões do Para refletir)
f) Partilha (em plenário)

com Jesus
g) Dinâmica
h) Oração conclusiva

Todo encontro deve provocar mudanças em nós, porque


diante do outro somos impactados, questionados e
chamados à transformação.

de Patrick Oliveira Urias Jesus, e nele se alimenta, como nos lembrou a Conferência de
Aparecida.

A
Jesus fixou nele o olhar e o amou... É no olhar do Senhor
Bíblia está repleta de belos encontros entre Deus e os que está o centro deste encontro com o jovem e de toda a expe-
homens e mulheres. No Novo Testamento, os encontros riência cristã. O cristianismo é “uma experiência de Jesus Cristo,
entre Jesus e as pessoas são marcantes e causam que nos ama pessoalmente, jovem ou velho, pobre ou rico; nos
profunda transformação em suas vidas. Assim foi com ama mesmo quando lhe viramos as costas”, cita o papa. Jesus
Mateus (Mt 9), com a mulher samaritana (Jo 4) e com escuta a pergunta do jovem, responde-lhe e o olha. Que efeito
Zaqueu (Lc 19). O encontro de Jesus com o jovem (Mc terá causado no jovem o olhar de Jesus?
10, 17-22) não é uma simples saudação pelo caminho ou um Todo encontro deve provocar mudanças em nós, porque
cumprimento vazio, como os que vemos hoje em dia pelas ruas. diante do outro somos impactados, questionados e chamados à
Falar de encontro é algo mais profundo, capaz de transformar transformação. Sendo assim, o verdadeiro encontro com Jesus
a nossa realidade interior e exterior. deve nos levar à conversão, a uma mudança concreta de vida.
Esta história revela a grande atenção de Jesus pelos jovens, Se o nosso encontro com Jesus não provocar em nós uma
por nossas esperanças e angústias, “e mostra o quão grande mínima transformação, no nosso modo de pensar, sentir e agir,
é o seu desejo de encontrar-vos pessoalmente e dialogar com seja em casa, nos estudos ou no trabalho... há algo de errado!
cada um de vós”, diz o papa Bento XVI. A juventude é tão im- O jovem deste relato bíblico que encontra Jesus não con-
portante aos olhos de Jesus que Ele interrompe o seu caminho seguiu dar o passo decisivo para viver o seguimento do Bom
para responder à pergunta do jovem, mostrando-se totalmente Mestre. Ele se entristeceu com as palavras de Jesus e se foi,
disponível àquele que o busca para aprender dEle a caminhar abatido. Mas você, jovem de hoje, pode fazer diferente! “Desejo
pela estrada da vida. No tumulto dos dias atuais, é fundamental que experimenteis um olhar assim. Desejo que experimenteis a
viver o encontro com Cristo e estabelecer um diálogo contínuo verdade de que Cristo os olha com amor”, dizia João Paulo II.
com Ele. Afinal, a fé nasce desse encontro pessoal e íntimo com Confiantes nele é preciso coragem para desapegar-se do que
ainda nos prende e, na alegria, aceitar o pleno convite de Jesus
Para refletir: para segui-Lo: “Vem e segue-me”. Depois de mudarmos a nós
1. O que significa encontrar-se com Jesus hoje? mesmos, ajudaremos na transformação do mundo inteiro, tendo
2. Lembro-me, ao menos de vez em quando, de fazer um pedido no amor a fonte de nossa vida e da evangelização, porque quem
ao Senhor da messe, pelas vocações? tem um encontro verdadeiro com Jesus quer revelar aos outros
3. De que maneira, eu pessoalmente, e nós como comunidade- o Seu olhar de amor. 
paróquia, podemos participar ativamente do 3º Congresso
Vocacional, já que como batizados, todos somos responsáveis Patrick Oliveira Urias, omi, é estudante de teologia na
pelas vocações? Escola Dominicana de Teologia (EDT), em São Paulo.

6 Setembro 2010 -
pró-vocações
Congresso Vocacional
Convocados a assumir o projeto do Reino.
de Rosa Clara Franzoi seguimento, mas é uma convocação a assumir o projeto do Reino
e a participar da sua missão. Independentemente da vocação

V
específica de cada vocacionado, o chamado é sempre em vista
amos dar continuidade à reflexão sobre o tema do 3º da missão, seja qual for a situação ou o lugar em que se encontre.
Congresso Nacional Vocacional: “Discípulos missio-
nários a serviço das Vocações”, a ser realizado de 3 a A força do “enviado”
7 de setembro. A Igreja de Jesus é a comunidade dos O 3º Congresso Vocacional escolheu propositalmente como
chamados e enviados para dar testemunho do Reino. tema, a passagem bíblica do imperativo missionário de Jesus
Os próprios Evangelhos são escritos missionários que ressuscitado, justamente porque é Ele a força do enviado: “Os
apresentam a pessoa chamada, o projeto de Jesus, o Reino e a 11 discípulos voltaram à Galileia e foram para a montanha que
sua justiça. Se de uma parte a Igreja é enviada, de outra ela está Jesus lhes havia indicado. Quando o viram prostraram-se; mas
sempre enviando os seus discípulos em missão para o serviço do alguns ainda duvidavam. Jesus, então, lhes disse: “Foi-me dado
anúncio da Boa Nova. Ao tratar o tema da vocação dos discípulos poder no céu e na terra, ide, pois, e fazei discípulos meus em
missionários, encontramos nos Evangelhos um esquema simples,
montado a partir de dois verbos: chamar e enviar. Todo chamado

Jaime C. Patias
é feito em vista de um envio. No Antigo Testamento, Deus cria um
povo missionário, Israel. Ele o chama e o envia para ser o cons-
trutor do seu Reino. Os grandes vocacionados e vocacionadas
da Bíblia não são apenas modelos de pessoas chamadas, mas
são também exemplos de missionários e missionárias enviados
a anunciar e a construir o Reino. Correspondendo ao chamado
divino e vivendo os valores do Reino, cada membro do povo de
Israel assume sua vocação e missão.

Quem chama é Jesus


Comumente, dizemos que quem chama é Deus. De fato, no
Antigo Testamento – AT, é Deus que aparece como o autor de
todos os chamados; enquanto que no Novo Testamento – NT,
esta função é reservada a Jesus. Mas, seja no AT como no NT,
A vocação leva a um estilo de vida coerente com a resposta de cada um.
todo chamado e envio está atrelado a uma determinada missão.
O tema da vocação nunca aparece desvinculado do envio e da todas as nações batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
missão. Dizer “sim” a quem chama é o mesmo que acolher a mis- Espírito Santo, ensinando-lhes a observar tudo o que vos tenho
são inerente ao chamado. O imperativo missionário “Ide” aparece ordenado; eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tem-
no Evangelho de Mateus e em todos os sinóticos. O chamado pos” (Mt 28, 16-20).
de Jesus aos que pescavam no mar da Galileia, mais adiante a
Levi na coletoria de impostos, ao cego Bartimeu na entrada de A missão é de todos e de cada um
Jericó, ou em qualquer outro lugar, não é apenas um convite ao Jesus não confiou a missão só a Pedro, mas aos 12, que
representavam toda a Igreja, chamada a edificar o Reino. Porém,
são diferentes as maneiras de desenvolver a missão, quando
consideramos a variedade de carismas e ministérios suscitados
Quer ser um missionário/a? pelo Espírito Santo nas comunidades. Pelo Batismo todos somos
chamados à missão, mas, cada vocação específica: sacerdócio,
Centro de Animação Missionária e Vocacional - irmã Maria Costa vida consagrada, leigos e leigas comprometidos, tem formas
Rua Nemésio Ramos Figueira, 428 - Pedra Branca - 02635-160 - São Paulo - SP
próprias de participar da missão evangelizadora da Igreja. 
Tel. (11) 2233-6955 - E-mail: amvtecla@gmail.com

Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br
Para refletir:
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda Ler Mt 9, 35-37 e se questionar:
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
1. Sinto-me, de fato, membro ativo desta Igreja que chama e
envia em missão?
2. Já descobri para qual missão Jesus me chama?
- Setembro 2010 7
hispano-evangélica nos EUA, apresenta dois motivos
para essa mudança: o primeiro, é que para se tornar
evangélico “não precisa mudar sua cultura, porque o
Evangelho pode ir com salsa ou mariachi”; o segundo,
a igreja evangélica propõe “uma relação com Deus,
sem a burocracia religiosa”; ela manifestou-se contra
ditaduras, com vistas a “uma religião da liberdade”.
Outros espaços de atuação evangélica: seu papel
social nos centros de reabilitação de drogas, no serviço
de apoio nas prisões e nas escolas, e não apenas em
ações de grande escala. Lara destacou que as igrejas
evangélicas “funcionam como micro-sociedades em
que os níveis de ajuda mútua são muito fortes”.

Índia
Bíblia une religiões
Quênia Cristãos, muçulmanos e hinduístas se reúnem, em
Nova Constituição Krishnagar, na Índia, para estudar a Bíblia, uma ocasião
A nova Constituição do Quênia aprovada no dia de recíproco conhecimento graças à iniciativa da diocese
5 de agosto mantém o sistema presidencial e abole o local que toda semana propõe um seminário sobre o
cargo de Primeiro Ministro, introduzido em 2008 para Antigo e o Novo Testamento. O bispo de Krishnagar,
VOLTA AO MUNDO

encerrar a crise política que provocou graves desor- dom Joseph Suren Gomes, ressaltou que muitos jovens
dens e milhares de mortos, feridos e desabrigados. A procuram conhecer a Bíblia e Jesus Cristo. O curso
Constituição introduz uma reforma fundiária relativa foi criado há seis anos e ajuda os participantes a se
à modalidade de compra das terras estatais, muitas confrontarem sobre temas comuns, como a sociedade,
das quais foram confiscadas ilegalmente por altos a partir da inspiração bíblica.
funcionários do Estado. O texto constitucional prevê
a criação de uma comissão nacional das terras, inde- Estados Unidos
pendente do governo, encarregada de indagar sobre Lei de imigração
as “injustiças históricas” na distribuição das terras do Imigrantes de diversos países que vivem em situação
governo, e abre caminho para a limitação da exten- irregular no estado do Arizona, nos Estados Unidos,
são máxima da propriedade privada e da abolição da comemoraram a decisão de uma juíza federal, que
propriedade perpétua para estrangeiros, reduzida a 99 vetou pontos polêmicos da lei de imigração do estado.
anos. A aprovação suscitou os protestos das Igrejas Conforme a decisão, os policiais estão desautorizados
cristãs sobre o artigo 26, relativo ao aborto, que reza: a autuarem imigrantes que forem abordados nas ruas
“O aborto não é permitido, a menos que, segundo a e não estiverem portando documentação. Ainda foi
opinião de um profissional de saúde especializado, haja excluída do texto a norma que tornava ilegal o pedido
a necessidade de um tratamento de emergência; ou de emprego em locais públicos por pessoas que ainda
que a vida ou saúde da mãe esteja em perigo; ou se não receberam autorização de permanecer no Arizona.
for permitido por outra lei escrita”. A última afirmação Estima-se que aproximadamente 450 mil estrangeiros
(“permitido por outra lei escrita”) alarma especialmente vivem no estado de maneira clandestina. A lei entrou
os opositores do aborto, porque abre concretamente em vigor no dia 29 de julho. Desde sua aprovação, em
o caminho à sua legalização. abril de 2010, enfrentou resistências por ser conside-
rada discriminatória e ter como alvo os povos latinos.
América Latina
Protestantes crescem Alemanha
As igrejas evangélicas, com forte papel social, Coleta da Infância Missionária
multiplicam-se no Brasil e na América Central, amea- As crianças da Infância Missionária da Alemanha
çando a tradicional hegemonia católica, afirma o jornal podem ficar orgulhosas: a coleta deste ano registrou o
El País. Em El Salvador, de acordo com pesquisa segundo maior resultado de sua história: 40,6 milhões
recente realizada pelo Iudop, o instituto independente de euros. Cerca de meio milhão de moças e rapazes
da Universidade Centro Americana - UCA, dos jesuítas, alemães de todas as dioceses saíram, de porta em
os 16% da população que se declaravam protestantes porta, vestindo roupas como as dos Reis Magos, e
em 1988 são hoje mais de 38%. E nos demais países levando a estrela cometa. “É incrível o que as crianças
do continente, com exceção do México, pelo menos conseguem fazer”, disse dom Klaus Krämer, diretor
uma em cada dez pessoas é protestante. O número nacional das Pontifícias Obras Missionárias da Ale-
de protestantes no Brasil foi sempre inferior a 5% até manha, que é, a partir deste ano, o chefe da Obra da
1960. Mas durante os anos 90 essa proporção subiu Infância Missionária. Dom Krämer destacou também a
de 9% para 15,4% em relação à população total. generosidade dos doadores, apesar da crise econômica.
E agora, com cerca de 30 milhões de evangélicos, Os 40,6 milhões de euros recolhidos pelas crianças
os brasileiros competem com a Alemanha, a África alemãs serão usados para financiar quase 2.400 pro-
do Sul e a Nigéria pelo terceiro lugar na escala dos jetos para a infância na África, América Latina, Ásia,
países com mais protestantes no mundo, hoje ainda Oceania e Europa Oriental. Em 2009 foram realizados
liderada pelos Estados Unidos e o Reino Unido. Sa- 2.383 projetos em 110 países. 
muel Rodrigues, chefe da National Hispanic Christian
Leadership Conference - NHCLC, a maior organização Fontes: Conic, Fides, Notícias do Planalto, Rádio Vaticano.
8 Setembro 2010 -
Intenção Missionária de Júlio César Caldeira

A fim de que, abrindo o coração ao amor, se

S
dê fim às inúmeras guerras e conflitos que egundo dados da Organização das Nações Unidas -
ONU, no ano de 2009, 43,3 milhões de pessoas em todo
ainda cobrem de sangue o mundo. mundo foram obrigadas a fugir de guerras, perseguições
e conflitos. É o maior número dos últimos anos. Por
outro lado, somente 251 mil refugiados voltaram às
suas casas - o menor número dos últimos anos. Outro
dado marcante é que o número de fugas dentro do próprio país
por causa de conflitos subiu 4% e os novos pedidos de asilo
político aumentaram cerca de um milhão, concentrando-se,
principalmente, nas grandes cidades de países industrializados
ou em desenvolvimento, como o Brasil.
Ironicamente, estamos vivendo um período de “desamo-
rização”, ou seja, usa-se muito a palavra amor, mas de forma
tão banalizada que seu real significado foi perdido. Podemos
dizer que confundimos amor com a posse de algo ou alguém -
por se sentir proprietário do outro, ou pelo puro desejo sexual
desordenado; nos fechamos num desordenado amor próprio
- individualismo - e não conseguimos construir relações signi-
ficativas. Em nome do amor à pátria ou a uma determinada fé
ou pessoa destruímos vidas, famílias e pessoas. Que mundo
é esse?

“O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não


é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada
de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza,
não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a
injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa
tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor
jamais acabará” (1Cor 13,4-8).
Abrir o coração ao outro
Não sejamos pessimistas: esta “desamorização” tem re-
médio! Sabemos que nas relações humanas o outro é, muitas
vezes, um desafio que nos faz pensar, mudar de ótica e muitas
coisas a nível pessoal e comunitário.
Um exemplo: depois de Jesus ter sido renegado por Pedro,
Ele se aproxima e pergunta três vezes (Jo 21): “Tu me amas?” E
Pedro, com o coração dolorido, angustiado e do mais profundo
de seu ser afirma - e passa a viver o que diz: “Senhor, tu sabes
tudo, tu sabes que eu te amo”. Se os seres humanos - aqui
incluídos Pedro, você e eu - permitirem que o amor de Deus
penetre em seus corações, não só se tornarão melhores, mais
humanos e contribuirão significativamente para a construção
de um mundo melhor. A vida é dom, é uma missão, não uma
propriedade. Abramos nosso coração para sermos testemunhas
deste amor verdadeiro, que nunca passa!
Cultivemos amizades verdadeiras - a nível pessoal - e
sejamos solidários - a nível comunitário - com aqueles que
Arquivo Missões

foram expulsos de sua terra, de sua pátria, e que, como nós,


buscam ser felizes, apesar das contrariedades da vida. 

Júlio César Caldeira, imc, é seminarista, estudante de teologia na Escola Dominicana


de Teologia – EDT, em São Paulo.

- Setembro 2010 9
espiritualidade

Palavra fecunda
como a chuva e a neve que caem do céu
de Patrick Gomes Silva
para lá não voltam sem antes molhar a A Leitura Orante é uma

E
terra e fazê-la germinar e brotar, a fim
m nossa caminhada eclesial, o de produzir semente para quem planta e experiência pessoal e
mês de setembro é dedicado à
Bíblia de modo todo especial.
alimento para quem come, assim também
acontece com a minha Palavra: ela sai da comunitária de escuta e de
Não significa que apenas neste
período devemos abordar esse
minha boca e para mim não volta sem
produzir seu resultado, sem fazer aquilo obediência à Palavra de Deus.
tema, mas é um mês para nos que planejei, sem cumprir com sucesso
questionarmos sobre a importância da a sua missão” (versão CNBB). ao autor deste texto “deutero-Isaías”. Não
Palavra de Deus em nossas vidas. O A Leitura Orante é uma experiência vamos aqui nos debruçar sobre esse tema,
Documento de Aparecida veio, uma vez pessoal e comunitária de escuta e de obe- mas é importante saber que se trata de um
mais, reforçar essa ideia: “A Palavra de diência à Palavra de Deus. É um exercício profeta que exerce a sua missão entre os
Deus é dom do Pai para o encontro com que segue um esquema próprio (Ver ao exilados da Babilônia, procurando consolar
Jesus Cristo vivo, caminho de autêntica lado) e que tem o intuito de fazer um per- e manter acesa a esperança no meio de
conversão e renovada comunhão e soli- curso pela Palavra, que passa da leitura um povo amargurado, desiludido e decep-
dariedade” (DA 248). Já faz um tempo que até chegar à missão. Isto é, um texto que cionado. Os capítulos que recolhem a sua
nestas páginas de Missões acolhemos se lê, mas que depois se deve tornar vida mensagem (Is 40-55) chamam-se, por isso,
este desafio de conhecer e partilhar a concreta. Nestas páginas queremos deixar “Livro da Consolação”. Na primeira parte
Palavra de Deus. O intuito é que esta apenas uma ajuda à leitura e meditação, desse livro (cf. Is 40-48), o profeta anuncia
Palavra seja mais conhecida e amada, a os outros passos você poderá realizá-los aos exilados a libertação do cativeiro e
fim de que todos façam a experiência dos sozinho. Com certeza, sairá enriquecido um “novo êxodo” do Povo de Deus rumo
dois discípulos de Emaús: “Não nos ardia desta experiência. à Terra Prometida; na segunda parte (cf.
o coração, quando ele nos falava pelo Is 49-55), o profeta fala da reconstrução
caminho e nos explicava as Escrituras?” O livro de Isaías e da restauração de Jerusalém. Assim, o
(Lc 24, 32). O livro do profeta Isaías nos propõe um texto proposto pertence ao final do “Livro
O texto que nos propomos conside- conjunto de oráculos ditos “messiânicos”, da Consolação”. Depois de convidar o povo
rar desta vez está em Isaías 55, 10-11. que alimentam a esperança do povo nesse (que ainda está na Babilônia) a buscar e
Um trecho breve, mas que nos permitirá mundo de justiça e de paz que Deus vai invocar o Senhor (veja Is 55, 6-9), o profeta
meditar e rezar sobre a importância desta oferecer. O nosso texto concreto pertence, recorda a eficácia da Palavra de Deus que
Jaime C. Patias

Palavra que vem de Deus. Uma vez que provavelmente, à fase final da vida do acabou de ser proclamada. Estamos na
não é longo, aqui o transcrevemos: “E profeta, por isso, os estudiosos chamam fase final do exílio (por volta de 550/540

10 Setembro 2010 -
a.C.). A comunidade está cansada e impa- concretizar e de criar vida plena para aqui” – dizemos... Depois, voltamos à
ciente, as dúvidas aumentam, assim não o seu povo. A imagem é extremamente nossa vida do dia a dia e reencontramos a
admira que o povo se questione: será que sugestiva. Devia lembrar ao povo exilado monotonia, os problemas, o desencanto;
as promessas de Deus se concretizarão? na Babilônia as chuvas típicas do norte constatamos que os maus, os corruptos,
Terá Deus nos esquecido? de Israel e as neves do monte Hermon. os violentos parecem triunfar sempre e
Essa água caída do céu alimenta o Rio nunca são castigados pelo seu egoísmo
Mensagem Jordão; e este, por sua vez, corre por e prepotência, enquanto que os bons,
O profeta Isaías trata de tranquilizar todo o país, deixando um rastro de vida os justos, os humildes, os pacíficos são
a todos. Não devem temer, pois, Deus e de fecundidade. A Palavra de Deus é continuamente vencidos, magoados,
não os esqueceu. A sua Palavra não como essa água bendita caída do céu humilhados... Então, questionamos: po-
deixará de se concretizar, pois o Senhor que, inevitavelmente gera essa vida que demos confiar nas promessas de Deus?
é eternamente fiel às suas promessas. alimenta o Povo de Deus. Não estaremos sendo enganados? A
A Palavra de Deus é eficaz, transforma- Palavra de Deus proposta responde a
dora, geradora de vida. Ela nunca falha. Trazendo para a vida estas dúvidas. Ela nos garante que Deus
Para expressar esta ideia de eficácia, Quando escutamos a Palavra de Deus, não falha; ela indica sempre caminhos
o profeta utiliza o exemplo da chuva e sentimo-nos confiantes, otimistas, com de vida plena, de vida verdadeira, de
da neve: assim como a chuva e a neve o coração a transbordar de esperança. liberdade, de felicidade, de paz sem fim.
que descem do céu fecundam a terra e Sentimos que o caminho que Deus nos A Palavra de Deus nos dá esperança,
multiplicam a vida nos campos, assim indica é, efetivamente, de felicidade e nos indica os caminhos que devemos
a Palavra de Deus não deixará de se de vida plena... “Que bom é estarmos percorrer e nos dá ânimo para intervirmos
no mundo. Não só não adormece a nossa
vontade de agir, mas revela-nos os projetos

Passos da Leitura Orante da Palavra


de Deus para o mundo e para a humani-
dade e convida-nos ao compromisso com
a transformação e a renovação. Ou seja,
Deus não prescinde da nossa atuação
Disposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça o para transformarmos este mundo num
recolhimento e a escuta da Palavra de Deus. outro mundo possível. Na verdade, um
outro mundo realmente é possível.
1. Invocação ao Espírito Santo Vivemos na era do relógio. “Tempo
Peça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar” é dinheiro” – dizemos. Passamos a vida
a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor,
numa correria louca, contando os minu-
o teu Espírito”.
tos, sem tempo para as pessoas, sem
2. Leitura (o que a Palavra diz em si) tempo para Deus, sem tempo para nós.
Objetivo: Conhecer bem o texto (Is 55, 10-11) Tornamo-nos impacientes e exigentes;
• Ler devagar e sem pressa! achamos que ser eficiente é ter feito
• Sublinhar o que achar importante ontem, aquilo que é pedido para hoje... E
• Ler os comentários presentes na Bíblia achamos que Deus também deve seguir
• Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil os nossos ritmos. Queremos que Deus
Algumas perguntas podem ajudar: aja imediatamente, que resolva logo os
Quais são as personagens? Onde decorre a ação? nossos problemas, que atue de imediato,
Quando acontece? O que fazem as personagens?
ao sabor dos nossos desejos e projetos. É
3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim) preciso, no entanto, aprender a respeitar
Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem! o ritmo de Deus, o tempo de Deus. Não
Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - Memorizar nos basta saber que a Palavra de Deus
Confrontar a sua vida atual com a Palavra escutada: é sempre eficaz (embora não tenha os
a. Sua vida com Deus nossos prazos) e que não volta sem ter
b. Sua vida com os outros produzido o seu efeito, sem ter cumprido
c. Sua vida consigo mesmo a vontade Dele, sem ter realizado a sua
missão? Ou seja, a Palavra de Deus, “como
4. Oração (o que a Palavra me faz dizer) a chuva e a neve que caem do céu para
Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas:
lá não voltam sem antes molhar a terra e
1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida
2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e opera fazê-la germinar e brotar”.
em sua vida Ao longo deste mês de setembro
3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom do tenhamos a coragem de dedicar alguns
Espírito Santo. minutos do nosso dia para ler e meditar
a Palavra de Deus. Melhor ainda se ti-
5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus) vermos mais alguém com quem partilhar
Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio. esta grande riqueza que nos vem desta
Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença. eficaz Palavra. Bom mês da Palavra para
todos nós! 
6. Missão e Ação (a Palavra me leva aos outros)
A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deus
tem a dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos e Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário
irmãs e de se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. José Allamano. Veja também na internet: http://palavra.
imconsolata.org.br

- Setembro 2010 11
testemunho

Felicidade no nome
Para quem tem sonhos não existe ap
de Raffaelita Baravalle
município de Sá de Bandiera. Em cons- independência, estando o poder nas mãos
tante contato com o público, Felicidade foi do MPLA, iniciou-se uma violenta guerra

C
afinando a capacidade de uma especial civil que se estendeu até 2002. Porém,
om mãe, avó e bisavó de ori- atenção para com as pessoas, procurando em setembro de 1975, dois exércitos mo-
gem angolana, Maria Felicidade ajudar a todos. Quando tinha conhecimento çambicanos já haviam ocupado a cidade
Nunes é mulher de coragem de alguma represália por parte dos grupos de Sá de Bandiera, enquanto Felicidade
extraordinária, verdadeiro armados, mesmo sabendo do risco a que estava no trabalho. Muito preocupada com
exemplo de leiga missionária. se expunha, não hesitava em informar a integridade dos filhos, depois de colocar
Desde 1999 mora no bairro secretamente os interessados para que a salvo as colegas de trabalho, correu para
multiétnico do Zambujal na periferia de pudessem fugir, pondo-se a salvo. casa, encontrando-os sozinhos no meio
Lisboa, Portugal. da rua. Decidiu fugir para Portugal. Além
Casada com José Carlos, bem sucedido Luta fratricida dos filhos, conseguiu levar também os
engenheiro português, teve três filhos. O Em 1974, a União Nacional para a irmãos, cunhados e sobrinhos. Chegaram
marido foi vítima de um grave acidente de Independência Total de Angola – UNITA como refugiados. Um ano depois, como
carro durante a Guerra da Independência, e o Movimento Popular de Libertação de possuía cidadania portuguesa e estudos
que em Angola, foi triste e difícil. Viúva com Angola – MPLA, os dois grupos armados que superiores, Felicidade foi contratada pelo
apenas 25 anos, Felicidade teve a vida por lutavam contra Portugal, começaram a se Ministério das Finanças, desenvolvendo
sua grande mestra. Enquanto estudava, desentender, pois ambos queriam assumir seu trabalho em várias cidades, entre elas,
encontrou emprego como secretária do o poder no país. Depois da conquista da Porto, Leiria e Lisboa.

Fotos: João Batista Amâncio

Bairro do Zambujal na periferia de Lisboa, Portugal.

12 Setembro 2010 -
e e na vida
sentir-se num espaço acolhedor e fami-
liar”. Para nós, missionárias da Consolata
presentes no bairro do Zambujal há vários
anos, o que sempre constatamos foi que
o relacionamento mais difícil era com os
ciganos e isto tinha a sua causa: nômades
por natureza, para obterem alguma ajuda
eles deviam ter uma morada fixa, e eles

posentadoria.
resistiam. Mesmo com as dificuldades,
esconder debaixo da bagagem, no meu Felicidade iniciou a sua obra de humaniza-
carro, quatro crianças que viviam na cadeia ção. Aproximava-se deles com delicadeza
com as mães. Sentia que tinham o direito e muito respeito; envolvia as crianças
de saírem um pouco de lá e, de vez em com pequenas brincadeiras e assim foi
quando, eu as levava para tomar sorvete”. desafiando os que não viam com bons
Após os quatro anos de trabalho carcerário, olhos esta aproximação. A associação dos
Felicidade, que não conseguia apagar “Residentes do Zambujal” - que tinha como
da sua memória aquelas cenas terríveis, meta a partilha, em pouco tempo começou a
iniciou uma associação de voluntariado, mostrar seu rosto próprio, através de várias
com a finalidade de reabilitar as detentas iniciativas: o ‘sustento alimentar secreto’,
- o AFIAR - um trabalho desenvolvido no destinado às famílias empobrecidas; a
âmbito psicossocial. Com 63 anos, Felici- assistência aos deficientes; a acolhida e
dade se aposentou e transferiu-se para o o acompanhamento às gestantes em difi-
Zambujal, um bairro na periferia de Lisboa culdade e aos recém-nascidos e as visitas
inicialmente construído para funcionários de apoio às mulheres detentas. Graças
do governo, mas transformado depois ao profissionalismo e a experiência que
num bairro popular para famílias pobres Felicidade tinha no campo burocrático,
que vinham de várias etnias: africanas, a associação facilita o encaminhamento
asiáticas, europeias e ciganas. Muitas das práticas endereçadas aos poderes
vezes Maria Felicidade foi convidada a públicos, para a obtenção das permissões
se mudar para um bairro melhor, também de estadia e a aquisição de trabalho para
para ficar mais perto dos seus colegas de as ex-detentas.
trabalho; mas, mesmo conhecendo as
dificuldades daquele lugar multiétnico, Socializar é preciso
causadas especialmente, pelo espírito O que vinha sendo feito era muito, mas
de intolerância entre os moradores, ela ainda não suficiente para uma socialização
preferiu ali permanecer. completa. Felicidade sabia disso; então,
começou a organizar festas, cantos, danças
Um Centro de Escuta étnicas, jantares... Como fina psicóloga e
Firme nas suas convicções humanas amante da beleza e da ordem, inventou
e religiosas, também pelas experiências outro plano que envolvia os jovens, para,
e dificuldades já superadas, achou que com a ajuda deles, dar uma fisionomia
aquele era mesmo o seu lugar. Ela sentiu nova ao bairro, como forma de vencer a
um grande desejo de tentar um trabalho de degradação do ambiente. Organizados em
“humanização” naquele ambiente hostil. grupos os jovens estão dando aos adultos
Sem nenhuma pretensão, começou a um exemplo de sensibilidade ecológica
envolver as pessoas, através da funda- recolhendo o lixo e organizando as desor-
ção de uma associação com o nome: dens. Com cantos, cartazes e audiovisuais,
“Residentes do Zambujal”. Não foi fácil, colocados nas encruzilhadas das ruas,
Maria Felicidade, presidente da associação dos “Resi- também porque muitos não acreditavam eles convidam a população a cuidar da
dentes do Zambujal”. naquele plano. Mas, Felicidade seguiu em beleza e da higiene das casas. À atividade
frente no seu objetivo. Enfrentou uma luta criativa de Felicidade, deve-se também,
Um projeto ferrenha para obter a permissão de abrir ultimamente, a concessão pelas autoridades
Entre os anos 2000 e 2004, Felicida- um “Centro de Escuta”, ou seja, um local locais, de um terreno para a construção da
de exerceu a função de chefe da seção onde os moradores pudessem se reunir, igreja e de um Centro Social para jovens e
jurídico-administrativa das cadeias femi- para partilhar suas alegrias, seus sofrimen- anciãos. Profundamente honesta e dotada
ninas de Tires, Lisboa. Dentre as tarefas tos, suas iniciativas e seus sucessos. Sua de um caráter aberto e comunicativo, ela
delicadas que lhe foram confiadas, havia persistência e determinação venceram. As cria alegria e confiança ao seu redor. Com
a de preparar os processos disciplinares autoridades locais acabaram cedendo-lhe pequenos e grandes gestos, ajuda a todos,
para as reclusas. Este período a marcou dois ambientes para a nova associação. transformando o problemático bairro de
profundamente, sobretudo, pelas atrocida- Para Felicidade, a doação era o sinal que Zambujal numa verdadeira família. Ela é
des das quais foi testemunha e, ao mesmo lhe afirmava estar no caminho certo. Antes, uma mulher que fez e faz do seu próprio
tempo, pela generosidade das detentas e porém, de abrir a obra ao público e de nome: “Felicidade” um programa de vida,
do pessoal que com elas trabalhava. Ela iniciar as atividades, Felicidade decorou para ela e para os outros. 
mesmo conta: “Uma vez tive que subor- os ambientes com fineza e sensibilidade.
nar funcionários e detentas para poder Ela dizia: “Quem aqui entrar, deve logo Raffaelita Baravalle, MC, trabalha em Portugal.

- Setembro 2010 13
fé e política

É muito mais que isso!


Destaque para as eleições presidenciais

Jaime C. Patias
tira foco de importantes disputas,
como os pleitos estaduais e,
principalmente, a composição do
Congresso Nacional.
de Humberto Dantas

E
m 1992 a história nos conta que a juventude de caras
pintadas foi às ruas para derrubar um presidente cor-
rupto. Em que pese o deplorável fato de esse político
truculento ter voltado ao Senado brasileiro e ter chan-
ces reais de conquistar o governo de Alagoas, ficou a
impressão de que o povo tem o poder. Mentira. Pelo
menos nesse caso, é mentira.
Fernando Collor de Mello deixou o poder porque perdeu
sustentação no Congresso Nacional. Sem o PMDB, que desem-
barcou da base, foi presa fácil do processo de impeachment.
Esse mesmo Congresso é escolhido por nós, eleitores. São
513 deputados federais e 81 senadores. Este ano temos a
chance de escolher uma nova Câmara dos Deputados e dois
terços do Senado. Cada brasileiro deve procurar, em seus
respectivos estados, dois senadores e um deputado federal.
Esses agentes são essenciais ao funcionamento do país.
São fundamentais para o sucesso ou fracasso das políticas
públicas ofertadas pelo(a) futuro(a) presidente do Brasil. Dizem
Grito dos Excluidos 2006, Praça João Mendes, São Paulo, SP.
que Lula foi, desde 2003, um governo que abandonou ideias
radicais à esquerda porque amadureceu e foi ao centro. Isso partidos em termos regionais, o mais significativo espaço político
também é mentira. Lula aprendeu que o presidente governa de um país federativo. Enganam-se aqueles que acham que
com o Congresso Nacional, e esse é mais conservador do que DEM e PPS encolheram porque são partidos de oposição, eles
seus desejos. As lições vieram de quem observou Fernando diminuíram porque não governam sequer um estado no Brasil.
Henrique caminhar para a direita por conta do PFL (hoje DEM). O DEM tinha o Distrito Federal, o governo sem municípios. O
Lula caminhou para o centro por conta de sua dependência do PSDB, de oposição, continuou forte porque manteve espaços
PMDB. Assim como muitos afirmaram, de forma exagerada, importantes como São Paulo e Minas Gerais ao longo dos
que Antônio Carlos Magalhães - ACM governava do Senado o últimos oito anos. Assim, conquistar o governo de um estado
país de FHC, hoje seria Sarney quem daria as cartas no gover- dá força aos partidos e depende de nós, eleitores. Por sinal,
no Lula. Assim, escolher presidente da República no Brasil é esses mesmos governadores precisam de acordos com depu-
muito mais do que sonhar com um país ditado pelo desejo de tados estaduais, que compõem as Assembleias Legislativas
uma pessoa, mas sim apontar com muito cuidado deputados e formam as bases necessárias para a governabilidade local.
federais e senadores que os brasileiros insistem em esquecer, Pois é: nós também escolheremos 1.059 deputados estaduais
ignorar, fazer pouco caso. esse ano. Cada estado tem seu grupo, que varia de 24 até 94,
de acordo com o porte populacional. Esse cargo é essencial,
A importância dos governadores e mais uma vez devemos estar atentos. Atenção, por sinal, é
Não é diferente nos estados. Tem muita gente que esquece palavra de ordem num país que tem tanta gente despreparada
que temos um compromisso com a escolha dos governadores envolvida com a política, seja na qualidade de eleito, seja na
de 26 estados e do Distrito Federal. Esses agentes são respon- qualidade de eleitor. 
sáveis por políticas específicas: segurança, educação, saúde,
estradas estaduais, rios etc. É muita responsabilidade, mas Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP, professor universitário e responsável
insistimos em olhar para quem ocupará a vaga no Palácio do por ações suprapartidárias de educação política que já formaram mais de 100 turmas desde
Planalto. Os governadores são as bases de sustentação dos 2003. hdantas@usp.br

14 Setembro 2010 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Desocupação arbitrária de

João Zinclar
sem-terra em Americana, SP.

Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada. Por onde
passei, plantei a morte matada. Por onde passei, matei a tribo calada, A participação popular legitima as
a roça suada, a terra esperada... Por onde passei, tendo tudo em lei, eu decisões sobre os destinos a serem
dados para a Nação, fazendo com que o
plantei o nada. (Confissões do Latifúndio - Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia, MT) povo seja protagonista direto deste pro-
cesso. A Constituição Federal Brasileira
de Nelito Dorneles valer um dos objetivos fundamentais de 1988, no seu artigo 14, determina que
da República que é o de “erradicar a “a soberania popular será exercida pelo

C
pobreza e a marginalização e reduzir voto direto e secreto, e também, nos
om o objetivo de conscientizar as desigualdades sociais e regionais” termos da lei, pelo plebiscito, referendo
e mobilizar a sociedade bra- - artigo 3º, inciso III da Constituição. e pela iniciativa popular”. Segundo o
sileira sobre a necessidade e artigo 49, XV, compete ao Congresso
importância de se estabelecer O que é um plebiscito popular? Nacional, autorizar um referendo e
um limite para a proprieda- A participação popular é um direito convocar um plebiscito.
de da terra, no ano 2000, o dos cidadãos, pois ela está na essência Mas a prática de consultar o povo
Fórum Nacional pela Reforma Agrária do conceito de Estado Democrático está muito longe de ser concretizada.
e Justiça no Campo - FNRA, lançou a de Direito. Ela pode ser exercida pela Até o presente só tivemos um plebis-
Campanha pelo Limite da Propriedade via indireta, quando se elege pelo voto cito e um referendo convocados pelo
da Terra: em defesa da reforma agrária representantes que exercem o poder governo. Diante disto, a sociedade
e da soberania territorial e alimentar. político em nome da população bra- civil organizada tem lançado mão de
Esta Campanha foi criada para sileira, ou pela via direta, quando a plebiscitos de iniciativa popular para
acabar com a histórica concentração sociedade se manifesta diretamente que as pessoas possam se manifestar
fundiária existente no país. É preciso sobre temas relevantes para o país, sobre problemas relevantes que atingem
estabelecer um limite para a proprie- por meio de plebiscitos, referendos a vida de cada brasileiro. Mesmo não
dade da terra se o Brasil quiser fazer ou outra forma de iniciativa popular. tendo valor jurídico legal, esta consulta

- Setembro 2010 15
registrados os seguintes dados: 1.546

Egon Heck
trabalhadores assassinados e uma
média anual de 2.709 famílias expulsas
de suas terras; 13.815 famílias despe-
jadas; 422 pessoas presas por conflitos
agrários; 765 conflitos no campo dire-
tamente relacionados à luta pela posse
da terra e 92.290 famílias envolvidas
em conflitos por terra. Além do mais, as
grandes empresas latifundiárias lançam
mão de relações de trabalho análogas
às do trabalho escravo. Em 25 anos
foram registradas 2.438 ocorrências
de trabalho escravo, envolvendo 163
mil trabalhadores escravizados.

Existem limites em outros países


do mundo?
Sim. O limite para a propriedade
Guaranis Kaiowás reivindicam demarcação e homologação de suas terras em Dourados, MS.
da terra não é uma novidade. Muitos
popular tem um grande valor simbólico ocupadas no campo, enquanto que as países o adotaram com sucesso. Na
para mostrar que a sociedade está grandes empresas do agronegócio só Coreia do Sul, Malásia, Japão, Filipinas
atenta às grandes questões nacionais. empregam 25,6% da mão de obra total. e Tailândia a redistribuição da terra foi
Enquanto a pequena propriedade um instrumento para o desenvolvimento
Por que limitar as propriedades ocupa a cada cem hectares 15 pessoas, econômico e social (Ver tabela 1).
de terras no Brasil? as empresas do agronegócio ocupam
O Brasil é o campeão mundial em 1,7 pessoas a cada cem hectares. Os Qual é o limite proposto?
concentração de terra. E está comprova- estabelecimentos com até 10 hectares O Fórum Nacional pela Reforma
do que a pequena propriedade familiar apresentam os maiores ganhos por Agrária e Justiça no Campo propõe um
é a principal produtora de alimentos hectare, chegando a R$ 3.800,00. limite de 35 módulos fiscais, que varia
que chega à mesa dos brasileiros. Ela A concentração de terras no lati- de região para região - entre cinco e
é responsável por toda a produção de fúndio e grandes empresas expulsa 110 hectares cada módulo - e é definido
hortaliças, além de 87% da mandioca, as famílias do campo, jogando-as nas para cada município de acordo com a
70% do feijão, 46% do milho, 38% do favelas e áreas de risco das grandes situação geográfica, a qualidade do
café, 34% do arroz, 21% do trigo; 58% cidades e é responsável diretamente solo, o relevo e as condições de acesso.
do leite, 59% dos suínos, 50% das pelos conflitos e a violência no campo. O limite de 35 módulos significa
aves. Ela emprega 74,4% das pessoas Somente nos últimos 25 anos foram uma variação entre 175 hectares, em
casos de imóveis próximos às capitais
Países que estabeleceram limites para a propriedade no século XX: com boa infraestrutura e de fácil aces-
1 so aos mercados consumidores e até
País Ano Hectares País Ano Hectares
3.500 hectares, em boa parte da região
(lei agrária) (limite) (lei agrária) (limite)
amazônica (Ver tabela 2).
Japão 1946 12 Índia 1972 21,9
O que é um módulo fiscal?
Itália 1950 300 Sri Lanka 1972 20 O módulo fiscal é uma referência,
estabelecida pelo Instituto Nacional
Coreia do Sul 1950 3 Argélia 1973 45 de Colonização e Reforma Agrária
Taiwan 1953 11,6 Paquistão 1977 8
- INCRA, que define a área mínima
suficiente para prover o sustento e a
Indonésia 1962 20 El Salvador 1980 500 vida digna de uma família de trabalha-
dores e trabalhadoras rurais. Ele varia
Cuba 1963 67 Nicarágua 1981 700 de região para região - entre cinco e
110 hectares - e é definido para cada
Síria 1963 300 Bangladesh 1984 8,1
município a partir da análise de várias
Egito 1969 21 Filipinas 1988 5 regras, como por exemplo, a situação
geográfica, qualidade do solo, o relevo
Peru 1969 150 Tailândia 1989 8 e condições de acesso.
A criação do módulo fiscal foi uma
Iraque 1970 500 Nepal 2001 6,8 tentativa de adequar as propriedades
às realidades regionais e municipais.
Fonte: Carter, Miguel. Combatendo a desigualdade social: o MST e a reforma Essa concepção está presente nas leis
agrária no Brasil. São Paulo, Editora da Unesp, 2010, p. 48.
como, por exemplo, na de nº. 8.629.

16 Setembro 2010 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Essa lei foi instituída em 1993 para
Confira as variações dos regulamentar os artigos 184, 185 e 186,
da Constituição Federal, que tratam da
módulos fiscais em seu estado: reforma agrária. Ela estabeleceu, em
seu art. 4º, que a pequena propriedade
é aquela “de área compreendida entre
2 um e quatro módulos fiscais” - Inciso II.
  MÓDULO MÓDULO MAIS
UF MÁXIMO MÍNIMO FREQUENTE No mesmo artigo, estabelece-se que
(em hectare) (em hectare) (em hectare) a média propriedade é aquele imóvel
que possui “área superior a quatro
        até 15 módulos fiscais” - Inciso III.
Esta definição é importante porque os
Norte      
imóveis abaixo deste tamanho não são
Rondônia 60 60 60 passíveis de desapropriação para fins
de reforma agrária, segundo consta no
Acre 100 70 100 art. 185 da Constituição.
Amazonas 100 10 100
Por que um limite de 35 módulos
Roraima 100 80 80 fiscais?
Mesmo tendo este parâmetro legal
Pará 75 5 70
de até 15 módulos para a média pro-
Amapá 70 50 70 priedade, o Fórum Nacional de Reforma
Agrária propôs como limite máximo,
Tocantins 80 70 80 35 módulos. As entidades do Fórum
Sul       entendem que, mesmo estabelecendo
um limite máximo, a estrutura fundiária
Rio Grande do Sul 40 5 20 brasileira continuará composta de pe-
quenas, médias e grandes propriedades.
Santa Catarina 24 7 20
O limite de 35 módulos significa uma
Paraná 30 5 18 variação entre 175 hectares, em casos
de imóveis próximos às capitais, portan-
Nordeste       to, assistidos com infraestrutura e bom
Maranhão 75 15 70 acesso aos mercados consumidores e
3.500 hectares, em boa parte da região
Piauí 75 15 70 amazônica. Este limite supera o limite
máximo estabelecido na Constituição.
Ceará 90 5 55

Rio Grande do Norte 70 7 35 Como estão distribuídas as terras


no Brasil?
Paraíba 60 7 55 A grande maioria das terras bra-
Pernambuco 70 5 14 sileiras está nas mãos de poucos. A
concentração da propriedade da terra
Alagoas 70 7 16 no Brasil remonta à época em que os
portugueses aqui aportaram.
Sergipe 70 5 70
Esta concentração perdura até hoje,
Bahia 70 5 65 conforme revelam os dados do último
Censo Agropecuário do Instituto Brasilei-
Sudeste       ro de Geografia e Estatística - IBGE, de
Minas Gerais 70 5 30 2006. Quase 50% dos estabelecimentos
agropecuários no Brasil têm menos
Espírito Santo 60 7 20 de 10 hectares e ocupam somente
Rio de Janeiro 35 5 10
2,36 % da área. Na outra ponta do
espectro fundiário, menos de 1% dos
São Paulo 40 5 16 estabelecimentos rurais (46.911), tem
área acima de um mil hectares cada, e
Centro Oeste      
ocupam 44% das terras (Ver tabela 3).
Mato Grosso do Sul 110 15 45 Os estabelecimentos com mais de
2.500 hectares são só 15.012 e ocupam
Mato Grosso 100 30 80 98.480.672 hectares. 18 milhões de
Goiás 80 7 30 hectares a mais do que os quase quatro
milhões e meio de estabelecimentos
Distrito Federal 5 5 5 familiares.

- Setembro 2010 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Jaime C. Patias
votação;
O que isso tem a ver com o povo • Participe de alguma mesa de vo-
das cidades? tação;
A elevada concentração fundiária • Vote;
brasileira dá origem às relações eco- • Assine o abaixo-assinado que será
nômicas, sociais, políticas e culturais levado ao Congresso Nacional para
cristalizadas em um modelo inibidor que seja votada uma emenda cons-
de um desenvolvimento que combine titucional que determine um limite
a geração de riquezas e o crescimento ao tamanho das propriedades;
econômico, com justiça social e cida- • Na hora de escolher seus governan-
dania para a população rural. tes e representantes para o Senado
O modelo de desenvolvimento e a Câmara dos Deputados, vote
adotado hoje para o campo que esti- naqueles que se comprometem
mula o agronegócio com suas imensas a aprovar a Proposta de Emen-
monoculturas gera um crescimento da Constitucional - PEC 438 que
Falta de espaço na periferia, São Paulo, SP.
econômico perverso que empobrece confisca as propriedades onde se
a maioria da população e a expulsa do vão se virando para morar de forma pratica o trabalho escravo, e que
campo, inchando as grandes cidades. improvisada e extremamente precária. proponham uma emenda à Cons-
Sobre este processo de urbaniza- Mais de 11 milhões de famílias vivem tituição para que seja determinado
ção, os dados do IBGE são impressio- em favelas, em loteamentos irregulares um limite à propriedade;
nantes e demonstram que em 1890 o e em áreas de risco. • Não vote naqueles que sempre
Brasil possuía 14 milhões de habitantes defenderam o direito absoluto à
e apenas 6,8% da população vivia O que posso fazer? propriedade sem se preocupar
nas cidades. Em 1900, este número A realização e o sucesso do plebis- com os direitos dos outros.
aumentou para 10%, em 1940 para cito dependem única e exclusivamente
23%, em 1970 para 60%, e em 2002 da participação e do empenho de cada A quem pertence a terra?
este número passou para mais de 80%, um, de cada entidade, organização e Olhando a realidade à nossa volta,
com mais de 50 milhões de pessoas pastoral, uma vez que não existe ne- dominada pela brutal mercantilização
vivendo nas regiões metropolitanas. nhum apoio público e da mídia. Por isso: da vida, em que todas as coisas são
O efeito desta expulsão dos pobres • Fale, comente e divulgue, tam- transformadas em mercadorias, e do-
do campo contribuiu para a consolidação bém pela internet e redes sociais minados pelo mundo dos negócios,
de enormes latifúndios e tem impacto (orkut, twitter), o plebiscito para dizemos que a terra pertence aos que
sem precedentes, com um enorme seus amigos, sua família e colegas detém o poder, aos que controlam os
processo de favelização, formando um de trabalho. mercados, aos que podem vender e
verdadeiro cinturão de miseráveis no • Integre-se aos comitês locais ou comprar seu chão, seus bens e serviços,
anel periférico das cidades. estaduais que vão organizar o ple- água, genes, sementes, alimentos, ar,
No cenário urbano vão se formando biscito. energia, lazer, comunicação, transporte,
e se consolidando duas cidades divi- • Divulgue o site do plebiscito: segurança, educação, órgãos humanos
didas: uma cidade formal, com todos (www.limitedaterra.org.br) e até mesmo pessoas, feitas também
os bens e serviços próximos das re- mercadorias. Estes pretendem ser os
giões valorizadas e bem servidas de Na Semana da Pátria: donos da terra e dispõem dela como
infraestrutura, e outra cidade informal, • Intensifique a divulgação; bem entendem. Mas são donos ridícu-
uma “não-cidade”, onde as pessoas • Ajude a organizar os locais de los, pois esquecem que não são donos
deles mesmos, nem de sua origem nem
3 de sua morte.
Número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos agropecuários A quem pertence a terra? A resposta
por grupos de área total mais sensata e satisfatória nos vem
Variável
das religiões, bem representadas pela
tradição judaico-cristã. Nesta, Deus
Grupos de área total Número de estabele- Área dos estabele-
% %
diz: “Minha é a terra e tudo o que ela
cimentos (unidades) cimentos (hectares) contém e vocês são meus hóspedes e
inquilinos” (Lv 25, 23). Só Deus é Se-
Menos de 10 hectares 2.477.071 47,86 7.798.607 2,36
nhor da terra e não passou escritura de
10 a menos de100 hectares 1.971.577 38,09 62.893.091 19,06 posse a ninguém. Nós somos hóspedes
temporários e simples cuidadores com
Menos de 100 hectares 4.448.648 85,96 70.691.698 21,43
a missão de torná-la o que um dia foi:
100 a menos de 1000 ha 424.906 8,21 112.696.478 34,16 o Jardim do Éden. Por ser geradora
de vida, a terra possui a dignidade e
1000 ha e mais 46.911 0,91 146.553.218 44,42
o direito de ser cuidada e protegida. 
Total 5.175.489 100,00 329.941.393 100,00
Nelito Dorneles é assessor da CNBB para o setor de
Fonte: IBGE (2009) - Censo Agropecuário de 2006 Superação da Miséria e da Fome.

18 Setembro 2010 -
Mensagem dos participantes
I Congresso Missionário Nacional de Seminaristas

Fotos: Arquivo CNBB


Aos senhores bispos, formadores
e amigos seminaristas,

E
ntre os dias 4 e 10 de julho, nós, cerca de 150 seminaristas,
10 formadores e alguns bispos dos diversos regionais do
Brasil, estivemos reunidos em Brasília participando do I
Congresso Missionário Nacional de Seminaristas, com o
objetivo de ajudar-nos a assumir a dimensão missionária
universal da vocação cristã e presbiteral.
Gostaríamos de transmitir a todos quão rica foi a experiên-
cia deste Congresso e a grande festa da alegria e da unidade
celebrada aqui na capital do nosso país em favor da missão.
Conduzidos pelo lema “chamados para estar com Ele e
enviados” (Mc 3,14) e o tema “formação presbiteral para uma
missão sem-fronteiras”, tivemos a graça de nos deparar com
as realidades do campo formativo, nas dimensões voltadas
para missão.
Observamos as realidades eclesiais e formativas e chega-
mos à conclusão de que ainda temos que trabalhar muito para
se chegar àquilo que é vontade da Igreja universal e latino-
americana: despertar a Igreja na América Latina e no Caribe
para um grande impulso missionário (DA 548).
É bem verdade que, em alguns Seminários e Institutos, o
sentido da vocação sacerdotal mais missionária está em plena
atividade. Porém, é também fato de que em outros Seminários
e Institutos o termo missão não recebe a devida atenção.
Iluminados pelo Espírito de Deus, e impulsionados pelo
espírito de Aparecida, queremos que esta realidade seja trans-
formada e transfigurada segundo a vontade de Deus para o
nosso tempo, hoje, na Igreja do Brasil. Queremos melhorar o
ambiente relacional estrutural do Seminário para que, como uma
comunidade autenticamente cristã, formadores e formandos se
unam em prol da vocação primeira da Igreja: a missão, a serviço
do Reino de Deus. Queremos ser missionários padres e não
padres missionários.
Cônscios da real necessidade de formarmos nos Seminários
vocações verdadeiramente missionárias, vimos, por meio desta,
encarecidamente pedir aos senhores bispos, formadores e se-
minaristas, que desenvolvam nos Seminários e Institutos uma
formação voltada para a missão além-fronteiras. Cremos que se
houver investimento, numerosas vocações missionárias brotarão
no seio dos Seminários, a começar por nós que participamos Atividades durante o I Congresso Missionário Nacional de Seminaristas.
deste I Congresso Missionário.
De Brasília voltamos para os nossos regionais dispostos a em nome de Cristo e a Ele se dirige. Certos da atenção de todos
colaborar, com vivo ardor missionário, na conscientização missio- a este pedido, reiteramos nosso desejo, de juntos, animados e
nária dos irmãos de Seminário e na constituição de organismos guiados pelo Divino Espírito, construirmos no coração dos Semi-
que favoreçam a missão em nossas casas de formação, como o nários e Institutos, uma mentalidade viva e ardente direcionada
Conselho Missionário dos Seminários - COMISE e a Formação à missão sem-fronteiras, tornando a Igreja no Brasil cada vez
Missionária para Seminaristas - FORMISE. mais missionária. 
Contamos desde já com o apoio de todos, pois o benefício
não é para a nossa promoção pessoal, mas, para a promoção Participantes do I Congresso Missionário Nacional de Seminaristas
de todos os povos do universo e para o bem da Igreja que age Brasília, 10 de julho de 2010.

- Setembro 2010 19
Destaque do mês

Hidrelétrica
de Belo Monte de Dorival Gonçalves Junior prazos de carência e de pagamento dos
Trata-se de mais um financiamentos; incentivos fiscais: para

A
compra de máquinas e equipamentos e
construção da Usina Hidrelé-
trica de Belo Monte trata-se
projeto imposto pela isenção de imposto de renda. No caso
de Belo Monte, a instrumentalização das
de um antigo projeto elaborado ordem econômica. instituições expõe a falsidade ideológica
no período da ditadura militar da neutralidade do Estado, pois: a) o
brasileira pelas grandes empre- BNDES irá financiar 80% do valor do em-
sas - nacionais e transnacionais que atuam neste segmento da produção, preendimento, b) o prazo de financiamento
- ligadas à construção e ao financiamento fontes de financiamentos privilegiadas, foi dilatado para 30 anos, c) a correção
da expansão da produção de energia por meio da utilização de instrumentos monetária será pela tabela Price que
elétrica, sob a responsabilidade do Estado estatais de financiamento e subsídios, cobra juros decrescentes, d) máquinas
brasileiro. Na edição anterior de Missões, tais como o BNDES - Banco Nacional de e equipamentos serão financiados pelo
analisamos o modelo energético brasileiro Desenvolvimento Econômico e Social - que Programa de Sustentação de Investimento,
como resultado da ordem econômica. Este estabelece linhas de créditos especiais: que tem taxas de juros de 4,5% ao ano
modelo assegura às forças econômicas com taxas de juros subsidiadas, longos e poderão ser amortizados em 30 anos.
Fotos: xingu-vivo.blogspot.com

Os Povos Indígenas e o meio ambiente são os mais afetados pela construção de hidrelétricas.

20 Setembro 2010 -
em torno de cinco quilômetros, é algo
que não tem nenhuma base real. Deste
modo, é possível estimar que os impactos
às populações indígenas estendem-se
a todas as populações localizadas na
bacia, desde o Pará até o Mato Grosso,
inclusive os Povos que habitam o Parque
Nacional do Xingu.

Além de Belo Monte


Outra questão que chama atenção é
que este projeto tem uma baixa relação
entre a energia gerada e a potência ins-
talada. Isto é, a sua energia gerada está
estimada em cerca de 4.600 MW médios
para uma potência instalada de 11.233
MW. Para esta energia gerada significa
o uso de cerca de 5.700 metros cúbicos
por segundo médios, e sabendo que a
vazão média do Rio Xingu atinge a média
de 7.800 metros cúbicos por segundo, é
Movimento Xingu Vivo se manifesta contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte.
impossível supor que as forças econômi-
cas construirão apenas Belo Monte. Pois,
Impactos ambientais anuais médias – estimadas – em 1.500 se a vazão do Xingu for regularizada em
O projeto da Hidrelétrica de Belo Monte metros cúbicos por segundo. Vale destacar 7.800 metros cúbicos por segundo atra-
como está concebido irá trazer impactos que durante a maior parte do ano as va- vés da construção de outras hidrelétricas
ambientais e sociais impossíveis de serem zões serão muito baixas. Como mensurar além de Belo Monte, significa aumentar a
atenuados. Localizada na região da “Volta os impactos nas populações ribeirinhas capacidade de produção de Belo Monte
Grande” do Rio Xingu, compõe um arranjo que habitam toda esta extensão da “Volta em 1.800 MW médios. Isto é, elevando a
de estruturas cujas dimensões, em termos Grande” que terá suas águas substancial- capacidade para 6.400 MW médios sem
de área diretamente impactada, não tem mente reduzidas? Como avaliar o impacto qualquer investimento em sua instalação.
registro na história da construção deste que a diminuição das águas - nestes 120 Logo, mantida a atual correlação de
tipo de empreendimento. No começo da quilômetros de extensão - proporcionará forças entre as forças econômicas e as
“Volta” do Xingu será construído um con-
junto hidrelétrico (barragem, vertedouros
e casa de máquinas). Este conjunto tem a
finalidade de garantir a adução das águas
a um conjunto de canais – localizado na
margem esquerda do Rio – retirando as
águas do Xingu de seu leito natural em
uma extensão de aproximadamente 120
quilômetros, trecho que proporciona uma
queda de 90 metros. Através destes dois
grandes canais, combinado a um canal e
reservatório, serão construídos diques e
vertedouros – no denominado sítio Bela
Vista – levando as águas à grande casa
de máquinas (semelhante a de Itaipu),
localizada, praticamente, no final da “Volta
Grande” do Rio Xingu. A obra atinge di-
retamente 11 municípios, sendo que, em Manifestações em Belém, Pará.
Altamira alcança parte significativa de sua nos córregos e rios que deságuam no forças populares, é possível vislumbrar
área urbana. Milhares de camponeses Xingu? Qual o impacto sobre a bacia do no horizonte futuro uma profunda pressão
que residem nestes municípios serão Rio Bacajá, que se estende por importante sobre todas as populações que habitam
diretamente atingidos, pois a área de reserva indígena e tem a sua foz no Xin- a bacia do Rio Xingu, principalmente,
inundação não para de crescer. No projeto gu na extensão que ficará praticamente as indígenas – cerca de 60% da área
básico começou com 40.000 hectares e seca? Como não considerar os impactos da bacia de drenagem é constituída por
hoje alcança mais de 60.000 hectares, na ictiofauna (conjunto das espécies de reservas indígenas – visando construir
segundo reavaliação. peixes que existem numa determinada outras hidrelétricas além de Belo Monte,
Os desastres sociais e ambientais que região) do Xingu? Admitir que espécies de com a finalidade de aumentar a produção
serão proporcionados na “Volta Grande” peixes - adaptadas milenarmente a subir da mercadoria energia e aumentar a lu-
são imensuráveis. O Rio Xingu, que tem 90 metros de quedas distribuídas numa cratividade. 
vazões médias de 7.800 metros cúbicos extensão de mais de 120 quilômetros -
por segundo, deverá na extensão de 120 podem se adaptar em poucos anos a subir Dorival Gonçalves Junior é mestre e doutor em energia pela
quilômetros da “Volta Grande” ter vazões uma escada de 90 metros numa extensão USP, e professor da UFMT.

- Setembro 2010 21
Doações atrasam o
desenvolvimento? de Michael Mutinda que são incapazes de competir com a distribuição gratuita à
população. Criam-se novas famílias de pessoas pobres, que
passam a depender da ajuda internacional. É uma espiral sem

A
fim, que também desestimula o comércio de alimentos entre
s doações para fins humanitários dos países ricos impe- os países africanos. Muitos produtos doados caem nas mãos
dem a África de se firmar por conta própria? Há pouco de comerciantes que enriquecem com sua venda. Assim, as
tempo a crise econômica global revelou os riscos que ajudas internacionais fazem mais mal do que bem ao conti-
correm as economias africanas por depender dema- nente, porque as modalidades com que são distribuídas não
siado dos fluxos externos para a geração de receitas. são corretas. E como disse outro economista africano, essas
Em primeiro lugar, a dependência de matéria-prima doações são ‘ajudas mortais que salvam os ditadores e con-
significa que muitos países africanos continuam vulneráveis denam a África ao subdesenvolvimento’.
às reviravoltas do resto do globo. Mas, a realidade é outra Com o aumento dos investimentos da China em vários países
como sabemos, além das muitas campanhas que vemos na africanos, a ordem é fazer qualquer negócio com os governos,
mídia ou na internet. O continente abrange diferentes regimes sem se importar com violações dos direitos humanos ou regi-
políticos, vivências históricas, contextos culturais e religiosos, mes ditatoriais. Recentemente o Brasil, para conquistar espaço
econômicos e geográficos. Além disso, coexistem zonas de no continente, adotou a mesma estratégia do país asiático.
insegurança e centros de estabilidade. Alguns países da África “Nós fazemos negócio”, resumiu Celso Amorim, ministro das
viveram e vivem períodos de paz duradoura, de segurança, de Relações Exteriores, depois da última visita de Lula à África.
estabilidade econômica e política e de participação democrática, Dados da Comunidade Econômica Africana - CEA, mostram
enquanto outros continuam imersos em conflitos intermináveis. que na década de 80 do século passado, a África Subsahariana
recebeu 83 bilhões de dólares em auxílio. No mesmo período, o
O que está acontecendo? padrão de vida na região caiu 1,2% ao ano. A doação só tornou
É verdade que alguns fatores incentivam o crescimento. essa região mais dependente de ajuda. Como medida útil para se
A exploração sustentável dos recursos naturais, o desenvolvi- sustentar, que é o que os países africanos precisam, as doações
mento agrícola, o investimento nos recursos humanos criam não ajudam em nada. A África necessita de uma chance para
um clima favorável. Vários países africanos são ricos em re- ser capaz de administrar e comercializar as próprias riquezas.
cursos naturais, o que permite um verdadeiro desenvolvimento E nas palavras do economista e pesquisador senegalês,
sustentável. Contudo, os países ricos anunciam mais e mais Demba Moussa Dembélé, o continente precisa conquistar a
doações a cada ano. De acordo com o economista queniano capacidade de resolver os seus problemas. Tem de descobrir
James Shikwati, o dinheiro da ajuda internacional prejudica o os seus potenciais, pois isso sim poderá melhorar a vida de
setor produtivo e a livre iniciativa. No Quênia, por exemlpo, parte todos os africanos. Para isso, precisa de um clima de investi-
do dinheiro que entra de doações internacionais é investida mento confiável e atrativo, estabilidade, nível de governança
no setor de telecomunicações e controlada pelo Estado de nos países, transparência, diálogo com os meios empresariais
forma ineficiente. Desse modo, fica difícil para o setor privado nacionais e internacionais e integração regional, garantindo o
competir com as empresas estatais. A situação na agricultura desenvolvimento econômico. 
é ainda pior. O envio de toneladas e toneladas de alimentos
atrapalha os produtores locais. Eles param de produzir, por- Michael Mutinda, imc, é seminarista e estudante de teologia no ITESP, SP.
Jaime C. Patias

Extração de sal em Nova


Mambone, Inhambane,
Moçambique.

22 Setembro 2010 -
A Turquia, situada entre a Europa e a Ásia, foi o berço de várias civilizações antigas. Nesta terra viveram os hititas, depois
os celtas, curdos, armênios, persas e gregos. Fez parte do Império Macedônio de Alexandre, o Grande, depois foi conquistada
pelo Império Romano e após seu desmembramento foi o centro do Império Bizantino. Foi berço do Império Otomano durante
alguns séculos, até finalmente tornar-se uma República, no século XX. Hoje, continua um centro comercial, pelo menos de
vendedores de tapetes e chás, entre outros produtos. A maioria da população é de etnia turca e os curdos correspondem a
20% dos habitantes. O turismo e a indústria são atividades importantes da economia e a agricultura do país é autossuficiente.

Não tenha medo,

Divulgação
pequeno rebanho!
de Mário de Carli

A
Ásia é o continente onde menos existe liberdade religiosa
sendo os cristãos as vítimas mais frequentes. Atualmente,
de 52 países asiáticos, pelo menos 32 limitam de algum
modo a vida e missão dos cristãos: os países do Islã,
isto é, do Oriente Médio ao Paquistão, a Indonésia e a
Malásia, põem cada vez mais entraves a quem se con-
verte. A Índia e o Sri Lanka criam cada vez mais leis anticonversão.
Os países da Ásia Central, excetuando o Cazaquistão, limitam a
liberdade religiosa. Os comunistas, como a China, Laos, Vietnã
e a Coreia do Norte sufocam ou até perseguem a Igreja Católica.
Muitas vezes a discriminação religiosa não se transforma em Dom Luiz Padovese, presidente da Conferência dos Bispos da Turquia, assassinado
conflito aberto contra a religião, mas permanece um fenômeno no dia 3 de junho de 2010.
que permeia a sociedade e emerge de tempos em tempos até Babilônia dos caldeus, dom Shlemon Warduni, lançou um apelo
mesmo de forma sangrenta. Fenômeno protagonizado pelos a todos os cristãos do mundo: “Não nos abandonem, pois muitos
grupos religiosos fundamentalistas. cristãos, como tantos outros milhares de cidadãos, tiveram de
deixar o país. Nós perdemos aproximadamente um terço de nossa
Liberdade religiosa comunidade”. No mês de junho, o assassinato de dom Luiz Pado-
Na Turquia o islamismo é professado por 99% da população vese, presidente da Conferência dos Bispos da Turquia, grande
e o restante (1%) pertence a outras religiões, principalmente ao defensor do diálogo com o Islã, chocou a comunidade cristã. Ele
cristianismo: ortodoxos gregos, apostólicos armênios, ortodoxos se destacou pelos esforços incansáveis para construir espaços de
siríacos, católicos romanos e protestantes, judeus e bahá’is. Infe- diálogo entre as culturas, as religiões e entre os próprios cristãos.
lizmente os atentados à liberdade religiosa e a violência contra os Sua morte não tem nada a ver com “a Turquia ou com os turcos”
cristãos cresceram velozmente, sobretudo nesta última década. e “não deve obscurecer o diálogo com o Islã”, assegurou o papa
Os cristãos não passam de um pequeno rebanho com 100.000 Bento XVI. Alberto Melloni, historiador italiano, afirmou: “nestes
pessoas e pouco mais de mil são os missionários. Os católicos são tempos muito obscuros, nos quais a tempestade sacode a Igreja,
pouco mais da metade. Os baha’is formam outro grupo religioso o sinal do martírio volta como um sinal de graça, uma consolação
minoritário. Pouco se fala deles, não têm templos, sofrem perse- de alto custo”. Na homilia das exéquias, dom Franceschini disse
guições e restrições para se reunir. Para o governo e o primeiro que “em memória de dom Luiz Padovese é um dever de justiça
ministro Recep Erdogan, a tarefa mais urgente é esclarecer o que assinalar algumas de suas iniciativas, como a de ajudar com
é a liberdade religiosa. alimentação cerca de 70 famílias, das quais só uma era cristã,
A Constituição turca tem o princípio do laicismo, que prevê a e a organização em 1990 de simpósios e eventos culturais para
estrita separação entre religião e Estado, bem como a liberdade aprofundar o estudo e o conhecimento de uma terra onde a Igreja
de culto e religião. Mas, é necessário que se tome medidas frente deu seus primeiros passos, celebrando os primeiros Concílios e
a esta violência desmedida. Se no passado o cristianismo teve onde se deu a primeira e determinante estrutura teológica”. Quanto
boa presença, hoje os turcos não guardam boas lembranças da à Igreja e aos cristãos, permanece uma reserva de mansidão, de
Igreja. Os acontecimentos mais tristes surgiram a partir de fevereiro humildade desarmada, de simplicidade de vida diante da violência,
de 2006, quando o sacerdote italiano Andrea Santoro foi assas- seja ela louca ou inspirada, que para ser superada, necessita de
sinado por um jovem fanático, no auge das manifestações contra conversão e firmeza face à intolerância religiosa que desagrega
as caricaturas de Maomé. Em 2007, cinco jovens muçulmanos a sociedade. 
turcos degolaram três cristãos protestantes alegando “sentimen-
tos nacionalistas religiosos”. O bispo auxiliar do patriarcado da Mário de Carli, imc, é membro da equipe de redação.

- Setembro 2010 23
Sou criança, Sugestão para o grupo
Acolhida (preparar o ambiente com imagens de crianças traba-
lhando no campo e na cidade, com os símbolos missionários,
as cores dos continentes e a Bíblia)

também tenho direitos!


Motivação (objetivo): refletir com o grupo a situação das
crianças e adolescentes que precisam trabalhar por necessidade
ou porque foram forçadas.
Oração espontânea pelas crianças e adolescentes que trabalham
nos cinco continentes.
Partilha dos compromissos semanais.
Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros):
Realidade Missionária: Lucas 9, 46-48. No Evangelho de
“Num mundo cheio de barreira e Lucas, Jesus ao ser questionado pelos discípulos sobre quem
seria o maior, coloca uma criança no centro para significar
muro, quero ser chama e romper que o poder no reino de Deus tem outra lógica, diferente da
lógica da sociedade. Em nossa sociedade, algumas crianças

Infância
o escuro!” (Zé Vicente) e adolescentes precisaram trabalhar ainda muito cedo, por
várias razões. Conhecemos em nossa comunidade ou cidade,
Missionária algumas crianças que vivem essa realidade?
Espiritualidade Missionária: Lucas 6, 17-26. No encontro
Divulgação

anterior, Jesus colocou as crianças no centro e no sermão


da montanha reacende a esperança, ao demonstrar que a
sociedade nova só virá por meio do anúncio da Boa Nova, da
denúncia das desigualdades entre as pessoas e da construção
solidária do Reino do Pai em nosso meio. Rezemos um Pai
Nosso pedindo que venha até nós o teu Reino, Senhor.
Compromisso missionário: João 10, 14-18. No Evangelho de
João, Jesus se apresenta como modelo de pastor, porque não
busca seus próprios interesses, pelo contrário, Ele dá a sua
própria vida a todos os que aceitam a sua proposta. Seguir
a Jesus é comprometer-se com a construção do Reino do
Pai. Nesse encontro, vamos fazer uma pesquisa em nossa
comunidade dos diferentes tipos de trabalho infantil, seus prós
e contras, para montar um mural no último encontro. Nosso
sacrifício desse mês será pelas crianças e adolescentes ex-
Menino quebra coco de babaçu no povoado de Matinha, Maranhão. ploradas em nosso continente.
Vida de Grupo: João 15, 1-6. Fazer parte da comunidade
dos amigos de Jesus, significa permanecer unidos a Ele, tes-
de Roseane de Araújo Silva temunhando em nosso dia a dia. Após refletirmos a realidade
do trabalho infantil, montaremos um painel expondo os sinais

E
de vida e de morte, para apresentar na celebração da IAM na
m setembro celebramos o mês da Bíblia, um livro feito comunidade, depois afixar no mural da comunidade ou paró-
em mutirão, trazendo à memória a aliança de Deus com quia (ver situações de trabalho infantil no Brasil e no exterior).
o seu povo. A ideia do mutirão nos recorda o aspecto Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a
da solidariedade entre as pessoas, contrapondo-se partir do tema e da reflexão do Evangelho).
aos mecanismos do mundo do trabalho. Nesse senti- Canto e despedida.
do, quero lembrar da problemática da exploração do
trabalho infantil, que atinge cerca de 218 milhões de crianças
e adolescentes em todos os continentes. Há pouco tempo, nos pobres. Observamos, por exemplo, entre as meninas do campo
Emirados Árabes Unidos eram utilizadas crianças indianas e que vem para a zona urbana com a promessa de estudar, e na
paquistanesas, com idade entre três e oito anos, compradas realidade viram babás das crianças da classe média e alta. Esta
ou sequestradas para serem jóqueis de camelo, devido ao seu realidade precisa de constante reflexão, porque são crianças e
tamanho e peso. Mal alimentadas para manterem o baixo peso, adolescentes privados do direito de brincar e estudar, sem falar
as crianças eram amarradas aos animais, para evitar a queda, o nos casos de trabalho ilegal em diferentes áreas, principalmente
que nem sempre resolvia. Após algum tempo, eram devolvidas onde a fiscalização é insuficiente ou inexistente.
ao seu país de origem, porém não conseguiam se readaptar às Em seu tempo, Jesus olhou para todas as crianças de uma
suas famílias e acabavam perambulando pelas ruas. Felizmente, forma especial, trazendo-as ao centro das decisões da comuni-
isso começou a mudar! dade, valorizando-as integralmente porque Ele é o Bom Pastor,
No Brasil, cerca de 14% das crianças e adolescentes na aquEle que dá a vida por suas ovelhas e não quer que nenhuma
faixa etária de 5 a 17 anos trabalham. Embora exista o esforço se perca (Jo 10, 7-18). Na IAM assumimos o compromisso de
de diferentes setores da sociedade civil no sentido de coibir a “olhar a todos com olhos de irmã e de irmão” (Compromisso da
exploração infantil, através de legislação específica, esse problema Infância Missionária) e seguindo o exemplo de Jesus, dar tes-
persiste. Em alguns países europeus, há uma movimentação temunho que Deus é amor e se preocupa com todos nós. Sem
contrária a essa proibição, favorável à regulamentação do trabalho esquecer que na IAM, nossa missão principal é ser criança que
infantil, saindo do anonimato, da invisibilidade, lutando pelos seus evangeliza criança! De todas as crianças do mundo – sempre
direitos. Em nosso país, nos acostumamos a ouvir dizer que o amigas! 
trabalho mesmo com pouca idade, “é melhor do que roubar”,
mas a verdade é que isso é válido apenas para as crianças Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Setembro 2010 -
- Setembro 2010 25
Diversidade, dom de Deus
Entrevista

Ecumênico de Serviço à Evangelização da humildade é uma das disposições mais


Popular – CESEP, no mês de julho, em São difíceis e importantes. A segunda disposi-
Paulo. Faustino é pós-doutor pela Pontifícia ção é a abertura, ou seja, perceber que o
Universidade Gregoriana (PUG), Itália, outro com o qual eu entro em relação é
doutor em Teologia pela mesma universi- alguém marcado por um mistério que eu
dade, mestre em Teologia, pela PUC-RJ não consigo jamais englobar, é alguém
“As religiões deveriam e graduado em Filosofia e em Ciências da
Religião pela UFJF. É autor de vários livros,
que experimenta a sua vida num espaço
sagrado e que por isso tenho de respeitar
transparecer com sinais dentre os quais “Nas teias da delicadeza”
(Paulinas, 2006) e “As religiões no Brasil:
a alteridade. Reconhecer que o outro é
alguém que merece confiança, que tem
vitais na história o mistério continuidades e rupturas” (Vozes, 2006),
este em parceria com Renata Menezes.
uma dignidade e que sua convicção reli-
giosa deve ser respeitada. Uma terceira
de um Deus de misericórdia”. Faustino Teixeira nasceu em Juiz de disposição é a consciência do meu valor,
Fora, numa família numerosa e muito da minha dignidade. O diálogo deve ser
de Jaime Carlos Patias religiosa. Seus pais tiveram 15 filhos, dez feito por alguém que ama e acredita na sua
homens e cinco mulheres; ele é o oitavo identidade. Não pode dialogar quem não

“A
filho e atribui à influência da família e dos conhece os traços fundamentais da sua
diversidade é um dom que amigos a sua busca por valores universais. própria identidade. Tenho que dialogar com
se insere na dinâmica miste- O sonho do pesquisador é que exista um as minhas convicções para ser respeitado e
riosa dos desígnios divinos. maior entendimento e respeito à diversidade respeitar as convicções do outro. O diálogo
O pluralismo de princípio de culturas e de religiões. não é feito para abafar as individualidades.
significa reconhecer a diver- Não há diálogo verdadeiro quando eu es-
sidade como um valor, como Para se dispor ao diálogo inter- condo a minha identidade. Preciso levar
uma riqueza fundamental, como parte do religioso e ecumênico, que atitudes a ao interlocutor com quem dialogo aquilo
mistério de Deus que nós não conseguimos pessoa deveria ter? que eu acredito. Uma quarta disposição é
compreender na sua totalidade”, afirmou o Uma disposição fundamental é a hu- o sentimento comum de busca da verdade.
professor Faustino Teixeira, pesquisador do mildade, virtude indispensável para viver Os interlocutores devem estar intimamente
Programa de Pós-Graduação em Ciências uma perspectiva dialogal em profundidade. animados pela ideia de que caminham
da Religião da Universidade Federal de Ter a consciência da contingência, de que juntos em busca de um horizonte que
Juiz de Fora, Minas Gerais (UFJF), em não somos permanentes, mas que esta- só Deus conhece. Nunca um interlocutor
entrevista à revista Missões durante curso mos em viagem neste mundo com outras está em posse radical do mistério. Somos
sobre Ecumenismo, promovido pelo Centro pessoas, outras comunidades. O cultivo itinerantes, estamos a caminho, ninguém

Daniel Rodriguez Gutiérrez

Participantes do curso sobre Ecumenismo visitam igreja ortodoxa, Paraíso, São Paulo, SP.

26 Setembro 2010 -
está em sua pátria. Estamos envolvidos por nós uma perspectiva diferente; não ape- tarefa profética que deve animar todas as
uma verdade que nos ultrapassa. E é na nas aceitar isso como um dado histórico, religiões seja a de lutar contra essas am-
dinâmica inter-relacional, dialogal, que ela mas perceber essa realidade como algo biguidades e fazer com que transpareçam
vai florescendo. A verdade é a expressão adquirido por Deus. A diversidade é um como sinais vitais na história, o mistério de
de uma sinfonia inter-religiosa. Uma última dom que se insere na dinâmica misteriosa um Deus de misericórdia. Nem sempre as
disposição é a ecumene da compaixão, o dos desígnios divinos. Então o pluralismo religiões são isentas dessa ambiguidade,
exercício da compaixão. As religiões se de princípio significa não apenas apurar a portanto, elas podem ser tanto portadoras
unem animadas por uma compaixão comum diversidade, mas reconhecer a diversidade de paz como provocadoras da violência
de luta em favor do outro, da dignidade da como um valor, como uma riqueza funda- na medida em que elas se deixam levar
terra, do criado, na luta contra o sofrimento, mental, como parte do mistério de Deus pela vontade da arrogância de humanos.
numa disposição de misericórdia. que nós não conseguimos compreender
na sua totalidade. O importante é perceber Como entender e situar a Missão
Vivemos num tempo favorável ao que há uma riqueza nessa diversidade e no horizonte do pluralismo religioso?
diálogo, por outro lado percebemos que ela manifesta a diversificação de um Sob o ponto de vista do cristianis-
um endurecimento das relações com mistério que é sempre maior. mo, nós temos como centro de referência
o surgimento de fundamentalismos e fundamental Jesus Cristo. Não há como
extremismos. Como explicar isso? Em que as igrejas e religiões pode- apagar para nós e para os outros com os
Essa é a grande estranheza que a riam contribuir para garantir a sobre- quais entramos em contato esse sonho
gente sente. Apesar de vivermos num vivência da humanidade ameaçada? de Jesus, o significado de Jesus como
tempo marcado pela abertura dialogal, As religiões têm um potencial garan- curador da vida, como portador de alegria
vivenciamos simultaneamente um apego tidor do sentido, de resgatar o sentido e como recuperador dos sonhos mais
identitário muito forte, identidades que às ameaçado. Todas as religiões trabalham fundamentais. O trabalho da Missão eu
vezes se revelam mortíferas que não só com elementos de profundidade, com um vejo mais como um exercício de amor do
se fecham nos seus guetos como ata- toque de espiritualidade. Elas têm uma que um mandato. A Missão não pode ser
cam, não abrindo espaços nas pessoas e tarefa fundamental de fazer valer essas vista como uma obrigação, mas como uma
comunidades para a percepção do valor. entranhas do mistério misericordioso. A experiência de amor daqueles que viveram
de forma profunda a experiên­cia de contato
e de sedução por Jesus Cristo e querem
Roseane de Brito

transmitir aos outros essa experiência


de amor. Não só de Jesus Cristo como
pessoa, mas dos valores que ele trouxe;
da cortesia, da hospitalidade, da abertura,
da delicadeza, da alegria... Nós somos
convocados a partilhar com os outros o
significado fundamental desses valores
que ele deixou para nós. Ou seja, nós
somos convidados a não deixar apagar
esse sonho do Reino de Deus na história.
É uma Missão respeitosa dos outros.

Que avaliação faz das iniciativas do


Conselho Nacional de Igrejas Cristãs –
Oscar Beozzo, Faustino Teixeira e Marcelo Barros, durante curso de Ecumenismo no CESEP, São Paulo, SP.
CONIC, como a Semana de Oração pela
Vivenciamos essa dupla dialética, pelo de rejeitar radicalmente uma situação de Unidade dos Cristãos e a Campanha da
fato do pluralismo balançar as nossas sofrimento humano e têm o papel de se Fraternidade Ecumênica?
identidades, colocando-nos diante dum unir em favor da paz mundial como afirmou São iniciativas brilhantes. Os ganhos
desafio aberto que está relacionado com Hans Küng: “não haverá paz no mundo que se têm no diálogo inter-religioso não
o mistério do outro que provoca em nós sem paz entre as religiões”. Então as re- obstaculizam os trabalhos feitos no cam-
um certo temor e a necessidade de mudar ligiões são convocadas a se unir contra o po do ecumenismo. Inclusive, o trabalho
a nossa auto-compreensão. Todo o diálo- sofrimento do mundo. Talvez esse seja um ecumênico prepara o campo para uma
go autêntico provoca mudança na nossa dos mais fortes dinamizadores do diálogo abertura inter-religiosa. Todas as iniciativas
perspectiva de inserção no mundo e na inter-religioso. no Brasil e no mundo são peças de grande
nossa compreensão da identidade. Mas, importância na sensibilização do respeito
nem todos estão preparados, e queremos Muitos conflitos são gerados por ao outro, do respeito à consciência do
uma transformação no nosso modo de ser. motivos religiosos. Qual é a relação outro. O meu diálogo com o outro é capaz
entre guerra e religião? de oferecer percepções da verdade que
Em seus escritos você fala num Isso, infelizmente, porque as religiões eu não capto na minha comunidade de
“pluralismo de princípios”. O que seria não são somente portadoras de paz. As fé. O outro é capaz de revelar para mim
esse conceito? religiões estão na história e são marcadas elementos inéditos da minha experiência de
Deveríamos distinguir entre um plura- por essa precariedade, são fragmentárias. Deus. Isso abre possibilidade mais ampla
lismo de fato e um pluralismo de princípios Portanto, nem sempre, necessariamente para um diálogo inter-religioso que não
ou de direito. O pluralismo de fato significa as religiões desdobram na sua prática os diminui a importância e o valor do diálogo
que existe a diversidade religiosa como um elementos positivos do mistério. Muitas ecumênico. 
fato e não há como driblar essa realidade. vezes elas expressam a vontade de deter-
Pluralismo de princípio é que existe em minados grupos ou setores. Penso que a Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões.

- Setembro 2010 27
Comunhão eclesial
Atualidade

é a chave da missão
Mensagem do papa Bento XVI para o Dia Mundial das
Missões, celebrado tradicionalmente no penúltimo domingo
do mês de outubro, neste ano de 2010, dia 24.
de Maria Emerenciana Raia escola e viver com mais consciência uni- tação da Palavra de Deus e pelo estudo
dos a Ele, Mestre e Senhor. É ele mesmo das verdades da fé, é a condição para

P
que nos diz: ‘Ora, quem me ama será poder promover um humanismo novo,
or ocasião do Dia Mundial das amado por meu Pai, e eu o amarei e me fundamentado no Evangelho de Jesus”.
Missões, o papa costuma enviar manifestarei a ele’ (Jo 14, 21). Somente O Dia Mundial das Missões, na opi-
uma carta a todas as dioceses a partir deste encontro com o Amor de nião do pontífice, é ocasião em que “a
e arquidioceses, a fim de pro- Deus, que muda a existência, podemos Igreja nos convida a aprender de Maria,
porcionar uma reflexão de todos viver em comunhão com Ele e entre nós, mediante a oração do Santo Rosário,
os católicos sobre o significado e oferecer aos irmãos um testemunho a contemplar o projeto de amor do Pai
da data. Bento XVI escreveu no dia 6 de crível, dando razão da nossa esperança pela humanidade, para amá-la como Ele
fevereiro esta mensagem, afirmando ser (cfr. 1Pd 3, 15). Uma fé adulta, capaz de a ama. Não seria este também o sentido
“uma ocasião para renovar o compromisso se entregar totalmente a Deus em atitude da missão?”
de anunciar o Evangelho e atribuir às ati- filial, alimentada pela oração, pela medi-
vidades pastorais uma ampla conotação Sinais de esperança
missionária”. O papa recorda em sua mensagem
Para o papa, o Dia Mundial das Mis- o pedido que alguns gregos fizeram ao
sões “nos convida a viver com intensidade chegar a Jerusalém para a peregrinação
os caminhos litúrgicos, catequéticos, pascal, ao apóstolo Felipe: “Queremos ver
caritativos e culturais, mediante os quais Jesus” (Jo 12, 21), para afirmar que ele
Jesus Cristo nos convoca à ceia de sua ressoa também em nosso coração neste
Palavra e da Eucaristia para saborear o mês de outubro, que nos recorda que o
dom de sua Presença, formar-nos à sua compromisso e o anúncio evangélico são
deveres de toda a Igreja, “missionária por

Ilustração do Cartaz da Campanha Missionária 2010.

28 Setembro 2010 -
natureza” (Ad Gentes,2), e nos convida tureza, ele pede para ser comunicado a

Jaime C. Patias
a sermos promotores da novidade de todos. Aquilo de que o mundo tem neces-
vida, permeada de relações autênticas, sidade é do amor de Deus, é de encontrar
em comunidades fundamentadas no Cristo e acreditar Nele” (nº 84). Por isso,
Evangelho. Em uma sociedade multi­ Bento XVI afirma em sua mensagem pelo
étnica que sofre sempre mais formas de Dia Mundial das Missões que a Eucaristia
solidão e de indiferença preocupantes, é fonte e ápice não só da vida da Igreja,
nós, cristãos devemos aprender a oferecer mas também da sua missão: “uma Igreja
sinais de esperança e a nos tornarmos autenticamente eucarística é uma Igreja
irmãos universais, cultivando os grandes missionária”, capaz de levar todos à
ideais que transformam a história e, comunhão com Deus, anunciando com
sem falsas ilusões ou inúteis temores, convicção: “o que vimos e ouvimos, nós
empenhar-nos para fazer do planeta a agora o anunciamos a vocês, para que
casa de todos os povos. vocês estejam em comunhão conosco”
Como os peregrinos gregos de dois (1Jo 1, 3).
mil anos atrás, também as pessoas de Bento XVI exorta os católicos a nos
nosso tempo, nem sempre consciente- sentirmos todos “protagonistas do compro-
mente, pedem aos fiéis que não apenas misso da Igreja em anunciar o Evangelho.
“falem” de Jesus, mas “apresentem” Je- O impulso missionário sempre foi sinal
sus, fazendo resplandecer Seu rosto em de vitalidade para as nossas Igrejas (cfr.
todos os cantos da terra às gerações do Encíclica Redemptoris Missio, 2) e a sua
novo milênio e especialmente diante dos cooperação é testemunho singular de
jovens de todos os continentes, destina- unidade, fraternidade e solidariedade,
tários privilegiados e atores do anúncio que torna críveis os anunciadores do
evangélico. Eles devem compreender Amor que salva!”
que os cristãos assumem a palavra de O papa renova em sua mensagem,
Cristo porque Ele é a Verdade, porque portanto, a todos o “convite à oração, ao
encontraram Nele o sentido, a verdade compromisso de ajuda fraterna e concreta
para suas vidas. em apoio às jovens Igrejas, não obstante
as dificuldades econômicas”. Tal gesto
Mandato missionário de amor e de partilha, que o serviço das
Estas considerações evocam o man- Pontifícias Obras Missionárias, às quais
dato missionário recebido por todos os agradece, proverá a distribuir, ajudará na
batizados e por toda a Igreja. Porém, formação dos sacerdotes, seminaristas e
ele não se realizará de maneira crível catequistas nas mais distantes terras de
sem uma profunda conversão pessoal, missão e encorajará as jovens comunida-
comunitária e pastoral. Efetivamente, a des eclesiais, na opinião de Bento XVI.
consciência do chamado a anunciar o O pontífice expressa ainda em sua
Papa Bento XVI em Roma, Itália.
Evangelho estimula não apenas os fiéis, mensagem, com particular afeto, o “re-
mas todas as comunidades diocesanas chega aos homens e cria comunhão conhecimento aos missionários e as
e paroquiais a uma renovação integral com Ele mesmo, com o Pai e o Espírito missionárias que testemunham nos lu-
e a abrir-se sempre mais à coopera- Santo (cfr. 1Jo 1, 3). O Cristo estabelece gares mais distantes e difíceis, muitas
ção missionária entre as Igrejas, para a nova relação entre o homem e Deus, vezes também com a vida, o advento do
promover o anúncio do Evangelho no pois nos revela que ‘Deus é amor’ (1Jo Reino de Deus”.
coração de toda pessoa, povos, culturas, 4, 8) e nos ensina ao mesmo tempo que Bento XVI termina sua mensagem
raças e nacionalidades, em toda latitude. a lei fundamental da perfeição humana e, lembrando como o “sim” de Maria, toda
“Tal consciência se alimenta através da portanto, da transformação do mundo, é resposta generosa da comunidade eclesial
obra dos sacerdotes Fidei Donum, de o novo mandamento do amor. Dá, assim, ao convite divino ao amor pelos irmãos
consagrados, de catequistas, de leigos aos que acreditam no amor de Deus, a suscitará uma nova maternidade apos-
missionários, em uma tentativa constante certeza de que o caminho do amor está tólica e eclesial (cfr. Gl 4, 4.19.26), que
de promover a comunhão eclesial, de modo aberto para todos e que o esforço por se deixando surpreender pelo mistério de
que o fenômeno da ‘inter-culturalidade’ estabelecer a universal fraternidade não Deus amor, o qual “chegada a plenitude
possa também se integrar num modelo é vão” (Gaudium et Spes, 38). do tempo... enviou o seu Filho, nascido
de unidade, no qual o Evangelho seja de uma mulher” (Gl 4, 4), doará confiança
fermento de liberdade e progresso, fonte Eucaristia e Missão e audácia aos novos apóstolos. Tal res-
de fraternidade, humildade e paz” (cfr. Bento XVI ressalta que a Igreja se torna posta tornará todos os fiéis capazes de
Ad Gentes, 8). A Igreja “é em Cristo “comunhão” a partir da Eucaristia, em que ser “alegres na esperança” (Rm 12, 12)
como que o sacramento, ou sinal, e o Cristo, presente no pão e no vinho, com ao realizar o projeto de Deus, que deseja
instrumento da íntima união com Deus o seu sacrifício de amor edifica a Igreja “a constituição de todo o gênero humano
e da unidade de todo o gênero humano” como seu corpo, unindo-nos a Deus uno no único povo de Deus, a sua união no
(Lumen Gentium, 1). e trino e entre nós (cfr. 1Cor 10, 16s). único corpo de Cristo, a sua edificação
O papa Bento XVI afirma ainda em Na Exortação Apostólica Sacramen- no único templo do Espírito Santo” (Ad
sua mensagem que “a comunhão eclesial tum Caritatis, o papa escreveu: “Não Gentes, 7). 
nasce do encontro com o Filho de Deus, podemos reservar para nós o amor que
Jesus Cristo, que, no anúncio da Igreja, celebramos no Sacramento. Por sua na- Maria Emerenciana Raia é jornalista e editora da revista Missões.

- Setembro 2010 29
São Paulo – SP de lideranças, ataques a acampamentos e outras
Interculturalidade na Missão agressões por agentes de segurança, ataques a
Valorizar a diversidade cultural na congregação indígenas em situação de isolamento, tortura por
constituída por missionários de diversos países. Com policiais federais, suicídios, entre outras. Segundo o
esse objetivo o Instituto Missões Consolata promoveu coordenador do CIMI no Mato Grosso do Sul, Egon
um biênio de reflexão sobre a interculturalidade, Heck, neste estado, desde 2003, ocorre o maior
período encerrado no Brasil com uma celebração número de violência contra os indígenas no país.
eucarística presidida pelo Superior Geral, padre “No Mato Grosso do Sul prosperam as usinas do
Aquiléo Fiorentini, no dia 22 de julho, no Centro de etanol que incidem sobre as terras indígenas, tanto
Animação Missionária, em São Paulo. A iniciativa foi as já identificadas quanto as que estão em processo
proposta pelo último Capítulo Geral da congregação, de identificação”, disse Heck.
realizado em 2005 e proporcionou, nos últimos dois
anos, momentos de reflexão e partilha, publicados Formação Missionária para sacerdotes
num livro em italiano e inglês. A formação missionária requer hoje uma intensa
Durante a homilia, padre Aquiléo afirmou “que a preparação humana, espiritual, intelectual e prática.
interculturalidade é hoje, o novo paradigma da missão Por este motivo, o Centro Cultural Missionário – CCM
num mundo globalizado, pluriétnico e multicultu- de Brasília realizou de 22 a 31 de julho um curso de
ral”. Falando sobre a postura dos evangelizadores teologia e espiritualidade missionária para sacerdo-
nessa realidade, o padre Geral lembrou que “viver, tes, com o tema “consagrados e enviados a todos
programar e evangelizar requer algumas atitudes os povos”. O objetivo deste curso é redescobrir o
fundamentais: o amor atencioso, a escuta, a comu- ministério sacerdotal à luz da perspectiva missionária,
nhão e uma mentalidade de mudanças. A reflexão reforçar o estudo da teologia e da espiritualidade da
VOLTA AO BRASIL

sobre a interculturalidade é para nos ajudar a viver missão, para enfrentar as questões fundamentais,
e trabalhar de modo mais harmônico. Acolher o aumentar a consciência missionária dos participantes
outro que é diferente, nos ajuda na missão de viver e guiá-los a uma prática de evangelização sempre
e evangelizar. Mas, isso só funciona se soubermos mais inculturada, considerando o horizonte universal.
viver as nossas relações interpessoais com a pessoa Segundo o secretário executivo do CCM, padre
de outra cultura, com amor”, alertou. Estevão Raschietti, o curso suscitou a redesco-
Os missionários e missionárias da Consolata, berta do ministério sacerdotal na missão de hoje.
congregações fundadas respectivamente em 1901 e “A missão se refere à identidade mais profunda do
1910, pelo Bem-aventurado José Allamano, em Turim, sacerdote; do mesmo modo, a missão se refere à
Itália, se espalharam atingindo 26 países da Europa, própria essência da Igreja”. O curso, de dez dias,
África, Ásia e América. Hoje as duas congregações teve 15 participantes. O CCM promove cursos de
contam com cerca de 1.800 membros originários de formação missionária em sintonia com a Comissão
pelo menos 20 países. A cerimônia fez parte da pro- Episcopal da Pastoral Missionária e a Cooperação
gramação da Assembleia Regional dos missionários Intereclesial; a Comissão Episcopal para o Ministé-
da Consolata no Brasil, que foi realizada de 20 a 27 rio Ordenado e da Vida Consagrada; a Comissão
de julho, no Centro de Animação Missionária, bairro Episcopal para a Amazônia, o Conselho Missionário
Pedra Branca, Zona Norte de São Paulo, e contou Nacional a Conferência dos Religiosos do Brasil, as
também com três dias de estudos sobre a Missão Pontifícias Obras Missionárias, a Comissão Nacional
Ad Gentes, curso assessorado pelo padre Sérgio dos Sacerdotes e a Organização dos Seminários e
Bradanini do PIME. Institutos do Brasil.

Brasília - DF Santarém – PA
Violência contra os indígenas Ano Missionário
O Conselho Missionário Indigenista - CIMI, or- Uma missa marcou a abertura do Ano Missionário
ganismo vinculado à CNBB, publicou dia 9 de julho, da diocese de Santarém. A celebração aconteceu no
na sede da CNBB, em Brasília, o relatório sobre a dia 1º de agosto, na paróquia São José, e foi presi-
violência contra os Povos Indígenas no Brasil em dida pelo bispo diocesano, dom Esmeraldo Barreto
2009. O presidente do CIMI, dom Erwin Kräutler, de Farias. Centenas de pessoas, representantes de
ressaltou que o objetivo do relatório não é dizer se a pastorais, comunidades, congregações religiosas,
violência contra os indígenas aumentou ou diminuiu, participaram da cerimônia. A Missão Diocesana de
mas mostrar que há violência contra os Povos Indí- Evangelização vai até novembro de 2011, e terá
genas. “O sangue derramado dos indígenas clama continuidade após sua avaliação. Tem como objetivo
aos céus”, disse dom Erwin. “Queremos que este principal: “ir ao encontro das pessoas para despertar
relatório chegue aos governos estaduais e federal para o sentido do encontro com Jesus e de pertença à
colocarmos um basta na violência contra os Povos comunidade, celebrando e animando a caminhada
Indígenas”. Para Roberto Liebgott, vice-presidente e a comunhão das comunidades”. Um dos objetivos
do CIMI, o relatório vem mostrar “a omissão como específicos é a descoberta e o acompanhamento de
opção política do governo federal em relação aos novas lideranças e a criação de novas Comunida-
Povos Indígenas”. des Eclesiais de Base - CEBs. A intenção é visitar
Tal atitude implica em diferentes formas de vio- aproximadamente 175 mil famílias, das zonas rural
lências, como a não demarcação de terras, falta de e urbana da diocese. 
proteção das terras indígenas, descaso nas áreas de
saúde e educação e a convivência com a execução Fontes: CIMI, CNBB, revista Missões, Zenit.

30 Setembro 2010 -

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