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Vitória
2021
MAXWELL DOS SANTOS
Vitória
2021
Dedico este trabalho às memórias de Miguel Marvilla e
Sérgio Blank.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, por ter me sustentado por quase seis anos de curso e não ter
deixado esmorecer diante das adversidades.
Ao professor Nelson Martinelli Filho por ter me aceitado orientar.
Ao CEO da Mettzer, Felipe Mandawalli, por liberar o acesso da ferramenta que
possibilitou a formatação deste trabalho.
A Weberton Pessin, dono do Açaí Fulô, que cedeu o espaço da loja para que este
trabalho fosse escrito durante a pandemia.
À Danielle Pereira e suas meninas do Zayin Café, que eram minhas companhias nas
tardes de redação deste trabalho.
À técnica em assuntos educacionais Camila Belisario Ribeiro.
Aos escritores e escritoras que se dispuseram a participar da pesquisa que culminou
neste trabalho.
Aos alunos e alunas da turma 2016/1.
[…] o Espírito Santo me parece uma ficção geográfica,
onde não tenho uma só livraria, nem um só assinante”
Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo mostrar os desafios dos escritores
que produzem literatura no Espírito Santo após a publicação de suas obras, mostrar iniciativas
pessoais e institucionais para divulgação da nossa literatura e apontar soluções para tirar a
literatura capixaba da situação de marginalidade. Para cumprir este afã, foram utilizados como
referências os trabalhos de Francisco Aurélio Ribeiro, Reinaldo Santos Neves, Maria Amélia
Dalvi e Ivana Esteves, estudiosos da literatura do nosso Estado. Ademais, foi aplicado aos
escritores capixabas um questionário, enviado via e-mail, onde estes contaram sobre suas
trajetórias no mundo das letras, processo criativo e o que eles passam para distribuir e
divulgar suas obras. Após a análise das respostas, restou comprovado que os principais
gargalos na literatura produzida no Espírito Santo são: a divulgação, com pouco apoio da
imprensa local, a distribuição, em que as maiores livrarias preterem os autores locais,
sobretudo aqueles que publicam independentemente, com clara preferência a autores
bestsellers, e a circulação, em que há pouca ou nenhuma iniciativa das prefeituras e do
Governo do Estado para fazer que as obras cheguem aos leitores. No final, são apontadas
soluções, que a médio e longo prazo, podem contribuir ir para maior visibilidade da literatura
capixaba e de seus autores.
This Course Conclusion Paper aims to show the challenges of writers who produce literature
in Espírito Santo after the publication of their works, to show personal and institutional
initiatives for the dissemination of our literature and to point out solutions to remove the
Espírito Santo literature from the situation of marginality. To fulfill this desire, the works of
Francisco Aurélio Ribeiro, Reinaldo Santos Neves, Maria Amélia Dalvi and Ivana Esteves,
scholars of the literature of our State, were used as references. In addition, a questionnaire
was sent to capixaba writers, sent via e-mail, where they told about their trajectories in the
world of letters, creative process and what they spend to distribute and publicize their works.
After analyzing the responses, it was proven that the main bottlenecks in the literature
produced in Espírito Santo are: the dissemination, with little support from the local press, the
distribution, in which the largest bookstores deprive local authors, especially those who
publish independently, clear preference for bestselling authors, and circulation, in which there
is little or no initiative from city halls and the State Government to make the works reach
readers. In the end, solutions are pointed out, which in the medium and long term, can
contribute to greater visibility of the Espírito Santo literature and its authors.
1 ...................................................................
INTRODUÇÃO 11
2 BREVE PANORAMA DA LITERATURA PRODUZIDA NO ESPÍRITO
. . . . . . . .AO
SANTO . . . LONGO
. . . . . . . . DOS
. . . . .ÚLTIMOS
. . . . . . . . . .QUARENTA
. . . . . . . . . . . ANOS
........................... 13
2.1 A EDITORA DA FCAA E SEU PAPEL COMO FOMENTADORA DAS
. . . . . . . . .CAPIXABAS
LETRAS ............................................................... 13
2.2 . . . . . . .GOMES
DENY . . . . . . .E. .SUAS
. . . . . OFICINAS
. . . . . . . . . . LITERÁRIAS
.................................... 15
2.3 .MECANISMOS
. . . . . . . . . . . . . .ESTATAIS
. . . . . . . . . DE
. . . FOMENTO
. . . . . . . . . . .À. CULTURA
............................ 17
2.3.1 Lei
. . . .Rubem
. . . . . . Braga
. . . . . . (Vitória)
................................................... 17
2.3.2 Lei
. . . .Rubem
. . . . . . Braga
. . . . . . (Cachoeiro
. . . . . . . . . . de
. . .Itapemirim)
...................................... 19
2.3.3 FUNCULTURA
. . . . . . . . . . . . . . .(Espírito
. . . . . . . .Santo)
............................................ 20
2.4 . . . .EDITORAS
AS . . . . . . . . . .INDEPENDENTES
..................................................... 20
2.4.1 Florecultura
................................................................... 20
2.4.2 Cousa
................................................................... 21
2.4.3 Pedregulho
................................................................... 21
3 . . . . . . . . . . .A. .VOZ
OUVINDO . . . . DOS
. . . . .ESCRITORES
............................................. 23
3.1 ...................................................................
DISTRIBUIÇÃO 23
3.2 ...................................................................
DIVULGAÇÃO 26
3.3 ...................................................................
CIRCULAÇÃO 28
4 . . . .INICIATIVAS
AS . . . . . . . . . . . . QUE
. . . . . FOMENTAM
. . . . . . . . . . . . .A. .LITERATURA
. . . . . . . . . . . . . CAPIXABA
.................. 30
4.1 . . . . . .CAPIXABAS
LEIA ............................................................. 30
4.2 . . . . . . . . . . . . SIM
PROGRAMA . . . . PARA
. . . . . .A. .LITERATURA
........................................... 30
4.3 .PROGRAMA
. . . . . . . . . . . DEDO
. . . . . . DE
. . . .PROSA
............................................. 31
4.4 . . . . . . . . POR
LIVROS . . . . .LÍVIA
...................................................... 31
4.5 . . . . . . . . . .VIAGEM
PROJETO . . . . . . . .PELA
. . . . . .LITERATURA
........................................... 31
5 . . . . . . . SE
COMO . . . PODE
. . . . . . MUDAR
. . . . . . . . .ESTE
. . . . . ESTADO
. . . . . . . . .DE
. . . COISAS?
......................... 33
5.1 . . . . . . . . . .DO
CRIAÇÃO . . . PRÊMIO
. . . . . . . . ESPÍRITO
. . . . . . . . . .SANTO
. . . . . . .DE
. . .LITERATURA
.......................... 33
5.2 INCENTIVO À CRIAÇÃO DE FEIRAS LITERÁRIAS NOS MUNICÍPIOS DO
.INTERIOR
. . . . . . . . .E . .NAS
. . . . .PERIFERIAS
....................................................... 33
5.3 CONDICIONAMENTO PELO GOVERNO DO ESTADO E PELAS
PREFEITURAS DA VEICULAÇÃO DA PROPAGANDA OFICIAL À DIVULGAÇÃO
DE AUTORES QUE PRODUZEM LITERATURA NO ESPÍRITO SANTO NAS
. . . . . . . . . . . . DE
EMISSORAS . . . RÁDIO
. . . . . . . E. .TELEVISÃO
................................................ 34
5.4 INCLUSÃO DE DOIS LIVROS DE AUTORES CAPIXABAS NAS CESTAS
BÁSICAS DISTRIBUÍDAS PELAS TRÊS ESFERAS DE PODER, FINANCIADOS
. . . . .ESTAS
POR . . . . . . ÚLTIMAS
............................................................. 35
5.5 .PRIORIZAÇÃO
. . . . . . . . . . . . . .NA. . . PREMIAÇÃO
. . . . . . . . . . . . .DOS
. . . . EDITAIS
. . . . . . . . PARA
. . . . . .PRODUÇÃO
. . . . . . . . . . . DE
....... 35
LONGAS-METRAGENS E SÉRIES QUE SEJAM ADAPTAÇÕES DE OBRAS
. . . . . . . . . . . . .DE
LITERÁRIAS . . .AUTORES
. . . . . . . . . .DOMICILIADOS
. . . . . . . . . . . . . . .NO
. . . ESPÍRITO
. . . . . . . . . SANTO
................... 35
6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . FINAIS
CONSIDERAÇÕES ................................................. 36
...................................................................
REFERÊNCIAS 38
...........—
APÊNDICE . . .QUESTIONÁRIOS
. . . . . . . . . . . . . . . . . APLICADOS
. . . . . . . . . . . . .AOS
. . . . AUTORES
................... 41
11
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Junior (1982, p. 69, apud Ribeiro, 1993, p. 94), o objetivo principal da
Editora da FCAA era "a redução do grande vazio editorial capixaba, publicando obras que
venham enriquecer o patrimônio científico e cultural do Espírito Santo". O objetivo inicial da
Editora da FCAA era "a publicação de obras de importância para o conhecimento do
processo de evolução sócio-econômico do Espírito Santo" (SANTOS NEVES, 2019, p.79). O
mesmo autor aponta três fatores que levaram a editora a publicar obras literárias:
Sobre Amylton de Almeida (1946-1995), é importante ressaltar que ele foi um dos
maiores agitadores culturais que o Espírito Santo já teve, atuando em múltiplas trincheiras:
jornalismo cultural, literatura, dramaturgia e audiovisual. Bilich (2005, p.24) aponta outras
lutas do saudoso jornalista em prol da cultura:
14
Em 1980, a Editora da FCAA criou a coleção Letras Capixabas, que tinha a finalidade
de publicar obras de autores capixabas. Entre 1980 e 1989, foram publicadas 40 obras,
abrangendo diversos gêneros, tais como romance, conto, crônica, poesia e sátira. (Santos
Neves, 2019, p.80). Ribeiro (1993, p.60-61), aponta o apoio da Aracruz Celulose para
viabilização da publicação das obras da série Letras Capixabas e a intenção desta ação:
Era uma ótima estratégia comandada pelo departamento de comunicação daquela que
fora considerada a maior produtora de celulose branqueada de eucalipto do mundo para
melhorar sua imagem junto à opinião pública, apesar dos impactos socioambientais da
monocultura de eucalipto. Reinaldo Santos Neves, então editor da Editora da FCAA,
confessara ao professor Francisco Aurelio Ribeiro os critérios para publicação na série Letras
Capixabas:
lº) A abrangência no tempo: textos mais antigos ao lado de textos atuais. No entanto,
pode-se constatar que, dos títulos publicados, apenas quatro não são
contemporâneos: Grammatica portugueza pelo methodo confuso, sátira de Mendes
Fradique, fac-símile de uma edição de 1927;Cantáridas e outros poemas fesceninos,
de Paulo Velozo e outros, poemas escritos na década de 30; Poemas, de Audífax
Amorim, edição crítica de poemas escritos nas décadas de 50 e 60 e A baixa de
Matias, fac-símile de uma novela de Azambuja Susano publicada no século XIX.
2º) A publicação de autores consagrados, regional ou nacionalmente, ao lado de
autores jovens ou inéditos. Conhecidos nacionalmente, só há três: Geir Campos,
Rubem Braga e José Carlos Oliveira; com relativo conhecimento do público local,
pois já haviam publicado livro, são: Renato Pacheco, Elmo Elton, Luiz Guilherme
Santos Neves, Reinaldo Santos Neves, Luiz Busatto, Amvlton de Almeida e Valdo
Motta. Os demais eram inéditos em livro, sendo que alguns já haviam participado de
antologias: Bernadette Lyra, Fernando Tatagiba, Marcos Tavares, Oscar Gama Fº,
Deny Gomes, Miguel Marvilla, Paulo Sodré, Sebastião Lyrio, Francisco Grijó,
Flávio Sarlo, ou publicado em jornal: Carlos Chenier e Audífax de Amorim.
3º) A qualidade estético-literária. Apesar de haver um conselho editorial, a decisão
pela publicação de um livro foi, na maioria das vezes, uma decisão do editor, com
assessoria esporádica de alguns escritores como Renato Pacheco, Oscar Gama Fº, ou
os demais componentes do grupo Letra: Marcos Tavares, Luiz Busatto e José
15
Augusto Carvalho, este último o único que não teve livro publicado na série.
4º) Diversidade de gêneros ou modalidades literárias, excetuando qualquer espécie
de gênero dramático, ou teatro. Dos títulos publicados, vinte e nove foram de
poemas e contos, sete de romances, dois de crônicas e um de sátira e de novela.
5º) Premiação em concurso literários. Desde 1983 foi instituído o prêmio Geraldo
Costa Alves, posteriormente intitulado prêmio Letras Capixabas, e que era anual e
constituía-se de uma quantia em dinheiro e a publicação do livro vencedor, havendo
alternância de modalidades literárias: romance, conto, poemas. Foram vencedores:
em 1983, Adilson Vilaça com A possível fuga de Ana dos Arcos, contos; em 1984, a
categoria romance não teve vencedores, apesar de haver doze concorrentes; em
1985, Roberto Almada com O país d'el rey e A casa imaginária, poemas; em 1986,
Francisco Grijó com Diga adeus a Lorna Love, contos; em 1987, Paulo Roberto
Sodré com Lhecídio-gravuras de Sherazade na penúltima noite, romance e, em
1988, Miguel Marvilla com Lição de labirinto, poemas.
6º) Diversificação de autores. Dos títulos editados, vinte e três autores tiveram um
livro publicado; sete autores tiveram dois, e um, Renato Pacheco, publicou três.
Deve-se destacar que dentre os trinta e um autores publicados, só se encontram dois
nomes femininos, Bernadette Lyra e Deny Gomes, ambas professoras do
Departamento de Línguas e Letras da UFES.
(RIBEIRO, 1993, p.61-63)
Durante a década de 1980, dois fatores, segundo Santos Neves (2019, p. 81)
confluíram para que houvesse um despertar da atividade literária, tendo a Universidade
Federal do Espírito Santo como agente catalisador: os concursos e as oficinas literárias. A
respeito das oficinas, o mesmo autor observa:
Paralelamente, foi realizada uma série de oficinas literárias pela professora Deny
Gomes, das quais participaram alunos de Letras e jovens da comunidade
interessados no ofício da literatura. Esse projeto, que teve seu embrião no I
Seminário de Produção do Texto Literário, promovido em 1981 pela Coordenação
de Literatura (então dirigida por Deny Gomes) da Sub-Reitoria Comunitária da
Ufes, e que se institucionalizou a partir de 1982 como projeto da Sub-Reitoria e do
Departamento de Línguas e Letras da Ufes, deixou pelo menos três registros
impressos nessa década: Ofício da palavra (1982), contendo trabalhos realizados
durante o Seminário de 1981, Traços do ofício (1983), contendo textos de oficina
literária realizada em 1982, e Toques (1984), contendo textos de uma oficina de
poesia realizada em 1984. Três dos “graduados” da oficina literária de 1982.
Francisco Grijó, Paulo Roberto Sodré e Valdo Motta – vão ser encontrados, mais
tarde, na Coleção Letras Capixabas.
SANTOS NEVES(2019, p.82)
Deny Gomes era pessoa bem acessível, dinâmica, falava a linguagem dos
estudantes, exercia sobre esses uma influência carismática, ideológica até (havia,
sobretudo, a reivindicação libertária, antiditadura militar), trazia renomados
escritores para palestrar. Assim, afora os tantos professores que eram também
16
Ribeiro (1993, p.65) afirma que "fazer parte da Oficina Literária de Deny Gomes
passou a ser um passaporte quase obrigatório para ter (seus) textos publicados". Marcos
Tavares discorda:
Não. Não é verdade. Participar da coleção Letras Capixabas não tinha como
condição sine qua non a frequência a qualquer evento dessa natureza. Tão verdade é
que Adilson Vilaça, que jamais participou dessas oficinas, fez-se presente já no
volume 12 da referida coleção, com A possível Fuga de Ana dos Arcos (contos).
Fora ele, então aluno de Comunicação, o vencedor do II Concurso Universitário de
Contos (1980). Igualmente contemplados nesse concurso, fomos Miguel Marvilla
(2º lugar), Ivan de Lima Castilho(3º), Debson Jorge Afonso (menção honrosa)
Sebastião Lyrio (idem) e eu (idem).
Tanto havia muito desejo e vaidade de se publicar na então nascente editora da
FCAA quanto havia um rigor editorial. Vi de bem perto isso, pois, por acaso das
circunstâncias e por afinidades literárias, acabei sendo estagiário da Editoria, ali
atuando de 1982-1984, até que fosse aprovado em concurso público, indo cumprir
ofício no interior do ES.
Ivan Castilho publicou o Deus do Trovão (contos, volume 36), cuja orelha escrevi.
Paulo Roberto Sodré teve publicado Interiores (poemas, volume 15), que também
orelha escrevi.
Debson Jorge Afonso, que foi o volume 27 (Batendo na porta errada, contos),
jamais fez oficina. Também Miguel Marvilla, que oficina não fez, publicou Os
mortos estão no living (contos, volume 35). Já eu, com o volume Vintecontos, havia
também obtido menção honrosa no Concurso “Geraldo Costa Alves”, publicado,
com acréscimos, como No escuro, armados (contos, volume 26). Sebastiao Lyrio
teve lançado o Nada de novo sob o neón (contos, volume 34).
Também porque premiados em concurso promovido pela FCAA, fizeram jus a
edição: Francisco Grijó , com seu Diga adeus a Lorna Love (contos, volume 29);
Miguel Marvilla, outra vez, agora com Lição de Labirinto (poemas, volume 39);
Paulo Roberto Sodré com Lhecídio-Gravuras de Sherazade na penúltima noite
(poemas, volume 37).
Waldo Motta, então aluno de Comunicação (Ufes), se oficinando fora, já era um
nome bem festejado pela crítica literária, tal qual o Sergio Blank, sequer aluno e
sequer oficinando: o primeiro teve na coleção o Eis o homem (poemas, volume 30);
o segundo, o Pus (poemas, volume 25).
Dois outros, se alunos eram (Oscar Gama Filho e Gilson Soares), não possuíam
17
Criada através da Lei Municipal 3730/1991, na gestão do prefeito Vitor Buaiz, até sua
reforma em 2019, a LRB era baseada em incentivo fiscal, em que o artista elaborava o
projeto e dava entrada no protocolo geral. O projeto era analisado pela comissão normativa,
que dava parecer pela aprovação. Caso o projeto fosse aprovado, o proponente recebia da
PMV o certificado de bônus. Ele era trocado por dinheiro com pessoas físicas ou jurídicas,
que podiam abater até 20% do ISS ou IPTU devido. A antiga legislação assim versava:
Os empresários concordam que a Lei Rubem Braga facilita o apoio para incentivos
culturais, justamente porque não precisam mais julgar o mérito e a qualidade do
projeto. Há duas comissões responsáveis por isso. Quando os projetos e os bônus
chegam as suas mãos já está tudo aprovado por pessoas conceituadas na área
artística.
(KOGURE, 1992, p.29)
Falar da Lei Rubem Braga é falar de uma enorme frustração. Pois idealizada para
servir à democratização do acesso à cultura, principalmente às camadas mais
populares, não atingiu os seus objetivos. Nascida sob a imagem de que a sapatilha
de balé também cabia no pé do pobre, vi que infelizmente não coube, apesar de ter
girado e continuar girando imensos recursos públicos em favor da cultura.
Ela, infelizmente, ou desgraçadamente (talvez esse adjetivo seja mais apropriado)
tirou da porta do poder público pedintes culturais (há exceções, claro) e os alçou à
condição de gestores do maior orçamento cultural do Estado do Espírito Santo, que,
sem dúvida alguma, foi e continua sendo a Lei Rubem Braga. Como esse país é um
país de golpes, deram um belo golpe na cultura capixaba quando substituíram a
Comissão Móvel pelas setoriais . Pegaram o controle total dos projetos. As patotas
tomaram conta da Lei Rubem Braga. Passaram a distribuir o seu imenso orçamento.
Para não faltar com exemplos, na área de cinema e vídeo houve integrante
da comissão que fez uma produtora e com ela produziu a maior parte dos projetos
nela aprovados.
Citei o exemplo somente para segurar a crítica, mas o grande desastre ocorreu
mesmo na qualidade dos projetos. Documentários sem qualidade para serem
exibidos, CDs sem o mínimo de circulação, peças de teatros sem público, livros sem
leitores. Evidente que há exceções de boa qualidade, mas que não apagam a má
qualidade da maioria.
Não que essa má qualidade refletisse a condição cultural de Vitória. Ela é
consequência, como já foi dito a pouco, do acesso aos recursos da Lei Rubem Braga
de patotas que gravitaram em torno do poder público com os seus projetos.
Um balanço, por menor que seja, na vida da Lei Rubem Braga, vai mostrar o
desperdício de uma imensidão de recursos, muito dinheiro mesmo, por conta do
19
controle dos projetos pelas antigas patotas e as que nasceram em decorrência do fim
da Comissão Móvel.
(SOUZA, 2009, p.76-77)
2.4.1 Florecultura
Foi uma mulher o elo que primeiro aproximou, ainda que de maneira torta, o
estudante de Letras/ Inglês Miguel Marvilla e o estudante de Economia Christoph
Schneebeli. Na verdade, a desilusão provocada no poeta Marvilla por uma ex-
namorada, que o abandonou para começar um relacionamento com Schneebeli.
Anos depois coube aos livros a missão de superar esse desentendimento inicial e
consolidar uma amizade que se transformou em parceria profissional. Os dois
fundaram a Florecultura Editores em 1999 e, ao longo de dez anos, publicaram mais
de 80 livros.
A ideia era ter sempre a qualidade estética, não só no sentido da beleza, mas no
sentido de um texto fluido, organizado, de uma impressão e de papel bons. Esses
eram os maiores cuidados dele, que analisava página por página. tinha muito esse
cuidado.
(GRAIZE, 2009)
O jornalista Marcelo Pereira observa como Miguel Marvilla tratava o produto livro e
seu realizador: "Era uma editora onde o autor local tinha um tratamento caprichado. Não se
tratava apenas de imprimir o texto - o livro era pensando em todas as suas etapas, e ele
acompanhava tudo". (ZANOTTI, 2009).
Saulo Ribeiro, escritor e editor da Editora Cousa, da qual falaremos a seguir, aponta o
salto de qualidade nas obras produzidas no Espírito Santo com a chegada da Florecultura:
"Como editor, Marvilla estabeleceu novos padrões de qualidade do livro feito no Espírito
Santo. Antes o livro capixaba tinha cara de livro capixaba, você já notava quando via em cima
da mesa, não precisava nem abrir". (SÉCULO DIÁRIO, 2019).
2.4.2 Cousa
A editora iniciou suas atividades em 2009, mesmo ano que Miguel Marvilla nos
deixou. Saulo Ribeiro, editor, conta sobre o surgimento da Cousa:
2.4.3 Pedregulho
Fundada em 2013 por Marília Carreiro, "surgiu por causa da necessidade de publicar e
divulgar a literatura produzida em nosso estado" (FERNANDES, 2014). A autora-editora
aponta o perfil da Pedregulho:
Desde que decidi fundar a Pedregulho, tinha em mente que ela seria uma editora
plural, para trabalhar a diversidade em todas as suas formas. Era (e ainda é) um
desejo que as minorias sejam colocadas em destaque, produzindo e lançando textos,
22
Após viabilizar sua publicação, a aspiração de boa parte dos escritores residentes no
Espírito Santo é vê-lo vendido nas livrarias, adotado nas escolas, comentado na imprensa,
pelos influenciadores literários digitais e lido pelos leitores. Todavia, há muitos percalços para
que o produto cultural livro chegue a quem de direito, a saber, o leitor.
Se em 1987, o Ultraje a Rigor, pelos versos de Roger Rocha Moreira, da canção Inútil
dizia: A gente escreve livro e não consegue publicar, em 2020, pode dizer-se com segurança:
A gente publica livro e não consegue vender, nem divulgar, tampouco circular. Apontaremos
os principais gargalos para a profusão do livro do autor capixaba: a distribuição e divulgação.
3.1 DISTRIBUIÇÃO
No Brasil, salvo raras e notáveis exceções, como Paulo Coelho e autores de livros de
autoajuda, como Augusto Cury e Roberto Shinyashiki, o escritor não consegue sobreviver só
de direitos autorais de suas obras. Muitos têm profissões paralelas, como professor, jornalista,
advogado, servidor público, entre outras. O próprio Marcos Tavares é auditor tributário da
Secretaria de Estado da Fazenda.
A postura das livrarias locais de só expor livro que seja bestseller denota um ranço
provinciano e colonizado de só valorizar o que é de fora. É como se os autores brasileiros
tivessem pouco ou nenhum valor. A escritora Regina Menezes Loureiro3 aponta a via-crúcis
do escritor que produz literatura no Espírito Santo:
2- Aí, [o] escritor capixaba publica seus livros com recursos próprios ou por alguma
Lei de incentivo à cultura, mas não há quem compre seus livros.
Considerando [que] o seu livro ficou pronto, já armazenado em sua casa:
1- Se você não conseguiu apoio de uma grande editora, quem fará a divulgação?
Sem divulgação a mercadoria fica estocada;
2- Se você publicou seu livro e não possui NF, não vai conseguir vendê-lo para
nenhuma livraria;
3- O Estado do Espírito Santo não possui editoras que façam todo o trabalho de
divulgação e venda;
4- A Imprensa não é nossa aliada;
5- Como a Literatura permeia as outras artes, digo que a cultura não recebe, ou é
quase nulo o apoio do poder público.
(LOUREIRO, 2019)
O Espírito Santo não possui uma indústria editorial consolidada. O que temos, na
verdade, são empresas que prestam serviços editoriais, nas áreas de revisão, editoração
eletrônica, ilustração, além das gráficas, que prestam os serviços supracitados e imprimem os
livros. Muitos autores independentes são obrigados a se formalizar enquanto pessoa jurídica
para poder emitir nota fiscal e vender seus livros nas livrarias.
O escritor Anaximandro Amorim4, em entrevista para Vitor Cei, aponta que há
preconceito contra o autor capixaba, além de restrições de ordem tributária para a venda das
obras:
4 Nascido em Vila Velha/ES, em 1978. É advogado, professor e escritor. Membro de várias entidades culturais
do Estado.
5 Informações fornecidas por correio eletrônico. AMORIM, Anaximandro Oliveira Santos. TCC Maxwell .
[mensagem pessoal] Mensagem recebida por: . em: 27 nov. 2020.
25
mercadológica e imediatista, não acreditando nos autores brasileiros, sobretudo aqueles que
produzem literatura no Espírito Santo. Por outro lado, é absurda a opressão do fisco estadual
com os tais dispositivos que punem os livreiros por estes últimos comercializarem os livros de
autores capixabas adquiridos através de nota fiscal avulsa. Oliveira e Dalvi (2016. p.91-92)
afirmam que uma grande rede de livrarias, atualmente em recuperação judicial, cria
empecilhos para venda de livros de autores locais:
Em pesquisa de campo para este estudo, constatamos que a rede de livrarias com o
maior número de lojas localizadas em shopping centers da região metropolitana
(aqui identificada como Livraria S.) dificulta o acesso à venda de livros de autores
capixabas; conseguir incluir títulos no acervo da livraria só é possível com a
mediação de distribuidores, visto que, para figurar no cadastro de editoras ligadas à
livraria, somente com 150 títulos no catálogo. Para uma editora independente fora
do eixo Rio-São Paulo ou para o autor independente essa parece ser uma empreitada
inviável – a julgar pelo fato de que não existem distribuidoras locais com catálogo
especializado em literatura do estado do Espírito Santo.
Lívia Corberllari6, escritora e jornalista, também opina sobre a distribuição dos livros
de autores capixabas: "Nossa dificuldade é sair daqui, sair da ilha. De que pessoas de fora
daqui conheçam alguns livros e escritores que acho muito incríveis e queria muito que
tivessem esse reconhecimento para fora" (TAVEIRA, 2020). A escritora Chirlei Wandekoken7
aponta como funciona o sistema de vendas e livrarias e aponta sua estratégia de vendas
enquanto autora-editora:
Para quê? Eu já achei o meu público, ele vem atrás de mim onde quer que esteja os
meus livros. Vendo muito pela Amazon e minha receita já chegou a ser muito maior
na venda de E-book que de livro físico. Atualmente, porque eu parei com algumas
parcerias com blogs (são necessárias), a venda do livro físico está superior à venda
do e-book, isso devido o marketing da Pedrazul. Então, uma ótima estratégia para
quem não tem uma editora são as parcerias com blogs. Imprima poucos livros (no e-
book gratuito em explico isso) e os doe para os blogueiros. Eles gostam do livro em
papel e de marcador também.
(WANDEKOKEN, 2009)
3.2 DIVULGAÇÃO
No Espírito Santo, é senso comum que os artistas aqui não são reconhecidos e
precisam sair do Estado para que tenham notoriedade. O jornalismo cultural, nos últimos
anos, tem sido afetado com o encerramento das atividades dos jornais impressos,
enxugamento das redações e priorização na divulgação de autores bestsellers. A escritora
Renata Bomfim8 fala sobre sua relação com a imprensa:
Vemos escritores de obras não tão boas ganharem primeira capa do jornal de cultura
e nós ralamos por umas linhas no jornal.
(...)
Quando lancei a minha primeira obra, tive muita dificuldade para divulga-la, hoje
que alcancei alguma projeção é mais fácil, mas ainda é difícil (risos), essa
“facilidade” a que me refiro acontece em função do apoio de amigos jornalistas que
dão aquela força e não pelo desejo espontâneo da imprensa de fazer a informação
sobre a obra chegar ao leitor.
(BOMFIM, 2019)
Marcos Tavares fala sobre como funciona a relação imprensa-autor fora do Eixo:
Uma verdade deve ser dita: imprensa, qual modalidade seja, não corre atrás de
escritor que esteja fora do eixo Rio-São Paulo. Em verdade, querem que o autor os
procure, por vezes ofertando a obra e contando com um bom “pistolão” (na
atualidade, este recebe pomposos nomes: assessor de comunicação, manager,
publisher etc.)
(TAVARES, 2020)
Os grupos midiáticos são pautados no lucro, e para estes, os fins justificam os meios
para obtê-lo. Conseguintemente, os mesmos noticiam aquilo que gera audiência e
visualização. Livros de literatura só têm espaço em emissoras educativas e comunitárias.
Temer apud Barcelos (2020, p. 16) complementa:
A maioria não entende ou não se interessa. Em certo período, distribuí livros meus
para jornalistas falarem sobre minha obra. Ninguém a leu, resumindo-se a colocar no
jornal apenas o resumo do que eu já tinha dito, mas com suas próprias
interpretações. Salvo alguns que reconheceram o trabalho, no geral, a divulgação no
ES de literatura fantástica é pífia.
(FAUSTINI, 2019)
É fato que nos últimos anos, os jornais impressos têm passado por uma crise, agravada
pela pandemia, encerraram as atividades em versão impressa e migraram para internet, como
aconteceu com o nonagenário A Gazeta. Com isso, houve o enxugamento do quadro de
jornalistas, e os cadernos de cultura diminuíram. Livros chegam amiúde às redações dos dois
maiores jornais do Estado. Não há jornalistas especializados em literatura. Os repórteres dos
cadernos culturais têm que cobrir de celebridades a séries lançadas em plataformas de
streaming. As redações dos jornais e portais reproduzem ipsis litteris o press-release,
limitando-se a mudar o título ou reescrevê-lo com informações adicionais do autor. O escritor
Jovany Sales Rey10 afirma que a divulgação limita-se ao lançamento coletivo promovido pela
Secult:
Quanto à divulgação, existe esse apoio, sim, mas limitado somente às obras
publicadas através de seus editais de literatura, por ocasião do lançamento coletivo.
Infelizmente, não se divulga nenhuma obra em si, apenas o evento de lançamento e a
listagem dos contemplados. É uma divulgação institucional e não propriamente
literária.
(REY, 2019)
assessoria de imprensa, com vistas à divulgação das obras contempladas nos editais de
literatura. A divulgação acaba ficando por conta do autor, muitas vezes sem contato com as
redações. Na mesma linha, Lívia Corbellari aponta a não continuidade da divulgação dos
livros:
3.3 CIRCULAÇÃO
Os escritores têm reclamado da falta de apoio estatal para a circulação de suas obras.
Alegam que o poder público só apoia a impressão dos livros. Em relação à questão, afirma
Jovany Sales Rey:
Marcos Bubach11, a seu turno, fala de como as obras que receberam incentivo
circulam:
na Grande Vitória, no entanto, o que percebemos que essas iniciativas quase sempre
contemplam exclusivamente a publicação de um livro impresso, do objeto livro, o
que não significa promover de modo sistemático uma produção literária. Os editais
são fechados e quase nunca permitem que o autor pense amplamente em todas as
etapas necessárias não apenas à impressão do livro, mas a sua difusão dentro e fora
do estado. Serviços como uma assessoria de imprensa, criação de ferramentas de
difusão, comercialização e circulação, ficam fora dos editais e o livro muitas vezes
se torna um amontoado de papel ocupando espaço no quartinho do escritor.
(CEI et al, 2020, p.63)
Neste sentido, se faz necessário readequar os editais para que os mesmos abranjam os
processos pós-publicação. Ribeiro (2014, p.27) vai na mesma opinião de David Rocha no
tocante à deficiência dos mecanismos de financiamento na cobertura das outras etapas pós-
publicação:
Por outro lado, se a política estadual dos editais e a política municipal de leis de
incentivo à cultura propiciaram a publicação de uma grande quantidade de livros,
com critérios de qualidade bem flexíveis, municípios e estado pararam ou
diminuíram a aquisição de livros para as bibliotecas públicas e escolares, como se
aqueles publicados por leis e editais suprissem essa necessidade. Todavia, isso não é
verdade, pois muitos escritores publicam por editoras privadas ou por si mesmos e,
com isso, não têm seus livros adquiridos para as bibliotecas públicas, impedindo aos
leitores capixabas de lerem, por exemplo, os excelentes romances “A longa história”
ou “A ceia dominicana”, de Reinaldo Santos Neves, publicados pela Bertrand Brasil
e “A Capitoa”, de Bernadette Lyra, editado pela “Casa da Palavra”.
Um bate-papo descontraído com escritores capixabas, que mostram sua casa, falam
sobre suas obras, sobre os estilos que escolheram, como está a produção literária no
ES, onde buscam inspiração, novos livros e outras curiosidades. São 30 minutos de
muita cultura.
(ROSALEM, 2009)
Idealizado pela jornalista e escritora Lívia Corbellari, começou como um blog, como
ela relata:
Eu comecei o blog em março de 2013 e agora ele está fazendo 3 anos. No começo
era só um portfólio no qual eu publicava as minhas melhores resenhas, na época eu
trabalhava no jornal Seculo Diário e o jornal recebia muitos livros, eu lia alguns e
fazia as resenhas. Depois o meu volume de leitura foi crescendo e eu fui fazendo
resenhas específicas para o blog focando mais na literatura produzida no Espírito
Santo. O blog foi crescendo e hoje se tornou um portal no qual publico, além das
resenhas, entrevistas e matérias sobre a literatura contemporânea. Eu gosto de
escrever sobre o que leio porque é uma forma de eu entender melhor o livro e de
fixar aquela história em mim. Eu só resenho os livros que eu gosto e que de alguma
forma me marcam e escrevendo sobre eles eu acabo me sentindo mais próxima
dessas histórias, porque sempre que vou escrever um texto eu pesquiso algo sobre o
autor e sobre os livros anteriores dele.
(ONHAS, 2016)
Em 2020, foi aberto o canal no YouTube. Taveira (2020) ressalta que "o canal tem
foco na divulgação da literatura contemporânea brasileira, com especial atenção para as
publicações de autores do Espírito Santo, que devem aparecer com frequência".
O projeto Viagem pela Literatura vem sendo realizado desde 1994 pela Biblioteca
Municipal Adelpho Poli Monjardim, vinculada a Secretaria de Cultura da Prefeitura
de Vitória, por meio de atividades sócio-culturais desenvolvidas por
atores, escritores e contadores de histórias, utilizando diversas linguagens. Atua
prioritariamente junto ao público das comunidades de bairros periféricos, com maior
índice de vulnerabilidade e/ou risco social, dinamizando, dessa forma, a interação
com a população do município.
O Encontro com o Escritor, segundo Rocha apud Almeida (2016, p. 50), "é uma
atividade em que as crianças e adolescentes têm acesso ao processo de criação". Em outras
palavras, é o momento em que o escritor ou a escritora tem contato com os leitores.
33
Diante dos problemas expostos, seguem algumas propostas que podem atenuar esta
situação de marginalidade enfrentada pela literatura produzida no Espírito Santo:
A terceira parte do fato de que ao aparecem na mídia, boa parte das matérias
envolvendo os jovens é sobre violência, usando os jovens como principal fator de
violência no estado. Além disso, a discussões de pautas sobre políticas públicas para
os jovens não são trabalhadas pelos telejornais.
As feiras são um ótimo meio para que estes jovens, oriundos de famílias
34
É urgente que haja a regulamentação dos meios de comunicação para que estes
cumpram a contento sua função social. Os oligopólios midiáticos tacham a medida como
censura e prática ditatorial. Não é o que Ekman e Barbosa (2014) pensam:
Por fim, o simples estabelecimento de uma regulação da radiodifusão não pode ser
tachado de cerceamento da liberdade de imprensa ou então de censura porque é isso
o que diz e pede a própria Constituição brasileira de 1988, ao estabelecer princípios
que devem ser respeitados pelos canais de rádio e TV. No entanto, mais de vinte e
cinco anos após sua promulgação, nenhum artigo de seu capítulo V, que trata da
Comunicação Social, foi regulamentado, deixando um vazio regulatório no setor e
permitindo a consolidação de situações que contrariam os princípios ali
estabelecidos.
35
Mais do que matar a fome de alimentos, é necessário matar a fome de saber. Sendo
assim, a inserção de duas obras de autores locais corrobora para que as obras circulem.
Quando o hábito de leitura é inculcado, a pessoa em situação de vulnerabilidade social tende a
não ter mais fome de comida, mas fome de conhecimento. A mesma passa a compreender, por
meio dos livros, de sua condição e se conscientiza que é possível quebrar o ciclo de pobreza.
Este é o poder empoderador da literatura.
Quando uma obra literária é adaptada para algum formato audiovisual, no período de
sua exibição, ocorre um aumento na venda da mesma. A nível local, foi o que aconteceu com
os romances Os incontestáveis, de Saulo Ribeiro e Reino dos medas, de Reinaldo Santos
Neves, que virou o filme As horas vulgares, dirigido por Vitor Graize e Rodrigo de Oliveira.
A nível nacional, ocorreu em relação à quinta adaptação para novela do romance Éramos Seis,
de Maria José Dupré, como apontam Xavier e Redavam (2019):
Por meio dos longas-metragens e das séries, o povo capixaba passa a se enxergar nas
produções audiovisuais, onde se manifestam todas as expressões culturais do nosso Estado,
desde a polenta de Venda Nova do Imigrante ao congo da Barra do Jucu. Além disso, fomenta
a indústria audiovisual capixaba, com contratação de técnicos e artistas locais, e geração de
empregos indiretos nos setores secundário e terciário.
36
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve o objetivo de apontar os desafios que os escritores que produzem
literatura no Espírito Santo enfrentam após viabilizar a publicação de suas obras. Por meio
dos questionários aplicados aos escritores por e-mail e analisados à luz do referencial teórico,
foram constatados os desafios a seguir:
Dificuldades na distribuição nas obras de autores que produzem literatura no
Espírito Santo, por conta do desinteresse das livrarias de maior porte, que só compram
livros de editoras com mais de 150 livros no catálogo, um desafio para uma editora
independente, e as livrarias pequenas são penalizadas pelo fisco capixaba em virtude
de dois dispositivos do regulamento de ICMS se o livreiro der saída ao livro adquirido
por meio de nota fiscal avulsa.
Dificuldades na divulgação das obras e autores capixabas nos veículos locais. As
emissoras comerciais de rádio e televisão raramente fazem entrevistas com escritores
em seus programas, salvo se estes últimos forem considerados bestsellers ou terem
estreita amizade com os apresentadores ou produtores dos programas. À exceção do
Em Movimento, da TV Gazeta, não há nenhum programa em TV aberta que aborde
cultura, embora o programa em questão não aborde literatura. As emissoras, nos
minutos finais de seus telejornais exibidos às sextas-feiras ou sábados, apresentam a
agenda cultural do final de semana, mas não abordam lançamentos de livros, a não ser
que seja escrito por uma celebridade.
Os mecanismos públicos de financiamento da publicação das obras literárias
limitam-se tão somente na viabilização da publicação das mesmas, ficando por conta
dos autores a distribuição, divulgação e circulação dos livros. São raras as iniciativas
estatais para fazer que os livros cheguem aos leitores e não virem um monte de papel
empilhado debaixo das camas dos escritores.
Não obstante, existem iniciativas particulares e institucionais que têm contribuído
para dar mais visibilidade à literatura produzida no Espírito Santo e aos seus autores,
como o programa Viagem pela Literatura, da Secretaria de Cultura de Vitória, o Leia
Capixabas, coordenado por Anaximandro Amorim, os programas de televisão Sim
para a Literatura, da TV Sim e Dedo de Prosa, da TV Ales, além do blog Livros por
Lívia, de Lívia Corbellari.
No último capítulo, foram apresentadas propostas que possam dar maior visibilidade
à literatura produzida no Espírito Santo seja reconhecida aqui.
Para concluir, seguem algumas sugestões:
Aos professores de Língua Portuguesa: façam a apresentação dos escritores
capixabas, seja por meio de leitura coletiva das obras, seja com palestras dos autores
nos estabelecimentos de ensino, além de participar de eventos que promovem estudos
37
REFERÊNCIAS
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práticas de leitura. Vitória, f. 127, 2016. Dissertação (Programa de Pós-graduação em
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https://repositorio.ifes.edu.br/bitstream/handle/123456789/509/DISSERTA%C3%87%C3%83
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Disponível em: https://livreopiniao.com/2017/10/16/editora-cousa-completa-8-anos-com-
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GRAIZE, Vitor . O legado do poeta. Gazeta On Line. Vitória, 2009. Disponível em:
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ONHAS, Ronald. GENTE COMO A GENTE com Lívia Corbellari, do “Livros por
Lívia”. Entrelinhas e Afins. Disponível em:
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40
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SOUZA, Julia Duarte de. Políticas culturais na cidade de Vitória (1990-2008). Vitória,
2009. 196 p. Dissertação ( Programa de Pós- Graduação em História ) - Universidade Federal
do Espírito Santo, Vitória, 2009. Disponível em:
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TAVEIRA, Vitor. Literatura capixaba ganha espaço no YouTube. Vitória, 2020. Disponível
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ZANOTTI, Daniella. Literatura de luto: morre o poeta Miguel Marvilla. Gazeta On Line.
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literatura+de+luto+morre+o+poeta+miguel+marvilla.html. Acesso em: 4 mar. 2021.
41
1 MARCOS TAVARES
Com esse relato quero dizer que antes de ser um autor, primeiramente fui um grande e
mui interessado leitor: li de tudo (manuais, bulas farmacêuticas, tudo de qualquer jornal,
enciclopédias, almanaques).
Recordo-me que, por volta de 6 a 7 anos de idade, fervoroso eu lia jornal em alta voz
e, por isso, queria ser produtor de texto assim. A seguir, de tanto assistir ao icônico telejornal,
então apresentado por Gontijo Theodoro, Luiz Jatobá e Heron Dominguez, ante espectadores
infantis (da família ou vizinhas), sentado numa cadeirinha e diante de uma pequena mesa,
com notícias inventadas e redigidas por mim mesmo, entoando manchetes, eu simulava ser
um âncora do famoso Repórter Esso.
Ainda garoto (10 anos), motivado por leitura (um texto em prosa, de Viriato Corrêa), a
um cajueiro dediquei poema. Era um texto rimado e composto em quadras. Enalltecia a
frutifera árvore: uma apologia ecológica quando ainda não em voga essa prática. [risos]
Em 1969, na ETFES, em Jucutuquara, emblemática professora de Português, D.
Isaltina Paoliello, em Sala de aula, leu em alta voz uma redação. Identifiquei o meu texto.
Bem tímido e lacônico, fui me abaixando, querendo esconder o rosto, morto de vergonha.
Imaginei que fosse ela reclamar da ficção toda que, desrespeitoso de seu douto saber, eu tivera
o descaramento de inventar em torno do tema “A Influência da TV na Vida Moderna”.
Mas, ao contrário, após a leitura, relatou a Mestra virtudes várias naquele texto
gestado em plena Sala. Tanto inventei situações com o uso e sobretudo com o abuso de tevê
nos lares quanto ousei inventar o nome do inventor do aparelho [ foi um suceder de
aprimoramentos técnicos, não uma obra de autor único]. Depois disso ela passou a me
observar: chamou outros professores para me espiarem, e eu todo mudo e envergonhado,
sempre querendo esconder o rosto.
Ainda nessa idade (11 a 12 anos), na minha rua eu criei uma espécie de teatro
espontâneo: texto ia fluindo e eu ia interpretando, diante de colegas participantes ou mesmo
embaraçados diante daquela “performance”.
Nessa mesma fase, também adepto do desenho e aficionado pelas edições comics da
EBAL, quis eu ser autor de história em quadrinhos (HQs); depois, de bolsilivros quais os da
Editora Monterrey. Cheguei a enviar palavras cruzadas para a revista Realidade; essa, em
nível nacional, uma precursora do New Journalism.
Em idos entre 1975 e 1976, na angústia de realizar-me escritor a qualquer custo,
busquei no suplemento A Tribuna Jovem, do jornal A Tribuna (Vitória,ES), o lugar que desse
vazão à minha verve poética que, copiosa, então jorrava. Manuscritos enviados por via postal
caíram nas graças do editor Antônio Carlos Neves. Embora sem nos conhecermos face a face,
ali, nas domingueiras edições, acabei conquistando um lugar quase. Tamanha a assiduidade,
cheguei a receber cartas de grupo de adolescentes, sobretudo de Nova Venécia (ES):
acreditando eu fosse um escritor bem mais maduro e. grande amigo do editor [risos],
solicitavam a mim orientações várias, sempre a respeito de Literatura. Se isso já poderia ser
43
eu um radical plantonista (adepto do Mundo das Ideias propugnado por Platão), pensava ser
uma até heresia o comercializar algo que fosse imaterial, espiritual, ideológico, qual o era,
para mim, a poesia.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
MT—Tanto a falta de uma política de efetiva distribuição quanto a precariedade
numérica de livrarias induziram a deixar livros para venda em consignação, o que pela
desorganização do empresário e do próprio autor, raramente garante retorno em termos de
acerto de contas. Já houve livraria que fechou portas e sequer me devolveram exemplares lá
deixados.
Maioria das livrarias locais quer apenas expor livro que esteja na lista best seller,
jamais se arriscando a ocupar estante com título de autor nativo ou aqui estabelecido. Tivesse
que viver de venda de livros eu passaria fome. Literatura não dá camisa. Talvez, sim, camisa-
de-força: por conta das contas que chegavam, dada a inadimplência, já vi literato quase
enlouquecendo. Ainda tomarei coragem para vender livro em praias: um projeto sempre
adiado, verão após verão. Um dia, os praianos ainda verão isso: não sei quando. [risos]
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
MT—De autoral possuo apenas dois títulos (GEMAGEM e “No escuro, armados”) e
no tocante a jornais, não posso reclamar da receptividade desses. GEMAGEM teve página
inteira de caderno cultural, em exegético artigo de Waldo Motta. Já o “No escuro armados”
obteve notas, comentários aqui e ali, sempre na imprensa escrita. Já nos veículos de massa,
que vc cita (rádio e TV), fui entrevistado num pioneiro programa [ TV RCA] no gênero:
Anaximandro Amorim o apresentador, em duas (2) ocasiões conversou comigo a respeito de
minha Literatura. A duas (2) emissoras de rádio já fui convidado para conversar a respeito de
minhas Letras: Rádio Universitária e Rádio e CBM (radio Clube da Boa Música). Uma,
entrevistado por Gilson Soares, em idos dos anos 80; outra, em 2019, por Oswaldo Oleare e
Ítalo Campos. Em TV, na outrora TV Espírito Santo e na TV Vitória, também nos idos anos
80, quando sequer tinha eu livro publicado. Ainda nessa época, um diminuto texto produzido
em oficina literária, porque constante no livro “Ofício da Palavra” (UFES), figurou como
questão (nº 5) no vestibular de Língua Portuguesa, em 1994. Com certo humor ou amargor
[risos], reclamo que apenas uma única vez fui convidado para a Rádio Universitária, da
UFES, entidade de ensino bem constante em minha trajetória literária. E muito menos pela
TV da Assembleia Legislativa, em seu programa “Dedo de Prosa”, quando lá até repetem os
entrevistados. Expusessem lá capa de meus livros ou citassem trechos deles já seria uma
interessante divulgação. Importante é a obra: mais que o seu autor.
Uma verdade deve ser dita: imprensa, qual modalidade seja, não corre atrás de escritor
que esteja fora do eixo Rio-São Paulo. Em verdade, querem que o autor os procure, por vezes
ofertando a obra e contando com um bom “pistolão” (na atualidade, este recebe pomposos
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Quanto as minhas obras inéditas (contos, poemas), opto por participar de concurso
literário, sobretudo os de âmbito nacional, o que me já garante tanto uma leitura por parte de
isentos e atentos críticos quanto a chance de ser remunerado, se premiado for.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
MT—Toda vez em que formulem convite, faço esforço para atender, lá comparecendo.
Assim, Chamada para publicação, Edital, Sarau, mesa-redonda, palestra, (re)lançamento,
conversa em escolas.
Mais especificamente, participei de todas as Feiras Literárias já promovidas no ES,
desde aquelas organizadas pelo hoje extinto DEC (Depto. Estadual de Cultura).
Seja com (re)lançamentos ou com conversa quadrada em mesa-redonda ou mesmo
bate-papo redondo em mesa quadrada, assim já participei dos seguintes bem concorridos
eventos:
Seminário “Bravos Companheiros e Fantasmas” (UFES), Café Literário (SESC), Café
com Letras (Shopping Norte Sul), projeto “Viagem pela Literatura” (PMV), projeto “Encontro
com o Escritor” (PMV), Bate-papo com o Autor (BPES), Projeto “Academia vai às Escolas”
(SECULT/Academia Espírito-santense de Letras¬¬ - AEL), Feira Literária Capixaba (AFESL
/AEL - UFES).
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
MT—Quanto a divulgação, nos idos anos 80, por intermédio do já citado DEC, recebi
convite para participar de alguns eventos (Feira do Livro, bate-papo). Em concursos literários
promovidos pelo Estado e pela Prefeitura de Vitória, e aí também incluo a União (aqui
representada pela UFES), por ter obtido distinção, até com premiação remunerada, estive em
solenidades que, de certo modo, tanto garantiram visibilidade quanto divulgaram autor e obra.
Não posso omitir a ocasião em que a SECULT (então dirigida por Neusa Mendes), por
intermédio de um tal Setor de Humanidades (chefiado por Erly Vieira Jr.) nos idos 2005 e
2006, após seleção, contratou (com cachê) não apenas a mim, mas, também a toda uma
plêiade (Sérgio Blank, Waldo Motta, Orlando Lopes, p.ex), para, sobretudo no interior do ES,
ministrar Oficina de Produção de Textos, uma série de pelo menos dez (10) encontros com
estudantes secundários da rede pública estadual. Foi um só sucesso! No meu caso, estudantes
no sudoeste capixaba (Guaçuí e Dores do Rio Preto), revelaram-se grandemente interessados
e prolíficos, assim aferido o mui proveitoso aproveitamento.
Maior apoio existe na produção, com os Editais de Cultura (SECULT-ES, Lei “Rubem
Braga”, Lei “Chico Prego”). Graças a esses dois últimos Editais, respectivamente pelas
Prefeituras de Vitória e de Serra, é que pude publicar boa tiragem de meus livros de poema
(GEMAGEM) e de contos (“No escuro, armados”).
Maior difusão de nossas Letras dá-se por intermédio do bem premiadíssimo Projeto
“Viagem pela Literatura” (PMV), capitaneado pela bibliotecária Elizete Caser. Essa mesma
48
Prefeitura (PMV) produz a série “Escritos de Vitória” que, anual, conta com participação de
vários autores. Sou um dos mais assíduos dessa série. E as coletâneas, já no lançamento, são
distribuídas a pessoas presentes e, também, a entidades, escolas públicas etc. Também essa
biblioteca municipal leva adiante um outro projeto, intitulado “Conversa com o Autor”, a que
por duas (2), convidado, compareci.
Posso dizer que, extensão do Estado e da Prefeitura, bibliotecas fornecem,
gratuitamente, espaço para eventos literários (lançamentos palestras bate-papo, emposse
acadêmica, roda de leitura, saraus, etc).
Atualmente sou membro de uma Associação de Escritores, capixaba, que visa a
difusão de obras dos associados.
49
Também porque premiados em concurso promovido pela FCAA, fizeram jus a edição:
Francisco Grijó , com seu Diga adeus a Lorna Love (contos, volume 29); Miguel Marvilla,
outra vez, agora com Lição de Labirinto (poemas, volume 39); Paulo Roberto Sodré com
Lhecídio-Gravuras de Sherazade na penúltima noite (poemas, volume 37).
Waldo Motta, então aluno de Comunicação (Ufes), se oficinando fora, já era um nome
bem festejado pela crítica literária, tal qual o Sergio Blank, sequer aluno e sequer oficinando:
o primeiro teve na coleção o Eis o homem (poemas, volume 30); o segundo, o Pus (poemas,
volume 25).
Dois outros, se alunos eram (Oscar Gama Filho e Gilson Soares), não possuíam
vínculo com aqueles espaços de escrita; ambos autores, respectivamente, de O despedaçado
ao espelho (poemas, volume 28), e de Rosa-dos-ventos (poemas, volume 18).
Assim, estar na prestigiada coleção Letras Capixabas, naqueles tempos de precário
parque gráfico-editorial, não era uma exclusividade de participantes de oficinas ministradas
pela Ufes ou por Deny Gomes.
Aliás, essa professora e também literata, somente fora publicar muito depois, em 1988:
O desejo aprisionado (poemas, volume 33).
Muitos outros, jamais participantes daquelas, publicaram na citada coleção: eram
nomes já nacionalmente destacados (Rubem Braga, Geir Campos, José Carlos Oliveira.
Mendes Fradique), ou pelo menos em nível do território capixaba (Renato Pacheco, Elmo
Elton, Audifax Amorim, Fernando Tatagiba, Bernadette Lyra, Reinaldo Santos Neves, Luiz
Guilherme Santos Neves, Luiz Busatto, Roberto Almada, Amylton de Almeida, Carlos
Chenier).
Há até reedições de obras cujos autores já são falecidos : Cantáridas e outros poemas
fesceninos ( Paulo Velloso e outros, volume 20) , A baixa de Matias (Azambuja Suzano,
volume 31).
Uma lista completa dessa coleção, citando título, autor, gênero e ano de publicação,
poderá ser visualizada no clássico estudo A Modernidade das Letras Capixabas (por Francisco
Aurélio Ribeiro, FCAA, pp.59 -60), que analisa criticamente grande parte das obras.
No tocante a esse assunto, a estudiosos de nossa Literatura, sempre recomendo
consulta ao primoroso trabalho intitulado Oficina Literária de Escrita Criativa, uma
dissertação de Mestrado (Letras, Ufes, 2016) elaborada por Yan Patrick Brandemburg
Siqueira.
Como vimos, daquele primeiro volume resultante de Oficina, O Ofício da Palavra,
dos então 12 nele publicados somente tiveram livro autoral o Flávio Sarlo, o Ivan Castilho e
eu.
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9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feira Literária Capixaba, Feira Literária de Cariacica, Congresso Brasileiro de Poetas
Trovadores e Bienal Rubem Braga, que acontece nos anos pares.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
É um apoio razoável, porém existe sim, poderia ser melhor.
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NEVES, Reinaldo Santos. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba - Reinaldo
Santos Neves. Mensagem recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 13 nov. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Desde criança. Comecei a escrever historinhas e nunca mais parei.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Como minha temática é muito variada, as influências também são. Petrônio foi uma
óbvia influência para escrever A ceia dominicana. Borges, para A longa história. Richard
Hughes, para As mãos no fogo. Thomas Mann, para A crônica de Malemort. O ciclo do Graal,
para Blues for Mr. Name. Mas são influências pontuais, nada que sugira imitação, seja em
linguagem, seja em urdidura da história. Se há pontos de contato com a linguagem de
Guimarães Rosa nos contos de Má notícia para o pai da criança, isso acontece por acaso ou
coincidência, porque desde cedo evitei ler Rosa justamente para não me deixar influenciar
pelo estilo dele.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Não penso nesses termos. Não vivo de literatura, portanto meu único desafio é comigo
mesmo.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Há muito tempo já desisti de ir atrás de editores fora do estado. A Bertrand Brasil
publicou dois de meus melhores romances, cada um com mais de 300 páginas, mas pouco
interessaram a críticos, resenhistas de jornal e leitores em geral. Tive boa receptiva da parte da
Patuá, de São Paulo, que, porém, trabalha com tiragens pequenas. Hoje estou satisfeito por
publicar em Vitória mesmo. Como disse, não espero retorno financeiro de meus livros.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não leio jornais, nem ouço rádio, nem vejo televisão.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Poucas vezes. No Rascunho, de Curitiba, às vezes ganho espaço lá. Ressalvo, porém,
que também não envio exemplares de meus livros para a mídia impressa ou online fora do
Estado.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Recentemente, um livro infantil.
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8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Alguns textos inéditos em livro estão disponíveis online no site Estação Capixaba,
que, por sinal, depois de vinte anos divulgando tudo sobre este Estado, sem qualquer retorno
financeiro, ou seja, trabalhando de graça por amor ao Estado, desistiu de inserir novos
conteúdos.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Se isso se refere a feiras de livros, não participo. Evento literário para mim são os
eventuais lançamentos de obras de minha autoria.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Parece que vão continuar os esforços da Prefeitura de Vitória e do Governo do Estado
via editais. Estou por fora porque não pretendo me inscrever.
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5 BERNADETTE LYRA
6 CHIRLEI VANDEKOKEN
livro em livraria. Hoje em dia, com a internet, tudo mudou. Por exemplo: sou dona de uma
editora e lanço um livro meu. Sinceramente, eu prefiro vendê-lo no site da minha própria
editora, a fornecê-lo em consignação, com um desconto absurdo desse, apenas pela vaidade
de ver um livro meu numa livraria. Para quê? Eu já achei o meu público, ele vem atrás de
mim onde quer que esteja os meus livros. Vendo muito pela Amazon e minha receita já
chegou a ser muito maior na venda de E-book que de livro físico. Atualmente, porque eu parei
com algumas parcerias com blogs (são necessárias), a venda do livro físico está superior à
venda do e-book, isso devido o marketing da Pedrazul. Então, uma ótima estratégia para quem
não tem uma editora são as parcerias com blogs. Imprima poucos livros (no e-book gratuito
em explico isso) e os doe para os blogueiros. Eles gostam do livro em papel e de marcador
também.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Quando eu comecei e estava meio "deslumbrada" em ser autora de um livro (grandes
coisas rs. Tem mais autor que leitor nesse país), eu, como jornalista, mexi meus pauzinhos e
usei minha rede de contato. Consegui espaço no jornal A Gazeta, A Tribuna, TV Vitória, etc.
Mas porque eu sou do meio e tinha amigos. A mídia não tem interesse nisso. A mídia fornece
o que o público quer e ninguém (a minoria ínfima) quer saber de livro. Entendeu? É o
mercado, meu caro. Crime vende, morte vende, dá audiência, e os veículos trabalham pela
audiência.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Notinhas apenas, nada expressivo. Alguns jornais em MG, uma TV, pois dois livros
meus se passam lá.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhum. Nem tentei.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Amazon.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Já participei duas vezes da Bienal do RJ. Lancei livro lá, participei de mesa redonda de
autores nacionais, etc.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Que eu saiba, nenhum.
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REY, Jovany Salles. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 11 ago. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Muito cedo, ainda no final do então grupo escolar (hoje, primeiro grau), quando
comecei a escrever historinhas picantes para meus colegas em troca de gibis e ingressos para
matinês de cinema. Aos 11 anos, em Minas Gerais, ganhei o primeiro lugar em um concurso
estadual de redações e essa foi minha “oficialização” como escritor. Aos 15 anos, passei a
publicar uma coluna para adolescentes em um jornal de Alfenas, minha terra natal. Logo,
transformei-me em uma espécie de faz-tudo no jornal, redigindo desde horóscopo até
reportagens policiais. Ganhei concursos de contos e poesia, publiquei textos no então
prestigioso Suplemento Literário do Diário Oficial de Minas (onde Drummond começou) e
aventurei-me na dramaturgia, escrevendo peças para grupos teatrais mineiros, e no cinema,
roteirizando e dirigindo curtas em Super-8. Pulei, então, para o Rio de Janeiro, publicando
crônicas no Jornal do Brasil, no saudoso O Pasquim e em outros periódicos. Embora tenha
participado anteriormente de algumas antologias, meu primeiro livro solo lancei em 1983,
quando já morava há alguns anos no Espírito Santo, onde vim a publicar os demais e me
consolidei como roteirista profissional, dramaturgo e escritor. A carreira de roteirista,
especificamente, deslanchou após eu ter cursado a Oficina de Autores da Globo, que me
credenciou para trabalhar na emissora e, depois, na extinta TV Manchete.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Machado de Assis e Dostoiévski, no todo. Drummond, nos versos. Nelson Rodrigues,
Alcântara Machado e Rubem Braga, na afinação da escrita de crônicas. Érico Veríssimo e
Harold Foster, no processo criativo de sagas históricas. Guimarães Rosa, influenciando na
narrativa regionalista, uma das minhas marcas como autor. Erasmo de Roterdã, no emprego
da ironia. Pedro Nava, no memorialismo intimista. E, porque a SF e o realismo mágico são
presenças constantes em meus contos, grandes autores dessas áreas (Arthur Clark, Isaac
Asimov, George Orwell, Mary Shelley, Garcia Marquez etc.).
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
O nó principal nem está na produção, cujos obstáculos são contornáveis, mas no
consumo final. Há falta de leitores. Falta de apoio na divulgação das obras. Escassez de
pontos de comercialização. É impossível viver exclusivamente de literatura no Espírito Santo,
mesmo para os autores consagrados, como Bernadete Lyra, por exemplo.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Uso muito o esquema alternativo de venda direta em bancas de revistas. Feiras de
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livros e outros eventos literários. Sites. Redes virtuais. Parceria com livrarias, no sistema de
consignação, hoje mais restrito, devido ao fechamento em massa de livrarias. Meu manual de
roteiro cinematográfico, vendo muito durante mostras e festivais de cinema, bem como nas
universidades de todo o país, por indicação dos professores.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Na imprensa escrita, alguns jornalistas apoiam os escritores locais e sempre é possível
ganhar algum espaço para divulgação ou a inclusão do autor e/ou suas obras nalguma matéria
sobre literatura. Mas com exceção da TVE, é difícil, bem difícil, divulgar literatura capixaba
em nossas emissoras comerciais de rádio e televisão. Uma única vez, com intermediação de
uma assessora de imprensa, consegui uma pequena inserção fora do horário nobre, quando do
lançamento do meu romance “O Donatário”.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Isso já aconteceu algumas vezes, em periódicos cariocas, paulistas, mineiros e de
outros estados, especialmente em relação ao meu manual de roteiro cinematográfico “O Papel
do Cinema” e ao meu romance histórico “O Donatário”.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Meu livro “Causos de Vila Velha”, de crônicas, foi selecionado pelo Edital 2013 da
Secretaria de Educação do Espírito Santo, porém a compra ainda não foi efetivada.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Editei às minhas custas, no tradicional esquema de edição do autor, meus dois
primeiros livros, “Demônio de 33” (contos) e “Possibilidades” (poemas), respectivamente em
1983 e 1988. Outras cinco obras publiquei através de mecanismos das leis de incentivo
cultural (Lei Rubem Braga, de Vitória; Lei Chico Prego, da Serra; Edital da Secult/ES).
Também tive vários contos e poemas publicados em antologias organizadas pelos próprios
concursos que premiaram as obras. Finalmente, além de postagens pontuais em sites e blogs
de literatura, publiquei 203 crônicas em jornais do Espírito Santo e Minas Gerais, na minha
coluna de causos.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feiras literárias. Tanto no Espírito Santo, como em Minas Gerais e Rio de Janeiro,
com destaque para a FLIP, em Paraty.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Quanto à divulgação, existe esse apoio, sim, mas limitado somente às obras publicadas
através de seus editais de literatura, por ocasião do lançamento coletivo. Infelizmente, não se
divulga nenhuma obra em si, apenas o evento de lançamento e a listagem dos contemplados.
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8 RENATA BOMFIM
na internet, alguns são vendidos na estante virtual, outros eu vendo quando faço lançamento
ou relançamento.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Quando lancei a minha primeira obra, tive muita dificuldade para divulga-la, hoje que
alcancei alguma projeção é mais fácil, mas ainda é difícil (risos), essa “facilidade” a que me
refiro acontece em função do apoio de amigos jornalistas que dão aquela força e não pelo
desejo espontâneo da imprensa de fazer a informação sobre a obra chegar ao leitor.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Que eu saiba nunca. Sou lida na Espanha, pois, tive um tradutor para o castelhano por
cerca de sete anos e ele traduzia a ajudava a divulgar minha produção em sites e revistas de lá.
Em Portugal e em alguns países da América Central, tenho alguns leitores, muito em função
de ter participado de grandes festivais de poesia, ter feito amigos nesses encontros e a partir
daí, desenvolvido diálogos com esses polos produtores de cultura. Há também o Letra e Fel
(www.letraefel.com), minha revista literária que está on line desde 2007 e que me possibilitou
ser lida por pessoas de língua portuguesa e hispânica em todo o planeta, como mostram os
registros de visitação.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Apenas o Mina, mas não consegui esse feito sozinha, quem me convidou foi um
livreiro e de cada livro ele ficou com 40% do valor.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Internet.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Saraus pela cidade, feiras literárias, congressos e festivais literários.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Não!
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10 MARCOS BUBACH
A secretaria de Educação de Vila Velha adotará 3 livros meus: Pés Descalços, Quem
encontrará Bill e Orfanato Cristo Rei – Do sacrifico à ascensão.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Leis de incentivo à cultura de municípios e ajuda mútua com amigos e interessados na
publicação do material que tenho produzido.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feiras literárias municipais e estaduais, BIENAL em Cachoeiro, lançamentos
diversos, eventos culturais diversos, FEIRA DO LIVRO em Porto Alegre...
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Na divulgação não. Na distribuição, que eu percebi, as secretarias de cultura como
ficam com parte da publicação dos escritores que participam de suas leis de incentivo, fazem
trabalhos de distribuição desses títulos em bibliotecas de seus municípios.
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FAUSTINI, Luiz Paulo. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 08 out. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Desde criança quando a professora pedia para que fizéssemos redações livres, meus
temas sempre se voltavam para aventuras. A partir do momento que tive o primeiro contato
com RPG, decidi me tornar um mestre, um contador de histórias. A partir daí, minha paixão
por escrita aumentou até que lancei, de fato, minha primeira obra romanceada.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Dan Brown, pelo fato de misturar realidade com ficção de uma forma crível e rechear
suas histórias de mistérios. Michael Moorcock, por ser meu primeiro autor de fantasia lido
em minha vida, que me fez adentrar o mundo da literatura fantástica.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
No meu caso, por ser escritor de fantasia, vejo que o ES ainda tem muito o que
valorizar esse gênero, tanto por parte dos agitadores culturais quanto por parte da Secretaria
de Cultura. Não temos um editora que se interesse pela fantasia, ou mesmo um público cativo
que realize eventos periódicos voltados para o mundo fantástico. O escritor de fantasia
capixaba precisa se aventurar por outras terras.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Eventos e noites de autógrafo. A internet ajuda a vender bastante também, através de
posts patrocinados e presença constante no instagram produzindo conteúdo.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
A maioria não entende ou não se interessa. Em certo período, distribuí livros meus
para jornalistas falarem sobre minha obra. Ninguém a leu, resumindo-se a colocar no jornal
apenas o resumo do que eu já tinha dito, mas com suas próprias interpretações. Salvo alguns
que reconheceram o trabalho, no geral, a divulgação no ES de literatura fantástica é pífia.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Sim, não por parte de jornais, mas em blogs e sites especializados.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Só trabalho com editoras atualmente.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Amigo-livro, Geek Day ES.
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12 ILVAN FILHO
FILHO, Ilvan. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem recebida por
<sanmaxwell@gmail.com> em 02 set. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Primeiramente sou um artista visual, foi o que fiz desde criança. Aprendi sozinho, copiando
principalmente os meus personagens favoritos na tv e nos quadrinhos. Daí, veio sempre a
vontade de criar histórias. Quando adulto, trabalhei por 20 anos ilustrando jornais diários.
Entre outras demandas q/ eu fazia, tinha a criação de charges, que nada mais são do q/ criar
uma situação, que deriva de um fato verídico, e que sugira ao leitor um desfecho crítico e/ou
inusitado. No fim das contas, isso nada mais é do q/ criar uma pequena história bem
resumida! Foi um bom exercício. Quando meu filho nasceu, tive minha atenção voltada para
os produtos do mundo infantil e, em especial, os livros infantis. Experimentei escrever uma
história, gostei, escrevi outras e fui exercitando e experimentando o processo. Mais uma vez,
autodidatamente. Depois de nove anos, publiquei aquela primeira história e depois continuei
publicando quase um livro por ano.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Diretamente nenhum, mas sou uma esponja e me deixo influenciar por muitas coisas
que aparecem tanto nos traços quanto nas letras. Acho q/ tudo q leio de alguma maneira
influencia de alguma maneira no meu trabalho, então as revistas em quadrinhos estão na base
disso. Todos os outros escritores q/ gosto também, talvez. Numa frase ou numa situação.
Alguns: Neil Gaiman, Jorge Amado, Paulo Leminski, Will Eisner, Mauricio de Souza,
Ziraldo, Edgar Alan Poe, Charles Bukowski (esse eu não acho q apareça muito nos meus
textos infantis. Talvez nas poesias q/ também faço, mas q/ nunca publiquei.)
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Basicamente, a falta de um mercado leitor consistente.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Contato com escolas e venda na internet.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
É razoável, podia ser melhor. Existe alguma divulgação, mas não muita.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
O Gato Verde.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
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Nenhum outro.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Flica-ES.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Já teve. Hoje é quase nenhum.
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BARROCA, José Aldo. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 30 jun. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando o senhor se percebeu
escritor?
Papai tinha uma biblioteca, incentivado por ele comecei a ler ainda criança e, aos 10
anos, já fazia poesias. Porém somente aos 60 anos publiquei meu 1º livro .
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Não sei se sigo estilo de algum escritor, mas a leitura de alguns autores me marcaram:
como Machado de Assis (Dom Casmurro), Érico Veríssimo (Olhai os lírios do campo),
Rubem Braga (seus livros de crônicas), Carlos Drumond de Andrade, Manoel Bandeira,
Cecília Meireles, Venicius de Moraes, Ferreira Goulart, Ariano Suassuna, Mario Quintana etc
3) Para o senhor, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
O Espírito Santo só valorizar quem e o que é de fora, em todas as áreas, cultural,
esportiva... Imprensa e empresários contribuem e muito para isso!
4) Que estratégias o senhor utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Ofereço a amigos, pelas redes sociais e pessoalmente.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não dão nenhuma atenção.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não consigo nem em Vitória!
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Geralmente, só escolhem a quem é da elite.
8) Exceto editoras, qual outro meio o senhor utiliza para publicar suas obras?
Os 5 que consegui publicar foram pelas Leis Rubem Braga de Vitória e Chico Prego,
da Serra.
9) Em que eventos literários o senhor tem participado para divulgar seus livros?
Por questões de saúde, infelizmente não tenho participado, Com fé em Deus,breve
terei condições.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Que eu saiba, não.
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OLIVEIRA, Ester Abreu Vieira de Oliveira. Perguntas para TCC sobre Literatura
Capixaba. Mensagem recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 16 ago. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando a senhora se percebeu
escritora?
Minha trajetória na literatura. Seria meu contacto com ela? Sou professora, esse é o
título mais importante para mim e tenho que ler, ler e ler. Tento dizer que sou escritora. Meu
afã de professora me fez publicar livros e textos didáticos, por exemplo, em 81 foi publicado
Português para estrangeiros e bem antes já haviam sido impressos livros de exercícios em
espanhol e de verbos. Desde menina passei a ser uma intensa leitora. Claro que os poetas e
escritores primeiros lidos eram românticos e parnasianos. Com quinze fiz um poema: TU.
Mas rasguei-o e só fui escrever poemas com mais de trinta anos, isto é, escrevia-os e os
deixava em um caderno, até que em 89 publiquei Momentos e Iberia Divida, o primeiro em
port., o segundo em espanhol. Penso que não foram publicações de obras didáticas, mas estas
que passaram a me considerar escritora.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Nós somos produtos de épocas. Mas falemos de como poeta. Os primeiros ritmos e
palavras poéticas foram de Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves. Depois Bécquer,
Neruda, Lorca, e assim vão crescendo os ritmos de acordo com as leituras e as aulas. O
caminhar poético de um professor seguem as suas aulas, as suas pesquisas.
3) Para a senhora, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
Penso que não é só em “terras capixabas” que há desafios para produzir literatura.
Mas a produção envolve muitas ações e diferentes apoios, tais como: qual a forma de
publicação; de quais recursos disponho; como divulgá-la e exportá-la? E depois é preciso ter
coragem de escrever, publicar e deixar arquivar livros em sua casa.
4) Que estratégias a senhora utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Lançamentos, visitas a colégios - Coloco alguns livros com a Profa. Lia Noronha,
antes havia livrarias, hoje elas não mais se responsabilizam, também uma ou outra pessoa
amiga compra. Publicar é quase mais que um sonho de organizar seus pensamentos ordenados
num papel, que se realiza por estímulos de amigos.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Pouca significativa é a divulgação jornalística do ES de minhas obras.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
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Tive no Rio, no exterior, na Espanha e Itália, mas São Paulo não me recordo. Bem
tem livro meu vendido na Amazon.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Só me lembro de uma obra bilíngue infantil (O lagarto Amedrontado)e do Japão, um
didático, há muito tempo, de Port. para estrangeiros.
8) Exceto editoras, qual outro meio a senhora utiliza para publicar suas obras?
Não tenho blog.
9) Em que eventos literários a senhora tem participado para divulgar seus
livros?
Feiras literárias no Estado e em congressos fora do Estado
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Não, apoiam para publicar a obra. Distribuem em suas redes de colégios os
exemplares que são destinados a eles e nada mais.
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15 ISABELLA MARIANO
16 FRANCISCO GRIJÓ
GRIJÓ, Francisco Amalio. Entrevista com Francisco Grijó . Mensagem recebida por
<sanmaxwell@gmail.com> em 06 out. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Não me lembro realmente de quando comecei, mas já estava na universidade. Por
gostar de ler, e de tentar escrever de vez em quando, lancei-me nessa aventura de me tornar,
de fato, um escritor. Só me dei conta, realmente, de que tinha talento quando fiz Oficina
literária, em 1982, e, depois, venci o prêmio Geraldo Costa Alves, o concurso universitário de
contos.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Os norte-americanos do século XX são minha maior influência. Barthelme, Vonnegut,
Barth, Mailer, Heller, Brautigan, Talese, Capote. Gosto muito dos ibero-americanos, como
Cortázar, Arreola, Puig, Borges, Arlt, Paz. Claro que os realistas russos e franceses tb foram
boas influências.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Os mesmos de produzir em qualquer outro lugar. É preciso ter ideias, talento e tempo
para escrever.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Eis a questão. A dificuldade está justamente na distribuição. Fazer o texto literário
chegar ao leitor é difícil. E olhe que sou privilegiado: sendo eu um professor conhecido,
consigo vender livros. Mas não é fácil. Uso as redes sociais para divulgar, mas não para
comercializar. Isso é obrigação da editora.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Ótimo. Não tenho do que reclamar. Muitos dos jornalistas foram meus alunos e,
felizmente, ajudam-me.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Sim. Meus livros são razoavelmente bem aceitos no Sudeste. Algumas de minhas
obras tornaram-se filmes - caso de Musculatura, um dos contos do meu livro Licantropo, de
2001. Isso me abriu portas.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Somente editoras. Tenho um blogue, cheguei a veicular alguns textos, mas as pessoas
não querem ler, na internet. Preferem se divertir com memes, diversão, sexo e narcisismos.
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9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Todos para os quais me convidam.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Sim, claro. Desde políticas públicas ligadas a leitura até bibliotecas atuantes nas
comunidades em que se instauram. Nem todos, claro, são contemplados.