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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS

MAXWELL DOS SANTOS

OS DESAFIOS DOS ESCRITORES QUE PRODUZEM LITERATURA NO ESPÍRITO


SANTO

Vitória
2021
MAXWELL DOS SANTOS

OS DESAFIOS DOS ESCRITORES QUE PRODUZEM LITERATURA NO ESPÍRITO


SANTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria de Licenciatura em Letras-Português do
Instituto Federal do Espírito Santo como requisito
parcial para obtenção do Título de Graduação em
Licenciatura em Letras-Português.

Orientadora: Profa. Dra. Camila David Dalvi

Vitória
2021
Dedico este trabalho às memórias de Miguel Marvilla e
Sérgio Blank.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, por ter me sustentado por quase seis anos de curso e não ter
deixado esmorecer diante das adversidades.
Ao professor Nelson Martinelli Filho por ter me aceitado orientar.
Ao CEO da Mettzer, Felipe Mandawalli, por liberar o acesso da ferramenta que
possibilitou a formatação deste trabalho.
A Weberton Pessin, dono do Açaí Fulô, que cedeu o espaço da loja para que este
trabalho fosse escrito durante a pandemia.
À Danielle Pereira e suas meninas do Zayin Café, que eram minhas companhias nas
tardes de redação deste trabalho.
À técnica em assuntos educacionais Camila Belisario Ribeiro.
Aos escritores e escritoras que se dispuseram a participar da pesquisa que culminou
neste trabalho.
Aos alunos e alunas da turma 2016/1.
[…] o Espírito Santo me parece uma ficção geográfica,
onde não tenho uma só livraria, nem um só assinante”

Monteiro Lobato (1882-1948), citado por Renato Pacheco


(1928-2004) no artigo Introdução à história do livro
capixaba, publicado na Revista da Ufes.
RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo mostrar os desafios dos escritores
que produzem literatura no Espírito Santo após a publicação de suas obras, mostrar iniciativas
pessoais e institucionais para divulgação da nossa literatura e apontar soluções para tirar a
literatura capixaba da situação de marginalidade. Para cumprir este afã, foram utilizados como
referências os trabalhos de Francisco Aurélio Ribeiro, Reinaldo Santos Neves, Maria Amélia
Dalvi e Ivana Esteves, estudiosos da literatura do nosso Estado. Ademais, foi aplicado aos
escritores capixabas um questionário, enviado via e-mail, onde estes contaram sobre suas
trajetórias no mundo das letras, processo criativo e o que eles passam para distribuir e
divulgar suas obras. Após a análise das respostas, restou comprovado que os principais
gargalos na literatura produzida no Espírito Santo são: a divulgação, com pouco apoio da
imprensa local, a distribuição, em que as maiores livrarias preterem os autores locais,
sobretudo aqueles que publicam independentemente, com clara preferência a autores
bestsellers, e a circulação, em que há pouca ou nenhuma iniciativa das prefeituras e do
Governo do Estado para fazer que as obras cheguem aos leitores. No final, são apontadas
soluções, que a médio e longo prazo, podem contribuir ir para maior visibilidade da literatura
capixaba e de seus autores.

Palavras-chave: Literatura capixaba. Divulgação de livros. Distribuição de Livros.


ABSTRACT

This Course Conclusion Paper aims to show the challenges of writers who produce literature
in Espírito Santo after the publication of their works, to show personal and institutional
initiatives for the dissemination of our literature and to point out solutions to remove the
Espírito Santo literature from the situation of marginality. To fulfill this desire, the works of
Francisco Aurélio Ribeiro, Reinaldo Santos Neves, Maria Amélia Dalvi and Ivana Esteves,
scholars of the literature of our State, were used as references. In addition, a questionnaire
was sent to capixaba writers, sent via e-mail, where they told about their trajectories in the
world of letters, creative process and what they spend to distribute and publicize their works.
After analyzing the responses, it was proven that the main bottlenecks in the literature
produced in Espírito Santo are: the dissemination, with little support from the local press, the
distribution, in which the largest bookstores deprive local authors, especially those who
publish independently, clear preference for bestselling authors, and circulation, in which there
is little or no initiative from city halls and the State Government to make the works reach
readers. In the end, solutions are pointed out, which in the medium and long term, can
contribute to greater visibility of the Espírito Santo literature and its authors.

Keywords: Literature from Espírito Santo. Dissemination of books. Distribution of books.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FCAA Fundação Ceciliano Abel de Almeida


FLIC Feira Literária Capixaba
FUNCULTURA Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
LRB Lei Rubem Braga
NF Nota Fiscal
PMV Prefeitura Municipal de Vitória
SECULT Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo
SEFAZ Secretaria de Estado da Fazenda do Espírito Santo
UFES Universidade Federal do Espírito Santo
SUMÁRIO

1 ...................................................................
INTRODUÇÃO 11
2 BREVE PANORAMA DA LITERATURA PRODUZIDA NO ESPÍRITO
. . . . . . . .AO
SANTO . . . LONGO
. . . . . . . . DOS
. . . . .ÚLTIMOS
. . . . . . . . . .QUARENTA
. . . . . . . . . . . ANOS
........................... 13
2.1 A EDITORA DA FCAA E SEU PAPEL COMO FOMENTADORA DAS
. . . . . . . . .CAPIXABAS
LETRAS ............................................................... 13
2.2 . . . . . . .GOMES
DENY . . . . . . .E. .SUAS
. . . . . OFICINAS
. . . . . . . . . . LITERÁRIAS
.................................... 15
2.3 .MECANISMOS
. . . . . . . . . . . . . .ESTATAIS
. . . . . . . . . DE
. . . FOMENTO
. . . . . . . . . . .À. CULTURA
............................ 17
2.3.1 Lei
. . . .Rubem
. . . . . . Braga
. . . . . . (Vitória)
................................................... 17
2.3.2 Lei
. . . .Rubem
. . . . . . Braga
. . . . . . (Cachoeiro
. . . . . . . . . . de
. . .Itapemirim)
...................................... 19
2.3.3 FUNCULTURA
. . . . . . . . . . . . . . .(Espírito
. . . . . . . .Santo)
............................................ 20
2.4 . . . .EDITORAS
AS . . . . . . . . . .INDEPENDENTES
..................................................... 20
2.4.1 Florecultura
................................................................... 20
2.4.2 Cousa
................................................................... 21
2.4.3 Pedregulho
................................................................... 21
3 . . . . . . . . . . .A. .VOZ
OUVINDO . . . . DOS
. . . . .ESCRITORES
............................................. 23
3.1 ...................................................................
DISTRIBUIÇÃO 23
3.2 ...................................................................
DIVULGAÇÃO 26
3.3 ...................................................................
CIRCULAÇÃO 28
4 . . . .INICIATIVAS
AS . . . . . . . . . . . . QUE
. . . . . FOMENTAM
. . . . . . . . . . . . .A. .LITERATURA
. . . . . . . . . . . . . CAPIXABA
.................. 30
4.1 . . . . . .CAPIXABAS
LEIA ............................................................. 30
4.2 . . . . . . . . . . . . SIM
PROGRAMA . . . . PARA
. . . . . .A. .LITERATURA
........................................... 30
4.3 .PROGRAMA
. . . . . . . . . . . DEDO
. . . . . . DE
. . . .PROSA
............................................. 31
4.4 . . . . . . . . POR
LIVROS . . . . .LÍVIA
...................................................... 31
4.5 . . . . . . . . . .VIAGEM
PROJETO . . . . . . . .PELA
. . . . . .LITERATURA
........................................... 31
5 . . . . . . . SE
COMO . . . PODE
. . . . . . MUDAR
. . . . . . . . .ESTE
. . . . . ESTADO
. . . . . . . . .DE
. . . COISAS?
......................... 33
5.1 . . . . . . . . . .DO
CRIAÇÃO . . . PRÊMIO
. . . . . . . . ESPÍRITO
. . . . . . . . . .SANTO
. . . . . . .DE
. . .LITERATURA
.......................... 33
5.2 INCENTIVO À CRIAÇÃO DE FEIRAS LITERÁRIAS NOS MUNICÍPIOS DO
.INTERIOR
. . . . . . . . .E . .NAS
. . . . .PERIFERIAS
....................................................... 33
5.3 CONDICIONAMENTO PELO GOVERNO DO ESTADO E PELAS
PREFEITURAS DA VEICULAÇÃO DA PROPAGANDA OFICIAL À DIVULGAÇÃO
DE AUTORES QUE PRODUZEM LITERATURA NO ESPÍRITO SANTO NAS
. . . . . . . . . . . . DE
EMISSORAS . . . RÁDIO
. . . . . . . E. .TELEVISÃO
................................................ 34
5.4 INCLUSÃO DE DOIS LIVROS DE AUTORES CAPIXABAS NAS CESTAS
BÁSICAS DISTRIBUÍDAS PELAS TRÊS ESFERAS DE PODER, FINANCIADOS
. . . . .ESTAS
POR . . . . . . ÚLTIMAS
............................................................. 35
5.5 .PRIORIZAÇÃO
. . . . . . . . . . . . . .NA. . . PREMIAÇÃO
. . . . . . . . . . . . .DOS
. . . . EDITAIS
. . . . . . . . PARA
. . . . . .PRODUÇÃO
. . . . . . . . . . . DE
....... 35
LONGAS-METRAGENS E SÉRIES QUE SEJAM ADAPTAÇÕES DE OBRAS
. . . . . . . . . . . . .DE
LITERÁRIAS . . .AUTORES
. . . . . . . . . .DOMICILIADOS
. . . . . . . . . . . . . . .NO
. . . ESPÍRITO
. . . . . . . . . SANTO
................... 35
6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . FINAIS
CONSIDERAÇÕES ................................................. 36
...................................................................
REFERÊNCIAS 38
...........—
APÊNDICE . . .QUESTIONÁRIOS
. . . . . . . . . . . . . . . . . APLICADOS
. . . . . . . . . . . . .AOS
. . . . AUTORES
................... 41
11

1 INTRODUÇÃO

Superada a etapa de viabilização da publicação da obra, seja com recursos próprios,


por mecenato, financiamento coletivo, concursos literários, editais públicos ou leis de
incentivo à cultura com base em renúncia fiscal, o(a) escritor(a) que produz literatura no
Espírito Santo precisa se desdobrar para fazer circular a obra. A pergunta que o presente
trabalho faz é: quais são os desafios que os escritores capixabas enfrentam após publicar suas
obras?
Pois bem, este trabalho tem o objetivo de apontar os problemas que os escritores
enfrentam no pós-publicação, bem como mostrar iniciativas de divulgação e valorização da
literatura produzida em terras capixabas, além de indicar caminhos para tirar a literatura
capixaba da marginalidade, em relação às literaturas dos estados vizinhos, como o Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Tal intento se justifica face à parca quantidade de pesquisas acadêmicas sobre o tema
abordado. A motivação partiu da vivência do pesquisador enquanto autor-editor, com onze
livros publicados, dez em autopublicação, em suporte físico e digital e um publicado por uma
editora de São Paulo.
Espera-se que, a partir desta pesquisa, outros pesquisadores de literatura capixaba
possam usar este trabalho como ponto de partida, além de ações concretas dos gestores
públicos da área de cultura, nas esferas municipal, estadual e federal possam ser suscitadas.
Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica ampla
acerca da literatura capixaba, com especial atenção às políticas públicas de viabilização das
obras e circulação. Foi realizada também uma pesquisa qualitativa, de forma online, por meio
da aplicação de questionários a escritores capixabas, via e-mail, cujas respostas foram
analisadas à luz do referencial teórico, sendo confrontadas com textos de notáveis
pesquisadores, como Francisco Aurélio Ribeiro, Maria Amélia Dalvi, Ivana Esteves e
Reinaldo Santos Neves, além das entrevistas do livro Notícias da atual literatura brasileira:
entrevistas, organizado por Vitor Cei e outros.
Esta monografia está estruturada da seguinte forma:
Breve panorama da literatura produzida no Espírito Santo ao longo dos últimos
quarenta anos: Será abordada a criação da Editora da Fundação Ceciliano Abel de Almeida,
sua relevância para o fomento da literatura capixaba e seus autores, as oficinas de literatura de
Deny Gomes, os concursos literários ocorridos nos anos 1980 que revelaram os nomes mais
significativos das nossas letras, a criação da Lei Rubem Braga e demais mecanismos estatais
de incentivo à cultura e o surgimento das editoras independentes.
Ouvindo a voz dos escritores: Análise e interpretação dos questionários aplicados
para os escritores, com suporte do referencial teórico, onde os pesquisados tratam dos desafios
da distribuição e divulgação.
12

As iniciativas que fomentam a literatura capixaba: Apontamento das iniciativas


que de alguma forma fomentam a literatura produzida no Espírito Santo nos últimos 25 anos.
Como se pode mudar este estado de coisas?: Sugestões para tirar nossa literatura da
posição marginal.
Considerações finais: Conclusões sobre o trabalho, do corpus e dos resultados
obtidos.
13

2 BREVE PANORAMA DA LITERATURA PRODUZIDA NO ESPÍRITO SANTO AO


LONGO DOS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS

2.1 A EDITORA DA FCAA E SEU PAPEL COMO FOMENTADORA DAS LETRAS


CAPIXABAS

Fundada em 1978, a Editora da Fundação Ceciliano Abel de Almeida, ao longo dos


seus 16 anos de existência, publicou 308 obras. Ribeiro (2010, p.27) aponta os fatores que
corroboraram para o surgimento da editora, por conseguinte, do fomento das letras capixabas:

Ao lado da industrialização e do crescimento da Grande Vitória, nos anos 70 e 80,


houve o aumento da população inclusive escolarizada, o que propiciou a formação
de um público leitor, a democratização do país, o crescimento e o desenvolvimento
dos estudos literários nas faculdades de letras, as oficinas literárias - verdadeiras
fábricas de escritores -- tudo por motivo para um grande desenvolvimento da
literatura no Espírito Santo que, pela primeira vez, se desatrelou dos grandes centros
(Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador), para se profissionalizar. Nos anos
oitenta, o Espírito Santo resolveu o problema de publicação e de divulgação do
escritor local: faltava, ainda resolver o problema da divulgação e da distribuição para
outros centros.

O escritor Marcos Tavares faz pontuações sobre a Editora da FCAA:

Antes, é necessário recompor um pouco da História. Criada em 1978 a Fundação


Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), e vinculada à Ufes, teve aquela por principal
objetivo a instalação da imprensa universitária. E repôs em circulação a Revista de
Cultura da Ufes, que possuía um viés algo jornalístico.
(TAVARES, 2020)

De acordo com Junior (1982, p. 69, apud Ribeiro, 1993, p. 94), o objetivo principal da
Editora da FCAA era "a redução do grande vazio editorial capixaba, publicando obras que
venham enriquecer o patrimônio científico e cultural do Espírito Santo". O objetivo inicial da
Editora da FCAA era "a publicação de obras de importância para o conhecimento do
processo de evolução sócio-econômico do Espírito Santo" (SANTOS NEVES, 2019, p.79). O
mesmo autor aponta três fatores que levaram a editora a publicar obras literárias:

a) a presença, no comando do setor editorial da Fundação, de Reinaldo Santos


Neves, Renato Pacheco e Oscar Gama Filho, escritores estreitamente ligados à
literatura de ficção; b) a atmosfera de intensa criatividade por parte dos autores
locais, sem opções formais de divulgação de seus textos; c) a pressão por parte da
imprensa local, liderada, nesse particular, por Amylton de Almeida.

Sobre Amylton de Almeida (1946-1995), é importante ressaltar que ele foi um dos
maiores agitadores culturais que o Espírito Santo já teve, atuando em múltiplas trincheiras:
jornalismo cultural, literatura, dramaturgia e audiovisual. Bilich (2005, p.24) aponta outras
lutas do saudoso jornalista em prol da cultura:
14

AA. abraçou lutas públicas em favor da instalação da Casa da Cultura Capixaba e da


Escola de Arte Fafi tendo ainda formulado, em níveis estadual e municipal, a
política cultural capixaba. Evidencia-se, ao longo da leitura de sua trajetória
biográfica, que o ator social estava decidido a interferir no mundo, não se
contentando com a postura de mero intelectual espectador, o que acabou por
transformá-lo em uma figura pública, de relevância e prestígio no cenário da cultura
capixaba.

Em 1980, a Editora da FCAA criou a coleção Letras Capixabas, que tinha a finalidade
de publicar obras de autores capixabas. Entre 1980 e 1989, foram publicadas 40 obras,
abrangendo diversos gêneros, tais como romance, conto, crônica, poesia e sátira. (Santos
Neves, 2019, p.80). Ribeiro (1993, p.60-61), aponta o apoio da Aracruz Celulose para
viabilização da publicação das obras da série Letras Capixabas e a intenção desta ação:

Houve um outro fator responsável pelo incremento da produção livreira no Espírito


Santo: a criação da Aracruz Celulose, ao final da década de setenta, e que fornecia o
papel para a publicação dos livros, os quais terão uma referência obrigatória na
primeira página. Quase todos os títulos da série Letras Capixabas foram editados
através de convênio com a mesma, mas a Aracruz possuía, também, uma série
própria de autores capixabas editados, com alguns nomes e títulos diferentes dos da
FCAA. Denunciada pelos grupos ecológicos como poluidora do meio ambiente,
devastadora das florestas nativas para reflorestar com plantações homogêneas de
eucaliptos e pinheiros próprios para a produção de celulose, a Aracruz Celulose de
certa forma, amenizava as críticas e as consciências incentivando a produção
literária através da doação de papel.

Era uma ótima estratégia comandada pelo departamento de comunicação daquela que
fora considerada a maior produtora de celulose branqueada de eucalipto do mundo para
melhorar sua imagem junto à opinião pública, apesar dos impactos socioambientais da
monocultura de eucalipto. Reinaldo Santos Neves, então editor da Editora da FCAA,
confessara ao professor Francisco Aurelio Ribeiro os critérios para publicação na série Letras
Capixabas:

lº) A abrangência no tempo: textos mais antigos ao lado de textos atuais. No entanto,
pode-se constatar que, dos títulos publicados, apenas quatro não são
contemporâneos: Grammatica portugueza pelo methodo confuso, sátira de Mendes
Fradique, fac-símile de uma edição de 1927;Cantáridas e outros poemas fesceninos,
de Paulo Velozo e outros, poemas escritos na década de 30; Poemas, de Audífax
Amorim, edição crítica de poemas escritos nas décadas de 50 e 60 e A baixa de
Matias, fac-símile de uma novela de Azambuja Susano publicada no século XIX.
2º) A publicação de autores consagrados, regional ou nacionalmente, ao lado de
autores jovens ou inéditos. Conhecidos nacionalmente, só há três: Geir Campos,
Rubem Braga e José Carlos Oliveira; com relativo conhecimento do público local,
pois já haviam publicado livro, são: Renato Pacheco, Elmo Elton, Luiz Guilherme
Santos Neves, Reinaldo Santos Neves, Luiz Busatto, Amvlton de Almeida e Valdo
Motta. Os demais eram inéditos em livro, sendo que alguns já haviam participado de
antologias: Bernadette Lyra, Fernando Tatagiba, Marcos Tavares, Oscar Gama Fº,
Deny Gomes, Miguel Marvilla, Paulo Sodré, Sebastião Lyrio, Francisco Grijó,
Flávio Sarlo, ou publicado em jornal: Carlos Chenier e Audífax de Amorim.
3º) A qualidade estético-literária. Apesar de haver um conselho editorial, a decisão
pela publicação de um livro foi, na maioria das vezes, uma decisão do editor, com
assessoria esporádica de alguns escritores como Renato Pacheco, Oscar Gama Fº, ou
os demais componentes do grupo Letra: Marcos Tavares, Luiz Busatto e José
15
Augusto Carvalho, este último o único que não teve livro publicado na série.
4º) Diversidade de gêneros ou modalidades literárias, excetuando qualquer espécie
de gênero dramático, ou teatro. Dos títulos publicados, vinte e nove foram de
poemas e contos, sete de romances, dois de crônicas e um de sátira e de novela.
5º) Premiação em concurso literários. Desde 1983 foi instituído o prêmio Geraldo
Costa Alves, posteriormente intitulado prêmio Letras Capixabas, e que era anual e
constituía-se de uma quantia em dinheiro e a publicação do livro vencedor, havendo
alternância de modalidades literárias: romance, conto, poemas. Foram vencedores:
em 1983, Adilson Vilaça com A possível fuga de Ana dos Arcos, contos; em 1984, a
categoria romance não teve vencedores, apesar de haver doze concorrentes; em
1985, Roberto Almada com O país d'el rey e A casa imaginária, poemas; em 1986,
Francisco Grijó com Diga adeus a Lorna Love, contos; em 1987, Paulo Roberto
Sodré com Lhecídio-gravuras de Sherazade na penúltima noite, romance e, em
1988, Miguel Marvilla com Lição de labirinto, poemas.
6º) Diversificação de autores. Dos títulos editados, vinte e três autores tiveram um
livro publicado; sete autores tiveram dois, e um, Renato Pacheco, publicou três.
Deve-se destacar que dentre os trinta e um autores publicados, só se encontram dois
nomes femininos, Bernadette Lyra e Deny Gomes, ambas professoras do
Departamento de Línguas e Letras da UFES.
(RIBEIRO, 1993, p.61-63)

Contudo, em 1990, a coleção Letras Capixabas é encerrada. O motivo é desconhecido,


mas a hipótese provável foi o contingenciamento de gastos na UFES, por conta do Plano
Collor.

2.2 DENY GOMES E SUAS OFICINAS LITERÁRIAS

Durante a década de 1980, dois fatores, segundo Santos Neves (2019, p. 81)
confluíram para que houvesse um despertar da atividade literária, tendo a Universidade
Federal do Espírito Santo como agente catalisador: os concursos e as oficinas literárias. A
respeito das oficinas, o mesmo autor observa:

Paralelamente, foi realizada uma série de oficinas literárias pela professora Deny
Gomes, das quais participaram alunos de Letras e jovens da comunidade
interessados no ofício da literatura. Esse projeto, que teve seu embrião no I
Seminário de Produção do Texto Literário, promovido em 1981 pela Coordenação
de Literatura (então dirigida por Deny Gomes) da Sub-Reitoria Comunitária da
Ufes, e que se institucionalizou a partir de 1982 como projeto da Sub-Reitoria e do
Departamento de Línguas e Letras da Ufes, deixou pelo menos três registros
impressos nessa década: Ofício da palavra (1982), contendo trabalhos realizados
durante o Seminário de 1981, Traços do ofício (1983), contendo textos de oficina
literária realizada em 1982, e Toques (1984), contendo textos de uma oficina de
poesia realizada em 1984. Três dos “graduados” da oficina literária de 1982.
Francisco Grijó, Paulo Roberto Sodré e Valdo Motta – vão ser encontrados, mais
tarde, na Coleção Letras Capixabas.
SANTOS NEVES(2019, p.82)

Marcos Tavares, um dos oficinandos, pontua sobre a oficineira e sobre as oficinas:

Deny Gomes era pessoa bem acessível, dinâmica, falava a linguagem dos
estudantes, exercia sobre esses uma influência carismática, ideológica até (havia,
sobretudo, a reivindicação libertária, antiditadura militar), trazia renomados
escritores para palestrar. Assim, afora os tantos professores que eram também
16

literatos, havia no contexto do corpo discente um fértil campo para as Letras.


Cadernos culturais e revistas literárias faziam fervilhar ainda mais o caldeirão de
pulsantes ideias. E Deny Gomes soube canalizar todo esse emergente potencial.
Realizou, com muito sucesso, já uma Oficina de criação de texto em 1981. Era um
espaço aos moldes de uma Oficina de Criação de Texto, ministrada por Geir Campos
e Antônio Torres, de que ela participara em 1978, no Museu de Arte Moderna,
quando mestranda lá na PUC-RJ. Assim, o acesso a aquela sala de criação, então
contígua à sala da Sub-Reitoria Comunitária, próxima ao Diretório Central dos
Estudantes (DCE), se não era informal, pois havia que se ter o compromisso com
frequência, era algo bem natural, independente de qual Curso fosse. Havia
estudantes oriundos dos mais diversos cursos (Medicina, Comunicação, Artes,
Direito, Psicologia, Letras e Matemática). Sob patrocínio do MEC, e coordenado por
Deny, o I Seminário de Produção do Texto Literário realizou-se de 19 a 23 de
outubro de 1981, envolvendo 20 universitários da Ufes e de instituição de ensino
superior do interior do Estado (Ivan Castilho, p.ex., era da Faculdade de Direito, de
Colatina-ES). Acessível a alunos de diferentes matizes étnicos, ou socioeconômicos
fossem, o projeto de criação literária foi um sucesso. Nele, oficinandos escreveram,
leram e debateram textos seus e de outrem , assistiram a conferências, visitaram
gráficas para acompanhar processo de publicação de livro. Ao fim da primeira (1ª)
oficina, eles produziram, analisaram e selecionaram textos, o que redundou num
volume em livro: OFICIO DA PALAVRA (FCAA, 1982).
(TAVARES, 2020)

Ribeiro (1993, p.65) afirma que "fazer parte da Oficina Literária de Deny Gomes
passou a ser um passaporte quase obrigatório para ter (seus) textos publicados". Marcos
Tavares discorda:

Não. Não é verdade. Participar da coleção Letras Capixabas não tinha como
condição sine qua non a frequência a qualquer evento dessa natureza. Tão verdade é
que Adilson Vilaça, que jamais participou dessas oficinas, fez-se presente já no
volume 12 da referida coleção, com A possível Fuga de Ana dos Arcos (contos).
Fora ele, então aluno de Comunicação, o vencedor do II Concurso Universitário de
Contos (1980). Igualmente contemplados nesse concurso, fomos Miguel Marvilla
(2º lugar), Ivan de Lima Castilho(3º), Debson Jorge Afonso (menção honrosa)
Sebastião Lyrio (idem) e eu (idem).
Tanto havia muito desejo e vaidade de se publicar na então nascente editora da
FCAA quanto havia um rigor editorial. Vi de bem perto isso, pois, por acaso das
circunstâncias e por afinidades literárias, acabei sendo estagiário da Editoria, ali
atuando de 1982-1984, até que fosse aprovado em concurso público, indo cumprir
ofício no interior do ES.
Ivan Castilho publicou o Deus do Trovão (contos, volume 36), cuja orelha escrevi.
Paulo Roberto Sodré teve publicado Interiores (poemas, volume 15), que também
orelha escrevi.
Debson Jorge Afonso, que foi o volume 27 (Batendo na porta errada, contos),
jamais fez oficina. Também Miguel Marvilla, que oficina não fez, publicou Os
mortos estão no living (contos, volume 35). Já eu, com o volume Vintecontos, havia
também obtido menção honrosa no Concurso “Geraldo Costa Alves”, publicado,
com acréscimos, como No escuro, armados (contos, volume 26). Sebastiao Lyrio
teve lançado o Nada de novo sob o neón (contos, volume 34).
Também porque premiados em concurso promovido pela FCAA, fizeram jus a
edição: Francisco Grijó , com seu Diga adeus a Lorna Love (contos, volume 29);
Miguel Marvilla, outra vez, agora com Lição de Labirinto (poemas, volume 39);
Paulo Roberto Sodré com Lhecídio-Gravuras de Sherazade na penúltima noite
(poemas, volume 37).
Waldo Motta, então aluno de Comunicação (Ufes), se oficinando fora, já era um
nome bem festejado pela crítica literária, tal qual o Sergio Blank, sequer aluno e
sequer oficinando: o primeiro teve na coleção o Eis o homem (poemas, volume 30);
o segundo, o Pus (poemas, volume 25).
Dois outros, se alunos eram (Oscar Gama Filho e Gilson Soares), não possuíam
17

vínculo com aqueles espaços de escrita; ambos autores, respectivamente, de O


despedaçado ao espelho (poemas, volume 28), e de Rosa-dos-ventos (poemas,
volume 18).
Assim, estar na prestigiada coleção Letras Capixabas, naqueles tempos de precário
parque gráfico-editorial, não era uma exclusividade de participantes de oficinas
ministradas pela Ufes ou por Deny Gomes. Aliás, essa professora e também literata,
somente fora publicar muito depois, em 1988: O desejo aprisionado (poemas,
volume 33).
Muitos outros, jamais participantes daquelas, publicaram na citada coleção: eram
nomes já nacionalmente destacados (Rubem Braga, Geir Campos, José Carlos
Oliveira. Mendes Fradique), ou pelo menos em nível do território capixaba (Renato
Pacheco, Elmo Elton, Audifax Amorim, Fernando Tatagiba, Bernadette Lyra,
Reinaldo Santos Neves, Luiz Guilherme Santos Neves, Luiz Busatto, Roberto
Almada, Amylton de Almeida, Carlos Chenier).
Há até reedições de obras cujos autores já são falecidos : Cantáridas e outros
poemas fesceninos (Paulo Velloso e outros, volume 20), A baixa de Matias
(Azambuja Suzano, volume 31).
(TAVARES, 2020)

2.3 MECANISMOS ESTATAIS DE FOMENTO À CULTURA

2.3.1 Lei Rubem Braga (Vitória)

Criada através da Lei Municipal 3730/1991, na gestão do prefeito Vitor Buaiz, até sua
reforma em 2019, a LRB era baseada em incentivo fiscal, em que o artista elaborava o
projeto e dava entrada no protocolo geral. O projeto era analisado pela comissão normativa,
que dava parecer pela aprovação. Caso o projeto fosse aprovado, o proponente recebia da
PMV o certificado de bônus. Ele era trocado por dinheiro com pessoas físicas ou jurídicas,
que podiam abater até 20% do ISS ou IPTU devido. A antiga legislação assim versava:

Artigo 2º - O Projeto Cultural "RUBEM BRAGA” consiste na concessão de


incentivo fiscal para a realização de projetos culturais, a ser concedido a pessoa
física ou jurídica domiciliada no Município.
§ 1º - O incentivo fiscal a que se refere o “caput” deste artigo corresponderá ao
recebimento, por parte de empreendedor de qualquer projeto cultural do Município,
seja através de doação, patrocínio ou investimento, de certificados expedidos pelo
Poder Executivo, correspondentes ao valor do incentivo autorizado.
§ 2º - Os portadores dos certificados poderão utilizá-los para pagamento dos
Impostos Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS, e Sobre a Propriedade Predial
e Territorial Urbana - IPTU - até o limite de 20% (vinte por cento) do valor devido a
cada incidência dos tributos, observado o cronograma financeiro do projeto
aprovado pela Comissão.
§ 3º - O valor que deverá ser usado como incentivo cultural, anualmente não
podendo ser inferior a 2% (dois por cento), nem superior a,5% (cinco por cento) da
receita proveniente do ISS e do IPTU, será fixada na Lei orçamentária.
§ 4º - Para o exercício financeiro de 1991, fica estipulado que o valor do incentivo
cultural corresponderá a 5% (cinco por cento) do ISS e do IPTU
(VITÓRIA, 1991).

Na reportagem sobre a Lei Rubem Braga dentro da revista Domingo, do Jornal do


Brasil, assinada pela jornalista Linda Kogure, a então secretária de Cultura, Vera Viana,
aponta a mudança na relação realizador cultural-empresário:
18

Porque o que mais desgasta a produção é se manter na eterna condição de quem só


pede. Com o bônus em mãos, o artista parou de pedir. Ele vai ao empresário vender
seu produto e trocar os certificados por dinheiro. O artista negocia com o empresário
em pé de igualdade.
(KOGURE, 1992, p.28)

Em outras palavras, os artistas viviam em situação de mendicância à porta das


empresas. Com a implantação da LRB, houve a profissionalização da produção e do
marketing cultural e os mesmos passaram a ter poder de barganha, tendo algo a oferecer aos
potenciais patrocinadores, tornando-se uma via de mão dupla. Além disso, a lei tirou o
trabalho dos patrocinadores de avaliar o mérito dos trabalhos, de acordo com Linda Kogure:

Os empresários concordam que a Lei Rubem Braga facilita o apoio para incentivos
culturais, justamente porque não precisam mais julgar o mérito e a qualidade do
projeto. Há duas comissões responsáveis por isso. Quando os projetos e os bônus
chegam as suas mãos já está tudo aprovado por pessoas conceituadas na área
artística.
(KOGURE, 1992, p.29)

Há controvérsias. Algumas vezes, quando se analisa o mérito e a qualidade dos


projetos para obtenção dos benefícios da Lei Rubem Braga, observa-se que um projeto de
baixa qualidade é aprovado em detrimento de outro que é considerado de alto nível. A
comissão utiliza-se de parâmetros questionáveis para tal aprovação. O jornalista Rogério
Medeiros, à época, vice-prefeito de Vitória, em depoimento para a dissertação de mestrado de
Julia Duarte de Souza, tece severas críticas aos rumos tomados na execução da LRB:

Falar da Lei Rubem Braga é falar de uma enorme frustração. Pois idealizada para
servir à democratização do acesso à cultura, principalmente às camadas mais
populares, não atingiu os seus objetivos. Nascida sob a imagem de que a sapatilha
de balé também cabia no pé do pobre, vi que infelizmente não coube, apesar de ter
girado e continuar girando imensos recursos públicos em favor da cultura.
Ela, infelizmente, ou desgraçadamente (talvez esse adjetivo seja mais apropriado)
tirou da porta do poder público pedintes culturais (há exceções, claro) e os alçou à
condição de gestores do maior orçamento cultural do Estado do Espírito Santo, que,
sem dúvida alguma, foi e continua sendo a Lei Rubem Braga. Como esse país é um
país de golpes, deram um belo golpe na cultura capixaba quando substituíram a
Comissão Móvel pelas setoriais . Pegaram o controle total dos projetos. As patotas
tomaram conta da Lei Rubem Braga. Passaram a distribuir o seu imenso orçamento.
Para não faltar com exemplos, na área de cinema e vídeo houve integrante
da comissão que fez uma produtora e com ela produziu a maior parte dos projetos
nela aprovados.
Citei o exemplo somente para segurar a crítica, mas o grande desastre ocorreu
mesmo na qualidade dos projetos. Documentários sem qualidade para serem
exibidos, CDs sem o mínimo de circulação, peças de teatros sem público, livros sem
leitores. Evidente que há exceções de boa qualidade, mas que não apagam a má
qualidade da maioria.
Não que essa má qualidade refletisse a condição cultural de Vitória. Ela é
consequência, como já foi dito a pouco, do acesso aos recursos da Lei Rubem Braga
de patotas que gravitaram em torno do poder público com os seus projetos.
Um balanço, por menor que seja, na vida da Lei Rubem Braga, vai mostrar o
desperdício de uma imensidão de recursos, muito dinheiro mesmo, por conta do
19
controle dos projetos pelas antigas patotas e as que nasceram em decorrência do fim
da Comissão Móvel.
(SOUZA, 2009, p.76-77)

Em relação à área de literatura, objeto desta monografia, de 1991 à atualidade, sob os


benefícios da LRB, foram financiados 396 projetos, no valor de R$ 3.066.739,49 (Prefeitura
Municipal de Vitória, 2019). Em 2019, a LRB teve seu texto modificado pela lei 9507/2019,
que trouxe as seguintes mudanças, conforme consta no documento Projeto Cultural Rubem
Braga:

Redução do período mínimo de comprovação de moradia no Município de


Vitória para 2 (dois) anos;
Repasse direto do recurso financeiro ao Empreendedor Cultural, retirando a
intermediação de Empresas apoiadoras;
Aumento de 8 (oito) para 19 (dezenove) áreas culturais, sendo:
Teatro;
Música;
Arte Digital, Inovação e Tecnologia;
Artes Visuais;
Livro, Leitura e Literatura;
Circo;
Moda;
Design;
Arquitetura e Urbanismo;
Patrimônio Material;
Patrimônio Imaterial;
Arquivos;
Cultura Popular;
Artesanato;
Cultura Afrobrasileira;
Cultura Indígena;
Audiovisual;
Ópera;
Dança.
Alteração da comissão responsável pela análise de mérito dos projetos culturais
inscritos, "Comissão Técnica de Avaliação e Seleção", agora composta por
integrantes reconhecidos por notório saber nas áreas que representam, mediante
seleção pública, fazendo jus à remuneração;
Definição pelo Conselho Municipal de Política Cultural de Vitória (CMPC) dos
percentuais de aplicação dos recursos financeiros em cada área cultural;
Obrigatoriedade da indicação de um produtor executivo no projeto cultural,
podendo a função ser exercida ou não pelo proponente;
Transferência ao Fundo Municipal de Cultura dos valores decorrentes de
penalidades aplicadas aos empreendedores culturais e da devolução dos recursos
determinados pelo não cumprimento ou desaprovação da prestação de contas de
projetos culturais.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 2019)

2.3.2 Lei Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim)

Regulamentada pelo Decreto nº 27.192/2017, a Lei Rubem Braga de Cachoeiro foi


implantada em 1991 e ficou adormecida por nove anos. Como sua homônima de Vitória, era
baseada em renúncia fiscal, em que o artista contemplado recebia os bônus e os trocava nas
20

empresas. Em 2016, em virtude da dificuldade dos artistas em receberem das empresas o


valor requerido, a LRB de Cachoeiro foi alterada, tornando-se um fundo de recursos próprios.
De 2009 a 2019, o valor total dos projetos literários incentivados pela LRB de Cachoeiro foi
de R$ 658.020,861.

2.3.3 FUNCULTURA (Espírito Santo)

Criado pela Lei Complementar 458, de 21 de outubro de 2008, o Fundo de Cultura do


Estado do Espírito Santo - FUNCULTURA está em funcionamento desde 2009

[...] cujos cujos recursos visam a incentivar a formação e a fomentar a criação, a


produção e a distribuição de produtos e serviços que usem o conhecimento, a
criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos, e a tornar a
atividade cultural uma importante estratégia nos programas de desenvolvimento do
Estado do Espírito Santo.
(SECULT)

O realizador cultural tem acesso aos recursos do FUNCULTURA, através de editais


públicos anuais (SECULT). O fundo tem personalidade jurídica própria (CNPJ) e conta-
corrente na Agência Central do Banestes. Entre 2009 e 2018, o FUNCULTURA investiu R$
1.833.000,00 na produção de obras literárias, segundo informações das planilhas de
contemplados fornecidas pela SECULT.
Em virtude da pandemia de Covid-19, e pela falta de servidores para que pudessem
fornecer dados em tempo hábil por meio da assessoria de imprensa ou pela Lei de Acesso à
Informação, não foi possível obter informações acerca das leis Chico Prego (Serra), João
Bananeira (Cariacica) e Vila Velha Cultura e Arte (Vila Velha). As leis supracitadas são as
que estão em vigor e são as que se tem conhecimento.

2.4 AS EDITORAS INDEPENDENTES

2.4.1 Florecultura

Fundada em 1999 pelo poeta Miguel Marvilla (1959-2009), em parceria com


Christoph Schneebeli. Graize (2009) conta como surgiu a editora:

Foi uma mulher o elo que primeiro aproximou, ainda que de maneira torta, o
estudante de Letras/ Inglês Miguel Marvilla e o estudante de Economia Christoph
Schneebeli. Na verdade, a desilusão provocada no poeta Marvilla por uma ex-
namorada, que o abandonou para começar um relacionamento com Schneebeli.
Anos depois coube aos livros a missão de superar esse desentendimento inicial e
consolidar uma amizade que se transformou em parceria profissional. Os dois
fundaram a Florecultura Editores em 1999 e, ao longo de dez anos, publicaram mais

1 Informações obtidas pela Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim.


21

de 80 livros.

Christoph ressalta o esmero na produção dos livros daquela casa editorial:

A ideia era ter sempre a qualidade estética, não só no sentido da beleza, mas no
sentido de um texto fluido, organizado, de uma impressão e de papel bons. Esses
eram os maiores cuidados dele, que analisava página por página. tinha muito esse
cuidado.
(GRAIZE, 2009)

O jornalista Marcelo Pereira observa como Miguel Marvilla tratava o produto livro e
seu realizador: "Era uma editora onde o autor local tinha um tratamento caprichado. Não se
tratava apenas de imprimir o texto - o livro era pensando em todas as suas etapas, e ele
acompanhava tudo". (ZANOTTI, 2009).
Saulo Ribeiro, escritor e editor da Editora Cousa, da qual falaremos a seguir, aponta o
salto de qualidade nas obras produzidas no Espírito Santo com a chegada da Florecultura:
"Como editor, Marvilla estabeleceu novos padrões de qualidade do livro feito no Espírito
Santo. Antes o livro capixaba tinha cara de livro capixaba, você já notava quando via em cima
da mesa, não precisava nem abrir". (SÉCULO DIÁRIO, 2019).

2.4.2 Cousa

A editora iniciou suas atividades em 2009, mesmo ano que Miguel Marvilla nos
deixou. Saulo Ribeiro, editor, conta sobre o surgimento da Cousa:

A Cousa começou com Rodrigo Caldeira [poeta] e seus livros artesanais de


exemplar único. Eu coloquei a editora na era industrial, para desgosto dele. Mas
talvez a gente retorne para isso um dia. O primeiro livro, lançado em outubro de
2009, foi com o texto dramatúrgico de uma peça minha e do Vinícus Piedade,
intitulada Cárcere. A gente tinha essa necessidade de dar vazão à nossa produção
inicialmente, depois tudo foi acontecendo, os livros foram surgindo.
(LIVRE OPINIÃO, 2017)

Como a Florecultura, a Cousa tem todo um cuidado no processo de diagramação,


impressão e distribuição dos livros.

2.4.3 Pedregulho

Fundada em 2013 por Marília Carreiro, "surgiu por causa da necessidade de publicar e
divulgar a literatura produzida em nosso estado" (FERNANDES, 2014). A autora-editora
aponta o perfil da Pedregulho:

Desde que decidi fundar a Pedregulho, tinha em mente que ela seria uma editora
plural, para trabalhar a diversidade em todas as suas formas. Era (e ainda é) um
desejo que as minorias sejam colocadas em destaque, produzindo e lançando textos,
22

blogs e livros físicos ou digitais, observando sempre os novos procedimentos e


segmentos de produção de conhecimento, adaptando esses conceitos ao generalizado
e crescente interesse pela literatura, favorecido pela internet, através de plataformas
on-line. Sempre tive parcerias que muito acrescentaram à editora, fosse por revisões,
dicas, ajudas das mais diversas. E todas essas pessoas que estiveram, de alguma
forma ligadas à editora em algum momento desses anos trouxeram a Pedregulho até
aqui. Hoje temos uma equipe composta por mulheres - e isso era um objetivo de
2013, que foi concretizado em 2019/2020 - dedicadas à criação de obras únicas e
focadas na aproximação dos leitores para com a literatura. Acreditamos todas que a
literatura deve ser direito de todo mundo e, por isso, adotamos formatos (como as
publicações digitais de livre distribuição, por exemplo) que chegam para todo o
público leitor, em qualquer lugar do mundo.
É muito bonito olhar pra trás e ver que trilhei um caminho, como produtora editorial,
que permitiu tantos autores publicarem seus livros. Foi uma proposta e uma aposta,
desde 2013, que deu certo. Com o tempo, a Pedregulho é conhecida também por sua
diversidade e participa, sempre que possível, de encontros com autores e futuros
autores.
(COBERLLARI, 2020)
23

3 OUVINDO A VOZ DOS ESCRITORES

Após viabilizar sua publicação, a aspiração de boa parte dos escritores residentes no
Espírito Santo é vê-lo vendido nas livrarias, adotado nas escolas, comentado na imprensa,
pelos influenciadores literários digitais e lido pelos leitores. Todavia, há muitos percalços para
que o produto cultural livro chegue a quem de direito, a saber, o leitor.
Se em 1987, o Ultraje a Rigor, pelos versos de Roger Rocha Moreira, da canção Inútil
dizia: A gente escreve livro e não consegue publicar, em 2020, pode dizer-se com segurança:
A gente publica livro e não consegue vender, nem divulgar, tampouco circular. Apontaremos
os principais gargalos para a profusão do livro do autor capixaba: a distribuição e divulgação.

3.1 DISTRIBUIÇÃO

Marcos Tavares2 mostra o problema da distribuição dos livros nas livrarias:

Tanto a falta de uma política de efetiva distribuição quanto a precariedade numérica


de livrarias induziram a deixar livros para venda em consignação, o que pela
desorganização do empresário e do próprio autor, raramente garante retorno em
termos de acerto de contas. Já houve livraria que fechou portas e sequer me
devolveram exemplares lá deixados.
Maioria das livrarias locais quer apenas expor livro que esteja na lista bestseller,
jamais se arriscando a ocupar estante com título de autor nativo ou aqui
estabelecido. Tivesse que viver de venda de livros eu passaria fome. Literatura não
dá camisa. Talvez, sim, camisa-de-força: por conta das contas que chegavam, dada a
inadimplência, já vi literato quase enlouquecendo. Ainda tomarei coragem para
vender livro em praias: um projeto sempre adiado, verão após verão. Um dia, os
praianos ainda verão isso: não sei quando. [risos]
(TAVARES, 2020)

No Brasil, salvo raras e notáveis exceções, como Paulo Coelho e autores de livros de
autoajuda, como Augusto Cury e Roberto Shinyashiki, o escritor não consegue sobreviver só
de direitos autorais de suas obras. Muitos têm profissões paralelas, como professor, jornalista,
advogado, servidor público, entre outras. O próprio Marcos Tavares é auditor tributário da
Secretaria de Estado da Fazenda.
A postura das livrarias locais de só expor livro que seja bestseller denota um ranço
provinciano e colonizado de só valorizar o que é de fora. É como se os autores brasileiros
tivessem pouco ou nenhum valor. A escritora Regina Menezes Loureiro3 aponta a via-crúcis
do escritor que produz literatura no Espírito Santo:

O sonho de se publicar um livro às vezes se torna um pesadelo:


1 - Você envia um livro para uma editora e espera meses pela resposta e recebe uma
negativa (não há nenhuma garantia de alguém gostar do que você escreve);
2 Nasceu em 1957, em Vitória. Formado em Letras pela UEMG. Membro da Academia Espírito-Santense de
Letras. Trabalha como auditor tributário na SEFAZ.
3 Membro da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras e da Academia Cachoeirense de Letras, pedagoga
advogada e escritora. Criadora do informativo As Acadêmicas.Idealizadora e coordenadora da Feira Literária
Capixaba (FLIC).
24

2- Aí, [o] escritor capixaba publica seus livros com recursos próprios ou por alguma
Lei de incentivo à cultura, mas não há quem compre seus livros.
Considerando [que] o seu livro ficou pronto, já armazenado em sua casa:
1- Se você não conseguiu apoio de uma grande editora, quem fará a divulgação?
Sem divulgação a mercadoria fica estocada;
2- Se você publicou seu livro e não possui NF, não vai conseguir vendê-lo para
nenhuma livraria;
3- O Estado do Espírito Santo não possui editoras que façam todo o trabalho de
divulgação e venda;
4- A Imprensa não é nossa aliada;
5- Como a Literatura permeia as outras artes, digo que a cultura não recebe, ou é
quase nulo o apoio do poder público.
(LOUREIRO, 2019)

O Espírito Santo não possui uma indústria editorial consolidada. O que temos, na
verdade, são empresas que prestam serviços editoriais, nas áreas de revisão, editoração
eletrônica, ilustração, além das gráficas, que prestam os serviços supracitados e imprimem os
livros. Muitos autores independentes são obrigados a se formalizar enquanto pessoa jurídica
para poder emitir nota fiscal e vender seus livros nas livrarias.
O escritor Anaximandro Amorim4, em entrevista para Vitor Cei, aponta que há
preconceito contra o autor capixaba, além de restrições de ordem tributária para a venda das
obras:

O grande gargalo, no entanto, está na distribuição. Os livros dos ditos "capixabas”


não contam com um esquema profissional de colocação em livraria. Resultado: o
autor, quando consegue chegar lá, fica, em geral, no fundo da loja, em uma prateleira
escondida, “guetizado” com a “pecha" de “capixaba" (na minha opinião, "literatura
capixaba” não existe, pois somos todos brasileiros). Isso, quando a livraria nos quer,
pois, recentemente, descobrimos que o regulamento do ICMS possui dois
dispositivos que funcionam como uma verdadeira barreira à venda, apenando o
livreiro com multa, por questões de obrigação acessória. Ou seja: é difícil chegar à
livraria, é difícil vender e, ainda por cima, o livreiro leva uma multa... por vender os
nossos livros! Não é desestimulante?
(CEI et al, 2020, p.63)

Anaximandro5 faz o seguinte complemento sobre o gargalo da distribuição:

O maior gargalo da produção literária do ES tem nome e se chama “distribuição”.


Com tanta tecnologia, muitas das quais acessíveis, nunca foi tão fácil publicar um
livro neste Séc. 21. O problema, no entanto, está na “publicização”: com o produto
final em mãos, o autor não consegue chegar às grandes livrarias porque não há
interesse mercadológico e, quanto às pequenas, há um gargalo na própria legislação
capixaba: dois dispositivos do Regulamento do ICMS, combinados, culminam por
apenar o livreiro que der saída à mercadoria cuja origem se dá por nota avulsa. Isso
significa: há uma cilada dentro do próprio Estado, algo que precisa ser corrigido
urgentissimamente uma vez que eu já vi livreiros sendo multados... por venderem
livros! E de autores da terra!

Retoma-se a questão da mentalidade provinciana dos livreiros e sua visão

4 Nascido em Vila Velha/ES, em 1978. É advogado, professor e escritor. Membro de várias entidades culturais
do Estado.
5 Informações fornecidas por correio eletrônico. AMORIM, Anaximandro Oliveira Santos. TCC Maxwell .
[mensagem pessoal] Mensagem recebida por: . em: 27 nov. 2020.
25

mercadológica e imediatista, não acreditando nos autores brasileiros, sobretudo aqueles que
produzem literatura no Espírito Santo. Por outro lado, é absurda a opressão do fisco estadual
com os tais dispositivos que punem os livreiros por estes últimos comercializarem os livros de
autores capixabas adquiridos através de nota fiscal avulsa. Oliveira e Dalvi (2016. p.91-92)
afirmam que uma grande rede de livrarias, atualmente em recuperação judicial, cria
empecilhos para venda de livros de autores locais:

Em pesquisa de campo para este estudo, constatamos que a rede de livrarias com o
maior número de lojas localizadas em shopping centers da região metropolitana
(aqui identificada como Livraria S.) dificulta o acesso à venda de livros de autores
capixabas; conseguir incluir títulos no acervo da livraria só é possível com a
mediação de distribuidores, visto que, para figurar no cadastro de editoras ligadas à
livraria, somente com 150 títulos no catálogo. Para uma editora independente fora
do eixo Rio-São Paulo ou para o autor independente essa parece ser uma empreitada
inviável – a julgar pelo fato de que não existem distribuidoras locais com catálogo
especializado em literatura do estado do Espírito Santo.

As mesmas autoras falam a respeito do fechamento das livrarias na Grande Vitória:

Um outro dado ajuda a vislumbrar o cenário: em Vitória, capital do Estado, desde


2015, a população tem assistido ao fechamento de diversas livrarias. A Livraria LG.,
originária do Espírito Santo, que tinha um espaço destinado aos autores de livros
produzidos no estado, e que realizava projetos em parceria com as escolas, fechou
quatro lojas em 2015, ficando apenas com uma loja em um shopping de bairro e
outra, que abriga a administração e serve de estoque. Outro espaço de
comercialização, a Livraria LE., situada no Shopping Vitória, o maior da capital, e
que também aceitava comercializar os livros de autores regionais, fechou suas portas
em 2015. Em outro município da região metropolitana, Vila Velha, há uma livraria
de rua, a Livraria E., que faz também a distribuição de livros para escolas. Contudo,
a prioridade não são os títulos de autores regionais, cujo acervo é ínfimo na loja, e
atende a uma demanda originada pelos escritores em ações independentes de
distribuição e prospecção.
(OLIVEIRA E DALVI, 2016, p.92)

Lívia Corberllari6, escritora e jornalista, também opina sobre a distribuição dos livros
de autores capixabas: "Nossa dificuldade é sair daqui, sair da ilha. De que pessoas de fora
daqui conheçam alguns livros e escritores que acho muito incríveis e queria muito que
tivessem esse reconhecimento para fora" (TAVEIRA, 2020). A escritora Chirlei Wandekoken7
aponta como funciona o sistema de vendas e livrarias e aponta sua estratégia de vendas
enquanto autora-editora:

Maxwell, o mercado funciona da seguinte forma: são as livrarias e as distribuidoras


que escolhem que livro, ou quais livros, elas vão querer em suas prateleiras. E em
consignação, com desconto de 55% a 60% do valor de capa. Portanto, não vale a
pena colocar livro em livraria. Hoje em dia, com a internet, tudo mudou. Por
exemplo: sou dona de uma editora e lanço um livro meu. Sinceramente, eu prefiro
vendê-lo no site da minha própria editora, a fornecê-lo em consignação, com um
desconto absurdo desse, apenas pela vaidade de ver um livro meu numa livraria.
6 Nasceu em 1989, em Salvador (BA), mas mora em Vitória (ES) desde 1996. É autora do livro de poemas
Carne Viva. É responsável pelo projeto Livros por Lívia.
7 Nasceu em Barra de São Francisco. É formada em Jornalismo. Fundadora e editora da Editora Pedrazul,
especializada em romances de época.
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Para quê? Eu já achei o meu público, ele vem atrás de mim onde quer que esteja os
meus livros. Vendo muito pela Amazon e minha receita já chegou a ser muito maior
na venda de E-book que de livro físico. Atualmente, porque eu parei com algumas
parcerias com blogs (são necessárias), a venda do livro físico está superior à venda
do e-book, isso devido o marketing da Pedrazul. Então, uma ótima estratégia para
quem não tem uma editora são as parcerias com blogs. Imprima poucos livros (no e-
book gratuito em explico isso) e os doe para os blogueiros. Eles gostam do livro em
papel e de marcador também.
(WANDEKOKEN, 2009)

Mercadologicamente, para Chirlei, é mais vantajoso fazer a venda de seus livros no


site da editora de sua propriedade a deixar as obras em consignação em livrarias. Alguns
autores independentes fazem venda direta dos seus livros, principalmente em eventos
literários e plataformas de autopublicação digital e de impressão sob demanda.

3.2 DIVULGAÇÃO

No Espírito Santo, é senso comum que os artistas aqui não são reconhecidos e
precisam sair do Estado para que tenham notoriedade. O jornalismo cultural, nos últimos
anos, tem sido afetado com o encerramento das atividades dos jornais impressos,
enxugamento das redações e priorização na divulgação de autores bestsellers. A escritora
Renata Bomfim8 fala sobre sua relação com a imprensa:

Vemos escritores de obras não tão boas ganharem primeira capa do jornal de cultura
e nós ralamos por umas linhas no jornal.
(...)
Quando lancei a minha primeira obra, tive muita dificuldade para divulga-la, hoje
que alcancei alguma projeção é mais fácil, mas ainda é difícil (risos), essa
“facilidade” a que me refiro acontece em função do apoio de amigos jornalistas que
dão aquela força e não pelo desejo espontâneo da imprensa de fazer a informação
sobre a obra chegar ao leitor.
(BOMFIM, 2019)

Marcos Tavares fala sobre como funciona a relação imprensa-autor fora do Eixo:

Uma verdade deve ser dita: imprensa, qual modalidade seja, não corre atrás de
escritor que esteja fora do eixo Rio-São Paulo. Em verdade, querem que o autor os
procure, por vezes ofertando a obra e contando com um bom “pistolão” (na
atualidade, este recebe pomposos nomes: assessor de comunicação, manager,
publisher etc.)
(TAVARES, 2020)

O eixo Rio-São Paulo concentra o maior volume da produção editorial do país, as


cinco maiores redes de televisão, os quatro maiores jornais e as três principais revistas
semanais. Por conseguinte, os autores têm o acesso facilitado ao circuito mercadológico e
midiático. Chirlei Wandekoken fala do desinteresse da mídia local por livros e o mórbido
interesse por morte e crimes:

8 Nasceu em 1972. È poetisa, escritora e arteterapeuta.


27
Quando eu comecei e estava meio "deslumbrada" em ser autora de um livro (grandes
coisas rs. Tem mais autor que leitor nesse país), eu, como jornalista, mexi meus
pauzinhos e usei minha rede de contato. Consegui espaço no jornal A Gazeta, A
Tribuna, TV Vitória, etc. Mas porque eu sou do meio e tinha amigos. A mídia não
tem interesse nisso. A mídia fornece o que o público quer e ninguém (a minoria
ínfima) quer saber de livro. Entendeu? É o mercado, meu caro. Crime vende, morte
vende, dá audiência, e os veículos trabalham pela audiência.
(WANDEKOKEN, 2019)

Os grupos midiáticos são pautados no lucro, e para estes, os fins justificam os meios
para obtê-lo. Conseguintemente, os mesmos noticiam aquilo que gera audiência e
visualização. Livros de literatura só têm espaço em emissoras educativas e comunitárias.
Temer apud Barcelos (2020, p. 16) complementa:

As empresas midiáticas, e por extensão o telejornalismo, são movidos por


interesses empresariais e ideológicos nem sempre perceptíveis para o grande
público, e condicionados pela mediação tecnológica própria da natureza técnica
deste veículo.

O escritor LP Faustini9 também aponta o descaso da mídia local por livros:

A maioria não entende ou não se interessa. Em certo período, distribuí livros meus
para jornalistas falarem sobre minha obra. Ninguém a leu, resumindo-se a colocar no
jornal apenas o resumo do que eu já tinha dito, mas com suas próprias
interpretações. Salvo alguns que reconheceram o trabalho, no geral, a divulgação no
ES de literatura fantástica é pífia.
(FAUSTINI, 2019)

É fato que nos últimos anos, os jornais impressos têm passado por uma crise, agravada
pela pandemia, encerraram as atividades em versão impressa e migraram para internet, como
aconteceu com o nonagenário A Gazeta. Com isso, houve o enxugamento do quadro de
jornalistas, e os cadernos de cultura diminuíram. Livros chegam amiúde às redações dos dois
maiores jornais do Estado. Não há jornalistas especializados em literatura. Os repórteres dos
cadernos culturais têm que cobrir de celebridades a séries lançadas em plataformas de
streaming. As redações dos jornais e portais reproduzem ipsis litteris o press-release,
limitando-se a mudar o título ou reescrevê-lo com informações adicionais do autor. O escritor
Jovany Sales Rey10 afirma que a divulgação limita-se ao lançamento coletivo promovido pela
Secult:

Quanto à divulgação, existe esse apoio, sim, mas limitado somente às obras
publicadas através de seus editais de literatura, por ocasião do lançamento coletivo.
Infelizmente, não se divulga nenhuma obra em si, apenas o evento de lançamento e a
listagem dos contemplados. É uma divulgação institucional e não propriamente
literária.
(REY, 2019)

A Secult, enquanto patrocinadora dos livros lançados no edital, deveria pagar


9 Autor de livros com temática fantástica.
10 Roteirista de cinema e televisão, dramaturgo, escritor e historiador. Nasceu em Alfenas.
28

assessoria de imprensa, com vistas à divulgação das obras contempladas nos editais de
literatura. A divulgação acaba ficando por conta do autor, muitas vezes sem contato com as
redações. Na mesma linha, Lívia Corbellari aponta a não continuidade da divulgação dos
livros:

Não há muitas pessoas falando sobre nossa literatura e as resenhas, matérias e


entrevistas ficam restritas à época do lançamento. Não há uma continuidade na
divulgação desses livros.
(TAVEIRA,2020)

O edital 21/2020 do FUNCULTURA prevê que os candidatos apresentem um plano de


ação para divulgação da obra. A responsabilidade da divulgação fica por conta do proponente.
O documento deve constar "informação sobre as ações previstas visando à divulgação e
difusão do bem cultural ou do resultado gerado a partir da realização do projeto
pela comunidade, na localidade em que a ação será realizada".(SECULT, 2020)

3.3 CIRCULAÇÃO

Os escritores têm reclamado da falta de apoio estatal para a circulação de suas obras.
Alegam que o poder público só apoia a impressão dos livros. Em relação à questão, afirma
Jovany Sales Rey:

Quanto à distribuição, as secretarias de cultura que promovem os editais, alegam


reservar determinado número de exemplares para distribuição em escolas e
bibliotecas, mas os autores nunca acompanham essa distribuição ou recebem
quaisquer informações.
(REY, 2019)

Marcos Bubach11, a seu turno, fala de como as obras que receberam incentivo
circulam:

Na distribuição, que eu percebi, as secretarias de cultura como ficam com parte da


publicação dos escritores que participam de suas leis de incentivo, fazem trabalhos
de distribuição desses títulos em bibliotecas de seus municípios.
(BUBACH, 2019)

É uma percepção particular. Só não se sabe se as obras chegam de fato a quem se


destina.
O escritor David Rocha12, em entrevista a Vitor Cei, aponta que as leis de incentivo se
limitam à publicação do livro, não contemplando outras etapas, como a divulgação e
circulação:

Temos importantes leis de incentivo cultural que contemplam a publicação de livros


11 É escritor, produtor cultural, membro do Conselho de Cultura de Cariacica, onde atua na câmara de literatura.
Presidente da Academia Cariaciquense de Letras.
12 Escritor, nasceu em Vila Velha. Autor de Dissonâncias.
29

na Grande Vitória, no entanto, o que percebemos que essas iniciativas quase sempre
contemplam exclusivamente a publicação de um livro impresso, do objeto livro, o
que não significa promover de modo sistemático uma produção literária. Os editais
são fechados e quase nunca permitem que o autor pense amplamente em todas as
etapas necessárias não apenas à impressão do livro, mas a sua difusão dentro e fora
do estado. Serviços como uma assessoria de imprensa, criação de ferramentas de
difusão, comercialização e circulação, ficam fora dos editais e o livro muitas vezes
se torna um amontoado de papel ocupando espaço no quartinho do escritor.
(CEI et al, 2020, p.63)

Neste sentido, se faz necessário readequar os editais para que os mesmos abranjam os
processos pós-publicação. Ribeiro (2014, p.27) vai na mesma opinião de David Rocha no
tocante à deficiência dos mecanismos de financiamento na cobertura das outras etapas pós-
publicação:

Por outro lado, se a política estadual dos editais e a política municipal de leis de
incentivo à cultura propiciaram a publicação de uma grande quantidade de livros,
com critérios de qualidade bem flexíveis, municípios e estado pararam ou
diminuíram a aquisição de livros para as bibliotecas públicas e escolares, como se
aqueles publicados por leis e editais suprissem essa necessidade. Todavia, isso não é
verdade, pois muitos escritores publicam por editoras privadas ou por si mesmos e,
com isso, não têm seus livros adquiridos para as bibliotecas públicas, impedindo aos
leitores capixabas de lerem, por exemplo, os excelentes romances “A longa história”
ou “A ceia dominicana”, de Reinaldo Santos Neves, publicados pela Bertrand Brasil
e “A Capitoa”, de Bernadette Lyra, editado pela “Casa da Palavra”.

O mesmo autor sugere soluções para a resolução dos gargalos de circulação e


divulgação:

O que falta, ainda, no Espírito Santo, é uma política de circulação e de divulgação


dos livros capixabas, lugares públicos e privados onde possam ser vistos e
conhecidos e uma política de aquisição de livros de autores capixabas para as
escolas, presídios e bibliotecas públicas. Certamente, diante da centena de livros
capixabas publicados, anualmente, há uma dezena de obras de qualidade, que
merece ser lida e apreciada por um público maior, além dos amigos e dos colegas de
profissão, leitores de sempre.
(RIBEIRO, 2014, p.27)
30

4 AS INICIATIVAS QUE FOMENTAM A LITERATURA CAPIXABA

Apenas reclamar não mudará o estado de coisas em que se encontra a literatura


produzida no Espírito Santo. Neste capítulo, mostraremos as iniciativas individuais e
institucionais que têm contribuído para a visibilidade dos autores capixabas e suas obras.

4.1 LEIA CAPIXABAS

Idealizado e coordenado pelo escritor Anaximandro Amorim13, o Clube de Leitura


Leia Capixabas é o fruto de um minicurso acerca da literatura no Espírito Santo ministrado
em 2018 na Aliança Francesa de Vitória, enquanto extensão da disciplina Seminário III, à
época que ainda cursava Letras-Francês na Ufes, coordenado pelo professor Paulo Roberto
Sodré.
Em 2019, o Leia Capixabas foi lançado, e sua primeira edição ocorreu em 16 de
março, com o tema crônicas. As reuniões, antes da pandemia do coronavírus, ocorriam todo
terceiro sábado do mês, no Trapiche Gamão, sede da Editora Cousa, com uma média de 12
pessoas por encontro, sem limite de obras e autores, com franca participação, seja como
ouvinte ou como falante. Cada reunião tem um tema, com recorte no gênero literário. O grupo
tem como normas a proibição de xerox de livros, salvo se autorizadas pelo autor, discussões
fora do tema e autopropaganda de livros pelos escritores.

4.2 PROGRAMA SIM PARA A LITERATURA

Segundo seu idealizador, o professor José Rodrigues Pereira14, o programa SIM


PARA A LITERATURA, é o único programa na TV aberta no Espírito Santo totalmente
voltado para a literatura. É gerado dos estúdios da TV SIM, de Linhares, exibido na Região
Norte, outras localidades do ES e para a Grande Vitória. Está no ar desde 06 de junho de
2016. É exibido todos os sábados e tem a duração de 30 minutos. Os programas também estão
disponíveis no canal do programa no YouTube, possibilitando que pessoas de outras partes do
Brasil e do exterior assistam.
Tem o formato de revista eletrônica, com um tema a cada semana, apresentado de
forma dinâmica e aprofundada. Para Pereira (2019), o programa SIM PARA A
LITERATURA tem como objetivos:

Divulgar ações, projetos e iniciativas voltadas para estimular as pessoas à


13 Informações fornecidas por correio eletrônico. AMORIM, Anaximandro Oliveira Santos. LEIA
CAPIXABAS. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por: . em: 17 nov. 2019.
14 Informações fornecidas por correio eletrônico. PEREIRA,José Rodrigues. INFORMAÇÕES SOBRE O
PROGRAMA SIM PARA A LITERATURA - ATT MAXWELL. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por: .
em: 19 nov. 2019.
31

aquisição de hábitos de leitura; e ao ato de ler.


Discutir sobre a importância da literatura como alternativa prazerosa, voltada
para o bem-estar das pessoas; e para o seu desenvolvimento intelectual e crítico.
Atuar com foco em três frentes: o hábito da leitura no ambiente da família; na
escola; e aproximar ao máximo os livros da população.

4.3 PROGRAMA DEDO DE PROSA

Programa da TV ALES sobre literatura produzida no Espírito Santo. Sua primeira


edição foi ao ar em 06 de agosto de 2009, trazendo uma entrevista com o escritor Adilson
Vilaça. Sua primeira apresentadora foi a jornalista Katarine Rosalem. Sobre o programa, ela
relata:

Um bate-papo descontraído com escritores capixabas, que mostram sua casa, falam
sobre suas obras, sobre os estilos que escolheram, como está a produção literária no
ES, onde buscam inspiração, novos livros e outras curiosidades. São 30 minutos de
muita cultura.
(ROSALEM, 2009)

Atualmente, é apresentado pela jornalista e escritora Gabriela Zorzal.

4.4 LIVROS POR LÍVIA

Idealizado pela jornalista e escritora Lívia Corbellari, começou como um blog, como
ela relata:

Eu comecei o blog em março de 2013 e agora ele está fazendo 3 anos. No começo
era só um portfólio no qual eu publicava as minhas melhores resenhas, na época eu
trabalhava no jornal Seculo Diário e o jornal recebia muitos livros, eu lia alguns e
fazia as resenhas. Depois o meu volume de leitura foi crescendo e eu fui fazendo
resenhas específicas para o blog focando mais na literatura produzida no Espírito
Santo. O blog foi crescendo e hoje se tornou um portal no qual publico, além das
resenhas, entrevistas e matérias sobre a literatura contemporânea. Eu gosto de
escrever sobre o que leio porque é uma forma de eu entender melhor o livro e de
fixar aquela história em mim. Eu só resenho os livros que eu gosto e que de alguma
forma me marcam e escrevendo sobre eles eu acabo me sentindo mais próxima
dessas histórias, porque sempre que vou escrever um texto eu pesquiso algo sobre o
autor e sobre os livros anteriores dele.
(ONHAS, 2016)

Em 2020, foi aberto o canal no YouTube. Taveira (2020) ressalta que "o canal tem
foco na divulgação da literatura contemporânea brasileira, com especial atenção para as
publicações de autores do Espírito Santo, que devem aparecer com frequência".

4.5 PROJETO VIAGEM PELA LITERATURA

Sobre a coordenação de Elizete Caser, o projeto é executado pela Biblioteca Municipal


32

Adelpho Poli Monjardim, vinculada à Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de


Vitória. Para Oliveira e Dalvi (2016, p.99), o projeto Viagem pela Literatura é "uma das
únicas iniciativas consistentes e mais duradouras na vertente da divulgação de autores de
Literatura Infantil no Espírito Santo". Rocha (2014) descreve o projeto:

O projeto Viagem pela Literatura vem sendo realizado desde 1994 pela Biblioteca
Municipal Adelpho Poli Monjardim, vinculada a Secretaria de Cultura da Prefeitura
de Vitória, por meio de atividades sócio-culturais desenvolvidas por
atores, escritores e contadores de histórias, utilizando diversas linguagens. Atua
prioritariamente junto ao público das comunidades de bairros periféricos, com maior
índice de vulnerabilidade e/ou risco social, dinamizando, dessa forma, a interação
com a população do município.

O Encontro com o Escritor, segundo Rocha apud Almeida (2016, p. 50), "é uma
atividade em que as crianças e adolescentes têm acesso ao processo de criação". Em outras
palavras, é o momento em que o escritor ou a escritora tem contato com os leitores.
33

5 COMO SE PODE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS?

Diante dos problemas expostos, seguem algumas propostas que podem atenuar esta
situação de marginalidade enfrentada pela literatura produzida no Espírito Santo:

5.1 CRIAÇÃO DO PRÊMIO ESPÍRITO SANTO DE LITERATURA

É um prêmio, a ser organizado pela Secretaria de Estado da Cultura, com o apoio da


Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras
para selecionar os melhores livros nos gêneros romance, conto, crônica, poesia e literatura
infanto-juvenil, editados e publicados no Espírito Santo, divididos em autor estreante e autor
com obras publicadas. Cada um dos dez autores dos cinco gêneros ganharia um prêmio em
dinheiro e uma bolsa para um curso de escrita criativa.
O prêmio em questão teria o fito de estimular a produção e a divulgação literária local.
O júri será composto por pessoas com notória experiência em literatura, nomeados pelo um
conselho curador do prêmio, presidido pelo secretário da Cultura. Um livro que recebe um
prêmio literário ganha maior visibilidade na mídia, por conseguinte, tende a ser procurado nas
livrarias.

5.2 INCENTIVO À CRIAÇÃO DE FEIRAS LITERÁRIAS NOS MUNICÍPIOS DO


INTERIOR E NAS PERIFERIAS

À exceção da Bienal Rubem Braga, que ocorre em Cachoeiro de Itapemirim, as feiras


literárias no interior do Estado são inexistentes, conforme foi levantado. É necessário criar
eventos que possibilitem os escritores que produzem literatura no Espírito Santo circular e
fazer divulgação de seus livros em todo o Estado, uma vez que ficam limitados à divulgação
na Grande Vitória. A divulgação da produção literária do Espírito Santo fica reduzida aos
autores residentes na região metropolitana.
As periferias da Grande Vitória, tão estigmatizadas pela imprensa local, que só
enfatiza os assassinatos e as guerras de facções por pontos de venda de drogas, têm muitos
talentos literários escondidos. Fica subentendido que dá audiência mostrar jovem negro morto
a tiros ou preso por matar, roubar, traficar, furtar ou estuprar. Barcellos (2020, p.22) aponta a
estereotipação da mídia:

A terceira parte do fato de que ao aparecem na mídia, boa parte das matérias
envolvendo os jovens é sobre violência, usando os jovens como principal fator de
violência no estado. Além disso, a discussões de pautas sobre políticas públicas para
os jovens não são trabalhadas pelos telejornais.

As feiras são um ótimo meio para que estes jovens, oriundos de famílias
34

desestruturadas e economicamente vulneráveis possam mostrar sua produção. É preciso dar


voz e vez à literatura feita à margem da margem do cânone e dos padrões acadêmicos.

5.3 CONDICIONAMENTO PELO GOVERNO DO ESTADO E PELAS PREFEITURAS DA


VEICULAÇÃO DA PROPAGANDA OFICIAL À DIVULGAÇÃO DE AUTORES QUE
PRODUZEM LITERATURA NO ESPÍRITO SANTO NAS EMISSORAS DE RÁDIO E
TELEVISÃO

Salvo os programas Um dedo de prosa e SIM para a Literatura, o espaço para


divulgação dos livros de escritores que produzem no Espírito Santo é quase nulo. Certa feita,
um autor capixaba entrou em contato com a produção de um programa exibido aos sábados
com temática cultural, onde queria divulgar o seu novo livro. Ele obteve a resposta que já
fizeram uma matéria sobre literatura capixaba. O diretor do programa era pernambucano.
Apresentadores e produtores, quando dão espaço para um escritor falar de seu livro, é
porque ele faz parte do seu círculo de amizade. O autor, muitas vezes não tem dinheiro para
pagar uma assessoria de imprensa e ele tem que fazer isso. Escritores fora do círculo de
amizade dos comunicadores, ao fazer o follow-up, recebem respostas evasivas dos editores,
que lhes fecham as portas. Não obstante serem empresas privadas, pautadas pela livre
iniciativa, as emissoras de rádio e televisão precisam seguir o artigo 221 da Carta Magna, que
assim diz:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão


aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente
que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme
percentuais estabelecidos em lei;

É urgente que haja a regulamentação dos meios de comunicação para que estes
cumpram a contento sua função social. Os oligopólios midiáticos tacham a medida como
censura e prática ditatorial. Não é o que Ekman e Barbosa (2014) pensam:

Por fim, o simples estabelecimento de uma regulação da radiodifusão não pode ser
tachado de cerceamento da liberdade de imprensa ou então de censura porque é isso
o que diz e pede a própria Constituição brasileira de 1988, ao estabelecer princípios
que devem ser respeitados pelos canais de rádio e TV. No entanto, mais de vinte e
cinco anos após sua promulgação, nenhum artigo de seu capítulo V, que trata da
Comunicação Social, foi regulamentado, deixando um vazio regulatório no setor e
permitindo a consolidação de situações que contrariam os princípios ali
estabelecidos.
35

5.4 INCLUSÃO DE DOIS LIVROS DE AUTORES CAPIXABAS NAS CESTAS BÁSICAS


DISTRIBUÍDAS PELAS TRÊS ESFERAS DE PODER, FINANCIADOS POR ESTAS
ÚLTIMAS

Mais do que matar a fome de alimentos, é necessário matar a fome de saber. Sendo
assim, a inserção de duas obras de autores locais corrobora para que as obras circulem.
Quando o hábito de leitura é inculcado, a pessoa em situação de vulnerabilidade social tende a
não ter mais fome de comida, mas fome de conhecimento. A mesma passa a compreender, por
meio dos livros, de sua condição e se conscientiza que é possível quebrar o ciclo de pobreza.
Este é o poder empoderador da literatura.

5.5 PRIORIZAÇÃO NA PREMIAÇÃO DOS EDITAIS PARA PRODUÇÃO DE LONGAS-


METRAGENS E SÉRIES QUE SEJAM ADAPTAÇÕES DE OBRAS LITERÁRIAS DE
AUTORES DOMICILIADOS NO ESPÍRITO SANTO

Quando uma obra literária é adaptada para algum formato audiovisual, no período de
sua exibição, ocorre um aumento na venda da mesma. A nível local, foi o que aconteceu com
os romances Os incontestáveis, de Saulo Ribeiro e Reino dos medas, de Reinaldo Santos
Neves, que virou o filme As horas vulgares, dirigido por Vitor Graize e Rodrigo de Oliveira.
A nível nacional, ocorreu em relação à quinta adaptação para novela do romance Éramos Seis,
de Maria José Dupré, como apontam Xavier e Redavam (2019):

Estreada no dia 30 de outubro, a novela homônima foi responsável por alavancar as


vendas do livro que a originou, publicado pela primeira vez em 1943. Dados da
plataforma Estante Virtual, que reúne sebos e livrarias, apontaram um crescimento
de 67% nas compras do livro somente no mês de outubro, comparando com janeiro.
Além disso, do total de aquisições da obra até o momento em 2019, 42% ocorreram
entre os meses de setembro e outubro, período da divulgação e início de veiculação
da novela.

Por meio dos longas-metragens e das séries, o povo capixaba passa a se enxergar nas
produções audiovisuais, onde se manifestam todas as expressões culturais do nosso Estado,
desde a polenta de Venda Nova do Imigrante ao congo da Barra do Jucu. Além disso, fomenta
a indústria audiovisual capixaba, com contratação de técnicos e artistas locais, e geração de
empregos indiretos nos setores secundário e terciário.
36

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve o objetivo de apontar os desafios que os escritores que produzem
literatura no Espírito Santo enfrentam após viabilizar a publicação de suas obras. Por meio
dos questionários aplicados aos escritores por e-mail e analisados à luz do referencial teórico,
foram constatados os desafios a seguir:
Dificuldades na distribuição nas obras de autores que produzem literatura no
Espírito Santo, por conta do desinteresse das livrarias de maior porte, que só compram
livros de editoras com mais de 150 livros no catálogo, um desafio para uma editora
independente, e as livrarias pequenas são penalizadas pelo fisco capixaba em virtude
de dois dispositivos do regulamento de ICMS se o livreiro der saída ao livro adquirido
por meio de nota fiscal avulsa.
Dificuldades na divulgação das obras e autores capixabas nos veículos locais. As
emissoras comerciais de rádio e televisão raramente fazem entrevistas com escritores
em seus programas, salvo se estes últimos forem considerados bestsellers ou terem
estreita amizade com os apresentadores ou produtores dos programas. À exceção do
Em Movimento, da TV Gazeta, não há nenhum programa em TV aberta que aborde
cultura, embora o programa em questão não aborde literatura. As emissoras, nos
minutos finais de seus telejornais exibidos às sextas-feiras ou sábados, apresentam a
agenda cultural do final de semana, mas não abordam lançamentos de livros, a não ser
que seja escrito por uma celebridade.
Os mecanismos públicos de financiamento da publicação das obras literárias
limitam-se tão somente na viabilização da publicação das mesmas, ficando por conta
dos autores a distribuição, divulgação e circulação dos livros. São raras as iniciativas
estatais para fazer que os livros cheguem aos leitores e não virem um monte de papel
empilhado debaixo das camas dos escritores.
Não obstante, existem iniciativas particulares e institucionais que têm contribuído
para dar mais visibilidade à literatura produzida no Espírito Santo e aos seus autores,
como o programa Viagem pela Literatura, da Secretaria de Cultura de Vitória, o Leia
Capixabas, coordenado por Anaximandro Amorim, os programas de televisão Sim
para a Literatura, da TV Sim e Dedo de Prosa, da TV Ales, além do blog Livros por
Lívia, de Lívia Corbellari.
No último capítulo, foram apresentadas propostas que possam dar maior visibilidade
à literatura produzida no Espírito Santo seja reconhecida aqui.
Para concluir, seguem algumas sugestões:
Aos professores de Língua Portuguesa: façam a apresentação dos escritores
capixabas, seja por meio de leitura coletiva das obras, seja com palestras dos autores
nos estabelecimentos de ensino, além de participar de eventos que promovem estudos
37

sobre os autores de nossa terra, como o Bravos, Companheiros e Fantasmas,


organizado pela UFES.
Ao Governo do Estado, a seu turno, através da SEFAZ: revogue os dispositivos que
penalizam os livreiros que dão saída de livros comprados com nota fiscal avulsa.
Ao Ministério Público Federal: considerando que as emissoras de rádio e televisão
são outorgas da União, é necessário que o parquet federal faça requerimentos de
informações às emissoras no tocante ao cumprimento do artigo 221, nos incisos I, II e
III. Caso não cumpram, que seja instaurado inquérito civil;
38

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TAVEIRA, Vitor. Literatura capixaba ganha espaço no YouTube. Vitória, 2020. Disponível
em: https://www.seculodiario.com.br/cultura/literatura-do-espirito-santo-ganha-espaco-no-
youtube. Acesso em: 4 mar. 2021.

VITÓRIA. Prefeitura Municipal de Vitória. Lei n. 3730, de 05 de junho de 1991. Diário


Oficial. Vitória. Disponível em:
http://camarasempapel.cmv.es.gov.br/Arquivo/Documents/legislacao/html/L37301991.html.
Acesso em: 4 mar. 2021.

VITÓRIA. Prefeitura Municipal de Vitória. Lei n. 9507, de 25 de abril de 2019. Diário


Oficial. Vitória, 03 de maio de 2019. Disponível em:
http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/Arquivos/2019/L9507.PDF. Acesso em: 4 mar. 2021.

ZANOTTI, Daniella. Literatura de luto: morre o poeta Miguel Marvilla. Gazeta On Line.
Vitória, 2009. Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/10/546923-
literatura+de+luto+morre+o+poeta+miguel+marvilla.html. Acesso em: 4 mar. 2021.
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APÊNDICE — QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS AUTORES

1 MARCOS TAVARES

TAVARES, Marcos. 2º QUESTIONÀRIO (TCC) by Maxwell Santos. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 14 abr. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
MT — Filho primogênito, na numerosa prole de Maria Luísa Silva Tavares e José
Tavares, embora parcos os recursos materiais, minha afeição pelos estudos fez-me aprender,
com o meu pai e as minhas irmãs, a ler já aos quatro anos e a escrever aos cinco anos de
idade. Elas, por logo perceberem o meu grande interesse, tiveram empenho em, nas suas
cartilhas escolares, me ensinar leitura. Dele herdei o hábito pela escrita e a insatisfação com a
realidade: voluntário, exercera atividade sindical. Um grande leitor, ele tanto me dispunha
jornais, revistas e livros, quanto me arguía a respeito de assuntos apontados por ele, em
especial os temas históricos.
De minha mãe e de minha avó assimilei gosto por fábulas e histórias que ambas
narravam. Oriunda de São Mateus (ES, 1933), mamãe, quando lá criança, deveria ser muito
observadora, pois trazia fartas reminiscências (folclore, causos) daquele lugar então ainda
com resquício de escravocracia. Minha avó, que, camareira de Tenório Cavalcanti (Duque de
Caxias-RJ), vivenciara o auge dele daquele mundo de coronelismo, trazendo a nós muitas
narrativas interessantes. Embora não alfabetizada, de parentes mais abastados (em Niterói, no
Estado da Guanabara) vovó trazia para minha casa muitas anacrônicas edições das
prestigiadas revistas O Cruzeiro, Manchete e Realidade, que eu avidamente lia de ponta a
ponta.
Um tio ex-Deputado estadual (Constituinte em 1946 e o 1º capixaba cassado com a
eclosão do Golpe Militar de 1964) supria-me com livros editados pelo MEC sob o Governo
Goulart: eram livros a respeito de movimentos nacionalistas de cunho libertário (Balaiada,
Farroupilha, Guararapes, Cabanagem, Revolta dos Alfaiates, Revolta dos Palmares,
Revolução Pernambucana, etc), o que despertou em mim um grande apreço por História.
Eu próprio, com economias próprias, na venda de recicláveis (ferro velho, cobre,
alumínio) coletados na rua, adquiria revistas em quadrinhos (da Marvel Comics) e bolsilivros
(guerra, espionagem). E, à essa altura, todos já sabiam que o melhor presente para mim
deveria ser sob a forma de papel impresso. Amigos tive que me possibilitaram mútuo
empréstimo de publicações.
Enfim, lia de Almanaque do Pensamento a fotonovelas, até descobrir as Bibliotecas
públicas (municipal e estadual). Fui um assíduo frequentador da Biblioteca Pública Estadual
quando estabelecida na Cidade Alta da Capital capixaba e, também, da Biblioteca do SESC
quando sediada na praça Misael Pena (Parque Moscoso).
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Com esse relato quero dizer que antes de ser um autor, primeiramente fui um grande e
mui interessado leitor: li de tudo (manuais, bulas farmacêuticas, tudo de qualquer jornal,
enciclopédias, almanaques).
Recordo-me que, por volta de 6 a 7 anos de idade, fervoroso eu lia jornal em alta voz
e, por isso, queria ser produtor de texto assim. A seguir, de tanto assistir ao icônico telejornal,
então apresentado por Gontijo Theodoro, Luiz Jatobá e Heron Dominguez, ante espectadores
infantis (da família ou vizinhas), sentado numa cadeirinha e diante de uma pequena mesa,
com notícias inventadas e redigidas por mim mesmo, entoando manchetes, eu simulava ser
um âncora do famoso Repórter Esso.
Ainda garoto (10 anos), motivado por leitura (um texto em prosa, de Viriato Corrêa), a
um cajueiro dediquei poema. Era um texto rimado e composto em quadras. Enalltecia a
frutifera árvore: uma apologia ecológica quando ainda não em voga essa prática. [risos]
Em 1969, na ETFES, em Jucutuquara, emblemática professora de Português, D.
Isaltina Paoliello, em Sala de aula, leu em alta voz uma redação. Identifiquei o meu texto.
Bem tímido e lacônico, fui me abaixando, querendo esconder o rosto, morto de vergonha.
Imaginei que fosse ela reclamar da ficção toda que, desrespeitoso de seu douto saber, eu tivera
o descaramento de inventar em torno do tema “A Influência da TV na Vida Moderna”.
Mas, ao contrário, após a leitura, relatou a Mestra virtudes várias naquele texto
gestado em plena Sala. Tanto inventei situações com o uso e sobretudo com o abuso de tevê
nos lares quanto ousei inventar o nome do inventor do aparelho [ foi um suceder de
aprimoramentos técnicos, não uma obra de autor único]. Depois disso ela passou a me
observar: chamou outros professores para me espiarem, e eu todo mudo e envergonhado,
sempre querendo esconder o rosto.
Ainda nessa idade (11 a 12 anos), na minha rua eu criei uma espécie de teatro
espontâneo: texto ia fluindo e eu ia interpretando, diante de colegas participantes ou mesmo
embaraçados diante daquela “performance”.
Nessa mesma fase, também adepto do desenho e aficionado pelas edições comics da
EBAL, quis eu ser autor de história em quadrinhos (HQs); depois, de bolsilivros quais os da
Editora Monterrey. Cheguei a enviar palavras cruzadas para a revista Realidade; essa, em
nível nacional, uma precursora do New Journalism.
Em idos entre 1975 e 1976, na angústia de realizar-me escritor a qualquer custo,
busquei no suplemento A Tribuna Jovem, do jornal A Tribuna (Vitória,ES), o lugar que desse
vazão à minha verve poética que, copiosa, então jorrava. Manuscritos enviados por via postal
caíram nas graças do editor Antônio Carlos Neves. Embora sem nos conhecermos face a face,
ali, nas domingueiras edições, acabei conquistando um lugar quase. Tamanha a assiduidade,
cheguei a receber cartas de grupo de adolescentes, sobretudo de Nova Venécia (ES):
acreditando eu fosse um escritor bem mais maduro e. grande amigo do editor [risos],
solicitavam a mim orientações várias, sempre a respeito de Literatura. Se isso já poderia ser
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visto como reconhecimento, também me preocupava, pois, assim, maior responsabilidade


pesava sobre meus ainda juvenis ombros.
Meu contato com a emblemática revista ESCRITA, de São Paulo, fez-me aqui uma
espécie de correspondente daquela publicação. Enviei textos e recebi elogios sobretudo do
editor Wlady Nader. Dificuldades financeiras interromperam a aventura editorial e, assim,
dois (2) poemas meus, então selecionados em concurso (“Poemas Brasileiros”), não puderam
ser ali publicados.
Já estudante na UFES (primeiro, Matematica, 1980; depois, Economia, 1982),
afinidades literárias facilitaram em muito o meu ingresso em um seleto grupo de literatos: o
Grupo LETRA. Então integrado por estudantes (Miguel Marvila, Oscar Gama Filho e eu) e
por professores universitários (Renato Pacheco, Luiz Busatto, José Augusto Carvalho e
Reinaldo Santos Neves), às próprias expensas passamos a editar a revista LETRA, que
perdurou por sete (7) edições. Generosos, no número inaugural dedicaram aos meus textos
55% do espaço gráfico. Eu saía do ineditismo, passava a ser conhecido até fora do ES, pois a
revista recebeu cartas e menções de diversos especialistas, críticos e personalidades
bibliófilas: entre esses, Rubem Braga, João Felício dos Santos.
Então morando no sudoeste do ES (Dores do Rio Preto e, depois, Guaçuí), por
Sandra Medeiros (editora, jornalista, designer gráfica, professora) fui convidado a publicar em
revista de circulação nacional. Junto com Waldo Motta sou um dos capixabas com maior
presença nessa icônica revista Imã, nacionalmente muito elogiada, que a nós conferiu grande
visibilidade. Cheguei a ser, numa dada edição, coeditor, pois Sandra costumeirante submetia
ao meu crivo crítico os textos pleiteantes a ali figurarem. E nessa brilhosa e brilhante e
sofisticada revista publicaram renomados artistas: de Paulo Leminsky, Caetano Veloso,
Antônio Cicero, a Haroldo de Campos, a Carlito Azevedo, a Kátia Bento. Afora a ruidosa
receptividade a cada lançamento, repercussão teve até no Exterior: Catalogada na Biblioteca
da Universidade de Austin (Texas/ EUA), ela pode ser lida por estudantes interessados em
literatura contemporânea brasileira; arquivada na Biblioteca da Universidade da Flórida
(EUA), onde, nos anos 90, foi motivo de seminários.
Assim, tanto a revista LETRA quanto a Imã, dada a importância de ambas, incutiram
sobre mim uma responsabilidade ainda maior: já agora não era mais um diletante, mas alguém
a administrar uma trajetória nas Letras (um “diletrante”, costumo dizer).
E esse percurso, não uma carreira, está bem descrito num prólogo [ Prólogo Mais ou
Menos] que faço na segunda (2.ª) edição de meu livro de contos, o “No escuro, armados”.
2)Que escritores influenciam seu processo criativo?
MT— No meu caso, todos os autores que li, de certo modo exerceram sobre mim
indeléveis influências. Inicialmente, pela singular visão de mundo que a mim possibilitaram.
A leitura de suas obras deram-me a certeza de que na Literatura estava um mundo mágico,
encantador, sedutor. E eu também quis experimentar essa aventura propiciadora de prazer
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estético, de evasão da realidade, de catarse.


Quanto ao processo criativo propriamente dito, depois que superei a fase romântico
típica de todo literato pré-adolescente, de imediato fui seduzido pelos autores de texto mais
enxuto, sem muito (ou nenhum) derramamento emocional. Assim, Drummond e João Cabral
deram-me direção. Logo a seguir, Cassiano Ricardo impressionou-me com a polissemia e as
invenções verbais. E coincidiu que, numa antologia poética [organizada por Afrânio
Coutinho], descobri Mário Chamie e sua proposta práxis, com a qual muito me identifiquei,
pois eu, já com perfil formalista, fazia um prévio levantamento semântico consoante o tema
da poesia ou da prosa. A ainda que árida proposta de poesia concreta dos irmãos Campos e
Décio Pignatari, fez-me refletir muito: cheguei a compor poemas [ “Poluição” já estudado
num TCC, por André Macedo, e por ele apresentado no seminário “Bravos Companheiros e
Fantasmas”, é um bom exemplo disso]
Não devo ocultar que, em contato com o boom do conto, eclodido nos anos 70, a
tragédia urbana e a concisão de Dalton Trevisan muito me impressionaram: maioria dos
autores primavam por tematizar a opressão governamental, a violência urbana, os conflitos
advindos do capitalismo selvagem. A contística de um capixaba genial, Fernando Tatagiba,
por sua temática e por certa ousadia, já me despertavam atenção muito antes de nos tornamos
grandes amigos. Contudo, a meu ver, procurei os meus próprios caminhos, dando ênfase
sobretudo no levantamento semântico, na polissemia, no neologismo, na melopeia, na
economia verbal.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
MT—A falta de um pulsante público leitor, a não garantia de que o trabalho será
devidamente recompensado, a precariedade de pontos de venda que disponibilize o produto
(em última instância, livro é produto para ser comercializado; um produto de mercancia), são,
no meu entender, uns bloqueadores de uma compulsão escrevedora que seria ainda maior.
E um literato, porque prescinde de uma colocação no mercado de trabalho, não dispõe
de tempo para o mister mercantil. A outra parte do tempo deveria ser para a criação literária,
para a pesquisa. Ou se é escritor ou se se transforma num vendedor. Conheci outrora, quem
fizesse isso: os dois papeis. Eram noutros tempos: fim dos anos 70 e início dos anos 80. Um
período da mimeografia.
Poetas, Benilson Pereira e Miguel Marvilla vendiam de mão a mão, em bares, os seus
livros mimeografados e grampeados. Amigo dos dois, se os acompanhava na noite, por
amizade e sobretudo por curiosidade, nunca quis eu a precária qualidade do texto
mimeografado nem quis vender nada se fosse para ter contato direto com o público. Se
escrevo por vontade própria, por impulsos, é muito devido a autorreclusão (eu pensava): a
timidez induzia-me à reclusão, à sozinhez, logo, seria um contrassenso estar ali lidando
diretamente com um público ainda que ledor (concluía eu). Antes mesmo dessa década de 80
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eu um radical plantonista (adepto do Mundo das Ideias propugnado por Platão), pensava ser
uma até heresia o comercializar algo que fosse imaterial, espiritual, ideológico, qual o era,
para mim, a poesia.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
MT—Tanto a falta de uma política de efetiva distribuição quanto a precariedade
numérica de livrarias induziram a deixar livros para venda em consignação, o que pela
desorganização do empresário e do próprio autor, raramente garante retorno em termos de
acerto de contas. Já houve livraria que fechou portas e sequer me devolveram exemplares lá
deixados.
Maioria das livrarias locais quer apenas expor livro que esteja na lista best seller,
jamais se arriscando a ocupar estante com título de autor nativo ou aqui estabelecido. Tivesse
que viver de venda de livros eu passaria fome. Literatura não dá camisa. Talvez, sim, camisa-
de-força: por conta das contas que chegavam, dada a inadimplência, já vi literato quase
enlouquecendo. Ainda tomarei coragem para vender livro em praias: um projeto sempre
adiado, verão após verão. Um dia, os praianos ainda verão isso: não sei quando. [risos]
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
MT—De autoral possuo apenas dois títulos (GEMAGEM e “No escuro, armados”) e
no tocante a jornais, não posso reclamar da receptividade desses. GEMAGEM teve página
inteira de caderno cultural, em exegético artigo de Waldo Motta. Já o “No escuro armados”
obteve notas, comentários aqui e ali, sempre na imprensa escrita. Já nos veículos de massa,
que vc cita (rádio e TV), fui entrevistado num pioneiro programa [ TV RCA] no gênero:
Anaximandro Amorim o apresentador, em duas (2) ocasiões conversou comigo a respeito de
minha Literatura. A duas (2) emissoras de rádio já fui convidado para conversar a respeito de
minhas Letras: Rádio Universitária e Rádio e CBM (radio Clube da Boa Música). Uma,
entrevistado por Gilson Soares, em idos dos anos 80; outra, em 2019, por Oswaldo Oleare e
Ítalo Campos. Em TV, na outrora TV Espírito Santo e na TV Vitória, também nos idos anos
80, quando sequer tinha eu livro publicado. Ainda nessa época, um diminuto texto produzido
em oficina literária, porque constante no livro “Ofício da Palavra” (UFES), figurou como
questão (nº 5) no vestibular de Língua Portuguesa, em 1994. Com certo humor ou amargor
[risos], reclamo que apenas uma única vez fui convidado para a Rádio Universitária, da
UFES, entidade de ensino bem constante em minha trajetória literária. E muito menos pela
TV da Assembleia Legislativa, em seu programa “Dedo de Prosa”, quando lá até repetem os
entrevistados. Expusessem lá capa de meus livros ou citassem trechos deles já seria uma
interessante divulgação. Importante é a obra: mais que o seu autor.
Uma verdade deve ser dita: imprensa, qual modalidade seja, não corre atrás de escritor
que esteja fora do eixo Rio-São Paulo. Em verdade, querem que o autor os procure, por vezes
ofertando a obra e contando com um bom “pistolão” (na atualidade, este recebe pomposos
46

nomes: assessor de comunicação, manager, publisher etc.).


6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
MT—Sim, escolhido por concurso [Concurso OFF FLIP 2018] para participar da
Coletânea de Contos, obtive o direito de um trabalho meu (“De Caprídeos”) figurar na
publicação e, assim, ter conseguido visibilidade. Antes, com a 1ª edição do livro “No Escuro
Armados” (FCAA-UFES/Ed. Ânima, 1987), já obtivera notas aqui e ali, sendo que a maior
repercussão deu-se por intermédio de cartas a mim destinadas [ainda não havia a
democratização pela Internet]. E uma das que mais me honra é uma de Fausto Cunha, ex-
crítico literário da revista Veja (Ed. Abril), pois esse, segundo se sabe, era temido até por
Clarice Lispector [risos]. Também enquanto coautor de livro (Uma, Duas, Três Histórias
Infantis, UFES, 1989), naquele ano considerado “altamente recomendável” pela FNLIJ, tive
lá um conto (Fadações), já premiado em concurso da UFES sendo alvo de citação. Esse
mesmo texto foi objeto de arguto estudo crítico por Yan Brandemburg Siqueira, então
estudante de Letras (Ufes), por ocasião de um seu TCC. No primeiro número da revista
eletrônica “Fernão” (Neples/UFES) a Drª Jô Drumond publica resenha acadêmica a respeito
de meu livro de contos (“No escuro, armados”, Ed. Arte da Cura, 2ª ed., 2017). Esses estudos,
porque circulam no ciberespaço (WWW= World Wide Web), estão acessíveis a todo o
planeta.
Anteriormente [ resposta à pergunta 1] eu falara da repercussão das revistas LETRA e
Imã: literatos de outras plagas, e com renome nacional, opinaram favoravelmente a respeito
de textos meus: um deles foi Manoel de Barros.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
MT—Inscrito num Edital da SEDU, em 2014, no 1.º Governo sob Renato Casagrande,
tive escolhido pela Comissão Avaliadora o livro GEMAGEM (poemas, Flor&cultura, 2005).
Embora o resultado positivo já oficializado, até o presente momento não se cumpriu a tal
aquisição [ 1.200 exemplares].
Recentemente, com o atual Secretário (Fabrício Noronha, da SECULT) esteve reunida
uma grande turma de contemplados e, pelo que eu soube, houve promessa de concretizar-se a
compra contratual.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
MT—Já publiquei em jornais (a Tribuna, A Gazeta), mensários (Ação Fiscal), revistas
(Imã, Letra), livros (coletâneas diversas). Atualmente tenho feito um bom uso da rede social
(Facebook, no meu caso). A partir daí os meus textos, vez ou outra, despertam interesse,
redundando em que, sobre um ou sobre outro, se debruce um estudioso, assim rendendo
estudos (ensaios, comentários, resenhas). Waldo Motta e Jô Drumond, em revistas acadêmicas
(MOSAICUM FERNÃO, respectivamente), já publicaram ensaios enfocando-os.
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Quanto as minhas obras inéditas (contos, poemas), opto por participar de concurso
literário, sobretudo os de âmbito nacional, o que me já garante tanto uma leitura por parte de
isentos e atentos críticos quanto a chance de ser remunerado, se premiado for.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
MT—Toda vez em que formulem convite, faço esforço para atender, lá comparecendo.
Assim, Chamada para publicação, Edital, Sarau, mesa-redonda, palestra, (re)lançamento,
conversa em escolas.
Mais especificamente, participei de todas as Feiras Literárias já promovidas no ES,
desde aquelas organizadas pelo hoje extinto DEC (Depto. Estadual de Cultura).
Seja com (re)lançamentos ou com conversa quadrada em mesa-redonda ou mesmo
bate-papo redondo em mesa quadrada, assim já participei dos seguintes bem concorridos
eventos:
Seminário “Bravos Companheiros e Fantasmas” (UFES), Café Literário (SESC), Café
com Letras (Shopping Norte Sul), projeto “Viagem pela Literatura” (PMV), projeto “Encontro
com o Escritor” (PMV), Bate-papo com o Autor (BPES), Projeto “Academia vai às Escolas”
(SECULT/Academia Espírito-santense de Letras¬¬ - AEL), Feira Literária Capixaba (AFESL
/AEL - UFES).
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
MT—Quanto a divulgação, nos idos anos 80, por intermédio do já citado DEC, recebi
convite para participar de alguns eventos (Feira do Livro, bate-papo). Em concursos literários
promovidos pelo Estado e pela Prefeitura de Vitória, e aí também incluo a União (aqui
representada pela UFES), por ter obtido distinção, até com premiação remunerada, estive em
solenidades que, de certo modo, tanto garantiram visibilidade quanto divulgaram autor e obra.
Não posso omitir a ocasião em que a SECULT (então dirigida por Neusa Mendes), por
intermédio de um tal Setor de Humanidades (chefiado por Erly Vieira Jr.) nos idos 2005 e
2006, após seleção, contratou (com cachê) não apenas a mim, mas, também a toda uma
plêiade (Sérgio Blank, Waldo Motta, Orlando Lopes, p.ex), para, sobretudo no interior do ES,
ministrar Oficina de Produção de Textos, uma série de pelo menos dez (10) encontros com
estudantes secundários da rede pública estadual. Foi um só sucesso! No meu caso, estudantes
no sudoeste capixaba (Guaçuí e Dores do Rio Preto), revelaram-se grandemente interessados
e prolíficos, assim aferido o mui proveitoso aproveitamento.
Maior apoio existe na produção, com os Editais de Cultura (SECULT-ES, Lei “Rubem
Braga”, Lei “Chico Prego”). Graças a esses dois últimos Editais, respectivamente pelas
Prefeituras de Vitória e de Serra, é que pude publicar boa tiragem de meus livros de poema
(GEMAGEM) e de contos (“No escuro, armados”).
Maior difusão de nossas Letras dá-se por intermédio do bem premiadíssimo Projeto
“Viagem pela Literatura” (PMV), capitaneado pela bibliotecária Elizete Caser. Essa mesma
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Prefeitura (PMV) produz a série “Escritos de Vitória” que, anual, conta com participação de
vários autores. Sou um dos mais assíduos dessa série. E as coletâneas, já no lançamento, são
distribuídas a pessoas presentes e, também, a entidades, escolas públicas etc. Também essa
biblioteca municipal leva adiante um outro projeto, intitulado “Conversa com o Autor”, a que
por duas (2), convidado, compareci.
Posso dizer que, extensão do Estado e da Prefeitura, bibliotecas fornecem,
gratuitamente, espaço para eventos literários (lançamentos palestras bate-papo, emposse
acadêmica, roda de leitura, saraus, etc).
Atualmente sou membro de uma Associação de Escritores, capixaba, que visa a
difusão de obras dos associados.
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2 MARCOS TAVARES - ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS

TAVARES, Marcos. 2º QUESTIONÀRIO (TCC) by Maxwell Santos. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 14 abr. 2020.
1) Como era o acesso às oficinas de criação literária da Deny Gomes?
Antes, é necessário recompor um pouco da História. Criada em 1978 a Fundação
Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), e vinculada à Ufes, teve aquela por principal objetivo a
instalação da imprensa universitária. E repôs em circulação a Revista de Cultura da Ufes, que
possuía um viés algo jornalístico. Também, nos áureos anos 80, efervesciam na Ufes muitas
manifestações literárias: eu próprio , então lá estudante de Matemática, participei de algumas
publicações (coletâneas do Diretório Acadêmico do Centro de Estudos Gerais , o DA-CEG) e
do I ENEL ( Encontro Nacional de Estudantes de Letras, em que, com Miguel Marvilla
,declamei poemas de minha autoria). E, para dar vazão a essa grande demanda de literatos, em
1980 houve realização do II Concurso Universitário de Contos, com promoção da
Coordenação de Literatura da Sub-Reitoria Comunitária da Ufes, dirigida pela profª Deny
Gomes ( Teoria Literária).
Sob formato de livreto, como encarte da Revista de Cultura Ufes nº 19, divulgou-se
coletânea, sob aquele título, com textos dos contemplados no aludido certame. Convém que, a
esse respeito , melhor se leia no capítulo A Modernidade já clássico ensaio “Mapa da
literatura brasileira feita no ES”, de Reinaldo Santos Neves.
Deny Gomes era pessoa bem acessível, dinâmica, falava a linguagem dos estudantes,
exercia sobre esses uma influência carismática, ideológica até (havia, sobretudo, a
reivindicação libertária, antiditadura militar), trazia renomados escritores para palestrar.
Assim, afora os tantos professores que eram também literatos, havia no contexto do corpo
discente um fértil campo para as Letras. Cadernos culturais e revistas literárias faziam
fervilhar ainda mais o caldeirão de pulsantes ideias. E Deny Gomes soube canalizar todo esse
emergente potencial. Realizou, com muito sucesso, já uma Oficina de criação de texto em
1981. Era um espaço aos moldes de uma Oficina de Criação de Texto, ministrada por Geir
Campos e Antônio Torres, de que ela participara em 1978, no Museu de Arte Moderna,
quando mestranda lá na PUC -RJ.
Assim, o acesso a aquela sala de criação, então contígua à sala da Sub-Reitoria
Comunitária, próxima ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), se não era informal, pois
havia que se ter o compromisso com frequência, era algo bem natural, independente de qual
Curso fosse. Haviam estudantes oriundos dos mais diversos cursos (Medicina, Comunicação,
Artes, Direito, Psicologia, Letras e Matemática). Sob patrocínio do MEC, e coordenado por
Deny, o I Seminário de Produção do Texto Literário realizou-se de 19 a 23 de outubro de
1981, envolvendo 20 universitários da Ufes e de instituição de ensino superior do interior do
Estado (Ivan Castilho, p.ex., era da Faculdade de Direito, de Colatina-Es).
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Acessível a alunos de diferentes matizes étnicos, ou socioeconômicos fossem, o


projeto de criação literária foi um sucesso. Nele, oficinandos escreveram, leram e debateram
textos seus e de outrem , assistiram a conferências, visitaram gráficas para acompanhar
processo de publicação de livro. Ao fim da primeira (1ª) oficina, eles produziram, analisaram
e selecionaram textos, o que redundou num volume em livro: OFICIO DA PALAVRA
(FCAA, 1982).
2) Quem esteve nestas oficinas?
Na primeira oficina, de que participei, participaram, com publicação no referido livro
OFICIO DA PALAVRA: Ivan de Lima Castilho, Virginia Albuquerque, Flávio Sarlo, Gustavo
Haddad, Gisela Herkenhoff Mesquita, Emílio Gozze, Regina Parreiras Vieira, Mária Santos
Neves, Waldeir Lopes, Júlio César dos Santos, Denise Parreiras Vieira e Marcos Tavares. [
Um conto meu , Autorretrato, aí publicado fora objeto de uma questão de Vestibular de
Língua Portuguesa, em 1994.]
Já na segunda, redundou no livro Traços do ofício (1983), do qual participaram
Waldo Motta, Paulo Roberto Sodré, Francisco Grijó, Anilton Trancoso, Marise Palhano, p.ex.
E houve uma terceira (3ª), de cujos participantes pouco sei.
3) É verdade que quem participava de tais oficinas conseguia publicar seu livro
na editora da FCAA?
Não. Não é verdade. Participar da coleção Letras Capixabas não tinha como condição
sine qua non a frequência a qualquer evento dessa natureza. Tão verdade é que Adilson
Vilaça, que jamais participou dessas oficinas, fez-se presente já no volume 12 da referida
coleção, com A possível Fuga de Ana dos Arcos (contos). Fora ele, então aluno de
Comunicação, o vencedor do II Concurso Universitário de Contos (1980). Igualmente
contemplados nesse concurso, fomos Miguel Marvilla (2º lugar), Ivan de Lima Castilho(3º),
Debson Jorge Afonso (menção honrosa) Sebastião Lyrio (idem) e eu (idem).
Tanto havia muito desejo e vaidade de se publicar na então nascente editora da FCAA
quanto havia um rigor editorial. Vi de bem perto isso, pois, por acaso das circunstâncias e por
afinidades literárias, acabei sendo estagiário da Editoria, ali atuando de 1982-1984, até que
fosse aprovado em concurso público, indo cumprir ofício no interior do ES.
Ivan Castilho publicou o Deus do Trovão (contos, volume 36), cuja orelha escrevi.
Paulo Roberto Sodré teve publicado Interiores (poemas, volume 15), que também orelha
escrevi.
Debson Jorge Afonso, que foi o volume 27 (Batendo na porta errada, contos), jamais
fez oficina. Também Miguel Marvilla, que oficina não fez, publicou Os mortos estão no living
(contos, volume 35). Já eu, com o volume Vintecontos, havia também obtido menção honrosa
no Concurso “Geraldo Costa Alves”, publicado, com acréscimos, como No escuro, armados
(contos, volume 26). Sebastião Lyrio teve lançado o Nada de novo sob o neón (contos,
volume 34).
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Também porque premiados em concurso promovido pela FCAA, fizeram jus a edição:
Francisco Grijó , com seu Diga adeus a Lorna Love (contos, volume 29); Miguel Marvilla,
outra vez, agora com Lição de Labirinto (poemas, volume 39); Paulo Roberto Sodré com
Lhecídio-Gravuras de Sherazade na penúltima noite (poemas, volume 37).
Waldo Motta, então aluno de Comunicação (Ufes), se oficinando fora, já era um nome
bem festejado pela crítica literária, tal qual o Sergio Blank, sequer aluno e sequer oficinando:
o primeiro teve na coleção o Eis o homem (poemas, volume 30); o segundo, o Pus (poemas,
volume 25).
Dois outros, se alunos eram (Oscar Gama Filho e Gilson Soares), não possuíam
vínculo com aqueles espaços de escrita; ambos autores, respectivamente, de O despedaçado
ao espelho (poemas, volume 28), e de Rosa-dos-ventos (poemas, volume 18).
Assim, estar na prestigiada coleção Letras Capixabas, naqueles tempos de precário
parque gráfico-editorial, não era uma exclusividade de participantes de oficinas ministradas
pela Ufes ou por Deny Gomes.
Aliás, essa professora e também literata, somente fora publicar muito depois, em 1988:
O desejo aprisionado (poemas, volume 33).
Muitos outros, jamais participantes daquelas, publicaram na citada coleção: eram
nomes já nacionalmente destacados (Rubem Braga, Geir Campos, José Carlos Oliveira.
Mendes Fradique), ou pelo menos em nível do território capixaba (Renato Pacheco, Elmo
Elton, Audifax Amorim, Fernando Tatagiba, Bernadette Lyra, Reinaldo Santos Neves, Luiz
Guilherme Santos Neves, Luiz Busatto, Roberto Almada, Amylton de Almeida, Carlos
Chenier).
Há até reedições de obras cujos autores já são falecidos : Cantáridas e outros poemas
fesceninos ( Paulo Velloso e outros, volume 20) , A baixa de Matias (Azambuja Suzano,
volume 31).
Uma lista completa dessa coleção, citando título, autor, gênero e ano de publicação,
poderá ser visualizada no clássico estudo A Modernidade das Letras Capixabas (por Francisco
Aurélio Ribeiro, FCAA, pp.59 -60), que analisa criticamente grande parte das obras.
No tocante a esse assunto, a estudiosos de nossa Literatura, sempre recomendo
consulta ao primoroso trabalho intitulado Oficina Literária de Escrita Criativa, uma
dissertação de Mestrado (Letras, Ufes, 2016) elaborada por Yan Patrick Brandemburg
Siqueira.
Como vimos, daquele primeiro volume resultante de Oficina, O Ofício da Palavra,
dos então 12 nele publicados somente tiveram livro autoral o Flávio Sarlo, o Ivan Castilho e
eu.
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3 FELICIA SCABELLO SILVA

SILVA, Felicia Scabello. Respostas TCC . Mensagem recebida por


<sanmaxwell@gmail.com> em 01 nov. 2019.
1)Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritora?
Sou escritora desde os 13 anos por gostar das matérias de Geografia e História, iniciei
com poemas e em 2009 comecei a produzir crônicas. Lancei em 2014 “Coletânea 30 Anos de
Poesias.” Além de ser escritora, sou revisora de textos revisei as obras: “Fevereiro Sangrento”
e “Orfanato Jesus Cristo Rei – do Sacrifício à Ascensão” do autor Marcos Bubach. “A Vida
em Minha Aldeia” da autora Maria Izaura Libardi Davel. Sou Membro Efetivo da Academia
Literária Castelense e Membro-Correspondente das Academias Cachoeirense, Cariaciquense e
Iunense de Letras.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Os antigos trovadores portugueses, Castro Alves, Clarice Lispector e Carlos
Drummond de Andrade, entre outros, pois as influências vão surgindo ao longo do tempo.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Os desafios são o alto custo das publicações, a falta de interesse da Administração
Pública em divulgar os escritores locais, porém no mercado literário, algumas editoras estão
sendo criadas para amenizar os custos das produções literárias.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
A oferta entre os conhecidos, divulgação em redes sociais, participação em feiras
literárias, visitação em escolas e outros órgãos públicos.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Minha obra tem sido divulgada por meio das redes sociais, recentemente dei entrevista
para um canal no Youtube “Papo com o Escritor” do escritor Luciano Máximo, e foi bem
recebida.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não, porém minha obra chegou ao Rio de Janeiro e Paraná por haver parentes nestes
estados.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Não ofereci aos programas governamentais, prefiro divulga-la pessoalmente.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Publico por meio de gráficas e redes sociais.
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9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feira Literária Capixaba, Feira Literária de Cariacica, Congresso Brasileiro de Poetas
Trovadores e Bienal Rubem Braga, que acontece nos anos pares.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
É um apoio razoável, porém existe sim, poderia ser melhor.
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4 REINALDO SANTOS NEVES

NEVES, Reinaldo Santos. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba - Reinaldo
Santos Neves. Mensagem recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 13 nov. 2019.

1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Desde criança. Comecei a escrever historinhas e nunca mais parei.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Como minha temática é muito variada, as influências também são. Petrônio foi uma
óbvia influência para escrever A ceia dominicana. Borges, para A longa história. Richard
Hughes, para As mãos no fogo. Thomas Mann, para A crônica de Malemort. O ciclo do Graal,
para Blues for Mr. Name. Mas são influências pontuais, nada que sugira imitação, seja em
linguagem, seja em urdidura da história. Se há pontos de contato com a linguagem de
Guimarães Rosa nos contos de Má notícia para o pai da criança, isso acontece por acaso ou
coincidência, porque desde cedo evitei ler Rosa justamente para não me deixar influenciar
pelo estilo dele.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Não penso nesses termos. Não vivo de literatura, portanto meu único desafio é comigo
mesmo.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Há muito tempo já desisti de ir atrás de editores fora do estado. A Bertrand Brasil
publicou dois de meus melhores romances, cada um com mais de 300 páginas, mas pouco
interessaram a críticos, resenhistas de jornal e leitores em geral. Tive boa receptiva da parte da
Patuá, de São Paulo, que, porém, trabalha com tiragens pequenas. Hoje estou satisfeito por
publicar em Vitória mesmo. Como disse, não espero retorno financeiro de meus livros.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não leio jornais, nem ouço rádio, nem vejo televisão.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Poucas vezes. No Rascunho, de Curitiba, às vezes ganho espaço lá. Ressalvo, porém,
que também não envio exemplares de meus livros para a mídia impressa ou online fora do
Estado.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Recentemente, um livro infantil.
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8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Alguns textos inéditos em livro estão disponíveis online no site Estação Capixaba,
que, por sinal, depois de vinte anos divulgando tudo sobre este Estado, sem qualquer retorno
financeiro, ou seja, trabalhando de graça por amor ao Estado, desistiu de inserir novos
conteúdos.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Se isso se refere a feiras de livros, não participo. Evento literário para mim são os
eventuais lançamentos de obras de minha autoria.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Parece que vão continuar os esforços da Prefeitura de Vitória e do Governo do Estado
via editais. Estou por fora porque não pretendo me inscrever.
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5 BERNADETTE LYRA

LYRA, Bernadette. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 30 julho. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando a senhora se percebeu
escritora?
Desde muito cedo. Sempre amei ler e escrever.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Difícil apontar alguns. Tudo o que se lê se torna parte da gente.
3) Para a senhora, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
A distribuição é a parte mais espinhosa de todo o processo literário.
4) Que estratégias a senhora utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
R. As minhas editoras se encarregam disso. Mas não é fácil vender livros no país.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não tenho de que me queixar. Em geral a receptividade da mídia é generosa comigo.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Minhas editoras, em geral, não são do Espírito Santo, à exceção de meus dois livros
de estreia:” As contas no canto” e “O jardim das delícias”,( Fundação Ceciliano Abel/UFES)
e o livro de crônicas sobre minha cidade natal, Conceição da Barra, ou seja, “Água salobra”,
que foi editado pela capixaba Cousa.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Até aqui, nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio a senhora utiliza para publicar suas obras?
Nenhum outro meio.
9) Em que eventos literários a senhora tem participado para divulgar seus livros?
Feiras literárias em todo o país e no exterior.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Não conheço bem esta atividade, pois, como escritora profissional, sempre deixei com
as editoras a tarefa de divulgação e distribuição de meus livros.
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6 CHIRLEI VANDEKOKEN

WANDEKONEN, Chirlei. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 30 julho. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritora?
Eu sempre gostei de ler e uma coisa leva a outra. Eu não acredito em escritor que não
seja um leitor, se possível voraz. Eu não achava que seria escritora, nem sonhava com isso,
mas comecei a escrever quase por acaso, se é que existe acaso, e lancei meu primeiro livro, O
Vento de Piedade, em 2009, por uma editora já extinta. Não paguei um só centavo para lançá-
lo, mas não recebi um só centavo das vendas. Depois peguei gosto pela coisa, pois escrever é
um tipo de vício, vício dos bons. Então, escrevi Por Trás da Escuridão. Nessa época, por outro
acaso, eu montei a Editora Pedrazul (no site da editora tem a história dela) para ler Villette, de
Charlotte Brontë, que na ocasião, em 2012, não tinha tradução no Brasil. E lancei meu
segundo livro já na minha própria editora. E depois vieram vários.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
George Eliot me influenciou muito. Charlotte Brontë. Eu lia Jane Austen quando era
adolescente e, de alguma forma, devo ter sido influenciada por ela. Charles Dickens.
Rosamund Pilcher, etc, etc. Sempre tive adoração pelos autores clássicos ingleses, de onde
veio a minha formação literária.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Sinceramente, com o advento da Amazon, do e-book, hoje em dia não há desafio de se
publicar um livro em lugar nenhum do planeta, desde que tenha sinal de internet. A não ser o
talento, o suor, a dedicação do autor em escrever a obra. Na minha época, quando eu comecei,
não havia nada disso. Atualmente, um autor mediano, por exemplo, chega a tirar na Amazon
uma renda que, modestamente, daria para ele viver. Basta que ele escreva um bom livro
(alguns livros para tirar uma boa renda), invista em uma capa (coisa de 200 reais), coloque
este livro da Amazon (pelo KDP), faça parceria com blogueiros que poderão ajudá-lo a
divulgar o livro. Encontre seu público, se de romance de época, histórico, literatura fantástica,
etc. Todo mundo tem sua tribo na internet, basta achá-la. Ninguém precisa de editora hoje em
dia, isso acabou. Um autor nacional ganha muito mais se publicar sozinho pela Amazon, sem
custo, só talento. Eu fico muito feliz isso, pois agora basta ter talento. Se não sabe o caminho,
eu escrevi um e-book gratuito, está no www.chirleiwandekoken.com.br, de como escrever um
romance e como publicá-lo na Amazon.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Maxwell, o mercado funciona da seguinte forma: são as livrarias e as distribuidoras
que escolhem que livro, ou quais livros, elas vão querer em suas prateleiras. E em
consignação, com desconto de 55% a 60% do valor de capa. Portanto, não vale a pena colocar
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livro em livraria. Hoje em dia, com a internet, tudo mudou. Por exemplo: sou dona de uma
editora e lanço um livro meu. Sinceramente, eu prefiro vendê-lo no site da minha própria
editora, a fornecê-lo em consignação, com um desconto absurdo desse, apenas pela vaidade
de ver um livro meu numa livraria. Para quê? Eu já achei o meu público, ele vem atrás de
mim onde quer que esteja os meus livros. Vendo muito pela Amazon e minha receita já
chegou a ser muito maior na venda de E-book que de livro físico. Atualmente, porque eu parei
com algumas parcerias com blogs (são necessárias), a venda do livro físico está superior à
venda do e-book, isso devido o marketing da Pedrazul. Então, uma ótima estratégia para quem
não tem uma editora são as parcerias com blogs. Imprima poucos livros (no e-book gratuito
em explico isso) e os doe para os blogueiros. Eles gostam do livro em papel e de marcador
também.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Quando eu comecei e estava meio "deslumbrada" em ser autora de um livro (grandes
coisas rs. Tem mais autor que leitor nesse país), eu, como jornalista, mexi meus pauzinhos e
usei minha rede de contato. Consegui espaço no jornal A Gazeta, A Tribuna, TV Vitória, etc.
Mas porque eu sou do meio e tinha amigos. A mídia não tem interesse nisso. A mídia fornece
o que o público quer e ninguém (a minoria ínfima) quer saber de livro. Entendeu? É o
mercado, meu caro. Crime vende, morte vende, dá audiência, e os veículos trabalham pela
audiência.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Notinhas apenas, nada expressivo. Alguns jornais em MG, uma TV, pois dois livros
meus se passam lá.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhum. Nem tentei.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Amazon.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Já participei duas vezes da Bienal do RJ. Lancei livro lá, participei de mesa redonda de
autores nacionais, etc.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Que eu saiba, nenhum.
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7 JOVANY SALLES REY

REY, Jovany Salles. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 11 ago. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Muito cedo, ainda no final do então grupo escolar (hoje, primeiro grau), quando
comecei a escrever historinhas picantes para meus colegas em troca de gibis e ingressos para
matinês de cinema. Aos 11 anos, em Minas Gerais, ganhei o primeiro lugar em um concurso
estadual de redações e essa foi minha “oficialização” como escritor. Aos 15 anos, passei a
publicar uma coluna para adolescentes em um jornal de Alfenas, minha terra natal. Logo,
transformei-me em uma espécie de faz-tudo no jornal, redigindo desde horóscopo até
reportagens policiais. Ganhei concursos de contos e poesia, publiquei textos no então
prestigioso Suplemento Literário do Diário Oficial de Minas (onde Drummond começou) e
aventurei-me na dramaturgia, escrevendo peças para grupos teatrais mineiros, e no cinema,
roteirizando e dirigindo curtas em Super-8. Pulei, então, para o Rio de Janeiro, publicando
crônicas no Jornal do Brasil, no saudoso O Pasquim e em outros periódicos. Embora tenha
participado anteriormente de algumas antologias, meu primeiro livro solo lancei em 1983,
quando já morava há alguns anos no Espírito Santo, onde vim a publicar os demais e me
consolidei como roteirista profissional, dramaturgo e escritor. A carreira de roteirista,
especificamente, deslanchou após eu ter cursado a Oficina de Autores da Globo, que me
credenciou para trabalhar na emissora e, depois, na extinta TV Manchete.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Machado de Assis e Dostoiévski, no todo. Drummond, nos versos. Nelson Rodrigues,
Alcântara Machado e Rubem Braga, na afinação da escrita de crônicas. Érico Veríssimo e
Harold Foster, no processo criativo de sagas históricas. Guimarães Rosa, influenciando na
narrativa regionalista, uma das minhas marcas como autor. Erasmo de Roterdã, no emprego
da ironia. Pedro Nava, no memorialismo intimista. E, porque a SF e o realismo mágico são
presenças constantes em meus contos, grandes autores dessas áreas (Arthur Clark, Isaac
Asimov, George Orwell, Mary Shelley, Garcia Marquez etc.).
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
O nó principal nem está na produção, cujos obstáculos são contornáveis, mas no
consumo final. Há falta de leitores. Falta de apoio na divulgação das obras. Escassez de
pontos de comercialização. É impossível viver exclusivamente de literatura no Espírito Santo,
mesmo para os autores consagrados, como Bernadete Lyra, por exemplo.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Uso muito o esquema alternativo de venda direta em bancas de revistas. Feiras de
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livros e outros eventos literários. Sites. Redes virtuais. Parceria com livrarias, no sistema de
consignação, hoje mais restrito, devido ao fechamento em massa de livrarias. Meu manual de
roteiro cinematográfico, vendo muito durante mostras e festivais de cinema, bem como nas
universidades de todo o país, por indicação dos professores.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Na imprensa escrita, alguns jornalistas apoiam os escritores locais e sempre é possível
ganhar algum espaço para divulgação ou a inclusão do autor e/ou suas obras nalguma matéria
sobre literatura. Mas com exceção da TVE, é difícil, bem difícil, divulgar literatura capixaba
em nossas emissoras comerciais de rádio e televisão. Uma única vez, com intermediação de
uma assessora de imprensa, consegui uma pequena inserção fora do horário nobre, quando do
lançamento do meu romance “O Donatário”.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Isso já aconteceu algumas vezes, em periódicos cariocas, paulistas, mineiros e de
outros estados, especialmente em relação ao meu manual de roteiro cinematográfico “O Papel
do Cinema” e ao meu romance histórico “O Donatário”.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Meu livro “Causos de Vila Velha”, de crônicas, foi selecionado pelo Edital 2013 da
Secretaria de Educação do Espírito Santo, porém a compra ainda não foi efetivada.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Editei às minhas custas, no tradicional esquema de edição do autor, meus dois
primeiros livros, “Demônio de 33” (contos) e “Possibilidades” (poemas), respectivamente em
1983 e 1988. Outras cinco obras publiquei através de mecanismos das leis de incentivo
cultural (Lei Rubem Braga, de Vitória; Lei Chico Prego, da Serra; Edital da Secult/ES).
Também tive vários contos e poemas publicados em antologias organizadas pelos próprios
concursos que premiaram as obras. Finalmente, além de postagens pontuais em sites e blogs
de literatura, publiquei 203 crônicas em jornais do Espírito Santo e Minas Gerais, na minha
coluna de causos.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feiras literárias. Tanto no Espírito Santo, como em Minas Gerais e Rio de Janeiro,
com destaque para a FLIP, em Paraty.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Quanto à divulgação, existe esse apoio, sim, mas limitado somente às obras publicadas
através de seus editais de literatura, por ocasião do lançamento coletivo. Infelizmente, não se
divulga nenhuma obra em si, apenas o evento de lançamento e a listagem dos contemplados.
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É uma divulgação institucional e não propriamente literária. Quanto à distribuição, as


secretarias de cultura que promovem os editais, alegam reservar determinado número de
exemplares para distribuição em escolas e bibliotecas, mas os autores nunca acompanham
essa distribuição ou recebem quaisquer informações.
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8 RENATA BOMFIM

BOMFIM, Renata. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 02 set. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritora?
Eu sempre gostei de ler, desde menina, lia de tudo. Venho de uma família humilde e na
minha casa não tinha livros literários, a única lembrança que tenho é de um conjunto de livros
(uma enciclopédia) que meu pai comprou e eu me recordo de tê-los lido milhares de vezes. A
biblioteca foi o meu lugar preferido na escola. No primário, quando burlava alguma regra, a
professora me colocava de castigo na biblioteca e eu adorava. Comecei a vida como leitora e a
escritora foi se formando, lia e escrevia poesia, um dia resolvi compartilhar com outras
pessoas meus escritos, assim nasceu o Mina (2010), minha primeira obra publicada.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Acho que o primeiro poeta que mexeu comigo foi o Vinícius de Moraes, até o meu
encontro com Florbela Espanca que me abriu caminho para a poesia portuguesa e para a
poesia de Rubén Darío, que por sua vez me levou a ler outros poetas hispânicos. Bem
recentemente comecei a ler poesia contemporânea brasileira.
Além de Florbela, Darío, Hilda Hilst, Maria Lúcia Dal Farra, Camões, Fernando
Pessoa, Lídia Jorge, Maria Teresa Horta, entre outras, leio muito textos tradicionais indianos
(Vedas, Bhagavad gita, Yoga Sutra, etc.) e outros textos esotéricos do budismo, jainismo,
Sankhia, entre outros.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Uma pergunta de resposta complexa. Os desafios são muitos, certamente, a
dificuldade de ser lido dentro de casa é uma realidade. Os leitores capixabas, quando vão à
livraria, não encontram o meu livro, assim como não encontram a de muitos outros escritores
da terra. E as livrarias estão fechando. Há também, ainda e infelizmente. Vemos escritores de
obras não tão boas ganharem primeira capa do jornal de cultura e nós ralamos por umas linhas
no jornal. Há problemas na distribuição e na sensibilização do público para a literatura
produzida no ES. Mas, há um movimento de resistência na cidade e eu me orgulho de fazer
parte dele, vou as escolas falar sobre literatura, publico bastante na internet, e agora que
assumi a presidência da AFESL eu fiz um site para a instituição onde estou disponibilizando
obras de várias escritoras capixabas para download. O maior desafio é não desanimar!
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Como eu não alcancei a graça de viver de livro, não gasto muito meus esforços para
vender livros, eu me preocupo mais que as pessoas conheçam a poesia, pode ser apenas
acessando o site, por exemplo. Quando vou a eventos eu levo livros, vendo-os nos meus sites
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na internet, alguns são vendidos na estante virtual, outros eu vendo quando faço lançamento
ou relançamento.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Quando lancei a minha primeira obra, tive muita dificuldade para divulga-la, hoje que
alcancei alguma projeção é mais fácil, mas ainda é difícil (risos), essa “facilidade” a que me
refiro acontece em função do apoio de amigos jornalistas que dão aquela força e não pelo
desejo espontâneo da imprensa de fazer a informação sobre a obra chegar ao leitor.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Que eu saiba nunca. Sou lida na Espanha, pois, tive um tradutor para o castelhano por
cerca de sete anos e ele traduzia a ajudava a divulgar minha produção em sites e revistas de lá.
Em Portugal e em alguns países da América Central, tenho alguns leitores, muito em função
de ter participado de grandes festivais de poesia, ter feito amigos nesses encontros e a partir
daí, desenvolvido diálogos com esses polos produtores de cultura. Há também o Letra e Fel
(www.letraefel.com), minha revista literária que está on line desde 2007 e que me possibilitou
ser lida por pessoas de língua portuguesa e hispânica em todo o planeta, como mostram os
registros de visitação.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Apenas o Mina, mas não consegui esse feito sozinha, quem me convidou foi um
livreiro e de cada livro ele ficou com 40% do valor.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Internet.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Saraus pela cidade, feiras literárias, congressos e festivais literários.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Não!
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9 REGINA MENEZES LOUREIRO

LOUREIRO, Regina Menezes. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba.


Mensagem recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 31 out. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritora?
A profissão de educador ou de diretor de escola exige conhecimento apurado na arte
da escrita. Para exercer bem a profissão estamos sempre estudando e lendo muito. O ensinar
exige conhecimento prévio para interagir com o outro e demonstrar autossuficiência na
matéria discutida.
O saber prévio facilita o escritor na sua arte de transmitir conhecimento através da do
fazer literatura que é uma atividade criativa e de risco. Não há nenhuma garantia de alguém
gostar do que foi escrito.
Literatura para mim representa vontade própria e mais nada.
É uma postura de educador. Parece difícil, mas não é. É só saber usar os sentidos,
observar o mundo a nossa volta.
Todo talento pode ser muito ampliado com a prática.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Sempre observei e admirei outros escritores. Um bom escritor nos dá grandes lições
em rimas, criatividade. Hoje, o bom escritor pode ter feedback não só com outros escritores,
mas também com leitores, nas redes sociais.
O estilo individual vem da prática.
Quer escrever romance de época? Leia milhões de romances de época.
Decida quais são seus escritores favoritos, e leia todos.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
O sonho de se publicar um livro, às vezes, se torna um pesadelo:
1 – Você envia um livro para uma editora e espera meses pela resposta e recebe uma
negativa (não há nenhuma garantia de alguém gostar do que você escreve);
2-Aí, o escritor capixaba publica seus livros com recursos próprios ou por alguma lei
de incentivo à cultura, mas não há quem compre seus livros.
Considerando o seu livro ficou pronto, já armazenado em sua casa:
1- Se você não conseguiu apoio de uma grande editora, quem fará a divulgação? Sem
divulgação, a mercadoria fica estocada;
2- Se você publicou seu livro e não possui NF, não vai conseguir vendê-lo para
nenhuma livraria;
3- O Estado do Espírito Santo não possui editoras que façam todo o trabalho de
divulgação e venda;
4- A imprensa não é nossa aliada;
5- Como a literatura permeia as outras artes, digo que a cultura não recebe, ou é quase
nulo o apoio do poder público
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4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?


Escrevo por prazer e meus livros estão comigo e os vendo (quando vendo) em eventos
culturais que frequento. Mas não me sinto confortável em oferecer meus livros nestes
momentos porque fica parecendo uma competição entre amigos.
Tenho desenvolvido um trabalho de incentivo à leitura através de Projetos criados por
mim e desenvolvo em parceria com outros escritores:
Projetos que desenvolvo:
1- Feira Literária Capixaba;
2- Livro Voa;
3- Encontro Capixaba de Literatura;
4- Informativo cultural AS ACADÊMICAS.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas obras,
sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não percebo grande colaboração da imprensa em divulgar a cultura capixaba!
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação do
eixo Rio-São Paulo?
Não. Estou entre os que estão sem editora, com poucos ou nenhum colaborador, quase
nenhuma divulgação.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Apenas MEMÓRIAS DO BARÃO DE PERACANGA.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
1-CAMINHOS DE PURUMÉ e FAZENDA PORTELA foram publicados com
incentivo da lei Rubem Braga, da PMV;
2- ITAGUAÇU, PRIMEIRAS FAZENDAS AOS DIAS ATUAIS, incentivo de
colaboradores individuais;
3- Os outros com recurso próprio.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Regina: Depois da criação da FLIC-ES, em sua VI edição, sempre participo como
incentivadora de projetos realizados em outros municípios, sempre que sou convidada.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Muito pouco incentivo e às vezes quase nenhum porque não existe um projeto de
governo para a educação cultura com meta definida a ser alcançada.
ATENÇÃO: Qual escola possui biblioteca escola com bibliotecário?
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10 MARCOS BUBACH

BUBACH, Marcos. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 31 out. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Durante a faculdade na FAESA meu professor de língua português leu alguns versos
meus que até então estavam engavetados, achou interessante e passou a me incentivar.
Durante outra de suas aulas nos foi apresentado um soneto de Camões que faz parte da
música MONTE CASTELO da Legião Urbana, isso me despertou grande curiosidade, pois
sempre gostei dessa música, mas não imaginava a citações desse escritor nela. Isso me fez
passar a ler diversos outros escritores e consequentemente passei a escrever sob influência
dessas leituras. Com a ajuda da Lei João Bananeira de incentivo à cultura de Cariacica
consegui publicar meu 1º livro. Hoje já estou buscando apoio para publicar meu 8º livro.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Em época da minha vida de escrita foram Fernando Pessoa, Camões, Drummond...
Em outra época,Fiódor Dostoiévski, Nietzsche, Rubem Braga...
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Falta de apoio, de livrarias, de espaços para apresentar e vender nossos livros, cultura
de não leitor.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Parcerias com escolas, lançamentos em escolas e cidades do interior, presença em
vários eventos culturais com banca com meus livros,... Escrever sobre assunto que tenha um
público específico para ter já um produto direcionado a uma camada da população
interessada.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Meus últimos dois livros como tratam de assuntos de interesse da população capixaba
acabei conseguindo algumas matérias nos jornais (fui à busca dessas publicações). De forma
geral não há grande interesse dos jornalistas em buscar saber ou difundir o que produzo.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
OS MISTÉRIOS DO CASARÃO EM CARAPEBUS E A FUGA DE BERLIM. Esse
meu 4º livro alcançou diversos estados e fui convidado a lança-lo nesses. Estive no Rio de
Janeiro e Porto Alegre promovendo esse livro e recebi também convite para apresentá-lo em
Montevidéu no Uruguai (no Memorial al Holocausto del Pueblo Judio)
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
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A secretaria de Educação de Vila Velha adotará 3 livros meus: Pés Descalços, Quem
encontrará Bill e Orfanato Cristo Rei – Do sacrifico à ascensão.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Leis de incentivo à cultura de municípios e ajuda mútua com amigos e interessados na
publicação do material que tenho produzido.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Feiras literárias municipais e estaduais, BIENAL em Cachoeiro, lançamentos
diversos, eventos culturais diversos, FEIRA DO LIVRO em Porto Alegre...
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Na divulgação não. Na distribuição, que eu percebi, as secretarias de cultura como
ficam com parte da publicação dos escritores que participam de suas leis de incentivo, fazem
trabalhos de distribuição desses títulos em bibliotecas de seus municípios.
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11 LUIZ PAULO FAUSTINI

FAUSTINI, Luiz Paulo. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 08 out. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Desde criança quando a professora pedia para que fizéssemos redações livres, meus
temas sempre se voltavam para aventuras. A partir do momento que tive o primeiro contato
com RPG, decidi me tornar um mestre, um contador de histórias. A partir daí, minha paixão
por escrita aumentou até que lancei, de fato, minha primeira obra romanceada.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Dan Brown, pelo fato de misturar realidade com ficção de uma forma crível e rechear
suas histórias de mistérios. Michael Moorcock, por ser meu primeiro autor de fantasia lido
em minha vida, que me fez adentrar o mundo da literatura fantástica.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
No meu caso, por ser escritor de fantasia, vejo que o ES ainda tem muito o que
valorizar esse gênero, tanto por parte dos agitadores culturais quanto por parte da Secretaria
de Cultura. Não temos um editora que se interesse pela fantasia, ou mesmo um público cativo
que realize eventos periódicos voltados para o mundo fantástico. O escritor de fantasia
capixaba precisa se aventurar por outras terras.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Eventos e noites de autógrafo. A internet ajuda a vender bastante também, através de
posts patrocinados e presença constante no instagram produzindo conteúdo.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
A maioria não entende ou não se interessa. Em certo período, distribuí livros meus
para jornalistas falarem sobre minha obra. Ninguém a leu, resumindo-se a colocar no jornal
apenas o resumo do que eu já tinha dito, mas com suas próprias interpretações. Salvo alguns
que reconheceram o trabalho, no geral, a divulgação no ES de literatura fantástica é pífia.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Sim, não por parte de jornais, mas em blogs e sites especializados.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Só trabalho com editoras atualmente.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Amigo-livro, Geek Day ES.
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10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à


divulgação e distribuição de autores capixabas?
Sim, existe.
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12 ILVAN FILHO

FILHO, Ilvan. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem recebida por
<sanmaxwell@gmail.com> em 02 set. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Primeiramente sou um artista visual, foi o que fiz desde criança. Aprendi sozinho, copiando
principalmente os meus personagens favoritos na tv e nos quadrinhos. Daí, veio sempre a
vontade de criar histórias. Quando adulto, trabalhei por 20 anos ilustrando jornais diários.
Entre outras demandas q/ eu fazia, tinha a criação de charges, que nada mais são do q/ criar
uma situação, que deriva de um fato verídico, e que sugira ao leitor um desfecho crítico e/ou
inusitado. No fim das contas, isso nada mais é do q/ criar uma pequena história bem
resumida! Foi um bom exercício. Quando meu filho nasceu, tive minha atenção voltada para
os produtos do mundo infantil e, em especial, os livros infantis. Experimentei escrever uma
história, gostei, escrevi outras e fui exercitando e experimentando o processo. Mais uma vez,
autodidatamente. Depois de nove anos, publiquei aquela primeira história e depois continuei
publicando quase um livro por ano.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Diretamente nenhum, mas sou uma esponja e me deixo influenciar por muitas coisas
que aparecem tanto nos traços quanto nas letras. Acho q/ tudo q leio de alguma maneira
influencia de alguma maneira no meu trabalho, então as revistas em quadrinhos estão na base
disso. Todos os outros escritores q/ gosto também, talvez. Numa frase ou numa situação.
Alguns: Neil Gaiman, Jorge Amado, Paulo Leminski, Will Eisner, Mauricio de Souza,
Ziraldo, Edgar Alan Poe, Charles Bukowski (esse eu não acho q apareça muito nos meus
textos infantis. Talvez nas poesias q/ também faço, mas q/ nunca publiquei.)
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Basicamente, a falta de um mercado leitor consistente.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Contato com escolas e venda na internet.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
É razoável, podia ser melhor. Existe alguma divulgação, mas não muita.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
O Gato Verde.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
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Nenhum outro.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Flica-ES.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Já teve. Hoje é quase nenhum.
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13 JOSÉ ALDO BARROCA

BARROCA, José Aldo. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem
recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 30 jun. 2019.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando o senhor se percebeu
escritor?
Papai tinha uma biblioteca, incentivado por ele comecei a ler ainda criança e, aos 10
anos, já fazia poesias. Porém somente aos 60 anos publiquei meu 1º livro .
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Não sei se sigo estilo de algum escritor, mas a leitura de alguns autores me marcaram:
como Machado de Assis (Dom Casmurro), Érico Veríssimo (Olhai os lírios do campo),
Rubem Braga (seus livros de crônicas), Carlos Drumond de Andrade, Manoel Bandeira,
Cecília Meireles, Venicius de Moraes, Ferreira Goulart, Ariano Suassuna, Mario Quintana etc
3) Para o senhor, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
O Espírito Santo só valorizar quem e o que é de fora, em todas as áreas, cultural,
esportiva... Imprensa e empresários contribuem e muito para isso!
4) Que estratégias o senhor utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Ofereço a amigos, pelas redes sociais e pessoalmente.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Não dão nenhuma atenção.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não consigo nem em Vitória!
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Geralmente, só escolhem a quem é da elite.
8) Exceto editoras, qual outro meio o senhor utiliza para publicar suas obras?
Os 5 que consegui publicar foram pelas Leis Rubem Braga de Vitória e Chico Prego,
da Serra.
9) Em que eventos literários o senhor tem participado para divulgar seus livros?
Por questões de saúde, infelizmente não tenho participado, Com fé em Deus,breve
terei condições.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Que eu saiba, não.
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14 ESTER ABREU VIEIRA DE OLIVEIRA

OLIVEIRA, Ester Abreu Vieira de Oliveira. Perguntas para TCC sobre Literatura
Capixaba. Mensagem recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 16 ago. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando a senhora se percebeu
escritora?
Minha trajetória na literatura. Seria meu contacto com ela? Sou professora, esse é o
título mais importante para mim e tenho que ler, ler e ler. Tento dizer que sou escritora. Meu
afã de professora me fez publicar livros e textos didáticos, por exemplo, em 81 foi publicado
Português para estrangeiros e bem antes já haviam sido impressos livros de exercícios em
espanhol e de verbos. Desde menina passei a ser uma intensa leitora. Claro que os poetas e
escritores primeiros lidos eram românticos e parnasianos. Com quinze fiz um poema: TU.
Mas rasguei-o e só fui escrever poemas com mais de trinta anos, isto é, escrevia-os e os
deixava em um caderno, até que em 89 publiquei Momentos e Iberia Divida, o primeiro em
port., o segundo em espanhol. Penso que não foram publicações de obras didáticas, mas estas
que passaram a me considerar escritora.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Nós somos produtos de épocas. Mas falemos de como poeta. Os primeiros ritmos e
palavras poéticas foram de Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves. Depois Bécquer,
Neruda, Lorca, e assim vão crescendo os ritmos de acordo com as leituras e as aulas. O
caminhar poético de um professor seguem as suas aulas, as suas pesquisas.
3) Para a senhora, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
Penso que não é só em “terras capixabas” que há desafios para produzir literatura.
Mas a produção envolve muitas ações e diferentes apoios, tais como: qual a forma de
publicação; de quais recursos disponho; como divulgá-la e exportá-la? E depois é preciso ter
coragem de escrever, publicar e deixar arquivar livros em sua casa.
4) Que estratégias a senhora utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Lançamentos, visitas a colégios - Coloco alguns livros com a Profa. Lia Noronha,
antes havia livrarias, hoje elas não mais se responsabilizam, também uma ou outra pessoa
amiga compra. Publicar é quase mais que um sonho de organizar seus pensamentos ordenados
num papel, que se realiza por estímulos de amigos.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Pouca significativa é a divulgação jornalística do ES de minhas obras.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
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Tive no Rio, no exterior, na Espanha e Itália, mas São Paulo não me recordo. Bem
tem livro meu vendido na Amazon.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Só me lembro de uma obra bilíngue infantil (O lagarto Amedrontado)e do Japão, um
didático, há muito tempo, de Port. para estrangeiros.
8) Exceto editoras, qual outro meio a senhora utiliza para publicar suas obras?
Não tenho blog.
9) Em que eventos literários a senhora tem participado para divulgar seus
livros?
Feiras literárias no Estado e em congressos fora do Estado
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Não, apoiam para publicar a obra. Distribuem em suas redes de colégios os
exemplares que são destinados a eles e nada mais.
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15 ISABELLA MARIANO

MARIANO, Isabella. Perguntas para TCC sobre Literatura Capixaba. Mensagem


recebida por <sanmaxwell@gmail.com> em 30 set. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Meu interesse pela literatura começou desde muito nova, quando entrei em contato
com os primeiros livros, quando aprendi a ler e a perceber que pela leitura é possível viver o
impossível. Pra mim, toda escritora é de antemão uma leitora. E comigo não é diferente. Meu
amor pela literatura veio da leitura e depois se traduziu na escrita - esta necessária para minha
sobrevivência. Eu não sei o que seria de mim sem a literatura.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
A minha maior inspiração é o meu cotidiano. São as minhas dores, as minhas
questões, as minhas amizades, mas também o que vejo acontecer. Nem tudo o que escrevo
aconteceu comigo, nem tudo é confessional, apesar de parecer ser. Às vezes, eu imagino
relações, situações, diálogos entre pessoas diferentes de mim e faço nascer um poema daí.
Escrever me faz colocar para fora o que sinto, mas também me faz desenvolver a empatia, me
colocar no lugar de outro e tentar sentir o que ele ou ela sente.
Quanto às influências, no sentido prático da escrita, sinto que ler Paulo Leminski, Ana
Cristina Cesar, Sergio Blank, Hilda Hilst e outros poetas brasileiros me influencia muito,
sempre senti essa influência e isso pra mim é uma honra e um privilégio.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras
capixabas?
Acho que o mesmo em todo o brasil: custo de produção. Já temos algumas políticas
de incentivo à produção literária, como a isenção fiscal em alguns níveis, mas ainda assim,
publicar um livro custa muito para o bolso do artista independente. Acredito que se houvesse
uma política relacionada às gráficas, seria mais viável publicar. Por exemplo: meu próximo
livro vou imprimir em uma gráfica de São Paulo. Acredite, mesmo com o frete, saiu
absurdamente mais barato imprimir fora do estado.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Uso muito o Instagram para divulgar o meu trabalho.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Sinto que há mais espaço para divulgação, quando há o lançamento de livro
envolvido. Quando tento divulgar oficinas literárias, não tem a mesma abertura.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Não.
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7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de


compra de livros?
Acredito que nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Eu possuo um Prefixo Editorial que me permite publicar minhas obras. Então, faço o
processo de forma independente.
9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Saraus de diversos tipos como o Sarau da Barão, Quarta Poética, e outros.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Acredito que os editais de cultura são uma forma de apoio.
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16 FRANCISCO GRIJÓ

GRIJÓ, Francisco Amalio. Entrevista com Francisco Grijó . Mensagem recebida por
<sanmaxwell@gmail.com> em 06 out. 2020.
1) Fale como foi sua trajetória na literatura. Quando você se percebeu escritor?
Não me lembro realmente de quando comecei, mas já estava na universidade. Por
gostar de ler, e de tentar escrever de vez em quando, lancei-me nessa aventura de me tornar,
de fato, um escritor. Só me dei conta, realmente, de que tinha talento quando fiz Oficina
literária, em 1982, e, depois, venci o prêmio Geraldo Costa Alves, o concurso universitário de
contos.
2) Que escritores influenciam seu processo criativo?
Os norte-americanos do século XX são minha maior influência. Barthelme, Vonnegut,
Barth, Mailer, Heller, Brautigan, Talese, Capote. Gosto muito dos ibero-americanos, como
Cortázar, Arreola, Puig, Borges, Arlt, Paz. Claro que os realistas russos e franceses tb foram
boas influências.
3) Para você, quais são os desafios para produzir literatura em terras capixabas?
Os mesmos de produzir em qualquer outro lugar. É preciso ter ideias, talento e tempo
para escrever.
4) Que estratégias você utiliza para comercializar e distribuir suas obras?
Eis a questão. A dificuldade está justamente na distribuição. Fazer o texto literário
chegar ao leitor é difícil. E olhe que sou privilegiado: sendo eu um professor conhecido,
consigo vender livros. Mas não é fácil. Uso as redes sociais para divulgar, mas não para
comercializar. Isso é obrigação da editora.
5) Como é o tratamento dos jornalistas do Espírito Santo na divulgação de suas
obras, sobretudo nos veículos de massa, como rádio e TV?
Ótimo. Não tenho do que reclamar. Muitos dos jornalistas foram meus alunos e,
felizmente, ajudam-me.
6) Alguma vez uma de suas obras teve repercussão em veículos de comunicação
do eixo Rio-São Paulo?
Sim. Meus livros são razoavelmente bem aceitos no Sudeste. Algumas de minhas
obras tornaram-se filmes - caso de Musculatura, um dos contos do meu livro Licantropo, de
2001. Isso me abriu portas.
7) Quais de suas obras foram escolhidas para programas governamentais de
compra de livros?
Nenhuma.
8) Exceto editoras, qual outro meio você utiliza para publicar suas obras?
Somente editoras. Tenho um blogue, cheguei a veicular alguns textos, mas as pessoas
não querem ler, na internet. Preferem se divertir com memes, diversão, sexo e narcisismos.
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9) Em que eventos literários você tem participado para divulgar seus livros?
Todos para os quais me convidam.
10) Além da produção, existe apoio do Governo do Estado e das prefeituras à
divulgação e distribuição de autores capixabas?
Sim, claro. Desde políticas públicas ligadas a leitura até bibliotecas atuantes nas
comunidades em que se instauram. Nem todos, claro, são contemplados.

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