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AWi- Psicológica (1988).

1 (V): 105-113

Auto-estima, desinteresse
e insucesso escolar
e m alunos da Escola Secundária
W . P. ROBINSON (*)
CAROL A . TAYLER(*)

EXAMES DE REFERÊNCIA A primeira filtragem, aos 16 anos, é


NORMATIVA E INSUCESSO feita através do ((General Certificate of
ESCOLAR Education)) (nível normal) e do sobreponí-
vel, mas inferior, ((Certificate of Secondary
Presentemente, nenhuma sociedade ofe- Education)).
rece acesso indiscriminado ao ensino supe- O nível «O» é destinado a 25'010 dos me-
rior. O número de lugares é limitado, nor- lhores da população, mas aproximadamente
malmente, a uma pequena minoria da popu- 40Vo da coorte de cada idade consegue pelo
lação potencial. Frequentemente são usados menos uma aprovação. Cerca de 10Vo da
padrões de resultados nos exames nacionais população escolar em geral deixa a escola
como principal critério de selecção para tal sem GCEs ou GSEs. 93 provável que cerca
entrada. de 20% saia da escola com tão poucos CSEs
Em Inglaterra, País de Gales e Irlanda e de um nível tão baixo que os certificados
do Norte está estabelecido que são neces- não têm nenhum valor para os seus possui-
sárias 2 aprovações no ((General Certificat dores.
of Educationn (nível avançado), ou seus Com percentagens predeterminadas de
equivalentes, para a candidatura a um lugar aprovações e níveis, todos estes exames são
na universidade. No entanto, para muitas essencialmente competições interindividuais
pessoas, em várias universidades, são, de nas quais o sucesso de um candidato é o
facto, necessárias 3 aprovações com níveis insucesso de outro.
bastante acima do exigido para passar, para Quais serão as çonsequências motivacio-
assegurar um lugar. nais e conceptuais de um tal sistema de refe-
O nível avançado, normalmente alcan- rência normativa?
çando aos 18 anos ou mais, é destinado a Em particular, quais serão as consequên-
cerca de 15'00 dos melhores da população cias para estes alunos a quem não se per-
e a graduação entre os sujeitos é definida mite o acesso aos exames ou que entram
normativamente: x 940 de candidatos rece- mas esperam falhar e realmente falham?
bem o nível A, y'% o nível B e assim por
diante. As instituições não universitárias
têm os seus critérios. (*) Universidade de Bristol.

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Naturalmente, as definições de insucesso, escola, então esse sujeito pode nunca ter
num certo sentido, são apreciações subjec- aceitado os fins como os meios do sistema
tivas feitas por indivíduos, e as definições escolar -psicologicamente pode nunca ter
culturais e subculturais de {(insucesso))va- sido um aluno. No outro extremo, os alunos
riam em clareza e nível de indivíduo para podem aceitar tanto os meios como os fins
indivíduo, grupo para grupo e cultura para das suas carreiras escolares. No meio há
cultura. várias possibilidades: os alunos podem falhar
A forma como o insucesso é explicado em vários pontos, mas esforçar-se bastante
e como se reage a ele também varia. Quem e recuperarem. Alguns podem tornar-se
está especialmente em risco de insucesso, desinteressados com os meios, mas, como
devido a características individuais ou per- aceitam os fins, continuam a aplicar-se.
tença a um grupo social, pode variar tam- Sem descrever todas as possibilidades, é
bém de sociedade para sociedade. talvez importante notar que a sequência
No trabalho a ser aqui relatado usámos ((desinteresse -+ insucesso -+ redefinição do
mais índices objectivos de insucesso escolar se@ tem as mesmas consequências que
do que subjectivos, embora compreendendo ((insucesso + redefinição do seZf», ((desin-
as limitações de tais medidas. teresse -+ redefinição do self)),((insucesso4
A nossa preocupação foi com a psicologia + desinteresse -+ redefinição do self». Não
e a psicologia social desses alunos que foram é difícil imaginar circunstâncias nas quais
sujeitos a um insucesso escolar relativa- cada uma destas possibilidades possa ocor-
mente permanente, com um ênfase especial rer. Nem podemos ignorar a possibilidade
nas consequências motivacionais para e s w de outros factores mediadores levarem os
alunos e nas suas possibilidades de adapta- alunos a rejeitar valores baseados na escola
ção positiva a esta situação. e a adoptarem outros.
O modelo original (Robinson, 1975) de-
fendia que o insucesso assim como expec-
tativas permanentes de insucesso levam ao O CICLO DO DESINTERESSE
desinteresse e que esta conjugação introduz
o aluno num ciclo de influências que actuam Um de nós deu já uma contribuição sobre
para manter ou aumentar tanto o insucesso o estatuto conceptual do desinteresse e a
como as expectativas de insucesso. ligação possível entre o desinteresse nos
Posteriormente, mostrou-se (Robinson, alunos e 41 variáveis nos alunos, nos seus
1983; Tayler, 1982) que a experiência de professores e nos seus lares. (Robinson,
tais condições é inconsistente com a manu- 1978).
tenção de uma auto-estima positiva baseada Os dados empíricos de uma amostra na-
em valores escolares. cional de mais de 4000 alunos de 13 a 16
Isto aumenta a probabilidade dos alunos anos deram associações significativas em
se sentirem obrigados a reconceptualizar a 36 dessas variáveis (ver Fig. 1).
sua relação com as suas carreiras escolares; Contudo, mesmo que queiramos aceitar
em especial, tais alunos deveriam adoptar que o ciclo do desinteresse oferece uma
valores e práticas indiferentes ou antitéticas contribuição essencialmente válida de algu-
as institucionalizadas pelo sistema escolar. mas das consequências da manutenção de
Embcra estes argumentos possam ser vá- um sistema educacional baseado fortemente
lidos, especificam apenas um de um con- em definições de referência normativa de
junto de caminhos possíveis. sucesso e insucesso, podemos ver imediata-
Se tivermos em conta o conceito de ((alie- mente que muito é omitido da questão.
nação)) e o aplicarmos a um sujeito na A omissão mais notável é o próprio aluno.

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jAfastamento a objectivos*
ESCOLARES Insucesso no
Monotonia
,, das aulas*
/ *Agressão* sistema
competitivo
interindividual*

/
fi A

Ausência
de ambiente V
familiar Pais 4 4
Baixo interesse Baixo*
favorável*
A
A a) no aluno* interesse
(Modelling) b) no ensino* na matéria
Ausência
Baixo de sinais
interesse de valor
no Progresso positivo da
do aluno* educação*

Baixos recursos
motivacionais
e de interesse

CLASSE SOCIAL-
BAEA*
>-. *
significa aumento da probabilidade de
significa diferenças significativas encontradas

Fig. 1 -Representação de dinâmica do desinteresse e outras variáveis

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Os rectângulos e as setas no diagrama madas em actividade substitutas satisfató-
referem-se aos processos e produtos intra e nas. Daí que ficámos sem meios para espe-
interpessoais, mas não aos alunos enquanto cificar o que é provável que alunos desinte-
pessoas. ressados adoptem como soluções satisfatb-
Evidentemente que acrescentar uma con- rias aos seus problemas.
cepção válida do aluno, enquanto indivíduo Saber que é provável que eles se desviem
e ser social, melhoraria a contribuição, mas do trabalho escolar e se disponham tanto a
é necessário primeiro dizer algo sobre os afastarem-se como a ser agressivos não é,
processos psicológicos que se presumem s u b por vezes, suficiente.
jacentes ao próprio ciclo do desinteresse.
Os princípios que se julgam influenciar
AUTO-ESTIMA E INSUCESSO ESCOLAR:
a aprendizagem e oi comportamento são TEORIA
essencialmente baseados no condicionamento
clássico operante. São processos pavlovianos Gostaríamos, assim, de explorar as con-
e skinnerianos, como os apresentados por sequências de acrescentar, i questão do
Berlyne (1960, 1967). Mantendo-se constan- desinteresse, duas afirmações sobre os alu-
tes outros factores, uma experiência per- nos enquanto pessoas e ligar este quadro
manente de «punição» e ausência de recom- alargado a alguns aspectos da análise de
pensa pela sua produção escolar devia redu- Tajfel e Turner dos fenómenos intra e
zir a motivação dos alunos para o sucesso intergrupo (Tajfel e Turner, 1979; Turner,
escolar. Será que a redução na motivação 1981).
se relaciona com a intensidade, com a direc- A primeira dupla afirmação é que os seres
ção ou com ambas? Será que os alunos estão humanos podem reflectir (e muitos fazem-
simplesmente a esforçar-se menos ou a sua -no) sobre as suas próprias características
força motivacional estará a ser contida ou e têm algum poder para se ajustarem Bs
canalizada noutro sentido? Não sabemos situações de maneira a reduzirem a insatis-
como podem ser respondidas estas questões. fação, se possível para alcançarem satisfa-
Certamente alguns destes alunos adolescen- ção.
tes parecem estar reduzidos a um estado A segunda afirmação é que os seres hu-
apático. Outros paracem ter contido o seu manos esforçam-se realmente para conseguir
interesse, mas aplicam-no a actividades não auto-estima psitiva e/ou para escapar
relacionadas com o trabalho escolar. e/ou evitar baixa auto-estima. Esta segunda
Uma das fragilidades do ciclo do desin- afirmação é também usada por Tajfel e
teresse e da análise do desinteresse de Ber- Turner na sua análise das dinâmicas da
lyne é que não predizem com nenhuma identidade social.
precisão quem fará o quê quando se torna As duas afirmações podem ser aplicadas
desinteressado. ao aluno que se torna desinteressado como
Berlyne menciona a actividade desviada resultado da experiência permanente de in-
com a implicação de que isso originará ex- sucesso escolar. Simplificando: o presente
periências interessantes que podem ser con- argumento será aplicado só aos alunos que
firmadas, mas para alunos a quem a lei reflectem sobre as suas condições e que ini-
exige que permaneçam nas salas de aula cialmente desejavam ter sucesso, sendo aqui
durante várias horas por dia, já referimos o insucesso escolar tratado como um pro-
que essa actividade livre não é possível. blema individual, isto é, experimentado
O afastamento e a agressão mencionados pelos indivíduos enquanto indivíduos e não
no ciclo do desinteresse são reacções que enquanto membros de grupos sociais (um
têm p u c a possibilidade de serem transfor- raciocínio semelhante podia ser aplicado ao

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último caso, mas a questão torna-se mais 3. Quando a identidade social não é
complicada). satisfatória, os indivíduos esforçar-
Tajfel e Turner (1979, págs. 40-41) dizem: -se-ão por deixar o seu grupo actual
e juntar-se a um grupo distinguido
((1. Os indivíduos esforçam-se por man- mais positivamente e/ou tornar o
ter ou aumentar a sua auto-estima: seu grupo actual mais positiva-
esforçam-se por um autoconceito mente distinto.
positivo.
2. Os grupos ou categorias sociais e Tajfel e Turner (1979) procedem a lista-
gem de uma variedade de reacções a identi-
os seus membros estão associados
dade social negativa ou ameaçada:
com conotações de valor positivo
ou negativo. Assim, a identidade 1. Mobilidade individual: implica a
social pode ser positiva ou negativa, mudança de um indivíduo para um
de acordo com as avaliações (que grupo com estatuto social satisfa-
que tendem a ser socialmente co- tório.
que tendem a ser socialmente con- 2. Criatividade social: envolve uma
sensuais, tanto dentro dos grupos redifinição da situação que deu ori-
que contribuem para uma identi- gem a comparações desfavoráveis
dade social do indivíduo. e pode implicar o encontrar: a) di-
3. A avaliação que uma pessoa faz mensões alternativas valorizadas que
do seu próprio grupo é determinada originam comparações mais favorá-
por referência a outros grupos es- veis; b) inversão de valores das ca-
pecíficos através das comparações racterísticas que levam a compa-
sociais em termos de atributos e rações desfavoráveis; c) mudar o
características carregados de valor. «out-group(s)» com que o «in-
De forma positiva as comparações -group» é comparado.
discrepantes entre “in-group” e 3. Competição social: os membros do
“out-group” produzem alto prestí- «in-group)) podem procurar inver-
gio; de forma negativa, as compa- ter as posições relativas do ain-
rações entre “in-group” e “out- group)) c do “out-group” em di-
-group” resultam em baixo prestí- mensões pertinentes.
gio.»
Estas proposições focam as situações que
Destas afirmações podem derivar alguns envolvem relações intergrupo onde já exis-
princípios relacionados teoricamente: tem grupos, mas as ideias podem ser esten-
didas a análise dos fenómenos intragrupo e
1. Os indivíduos esforçam-se para con- interindividual e i?i formação dos grupos
seguir ou manter uma identidade sociais.
social positiva. Se as aplicarmos aos alunos com insucesso
2. A identidade social positiva é ba- permanente, então a mobilidade individual
seada sobretudo em comparações não é um escape viável; podem ter tentado
favoráveis que podem ser feitas este meio mas, para muitos, é impos~ível
entre o cin-group)) e outros «out- por definição. (Devemos recordar que, num
-groups» apropriados: o «in-group» sistema obrigatoriamente referenciado i?i
deve ser percebido como positiva- norma, a existência e extensão do insucesso
vamente diferente ou distinto dos é completamente determinada pelos organi-
«out-groups)) apropriados. zadores do sistema; para cada criança que

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muda de categoria, outra, de outro lado Além disso, espera-se que isto seja conse-
qualquer, deve ocupar o seu lugar). guido através da formação de grupos sociais
A competição social não é uma possibili- que podem manter a identidade social e pes-
dade sociologicamente praticável é imprová- soal positiva.
vel que uma minoria de adolescentes se or- No caso da primeira hipótese, os alunos
ganize para vencer a estrutura social. com insucesso escolar devem começar por
Os alunos que fracassam na escola secun- negar o valor positivo do sucesso educacio-
dária têm que aceitar o seu estatuto ou tor- nal e realçar as suas características negati-
narem-se socialmente criativos. A primeira vas, ou seja, terem de trabalhar muito na
hipótese é incompatível com a necessidade escola e em casa, não terem tempo para se
postulada de auto-estima positiva. Pode- divertirem dentro ou fora da escola, conti-
riam, individualmente, criar uma redefini- nuarem a ser tratados como crianças e não
ção de si próprios em relação com o seu como adultos, não terem possibilidade de
mundo social e manter essa construção. ganhar dinheiro e falta de liberdade.
Contudo, se Berger e Luckmann (1966), Na medida em que um aout-group)) de
entre muitos outros, estão correctos, uma alunos com sucesso escolar pode ser identi-
definição da realidade social é mais facíl- ficado, os seus valores e membros devem
mente mantida se for apoiada por confir- ser depreciados.
mações frequentes na interacção com outros Da mesma forma, na segunda hipótese,
semelhantes. podemos esperar que as vantagens da eman-
Espera-se, no entanto, que os alunos cons- cipação sejam acentuadas, nomeadamente
truam e mantenham uma nova realidade se os prazeres de comportamento característi-
existirem alguns deles na mesma situação, cos do estatuto adulto, ou seja, ter diverti-
de modo que um grupo social possa ser for- mentos, beber álcool, fumar, ter relações
mado, o que confere uma identidade social sexuais, usar roupas que estão na moda, ter
que não conduz a comparações desfavorá- meio de transporte. Esta constelação podia
veis com ((out-groups)). ser chamada ((maturidade precoce)). Dentro
Por outro lado isto será conseguido mais da escola, tais alunos esforçar-se-iam por
facilmente se houver modelos disponíveis. converter a sala de aula numa situação em
Uma vez que alunos mais velhos com insu- que se poderiam divertir, fazer troça e desa-
cesso emergem como uma subcultura na es- fiar as normas da instituição educacional
cola, eles constituem um tal modelo para os Na medida em que tais prazeres são menos
alunos mais novos. agradáveis do que aqueles obtidos fora da
Nestas circunstâncias podemos predizer escola, a falta às aulas deve aumentar. As-
que os alunos com insucesso procurarão sim, deixar a escola precocemente fornece
mitigar o desinteresse e remediar as amea- um escape bem vindo.
ças a auto-estima através de: A auto-estima individual torna-se uma
questão de aceitação e admiração pelo grupo
-inversão da dimensão crítica de valor, de pares, de outros com insucesso escolar,
de modo a que a incompetência esco- e de rejeição, medo e hostilidade de outros
lar se torne uma fonte de auto-estima alunos e professores. A motivação será ca-
alta; ou nalizada para estes objectivos.
-encontrar e aceitar dimensões alterna- Tal interpretação é consistente com os
tivas de valor que originam compara- dados obtidos em estudos de casos de certas
ções favoráveis e não desfavoráveis com escolas secundárias em Inglaterra, desde a
((out-gropm; ou Lumley Secondary Modern School (Har-
- ambas greaves, 1967), k Beachside Comprehensive

I10
(Ball, 1981). % também consistente com aná- lar. A escola estratificou os seus alunos
lises de desvio de adolescentes e delinquên- desde o seu 2." ano em 3 largas faixas, com
cia (Hargreaves, Hester e Mellor, 1975). Es- base no resultado do exame de fim de ano.
tas análises fornecem retratos ricos que ins- Participaram alunos de 14 anos de uma das
piram respeito; são, no entanto, mais fracas 3 classes da faixa mais alta (n=30) e de
na teoria psicológica social para explicar os uma das 3 classes da faixa mais baixa
processos. Em geral, não referem o papel da (n = 28). No início do 1." período estes alu-
auto-estima nestes processos. nos de 14 anos estimaram as notas que es-
Os estudos que se referiram a auto-estima peravam ter em 8 disciplinas no5 exames
(ver Burn, 1982, para uma revisão recente) finais e a média de todos os alunos. (As suas
adoptaram uma perspectiva que afirma que notas reais foram registadas posteriormen-
deve haver uma associação positiva entre te). Estes alunos realizaram também o In-
auto-estima e resultados escolares (Coopers- ventário de Auto-Estima de Coopersmith e
mith, 1967). (A ideia de que a alta auto- um Diferenciador Semântico de 27 items
-estima devia estar fortemente correlacio- sobre «Eu-o que pareço ser)), que abran-
nada com altos resultados escolares é um gia atitudes e actividades relacionadas com
exemplo claro de um sociocentrismo subcul- a escola, relações com professores, compr-
tural - ele próprio uma ilustração da teoria tamento interpessoal, personalidade e com-
de Tajfel-Turner. Os membros da institui- portamento em geral, preferências e inte-
ção escolar constituem um grupo social, que
resses.
presumivelmente, mantém a sua estima e
identidade social fazendo comparações com Para os presentes objectivos só os dados
(tout-groups))baseadas em dimensões que os de uma subamostra destas crianças são per-
seus membros valorizam e que originam tinentes.
comparações favoráveis para o próprio gru- Foram extraídos 9 alunos da classe da
po e para 06 seus membrm). faixa mais baixa com as expectativas mais
A análise aqui feita referiu, da mesma baixas (x = - 1.39 abaixo da média) e clas-
maneira, que as crianças, inicialmente, es- sificados como grupo de valores alternativos
forçam-se por ter sucesso na escola, mas (VA) com base nas prediç6es teóricas. O seu
esta afirmação não pretende ser avalia- resultado real nos exames das 8 disciplinas
tiva -é afirmada como uma proposição foi consistente com as suas estimativas
empírica de aplicabilidade geral, mas não ( Z = - 1.00 abaixo da média). Como grupo
universal. de controlo contrastante (C) foram escolhi-
Mas será que, de facto, alunos adolescen- dos nove colegas da classe com as expectati-
tes que falham se comportam do modo aqui
sugerido, mantendo a sua auto-estima atra-
+
vas mais altas (Z = .58 para a expecta-
tiva; Z=+.O4 para o resultado). Estes 18
vés da inversão dos valores escolares, parti-
alunos foram entrevistados individualmente
lhando valores alternativos de maturidade
precoce e formando grupos para sustentar acerca de uma variedade de questões: ami-
tudo isto? Um pequeno estudo começou a zades, pertença a um bando, percepção de
explorar estas hipóteses (Tayler, 1982). formação de grupos na escola, o que se
gosta ou não na escola, preocupação com o
progresso escolar e satisfação consigo pró-
AUTO-ESTIMA E INSUCESSO ESCOLAR: prios.
DADOS EMPfRICOS
As predições da teoria de Tajfel-Turner
Foi utilizada uma escola secundária mé- eram de que, em comparação com o grupo
dia tanto do ponto de vista social como esco- C, os alunos VA:

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ver-se-iam com menos sucesso esco- como pertencendo a um. Tenham mais pro-
lar no Coopersmith e Diferenciador babilidade de gostarem da companhia do
Semântico, mas sexo oposto; fora da escola os rapazes VA
não registariam resultados mais bai- gostavam de criar confusão em campos,
xos de auto-estima; parques e nas ruas da zona; as raparigas VA
teriam mais probabilidades de desen- gostavam de ir a cidade ver as modas nas
volverem actividades alternativas e lojas. Mais membros do grupo VA do que
anti-escolares na sala de aula, e do grupo C admitiram fumar e beber álcool
actividades de grupo fora da escola, (mas as diferenças não eram significativas
especialmente as indicadoras de ma- estatísticamente).
turidade precoce não dispendiosas. Recordando que estes alunos tinham s6
14 anos estes resultados parecem certos
resultados reais estavam de acordo tanto em direcção como em força. Tudo isto
com estas predições. aparece apenas como uma simples cena de
Em 7 dos 8 items do inventário de Coop um filme cujo desenvolvimento posterior
ersmith relacionados com a escola, que abor- está ainda por ver.
davam mais as percepções dos alunos sobre As origens da diferenciação são evidentes.
si próprios na escola do que as suas preo- iÉ provável que esta diferenciação aumente
cupações sobre inadequações percebidas, com o tempo. Se assim for, então os dados
não foi surpreendente que o grupo VA ti- serão consistentes com a ideia de que é o
vesse resultados mais baixos neste subcon- resultado escolar baixo, real e percebido,
junto Pl) ( t z 2 . 0 , p < .05); no resultado to- que actua como um estímulo para o desen-
tal e nos outros subconjuntos de items os volvimento de um modo de adaptação que
grupos não diferiam significativamente. se centra na manutenção da auto-estima,
Tanto no Diferenciador Semântico como na através duma rejeição dos valores escolares
entrevista as resultados foram semelhantes. e a construção de um sistema de valor alter-
No grupo VA classificaram-se a si próprios nativo baseado no grupo que acentua a
(correctamente) como menos eficazes esco- adopção precoce de características possíveis
larmente, mas não estavam menos satisfei- do comportamento adulto.
tos consigo próprios Pl) e P2). I3 difícil imaginar outras opções racionais
Quanto a P3), o Diferenciador Semântico em crianças que se tornaram persistente-
e/ou os dados da entrevista mostram que o mente desinteressadas por exposições contí-
grupo VA prefere disciplinas práticas, en- nuas a sua relativa incompetência, definida
quanto que o grupo C prefere as académi- por um sistema escolar de referência nor-
cas. O grupo VA não gostava de trabalhar mativa.
muito, de professores severos, do uniforme
escolar e de alunos que gostavam de fazer BIBLIOGRAFIA
tudo bem. Disseram que gostavam da escola,
mas porque lhes dava oportunidades de con- BALLS, S. J. (1981) -Beachside comprehensive:
a case study of secondary schmiing. Cam-
versar com os amigos, de rirem juntos e go- bridge University Press, Cambridge.
zarem os professores. Não gostavam de fa- BERGER, P. L., LUCKMANN, T. (1966)-
zer tudo bem, mas gostavam de criar con- The social mstruction of reblity. Allen Lane,
fusão na sala de aula e de fazer batota. Em London.
contraste o grupo C gostava da escola pelas BERLYNE, D. E. (1960) - C o n f k f ,arousd and
curiosity. McGraw Hill, New York.
oportunidades de trabalho que dava. BERLYNE, D. E. (1967) - ((Arousal and reifor-
Quanto a P4), o grupo VA preferia estar cementv. Nebraska Syrnposiurn on Motivotion,
num bando, e era mais provável verem-se 1967, 25, 1-110.
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Volume I: Volume II: Série I: SBrie II: Série 111: serie IV:

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N: 2: (Esgotado) N.' 2: (Esgotado) N: 2: 400$00 N.' 2/3: 550500 N." 3: 450SOO N.' 2: ~ 0 ~ 0
N." 3: (Esgotado) N: 3: 400t00 N: 3: 400500 N.' 4: 400)OO N.' 4: 7SoSOO N." 314: 000$00
:N 4: 400)OO N: 4: 400$00 N.' 4: 400t00

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