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DISSERTAÇÃO GestãoRiscoPlano
DISSERTAÇÃO GestãoRiscoPlano
CDU: 624.13
Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
“Não podemos esquecer que quando o [elemento] rádio foi descoberto, ninguém
sabia que ele seria útil em hospitais [para tratar câncer]. Era um trabalho de
ciência pura, e isso é prova de que um trabalho científico não deve ser avaliado
do ponto de vista de sua utilidade direta. Ele precisa ser feito por si só, pela beleza
da ciência.”
iii
DEDICATÓRIA
Saudades...
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus, por me conceder o dom da vida e colocar todos os responsáveis por esta vitória no meu
caminho, sou muito grato por tudo Senhor.
A minha esposa Kerley pelo amor, carinho, paciência e apoio incondicional durante a elaboração
deste trabalho, este título é nosso. TE AMO.
A minha mãe, Maria Helena, e a minha irmã Frances, pelo incentivo, força e principalmente
confiança durante essa árdua e duradoura caminhada sem o incentivo de vocês este sonho não se
tornaria realidade, sou muito grato por tudo que fizeram e fazem por mim, muito obrigado. AMO
VOCÊS
Aos tios, primos, avós, cunhados, sogro e sogra que sempre apoiaram e incentivaram minha
caminhada.
Ao Rone que sempre apoiou e incentivou minha luta por este título, meu IRMÃO meus sinceros
agradecimentos pelo apoio e por me convidar a vir para Ouro Preto.
Ao orientador, Prof. Dr. Romero César Gomes, pela paciência, seu apoio nesta dissertação colaborou
muito para o meu desenvolvimento profissional e pessoal.
Aos irmãos da eterna República Canaan pela amizade e apoio sempre, tenho certeza que aprendi e
contínuo aprendo muito com todos vocês.
Aos amigos da turma de mestrado de 2004, Padrinho Abel, Rafael Jabur, Luciana Lima, Jeanne
Michelle, Rodrigo Rodrigues e Brasileu Pereira, chegou a minha vez.
Aos Luiz Heleno e Eleonardo Pereira que me ensinaram a gostar da geotecnia, valeu Companheiros.
Aos colegas do Núcleo de Geotecnia, galera tenho certeza que aprendemos muito juntos trocando
experiências durante o bate papo de campo, laboratório ou na cantina.
À Escola de Minas da UFOP e ao CNPq por todo o apoio estrutural e auxílio financeiro ao longo da
minha formação.
A Companhia Siderúrgica Nacional – CSN pelo apoio e disponibilização dos dados e do tema para
elaboração deste trabalho.
v
RESUMO
A produção mineral no Brasil tem sido bastante incrementada nos últimos anos,
particularmente na região da província mineral do Quadrilátero Ferrífero, o que tem
exigido, por parte das empresas de mineração, a adoção de políticas de controle e
monitoramento dos seus sistemas de disposição de rejeitos. Recentes rupturas destas
estruturas têm mobilizado grandes preocupações por parte dos órgãos ambientais, do poder
público, das agências reguladoras e das próprias empresas de projeto e construção,
justificando, assim, a implementação de sistemas de gestão de riscos.
vi
ABSTRACT
Mineral production in Brazil has been greatly increased in recent years, particularly in the
region of the province of mineral “Quadrilátero Ferrífero”, which has required on the part
of mining companies, adopting policies to control and monitoring of their tailings disposal
systems. Recent breakthroughs of these structures have mobilized considerable concern on
the part of organs of public authority, environmental, regulators and company design and
construction, the implementation of risk management systems.
A risk management process consists in the perception of any anomalies associated with
security or functionality of a given geotechnical structure; in this context, a risk analysis is
performed to determine what decisions or recommendations and therefore implement a risk
management. Between the various risk management tools available, the methodology
FMECA excels by permitting a basic analysis to provide a structured view of potential
modes of break or a more elaborate study through detailed probability analysis associated
with multiple integrated systems. The establishment of an Emergency Action Plan (PAE),
systemic and aligned the way of risk management, presents itself as a complementary tool
to support decisions for each alert level defined in the risk management. The definition,
preparing a PAE, should be taken, through a specific analysis, risk conditions downstream
of the dam.
This work presents the definition and geotechnical details systems of the “Tailings Dam
Casa de Pedra”, aiming at the application of the methodology FMECA risk management
and the development of a PAE to the venture. With the application of these methodologies,
was deployed a management tool that enables a more secure and efficient operation of the
dam and the perception and systematization of impacts and preventions needed in the case
of a possible rupture of the dam.
vii
ÍNDICE
RESUMO......................................................................................................................... vi
ABSTRACT.................................................................................................................... vii
ÍNDICE..........................................................................................................................viii
LISTA DE FIGURA........................................................................................................ xi
LISTA DE TABELA .....................................................................................................xiii
LISTA DE SÍMBOLO NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES................................. xv
CAPÍTULO 1.................................................................................................................... 1
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 – JUSTIFICATIVA DO TRABALHO .................................................................. 2
1.2 – OBJETIVOS DO TRABALHO ......................................................................... 3
1.3 – ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO................................ 4
CAPÍTULO 2.................................................................................................................... 6
2 – ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS APLICADA A GEOTECNIA....................... 6
2.1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6
2.2 – ANÁLISES DE RISCOS ................................................................................... 7
2.3 – APRECIAÇÃO DE RISCOS........................................................................... 11
2.4 – TOMADA DE DECISÕES E GESTÃO DE RISCOS ..................................... 14
2.5 – PRINCIPAIS MÉTODOS DE ANÁLISE DE RISCOS ................................... 16
2.5.1 – Análises de risco por lista de verificação............................................... 19
2.5.2 – Análise preliminar de risco ..................................................................... 20
2.5.3 – Análise de perigos e operabilidade ......................................................... 21
2.5.4 – Análise de riscos por índices .................................................................. 21
2.5.5 – Análises por diagramas do tipo LCI ....................................................... 22
2.5.6 – Análise de riscos por árvore de eventos.................................................. 24
2.6 - ANÁLISE DOS MODOS DE RUPTURA POR SEUS EFEITOS (FMEA)
E POR SUA CRITICIDADE (FMECA) .................................................................. 25
2.6.1 – Origens do método.................................................................................. 25
2.6.2 – Características gerais .............................................................................. 26
2.6.3 – Aplicação do método em geotecnia ........................................................ 27
2.6.4 – Objetivos principais e resultados típicos ................................................ 27
2.6.5 – Requisitos iniciais ................................................................................... 29
2.6.6 – Etapas do FMEA..................................................................................... 30
2.6.6.1 – Estruturação do sistema geotécnico ................................................. 31
2.6.6.2 – Funcionalidades das componentes básicas ...................................... 32
2.6.6.3 – Modos de ruptura ............................................................................. 33
2.6.6.4 – Identificação das causas................................................................... 34
2.6.6.5 – Descrição dos efeitos dos modos de ruptura.................................... 35
2.6.6.6 – Métodos de detecção e de controle .................................................. 36
2.6.6.7 – Estimação da criticidade .................................................................. 37
2.6.6.8 – Medidas de Mitigação do Risco....................................................... 44
viii
CAPÍTULO 3.................................................................................................................. 45
3 – PLANOS DE AÇÕES EMERGENCIAIS APLICADOS A BARRAGENS
DE REJEITOS ............................................................................................................ 45
3.1 – RUPTURAS DE BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE REJEITOS .............. 46
3.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO
DE SEGURANÇA DE BARRAGENS...................................................................... 47
3.3 – METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE UM PAE ................................ 50
3.3.1 – Caracterização da Barragem ................................................................... 51
3.3.2 – Caracterização do vale a jusante ............................................................. 52
3.3.3 – Estudo da onda de cheia.......................................................................... 53
3.3.4 – Cadeia de decisão e identificação dos fatores intervenientes ................. 55
3.3.5 – Detecção e identificação das situações de risco...................................... 56
3.3.5.1 – Percolação excessiva........................................................................ 57
3.3.5.2 – Galgamento ...................................................................................... 58
3.3.5.3 – Erosão, abatimento, umedecimento e trincamento .......................... 59
3.3.5.4 – Escorregamentos.............................................................................. 59
3.3.5.5 – Eventos sísmicos.............................................................................. 60
3.3.5.6 – Descargas súbitas de água................................................................ 60
3.3.5.7 – Leituras anormais da instrumentação .............................................. 61
3.3.6 – Tomadas de decisão ................................................................................ 61
3.3.7 – Definição do sistema de alerta e notificação dos principais
responsáveis ........................................................................................................ 62
3.3.8 – Aprovação, distribuição e atualização do PAE....................................... 63
3.4 – SISTEMAS DE APOIO A EMERGÊNCIAS................................................... 63
3.5 – MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS .................................................................. 64
CAPÍTULO 4.................................................................................................................. 66
4 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA DE PEDRA/CSN ....... 66
4.1 – MINERAÇÃO CASA DE PEDRA .................................................................. 66
4.2 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINERAÇÃO CASA
DE PEDRA/CSN ..................................................................................................... 69
4.2.1 – Barragem B3 ........................................................................................... 70
4.2.2 – Barragem B4 ........................................................................................... 71
4.2.3 – Barragem B5 ........................................................................................... 72
4.2.4 – Barragem B6 ........................................................................................... 73
4.3 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA DE PEDRA ............ 74
4.3.1 – Geologia e geotecnia local ...................................................................... 76
4.3.2 – Hidrologia local ...................................................................................... 79
4.3.3 – Aspectos construtivos da Barragem Casa de Pedra ................................ 81
4.3.4 – Sistemas de drenagem............................................................................. 84
4.3.5 - Instrumentação da barragem.................................................................... 85
CAPÍTULO 5.................................................................................................................. 89
5 – GESTÃO DE RISCOS APLICADA À BARRAGEM DE REJEITOS CASA
DE PEDRA ................................................................................................................. 89
5.1 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA GEOTÉCNICO................................................. 89
5.1.1 – Sistema I – Bacia hidrográfica................................................................ 92
5.1.2 – Sistema II – Barramento ......................................................................... 93
5.1.3 – Sistema III – Vertedor............................................................................. 95
ix
5.1.4 – Sistema IV – Torre de tomada d’água .................................................... 95
5.1.5 – Sistema V – Vale a jusante ..................................................................... 96
5.2 – MODOS POTENCIAIS DE RUPTURA E SUAS CAUSAS............................ 96
5.2.1 – Efeitos dos modos de ruptura.................................................................. 98
5.2.2 – Identificação das formas de detecção e ações corretivas ...................... 103
5.3 – ANÁLISES DE CRITICIDADE (FMECA)................................................... 105
5.3.1 – Estimação das consequências dos efeitos ............................................. 105
5.3.2 – Estimação das probabilidades dos efeitos............................................. 108
5.3.3 – Índice e matriz de criticidade................................................................ 109
5.3.4 – Estimação do RPN ................................................................................ 111
5.4 – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS ............................................ 113
5.5 – MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DO RISCO .................................................... 114
CAPÍTULO 6................................................................................................................ 116
6 – PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL APLICADO À BARRAGEM DE
REJEITOS CASA DE PEDRA ................................................................................. 116
6.1 – MODELAÇÃO HIDRODINÂMICA DA ONDA DE CHEIA ....................... 117
6.1.1 – Ruptura com conseqüências catastróficas............................................. 119
6.1.2 – Ruptura sem conseqüências catastróficas ............................................. 122
6.2 – CADEIA DE DECISÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS INTERVENIENTES ... 122
6.3 – TOMADA DE DECISÃO ............................................................................. 126
6.4 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE ALERTA E NOTIFICAÇÃO DOS
PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS............................................................................. 127
6.5 – FORMALIZAÇÃO DO PAE E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS............... 129
CAPÍTULO 7................................................................................................................ 131
7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES COMPLEMENTARES ................................. 131
7.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................... 131
7.2 – PRINCIPAIS CONCLUSÕES ...................................................................... 132
7.2.1 – Gestão de riscos aplicada à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra........ 132
7.2.2 – PAE Aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra ......................... 134
7.3 – CONCLUSÕES GERAIS.............................................................................. 135
7.4 – SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................. 136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 138
ANEXO I ...................................................................................................................... 148
ANEXO II..................................................................................................................... 150
ANEXO III ................................................................................................................... 152
ANEXO IV ................................................................................................................... 155
ANEXO V..................................................................................................................... 158
x
LISTA DE FIGURAS
xii
LISTA DE TABELAS
xiii
Tabela 5.4: Métodos de detecção e ação corretiva dos modos potenciais de
ruptura...................................................... .................................................... ............... 104
Tabela 5.5: Classes e índices das conseqüências para as análises de criticidade da
BRCP ............................................................................................................................ 106
Tabela 5.6: Classes e índices das conseqüências dos efeitos....................................... 106
Tabela 5.7: Classes de probabilidade para as análises de criticidade da BRCP ........... 108
Tabela 5.8: Classes e índices das probabilidades dos efeitos ...................................... 109
Tabela 5.9: Índices e critérios de severidade para cálculo do RPN .............................. 111
Tabela 5.10: Índices e critérios de probabilidade de ocorrência para cálculo do
RPN............................................................................................................................... 112
Tabela 5.11: Índices de probabilidade de detecção para cálculo do RPN ................... 112
Tabela 5.12: Índices de ponderação das classes de probabilidade e conseqüência ..... 113
Tabela 5.13: Medidas de mitigação dos riscos de ruptura para a BRCP ..................... 115
Tabela 6.1: Dados utilizados para modelação da onda de cheia.................................. 118
xiv
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E
ABREVIAÇÕES
A Área da seção transversal do escoamento
AA “Checklist analysis”: análise por listas de verificação
AG Presença de água
ALARP “As low as reasonably pratical”: Tão baixo quanto razoavelmente
praticável
ANA Agência nacional de águas
APR “Preliminary risk analysis”: análise preliminar de riscos
AR Atividade recente
ARB “Acceptable risk bubble”: Bulbo de aceitabilidade de risco
AUSTRALIAN EPA “Australian Environment Protection Agency”: Agência de
proteção ao meio-ambiente australiana
B3 Barragem de rejeitos 3
B4 Barragem de rejeitos 4
B5 Barragem de rejeitos 5
B6 Barragem de rejeitos 6
BCP Barragem de rejeitos Casa de Pedra
c Índice das conseqüências
c’ Intercepto de coesão efetiva do diagrama de Mohr
CBDB Comitê Brasileiro de Barragens
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
cm Centímetro
cm³ Centímetro cúbico
CNRH Conselho nacional de recursos hídricos
CNSB Conselho nacional de segurança de barragens
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará
Conf. Grau de confiança
COPAM Conselho de política ambiental
Cr Criticidade
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
xv
CV Cobertura vegetal
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
Cwbl Classificação climática de Köppen-Geiger
D Probabilidade de detecção
D10 Diâmetro equivalente para o qual passa 10% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro efetivo)
D50 Diâmetro equivalente para o qual passa 50% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro médio)
D90 Diâmetro equivalente para o qual passa 90% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro médio)
DME Departamento de minerais e energia
DN Deliberação normativa
DNMET Departamento Nacional de Meteorologia
DR Drenagem
EF Efeito
El. Elevação
EPI Equipamentos de segurança individual
ETA “Event tree analysis”: Análise por árvore de eventos
EWS “Early warning system”: Sistema de aviso prévio
FBD “Functional block diagrams”: Diagramas de blocos funcionais
FCA Ferrovia Centro Atlântica
FEAM Fundação estadual do meio ambiente
FMEA “Failure modes and effects analysis”: Análise dos modos de
ruptura e seus efeitos
FMECA “Failure modes effects and criticality analysis”: Análise de falhas,
seus efeitos e sua criticidade
FS Fator de segurança
FTA “Fault tree analysis”: Análise por árvore de falhas
g Aceleração da gravidade
g Grama
GG Perfil geológico-geotécnico
H Altura da barragem
H Horizontal
ha Hectare
HAZID “Hazard identification studies”: Estudo de identificação de perigos
xvi
HAZOP “Hazard and operability analysis”: Análise de perigos e
operacionalidade
hbar Altura da barragem
HT Altura do talude
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOLD “International comite on large dams”: Comitê internacional de
grandes barragens
Icr Índice de criticidade
IEC “International electrotechnical commission”: Comissão
internacional de sistemas eletro-mecânicos
IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IP Índice de plasticidade
IT Inclinação do talude
k Coeficiente de permeabilidade
km Quilometro
kN Quilo Newton
Ks Coeficiente de rugosidade de Manning-Strickler
LCI Diagramas de localização, causa e indicadores das falhas
LL Limite de liquidez
LP Limite de plasticidade
m Fator para atender às condições ambientais e de manutenção
m³ Metro cúbico
m5 Parâmetro função da sinuosidade do vale
mm Milímetro
MR Modo de ruptura
MR Medidor de Recalque Elétrico (MR)
MS Marco superficial
MV Medidor de Vazão
MTPA Milhões de toneladas por ano
n0 Parâmetro função do material do leito do canal
n1 Parâmetro função do grau de irregularidade do leito
n2 Parâmetro função da variação da secção transversal
n3 Parâmetro função do efeito das obstruções
xvii
n4 Parâmetro função da vegetação
NA Nível da água
NOAA´s “National Weather Service – USA”: Serviço Meteorológico
Nacional
O Probabilidade de ocorrência
p Índice de probabilidade de ocorrência
PAE Plano de ações emergenciais
PAR População na área de risco
PC Piezômetro Casagrande
PE Piezômetro Elétrico
PNDC Plano nacional de defesa civil
Q Vazão
QRA “Quantitative risk analysis’: Análises de riscos quantitativas
r Fator de proporção do tempo
RH Recursos humanos
RPN “Risk Priorit Number”: Número de Prioridade de Risco
Rsat Resistência ao cisalhamento saturada
s Segundo
S Índice de severidade
S0 Declividade do perfil longitudinal da linha de água
Sf Declividade da linha de energia
SIH Secretaria de infra-estrutura hídrica
SNIB Sistema nacional de informações sobre segurança de barragens
SPT Sondagem à percussão
SW Sudoeste
t Tempo
tp Tempo de projeto do sistema
TR Tempo de recorrência
trup Tempo de ruptura
UFPO Universidade Federal de Ouro Preto
UFV Universidade Federal de Viçosa
UHE Usina Hidrelétrica
xviii
USCS “Unified Soil Classification System”: Sistema unificado de
classificação dos solos
V Índice para classificação de barragens
V Vertical
Vbar Volume de armazenamento da barragem
Veros Conseqüência
w Teor de umidade
W Oeste
WCM “world class mine”: mina de classe mundial
wot Umidade ótima
x Distância medida segundo a direção
y Distância medida segundo a direção
ºC Grau Celsius
α Fator de modo de falha
µm Micrometro
φ’ Ângulo de atrito efetivo
γ Peso específico
γdmáx Peso específico seco máximo
λ Taxa de falha relativo ao modo de ruptura de um componente
λb Taxa de falha-base para determinadas condições de referência
ρs Massa
xix
CAPÍTULO 1
1 – INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, após inúmeros acidentes causados por rupturas de barragens e pilhas
de rejeitos, desde instabilizações localizadas até a ruptura global de estruturas de grande
porte (casos recentes das minerações Rio Verde e Cataguases, por exemplo), o processo
de disposição de resíduos de mineração tem sido objeto de novas legislações e intensas
fiscalizações dos órgãos ambientais, exigindo das empresas mineradoras a adoção de
políticas concretas de controle dos impactos da atividade mineradora sobre o meio
ambiente (Pereira, 2005).
1
Nesta contextualização, será parte do escopo desta dissertação a aplicação das técnicas
de gestão de risco, baseadas na metodologia FMECA, à Barragem de Contenção de
Rejeitos Casa de Pedra/ CSN, bem como a elaboração de um plano de ações
emergenciais no âmbito deste empreendimento. Para tanto, serão abordados aspectos
geotécnicos da região de locação da barragem, características de projeto e construção da
barragem, aspectos do clima local e da ocupação do vale a jusante.
2
É neste contexto que se enquadra o objeto de estudo desta dissertação, ou seja, a
aplicação de uma metodologia sistematizada de gestão de riscos e a elaboração de um
plano de ações emergenciais aplicado a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, de forma a
antecipar, prevenir e mitigar as consequências de uma ruptura da barragem que, uma
vez concretizada, tenderá a causar grandes perdas econômicas, ambientais e perda de
vidas a jusante da barragem.
Este trabalho tem como principal objetivo a definição e a sistematização dos modos
potencias de ruptura da Barragem de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra, de forma a
possibilitar a implementação de um programa de gestão de riscos pela metodologia
FMECA e a elaboração de um plano de ações emergenciais, desenvolvendo, assim,
ferramentas que deverão permitir a Mineração Casa de Pedra operar a barragem com
maior segurança. A elaboração do PAE permite ainda orientar os órgãos de defesa civil,
comunidade e demais interessados quanto ao que fazer durante uma emergência.
3
1.3 – ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
4
O Capítulo 6 trata da aplicação da metodologia proposta de elaboração de um Plano de
Ações Emergenciais para a Barragem de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra. Neste
propósito, foram admitidos dois cenários, com e sem consequências catastróficas,
respectivamente, sendo apresentados, para cada caso, os respectivos efeitos da onda
gerada de inundação.
5
CAPÍTULO 2
2.1 – INTRODUÇÃO
As incertezas do comportamento dos solos sob cargas constituem uma das principais
características da Engenharia Geotécnica e, assim, a motivação para efetuar uma análise
de riscos resulta de receios por parte de qualquer uma das entidades envolvidas num
dado projeto, em termos dos impactos devido a problemas que podem não ter sido
adequadamente avaliados, particularmente no caso de adoção de soluções técnicas não
convencionais.
A avaliação dos riscos envolve uma análise e apreciação dos mesmos e possibilita a
tomada de decisão no decurso de um processo de gestão. Permite também que sejam
expressos e reconhecidos todos os riscos envolvidos no processo e, consequentemente,
obriga que os proprietários e os engenheiros responsáveis pela obra tenham de lidar
efetivamente com as consequências de eventos indesejáveis.
6
Figura 2.1: Fases da análise e gestão de riscos (modificado de
www.sciencecartoonsplus.comgalleryriskindex.php)
7
• Vulnerabilidade: Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em
interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos
adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis;
A classificação dos riscos pode ser subdividida em função da sua origem, incidência,
possibilidade de mensuração e probabilidade. Quanto à origem, os riscos podem ser
imputados por fenômenos naturais, tecnológicos ou humanos de diferentes fontes e
intensidades. Pode ainda incidir sobre um único indivíduo ou sobre uma comunidade
(risco individual e risco social) e podem ter suas consequências passíveis ou não de
mensuração (riscos tangíveis e intangíveis).
Uma análise de riscos consiste na identificação dos eventos indesejáveis que conduzem
à materialização dos riscos, na análise dos mecanismos pelos quais esses eventos podem
ocorrer e na estimação da extensão, da amplitude e da probabilidade de concretização
dos efeitos dos perigos (Almeida et al., 2000).
8
ser analisada e a motivação para elaboração da análise. Deve ainda identificar os fatores
de exposição e as consequências de todos os modos e cenários de ruptura dos riscos e,
por último, determinar as grandezas e as probabilidades das consequências dos modos
de ruptura.
9
A identificação de risco é um procedimento deliberado de estudo e de revisão de
sistemas, na esperança de antecipar todos os seus possíveis perigos e consequentes
evoluções adversas (Grantt, 2004).
10
2.3 – APRECIAÇÃO DE RISCOS
11
Figura 2.2: Bulbo de aceitabilidade de risco –(modificado de Schoustra et al. 2004)
ANCOLD (1998) define como risco aceitável aquele que é aceito pelos indivíduos ou
pela sociedade eventualmente afetada, admitindo-se que não haja alterações nos
mecanismos de controle do risco. Este risco pode ser insignificante e adequadamente
controlado. Em geral, não são requeridas medidas para a sua redução, exceto quando
praticáveis a baixo custo. A Figura 2.3 apresenta os critérios de aceitabilidade de perda
de vidas humanas do Comitê Australiano de Grandes Barragens.
12
O gráfico proposto na Figura 2.3 relaciona a probabilidade anual de falha de uma
barragem com a estimativa de perda de vidas, sendo utilizado para expressar critérios de
aceitabilidade para o risco incrementado às sociedades situadas a jusante de barragens.
A diferença entre risco aceitável e risco tolerável reside no fato de o primeiro ser
considerado, pela população eventualmente afetada, como sendo suficientemente baixo
e adequadamente controlado para não ser necessário reduzi-lo, e o segundo, apesar de
inferior ao limite de tolerabilidade, é interpretado como ainda passível de redução, a
qualquer tempo.
13
Estes fatores são considerados diretamente através de um processo determinístico, sem
quaisquer referências à magnitude dos riscos a eles considerados. A incorporação dos
riscos na seleção das opções permite uma escolha mais informada, tendo em
consideração as expectativas que se pretendem para a obra ao longo do seu período de
vida útil (MAFF, 2000).
Em geral, não é possível e nem prático a eliminação completa dos riscos que as obras
geotécnicas induzem; assim, devem ser identificados quais os riscos a gerir, mitigar ou
controlar. Neste sentido, existe um vasto leque de decisões a tomar, em relação aos
riscos avaliados tanto qualitativa como quantitativamente. Ashby e Lenting (2003)
enquadram as ações sobre os riscos em termos de:
14
• Retirar – por exemplo, instalar sistemas de aviso de cheias para aumentar a
probabilidade de as pessoas, situadas em áreas susceptíveis a inundações, serem
avisadas e evacuadas em tempo útil;
• Transferir ou partilhar – os riscos podem ser transferidos ou partilhados por
consulta das partes interessadas, para que algumas destas possam exercer maior
controle sobre a sua exposição ao risco;
• Aceitar – os riscos são aceitos por aqueles que possam sofrer prejuízos e
usualmente apenas é requerida a informação das pessoas afetadas; a decisão de
aceitar os riscos deve ser justificada, considerando os custos e os benefícios das
medidas de mitigação dos riscos.
15
A instrumentação e o monitoramento das estruturas, no caso de maciço de barragens,
deve ser parte integrante do plano de gestão de riscos e pode também ser usada como
ferramenta para detecção de certas ações ou respostas do sistema de acordo com uma
estratégia pré-planejada. A instalação de um sistema de aviso prévio (EWS – Early
Warning System) aumenta a possibilidade de se reduzir os impactos de um evento
perigoso (Mayfield, 2007). No âmbito das barragens, um exemplo de um EWS é um
sistema de aviso de cheias.
16
No âmbito das análises de riscos, as abordagens dedutivas avançam do geral para o mais
específico. De modo informal, são também referidas como abordagens “de cima para
baixo”. As análises são iniciadas formulando-se uma teoria acerca de um tópico de
interesse; em seguida, descreve-se essa teoria em hipóteses mais específicas que possam
ser testadas e validadas. Estas descrições devem ser variadas, de modo a se obter
observações concretas que estejam dirigidas às hipóteses com dados específicos à
confirmação ou não das teorias originais.
O raciocínio indutivo, pela sua natureza, exige uma maior exploração e investigação do
sistema, especialmente no início do estudo; por outro lado, o raciocínio dedutivo é mais
minucioso e está mais relacionado com a confirmação de hipóteses.
Numa análise qualitativa de riscos, normalmente usa-se uma forma descritiva e escrita
para caracterizar as várias partes envolvidas nos riscos associados a um sistema, ou seja,
os modos, os cenários e os mecanismos de ruptura e os fatores de exposição, bem como
as consequências previstas. A identificação de perigos (HAZID - Hazard Identification
Studies), por exemplo, constitui um caso particular de uma análise qualitativa de riscos
(Mark e Robert, 1997).
17
As análises qualitativas são aquelas que são efetuadas com um menor esforço; porém, a
sua utilidade também é menor, pois não são capazes de disponibilizar estimativas
numéricas dos riscos e, portanto, são incapazes de avaliar a importância relativa entre os
vários riscos identificados.
Por outro lado, as análises de riscos quantitativas (QRA – Quantitative Risk Analysis)
superam todas as limitações e são capazes de avaliar a confiabilidade do sistema. Uma
QRA é baseada em valores numéricos das probabilidades e das consequências e, desta
forma, entende-se que tais valores sejam uma representação válida, dos pontos de vista
matemático e físico, das grandezas envolvidas nos vários cenários que são examinados.
Uma QRA envolve a determinação concreta de probabilidade e de tratamento de dados
estatísticos e uma análise criteriosa das consequências.
18
sejam incluídas informações e análises de incidentes, de acidentes e de intervenções
relevantes de um conjunto significativo de obras, de modo a se dispor de dados
confiáveis para estes estudos. A Tabela 2.1 apresenta um resumo das características dos
principais métodos de análise de riscos mais utilizados.
Análise de riscos por lista de verificação é o método mais simples de análise de riscos,
sendo normalmente utilizado quando não for prático a aplicação de outro método. Este
tipo de análise de riscos pode ser utilizado em todo tipo de processo ou atividade no
qual os riscos já são previamente conhecidos e listados, simplificando-se desta forma a
análise.
19
O documento de registro deve conter uma listagem detalhada de todos os elementos
passíveis de inspeção, a sequência de observação e as possíveis ocorrências detectáveis,
e espaço adicional para comentários diversos. A Tabela 2.2 apresenta um exemplo de
lista de verificação, desenvolvida por Scudelari et al., (2007), para inspeção de falésias
no Rio Grande do Norte.
20
Cada risco deve ser identificado separadamente para descrever suas possíveis causas,
suas consequências previsíveis e as causas da sua verificação. Da elaboração de uma
APR, resulta um documento com os possíveis eventos que podem ser as fontes de riscos
no sistema. Este método é amplamente utilizado na área de Engenharia de Segurança do
Trabalho como ferramenta auxiliar a execução de tarefas de grande risco, onde não são
conhecidos todos os riscos envolvidos.
21
A implementação deste método implica na divisão dos fatores de riscos em classes e na
atribuição de pesos para cada uma delas de forma subjetiva. Desta forma, uma análise
de riscos por índices apresenta-se como um método próprio para casos nos quais seja
necessária apenas a ordenação relativa dos riscos. A Tabela 2.3 apresenta um exemplo
da aplicação desta metodologia para avaliação de riscos em taludes de obras ferroviárias
(Gomes, 2009).
Uma análise por diagrama de localização, causa e indicadores de falhas (LCI) consiste
em um método indutivo, de natureza semi-quantitativa, que deve ser implementado em
duas etapas: na primeira, procede-se à identificação e avaliação das potenciais
consequências e a sua apreciação e numa segunda etapa, condicionada aos resultados da
primeira, à identificação e avaliação dos modos de ruptura (Pimenta, 2008).
22
Para a realização das análises, deve ser elaborado um diagrama de localização, causa e
indicadores dos modos de ruptura, para identificar e avaliar os modos de ruptura das
componentes de um sistema, tal como ilustrado na Figura 2.5.
23
Concluída a atribuição acima, são calculados quatro índices, para cada conjunto
localização, causa e indicador:
O método de análise de riscos por árvore de eventos (ETA) é utilizado para realizar
análises quantitativas de riscos, constituindo uma forma conveniente de desagregar as
sequências de ruptura em partes, de fácil tratamento, e de combinar, de um modo lógico
e coerente, os resultados obtidos para essas partes para se estimar a confiabilidade do
sistema.
Uma ETA não é mais do que um esquema lógico em árvore, que permite ligar, por um
método indutivo, os acontecimentos iniciadores às consequências que podem provocar
(diagramas causa-efeito) e, se requerido, calcular as probabilidades associadas (Berthin
e Vaché, 2000). A técnica permite ilustrar os efeitos imediatos, próximos e finais,
passíveis de ocorrer após a ocorrência de um acontecimento inicialmente selecionado. A
Figura 2.6 apresenta um exemplo de análise de risco por árvore de eventos de um
sistema constituído por duas barragens em série; na análise, pretende-se avaliar a
possibilidade de uma ruptura por galgamento da barragem (Caldeira 2005, apud Pinto,
2008).
24
Figura 2.6: Exemplo de ETA (Caldeira 2005, apud Pinto, 2008)
De acordo com Pimenta (2008), uma ETA pode ser utilizada como técnica de análise de
pré-acidentes, uma vez que examina, de forma sistemática, os procedimentos e os
dispositivos existentes em obra capazes de evitar que os fenômenos iniciadores de
acidentes se desenvolvam e provoquem a ruptura; ou após a ruptura, para a
identificação das conquências do evento.
25
Esta norma estabelece determinadas exigências e procedimentos para se executar uma
FMEA (Failure Modes and Effects Analysis), técnica baseada na avaliação e na
documentação dos impactos potenciais de eventuais falhas de um determinado sistema,
de cada falha no sucesso das missões, na segurança do pessoal e do equipamento, no
desempenho do sistema e nas exigências de manutenção. Na implementação do
FMEA/FMECA (Failure Modes and critical analysis), cada falha potencial deve ser
classificada pela severidade das consequências, de forma a tomar medidas corretivas
que eliminem ou controlem os itens com maior risco (USDD, 2005).
Trata-se de um método de análise indutivo que é iniciado pela identificação, para cada
componente constituinte de um sistema, de todos os modos de ruptura possíveis, e
avaliando-se, em seguida, o comportamento global do sistema (Rausand, 2005). Uma
identificação prévia de todos os modos de ruptura catastróficos e críticos poderão
antecipar uma intervenção corretiva de forma a minimizar ou eliminar os riscos.
O método pode ser utilizado com diferentes graus de complexidade. A sua aplicação
mais básica tem como objetivo proporcionar uma visão estruturada dos modos
potenciais de ruptura das componentes do sistema. Num estudo mais elaborado, pode
ser implementada uma análise probabilística mais detalhada, associada a sistemas
múltiplos integrados.
26
A forma mais geral e abrangente de um FMEA é a análise dos modos de ruptura e dos
seus efeitos. O FMECA completa o FMEA com a introdução da criticidade dos modos
de ruptura por meio da utilização do conceito de risco, avaliando-se cada modo de
ruptura pelos efeitos que pode causar no sistema e pela sua importância relativa perante
todos os modos de ruptura. Em outras palavras, um FMEA executa uma descrição do
risco (método qualitativo) enquanto numa FMECA, de certa forma, aplica-se uma
abordagem semi-quantitativa. Assim um FMEA constitui a primeira etapa para a
elaboração de uma análise de criticidade.
Em geotecnia, o método deve ser aplicado em termos da funcionalidade com que cada
item participa no funcionamento global do sistema. Cada sistema cumpre uma função
perfeitamente definida e todas podem falhar, devido a várias causas, resultando em
diferentes consequências sobre o sistema principal.
Antes de conduzir uma análise de riscos, utilizando-se este método, é importante definir
qual a fase da obra a que se destina, uma vez que o método pode ser utilizado em
diferentes fases e com diferentes objetivos (Rausand, 2005), tais como:
27
• Ferramenta de auxílio à tomada de decisões ao nível do projeto, visando detectar
as falhas e melhorar a confiabilidade da obra pela identificação dos riscos;
• Forma de controlar a execução da obra;
• Instrumento de segurança para a fase de serviço;
• Instrumento de decisão relativo à demolição ou abandono de uma obra.
De um modo geral, à medida que se aplica o método numa fase mais avançada da obra,
o campo de manobra, relativo às ações corretivas necessárias para minimizar o risco, vai
sendo progressivamente encurtado, ou seja, quanto mais prévia é a aplicação do método,
menores tendem a ser as ações corretivas e os custos para correção (Figura 2.7).
Figura 2.7: Variação das ações minimizadoras de riscos relativas à fase da obra
(modificado de Rausand, 2005)
28
O conhecimento adquirido durante a execução da FMEA é uma valiosa ajuda para a
etapa de elaboração das árvores de eventos, pois a análise sistemática de todos os modos
de ruptura e dos respectivos efeitos evita que modos de ruptura relevantes deixem de ser
considerados ou que aqueles sem importância sejam modelados com detalhe excessivo.
De acordo com FERC (2005), existe um conjunto específico de requisitos iniciais que
devem ser garantidos, previamente à implementação de um processo FMEA; e tais
exigências incluem:
Para que a análise resulte num documento compreensível, consistente e o mais completo
possível, é importante que os princípios fundamentais do processo sejam interiorizados
de modo a que os objetivos sejam alcançados. O FMEA adota uma abordagem tipo
hierárquica, enfatizando o refinamento progressivo de cada componente até se atingir
um nível de conhecimento ideal (Pimenta de Ávila, 2006). Adicionalmente, permite
uma hierarquização de riscos e de medidas de mitigação.
29
Para o sucesso do método, é vital a utilização de sessões de integração das idéias
propostas (brainstorming) sobre os modos potenciais e os cenários de ruptura, com uma
equipe com experiência relevante e abrangente no tipo de obra em análise (Rausand,
2005).
30
2.6.6.1 – Estruturação do sistema geotécnico
Um aspecto relevante que deve ser levado em consideração está relacionado com a
escolha do nível de detalhe para a descrição do sistema em análise. Este deve ser
sistematicamente subdividido, de forma estruturada e hierárquica, até se atingir um
nível onde seja possível obter uma compreensão adequada dos modos de ruptura dos
vários elementos e do sistema (Silva et al., 2006).
O sistema pode ser constituído por vários sistemas principais e, por sua vez, ser
sistematicamente dividido em vários níveis de subsistemas até atingir uma situação em
que não é vantajoso, do ponto de vista da modelação, efetuar mais divisões, o qual se
designa por subsistema de fronteira ou componente básica. A Figura 2.9 apresenta um
modelo de detalhamento de um determinado sistema.
Para a identificação dos sistemas principais, dos subsistemas e das componentes, utiliza-
se um código numérico que permite diferenciar e localizar na estrutura hierárquica. A
definição da sua fronteira, bem como dos sistemas principais, dos subsistemas e dos
componentes básicos, são aspectos que têm de ser decididos pelos analistas por critérios
subjetivos, não existindo, assim, uma solução única.
Os sistemas principais têm como principal objetivo a descrição dos grandes grupos
intervenientes no sistema; os subsistemas são divisões dos sistemas principais ou até
mesmo de outros subsistemas de nível de detalhe inferior. O sucessivo desdobramento
dos subsistemas pode ocorrer até ao número de níveis necessários para se obter as
componentes básicas. É importante destacar que um excessivo refinamento na
modelação do sistema não induz necessariamente uma análise com melhores resultados;
pelo contrário, pode tomar a análise muito mais complexa.
31
2.6.6.2 – Funcionalidades das componentes básicas
Para que a FMEA possa ser implementada, é necessário que as componentes básicas
representem funções perfeitamente definidas para o correto funcionamento dos
subsistemas de nível inferior, dos sistemas principais e, em última análise, do próprio
sistema (Pimenta et al., 2006). É importante destacar a importância da utilização de
diagramas de blocos funcionais (FBD’s – Functional Block Diagrams) para ilustrar as
relações entre as diferentes entidades funcionais (componentes básicos) de um
subsistema.
32
Os FBD’s são elaborados com o objetivo de se obter um melhor entendimento do
funcionamento dos subsistemas e o nível em que são executados dependerá daquilo que
o analista pretende descrever. Quanto mais baixo for o nível de detalhe do subsistema
em estudo (subsistema de 1º nível ou até mesmo sistema principal), mais difícil será de
ilustrar, num formato deste tipo, as várias relações entre todos os seus componentes.
Uma alternativa é a execução de representações gráficas para vários subsistemas com a
sua posterior interligação.
Por exemplo, em um muro de contenção do tipo cortina atirantada, pode ser assumido
que cada ancoragem (subsistema) é constituída, entre outras, pela componente básica
‘tirante’. Este elemento tem como função compensar e resistir as cargas oriundas do
empuxo lateral do muro e, assim, um modo de ruptura pode ser a ruptura à tração do
tirante (Figura 2.11).
33
Um modo potencial de ruptura pode ser iniciado por fenômenos da natureza, por uma
falha operacional ou até por erros humanos, por exemplo, erros de projeto. Devido ao
grande número de modos potenciais de ruptura que podem ser incluídos numa FMEA,
por vezes, é necessário confinar a análise àqueles que realmente representem um risco
significativo (Robertson et al., 2003).
A triagem dos modos potenciais de ruptura nem sempre é fácil e possui caráter
subjetivo. O primeiro critério a adotar será o de considerar apenas aqueles que
realmente são possíveis de ocorrer na obra. Um segundo critério poderá ser o de
eliminar os modos de ruptura com baixa probabilidade de ocorrência (modos de ruptura
desprezíveis).
A princípio, a análise deve ser desenvolvida para todos os itens do sistema ao nível mais
elevado possível (componentes básicas). À medida que a análise progride no sentido
decrescente do nível dos subsistemas, os efeitos relativos a um modo de ruptura de uma
componente de nível superior devem representar, sucessivamente, os modos de ruptura
de componentes de nível inferior. Além disso, um modo de ruptura a um nível superior
pode ser a causa da ruptura no próximo nível, ou seja, o efeito de um modo de ruptura
em um nível origina a ruptura do subsistema de nível inferior mais próximo.
A identificação dos perigos aos quais um dado sistema está sujeito e das causas que o
levam à perda de funcionalidade ou a um deficiente desempenho são assuntos que
devem ser desenvolvidos no âmbito da FMEA. As componentes básicas têm modos de
ruptura originados pelas causas designadas como iniciadoras (root causes), as quais
podem ter origem em (BSI, 1991):
34
• fenômenos naturais (pluviosidade, temperatura, sismos);
• processo interno físico, químico ou biológico;
• deficiências na fase de construção;
• defeitos na qualidade dos materiais;
• falhas operacionais (tipicamente na fase de serviço);
• ação humana (erros, sabotagem, etc.).
Os subsistemas de níveis de detalhe inferiores podem ter modos de ruptura causados por
efeitos diretos de modos de ruptura de componentes de subsistemas de níveis mais
elevados (também designados por modos de ruptura contribuintes) e/ou por causas
iniciadoras. Quando se pretende efetuar somente uma análise qualitativa, a inclusão das
causas dos modos de ruptura na análise não é absolutamente fundamental. Porém, a
descrição e a identificação das causas de um modo de ruptura de uma componente são
úteis no sentido de avaliar as causas de modos de ruptura de outras componentes.
Um processo FMEA pode ser utilizado para analisar qualitativamente as causas comuns
a diversos modos de ruptura de várias componentes básicas do sistema. A identificação
dos perigos com origem em causas externas ao sistema pode ser um processo
relativamente imediato; porém, a identificação das causas que provocam modos de
ruptura internos ao sistema pode não ser tão direta e, em geral, envolve a consideração
de interações entre vários subsistemas.
Se o sistema em análise é uma barragem, estes efeitos não devem ser confundidos com
os efeitos remotos (consequências no vale a jusante), os quais podem também resultar
da mesma ruptura, tais como perdas de vidas e danos materiais associados à propagação
da onda de inundação, resultante do colapso estrutural da barragem.
35
De uma forma geral, os efeitos de modos de ruptura podem ser subdivididos em dois
grandes grupos: os efeitos diretos e os efeitos indiretos. Os primeiros podem ainda ser
subdivididos em efeitos imediatos e em efeitos próximos. Os segundos podem também
ser designados por efeitos finais ou globais. Os efeitos imediatos são aqueles relativos
às consequências no componente em análise, enquanto os efeitos próximos devem
relatar os efeitos em outros componentes ou subsistemas adjacentes de nível inferior. À
medida que se persegue a sequência de efeitos, progride-se nos níveis de detalhe na
cadeira hierárquica, alcançando-se, por fim, os efeitos finais no sistema como um todo
(BSI, 1991).
36
2.6.6.7 – Estimação da criticidade
λ = λb x m x α x r (2.1)
sendo:
Ȝ ņ taxa de falha relativo ao modo de ruptura de um componente;
Ȝb ņ taxa de falha-base para determinadas condições de referência;
m ņ fator para atender às condições ambientais e de manutenção;
Į ņ fator de modo de falha;
r ņ fator de proporção do tempo em que o componente está em risco de falha.
37
O fator r define a proporção de tempo de funcionamento em que a componente
encontra-se em risco de falha, relativamente ao tempo total de operação, sendo expresso
pela seguinte relação:
38
Tabela 2.4: Classes de probabilidade (modificado de MIL-P-1629, 2005)
Intervalos de
Classes Classificação Descrição
probabilidade
Nesta concepção, um evento seria ‘esperado’ quando fosse tipificado como sendo de
‘ocorrência regular’, o que implicaria em uma probabilidade de ocorrência superior a
20%. Em geral, as informações disponíveis e de amplo acesso para a análise de
estruturas em engenharia civil não permitem aos analistas de riscos utilizarem esses
intervalos de probabilidade; por outro lado, as atribuições relativas às classes de
probabilidade são de caráter muito subjetivo (Silva et al., 2002). Entretanto,
classificações desta natureza podem servir de referência geral para as análises,
possibilitando adaptações do número de classes, dos critérios de classificação ou nas
fronteiras dos intervalos de probabilidade a serem adotados.
39
Tabela 2.5: Classes de consequências
Áreas de interesse
Classes de
Saúde e Impacto na mídia Econômicas /
criticidade Meio ambiente
segurança (imagem da empresa) destruição ($)
Impacto baixo
I Desprezível Desprezível Sem impacto
(<100mil)
Primeiros Violação a Legislação Impacto médio
II Baixo
socorros Ambiental (100 mil – 1 milhão)
Pequenos Prejuízo local Impacto médio – alto
III Moderado
ferimentos reversível (1 -10 milhões)
Impacto significativo Impacto alto
IV Incapacidade Severo
reversível (10 -100 milhões)
Ocorrência de Impacto catastrófico Alta destruição
V Extremo
fatalidades irreversível (> 100 milhões)
I cr = p x c (2.3)
sendo:
Icr ņ Índice de criticidade;
p ņ Índice atribuído à probabilidade de ocorrência de um determinado modo de
ruptura;
c ņ Índice atribuído à consequência dos efeitos de um determinado modo de
ruptura.
40
linhas referem-se às classes de probabilidade e as colunas, às classes de consequências,
tal que:
[Cr ] = Cr ( p x c ) (2.4)
ou ainda:
41
Figura 2.13: Matriz de criticidade com 5 níveis de alerta
RPN = S x O x D (2.6)
sendo:
O índice de severidade pretende avaliar o impacto dos efeitos dos modos de ruptura
sobre o funcionamento do sistema em análise; o índice de probabilidade visa traduzir a
frequência ou a probabilidade de aparecimento de cada modo de falha e o índice de
detecção pretende traduzir a probabilidade de não detecção, pelos dispositivos de
controle, das causas ou efeitos dos modos de ruptura.
42
As Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 apresentam exemplos de índices de severidade, índices de
probabilidade de ocorrência e índices de probabilidade de detecção, respectivamente,
(Toledo e Amaral, 2005) para uma análise de satisfação do cliente.
43
Os valores de RPN mais altos devem ser tratados prioritariamente, mas é necessário
também se atentar para valores parciais dos índices. De acordo com Silva et al.(2006),
uma boa prática é a consideração do par de valores Índice de Criticidade e RPN de cada
modo de falha, para melhor consistência na tomada de decisões. O Anexo I deste
trabalho apresenta um formulário utilizado como base para aplicação da metodologia do
FMEA utilizando o RPN como forma de quantificação dos riscos.
Caso se constate que os riscos a que a obra está sujeita são elevados e intoleráveis,
devem ser tomados os devidos cuidados no sentido de restringi-los ou minimizá-los. A
mitigação de riscos do sistema somente é obtida atuando no sentido de reduzir a
probabilidade de ocorrência dos eventos iniciadores dos modos de ruptura (prevenção
de acidentes), da sequência dos efeitos ou das consequências e na redução da severidade
das consequências dos efeitos finais no sistema (proteção contra os acidentes).
As medidas para mitigação de riscos podem ser diferentes, dependendo da fase da vida
da obra em que se efetua a análise. Na fase de projeto, pode-se chegar à conclusão que
as medidas de controle inicialmente idealizadas não são suficientes para garantir riscos
aceitáveis, resultando na proposição de medidas complementares. Na hipótese do
método ser utilizado na fase operacional da obra, muitas das medidas prévias podem ser
inviáveis, exigindo-se uma reavaliação geral das mesmas.
44
CAPÍTULO 3
Nas patologias que podem afetar o meio-ambiente e a sociedade existem diversos tipos
e graus de emergência. É possível distinguir os acidentes, que são as emergências
controladas pelo homem, por exemplo, dos incêndios e das catástrofes que estão
praticamente fora da capacidade humana de controle, tal como os eventos sísmicos. Se o
acidente for provocado pela ocorrência de uma anomalia em uma barragem, as
consequências podem ser muito abrangentes, atingindo proporções de uma catástrofe e
domínio de vários quilômetros a jusante da barragem (Viseu e Almeida, 2000).
O Comitê Brasileiro de Barragens afirma que o responsável legal pela barragem deve
assegurar aspectos relacionados à segurança do empreendimento, devendo ainda fazer
com que sua operação e manutenção sejam executadas por pessoas que tenham
conhecimento e habilitação para tal (CBDB, 1999).
45
Desta forma, um PAE deve ser preparado, testado, divulgado, mantido e revisado para
qualquer barragem cuja ruptura possa ensejar como resultado a perda de vidas, bem
como para qualquer barragem para a qual um alerta antecipado possa reduzir os danos a
montante ou a jusante.
A ruptura de uma barragem é um problema que preocupa, cada vez mais, proprietário,
engenheiros e entidades responsáveis pelos projetos, bem como o licenciamento, a
construção e operação destas estruturas. No âmbito de segurança de barragens,
verifica-se uma crescente conscientização da existência do risco potencial para as
populações instaladas a jusante. Segundo Lima et al. (2008), acidentes com barragens
continuam a acontecer na frequência de pelo menos um acidente grave por ano.
Ramos (1995) apresenta alguns números sobre vítimas e prejuízos causados por alguns
desastres ocorridos nos últimos duzentos anos. A título de exemplo, citam-se os casos
das barragens de Baldwin Hills e Teton, nos EUA, em que a perda de vidas foi muito
pequena, mas os prejuízos materiais foram superiores a dez milhões de dólares. Por
outro lado, as rupturas das barragens de South Fork (EUA) e Vajont (Itália) causaram a
morte de mais de duas mil pessoas.
De acordo com dados do Comitê Internacional das Grandes Barragens (ICOLD, 1995),
no período de 1799-1988, ocorreram rupturas em 180 barragens, cerca de 2,2% das
barragens construídas antes de 1950 e cerca de 0,5% das barragens construídas depois
desta data. Destas, 70% dos acidentes ocorreram nos primeiros 10 anos após construção
e 70% das rupturas ocorreram em barragens com alturas inferiores a 30m.
46
No Brasil, observa-se historicamente a predominância da ruptura de barragens de
contenção de rejeitos de minerações; em período recente, podem ser citadas as
seguintes: ruptura da barragem de rejeitos da Mineração Rio Verde, em 2001 em São
Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima-MG, com grandes
prejuízos ambientais ao longo de 6,3 km do percurso da onda de cheia e a perda de
cinco vidas; em 2007, a ruptura da barragem de rejeitos da Mineração Rio Pomba em
Miraí-MG, deixando quatro cidades em estado de calamidade pública; embora sem
causar vítimas, os efeitos resultaram em grandes danos materiais a milhares de pessoas
e danos severos ao meio ambiente.
47
De acordo com Delliou (2001), na União Européia ainda não existe uma legislação
específica para o gerenciamento dos resíduos de mineração. No momento, os países
membros têm sua própria legislação sobre mineração e meio ambiente, incluindo-se o
gerenciamento das barragens de contenção de rejeitos.
48
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), por meio da resolução Nº 37 de
26 de março de 2004, no seu 8º artigo, determina que o outorgado é responsável pelos
aspectos relacionados à segurança da barragem, devendo assegurar que seu projeto,
construção, operação e manutenção sejam executados por profissionais legalmente
habilitados. Por outro lado, o projeto de lei nº 436 de 2007 estabelece a obrigatoriedade
da contratação de seguro contra o rompimento de barragens para cobertura de danos
físicos, inclusive mortes e prejuízos materiais às comunidades a jusante. Por este projeto
de lei, as companhias seguradoras atuam como auditores e fiscais, garantindo que os
projetos sejam elaborados e as obras tenham execução e manutenção adequadas.
A Tabela 3.1 apresenta os valores dos índices de classificação das barragens segundo
estas prescrições normativas.
49
De acordo com a classificação do potencial de dano ambiental, são estabelecidos prazos
(um, dois ou três anos) para realização de auditorias nas barragens, realizadas por
consultor externo ao quadro de funcionários da empresa. Os relatórios das auditorias
devem levantar as condições físicas e estruturais das barragens e atestar se as mesmas
apresentam condições seguras de estabilidade. Caso não apresentem, o relatório deve
conter um plano de ações com cronograma para a implantação de melhorias, a fim de se
corrigir as falhas e garantir a estabilidade das estruturas.
Um PAE deve ser elaborado para cada barragem, a menos que as consequências da
ruptura desta barragem sejam baixas. A definição quanto a necessidade da preparação
de um PAE deverá ser tomada, por meio de uma análise específica, quanto as condições
de risco a jusante; por exemplo, uma grande barragem que retém um grande volume
dentro de um vale confinado, envolvida por uma população significativa, exige
claramente a formulação de um PAE. Inversamente, uma pequena barragem de fazenda,
em uma área relativamente desabitada, normalmente não precisaria.
Assim um PAE deve ser preparado, testado, divulgado e mantido para qualquer
barragem cuja ruptura possa apresentar risco de perda de vidas, bem como para
qualquer barragem para a qual um alerta antecipado possa reduzir os danos a montante
ou jusante. De acordo com Lima et al. (2008), um PAE deve conter uma série de ações
para manter a segurança de um empreendimento e uma resposta eficaz para situações de
risco associadas à integridade da ocupação do vale a jusante.
Menescal e Miranda (1997) destacam ainda que o PAE deve conter procedimentos de
emergência em relação ao acompanhamento da barragem, das medidas em relação à sua
operação e de notificação para as autoridades responsáveis e para a população em geral,
de forma a salvaguardar vidas e reduzir danos ao longo do rio na eventualidade de uma
ruptura da barragem.
Neste mesmo sentido, BUREC (1998) destaca as vantagens de se elaborar um PAE com
base em cinco fases, que são: detecção das falhas, tomada de decisão, notificação, aviso
e evacuação.
50
Viseu e Almeida (2000) sugerem que o PAE deve abordar, em uma primeira fase, os
seguintes aspectos: caracterização da barragem, caracterização do vale a jusante e
caracterização da cheia provocada pela ruptura da barragem. Em uma segunda etapa,
deveriam ser caracterizados os procedimentos a seguir em caso de acidente: cadeias de
decisão e identificação dos aspectos principais intervenientes no processo, detecção e
identificação das potenciais situações perigosas ou anômalas, orientações para a tomada
de decisão, definição de ações de resposta a desenvolver, notificação dos principais
responsáveis e definição do sistema de aviso e alerta e outras questões complementares,
como, por exemplo, definição de acessos e atribuição de recursos humanos, logísticos e
materiais, incluindo equipamentos de emergência.
Como parece exposto, não existe uma metodologia padronizada para a organização e a
implementação de um PAE aplicado a barragens de contenção de rejeitos; existem
apenas várias referências quanto aos aspectos que devem ser abordados. No caso do
estudo de caso abordado neste trabalho, foi adotada a metodologia proposta por Viseu e
Almeida (2000), por ser a mais abrangente.
51
Adicionalmente, impõe-se descrever a hidrologia da região e os sistemas de drenagem
superficial do maciço da barragem, além dos sistemas hidráulicos, vertedor, galerias e
sistemas de drenagem de emergência, incluindo, sempre que possível, o sistema de
drenagem interna do barramento e da fundação.
Qualquer descarga acidental proveniente de uma barragem causa grandes danos no vale
a jusante. Neste sentido, o mapeamento das zonas a jusante da barragem constitui
estudo básico para a elaboração de uma carta de risco para a definição das estratégias de
proteção na tomada de decisões (Viseu e Martins, 1997). A caracterização deve ocorrer
de forma quantitativa quando se descreve a população afetada nas áreas de risco e
qualitativa para os demais sistemas.
52
Em uma segunda etapa, é realizado um levantamento de campo bem planejado e com
objetivos específicos, visando descrever os tipos de edificações, indústrias e acessos
existentes, vegetação local e um censo amplo da população delimitada pelas áreas de
risco potencial.
O estudo da onda de cheia indica as áreas passíveis de serem atingidas pela onda
resultante da ruptura da barragem. Este estudo deve conter um zoneamento das áreas
que serão gradativamente atingidas pelas vazões liberadas da barragem ao longo do
tempo após a ruptura.
53
A propagação da onda de cheia é regida pelas equações de Saint-Venant, que descrevem
o escoamento gradualmente variado em superfície livre:
∂Q ∂A
+ =q (3.1)
∂x ∂t
1 ∂Q 1 ∂ § Q 2 · ∂y
+ ¨¨ ¸¸ + g − g (S0 − S f ) = 0 (3.2)
A ∂t A ∂x © A ¹ ∂x
sendo:
Q ņ vazão (m3/s)
A ņ área da seção transversal do escoamento (m2)
x ņ distância medida segundo a direção do escoamento (m)
t ņ tempo (s)
g ņ aceleração da gravidade (m/s2)
y ņ profundidade do escoamento (m)
S0 ņ declividade do perfil longitudinal da linha de água (m/m)
Sf ņ declividade da linha de energia
De acordo com estudos efetuados por Froelich (1987), apud Viseu (1996), o tempo de
ruptura de uma barragem de aterro pode ser expresso pela seguinte relação:
54
0, 5
§V ·
t rup = 0,007¨¨ bar2 ¸¸ (3.3)
© hbar ¹
sendo:
O PAE deve conter um fluxograma que indique a cadeia de decisão para acionamentos
em caso de emergência. Para cada nível de alerta, devem ser listadas todas as pessoas e
autoridades a serem acionadas e os meios de contato mais apropriados, com a definição,
de forma clara e objetiva no documento, do poder de decisão de cada um.
55
Em geral as principais pessoas e autoridades envolvidas no desenvolvimento do PAE
são os operadores da barragem, o dono da obra, as autoridades locais, os órgãos de
segurança pública como a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil e os
órgãos reguladores como o IBAMA, IGAM e ANA, por exemplo.
56
dispor de diferentes ações para cada nível identificado. Uma vez detectadas com a
devida antecedência, as situações de emergência podem ser avaliadas e as ações
preventivas ou corretivas podem ser tomadas.
A seguir, são discutidas algumas situações que estão diretamente relacionadas à ruptura
de barragens. Para cada um dos cenários de ruptura indicados, o PAE deve apresentar
uma sequência de etapas definidas e características, no sentido de propiciar condições
para o controle e/ou minimização dos impactos decorrentes de situações de emergência.
57
Figura 3.2: Processo de ruptura da barragem por erosão interna (piping).
3.3.5.2 – Galgamento
Na ocorrência de uma cheia afluente maior que a de projeto ou por problemas oriundos
da falta de manutenção do sistema extravasor da barragem, o nível do reservatório
poderá subir além da cota de borda livre de segurança. Mantendo-se esta elevação do
nível da água, ocorre o galgamento, situação em que a água passa a verter por cima da
crista da barragem, com a consequente ruptura da barragem (Figura 3.3).
58
Menescal e Miranda (2002) sugerem que, no momento em que o nível de água do
reservatório atingir trinta centímetros acima da crista da barragem, devem ser adotados
os seguintes procedimentos de emergência:
De posse destes dados, deve ser realizada uma análise de estabilidade e de percolação
para a determinação dos fatores de segurança da barragem, acionando-se os PAE de
acordo com os níveis de alerta determinados. No caso de uma probabilidade real de
ruptura, implementar imediatamente os procedimentos de emergência prescritos para a
respectiva situação.
3.3.5.4 – Escorregamentos
59
Nestes casos, as análises devem estabelecer a localização, extensão, causa provável,
impactos na operação, probabilidades de movimentos adicionais na área e a existência
de outras potenciais áreas de escorregamento, devendo o PAE prever o conjunto de
ações efetivas a serem adotadas para a superação destes problemas.
Pinto (2008) cita, como exemplo, a ruptura da barragem de Vajont na Itália em 1963,
devido a um escorregamento de cerca de 240 milhões de m3 do maciço rochoso sobre o
ao reservatório. Esse movimento ocorreu a uma velocidade de 30 m/s, provocando uma
enorme onda que atingiu uma altura estimada em 99 m, acima da crista da barragem.
Descargas súbitas de água, planejadas ou impostas por situações atípicas, pelo vertedor
ou pelos dispositivos de tomada d’água, devem ser objeto de prévia comunicação às
comunidades situadas a jusante da barragem e também aos órgãos de segurança pública
e agências reguladoras.
60
3.3.5.7 – Leituras anormais da instrumentação
O PAE deve conter procedimentos claros quanto à adoção de ações, uma vez
identificada uma emergência em potencial. A notificação da situação de emergência
requer que a pessoa responsável pelo contato inicie a ação corretiva e decida, se e
quando, uma emergência deve ser declarada e o PAE executado. Orientações claras
devem ser fornecidas no PAE sobre as condições de declaração de uma emergência.
Por outro lado a tomada de decisões deve acontecer o mais breve possível, de forma a
maximizar o tempo disponível para a notificação e avisos. A lista de notificação do PAE
deve conter uma relação das construções a jusante, contatos dos órgãos públicos de
segurança (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil), contatos das agências
reguladoras e dos institutos de proteção ao meio ambiente.
61
3.3.7 – Definição do sistema de alerta e notificação dos principais responsáveis
O plano deve ser materializado em um único documento, que deve conter um conjunto
de ações para cada nível de emergência. A definição no número de níveis de emergência
e a organização do plano, para cada sistema geotécnico, dependem das exigências do
proprietário, do operador e das autoridades legais envolvidas. Um PAE pode incorporar
os seguintes níveis de alerta (BUREC, 1998):
62
3.3.8 – Aprovação, distribuição e atualização do PAE
De acordo com Santos et al. (1996), um sistema de apoio a emergências deve conjugar,
de forma eficaz, o acesso a equipamentos de medição e observação da barragem e a
outras informações genéricas de caracterização fisiográfica e sócio-econômica da bacia
hidrográfica, sobretudo do vale e da área de influência da barragem.
63
Figura 3.4: Estrutura do sistema DamSupport (Gamboa et al., 1996)
No que diz respeito aos recursos humanos, propõe-se a adoção das seguintes medidas
(Viseu e Martins, 1997):
64
Para a hipótese de falha no fornecimento de energia, o PAE deve apresentar alternativas
para alimentação dos equipamentos a serem utilizados durante a emergência e também
do sistema de comunicação. O emprego de grupos geradores apresenta-se como a
melhor alternativa. O plano deve ainda possuir uma relação, nome e telefone, de
possíveis fornecedores de materiais de construção e equipamentos de terraplenagem que
eventualmente sejam necessários de mobilização imediata, visando reduzir ou mesmo
contornar a situação de emergência em questão.
65
CAPÍTULO 4
As reservas minerais da Mineração Casa de Pedra são expressivas, com alto teor de
pureza, de até 68%, pelo que a mina possui classificação do tipo WCM (world class
mine). Os processos de extração e tratamento resultam em produtos de diferentes faixas
granulométricas (Tabela 4.1), destinados à Usina Presidente Vargas (Volta Redonda/RJ)
e a vários outros clientes nacionais e internacionais.
A lavra é feita a céu aberto, nas frentes denominadas Corpo Principal, Corpo Norte e
Corpo Oeste e as fases de tratamento industrial, com capacidade instalada de produção
de 40MTPA, compreendem britagem, peneiramento, homogeneização, classificação,
concentração e filtragem (Figura 4.1).
66
Figura 4.1: Fluxograma da planta de beneficiamento da CSN – 40MTPA (CSN, 2009)
67
Os rejeitos gerados no processo são provenientes das etapas de classificação,
concentração (fração grossa) e filtragem (fração fina). O descarte da fração grossa do
rejeito acontece em dois momentos no processo, sendo o primeiro na planta de
ciclonagem, que realiza a deslamagem do minério através de linhas de ciclones. O
overflow de cada linha de ciclone alimenta o espessador de rejeitos, cuja função é
recuperar a água de processo, enviando a lama final para o sistema de contenção de
rejeitos. O segundo descarte da fração grossa do rejeito acontece na planta de
concentração, durante a etapa de flotação, que recebe o underflow da etapa de
ciclonagem.
O descarte da fração fina do rejeito acontece na última etapa do processo que realiza a
filtragem do overflow da etapa de flotação através de filtros de disco a vácuo. A Tabela
4.2 apresenta os resultados de distribuição granulométrica, obtidos para uma amostra de
rejeitos coletada na Barragem B6 do empreendimento (Osorio, 2005).
As Tabelas 4.3 e 4.4 apresentam alguns resultados de massas específicas secas (ou
pesos específicos secos) e de índices de vazios limites, realizados em amostras coletadas
na praia de rejeitos da citada barragem B6 (Geolabor, 2005) e em furos de sondagens
executados em praia de rejeitos de aterro hidráulico experimental da CSN (UFV, 2005),
respectivamente.
Tabela 4.3: Massas específicas secas e índices de vazios limites de amostras de rejeitos,
coletadas na praia da Barragem B6 (Geolabor, 2005)
Massa específica Massa específica
Índice de vazios Índice de vazios
Amostra seca máxima seca mínima
3 3 máximo Mínimo
(g/cm ) (g/cm )
Rejeito da
1,09 0,68 3,16 1,03
barragem B6
68
Tabela 4.4: Resultados de ensaios para determinação de pesos específicos dos sólidos e
índices de vazios obtidos no aterro experimental da CSN (UFV, 2005)
Peso Peso
Peso
específico específico Índice de Índice
específico
Amostra dos seco vazios de vazios
seco máximo
sólidos mínimo máximo mínimo
(kN/m3)
(kN/m3) (kN/m3)
AEAM1 38,96 18,08 24,43 1,15 0,59
AEAM2 37,06 17,86 24,26 1,07 0,53
AEAM3 37,83 17,77 23,89 1,13 0,58
AEAM4 40,64 18,38 24,53 1,21 0,66
AEAM5 35,17 16,37 21,81 1,15 0,61
69
Figura 4.2: Arranjo do sistema de disposição atual de rejeitos da Mineração Casa de
Pedra (CSN,2009)
A disposição dos rejeitos nas barragens B3, B4, B5 e B6 é executada basicamente pelo
lançamento direto da polpa ao longo do leito do córrego Casa de Pedra, a montante dos
respectivos reservatórios; na barragem Casa de Pedra, a forma de disposição se dá por
aterro hidráulico, com espigotamento da fração grossa do rejeito a partir da crista da
barragem e lançamento hidráulico da fração fina a montante do lago. Estas estruturas
são descritas resumidamente a seguir.
4.2.1 – Barragem B3
A Barragem B3 foi projetada pela Leme Engenharia em 1979 e construída entre 1980 e
1981. O dique de partida possui 20,0m na seção de maior altura, com crista na El.
892,0m, tendo sido construído em cinco etapas, cada etapa com altura máxima de
quatro metros, estratégia de construção adotada para permitir melhor consolidação dos
materiais de fundação.
O dique de partida da Barragem B3 foi alteado para montante até a El. 897,0m em 1990
e até a El. 900,0m em 1992. Como material de construção do maciço da barragem, foi
70
utilizado argila, silte e o próprio rejeito arenoso disposto no reservatório, que apresenta
características adequadas para este propósito. A barragem apresenta o talude de
montante com inclinação de 1V: 2H, o talude de jusante com inclinação 1V:1,75H e
área alagada de aproximadamente 3,2x104m2.
4.2.2 – Barragem B4
A barragem B4 foi construída em 1987, possui 54,0m na seção de maior altura e 272m
de comprimento de crista. É constituída por um dique de partida de 41,0m de altura e
um maciço composto por uma seção zonada de aterro compactado e dois alteamentos
complementares, totalizando 9,0 m e implantados em 1991 e 1993. O dique de partida
possui filtro inclinado em chaminé e um dreno horizontal elevado acima do nível da
fundação. Os alteamentos a montante possuem drenos de base que descarregam sobre a
crista do dique de partida para jusante, não sendo conectados ao filtro vertical do dique
de partida, o que implica em uma elevada linha freática no talude de jusante.
71
A barragem está instrumentada com 6 piezômetros e 3 medidores de NA. O vertedor,
localizado na crista da barragem, sob a estrada de acesso a Mineração Casa de Pedra,
consiste de 5 tubos de concreto que descarregam em um trecho curto de canal revestido
de concreto, ligado a um poço de queda do vertedor (dispositivo similar ao da barragem
B3). Este sistema é complementado por uma galeria horizontal na elevação da crista do
dique de partida, que lança o fluxo em um canal em degraus, aberto ao longo da encosta
da ombreira esquerda, até a restituição do fluxo a jusante. Os taludes encontram-se
protegidos por vegetação e com canaletas de drenagem superficial (Figura 4.4). A área
alagada é de aproximadamente 5,4x105m2.
De acordo com levantamento de campo (DAM, 2002), a barragem possui uma seção
zonada com uma porção central de material siltoso e camada selante em solo argiloso
nos taludes de montante e jusante. O sistema de drenagem interna constitui-se de um
filtro em chaminé e um tapete drenante de material grosso. O barramento possui duas
seções instrumentadas com 6 piezômetros e 3 medidores de NA. O vertedor da
barragem B4 é constituído de uma caixa de concreto conectada a uma galeria que
72
desemboca em um canal vertente. Os taludes encontram-se protegidos por vegetação e
com canaletas de drenagem superficial (Figura 4.5). A área alagada é de
aproximadamente 3,7x105m2.
4.2.4 – Barragem B6
A barragem B6, com altura atual de 23m na seção de maior altura e comprimento de
crista de 320m, foi construída sobre rejeitos do reservatório da barragem B3. O dique de
partida foi projetado com taludes suaves de 1V: 3H de montante e 1V:5H a jusante com
bermas. Sobre a superfície de fundação, foi lançada uma camada de rejeito grosso da
barragem B2, para prover uma plataforma de trabalho para lançamento de uma camada
drenante. A barragem tem seção homogênea construída com xisto alterado e foi alteada
em 4m para jusante, atingindo a altura atual de 23m, correspondente à El. 916,0m.
73
Figura 4.6: Vista de jusante da Barragem B6 (CSN, 2009)
Em função de atrasos na obra da Barragem Casa de Pedra e a proximidade do
esgotamento da capacidade de disposição de rejeitos na barragem B6, foi executado em
um alteamento em 2007 constituído por um muro de concreto de 1,80m de altura ao
longo da crista da barragem, com a finalidade de prolongar a vida útil da barragem até a
conclusão do novo sistema de disposição.
Em 2003, a Mineração Casa de Pedra iniciou estudos para ampliação de sua capacidade
de disposição de rejeitos, uma vez que o sistema existente encontrava-se em fim de vida
útil. DAM (2003), Pimenta Ávila (2004), Golder (2006) e Figueiredo (2007) realizaram
diversos estudos no sentido de otimizar a disposição dos rejeitos do processo de
beneficiamento; entre as opções estudadas, destacam-se as seguintes:
74
Definido o sistema de contenção, foram realizados os seguintes levantamentos para a
escolha do local e para definição da geometria do maciço da barragem (Santos e Sousa,
2008), que resultaram em duas propostas de locação (Figura 4.7).
75
canais de desvio, para a construção do maciço da barragem, a opção 1 foi a adotada para
a construção do novo sistema de contenção de rejeitos da Mineração Casa de Pedra.
Na área prevista para a implantação da barragem (Opção 1 anterior), foi realizada uma
campanha de sondagens SPT e rotativas para mapeamento geológico-geotécnico de
campo, com a finalidade de definir os tipos litológicos existentes na região e seus
estados de decomposição, bem como caracterizar os solos de cobertura e definir as áreas
de empréstimo para a construção da barragem. A Figura 4.8 apresenta o mapa geológico
do local de implantação da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra e das áreas de
empréstimo.
76
O perfil litológico do local é representado por uma sucessão de xistos e filitos, com
grande variação do ponto de vista petrográfico, mas aparentemente isenta de leitos de
dolomitos ou quartzitos que ocorrem no Grupo Nova Lima (CSN, 2009). Os materiais
presentes na fundação da Barragem Casa de Pedra são constituídos pelos xistos Nova
Lima decompostos, compostos por solos residuais e saprolíticos silto-argilosos e por
colúvios argilo-siltosos e argilo-arenosos de espessuras variadas.
Silte 80 21 55 72
Fina 15 10 9 13
(%)
Areia
Média 1 5 4 4
Grossa - 4 2 1
Pedregulho - 4 4 6
LL (%) NP 56,2 46,2 NP
LP (%) NP 35,3 34,7 NP
IP (%) NP 20,9 11,5 NP
ȡs (g/cm3) 3,013 2,980 2,991 2,891
Ȗ (g/cm3) 1,358 1,624 1,426 1,314
k (cm/s) 3,09 x10-4 1,95 x10-8 4,02 x10-4 2,32 x10-5
Silte areno
Silte areno Argila silto arenosa Silte argilo
argiloso com
argiloso, com pedregulhos, arenoso com
Descrição pedregulhos,
marrom marrom pedregulhos,
marrom
arroxeado avermelhado marrom
arroxeado
77
Tabela 4.6: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento
(ensaios triaxiais Rsat com medidas de poropressões).
Parâmetros
Profundidade Classificação Ȗ
Poço c’ φ’
(m) (USCS) (KN/m3)
(kPa) (o )
0,70 - 1,00 ML 17,16 25 29
PI-01 Possivelmente
4,30 - 4,60 15,11 35 28
ML
PI-02 3,00 - 3,30 MH 16,68 20 33
Possivelmente
PI-03 3,5 - 3,80 16,50 57 23
ML
78
Os relatórios das sondagens indicam um comportamento gradacional dos saprolitos,
ressaltando a xistosidade bem marcada em solos de granulometria essencialmente
siltosa e de cores bastante variadas. As diferentes cores são acompanhadas por
diferenças nas composições minerais e, consequentemente, nas características físicas
dos solos encontrados. Estudos estatísticos de cubagem, realizados nas áreas definidas
como jazidas de empréstimo, indicaram um volume aproximado de 5,0x105m3 de argila,
aluvião e colúvio e 2,5x106 m3 de siltes argilosos de origem residual (Santos e Sousa,
2008).
A climatologia da região, devido à sua posição geográfica, está sob influência de massas
polares e de outros sistemas atmosféricos derivados de frentes. No período de verão,
atuam a Massa Equatorial Continental e a Massa Tropical Atlântica, sendo que a
primeira é responsável pelas chuvas desta época, devido à sua grande umidade e
instabilidade. No inverno, as incursões da Massa Polar Atlântica são responsáveis por
quedas bruscas de temperatura. Tem-se, assim, a presença bem definida de duas
estações: o inverno, correspondendo ao período seco e mais frio e o verão
correspondendo ao período chuvoso e mais quente (DAM, 2003).
As estações correspondentes ao outono e primavera não são bem caracterizadas pela sua
posição intertropical. De acordo com o DNMET, as normais de temperatura apontam
uma média anual de 18º C, ocorrendo temperaturas mais baixas nos meses de maio a
agosto e mais altas nos meses de outubro a março.
79
O regime pluviométrico desta área é tipicamente tropical, apresentando uma média
anual de 1.554 mm. O período chuvoso ocorre nos meses de outubro a março,
destacando-se o mês de janeiro como o de maior índice (média de 315 mm) e o período
seco de abril a setembro como o de menor índice (média de 11 mm no mês de junho).
No semestre mais quente, outubro a março, ocorre cerca de 84% da média anual de
pluviosidade.
Por outro lado, a forte radiação solar incidente sobre a região, a qual se encontra
regularmente distribuída ao longo do ano, devido à posição latitudinal da bacia,
proporciona níveis consideráveis de evapotranspiração, que atinge o valor anual de até
840 mm A Tabela 4.9 apresenta as médias mensais e anuais registradas pela área de
hidrogeologia da Mineração Casa de Pedra (CSN, 2009).
Os ventos predominantes na área têm sua origem no núcleo das altas pressões
subtropicais; apresentam velocidades máximas anuais em torno de 35 km/h, sendo que,
podem ser observadas, eventualmente, velocidades de rajada da ordem de 85 km/h com
duração de alguns minutos, sendo a velocidade média anual da ordem de 10 km/h.
80
4.3.3 – Aspectos construtivos da Barragem Casa de Pedra
81
Considerando as características granulométricas da fração grossa do rejeito gerado pela
Mineração Casa de Pedra, Figueiredo (2007) apresentou a possibilidade de disposição
através da técnica de aterro hidráulico. A opção adotada pela CSN é a de lançamento
por espigotamento do rejeito grosso, a partir da crista, para a formação da praia e
lançamento hidráulico da fração fina pelo talvegue natural. A opção por este modelo de
disposição viabilizou a utilização do próprio rejeito segregado como material de
fundação e de construção dos alteamentos a montante, até a elevação 954m, cota final
de projeto.
O maciço da barragem foi construído, em sua maior parte, com silte, aproximadamente
80% do material da área de empréstimo, e por argila. As argilas, pelos menores volumes
disponíveis no local, foram empregadas apenas como camadas selantes dos taludes de
montante e de jusante. A inclinação do talude de jusante da barragem é de 1V:2H, com
bermas de 5m de largura a cada 10m de desnível e o talude de montante possui
inclinação de 1V:2,4H. A Figura 4.10 apresenta uma seção típica da Barragem Casa de
Pedra até a cota 922,0m.
A proteção superficial dos taludes é feita por meio de gramíneas, enquanto, nas bermas,
foi aplicada uma camada de 20cm de laterita compactada. A Figura 4.11 é uma foto do
talude de jusante da barragem.
82
Figura 4.11: Vista do talude de jusante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009)
83
Figura 4.12: Vista do talude de montante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009)
84
Tabela 4.11: Características dos dispositivos de drenagem (Pimenta, 2004)
Item Estrutura Dimensões (m)
Comprimento 550,00
1 Vertedor (seção retangular) Largura 7,40
Altura 5,45
Comprimento 134,00
2 Canal Emissário (seção trapezoidal) Largura 7,40
Altura 4,45
Comprimento 448,31
3 Galeria (tubo de aço) Largura da Bacia 5,00
Diâmetro Nominal do Tubo 1,90
4 Torre (Concreto e aço) Altura 34,00
Comprimento 632,64
5 Canal de Desvio (seção trapezoidal) Largura 4,00
Altura 3,40
O reservatório deve manter uma borda livre de 2m,com lâmina d’água para clarificação,
à montante do barramento. Esta lâmina d’água será submetida a um rebaixamento
rápido e total, através da torre de tomada d’água, para o caso de um eventual sinal de
alerta indicado pelo sistema de monitoramento da barragem. A torre é construída por
um sistema de comporta e stop-log (Figura 4.14).
85
Figura 4.14: Desenho esquemático da torre de tomada d'água (CSN, 2009)
A Figura 4.15 apresenta a seção da barragem de maior altura com o layout de instalação
dos instrumentos.
86
A Figura 4.16 apresenta o layout de locação das três seções instrumentadas da
Barragem Casa de Pedra e a Tabela 4.12 apresenta a locação de todos os instrumentos
instalados na barragem, sendo utilizada a seguinte terminologia: Marco Superficial
(MS), Piezômetro Casagrande (PC), Piezômetro Elétrico (PE), Medidor de Recalque
Elétrico (MR) e Medidor de Vazão (MV).
87
PE-08 85+5,33 68,00 851
PC-04 85+5,33 91,00 855
PE-09 85+5,33 114,00 861
PE-10 85+5,33 114,00 854
MR-01 85+5,33 10,00 900
MR-02 85+5,33 24,00 900
MR-03 85+5,33 10,00 880
MR-04 85+5,33 24,00 880
MR-05 85+5,33 57,00 880
MS-04 85+5,33 91,00 880
MS-05 75+0,00 EIXO 920
MV-01 80+0,00 152,00 856
MS-06 75+0,00 45,00 900
MS-07 70+0,00 EIXO 920
PE-11 75+0,00 3,00 904
PE-12 75+0,00 3,00 899
PC-06 75+0,00 24,00 883
PE-13 75+0,00 45,00 883
PE-14 75+0,00 45,00 889
MR-08 75+0,00 13,50 910
88
CAPÍTULO 5
89
90
Figura 5.1: Estrutura hierárquica do sistema geotécnico da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
Os sistemas principais foram discretizados com, no máximo dois níveis de subsistemas,
de forma que a gestão de riscos englobe todos os possíveis riscos associados ao sistema
principal, sem prejuízos para as análises específicas. A descrição do sistema geotécnico
deve ser feita de modo a identificar e hierarquizar os diversos componentes e/ou
subsistemas capazes de sofrer danos devido a um mau funcionamento estrutural,
hidráulico ou ambiental de qualquer elemento associado à obra. Desta forma, além da
barragem propriamente dita, os estudos devem incorporar também toda a sua zona de
influência, como é o caso da Bacia Hidrográfica e do Vale a Jusante.
91
Os sistemas principais III – Vertedor e IV – Torre de tomada d’água não são
discretizados em subsistemas, assim como o sistema principal V – Vale a jusante, por
não possuírem estrutura geotécnica com interferência direta no maciço da barragem. É
importante destacar que deficiências de projeto ou a falta de manutenção em relação aos
dois primeiros sistemas implica acréscimos potenciais aos riscos associados.
Por outro lado o sistema principal I – Bacia Hidrográfica foi discretizado até o segundo
nível de subsistema, uma vez que possui estruturas geotécnicas com interferência direta
na segurança do maciço da barragem.
92
Para efeito das análises de risco, a componente básica I.1.1 – Taludes Submersos foi
considerada como incorporando os taludes submersos no reservatório e o subsistema I.2
– Taludes de Corte, constituído pelos mesmos taludes situados acima do nível da água
do reservatório. Essa distinção deve-se a diferentes modos de ruptura associados a cada
uma das condições de contorno das componentes.
Sendo a área de inundação do reservatório uma das áreas de empréstimo de solo para a
construção do barramento, os taludes de corte (submersos ou não) foram conformados
em uma geometria final na inclinação de 1V:1H.
Nas análises, o subsistema I.2 – Taludes de Corte foi considerado como componente
básica, sem discretização, pois os taludes estão expostos às intempéries sem nenhum
tratamento, cobertura vegetal ou drenagem. A hipótese de deslizamento da encosta para
dentro do reservatório pode ocasionar uma onda que, dependendo de suas proporções,
poderá acarretar o galgamento do maciço da barragem e sua provável ruptura. Um
exemplo clássico deste modelo de colapso ocorreu no caso da ruptura da barragem de
Vajont na Itália em 1963 (Pinto, 2008).
A função principal do barramento é a de reter rejeitos e para que isso ocorra de fato,
impõe-se que as componente básicas II.1.2 – Talude de jusante, II.1.3 – Talude de
montante e II.1.4 – Núcleo siltoso devem cumprir suas funções de imprimir
estabilidade mecânica ao maciço e estanqueidade ao sistema.
O mau funcionamento de qualquer uma das componentes básicas citadas acima, por
questões de considerações de projeto, construção, alterações físico-químicas dos solos
ou mesmo de operação, implica em incremento do risco induzido.
93
Na eventualidade de galgamento da barragem, a camada de proteção do talude de
jusante perde totalmente sua função por constituir-se basicamente de vegetação rasteira.
Para reduzir a probabilidade de ocorrência deste cenário, o vertedor da Barragem Casa
de Pedra foi dimensionado para cheias com padrão de recorrência decamilenar (Tr =
10.000 anos).
Figura 5.2: Fronteira entre as componentes II.2 – Ombreiras e II.3 – Fundação (CSN, 2009).
94
5.1.3 – Sistema III – Vertedor
A componente principal III – Vertedor, que tem como função básica extravasar os
excessos de água acumulados na barragem, foi tratada sem refinamento em
componentes básicas, sem que isso implicasse em prejuízos às análises, uma vez ser tal
abordagem representativa de toda a funcionalidade no sistema e não se ter nenhuma
estrutura geotécnica associada.
O nível de água (NA) máximo normal do reservatório deve ser mantido na elevação
920,0m, ou seja, com dois metros de borda livre. Desta forma, tal elevação corresponde
ao fundo da seção inicial do vertedor, na qual ocorre o controle das vazões vertidas.
A torre de tomada d'água, que também pode ser utilizada como vertedor de serviço, é do
tipo torre e galeria (Figura 4.14), com tubulação interna de 1900mm de diâmetro. A
operação da torre é realizada com comporta e "stop-log" para várias aberturas verticais
conforme as necessidades.
95
5.1.5 – Sistema V – Vale a jusante
O córrego Casa de Pedra, onde a barragem está localizada, deságua no Rio Maranhão
que, por sua vez, é afluente do Rio Paraopeba. Em uma extensão de trinta quilômetros a
jusante da barragem, tem-se a presença de três povoados (pertencentes ao município de
Congonhas/MG) situados às margens do mesmo, o município de Jeceaba/MG e diversas
propriedades rurais. De acordo com dados do IBGE e estimativas do número de
propriedades rurais existentes nas áreas imediatamente a jusante da barragem, a
população nas áreas de risco é da ordem de dez mil pessoas.
Nas margens dos rios, tem-se também uma ferrovia com quatro pontes de pequeno
comprimento, duas pontes rodoviárias e uma usina hidrelétrica. O Anexo I apresenta um
mapa planialtimétrico da região, com a localização dos núcleos urbanos, estruturas,
indústrias e propriedades rurais.
96
Tabela 5.2: Modos de ruptura e suas causas
Componente Modos de Ruptura (MR) Causas
Alteração físico-química dos solos
I.1.1(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a grandes
distâncias
Presença de formações permeáveis a grandes
I.1.1 – Taludes
distâncias
submersos
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de Falta da camada vegetal protetora nas encostas
massa de solo Deficiência/falta de manutenção da drenagem
superficial
Deficiência de projeto
Alteração físico-química dos solos
I.1.2 – Fundo do
I.1.2(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a grandes
lago
distâncias
Alteração físico-química dos solos
Presença de formações permeáveis a grandes
distâncias
I.2(1) Percolação excessiva
Falta da camada vegetal protetora nas encostas
Deficiência/falta de manutenção da drenagem
I.2 – Taludes de superficial
corte Falta de camada vegetal protetora nas encostas
Presença de formações permeáveis a grandes
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de distâncias
massa de solo Deficiência/falta de manutenção da drenagem
superficial ou Capilaridade
Deficiência de projeto
II.1.1 – Sistema Deficiência/falta da camada vegetal protetora
de proteção do II.1.1(1) Erosão superficial Deficiência/falta de manutenção da drenagem
talude de jusante superficial
Alteração físico-química dos solos
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de Deficiente ligação ente as camadas de compactação
massa de solo Ação sísmica
Deficiência de projeto
II.1.2 – Talude Deficiente ligação ente as camadas de compactação
II.1.2(2) Deformação excessiva
de jusante Deficiência de projeto
Falta de camada vegetal protetora
Deficiência/falta de manutenção da drenagem
II.1.2(3) Erosão superficial
superficial
Galgamento
Alteração físico-química dos solos
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos
Deficiente ligação ente as camadas de compactação
de massa de solo(durante a fase de enchimento do
II.1.3 – Talude Ação sísmica
lago)
de montante Deficiência de projeto
II.1.3(2) Deformação excessiva (durante a fase de Deficiente ligação ente as camadas de compactação
enchimento do lago) Deficiência de projeto
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento Alteração físico-química dos solos
II.1.4 – Núcleo de material Elevada carga hidráulica (elevação da linha freática)
siltoso II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento Alteração físico-química dos solos
de material Elevada carga hidráulica (elevação da linha freática)
Erro de projeto
II.1.5 – II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante
Colmatação do filtro
Filtro/dreno
Materiais ou construção inadequada
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa
Alteração físico-química dos materiais
Erro de projeto
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante
II.1.6 – Tapete Colmatação do filtro
drenante Materiais ou construção inadequada
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa
Alteração físico-química dos materiais
II.2.1 – Transição Alteração físico-química dos solos
solo compactado II.2.1(1) Percolação excessiva
solo natural
Deficiente ligação ente as camadas de compactação
Tratamento insuficiente da fundação
II.3.1 – Zona sob
II.3.1(1) Percolação excessiva Alteração físico-química dos solos
o barramento
Deficiência do filtro de fundação
Balanço hidráulico desfavorável
III – Vertedor III(1) Mau funcionamento hidráulico Deficiência/falta de manutenção
Deficiência de projeto (erro na vazão de projeto)
Balanço hidráulico desfavorável
IV – Torre de
IV(1) Mau funcionamento hidráulico Deficiência/falta de manutenção
tomada d’água
Deficiência de projeto (erro na vazão de projeto)
97
Os modos de ruptura percolação excessiva e instabilização associada a movimentos de
massa de solo, considerados para a componente principal I – Bacia hidrográfica, estão
associados à granulometria e à média permeabilidade dos solos na região,
principalmente, da área de empréstimo. Entre as prováveis causas iniciadoras dos
mesmos, destaca-se a ação deletéria da água ao longo de formações permeáveis
extensas e na alteração físico-química dos solos locais.
A análise dos efeitos dos modos de ruptura é sistematizada na Tabela 5.3, sendo
indicadas as causas iniciadoras dos processos e os efeitos imediatos, próximos e finais.
Desta forma é possível entender as diferentes inter-relações (Toledo e Amaral, 2005)
que podem levar à ruptura da barragem.
98
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
99
Alteração físico-química dos solos - Perda de
I.1.2 - Fundo do - Arraste de - Contaminação das zonas
I.1.2(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a estanqueidade do
lago partículas sólidas envolvidas pelo rejeito
grandes distâncias sistema
Alteração físico-química dos solos
Presença de formações permeáveis a
grandes distâncias - Perda de
- Arraste de - Contaminação das zonas
I.2(1) Percolação excessiva Falta da camada vegetal protetora nas estanqueidade do
partículas sólidas envolvidas pelo rejeito
encostas sistema
Deficiência/falta de manutenção da
drenagem superficial
I.2 – Taludes de
Falta de camada vegetal protetora nas
corte
encostas
Presença de formações permeáveis a
I.2(2) Instabilização associada
grandes distâncias - Redução do volume - Ruptura da barragem
a movimentos de massa de - Galgamento
Deficiência/falta de manutenção da da barragem - Onda de inundação
solo
drenagem superficial
Capilaridade
Deficiência de projeto
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
- Redução do volume
II.1.1 - Sistema de Falta de camada vegetal protetora
do maciço - Ruptura da barragem
proteção do talude II.1.1(1) Erosão Deficiência/falta de manutenção da - Ravinamento
- Redução do Fator de - Onda de inundação
de jusante drenagem superficial
Segurança (FS)
II.1.2 - Talude de Alteração físico-química dos solos
jusante Ação sísmica
II.1.2(1) Instabilização - Redução do volume - Perda de
Deficiente ligação entre as camadas - Ruptura da barragem
associada a movimentos de do maciço estanqueidade do
de compactação - Onda de inundação
massa de solo - Redução do FS sistema
Ação sísmica
Deficiência de projeto
Deficiente ligação ente as camadas - Perda de
II.1.2(2) Deformação
de compactação - Redução do FS estanqueidade do - Erosão superficial
excessiva
Deficiência de projeto sistema
Falta de camada vegetal protetora - Arraste de
100
Deficiência/falta de manutenção da partículas sólidas - Ruptura da barragem
II.1.2(3) Erosão superficial - Redução do FS
drenagem superficial - Redução do volume - Onda de inundação
Galgamento do maciço
Alteração físico-química dos solos
II.1.3 (1) Instabilização Ação sísmica
- Redução do volume - Perda de
associada a movimentos de Deficiente ligação entre as camadas - Ruptura da barragem
do maciço estanqueidade do
massa de solo (durante a fase de compactação - Onda de inundação
II.1.3 - Talude de - Redução do FS sistema
de enchimento do lago) Ação sísmica
montante
Deficiência de projeto
II.1.3(2) Deformação Deficiente ligação ente as camadas - Perda de
excessiva (durante a fase de de compactação - Redução do FS estanqueidade do - Erosão superficial
enchimento do lago) Deficiência de projeto sistema
- Perda de
Alteração físico-química dos solos - Erosão interna do
II.1.4 - Núcleo II.1.4(1) Percolação excessiva estanqueidade do - Ruptura da barragem
Elevada carga hidráulica (elevação núcleo
siltoso sem carreamento de material sistema - Onda de inundação
da linha freática) - Piping
- Redução do FS
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
- Perda de
estanqueidade do
Alteração físico-química dos solos - Colmatação do
II.1.4 - Núcleo II.1.4(2) Percolação excessiva sistema - Ruptura da barragem
Elevada carga hidráulica (elevação sistema drenante
siltoso com carreamento de material - Erosão interna do - Onda de inundação
da linha freática) - Piping
núcleo
- Redução do FS
II.1.5 - Filtro/dreno
vertical II.1.5(1) Insuficiente Erro de projeto - Afogamento do - Percolação excessiva - Redução do FS
capacidade drenante Colmatação do filtro sistema drenante no maciço de jusante - Piping
- Erosão interna do
Materiais ou construção inadequada
II.1.5(2) Perda de estabilidade - Afogamento do filtro - Redução do FS
Alteração físico-química dos
interna e/ou externa sistema drenante - Percolação excessiva - Piping
materiais
101
no maciço de jusante
- Colmatação do
Alteração físico-química dos
II.2 1– Transição sistema drenante
materiais - Erosão interna do
solo compactado II.2.1(1) Percolação excessiva - Perda de - Piping
Deficiente ligação ente as camadas núcleo
solo natural estanqueidade do
de compactação
sistema
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
102
hidráulico - Redução da
Deficiência/falta de manutenção - Danos na torre e na
capacidade de
galeria
vertimento
Dentre os vários efeitos dos modos de ruptura considerados para a Barragem de Rejeitos
Casa de Pedra, podem ser destacadas as seguintes considerações:
A última etapa do FMEA consiste na identificação das formas de detecção e das ações
corretivas para cada modo de ruptura das componentes consideradas na análise. A
detecção pode ser estabelecida por meio de vistorias locais ou por instrumentação. Na
Tabela 5.4, estão apresentados os métodos de detecção e as ações corretivas necessárias
para cada modo de ruptura descrito previamente.
Neste contexto, deve ser estabelecido um plano de inspeções de forma que as falhas
prováveis de ocorrer sejam detectadas a tempo de implementar as ações corretivas,
associado a um planejamento itemizado de procedimentos de manutenção das estruturas
de drenagem superficial e dos dispositivos hidráulicos, visando-se reduzir os riscos
implícitos a estes subsistemas.
103
Tabela 5.4: Métodos de detecção e ação corretiva dos modos potenciais de ruptura
Componente Modos de Ruptura (MR) Métodos de detecção Ações corretivas
- Mapeamento geológico/ geotécnico
I.1.1(1) Percolação excessiva - Injeção de nata de cimento para
- Instrumentação (marcos superficiais,
I.1.1 – Taludes submersos reforçar o solo e reduzir a
I.1.1(2) Instabilização associada a piezômetro e medidores de nível
permeabilidade
movimentos de massa de solo d’água e outros)
- Inspeção visual (das zonas a jusante
da barragem)
- Injeção de nata de cimento para
I.1.2 – Fundo do lago I.1.2(1) Percolação excessiva - Mapeamento geológico/geotécnico
reduzir a permeabilidade
- Instrumentação (piezômetro e
medidores de nível d’água)
- Inspeção visual - Injeção de nata de cimento para reforçar
I.2(1) Percolação excessiva
- Mapeamento geológico/ geotécnico o solo e reduzir a permeabilidade
I.2 – Taludes de corte - Instrumentação (marcos superficiais, - Manutenção nos sistemas de drenagem
I.2(2) Instabilização associada a - Recomposição da camada vegetal
piezômetro e medidores de nível
movimentos de massa de solo protetora
d’água e outros)
- Recomposição do talude
II.1.1 – Sistema de - Recomposição da camada vegetal
proteção do talude de II.1.1(1) Erosão - Inspeção visual protetora
jusante - Manutenção nos sistemas de
drenagem
II.1.2(1) Instabilização associada - Inspeção Visual - Construção de berma estabilizadora a
a movimentos de massa de solo - Instrumentação (marcos superficiais, jusante da zona afetada
- Recomposição do talude
II.1.2 – Talude de jusante II.1.2(2) Deformação excessiva piezômetro, medidores de nível d’água, - Recomposição da camada vegetal
inclinômetro e medidores de recalque protetora
II.1.2(3) Erosão superficial - Estação pluviométrica - Manutenção nos sistemas de drenagem
II.1.3 (1) Instabilização associada
a movimentos de massa de - Inspeção Visual - Recomposição da borda livre
solo(durante a fase de enchimento - Instrumentação (piezômetro, - Recomposição da camada vegetal
II.1.3 – Talude de
do lago) medidores de nível d’água, protetora
montante
II.1.3(2) Deformação inclinômetro e medidores de recalque - Manutenção nos sistemas de
excessiva(durante a fase de - Estação pluviométrica drenagem
enchimento do lago)
II.1.4(1) Percolação excessiva - Inspeção visual (abatimento da crista
sem carreamento de material e de surgência de água a jusante da
- Injeção de nata de cimento para reforçar
barragem)
II.1.4 – Núcleo siltoso o solo e reduzir a permeabilidade
II.1.4(2) Percolação excessiva - Instrumentação (marcos superficiais,
com carreamento de material piezômetro, medidores de nível d’água,
inclinômetro e medidores de recalque)
II.1.5(1) Insuficiente capacidade - Inspeção visual (abatimento da crista
drenante e de surgência de água a jusante da
- Aumento da borda livre
II.1.5 – Filtro/dreno barragem)
(rebaixamento do nível d’água no
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade - Instrumentação (marcos superficiais,
lago)
interna e/ou externa piezômetro, medidores de nível d’água,
inclinômetro e medidores de recalque)
II.1.6(1) Insuficiente capacidade - Inspeção visual (surgência de água a
drenante jusante da barragem) - Aumento da borda livre
II.1.6 – Tapete drenante - Instrumentação (piezômetro, (rebaixamento do nível d’água no
II.1.6(2) Perda de estabilidade
medidores de nível d’água, lago)
interna e/ou externa
inclinômetro e medidores de recalque)
- Construção de berma
estabilizadora a jusante da zona
- Inspeção Visual
afetada
- Instrumentação (piezômetro,
II.2.1 – Transição solo - Recomposição do talude
II.2.1(1) Percolação excessiva medidores de nível d’água,
compactado solo natural - Recomposição da camada vegetal
inclinômetro e medidores de recalque
protetora
- Estação pluviométrica
- Manutenção nos sistemas de
drenagem
- Inspeção visual (surgência de água a
jusante da barragem) - Construção de berma
II.3.1 – Zona sob o
II.3.1(1) Percolação excessiva - Instrumentação (piezômetro, estabilizadora a jusante da zona
barramento
medidores de nível d’água, afetada
inclinômetro e medidores de recalque)
- Inspeção visual
III(1) Mau funcionamento - Manutenção na estrutura do canal
III – Vertedor - Medidor de vazão
hidráulico e na escada de discipação de energia
- Estação pluviométrica
- Inspeção visual
IV – Torre de tomada IV(1) Mau funcionamento - Manutenção da estrutura e dos
- Medidor de vazão
d’água hidráulico equipamentos eletromecânicos
- Estação pluviométrica
104
A instrumentação implantada na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, apresentada no
Capítulo 4, não contempla a magnitude e a locação dos instrumentos conforme as
necessidades apontadas nesta análise e, assim, uma recomendação prévia seria orientar
os responsáveis pela operação da barragem sobre a viabilidade de instalação adicional
de instrumentos.
Uma forma de contornar esta situação poderia ser a aplicação de métodos estatísticos
para extrapolação dos dados obtidos na instrumentação existente, embora tal solução
não seja aplicável para algumas das componentes descritas. Outra forma de reduzir
parcialmente o risco desta carência da instrumentação instalada consistiria na redução
dos períodos previstos para as inspeções visuais.
Uma vez que a estimação das classes das consequências dos efeitos dos modos de
ruptura é subjetiva, foram adotadas as classes de consequências, definidas previamente
na Tabela 2.5, para as análises de criticidade da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra.
As consequências dos modos de ruptura foram agrupadas em função de diferentes áreas
de interesse, cada uma delas definida com base em atributos específicos, como
fatalidades, perdas econômicas, impactos ao meio ambiente, consequências políticas e
censura pública, etc.
A cada classe foi atribuído um índice ponderativo (dado entre parênteses na Tabela 5.5),
que representa o grau de relevância do efeito no sistema relativo a cada classe analisada.
As classes e seus respectivos índices foram estabelecidos de forma iterativa, à medida
que as análises foram sendo realizadas, visando uma melhor adequação e adaptação dos
critérios adotados às premissas da metodologia FMECA.
105
A Tabela 5.6 apresenta a sistematização das consequências dos efeitos em termos das
classes e dos índices correspondentes, no âmbito das análises de criticidade da
Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, sendo indicada a descrição de cada efeito e sua
correlação com os modos potenciais de ruptura dados anteriormente (Tabela 5.3).
Tabela 5.5: Classes e índices das consequências para as análises de criticidade da BRCP
Classes / Áreas de interesse
Índices de Saúde e Impacto na mídia Econômicas /
Meio ambiente
consequências segurança (imagem da empresa) destruição ($)
Impacto baixo
I (1) Desprezível Desprezível Sem impacto
(<100mil)
Violação a Legislação Impacto médio
II (3) Primeiros socorros Baixo
Ambiental (100 mil – 1 milhão)
Pequenos Prejuízo local Impacto médio – alto
III (5) Moderado
ferimentos reversível (1 -10 milhões)
Impacto significativo Impacto alto
IV (7) Incapacidade Severo
reversível (10 -100 milhões)
Ocorrência de Impacto catastrófico Alta destruição
V (10) Extremo
fatalidades irreversível (> 100 milhões)
106
Tabela 5.6: Classes e índices das consequências (Continuação)
Identificação Identificação dos Classe das Índice
Descrição do efeito
do efeito modos de ruptura consequências (c)
II.1.4(1) III 5
II.1.4(2) V 10
II.1.5(1) II 3
Piping E 11 II.1.5(2) II 3
II.1.6(1) II 3
II.2.1(1) III 5
II.3.1(1) III 5
II.1.1(1) I 1
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12
II.1.2(1) IV 7
II.1.2(2) III 5
II.1.2(3) III 5
II.1.3 (1) II 3
II.1.3(2) I 1
II.1.4(1) II 3
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12 II.1.4(2) IV 7
II.1.5(1) II 3
II.1.5(2) II 3
II.1.6(1) II 3
II.1.6(2) II 3
II.3.1(1) II 3
I.1.1(2) III 5
I.2(2) III 5
Galgamento E 13
III(1) IV 7
IV(1) IV 7
I.1.1(2) IV 7
I.2(2) IV 7
II.1.1(1) V 10
II.1.2(1) IV 7
II.1.2(3) IV 7
Ruptura da barragem E 14
II.1.3 (1) IV 7
II.1.4(1) IV 7
II.1.4(2) V 10
II.1.6(2) IV 7
II.3.1(1) V 10
I.1.1(2) III 5
I.2(2) III 5
II.1.1(1) II 3
II.1.2(1) V 10
II.1.2(3) V 10
Formação da onda de inundação E 15
II.1.3 (1) V 10
II.1.4(1) V 10
II.1.4(2) IV 7
II.1.6(2) V 10
II.3.1(1) III 5
II.1.5(1) III 5
II.1.5(2) III 5
Afogamento do sistema drenante E 16 II.1.6(1) III 5
II.1.6(2) III 5
II.3.1(1) IV 7
II.1.5(2) III 5
Erosão interna do filtro E 17
II.1.6(2) III 5
III(1) II 3
Aumento do nível de água no reservatório E19
IV(1) II 3
III(1) II 3
Redução da capacidade de vertimento E 20
IV(1) II 3
Entupimento com redução da capacidade III(1) I 1
E 21
de vertimento IV(1) I 1
Dano no canal e na escada de dissipação de
E 22 III(1) II 3
energia
Dano na torre e na galeria E23 IV(1) II 3
107
5.3.2 – Estimação das probabilidades dos efeitos
Assim, atribuiu-se um dado índice ponderativo (dado entre parênteses na Tabela 5.7),
que representa o grau de relevância do efeito no sistema relativo a cada classe analisada.
Analogamente ao caso anterior, as classes de probabilidade e seus respectivos índices
foram estabelecidos de forma iterativa, à medida que as análises foram sendo realizadas.
108
Tabela 5.8: Classes e índices das probabilidades dos efeitos
Classes das Índices ponderativos
Modos de Ruptura (MR)
probabilidades das probabilidades (p)
I.1.1(1) Percolação excessiva A 1
II.1.1(1) Erosão A 1
109
Índice de criticidade
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(3)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.2(2)
II.1.3(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
110
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
Modos de ruptura
II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
III(1)
IV(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
uma matriz de criticidade dos efeitos dos modos de ruptura (Figura 5.4).
II.3.1(1)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
III(1)
IV(1)
III(1)
IV(1)
formulação mais adequada consiste na apresentação do índice de criticidade na forma de
hierárquica dos níveis de risco associados a cada modo de ruptura; neste sentido, uma
A apresentação dos resultados nesta forma dificulta o entendimento e a caracterização
Na abordagem adotada, as consequências, assim como as probabilidades, foram
subdivididas em um número máximo de cinco classes, permitindo-se, assim, que a
matriz de criticidade pudesse ser dividida em cinco níveis de alerta, identificados de 1 a
5, de forma a facilitar o desenvolvimento das ações a serem descritas no Capitulo 6.
111
RPN
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
I.1.1(1)
1
I.1.2(1)
I.2(1)
7a8
4a6
2a3
II.1.2(3)
9 a 10
Índices
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)
Grande
II.2.1(1)
Pequena
Detecção
II.1.2(2)
Moderada
9
8
7
6
5
4
3
2
1
II.1.3(2)
10
Muito grande
II.1.5(1)
Muito pequena
II.1.5(2)
Índice
II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
Alta
II.1.1(1)
Remota
II.1.2(1)
Pequena
II.1.2(2)
Ocorrência
Muito Alta
112
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
Detecção
II.1.4(1)
Ocorrência
II.1.4(2)
II.1.5(1)
1:2
1:8
II.1.5(2)
1:20
1:40
1:80
II.1.6(1)
Modos de ruptura
Moderada 1:400
II.1.6(2)
II.3.1(1)
1:1.000
1:4.000
I.1.1(2)
1:20.000
I.2(2)
III(1)
IV(1)
I.1.1(2)
1:1.000.000
Proporção
I.2(2)
Critério
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
Certamente será detectado
II.1.1(1)
II.1.2(1)
Provavelmente será detectado
II.1.4(1)
II.1.4(2)
Grande probabilidade de ser detectado
II.1.6(2)
II.1.5(2)
II.1.6(2)
III(1)
IV(1)
III(1)
IV(1)
III(1)
Tabela 5.10: Índices e critérios de probabilidade de ocorrência para cálculo do RPN
IV(1)
III(1)
IV(1)
5.4 – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS
Índice de ponderação
Classe Adotado Barragem de
Santos (2007) CVRD (2005)
Rejeitos Casa de Pedra
A 1 1 1
B 2 3 2
C 4 6 5
D 7 8 8
E 10 10 10
113
A Figura 5.6 apresenta uma comparação entre os resultados dos modelos utilizados,
levando-se em conta as diferentes escalas dos valores de referência; observa-se uma
concordância muito boa entre os valores obtidos por uma e outra técnica de análise, com
a caracterização similar dos efeitos que apresentam valores limites e, portanto, mais e
menos críticos, validando e calibrando os modelos propostos das análises.
500
Icr
450
RPN
400
350
300
Criticidade
250
200
150
100
50
0
III(1)
III(1)
III(1)
III(1)
III(1)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.2(3)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.2(2)
II.1.3(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.5(2)
II.1.6(2)
I.1.1(2)
I.2(2)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
IV(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
I.1.1(2)
I.2(2)
IV(1)
IV(1)
IV(1)
IV(1)
Modos de ruptura
114
Tabela 5.13: Medidas de mitigação dos riscos de ruptura para a BRCP
Componente Modos de Ruptura (MR) Medidas de mitigação
I.1.1(1) Percolação excessiva - Instalação de instrumentação
I.1.1 – Taludes
- Inspeção visual sistemática
submersos I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de
- Instalação de drenagem superficial nas encostas
massa de solo
I.1.2 – Fundo do
I.1.2(1) Percolação excessiva - Instalação de instrumentação
lago
I.2(1) Percolação excessiva - Implantação e manutenção de camada vegetal
protetora
I.2 – Taludes de
- Instalação de drenagem superficial
corte I.2(2) Instabilização associada a movimentos de
- Instalação de instrumentação
massa de solo
- Inspeção visual sistemática
II.1.1 – Sistema - Manutenção da camada vegetal protetora
de proteção do II.1.1(1) Erosão superficial - Manutenção do sistema de drenagem superficial
talude de jusante - Inspeção visual sistemática
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de
massa de solo - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
II.1.2 – Talude
II.1.2(2) Deformação excessiva - Inspeção visual sistemática
de jusante
- Manutenção do sistema de drenagem superficial
II.1.2(3) Erosão superficial
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos
de massa de solo(durante a fase de enchimento do
II.1.3 – Talude - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
lago)
de montante - Inspeção visual sistemática
II.1.3(2) Deformação excessiva (durante a fase de
enchimento do lago)
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento
II.1.4 – Núcleo de material - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
siltoso II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento - Inspeção visual sistemática
de material
II.1.5 – II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
Filtro/dreno - Inspeção visual sistemática
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa - Rebaixamento do nível do NA
115
CAPÍTULO 6
A falta de planejamento prévio para enfrentar uma situação de emergência pode resultar
em sérios danos a terceiros, ao patrimônio, a imagem da empresa e ao meio ambiente,
no caso de ruptura de uma barragem de rejeitos. Na iminência de uma ruptura, não há
tempo propício a ações de planejamento, organização ou treinamento de pessoal para
atender e contornar tal situação.
A metodologia FMECA de gestão de riscos foi utilizada como ferramenta auxiliar para
elaborar o PAE aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra. A aplicação desta
metodologia permitiu identificar os potenciais modos de ruptura, determinar suas
causas, descrever as consequências e classificar os riscos envolvidos. Adicionalmente,
foram propostas as devidas medidas de mitigação dos riscos detectados e, para cada
nível de emergência da matriz de criticidade, foram definidos os responsáveis pelas
tomadas de decisão e das ações pertinentes.
116
Considerando os aspectos legais do Projeto de Lei nº 1.181 de 2003 do Conselho
Nacional de Segurança de Barragens (Brasil 2003), apresentados e discutidos no
Capítulo 3, constata-se que a construção da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
atendeu a todos os requisitos mínimos exigidos. Neste mesmo sentido, a estrutura está
enquadrada como Classe III no critério de classificação de dano ambiental apresentado
pelo COPAM (COPAM, 2005), o que implica, consequentemente, na imposição legal
de inspeção anual por consultor externo aos quadros da empresa.
117
É importante enfatizar que o escoamento da água em canais naturais envolve um
processo transiente e distribuído, uma vez que as vazões, as velocidades e as alturas da
lâmina de água variam no tempo e no espaço. Conforme visto anteriormente, este
escoamento pode ser expresso analiticamente pelas chamadas equações de Saint-
Venant, que constituem a aplicação, para o problema em questão, das equações da
conservação de massa ou continuidade e da conservação da quantidade de movimento,
formuladas com base nas seguintes hipóteses:
118
Assim, no caso da formação de uma eventual abertura através do maciço da barragem, o
estudo abrange duas situações possíveis, sendo a primeira a formação de uma onda de
inundação de proporções catastróficas e a segunda, com concentração dos rejeitos nas
zonas de jusante, sem ocorrência de ondas de água ou de rejeitos com características
impactantes no vale a jusante. O PAE aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
contemplará ambos os cenários de ruptura, uma vez que a identificação do instante que
os divide é imprecisa e de difícil determinação pelos operadores da barragem.
Na modelação feita, a vazão máxima obtida pelas simulações foi da ordem de 9.800
m3/s, utilizada, então, para descrever os efeitos de propagação da onda ao longo do
Córrego Casa de Pedra, Rio Maranhão e Rio Paraopeba, a jusante da barragem. Por
outro lado, o tempo de ruptura da barragem, correspondente à construção da primeira
etapa (crista localizada na elevação 922,0m), será dado por:
0, 5 0, 5
§V · § 2,2 x10 7 ·
t rup = 0,007¨¨ bar2 ¸¸ = 0,007¨¨ 2
¸¸ = 0,57h ≅ 34 min
© hbar ¹ © 58 ¹
A Figura 6.2 apresenta uma comparação entre o nível do fundo dos rios existentes e o
nível da onda de inundação ao longo do vale a jusante, formada a partir de uma eventual
ruptura da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra.
119
900
886,34
880
874
Elevação (m) 870
860
850 854,2
839 843,3
840
830
820
816,4
805
800
0 5 10 15 20 25
Distância (km)
120
10000
8000
6000
Q(m/s)
3
4000
2000
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6
T(h)
121
posterior de 4 pontes ferroviárias, duas pontes rodoviárias, danos na UHE do Salto de
Paraopeba, além de provocar a destruição de aproximadamente 350 casas e a perda de
vidas das populações das cidades de Congonhas e Jeceaba.
Nesta situação, a cunha da ruptura não deverá atingir o reservatório de água, confinado
e a razoável distância do maciço da barragem. Um a vez constatado o potencial ou os
riscos iminentes, os operadores da barragem deverão rebaixar imediatamente o nível
d’água no reservatório, de forma a reduzir a possibilidade de ruptura da barragem com
consequências catastróficas. Ao se concretizar este tipo de ruptura, os operadores
deverão solicitar imediatamente a recomposição da área afetada pela cunha de ruptura e
efetuar avaliações detalhadas das possíveis causas e das medidas de contorno para se
evitar um novo evento de mesma natureza.
Lima et al. (2008) apresentam uma proposta para a cadeia de decisão e identificação dos
fatores intervenientes em um evento crítico, centrada em dois pilares, de naturezas
administrativa e operacional. Viseu e Almeida (2000), por outro lado, estabelecem esta
caracterização e abordagem dos problemas em três níveis: Nível 1, interno à empresa;
122
nível 2 constituído pelo nível 1 acrescido das autoridades legais e o nível 3, que
acrescenta aos níveis 1 e 2, o centro de crise.
Desta forma, para casa nível de criticidade, atribuiu-se uma série de funções no quadro
funcional hierárquico da Mineração Casa de Pedra como responsáveis pela tomada de
decisão. Neste sentido, à medida que cresce a criticidade da emergência na barragem de
rejeitos, cresce também a responsabilidade e os níveis hierárquicos das tomadas de
decisão.
Na sequência, são apresentadas as funções dos profissionais que devem ser acionados
para cada nível de criticidade da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra tendo como
referência a hierarquia funcional:
123
Beneficiamento, Gerente de Área da Mina, Gerente de Área de Infra Estrutura
da Mina e da Expansão, Gerente de área do Meio Ambiente, Coordenadores de
infra-estrutura da Mina e Expansão, Coordenador de Segurança do Trabalho,
Coordenador do Meio Ambiente, Engenheiro Especialista em Barragens,
Técnicos em Meio Ambiente, Técnicos em Segurança do trabalho, Engenheiros
Geotécnicos, Técnicos em Geologia e Pesquisa e consultoria externa;
No caso de uma eventual ruptura da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, deverá ser
criado ainda um centro de emergência, coordenado pelo Diretor da Área Mineral, com
124
apoio do Gerente Administrativo Financeiro, que deverá cumprir o papel de centralizar
todas as informações e deliberações relativas ao acidente.
Figura 6.4: Estrutura da Cadeia de Decisão para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
Cada nível da cadeia de decisão foi colorido na mesma cor dos níveis da matriz de
criticidade, de forma a facilitar a identificação dos profissionais que deverão ser
acionados para cada nível de emergência. É importante destacar que os acionamentos
aos níveis superiores são acumulativos; assim, por exemplo, ao ser acionado o nível 5,
todos os responsáveis pelos níveis 1, 2, 3 e 4 também devem ser acionados. Os grupos
de apoio a emergências serão acionados em todos os níveis de emergência.
Os órgãos públicos municipais e estaduais devem ser acionados à medida que for
identificado a necessidade em cada nível de emergência. Entre estes órgãos, destacam-
se as prefeituras das Cidades de Congonhas e Jeceaba, Defesa Civil, Polícia Civil e
Militar, Corpo de Bombeiros, Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).
125
barragem. O Anexo V apresenta a estruturação geral dos procedimentos para
acionamento dos órgãos e profissionais envolvidos, e seus respectivos meios de contato.
Para atuação durante situações de emergência, deverão ser criadas diversas equipes de
trabalho que deverão desempenhar as seguintes funções, sob treinamento prévio e sob
orientação dos responsáveis pela tomada de decisão:
A tomada de decisão de acionamento das ações previstas, para cada nível de alerta de
emergência identificado para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, deverá ocorrer
126
imediatamente após detectada e confirmada a emergência. A opção de desencadear as
ações o mais cedo possível deve-se ao grande risco de perda de vidas, danos ao meio
ambiente, danos nas propriedades e perdas econômicas, caso a situação de risco evolua
até a ruptura da barragem.
As informações sobre o acidente deverão ser fornecidas de forma clara e objetiva, pela
Equipe de Comunicações, enfatizando-se os procedimentos adotados para segurança de
pessoas, do meio ambiente, para recuperação da barragem e mitigação dos danos. As
informações sobre as causas do acidente devem ser fornecidas de forma cuidadosa, após
aprovação prévia pelo Centro de Emergência, pois explicações técnicas precipitadas ou
mal interpretadas podem prejudicar a imagem da Mineração Casa de Pedra, os
empreendimentos minerais de maneira geral ou mesmo os profissionais da empresa.
127
• Nível de alerta 1 (interno ou de vigilância): aplicável quando verificada a
probabilidade de ocorrência de evento perigoso em resultado de uma inspeção
visual, da análise dos dados da instrumentação ou ainda devido à previsão de
ocorrência de condições atmosféricas adversas. A situação pode ser rapidamente
contornada sem qualquer tipo de consequência a jusante e os responsáveis pela
tomada de decisão devem orientar as equipes de trabalho de forma a minimizar
os riscos. A comunicação do fato aos órgãos municipais e estaduais somente
ocorrerá no caso de danos persistentes, como no caso de contaminação ao meio
ambiente, por exemplo;
128
chegue a um consenso sobre as possíveis causas da ruptura e a melhor forma de
reconstruir o trecho afetado, deverão ser iniciados os procedimentos para
recomposição da barragem;
O PAE deve ser reconhecido pela Mineração Casa de Pedra como uma ferramenta de
apoio fundamental para contornar as situações de emergência. Neste contexto formal,
todas as funções da hierarquia da cadeia de decisão devem tomar conhecimento de suas
responsabilidades e aprovar o plano.
129
distribuída aos integrantes dos grupos de trabalho e a todos que eventualmente possam
ser acionados em casos de emergência.
130
CAPÍTULO 7
A metodologia de análise dos modos de falha, seus efeitos e sua criticidade (FMECA) é
proposta para ser aplicada em todas as fases do projeto, com o objetivo de identificar os
modos de ruptura da barragem de rejeitos e, assim, propor melhorias efetivas. Quanto
mais cedo for possível identificar um dado modo de ruptura, menores serão os custos de
correção e maiores as possibilidades destas correções serem aplicadas sem maiores
consequências sobre o vale a jusante. A aplicação da metodologia FMECA à Barragem
de Rejeitos Casa de Pedra, na fase final de sua implantação, permitiu identificar os
potenciais modos de ruptura da barragem em sua fase operacional.
131
A aplicação da metodologia proposta de elaboração de um PAE, a partir dos níveis de
alerta da matriz de criticidade do FMECA, mostrou-se bastante consistente no sentido
de identificar e implementar, o mais cedo possível, ações necessárias de redução dos
riscos ou ainda de mitigação das consequências em caso de ruptura da Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra.
132
calibração da matriz de criticidade, demonstrou ser bastante pertinente, uma vez
que os resultados tenderam a ser consistentes em termos dos mesmos efeitos
mais e menos críticos;
133
• Apesar de a barragem estar na fase final de implantação e em início de operação
não se tem definido, até o momento, um plano de leituras e interpretação dos
dados da instrumentação (problema crítico em termos dos dados de piezometria,
por exemplo, quando do enchimento do lago). Estas situações remetem ao
aumento do risco por não ser conhecido o comportamento geotécnico do maciço
da barragem;
• Deve-se revisar a atribuição das classes a cada uma das componentes básicas
sempre que ocorrer alterações significativas nas estruturas ou quando detectado
anomalias geotécnica da barragem.
134
• A elaboração de um único PAE para as duas considerações de ruptura da
barragem, com e sem consequências catastróficas, implica em uma condição
conservadora, uma vez que a verificação da ocorrência sem consequências
catastróficas, embora não possa ser traduzida necessariamente em eventos de
consequências catastróficas, pode incrementar a tendência para tal condição;
• Uma vez que não foi implantado na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra um
sistema de apoio a emergências, conforme proposto pela abordagem desta
dissertação, as tomadas de decisão podem ocorrer tardiamente, reduzindo-se a
eficiência do PAE. Outro sistema que deveria ter sido instalado é um sistema
sonoro de aviso de risco nas cidades e propriedades rurais nas áreas a jusante e
passíveis de inundação;
• Para cada nível de alerta do PAE, os responsáveis pela tomada de decisão devem
agir de forma a reduzir os efeitos e, assim, evitar que o comprometimento dos
cenários de emergência detectados previamente e o consequente acionamento de
um nível de alerta superior;
135
• A utilização conjunta das duas metodologias propostas neste trabalho: FMECA,
como instrumento e técnica de gestão de riscos e PAE, como instrumento e
técnica de planejamento para ações e tomadas de decisão em situações
emergenciais, para avaliação do desempenho da Barragem de Rejeitos Casa de
Pedra, mostrou-se ser uma proposta bastante prática e atraente pois, além de
orientar a operação da barragem, atendeu plenamente as exigências e prescrições
da legislação brasileira relativas às barragens de contenção de rejeitos.
Neste trabalho, procedeu-se a uma ampla revisão bibliográfica acerca das metodologias
de análise e gestão de riscos aplicada à engenharia geotécnica, com foco maior no
método FMECA, que foi utilizado para a elaboração de um programa de gestão de
riscos para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra. No contexto dos programas de gestão
de risco, estes estudos poderiam ser complementados ou abordados por outras técnicas,
sendo recomendadas as seguintes proposições de estudos complementares:
136
adequabilidade das ferramentas de gestão de risco e fornecendo valores mais
consistentes para os índices relativos às classes de probabilidade e consequência
reduzindo-se, assim, a subjetividade dos métodos;
137
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147
ANEXO I
148
ANEXO II
150
ANEXO III
152
Cálculo do Icr
Classe das Índice de ponderação Classe das Índice de ponderação Indice de criticidade
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR
consequências das consequências (c) probabilidades das probabilidades (p) Icr (p x c)
155
Cálculo do RPN Severidade Ocorrência Detecção
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR RPN
(S) (O) (D)
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 1 1 4 4
Redução do volume da barragem E1
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 1 1 4 4
Ravinamento E2 II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 6 5 1 30
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 7 5 1 35
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 8 5 1 40
Redução do volume do maciço E3
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 6 5 1 30
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 6 5 2 60
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 6 4 3 72
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 6 4 3 72
Arraste de partículas sólidas E4
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 6 4 3 72
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 7 5 1 35
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 7 4 5 140
Contaminação das zonas envolvidas pelo rejeito E5 I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 7 4 5 140
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 7 4 5 140
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 6 3 3 54
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 6 3 5 90
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 3 6 3 54
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 7 5 2 70
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 7 6 2 84
Perda de estanqueidade do sistema E6
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 7 6 4 168
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 7 6 5 210
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 7 3 2 42
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 8 3 2 48
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 4 3 96
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 8 7 5 280
Colmatação do sistema drenante E7
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 7 5 280
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 6 6 3 108
Erosão superficial E8
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 6 6 2 72
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 7 8 2 112
Percolação excessiva no maciço de jusante E9 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 7 8 2 112
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 7 8 3 168
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 7 7 3 147
Erosão interna do núcleo E 10 II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 8 4 288
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 7 7 3 147
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 7 3 168
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 8 6 432
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 8 6 6 288
Piping E 11 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 7 6 6 252
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 7 6 6 252
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 7 6 336
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 7 7 343
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 7 7 1 49
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 8 7 2 112
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 7 6 2 84
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 7 7 1 49
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 7 7 3 147
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 7 6 3 126
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12 II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 5 6 4 120
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 5 6 5 150
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 6 7 3 126
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 7 3 126
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 6 7 3 126
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 7 3 126
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 6 3 126
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 7 6 4 168
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 7 3 168
Galgamento E 13
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 7 7 2 98
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 7 7 2 98
Severidade Ocorrência Detecção
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR RPN
(S) (O) (D)
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 6 4 3 72
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 6 4 192
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 6 5 2 60
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 9 8 5 360
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 8 7 4 224
Ruptura da barragem E 14
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 8 8 6 384
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 7 5 280
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 10 8 6 480
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 7 7 4 196
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 8 7 5 280
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 4 4 6 96
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 8 5 320
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 8 8 2 128
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 9 9 5 405
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 9 8 2 144
Onda de inundação E 15
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 8 8 4 256
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 8 4 256
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 9 5 405
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 8 8 4 256
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 8 8 4 256
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 6 7 5 210
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 7 5 210
Afogamento do sistema drenante E 16 II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 6 7 4 168
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 7 5 210
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 7 5 245
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 5 6 180
Erosão interna do filtro E 17
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 5 6 180
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 7 8 2 112
Aumento do nível de água no reservatório E19
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 7 8 2 112
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 4 5 2 40
Redução da capacidade de vertimento E 20
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 4 5 2 40
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 4 5 2 40
Entupimento com redução da capacidade de vertimento E 21
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 4 5 2 40
Dano no canal e na escada de dissipação de energia E 22 III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 2 4 2 16
Dano na torre e na galeria E23 IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 2 4 2 16
ANEXO V
ESTRUTURA HIERÁRQUICA DE
ACIONAMENTO DO PAE APLICADO A
BARRAGEM DE REJEITOS CASA DE
PEDRA/ CSN
158
Telefone Celular E-mail Endereço
Engenheiros Geotécnicos
Nível - 1
Técnicos em Geologia e Pesquisa
Consultoria externa.
Assistente Social
Coordenador de RH
Especialista em Comunicação
Grupo de Comunicação
GRUPOS DE APOIO
Analista de comunicação
Advogado
Consultoria Externa
Grupo de Apoio Administrativo
Supervisor de Almoxarifado
Supervisor de transporte
Prefeitura
ORGÃOS PÚBLICOS MUNICIPAIS
Defesa Civil
Cidade 1
Policia Civil
Policia Militar
Corpo de Bombeiros
Prefeitura
Defesa Civil
Cidade 2
Policia Civil
Policia Militar
Corpo de Bombeiros
ESTADUAI
PÚBLICOS
Naturais (IBAMA)
Companhia Energetica de Minas Gerais (CEMIG) -
Usina Hidrelétrica de Salto do Paraopeba
Companhia Energetica de Minas Gerais (CEMIG) - Usina
Hidrelétrica de Salto do Paraopeba
EMPRESAS
AFETADAS
MRS - Logística
Gerente de Operações