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Dissertação de Mestrado

GESTÃO DE RISCOS E PLANO DE AÇÕES


EMERGENCIAIS APLICADO À BARRAGEM
DE CONTENÇÃO DE REJEITOS
CASA DE PEDRA/CSN

AUTOR: FRANK MARCOS DA SILVA PEREIRA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes (UFOP)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP

OURO PRETO – DEZEMBRO DE 2009


P436g Pereira, Frank Marcos da Silva.
Gestão de riscos e plano de ações emergenciais aplicado à barragem de
contenção de rejeitos Casa de Pedra /CSN [manuscrito] / Frank Marcos da Silva
Pereira - 2009.
xix, 159f.: il., color.; grafs.; tabs.

Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de


Minas. NUGEO.
Área de concentração: Geotecnia de barragens.

1. Administração de risco - Teses. 2. Plano de ação emergencial - Teses.


3. Resíduos - Barragens e açudes - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto.
II. Título.

CDU: 624.13

Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
“Não podemos esquecer que quando o [elemento] rádio foi descoberto, ninguém
sabia que ele seria útil em hospitais [para tratar câncer]. Era um trabalho de
ciência pura, e isso é prova de que um trabalho científico não deve ser avaliado
do ponto de vista de sua utilidade direta. Ele precisa ser feito por si só, pela beleza
da ciência.”

Marie Curie(1867-1934), descobridora da radioatividade,


duas vezes ganhadora do Premio Nobel.

iii
DEDICATÓRIA

Dedico essa vitória a meu PAI, Sebastião Antônio Filho,


fonte de inspiração em todos os momentos difíceis.
Pai obrigado pela vida e por todos os ensinamentos.

Saudades...

iv
AGRADECIMENTOS
À Deus, por me conceder o dom da vida e colocar todos os responsáveis por esta vitória no meu
caminho, sou muito grato por tudo Senhor.

A minha esposa Kerley pelo amor, carinho, paciência e apoio incondicional durante a elaboração
deste trabalho, este título é nosso. TE AMO.

A minha mãe, Maria Helena, e a minha irmã Frances, pelo incentivo, força e principalmente
confiança durante essa árdua e duradoura caminhada sem o incentivo de vocês este sonho não se
tornaria realidade, sou muito grato por tudo que fizeram e fazem por mim, muito obrigado. AMO
VOCÊS

Aos tios, primos, avós, cunhados, sogro e sogra que sempre apoiaram e incentivaram minha
caminhada.

Ao Rone que sempre apoiou e incentivou minha luta por este título, meu IRMÃO meus sinceros
agradecimentos pelo apoio e por me convidar a vir para Ouro Preto.

Ao orientador, Prof. Dr. Romero César Gomes, pela paciência, seu apoio nesta dissertação colaborou
muito para o meu desenvolvimento profissional e pessoal.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Mestrado em Geotecnia,


Romero César Gomes, Adilson do Lago Leite, Frederico Garcia Sobreira e Saulo Gutemberg pelos
conhecimentos adquiridos.

Aos irmãos da eterna República Canaan pela amizade e apoio sempre, tenho certeza que aprendi e
contínuo aprendo muito com todos vocês.

Aos amigos da turma de mestrado de 2004, Padrinho Abel, Rafael Jabur, Luciana Lima, Jeanne
Michelle, Rodrigo Rodrigues e Brasileu Pereira, chegou a minha vez.

Aos Luiz Heleno e Eleonardo Pereira que me ensinaram a gostar da geotecnia, valeu Companheiros.

Ao Prof. Walter Dornelas, Róvia e Josafá pelo apoio sempre.

Aos colegas do Núcleo de Geotecnia, galera tenho certeza que aprendemos muito juntos trocando
experiências durante o bate papo de campo, laboratório ou na cantina.

À Escola de Minas da UFOP e ao CNPq por todo o apoio estrutural e auxílio financeiro ao longo da
minha formação.

A Companhia Siderúrgica Nacional – CSN pelo apoio e disponibilização dos dados e do tema para
elaboração deste trabalho.

Ao Frank pela persistência durante estes 5 anos.

v
RESUMO
A produção mineral no Brasil tem sido bastante incrementada nos últimos anos,
particularmente na região da província mineral do Quadrilátero Ferrífero, o que tem
exigido, por parte das empresas de mineração, a adoção de políticas de controle e
monitoramento dos seus sistemas de disposição de rejeitos. Recentes rupturas destas
estruturas têm mobilizado grandes preocupações por parte dos órgãos ambientais, do poder
público, das agências reguladoras e das próprias empresas de projeto e construção,
justificando, assim, a implementação de sistemas de gestão de riscos.

Um processo de gestão de riscos consiste na percepção de eventuais anomalias associadas à


segurança ou à funcionalidade de uma determinada estrutura geotécnica; neste contexto,
uma análise de riscos é realizada para se determinar quais são as decisões ou as
recomendações a serem adotadas e, assim, implementar uma gestão de riscos. Entre as
diversas ferramentas de gestão de riscos disponíveis, a metodologia FMECA destaca-se por
permitir a realização de uma análise básica com o objetivo de proporcionar uma visão
estruturada dos modos potenciais de ruptura ou um estudo mais elaborado por meio de
análise probabilísticas detalhadas, associados a sistemas múltiplos integrados. A elaboração
de um Plano de Ações Emergenciais (PAE), de forma sistematizada e alinhada à gestão de
riscos, apresenta-se como uma ferramenta complementar de apoio às tomadas de decisão
para cada nível de alerta definido na gestão de risco. A definição, quanto à necessidade de
preparação de um PAE, deverá ser tomada, por meio de uma análise específica, quanto às
condições de risco a jusante da barragem.

Este trabalho apresenta a definição e a discretização dos principais sistemas geotécnicos da


Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, visando a aplicação da metodologia FMECA de
gestão de riscos e a elaboração de um PAE para o empreendimento. Com a aplicação destas
metodologias, foi implantada uma ferramenta de gestão que permite uma operação mais
segura e eficiente da barragem e a percepção e a sistematização dos impactos e prevenções
necessárias no caso de uma eventual ruptura da barragem.

vi
ABSTRACT

Mineral production in Brazil has been greatly increased in recent years, particularly in the
region of the province of mineral “Quadrilátero Ferrífero”, which has required on the part
of mining companies, adopting policies to control and monitoring of their tailings disposal
systems. Recent breakthroughs of these structures have mobilized considerable concern on
the part of organs of public authority, environmental, regulators and company design and
construction, the implementation of risk management systems.

A risk management process consists in the perception of any anomalies associated with
security or functionality of a given geotechnical structure; in this context, a risk analysis is
performed to determine what decisions or recommendations and therefore implement a risk
management. Between the various risk management tools available, the methodology
FMECA excels by permitting a basic analysis to provide a structured view of potential
modes of break or a more elaborate study through detailed probability analysis associated
with multiple integrated systems. The establishment of an Emergency Action Plan (PAE),
systemic and aligned the way of risk management, presents itself as a complementary tool
to support decisions for each alert level defined in the risk management. The definition,
preparing a PAE, should be taken, through a specific analysis, risk conditions downstream
of the dam.

This work presents the definition and geotechnical details systems of the “Tailings Dam
Casa de Pedra”, aiming at the application of the methodology FMECA risk management
and the development of a PAE to the venture. With the application of these methodologies,
was deployed a management tool that enables a more secure and efficient operation of the
dam and the perception and systematization of impacts and preventions needed in the case
of a possible rupture of the dam.

vii
ÍNDICE

RESUMO......................................................................................................................... vi
ABSTRACT.................................................................................................................... vii
ÍNDICE..........................................................................................................................viii
LISTA DE FIGURA........................................................................................................ xi
LISTA DE TABELA .....................................................................................................xiii
LISTA DE SÍMBOLO NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES................................. xv
CAPÍTULO 1.................................................................................................................... 1
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 – JUSTIFICATIVA DO TRABALHO .................................................................. 2
1.2 – OBJETIVOS DO TRABALHO ......................................................................... 3
1.3 – ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO................................ 4
CAPÍTULO 2.................................................................................................................... 6
2 – ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS APLICADA A GEOTECNIA....................... 6
2.1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6
2.2 – ANÁLISES DE RISCOS ................................................................................... 7
2.3 – APRECIAÇÃO DE RISCOS........................................................................... 11
2.4 – TOMADA DE DECISÕES E GESTÃO DE RISCOS ..................................... 14
2.5 – PRINCIPAIS MÉTODOS DE ANÁLISE DE RISCOS ................................... 16
2.5.1 – Análises de risco por lista de verificação............................................... 19
2.5.2 – Análise preliminar de risco ..................................................................... 20
2.5.3 – Análise de perigos e operabilidade ......................................................... 21
2.5.4 – Análise de riscos por índices .................................................................. 21
2.5.5 – Análises por diagramas do tipo LCI ....................................................... 22
2.5.6 – Análise de riscos por árvore de eventos.................................................. 24
2.6 - ANÁLISE DOS MODOS DE RUPTURA POR SEUS EFEITOS (FMEA)
E POR SUA CRITICIDADE (FMECA) .................................................................. 25
2.6.1 – Origens do método.................................................................................. 25
2.6.2 – Características gerais .............................................................................. 26
2.6.3 – Aplicação do método em geotecnia ........................................................ 27
2.6.4 – Objetivos principais e resultados típicos ................................................ 27
2.6.5 – Requisitos iniciais ................................................................................... 29
2.6.6 – Etapas do FMEA..................................................................................... 30
2.6.6.1 – Estruturação do sistema geotécnico ................................................. 31
2.6.6.2 – Funcionalidades das componentes básicas ...................................... 32
2.6.6.3 – Modos de ruptura ............................................................................. 33
2.6.6.4 – Identificação das causas................................................................... 34
2.6.6.5 – Descrição dos efeitos dos modos de ruptura.................................... 35
2.6.6.6 – Métodos de detecção e de controle .................................................. 36
2.6.6.7 – Estimação da criticidade .................................................................. 37
2.6.6.8 – Medidas de Mitigação do Risco....................................................... 44
viii
CAPÍTULO 3.................................................................................................................. 45
3 – PLANOS DE AÇÕES EMERGENCIAIS APLICADOS A BARRAGENS
DE REJEITOS ............................................................................................................ 45
3.1 – RUPTURAS DE BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE REJEITOS .............. 46
3.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO
DE SEGURANÇA DE BARRAGENS...................................................................... 47
3.3 – METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE UM PAE ................................ 50
3.3.1 – Caracterização da Barragem ................................................................... 51
3.3.2 – Caracterização do vale a jusante ............................................................. 52
3.3.3 – Estudo da onda de cheia.......................................................................... 53
3.3.4 – Cadeia de decisão e identificação dos fatores intervenientes ................. 55
3.3.5 – Detecção e identificação das situações de risco...................................... 56
3.3.5.1 – Percolação excessiva........................................................................ 57
3.3.5.2 – Galgamento ...................................................................................... 58
3.3.5.3 – Erosão, abatimento, umedecimento e trincamento .......................... 59
3.3.5.4 – Escorregamentos.............................................................................. 59
3.3.5.5 – Eventos sísmicos.............................................................................. 60
3.3.5.6 – Descargas súbitas de água................................................................ 60
3.3.5.7 – Leituras anormais da instrumentação .............................................. 61
3.3.6 – Tomadas de decisão ................................................................................ 61
3.3.7 – Definição do sistema de alerta e notificação dos principais
responsáveis ........................................................................................................ 62
3.3.8 – Aprovação, distribuição e atualização do PAE....................................... 63
3.4 – SISTEMAS DE APOIO A EMERGÊNCIAS................................................... 63
3.5 – MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS .................................................................. 64
CAPÍTULO 4.................................................................................................................. 66
4 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA DE PEDRA/CSN ....... 66
4.1 – MINERAÇÃO CASA DE PEDRA .................................................................. 66
4.2 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINERAÇÃO CASA
DE PEDRA/CSN ..................................................................................................... 69
4.2.1 – Barragem B3 ........................................................................................... 70
4.2.2 – Barragem B4 ........................................................................................... 71
4.2.3 – Barragem B5 ........................................................................................... 72
4.2.4 – Barragem B6 ........................................................................................... 73
4.3 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA DE PEDRA ............ 74
4.3.1 – Geologia e geotecnia local ...................................................................... 76
4.3.2 – Hidrologia local ...................................................................................... 79
4.3.3 – Aspectos construtivos da Barragem Casa de Pedra ................................ 81
4.3.4 – Sistemas de drenagem............................................................................. 84
4.3.5 - Instrumentação da barragem.................................................................... 85
CAPÍTULO 5.................................................................................................................. 89
5 – GESTÃO DE RISCOS APLICADA À BARRAGEM DE REJEITOS CASA
DE PEDRA ................................................................................................................. 89
5.1 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA GEOTÉCNICO................................................. 89
5.1.1 – Sistema I – Bacia hidrográfica................................................................ 92
5.1.2 – Sistema II – Barramento ......................................................................... 93
5.1.3 – Sistema III – Vertedor............................................................................. 95

ix
5.1.4 – Sistema IV – Torre de tomada d’água .................................................... 95
5.1.5 – Sistema V – Vale a jusante ..................................................................... 96
5.2 – MODOS POTENCIAIS DE RUPTURA E SUAS CAUSAS............................ 96
5.2.1 – Efeitos dos modos de ruptura.................................................................. 98
5.2.2 – Identificação das formas de detecção e ações corretivas ...................... 103
5.3 – ANÁLISES DE CRITICIDADE (FMECA)................................................... 105
5.3.1 – Estimação das consequências dos efeitos ............................................. 105
5.3.2 – Estimação das probabilidades dos efeitos............................................. 108
5.3.3 – Índice e matriz de criticidade................................................................ 109
5.3.4 – Estimação do RPN ................................................................................ 111
5.4 – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS ............................................ 113
5.5 – MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DO RISCO .................................................... 114
CAPÍTULO 6................................................................................................................ 116
6 – PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL APLICADO À BARRAGEM DE
REJEITOS CASA DE PEDRA ................................................................................. 116
6.1 – MODELAÇÃO HIDRODINÂMICA DA ONDA DE CHEIA ....................... 117
6.1.1 – Ruptura com conseqüências catastróficas............................................. 119
6.1.2 – Ruptura sem conseqüências catastróficas ............................................. 122
6.2 – CADEIA DE DECISÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS INTERVENIENTES ... 122
6.3 – TOMADA DE DECISÃO ............................................................................. 126
6.4 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE ALERTA E NOTIFICAÇÃO DOS
PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS............................................................................. 127
6.5 – FORMALIZAÇÃO DO PAE E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS............... 129
CAPÍTULO 7................................................................................................................ 131
7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES COMPLEMENTARES ................................. 131
7.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................... 131
7.2 – PRINCIPAIS CONCLUSÕES ...................................................................... 132
7.2.1 – Gestão de riscos aplicada à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra........ 132
7.2.2 – PAE Aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra ......................... 134
7.3 – CONCLUSÕES GERAIS.............................................................................. 135
7.4 – SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................. 136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 138
ANEXO I ...................................................................................................................... 148
ANEXO II..................................................................................................................... 150
ANEXO III ................................................................................................................... 152
ANEXO IV ................................................................................................................... 155
ANEXO V..................................................................................................................... 158

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Fases da análise e gestão de riscos (modificado de


www.sciencecartoonsplus.comgalleryriskindex.php)....................................................... 7
Figura 2.2: Bulbo de aceitabilidade de risco (modificado de Schoustra et al. 2004) ..... 12
Figura 2.3: Critérios de aceitabilidade de perdas de vidas em caso de ruptura de
barragens, (modificado de ANCOLD, 1998; citado por Slunga, 2001) ........................ 12
Figura 2.4 – Esquema das abordagens indutivas e dedutivas (Santos, 2007)................. 16
Figura 2.5: Exemplo de diagrama LCI (CNPGB, 2006) ................................................ 23
Figura 2.6: Exemplo de ETA (Caldeira 2005, apud Pinto, 2008) .................................. 25
Figura 2.7: Variação das ações minimizadoras de riscos relativas à fase da obra
(modificado de Rausand, 2005) ...................................................................................... 28
Figura 2.8: Etapas de uma gestão de riscos (modificado de ASI, 2000) ........................ 30
Figura 2.9: Esquema de hierarquização de um sistema .................................................. 31
Figura 2.10: Exemplo de um FBD (modificado de Rausand, 2005) .............................. 32
Figura 2.11: Exemplo de um modo de ruptura potencial em um murro atirantado........ 33
Figura 2.12: Representação gráfica da matriz de criticidade.......................................... 41
Figura 2.13: Matriz de criticidade com 5 níveis de alerta .............................................. 42
Figura 3.1: Cadeia de decisão (modificado de Viseu e Almeida, 2000) ....................... 56
Figura 3.2: Processo de ruptura da barragem por erosão interna (piping). .................... 58
Figura 3.3: Processo de ruptura da barragem por galgamento ...................................... 58
Figura 3.4: Estrutura do sistema DamSupport (Gamboa et al., 1996)............................ 64
Figura 4.1: Fluxograma da planta de beneficiamento da CSN – 40MTPA (CSN,
2009) ............................................................................................................................... 67
Figura 4.2: Arranjo do sistema de disposição atual de rejeitos da Mineração Casa
de Pedra/ CSN................................................................................................................. 70
Figura 4.3: Vista de jusante da Barragem B3 (CSN, 2006)........................................... 71
Figura 4.4: Vista de jusante da Barragem B4 (CSN, 2009)........................................... 72
Figura 4.5: Vista de jusante da Barragem B5 (CSN, 2009)............................................ 73
Figura 4.6: Vista de jusante da Barragem B6 (CSN, 2009)............................................ 74
Figura 4.7: Locação das opções de construção da BCP (CSN, 2009) ............................ 75
Figura 4.8: Mapa geológico do local de implantação da BCP e áreas de
empréstimo (CSN, 2009) ................................................................................................ 76
Figura 4.9: Arranjo geral da Barragem Casa de Pedra (CSN) ....................................... 81
Figura 4.10: Seção típica da Barragem Casa de Pedra (Ismar, 2007) ............................ 82
xi
Figura 4.11: Vista do talude de jusante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009)........ 83
Figura 4.12: Vista do talude de montante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009) .... 84
Figura 4.13: Vertedor e canal emissário da Barragem de rejeitos Casa de Pedra. ......... 85
Figura 4.14: Desenho esquemático da torre de tomada d'água (CSN, 2009) ................. 86
Figura 4.15: Locação da instrumentação na seção de maior altura (CSN, 2009)........... 86
Figura 4.16: Layout de locação da instrumentação (CSN, 2009)................................... 87
Figura 5.1: Estrutura hierárquica do sistema geotécnico da Barragem de Rejeitos
Casa de Pedra.................................................................................................................. 90
Figura 5.2 Fronteira entre as componentes II.2 – ombreiras e II.3 – Fundação
(CSN, 2009). ................................................................................................................... 94
Figura 5.3: Índices de criticidade dos efeitos dos modos de ruptura da BRCP .......... 110
Figura 5.4: Matriz de criticidade dos modos de ruptura da BRCP ............................... 110
Figura 5.5: RPN dos efeitos dos modos de ruptura da BRCP ...................................... 112
Figura 5.6: Comparação entre os resultados dos parâmetros Icr e RPN........................ 114
Figura 6.1: Comparação entre os níveis do fundo do rio e da onda de inundação
(modificado de DAM, 2007) ........................................................................................ 120
Figura 6.2: Propagação do histograma de inundação a jusante da barragem
(modificado de DAM, 2007) ........................................................................................ 121
Figura 6.3: Estrutura da Cadeia de Decisão para a Barragem de Rejeitos Casa de
Pedra ............................................................................................................................. 125

xii
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Principais métodos e características das análises de riscos ......................... 19


Tabela 2.2: Exemplo de Lista de Verificação (Scudelari et al., 2007) .......................... 20
Tabela 2.3: Exemplo de Ponderação de Índices de Riscos (Gomes, 2009).................... 22
Tabela 2.4: Classes de probabilidade (modificado de MIL-P-1629, 2005).................... 39
Tabela 2.5: Classes de conseqüências............................................................................. 40
Tabela 2.6: Índices de severidade (Toledo e Amaral, 2005) .......................................... 43
Tabela 2.7: Índices de probabilidade de ocorrência (Toledo e Amaral, 2005)............... 43
Tabela 2.8: Índices de probabilidade de detecção (Toledo e Amaral, 2005).................. 43
Tabela 3.1: Critérios para classificação de dano ambiental das barragens
(Modificado de COPAM, 2005) ..................................................................................... 49
Tabela 4.1: Faixas granulométricas dos produtos da Mineração Casa de
Pedra/CSN ...................................................................................................................... 66
Tabela 4.2: Parâmetros granulométricos de amostras de rejeito da Barragem B6
(Osorio, 2005)................................................................................................................. 68
Tabela 4.3: Massas específicas secas e índices de vazios limites de amostras de
rejeitos, coletadas na praia da Barragem B6 (Geolabor, 2005) ..................................... 68
Tabela 4.4: Resultados de ensaios para determinação de pesos específicos dos
sólidos e índices de vazios obtidos no aterro experimental da CSN (UFV, 2005) ........ 69
Tabela 4.5: Resultados de ensaios de caracterização geotécnica
(amostras dos solos de fundação) ................................................................................... 77
Tabela 4.6: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento .............................. 78
Tabela 4.7: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento .............................. 78
Tabela 4.8: Médias meteorológicas anuais (DAM, 2003) ............................................. 79
Tabela 4.9: Médias mensais e anuais da região da Mineração Casa de Pedra
(CSN, 2009) .................................................................................................................... 80
Tabela 4.10: Resultados das análises de estabilidade (Pimenta, 2004) .......................... 83
Tabela 4.11: Características dos dispositivos de drenagem (Pimenta, 2004) ................ 85
Tabela 4.12: Locação da instrumentação na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra....... 87
Tabela 5.1: Descrição da funcionalidade das componentes do sistema ........................ 91
Tabela 5.2: Modos de ruptura e suas causas ................................................................... 97
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem
de Rejeitos Casa de Pedra............................................................................................... 99

xiii
Tabela 5.4: Métodos de detecção e ação corretiva dos modos potenciais de
ruptura...................................................... .................................................... ............... 104
Tabela 5.5: Classes e índices das conseqüências para as análises de criticidade da
BRCP ............................................................................................................................ 106
Tabela 5.6: Classes e índices das conseqüências dos efeitos....................................... 106
Tabela 5.7: Classes de probabilidade para as análises de criticidade da BRCP ........... 108
Tabela 5.8: Classes e índices das probabilidades dos efeitos ...................................... 109
Tabela 5.9: Índices e critérios de severidade para cálculo do RPN .............................. 111
Tabela 5.10: Índices e critérios de probabilidade de ocorrência para cálculo do
RPN............................................................................................................................... 112
Tabela 5.11: Índices de probabilidade de detecção para cálculo do RPN ................... 112
Tabela 5.12: Índices de ponderação das classes de probabilidade e conseqüência ..... 113
Tabela 5.13: Medidas de mitigação dos riscos de ruptura para a BRCP ..................... 115
Tabela 6.1: Dados utilizados para modelação da onda de cheia.................................. 118

xiv
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E
ABREVIAÇÕES
A Área da seção transversal do escoamento
AA “Checklist analysis”: análise por listas de verificação
AG Presença de água
ALARP “As low as reasonably pratical”: Tão baixo quanto razoavelmente
praticável
ANA Agência nacional de águas
APR “Preliminary risk analysis”: análise preliminar de riscos
AR Atividade recente
ARB “Acceptable risk bubble”: Bulbo de aceitabilidade de risco
AUSTRALIAN EPA “Australian Environment Protection Agency”: Agência de
proteção ao meio-ambiente australiana
B3 Barragem de rejeitos 3
B4 Barragem de rejeitos 4
B5 Barragem de rejeitos 5
B6 Barragem de rejeitos 6
BCP Barragem de rejeitos Casa de Pedra
c Índice das conseqüências
c’ Intercepto de coesão efetiva do diagrama de Mohr
CBDB Comitê Brasileiro de Barragens
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
cm Centímetro
cm³ Centímetro cúbico
CNRH Conselho nacional de recursos hídricos
CNSB Conselho nacional de segurança de barragens
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará
Conf. Grau de confiança
COPAM Conselho de política ambiental
Cr Criticidade
CSN Companhia Siderúrgica Nacional

xv
CV Cobertura vegetal
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
Cwbl Classificação climática de Köppen-Geiger
D Probabilidade de detecção
D10 Diâmetro equivalente para o qual passa 10% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro efetivo)
D50 Diâmetro equivalente para o qual passa 50% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro médio)
D90 Diâmetro equivalente para o qual passa 90% do material obtido da
curva granulométrica (diâmetro médio)
DME Departamento de minerais e energia
DN Deliberação normativa
DNMET Departamento Nacional de Meteorologia
DR Drenagem
EF Efeito
El. Elevação
EPI Equipamentos de segurança individual
ETA “Event tree analysis”: Análise por árvore de eventos
EWS “Early warning system”: Sistema de aviso prévio
FBD “Functional block diagrams”: Diagramas de blocos funcionais
FCA Ferrovia Centro Atlântica
FEAM Fundação estadual do meio ambiente
FMEA “Failure modes and effects analysis”: Análise dos modos de
ruptura e seus efeitos
FMECA “Failure modes effects and criticality analysis”: Análise de falhas,
seus efeitos e sua criticidade
FS Fator de segurança
FTA “Fault tree analysis”: Análise por árvore de falhas
g Aceleração da gravidade
g Grama
GG Perfil geológico-geotécnico
H Altura da barragem
H Horizontal
ha Hectare
HAZID “Hazard identification studies”: Estudo de identificação de perigos

xvi
HAZOP “Hazard and operability analysis”: Análise de perigos e
operacionalidade
hbar Altura da barragem
HT Altura do talude
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOLD “International comite on large dams”: Comitê internacional de
grandes barragens
Icr Índice de criticidade
IEC “International electrotechnical commission”: Comissão
internacional de sistemas eletro-mecânicos
IGAM Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IP Índice de plasticidade
IT Inclinação do talude
k Coeficiente de permeabilidade
km Quilometro
kN Quilo Newton
Ks Coeficiente de rugosidade de Manning-Strickler
LCI Diagramas de localização, causa e indicadores das falhas
LL Limite de liquidez
LP Limite de plasticidade
m Fator para atender às condições ambientais e de manutenção
m³ Metro cúbico
m5 Parâmetro função da sinuosidade do vale
mm Milímetro
MR Modo de ruptura
MR Medidor de Recalque Elétrico (MR)
MS Marco superficial
MV Medidor de Vazão
MTPA Milhões de toneladas por ano
n0 Parâmetro função do material do leito do canal
n1 Parâmetro função do grau de irregularidade do leito
n2 Parâmetro função da variação da secção transversal
n3 Parâmetro função do efeito das obstruções

xvii
n4 Parâmetro função da vegetação
NA Nível da água
NOAA´s “National Weather Service – USA”: Serviço Meteorológico
Nacional
O Probabilidade de ocorrência
p Índice de probabilidade de ocorrência
PAE Plano de ações emergenciais
PAR População na área de risco
PC Piezômetro Casagrande
PE Piezômetro Elétrico
PNDC Plano nacional de defesa civil
Q Vazão
QRA “Quantitative risk analysis’: Análises de riscos quantitativas
r Fator de proporção do tempo
RH Recursos humanos
RPN “Risk Priorit Number”: Número de Prioridade de Risco
Rsat Resistência ao cisalhamento saturada
s Segundo
S Índice de severidade
S0 Declividade do perfil longitudinal da linha de água
Sf Declividade da linha de energia
SIH Secretaria de infra-estrutura hídrica
SNIB Sistema nacional de informações sobre segurança de barragens
SPT Sondagem à percussão
SW Sudoeste
t Tempo
tp Tempo de projeto do sistema
TR Tempo de recorrência
trup Tempo de ruptura
UFPO Universidade Federal de Ouro Preto
UFV Universidade Federal de Viçosa
UHE Usina Hidrelétrica

xviii
USCS “Unified Soil Classification System”: Sistema unificado de
classificação dos solos
V Índice para classificação de barragens
V Vertical
Vbar Volume de armazenamento da barragem
Veros Conseqüência
w Teor de umidade
W Oeste
WCM “world class mine”: mina de classe mundial
wot Umidade ótima
x Distância medida segundo a direção
y Distância medida segundo a direção
ºC Grau Celsius
α Fator de modo de falha
µm Micrometro
φ’ Ângulo de atrito efetivo
γ Peso específico
γdmáx Peso específico seco máximo
λ Taxa de falha relativo ao modo de ruptura de um componente
λb Taxa de falha-base para determinadas condições de referência
ρs Massa

xix
CAPÍTULO 1

1 – INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, após inúmeros acidentes causados por rupturas de barragens e pilhas
de rejeitos, desde instabilizações localizadas até a ruptura global de estruturas de grande
porte (casos recentes das minerações Rio Verde e Cataguases, por exemplo), o processo
de disposição de resíduos de mineração tem sido objeto de novas legislações e intensas
fiscalizações dos órgãos ambientais, exigindo das empresas mineradoras a adoção de
políticas concretas de controle dos impactos da atividade mineradora sobre o meio
ambiente (Pereira, 2005).

Neste sentido, a implementação de um sistema de gestão dos riscos apresenta-se como


uma promissora ferramenta de controle da segurança em barragens; entre as vantagens
da gestão de riscos, destaca-se uma melhor sistematização, definição e hierarquização
das incertezas e das consequências potenciais dos riscos.

Diversos autores no Brasil e no mundo têm apresentado técnicas e metodologias de


gestão de riscos aplicadas às diversas áreas do conhecimento. Entre estas metodologias
destaca-se o método de análise de falhas, seus efeitos e sua criticidade (FMECA),
desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA. Santos (2007) e Pimenta (2008)
apresentaram estudos de enquadramento das análises de riscos em geotecnia e Santos
(2007) apresentou ainda uma proposta de aplicação da metodologia de gestão de riscos
do FMECA a barragens de contenção de rejeitos de mineração.

Neste sentido, a elaboração de um Plano de Ações Emergenciais (PAE), de forma


sistematizada e alinhada à gestão de riscos, apresenta-se como uma ferramenta
complementar de apoio na tomada de decisão para cada nível de alerta definido na
gestão de risco. Viseu e Martins (1997) e Viseu e Almeida (2000) elaboraram propostas
de um PAE aplicado a barragens e Lima et al. (2008) formularam uma tal proposição
com base na metodologia de gestão de riscos do FMECA.

1
Nesta contextualização, será parte do escopo desta dissertação a aplicação das técnicas
de gestão de risco, baseadas na metodologia FMECA, à Barragem de Contenção de
Rejeitos Casa de Pedra/ CSN, bem como a elaboração de um plano de ações
emergenciais no âmbito deste empreendimento. Para tanto, serão abordados aspectos
geotécnicos da região de locação da barragem, características de projeto e construção da
barragem, aspectos do clima local e da ocupação do vale a jusante.

1.1 – JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

Na região da província mineral do Quadrilátero Ferrífero, no município de Congonhas,


está localizada a Mineração Casa de Pedra, de propriedade da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), cuja mina com reserva expressiva é classificada como de classe
mundial por possuir minério de ferro com pureza de até 68%, fornece concentrado de
minério de ferro para os mercados interno e externo.

Do processo de beneficiamento de minérios, resulta um grande volume de rejeitos que


são dispostos em barragens de contenção, construídas a partir de um dique de partida e
alteadas normalmente com o próprio material sedimentado no reservatório. Em função
da proximidade do fim de vida útil do atual sistema de contenção de rejeitos da
Mineração Casa de Pedra e devido à expansão de sua produção, com consequente
aumento na geração de rejeitos, encontra-se em processo de construção a Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra.

Falhas em barragens de contenção de rejeitos causam danos ambientais e econômicos


consideráveis, além de constituírem fontes críticas de perdas de vidas humanas.
Acidentes graves resultam em grandes volumes de rejeitos descarregados no vale a
jusante; desta forma, tem aumentado e muito a pressão sobre as minerações por parte
das agências regulamentadoras, dos órgãos públicos e das comunidades locais, no
sentido de tornar mais seguros e controlados os sistemas de disposição de rejeitos.
Assim, as mineradoras têm sido obrigadas a aplicar técnicas de segurança e gestão na
operação de suas cavas, plantas industriais e, principalmente, estruturas de estocagem
dos rejeitos, de forma a garantir a mitigação dos riscos submetidos às comunidades,
indústrias e ao meio ambiente a jusante destas estruturas.

2
É neste contexto que se enquadra o objeto de estudo desta dissertação, ou seja, a
aplicação de uma metodologia sistematizada de gestão de riscos e a elaboração de um
plano de ações emergenciais aplicado a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, de forma a
antecipar, prevenir e mitigar as consequências de uma ruptura da barragem que, uma
vez concretizada, tenderá a causar grandes perdas econômicas, ambientais e perda de
vidas a jusante da barragem.

1.2 – OBJETIVOS DO TRABALHO

Este trabalho tem como principal objetivo a definição e a sistematização dos modos
potencias de ruptura da Barragem de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra, de forma a
possibilitar a implementação de um programa de gestão de riscos pela metodologia
FMECA e a elaboração de um plano de ações emergenciais, desenvolvendo, assim,
ferramentas que deverão permitir a Mineração Casa de Pedra operar a barragem com
maior segurança. A elaboração do PAE permite ainda orientar os órgãos de defesa civil,
comunidade e demais interessados quanto ao que fazer durante uma emergência.

Para alcançar o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram estabelecidos:

• Realizar um levantamento bibliográfico sobre as metodologias de análise e de


gestão de riscos aplicadas à geotecnia, centradas em obras de barragens e,
sempre que possível, específicas a barragens de contenção de rejeitos;
• Realizar uma revisão bibliográfica sobre os requisitos necessários para
elaboração de um Plano de Ações Emergenciais eficaz, atendendo a legislação e
aos requisitos técnicos de segurança de barragens e aplicar tal instrumento ao
estudo de caso analisado.
• Descrever a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, mediante a caracterização
geral do empreendimento, base de informações necessárias à aplicação da
metodologia FMECA de gestão de riscos;
• Aplicar e efetuar calibração da metodologia do FMECA, por meio dos métodos
da matriz de criticidade e Número de Risco de Prioridade (RPN), verificando a
eficácia e aplicabilidade da ferramenta para gestão de riscos em barragens de
contenção de rejeitos;

3
1.3 – ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação foi estruturada em sete capítulos. O Capítulo 1 apresenta as


considerações iniciais relativas às técnicas de gestão de riscos, elaboração de um plano
de ações emergenciais e da Barragem de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra da
Mineração Casa de Pedra, apresentando-se também os objetivos e as justificativas para
o trabalho proposto, além da estrutura organizacional do trabalho.

O Capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica acerca das metodologias de análise e


de gestão de risco aplicadas à geotecnia. A metodologia de análise de falhas, seus
efeitos e sua criticidade (FMECA) é mais detalhada neste capítulo, por ser utilizada para
a implementação deste trabalho.

O Capítulo 3 inclui uma revisão bibliográfica sobre a elaboração de um Plano de Ações


Emergenciais (PAE). A abordagem do tema é realizada de forma geral, mostrando os
passos e o conteúdo necessário para elaboração do plano. São apresentados ainda alguns
aspectos relacionados à legislação no Brasil e no mundo acerca da segurança de
barragens de disposição de rejeitos.

O Capítulo 4 apresenta a descrição e os aspectos gerais da Barragem de Contenção de


Rejeitos Casa de Pedra, enfocando-se as considerações de projeto, levantamentos de
campo (topográficos e sondagens), caracterização geotécnica dos materiais de fundação
e construção, considerações sobre o clima local e as características construtivas do
barramento e das estruturas auxiliares.

O Capítulo 5 apresenta a discretização de todos os elementos estruturais, das estruturas


auxiliares, da bacia hidrográfica e do vale a jusante, bem como os modos potenciais de
ruptura da barragem e seus efeitos pertinentes. É feita a determinação das classes e dos
índices de ponderação das consequências e das probabilidades dos riscos associados à
ruptura da barragem, possibilitando, assim, a implementação da gestão de riscos por
meio dos índices de criticidade e da matriz de criticidade para os modos de ruptura
determinados. Complementarmente, foi realizada a calibração e a validação das análises
por meio do método do Número de Risco de Prioridade.

4
O Capítulo 6 trata da aplicação da metodologia proposta de elaboração de um Plano de
Ações Emergenciais para a Barragem de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra. Neste
propósito, foram admitidos dois cenários, com e sem consequências catastróficas,
respectivamente, sendo apresentados, para cada caso, os respectivos efeitos da onda
gerada de inundação.

O Capítulo 7 apresenta as considerações gerais juntamente com as principais conclusões


e algumas sugestões para complementação futura das pesquisas realizadas no presente
trabalho e algumas sugestões para complementação do tema abordado. Alguns anexos
complementam o texto desta dissertação.

5
CAPÍTULO 2

2 – ANÁLISE E GESTÃO DE RISCOS APLICADA A


GEOTECNIA

2.1 – INTRODUÇÃO

As incertezas do comportamento dos solos sob cargas constituem uma das principais
características da Engenharia Geotécnica e, assim, a motivação para efetuar uma análise
de riscos resulta de receios por parte de qualquer uma das entidades envolvidas num
dado projeto, em termos dos impactos devido a problemas que podem não ter sido
adequadamente avaliados, particularmente no caso de adoção de soluções técnicas não
convencionais.

Uma análise de riscos consiste basicamente na verificação da forma como os diferentes


componentes de um dado sistema interagem, quais os cenários que podem resultar desta
interação e quais prejuízos ou danos esses cenários podem provocar (Neves, 2002).

A avaliação dos riscos envolve uma análise e apreciação dos mesmos e possibilita a
tomada de decisão no decurso de um processo de gestão. Permite também que sejam
expressos e reconhecidos todos os riscos envolvidos no processo e, consequentemente,
obriga que os proprietários e os engenheiros responsáveis pela obra tenham de lidar
efetivamente com as consequências de eventos indesejáveis.

Neste sentido, um processo de gestão de riscos é inicializado pela percepção de


eventuais anomalias associadas à segurança ou à funcionalidade de uma determinada
estrutura geotécnica; em seguida, uma análise de riscos é realizada para se determinar
quais são as decisões ou as recomendações a serem adotadas e, assim, implementar uma
gestão de riscos (Bowles et al., 1998). A Figura 2.1 apresenta o conceito de gestão de
riscos segundo uma abordagem simples e de fácil entendimento.

6
Figura 2.1: Fases da análise e gestão de riscos (modificado de
www.sciencecartoonsplus.comgalleryriskindex.php)

2.2 – ANÁLISES DE RISCOS

Risco é uma medida da probabilidade e das consequências de um acontecimento


inesperado para a vida, para a saúde, para os bens materiais ou para o meio ambiente
(ICOLD, 1998).

Cristo (2002) destaca que, apesar da ampla utilização de diferentes conceituações


propostas pela comunidade científica, a terminologia oficial relativa ao estudo de áreas
de risco no Brasil é aquela proposta pelo Ministério do Planejamento e apresentada no
Plano Nacional de Defesa Civil (PNDC, 2000), onde são definidos os seguintes termos:

• Risco: Medida de danos ou prejuízos potenciais, expressa em termos de


probabilidades estatísticas de ocorrência e de intensidades ou grandezas das
consequências previsíveis;

• Desastre: Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem,


sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e
ambientais, com consequentes prejuízos econômicos e sociais;

• Dano: Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante de um


acidente ou evento adverso; se for perdido o controle sobre o risco, pode resultar
em perda humana, material ou ambiental, física ou funcional;

7
• Vulnerabilidade: Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em
interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos
adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis;

• Ameaça: Estimativa de ocorrência e magnitude de um evento adverso, expresso


em termos da probabilidade estatística de concretização do evento e da provável
magnitude de sua manifestação.

Em geotecnia existe ainda a necessidade de introdução do conceito de ruptura, uma vez


que, em geral, os riscos estão associados a rupturas de estruturas geotécnicas; neste
contexto, Pimenta (2008) e Santos (2007) definem a ruptura como sendo a perda da
capacidade de uma estrutura, ou parte dela, de funcionar como previsto.

Uma análise de riscos consiste na utilização de um conjunto de informações disponíveis


para estimar os riscos apresentados devido à presença de incertezas. Os riscos podem
ser classificados em riscos potenciais, que somente quantificam as consequências de um
evento inesperado, e riscos efetivos, expressos pelo produto do risco potencial pela
probabilidade de efetivação do evento.

A classificação dos riscos pode ser subdividida em função da sua origem, incidência,
possibilidade de mensuração e probabilidade. Quanto à origem, os riscos podem ser
imputados por fenômenos naturais, tecnológicos ou humanos de diferentes fontes e
intensidades. Pode ainda incidir sobre um único indivíduo ou sobre uma comunidade
(risco individual e risco social) e podem ter suas consequências passíveis ou não de
mensuração (riscos tangíveis e intangíveis).

Uma análise de riscos consiste na identificação dos eventos indesejáveis que conduzem
à materialização dos riscos, na análise dos mecanismos pelos quais esses eventos podem
ocorrer e na estimação da extensão, da amplitude e da probabilidade de concretização
dos efeitos dos perigos (Almeida et al., 2000).

De acordo com Baecher e Christian (2000), uma análise de riscos envolve a


decomposição do sistema e das fontes dos riscos nas suas partes fundamentais. Assim,
uma análise de riscos deve definir o âmbito e os objetivos de forma a delimitar a área a

8
ser analisada e a motivação para elaboração da análise. Deve ainda identificar os fatores
de exposição e as consequências de todos os modos e cenários de ruptura dos riscos e,
por último, determinar as grandezas e as probabilidades das consequências dos modos
de ruptura.

Em Engenharia Geotécnica, a elaboração de uma análise de riscos está relacionada com


a avaliação das condições de segurança das estruturas e do impacto de sua ruptura sobre
indivíduos, sobre a sociedade e sobre o meio ambiente.

O detalhamento de uma análise de riscos depende do seu objetivo no processo de


tomada de decisão. As análises de riscos podem ter um amplo campo de aplicação,
atravessando todas as fases de desenvolvimento de uma determinada obra, desde o
planejamento aos estudos de viabilidade, a comparação de diferentes soluções de
projeto, a seleção das exigências e sua elaboração, a execução, o controle tecnológico, a
operação, incluindo ainda a definição das políticas de reabilitação ou de abandono
(Caldeira, 2005). Assim, os conceitos de risco podem ser aplicados em diferentes
estudos, compreendendo as seguintes abordagens:

• Avaliação de risco global - examinar a escala de um problema e definir a


contribuição dos diferentes componentes do risco para facilitar a formulação de
políticas de gestão de riscos e a otimização da alocação de recursos;
• Avaliação de risco relativo - determinar quais as ações prioritárias a
desenvolver;
• Avaliação de risco de uma obra - avaliar os perigos e o nível de risco em termos
de fatalidades e de perdas econômicas ou outras, num dado local, devido a
construção ou exploração de uma obra;

• Elaboração de mapas de risco - criar zonas ou controlar a ocupação de uma


determinada região ou área.

A percepção de riscos consiste no reconhecimento da existência de perigos potenciais e


na tentativa de definir as suas características. Muitas vezes, os riscos podem ser
descritos, reconhecidos e até mesmo avaliados antes da efetivação das suas
consequências.

9
A identificação de risco é um procedimento deliberado de estudo e de revisão de
sistemas, na esperança de antecipar todos os seus possíveis perigos e consequentes
evoluções adversas (Grantt, 2004).

Neste contexto, o processo de análise de riscos consiste na identificação do que pode


falhar, por quais razões e de que forma e, ainda, na determinação das possíveis causas,
mesmo as de menor significância, com potencial real e direto para desencadear uma
sequência de acontecimentos capazes de conduzir a um acidente com grandes
proporções.

A identificação de riscos deve partir da elaboração de listas de verificação (check lists),


de estudos relativos ao comportamento durante a vida útil das estruturas, de inspeções,
da análise dos fatores humanos, em particular erros humanos, e a preparação de
diagramas lógicos das falhas do sistema e dos eventos seguinte.

Para se obter uma identificação de riscos consistentes, é necessário que as análises


sejam desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar composta por especialistas nas
diversas áreas de interesse da análise de riscos (Viseu e Almeida, 2000). Assim, os
estudos de análises de riscos, sobretudo em obras de Engenharia Geotécnica, requerem
o envolvimento de engenheiros civis, geólogos, engenheiros de minas, engenheiros
ambientais e de outros especialistas, inclusive das ciências sociais e humanas como, por
exemplo, sociólogos.

Para a implementação de uma análise de riscos é necessário conhecer a probabilidade de


ocorrência de eventos indesejados, de forma qualitativa ou quantitativa, e as respectivas
consequências associadas.

Assim, a estimação de riscos consiste na determinação das características dos riscos


identificados; em primeira análise, de uma maneira qualitativa e, quando for possível,
quantitativa. Estas características incluem a magnitude, a escala espacial e a duração dos
eventos associados e a intensidade das consequências adversas, bem como as
respectivas probabilidades, a descrição das suas causas originárias e do encadeamento
dos seus efeitos.

10
2.3 – APRECIAÇÃO DE RISCOS

A apreciação de riscos engloba diversos aspectos como: objetivos da obra, valores


sociais, a legislação vigente, os regulamentos e as orientações normativas. Os resultados
da análise de riscos entram no processo de tomada de decisão, explicitamente ou
implicitamente, formulando considerações sobre a importância relativa dos riscos
calculados, assim como das respectivas consequências, com o objetivo de identificar e
analisar as alternativas que se colocam no âmbito da gestão de risco (Santos, 2007).

Em uma análise de riscos, devem ser considerados os danos à imagem da organização


responsável pela obra, as perdas econômicas, impactos ambientais e, principalmente, a
probabilidade de perda de vidas humanas. Existindo a possibilidade de perda de vidas,
os limites de aceitabilidade são distintos em função do tipo de risco em análise: risco
individual ou risco coletivo. Desta forma, existe entre os proprietários e engenheiros
responsáveis pela análise de riscos, dificuldades no entendimento do conceito e na
aceitabilidade dos riscos, sendo esta uma das maiores dificuldades da avaliação de
riscos.

Em obras de engenharia geotécnica, especificamente as grandes barragens de terra, a


aceitabilidade de perdas de vidas está relacionada com a população na área de risco
(PAR), ou seja, de todos os indivíduos que, caso não sejam evacuados, serão atingidos
pela onda de inundação provocada pela ruptura da barragem (Rettemeier et al., 2004).
Assim, barragens localizadas em áreas de baixas densidades populacionais, como em
áreas da região norte do Brasil, não impõem riscos a populações; por outro lado,
mesmo para o caso de barragens de menor porte localizadas nas regiões sul e sudeste do
país, situadas, portanto, em áreas densamente povoadas, a perda de vidas humanas pode
assumir um risco muito elevado.

Schoustra et al. (2004) introduzem o conceito do Bulbo de Aceitabilidade de Risco


(Acceptable Risk Bubble- ARB) no qual representa-se, de forma gráfica e para diversas
áreas, a apreciação do risco (Figura 2.2). O ARB possui unidades distintas para cada
eixo, sendo tal definição uma responsabilidade da equipe multidisciplinar que irá
realizar a análise, que pode ser qualitativa ou quantitativa.

11
Figura 2.2: Bulbo de aceitabilidade de risco –(modificado de Schoustra et al. 2004)

ANCOLD (1998) define como risco aceitável aquele que é aceito pelos indivíduos ou
pela sociedade eventualmente afetada, admitindo-se que não haja alterações nos
mecanismos de controle do risco. Este risco pode ser insignificante e adequadamente
controlado. Em geral, não são requeridas medidas para a sua redução, exceto quando
praticáveis a baixo custo. A Figura 2.3 apresenta os critérios de aceitabilidade de perda
de vidas humanas do Comitê Australiano de Grandes Barragens.

Figura 2.3: Critérios de aceitabilidade de perdas de vidas em caso de ruptura de


barragens, (modificado de ANCOLD, 1998; citado por Slunga, 2001)

12
O gráfico proposto na Figura 2.3 relaciona a probabilidade anual de falha de uma
barragem com a estimativa de perda de vidas, sendo utilizado para expressar critérios de
aceitabilidade para o risco incrementado às sociedades situadas a jusante de barragens.

Os critérios de aceitabilidade são definidos em termos de riscos e limites aceitáveis,


riscos e limites toleráveis e riscos intoleráveis. O limite da aceitabilidade de riscos
define a fronteira entre os riscos aceitáveis e os riscos toleráveis. Os riscos toleráveis
são aqueles que se enquadram dentro de uma gama que a sociedade pode aceitar de
forma a assegurar determinados benefícios. É uma gama de riscos que não devem ser
vistos como negligenciáveis ou ignoráveis, mas, pelo contrário, devem ser mantidos sob
revisão e reduzidos, quando possível.

O limite de tolerabilidade define os valores acima dos quais o risco associado a um


acontecimento adverso é considerado inaceitável, sejam quais foram os benefícios
associados à infra-estrutura ou atividade potencialmente geradora desse risco. Assim,
definem-se como intoleráveis aqueles riscos que são superiores ao limite prescrito de
tolerabilidade.

A diferença entre risco aceitável e risco tolerável reside no fato de o primeiro ser
considerado, pela população eventualmente afetada, como sendo suficientemente baixo
e adequadamente controlado para não ser necessário reduzi-lo, e o segundo, apesar de
inferior ao limite de tolerabilidade, é interpretado como ainda passível de redução, a
qualquer tempo.

Bowles (2003), utilizando o princípio ALARP (As Low As Reasonably Pratical)


estabelece que os riscos superiores ao limite de aceitabilidade, só são toleráveis se a sua
redução for impraticável ou se os custos associados a esta redução forem
desproporcionais aos benefícios. Desta forma uma análise de riscos deve ser utilizada
durante a fase de estudos de viabilidade de projetos para comparar as diversas
alternativas e ajudar a definir entre as diferentes opções existentes. Tradicionalmente os
três principais fatores que influenciam a seleção de opções de projeto, em suas várias
fases, são: a viabilidade técnica da solução, as justificativas econômicas e os impactos
ambientais.

13
Estes fatores são considerados diretamente através de um processo determinístico, sem
quaisquer referências à magnitude dos riscos a eles considerados. A incorporação dos
riscos na seleção das opções permite uma escolha mais informada, tendo em
consideração as expectativas que se pretendem para a obra ao longo do seu período de
vida útil (MAFF, 2000).

2.4 – TOMADA DE DECISÕES E GESTÃO DE RISCOS

A tomada de decisões constitui um processo global, estruturado ou não, necessário para


orientar os proprietários de uma determinada obra, os engenheiros responsáveis por ela
e até mesmo a sociedade envolvida no projeto. Este processo deve incorporar também a
interação entre quem toma as decisões e a equipe responsável pela apreciação de riscos,
de modo que ambas as partes compreendam devidamente o contexto da decisão e os
valores e as preferências dadas na apresentação dos resultados da apreciação do risco.

A gestão de riscos refere-se à implementação de medidas para manter ou mitigar o risco


e à reavaliação periódica da sua eficácia. As medidas de mitigação de riscos consistem
na aplicação de técnicas e de princípios de gestão adequados para atenuar ou minimizar
as consequências de uma determinada ocorrência (medida preventiva) ou a severidade
de consequências adversas (medidas de proteção) ou de ambas as hipóteses.

Em geral, não é possível e nem prático a eliminação completa dos riscos que as obras
geotécnicas induzem; assim, devem ser identificados quais os riscos a gerir, mitigar ou
controlar. Neste sentido, existe um vasto leque de decisões a tomar, em relação aos
riscos avaliados tanto qualitativa como quantitativamente. Ashby e Lenting (2003)
enquadram as ações sobre os riscos em termos de:

• Evitar – implementar mecanismos de controle da ocupação dos terrenos e


desencorajar o desenvolvimento em áreas dentro dos limites afetados por
rupturas do sistema;

• Reduzir – por exemplo, a probabilidade de percolação pelo corpo de uma


barragem de aterro, através da execução de uma cortina impermeabilizante, para
minimizar o risco de ruptura por piping;

14
• Retirar – por exemplo, instalar sistemas de aviso de cheias para aumentar a
probabilidade de as pessoas, situadas em áreas susceptíveis a inundações, serem
avisadas e evacuadas em tempo útil;
• Transferir ou partilhar – os riscos podem ser transferidos ou partilhados por
consulta das partes interessadas, para que algumas destas possam exercer maior
controle sobre a sua exposição ao risco;

• Aceitar – os riscos são aceitos por aqueles que possam sofrer prejuízos e
usualmente apenas é requerida a informação das pessoas afetadas; a decisão de
aceitar os riscos deve ser justificada, considerando os custos e os benefícios das
medidas de mitigação dos riscos.

Ainda, de acordo com Ashby e Lenting (2003), as medidas de mitigação baseiam-se em


estudos específicos, podendo ser técnica, não técnica, educacional, organizacional ou
legal. Em geral, a mitigação de riscos é parte integrante da estratégia de gestão de
riscos, porém os seguintes aspectos devem permanecer presentes:

• Os resultados das tentativas de se reduzir os riscos devem ser claramente


transmitidos, particularmente no que se refere ao nível do risco residual;
• Existe sempre alguma incerteza relativa à natureza dos riscos e à severidade e
extensão das suas consequências; assim, estas podem ser piores que aquelas
estimadas, uma vez que, por vezes, é difícil prever todas as consequências e os
seus efeitos colaterais;

• Diferentes medidas de mitigação têm diferentes perfis de riscos residuais; por


exemplo, estruturas com mecanismos de ruptura frágeis e sem sistemas de aviso
podem ter riscos superiores aos relativos a estruturas que apresentam um
comportamento dúctil.

O desenvolvimento de Planos de Ações Emergenciais (PAE) e o monitoramento de


riscos são ambos componentes que complementam a gestão de riscos. Um PAE fornece
relações específicas para as incertezas no plano de estratégias de controle de riscos e
permite o desencadear de diferentes respostas em função da ocorrência de determinados
eventos não previstos.

15
A instrumentação e o monitoramento das estruturas, no caso de maciço de barragens,
deve ser parte integrante do plano de gestão de riscos e pode também ser usada como
ferramenta para detecção de certas ações ou respostas do sistema de acordo com uma
estratégia pré-planejada. A instalação de um sistema de aviso prévio (EWS – Early
Warning System) aumenta a possibilidade de se reduzir os impactos de um evento
perigoso (Mayfield, 2007). No âmbito das barragens, um exemplo de um EWS é um
sistema de aviso de cheias.

A manutenção de riscos em níveis toleráveis requer uma vigilância contínua através de


meios tais como o monitoramento e inspeções periódicas da obra, a qualificação de
pessoal técnico de campo e a elaboração de procedimentos eficazes de operação e de
manutenção (USSD, 2003).

2.5 – PRINCIPAIS MÉTODOS DE ANÁLISE DE RISCOS

Nos tópicos anteriores, foram introduzidos os conceitos e os principais fundamentos da


análise de riscos aplicada à área de Geotecnia. Na fase de implementação destes
processos, existe atualmente vários métodos de análise de riscos, os quais podem ser
classificados em duas grandes categorias, de acordo com o tipo de abordagem de análise
do sistema: as indutivas ou dedutivas.

Uma abordagem indutiva constitui um processo de descoberta em que a observação


prática conduz a uma caracterização de forte suspeita, sem certeza absoluta, entretanto,
de que um dado princípio geral seja verdadeiro. A abordagem dedutiva, por outro lado,
é um método que se utiliza para demonstrar, com uma certeza lógica, que um princípio
geral é verdadeiro (Santos, 2007). A Figura 2.4 apresenta um esquema que ilustra as
diferenças entre estas duas abordagens.

Figura 2.4 – Esquema das abordagens indutivas e dedutivas (Santos, 2007)

16
No âmbito das análises de riscos, as abordagens dedutivas avançam do geral para o mais
específico. De modo informal, são também referidas como abordagens “de cima para
baixo”. As análises são iniciadas formulando-se uma teoria acerca de um tópico de
interesse; em seguida, descreve-se essa teoria em hipóteses mais específicas que possam
ser testadas e validadas. Estas descrições devem ser variadas, de modo a se obter
observações concretas que estejam dirigidas às hipóteses com dados específicos à
confirmação ou não das teorias originais.

As abordagens indutivas são elaboradas de outra maneira, isto é, de observações


particulares para generalizações mais amplas e para teorias em última instância. Por
vezes, são também referidas como abordagens do tipo “de baixo para cima”. O estudo é
iniciado com um conjunto específico de observações do sistema; em seguida, busca-se
detectar padrões ou regularidades de comportamento, o que permite considerar modelos
de análise. Após, formulam-se algumas hipóteses que possam ser exploradas e
examinadas por esses modelos e, finalmente, conclui-se o estudo desenvolvendo-se
algumas conclusões gerais ou teorias.

O raciocínio indutivo, pela sua natureza, exige uma maior exploração e investigação do
sistema, especialmente no início do estudo; por outro lado, o raciocínio dedutivo é mais
minucioso e está mais relacionado com a confirmação de hipóteses.

De outra forma, os métodos de análise de riscos de sistema podem ser classificados em


dois grandes grupos relativos aos tipos: análise qualitativa ou quantitativa. A utilização
conjunta destes dois tipos de métodos pode ser bastante útil no processo de identificação
e de estimação dos riscos de um sistema.

Numa análise qualitativa de riscos, normalmente usa-se uma forma descritiva e escrita
para caracterizar as várias partes envolvidas nos riscos associados a um sistema, ou seja,
os modos, os cenários e os mecanismos de ruptura e os fatores de exposição, bem como
as consequências previstas. A identificação de perigos (HAZID - Hazard Identification
Studies), por exemplo, constitui um caso particular de uma análise qualitativa de riscos
(Mark e Robert, 1997).

17
As análises qualitativas são aquelas que são efetuadas com um menor esforço; porém, a
sua utilidade também é menor, pois não são capazes de disponibilizar estimativas
numéricas dos riscos e, portanto, são incapazes de avaliar a importância relativa entre os
vários riscos identificados.

As análises de riscos semi-quantitativas permitem um escalonar relativo dos riscos do


sistema. Trata-se de uma análise que utiliza classificações e/ou índices para caracterizar
a magnitude das consequências e a probabilidade de ocorrência dessas consequências.
São métodos incapazes de fornecer avaliações detalhadas, relativas à segurança do
sistema, ou seja, não podem ser utilizadas com eficiência na análise de eventos com
baixa probabilidade e com grandes consequências.

Por outro lado, as análises de riscos quantitativas (QRA – Quantitative Risk Analysis)
superam todas as limitações e são capazes de avaliar a confiabilidade do sistema. Uma
QRA é baseada em valores numéricos das probabilidades e das consequências e, desta
forma, entende-se que tais valores sejam uma representação válida, dos pontos de vista
matemático e físico, das grandezas envolvidas nos vários cenários que são examinados.
Uma QRA envolve a determinação concreta de probabilidade e de tratamento de dados
estatísticos e uma análise criteriosa das consequências.

A seleção do tipo de uma análise, qualitativa, semi-qualitativa ou quantitativa, depende


tanto da exatidão desejada para os resultados como da natureza do problema, e deve ser
compatível com a qualidade e quantidade dos dados disponíveis. Genericamente,
quando a informação existente for muito pobre para a realização de uma análise
quantitativa, é mais adequado uma análise qualitativa ou semi-quantitativa. Quando
existir, por exemplo, informação suficiente relativa a um talude, que permita a execução
da análise convencional de equilíbrio limite, pode ser executada uma análise tipo QRA
(Dai et al., 2002).

A implementação de métodos que utilizam a análise de riscos puramente quantitativa é


bastante difícil, embora seja crescente o reconhecimento da representatividade de seus
resultados. Para que a utilização destes métodos em obras geotécnicas seja facilitado,
exige-se uma abordagem disciplinada na criação de uma boa base de dados, no qual

18
sejam incluídas informações e análises de incidentes, de acidentes e de intervenções
relevantes de um conjunto significativo de obras, de modo a se dispor de dados
confiáveis para estes estudos. A Tabela 2.1 apresenta um resumo das características dos
principais métodos de análise de riscos mais utilizados.

Tabela 2.1: Principais métodos e características das análises de riscos


Raciocínio lógico Tipo de análise que o método permite realizar
Métodos de análise de risco Indutivo Dedutivo HAZID Qualitativo Semi-qualitativo Quantitativo
Análise por listas de verificação
X X X
(AA - Checklist Analysis)
Análise preliminar de riscos
X X
(APR - Preliminary Risk Analysis)
Análise de perigos e operacionalidade
X X X
(HAZOP - Hazard and Operability Analysis)
Índice de risco X X
Diagramas de Localização, Causa e
X X
Indicadores das Falhas (LCI)
Análise por árvore de eventos
X X X
(ETA - Event Tree Analysis)
Análise dos modos de ruptura e seus efeitos
X X
(FMEA - Failure Modes and Effects Analysis)
Análise dos modos de ruptura, seus efeitos e
sua criticidade
X X
(FMECA - Failure Modes Effects and
Criticality Analysis)
Análise por árvore de falhas
X X X
(FTA - Fault Tree Analysis)

Nos itens seguintes, são apresentadas as principais características destes métodos de


análise de risco, sendo os métodos FMEA/FMECA mais detalhados por constituírem a
técnica aplicada ao estudo de caso (gestão de riscos da Barragem de Contenção de
Rejeitos Casa de Pedra) que é objeto desta dissertação.

2.5.1 – Análises de risco por lista de verificação

Análise de riscos por lista de verificação é o método mais simples de análise de riscos,
sendo normalmente utilizado quando não for prático a aplicação de outro método. Este
tipo de análise de riscos pode ser utilizado em todo tipo de processo ou atividade no
qual os riscos já são previamente conhecidos e listados, simplificando-se desta forma a
análise.

Para a elaboração desta análise, torna-se necessário o conhecimento prévio da estrutura


ou de estrutura semelhante, uma vez que o princípio fundamental deste tipo de análise é
o registro das falhas detectadas por meio de inspeção visual. O “checklist” é uma
ferramenta bastante simples e de grande utilização durante as inspeções de campo.

19
O documento de registro deve conter uma listagem detalhada de todos os elementos
passíveis de inspeção, a sequência de observação e as possíveis ocorrências detectáveis,
e espaço adicional para comentários diversos. A Tabela 2.2 apresenta um exemplo de
lista de verificação, desenvolvida por Scudelari et al., (2007), para inspeção de falésias
no Rio Grande do Norte.

Tabela 2.2: Exemplo de Lista de Verificação (Scudelari et al., 2007)

2.5.2 – Análise preliminar de risco

A análise preliminar de riscos (APR) é indicada para a fase de desenvolvimento do


projeto, início de operação ou da obra e é normalmente utilizada quando existe pouca
informação de referência, pouco detalhamento ou falta de procedimentos em relação a
um determinado processo ou sistema.

20
Cada risco deve ser identificado separadamente para descrever suas possíveis causas,
suas consequências previsíveis e as causas da sua verificação. Da elaboração de uma
APR, resulta um documento com os possíveis eventos que podem ser as fontes de riscos
no sistema. Este método é amplamente utilizado na área de Engenharia de Segurança do
Trabalho como ferramenta auxiliar a execução de tarefas de grande risco, onde não são
conhecidos todos os riscos envolvidos.

Em outras palavras, uma análise preliminar de riscos consiste em um método indutivo e


qualitativo que realiza um estudo básico e global focado em encontrar perigos, estimar
as consequências resultantes dos perigos e descobrir medidas efetivas de proteção e
controle em relação ás mesmas.

2.5.3 – Análise de perigos e operabilidade

Uma análise de perigos e operabilidade (Hazard and Operability Studies - HAZOP)


visa identificar os problemas de operabilidade de um sistema ou processo. Esta
metodologia é baseada em um procedimento que gera perguntas de maneira estruturada
e sistemática, por meio do uso apropriado de um conjunto de palavras-guias aplicadas a
pontos críticos do sistema em estudo (Aguiar et al., 2001).

O principal objetivo da HAZOP é investigar, de forma minuciosa e metódica, cada


segmento de um processo, focando pontos específicos, visando descobrir todos os
possíveis desvios das condições normais de operação e identificando as causas
responsáveis por tais desvios e as respectivas consequências. De uma análise de riscos
do tipo HAZOP, resulta um documento qualitativo relativo aos possíveis desvios no
sistema, juntamente com recomendações de medidas de segurança e um conjunto de
procedimentos a seguir.

2.5.4 – Análise de riscos por índices

Uma análise de riscos por índices compreende a determinação de um índice global de


risco, resultante de uma classificação atribuída a fatores devidamente selecionados, que
permitam apreciar a segurança de estruturas geotécnicas e do meio potencialmente
afetado por sua ruptura (Caldeira, 2005).

21
A implementação deste método implica na divisão dos fatores de riscos em classes e na
atribuição de pesos para cada uma delas de forma subjetiva. Desta forma, uma análise
de riscos por índices apresenta-se como um método próprio para casos nos quais seja
necessária apenas a ordenação relativa dos riscos. A Tabela 2.3 apresenta um exemplo
da aplicação desta metodologia para avaliação de riscos em taludes de obras ferroviárias
(Gomes, 2009).

Tabela 2.3: Exemplo de Ponderação de Índices de Riscos (Gomes, 2009)

2.5.5 – Análises por diagramas do tipo LCI

Uma análise por diagrama de localização, causa e indicadores de falhas (LCI) consiste
em um método indutivo, de natureza semi-quantitativa, que deve ser implementado em
duas etapas: na primeira, procede-se à identificação e avaliação das potenciais
consequências e a sua apreciação e numa segunda etapa, condicionada aos resultados da
primeira, à identificação e avaliação dos modos de ruptura (Pimenta, 2008).

22
Para a realização das análises, deve ser elaborado um diagrama de localização, causa e
indicadores dos modos de ruptura, para identificar e avaliar os modos de ruptura das
componentes de um sistema, tal como ilustrado na Figura 2.5.

Figura 2.5: Exemplo de diagrama LCI (CNPGB, 2006)

A aplicação dos diagramas LCI implica, além da análise integrada de todos os


elementos disponíveis, fases de projeto, construção e exploração, a realização de uma
visita de inspeção à obra. Na realidade, estes diagramas valorizam muito a detecção
visual de indícios e evidências de comportamentos que possam conduzir à ruptura.

As causas e os indicadores das falhas são classificados de um a cinco por intermédio de


três atributos (Pimenta et al., 2005):

• Efeito (Ef.) relaciona o indicador induzido pela causa em análise, numa


determinada localização, com a ruptura parcial ou total (1 para baixo, 5 para
elevado);

• Consequência (Veros.) da ruptura da componente no caso da causa em análise e


indicador em estudo (1 para baixa, 5 para elevada);

• Grau de confiança (Conf.) do responsável pela análise nas suas estimativas do


efeito e da consequência, face às incertezas no conhecimento da componente em
análise (5 para baixo ou duvidoso, 1 para elevado).

23
Concluída a atribuição acima, são calculados quatro índices, para cada conjunto
localização, causa e indicador:

• Índice de ordenação, determinado pelo produto das classificações dos efeitos


pelas consequências;
• Índice de confiança, igual ao grau de confiança;
• Índice de criticidade, determinado pelo produto das classificações dos efeitos
pelas consequências e pelo grau de confiança.

Desta forma, os vários conjuntos, em termos de localização, causa e indicador em


estudo, são hierarquizados através dos valores dos respectivos índices. O método LCI é
considerado uma forma simplificada do método FMEA/FMECA, sendo normalmente
aplicado para a hierarquização de um conjunto de sistemas ou dos modos de ruptura de
um único sistema. De acordo com Lee e Jones (2004), o método LCI tem sido
amplamente aplicado para análise de riscos de rupturas de taludes naturais.

2.5.6 – Análise de riscos por árvore de eventos

O método de análise de riscos por árvore de eventos (ETA) é utilizado para realizar
análises quantitativas de riscos, constituindo uma forma conveniente de desagregar as
sequências de ruptura em partes, de fácil tratamento, e de combinar, de um modo lógico
e coerente, os resultados obtidos para essas partes para se estimar a confiabilidade do
sistema.

Uma ETA não é mais do que um esquema lógico em árvore, que permite ligar, por um
método indutivo, os acontecimentos iniciadores às consequências que podem provocar
(diagramas causa-efeito) e, se requerido, calcular as probabilidades associadas (Berthin
e Vaché, 2000). A técnica permite ilustrar os efeitos imediatos, próximos e finais,
passíveis de ocorrer após a ocorrência de um acontecimento inicialmente selecionado. A
Figura 2.6 apresenta um exemplo de análise de risco por árvore de eventos de um
sistema constituído por duas barragens em série; na análise, pretende-se avaliar a
possibilidade de uma ruptura por galgamento da barragem (Caldeira 2005, apud Pinto,
2008).

24
Figura 2.6: Exemplo de ETA (Caldeira 2005, apud Pinto, 2008)

A elaboração de uma ETA pode acompanhar o desenvolvimento do projeto e ser


alterada ou atualizada sempre que sejam disponibilizados novos dados ou que tenham
sido assumidas diferentes diretrizes de projeto, construção ou operação.

De acordo com Pimenta (2008), uma ETA pode ser utilizada como técnica de análise de
pré-acidentes, uma vez que examina, de forma sistemática, os procedimentos e os
dispositivos existentes em obra capazes de evitar que os fenômenos iniciadores de
acidentes se desenvolvam e provoquem a ruptura; ou após a ruptura, para a
identificação das conquências do evento.

2.6 - ANÁLISE DOS MODOS DE RUPTURA POR SEUS EFEITOS (FMEA) E


POR SUA CRITICIDADE (FMECA)

2.6.1 – Origens do método

Estas metodologias têm origem na norma militar MIL-P-1629 (“Procedures for


performing a failure mode, effects and criticality analysis”,1949) do Departamento de
Defesa dos EUA, adotada como mecanismo de controle e melhoria da qualidade das
suas armas e equipamentos militares.

25
Esta norma estabelece determinadas exigências e procedimentos para se executar uma
FMEA (Failure Modes and Effects Analysis), técnica baseada na avaliação e na
documentação dos impactos potenciais de eventuais falhas de um determinado sistema,
de cada falha no sucesso das missões, na segurança do pessoal e do equipamento, no
desempenho do sistema e nas exigências de manutenção. Na implementação do
FMEA/FMECA (Failure Modes and critical analysis), cada falha potencial deve ser
classificada pela severidade das consequências, de forma a tomar medidas corretivas
que eliminem ou controlem os itens com maior risco (USDD, 2005).

Na década de 60, a metodologia do FMEA começou a ser utilizado com propósitos


industriais no estudo de sistemas elétricos e/ou mecânicos (IEC - International
Electrotechnical Commission, 1985). Atualmente, a utilização do FMEA deixou de
estar restrita ao domínio da engenharia e passou a ser de aplicação generalizada nas
ciências de forma geral.

2.6.2 – Características gerais

Os métodos FMEA e FMECA são aplicados na análise da segurança e da qualidade de


sistemas, para organizar e mapear as consequências de determinados eventos e usar essa
informação para identificar e avaliar quais as ações prioritárias, no sentido de se evitar
ou reduzir as suas consequências.

Trata-se de um método de análise indutivo que é iniciado pela identificação, para cada
componente constituinte de um sistema, de todos os modos de ruptura possíveis, e
avaliando-se, em seguida, o comportamento global do sistema (Rausand, 2005). Uma
identificação prévia de todos os modos de ruptura catastróficos e críticos poderão
antecipar uma intervenção corretiva de forma a minimizar ou eliminar os riscos.

O método pode ser utilizado com diferentes graus de complexidade. A sua aplicação
mais básica tem como objetivo proporcionar uma visão estruturada dos modos
potenciais de ruptura das componentes do sistema. Num estudo mais elaborado, pode
ser implementada uma análise probabilística mais detalhada, associada a sistemas
múltiplos integrados.

26
A forma mais geral e abrangente de um FMEA é a análise dos modos de ruptura e dos
seus efeitos. O FMECA completa o FMEA com a introdução da criticidade dos modos
de ruptura por meio da utilização do conceito de risco, avaliando-se cada modo de
ruptura pelos efeitos que pode causar no sistema e pela sua importância relativa perante
todos os modos de ruptura. Em outras palavras, um FMEA executa uma descrição do
risco (método qualitativo) enquanto numa FMECA, de certa forma, aplica-se uma
abordagem semi-quantitativa. Assim um FMEA constitui a primeira etapa para a
elaboração de uma análise de criticidade.

2.6.3 – Aplicação do método em geotecnia

O porte e as dimensões das estruturas geotécnicas, aliada à variação da geometria, à


heterogeneidade dos materiais, à não-linearidade do comportamento dos solos, à
natureza discreta dos maciços rochosos, à interação com outras estruturas e às diferentes
condições de fronteira, exigem certas adaptações ao método para ser utilizado na
engenharia geotécnica (Santos, 2007).

Em geotecnia, o método deve ser aplicado em termos da funcionalidade com que cada
item participa no funcionamento global do sistema. Cada sistema cumpre uma função
perfeitamente definida e todas podem falhar, devido a várias causas, resultando em
diferentes consequências sobre o sistema principal.

2.6.4 – Objetivos principais e resultados típicos

O principal produto de uma análise do tipo FMEA consiste na identificação e na


perfeita compreensão dos modos potenciais de ruptura de um sistema. O FMEA é uma
técnica analítica que promove o pensamento em equipe de uma forma sistemática para
garantir que todos os modos de ruptura concebíveis sejam analisados em termos de suas
causas potenciais, suas consequências e seus efeitos prejudiciais (Clausing, 1994).

Antes de conduzir uma análise de riscos, utilizando-se este método, é importante definir
qual a fase da obra a que se destina, uma vez que o método pode ser utilizado em
diferentes fases e com diferentes objetivos (Rausand, 2005), tais como:

27
• Ferramenta de auxílio à tomada de decisões ao nível do projeto, visando detectar
as falhas e melhorar a confiabilidade da obra pela identificação dos riscos;
• Forma de controlar a execução da obra;
• Instrumento de segurança para a fase de serviço;
• Instrumento de decisão relativo à demolição ou abandono de uma obra.

A utilização do método, numa fase inicial do desenvolvimento do projeto, é muito útil,


pois identifica os efeitos de cada modo de ruptura e permite formular sugestões de
melhorias para o funcionamento da obra. O FMECA deve ser aplicado durante a fase de
projeto no sentido de evitar ou mitigar os efeitos, de estabelecer critérios de diagnóstico
com base em resultados de ensaios, de criar programas de manutenção e elaboração de
plano de ações emergenciais. Num caso extremo, a identificação de problemas graves,
que resultem num risco inadmissível, poderá conduzir à inviabilização da solução
proposta na fase de projeto.

De um modo geral, à medida que se aplica o método numa fase mais avançada da obra,
o campo de manobra, relativo às ações corretivas necessárias para minimizar o risco, vai
sendo progressivamente encurtado, ou seja, quanto mais prévia é a aplicação do método,
menores tendem a ser as ações corretivas e os custos para correção (Figura 2.7).

Figura 2.7: Variação das ações minimizadoras de riscos relativas à fase da obra
(modificado de Rausand, 2005)

28
O conhecimento adquirido durante a execução da FMEA é uma valiosa ajuda para a
etapa de elaboração das árvores de eventos, pois a análise sistemática de todos os modos
de ruptura e dos respectivos efeitos evita que modos de ruptura relevantes deixem de ser
considerados ou que aqueles sem importância sejam modelados com detalhe excessivo.

2.6.5 – Requisitos iniciais

De acordo com FERC (2005), existe um conjunto específico de requisitos iniciais que
devem ser garantidos, previamente à implementação de um processo FMEA; e tais
exigências incluem:

• Integração de todas as informações relevantes à obra (projetos, estudos, ensaios,


resultados de observação, incidentes reportados, etc.);
• Identificação dos principais modos potenciais e os cenários de ruptura;
• Obtenção de sugestões e críticas de pessoas de diferentes áreas que possam
contribuir com informações adicionais relevantes (pessoal de campo, equipe
técnica, responsáveis pela avaliação da segurança, responsáveis pela observação
e inspeções, etc.);
• Síntese de todos os estudos e informações recolhidas – a documentação é o
ponto-chave para guardar os raciocínios e idéias resultantes do processo.

Para que a análise resulte num documento compreensível, consistente e o mais completo
possível, é importante que os princípios fundamentais do processo sejam interiorizados
de modo a que os objetivos sejam alcançados. O FMEA adota uma abordagem tipo
hierárquica, enfatizando o refinamento progressivo de cada componente até se atingir
um nível de conhecimento ideal (Pimenta de Ávila, 2006). Adicionalmente, permite
uma hierarquização de riscos e de medidas de mitigação.

Devido à complexidade das obras geotécnicas, a eficiência do FMEA depende da


intervenção de especialistas com conhecimento e experiência adequados à identificação
dos modos de ruptura e à capacidade de propor medidas de mitigação apropriadas. Para
tal, é essencial que a equipe inclua pessoas capazes de avaliar e lidar, entre outros, com
aspectos geotécnicos, geológicos, hidrológicos, hidrogeológicos e ambientais, assim
como, se aplicável, recuperar o histórico completo da obra.

29
Para o sucesso do método, é vital a utilização de sessões de integração das idéias
propostas (brainstorming) sobre os modos potenciais e os cenários de ruptura, com uma
equipe com experiência relevante e abrangente no tipo de obra em análise (Rausand,
2005).

2.6.6 – Etapas do FMEA

A execução de um FMEA resulta em uma análise abrangente e detalhada dos modos


potenciais de ruptura, das suas causas e dos seus efeitos (IEC, 1985). Neste contexto de
análise de riscos, é fundamental dispor de uma ferramenta que permita conhecer qual a
importância relativa de cada componente no funcionamento global do sistema. Para tal,
é necessário incrementar um FMEA de forma a descrever a influência combinada da
possibilidade de ocorrência dos modos de ruptura e a severidade das suas
consequências; somente assim, torna-se possível avaliar o risco relativo associado a
cada modo de ruptura, ou seja, avaliar sua criticidade.

A análise da criticidade (FMECA) constitui uma extensão ou generalização do processo


da FMEA, permitindo ordenar os vários modos de ruptura por criticidade para assim
intervir nos itens mais críticos. A Figura 2.8 ilustra as etapas necessárias para o
desenvolvimento de uma análise de risco, quando integrada numa gestão de riscos.

Figura 2.8: Etapas de uma gestão de riscos (modificado de ASI, 2000)

30
2.6.6.1 – Estruturação do sistema geotécnico

Um aspecto relevante que deve ser levado em consideração está relacionado com a
escolha do nível de detalhe para a descrição do sistema em análise. Este deve ser
sistematicamente subdividido, de forma estruturada e hierárquica, até se atingir um
nível onde seja possível obter uma compreensão adequada dos modos de ruptura dos
vários elementos e do sistema (Silva et al., 2006).

O sistema pode ser constituído por vários sistemas principais e, por sua vez, ser
sistematicamente dividido em vários níveis de subsistemas até atingir uma situação em
que não é vantajoso, do ponto de vista da modelação, efetuar mais divisões, o qual se
designa por subsistema de fronteira ou componente básica. A Figura 2.9 apresenta um
modelo de detalhamento de um determinado sistema.

Figura 2.9: Esquema de hierarquização de um sistema

Para a identificação dos sistemas principais, dos subsistemas e das componentes, utiliza-
se um código numérico que permite diferenciar e localizar na estrutura hierárquica. A
definição da sua fronteira, bem como dos sistemas principais, dos subsistemas e dos
componentes básicos, são aspectos que têm de ser decididos pelos analistas por critérios
subjetivos, não existindo, assim, uma solução única.

Os sistemas principais têm como principal objetivo a descrição dos grandes grupos
intervenientes no sistema; os subsistemas são divisões dos sistemas principais ou até
mesmo de outros subsistemas de nível de detalhe inferior. O sucessivo desdobramento
dos subsistemas pode ocorrer até ao número de níveis necessários para se obter as
componentes básicas. É importante destacar que um excessivo refinamento na
modelação do sistema não induz necessariamente uma análise com melhores resultados;
pelo contrário, pode tomar a análise muito mais complexa.

31
2.6.6.2 – Funcionalidades das componentes básicas

Para que a FMEA possa ser implementada, é necessário que as componentes básicas
representem funções perfeitamente definidas para o correto funcionamento dos
subsistemas de nível inferior, dos sistemas principais e, em última análise, do próprio
sistema (Pimenta et al., 2006). É importante destacar a importância da utilização de
diagramas de blocos funcionais (FBD’s – Functional Block Diagrams) para ilustrar as
relações entre as diferentes entidades funcionais (componentes básicos) de um
subsistema.

Estes diagramas descrevem, de modo gráfico, a sequência e a relação entre as funções


das componentes básicas de um dado subsistema em análise. Cada bloco representa a
função que uma componente deve desempenhar, enquanto que as setas interrelacionam
as diferentes funções e os sentidos indicam a sequência normal de funcionamento do
subsistema. Assim, cada bloco deve conter, além da indicação da função, uma
identificação sobre qual componente básica a que se refere. Os pontos em que as setas
convergem ou divergem são conectados com valores lógicos.

A Figura 2.10 apresenta um exemplo de diagrama de blocos funcionais (FBD), para o


caso de um motor diesel.

Figura 2.10: Exemplo de um FBD (modificado de Rausand, 2005)

32
Os FBD’s são elaborados com o objetivo de se obter um melhor entendimento do
funcionamento dos subsistemas e o nível em que são executados dependerá daquilo que
o analista pretende descrever. Quanto mais baixo for o nível de detalhe do subsistema
em estudo (subsistema de 1º nível ou até mesmo sistema principal), mais difícil será de
ilustrar, num formato deste tipo, as várias relações entre todos os seus componentes.
Uma alternativa é a execução de representações gráficas para vários subsistemas com a
sua posterior interligação.

2.6.6.3 – Modos de ruptura

No contexto das análises de riscos, a expressão ‘modo de ruptura’ não implica


necessariamente o colapso total da obra. Os modos de ruptura das componentes básicas
podem ser descritos como “anti-funções”, representando rupturas funcionais. Assim, um
modo de ruptura define a maneira pela qual uma componente básica deixa de ter o
desempenho adequado da sua função para o correto funcionamento do subsistema ou do
sistema a que pertence.

Por exemplo, em um muro de contenção do tipo cortina atirantada, pode ser assumido
que cada ancoragem (subsistema) é constituída, entre outras, pela componente básica
‘tirante’. Este elemento tem como função compensar e resistir as cargas oriundas do
empuxo lateral do muro e, assim, um modo de ruptura pode ser a ruptura à tração do
tirante (Figura 2.11).

Figura 2.11: Exemplo de um modo de ruptura potencial em um murro atirantado

33
Um modo potencial de ruptura pode ser iniciado por fenômenos da natureza, por uma
falha operacional ou até por erros humanos, por exemplo, erros de projeto. Devido ao
grande número de modos potenciais de ruptura que podem ser incluídos numa FMEA,
por vezes, é necessário confinar a análise àqueles que realmente representem um risco
significativo (Robertson et al., 2003).

A triagem dos modos potenciais de ruptura nem sempre é fácil e possui caráter
subjetivo. O primeiro critério a adotar será o de considerar apenas aqueles que
realmente são possíveis de ocorrer na obra. Um segundo critério poderá ser o de
eliminar os modos de ruptura com baixa probabilidade de ocorrência (modos de ruptura
desprezíveis).

No entanto, a baixa probabilidade de ocorrência de um modo de ruptura não pode, só


por si, ser um fundamento para a sua exclusão da análise. De fato, sendo os efeitos
devastadores para o sistema (risco potencial muito alto), o risco associado pode ser
razoável (ou até elevado) e o modo de ruptura deve ser considerado. Por outro lado,
aqueles modos de ruptura concebíveis, que à partida não introduzem, por si só,
quaisquer consequências relevantes no sistema, poderão ser ignorados (FCA, 2007).

A princípio, a análise deve ser desenvolvida para todos os itens do sistema ao nível mais
elevado possível (componentes básicas). À medida que a análise progride no sentido
decrescente do nível dos subsistemas, os efeitos relativos a um modo de ruptura de uma
componente de nível superior devem representar, sucessivamente, os modos de ruptura
de componentes de nível inferior. Além disso, um modo de ruptura a um nível superior
pode ser a causa da ruptura no próximo nível, ou seja, o efeito de um modo de ruptura
em um nível origina a ruptura do subsistema de nível inferior mais próximo.

2.6.6.4 – Identificação das causas

A identificação dos perigos aos quais um dado sistema está sujeito e das causas que o
levam à perda de funcionalidade ou a um deficiente desempenho são assuntos que
devem ser desenvolvidos no âmbito da FMEA. As componentes básicas têm modos de
ruptura originados pelas causas designadas como iniciadoras (root causes), as quais
podem ter origem em (BSI, 1991):

34
• fenômenos naturais (pluviosidade, temperatura, sismos);
• processo interno físico, químico ou biológico;
• deficiências na fase de construção;
• defeitos na qualidade dos materiais;
• falhas operacionais (tipicamente na fase de serviço);
• ação humana (erros, sabotagem, etc.).

Os subsistemas de níveis de detalhe inferiores podem ter modos de ruptura causados por
efeitos diretos de modos de ruptura de componentes de subsistemas de níveis mais
elevados (também designados por modos de ruptura contribuintes) e/ou por causas
iniciadoras. Quando se pretende efetuar somente uma análise qualitativa, a inclusão das
causas dos modos de ruptura na análise não é absolutamente fundamental. Porém, a
descrição e a identificação das causas de um modo de ruptura de uma componente são
úteis no sentido de avaliar as causas de modos de ruptura de outras componentes.

Um processo FMEA pode ser utilizado para analisar qualitativamente as causas comuns
a diversos modos de ruptura de várias componentes básicas do sistema. A identificação
dos perigos com origem em causas externas ao sistema pode ser um processo
relativamente imediato; porém, a identificação das causas que provocam modos de
ruptura internos ao sistema pode não ser tão direta e, em geral, envolve a consideração
de interações entre vários subsistemas.

2.6.6.5 – Descrição dos efeitos dos modos de ruptura

Os efeitos dos modos de ruptura traduzem as consequências, em termos do desempenho


ou da operacionalidade das componentes, dos subsistemas e do sistema global. Um
efeito pode resultar de um ou de vários modos de ruptura, e estar associado a vários
componentes (ou subsistemas). Para melhor sistematização de análise, todos os efeitos
de cada modo de ruptura devem ser registrados (IEC, 1985).

Se o sistema em análise é uma barragem, estes efeitos não devem ser confundidos com
os efeitos remotos (consequências no vale a jusante), os quais podem também resultar
da mesma ruptura, tais como perdas de vidas e danos materiais associados à propagação
da onda de inundação, resultante do colapso estrutural da barragem.

35
De uma forma geral, os efeitos de modos de ruptura podem ser subdivididos em dois
grandes grupos: os efeitos diretos e os efeitos indiretos. Os primeiros podem ainda ser
subdivididos em efeitos imediatos e em efeitos próximos. Os segundos podem também
ser designados por efeitos finais ou globais. Os efeitos imediatos são aqueles relativos
às consequências no componente em análise, enquanto os efeitos próximos devem
relatar os efeitos em outros componentes ou subsistemas adjacentes de nível inferior. À
medida que se persegue a sequência de efeitos, progride-se nos níveis de detalhe na
cadeira hierárquica, alcançando-se, por fim, os efeitos finais no sistema como um todo
(BSI, 1991).

A decisão da forma como se apresentam, no FMEA, os resultados dos efeitos dos


modos potenciais de ruptura cabem aos responsáveis pela análise. Quanto maior for o
detalhe na apresentação dos resultados, mais completa será a análise, porém, mais difícil
e demorada a sua execução. A descrição do modo como os efeitos de uma componente
básica são propagados a outras componentes de outros subsistemas de níveis inferiores
têm uma importância significativa, dado que o FMEA inclui na análise as medidas de
detecção e de controle dos modos de ruptura (CVRD, 2005).

2.6.6.6 – Métodos de detecção e de controle

Uma vez identificados os modos de ruptura de cada componente do sistema, com as


suas causas potenciais e os seus efeitos, a análise poderá ser complementada com a
descrição dos métodos e procedimentos disponíveis na obra que permitam, em primeira
análise, detectar as causas iniciadoras dos modos de ruptura e, caso estes iniciem,
controlar seus efeitos no sistema.

Tipicamente, os métodos de detecção incluem a observação de fenômenos físicos,


químicos ou biológicos, seja por procedimentos de auscultação por meio de inspeções
visuais ou pela instrumentação de seções típicas ou pela execução de ensaios periódicos.
As medidas de controle estabelecem procedimentos que permitem, em tempo útil,
interromper as cadeias de sucessivos modos de ruptura ou atenuar os seus efeitos no
sistema (BSI, 1991). De um modo geral, a utilização da FMEA em sistemas tem como
ponto chave a avaliação da vulnerabilidade da estrutura na sua fase de serviço.

36
2.6.6.7 – Estimação da criticidade

O método de análise de riscos do tipo FMECA em sistemas geotécnicos é basicamente


semi-quantitativo. Ao contrário do que acontece em outros sistemas, nas obras
geotécnicas, em geral, não existem dados suficientes para proceder a análises puramente
probabilísticas. Tal dificuldade pode ser ultrapassada com a utilização de métodos de
análise semi-quantitativos, em que a probabilidade de ocorrência dos eventos e a
severidade das suas consequências no sistema são ordenadas, respectivamente, em
classes de probabilidades e classe de consequências.

Conhecida as consequências de cada possível modo de ruptura, sua criticidade só fica


perfeitamente definida com a avaliação da probabilidade de ocorrência. Nas análises de
riscos em sistemas mecânicos e elétricos através do método FMECA, a avaliação da
probabilidade é baseada em taxas de falha (failure rate) de cada componente, fornecidas
pelos fabricantes para condições de utilização perfeitamente definidas (temperatura,
umidade, tempo de utilização, manutenção, etc.). Para as situações em que as condições
locais diferem das consideradas, os valores são extrapolados mediante a aplicação de
fatores corretivos, mediante relações do tipo (BSI, 1991):

λ = λb x m x α x r (2.1)

sendo:
Ȝ ņ taxa de falha relativo ao modo de ruptura de um componente;
Ȝb ņ taxa de falha-base para determinadas condições de referência;
m ņ fator para atender às condições ambientais e de manutenção;
Į ņ fator de modo de falha;
r ņ fator de proporção do tempo em que o componente está em risco de falha.

O fator m pode ser obtido através de pesquisa em literatura especializada em análises de


confiabilidade desse tipo de sistemas. O seu valor pode ser inferior ou superior à
unidade. O fator Į pretende atender à relevância que a componente mostra em termos da
proporção do modo de falha para a componente. Para cada componente a soma dos
fatores Į, dos vários modos de ruptura, deve ser igual a 1 (100%).

37
O fator r define a proporção de tempo de funcionamento em que a componente
encontra-se em risco de falha, relativamente ao tempo total de operação, sendo expresso
pela seguinte relação:

tempo de utilização do componente t


r= = (2.2)
tempo de projeto do sistema tp

Apesar da formulação apresentada não ter aplicação direta em sistemas geotécnicos,


uma abordagem do gênero da equação (2.1), através da utilização de fatores de
exposição, pode constituir uma possível linha de investigação para a melhoria da
aplicabilidade da metodologia através de métodos quantitativos. Nesse caso, esses
fatores de exposição deviam ser capazes de contemplar o conjunto de possibilidades e
incertezas inerentes às estruturas geotécnicas, tais como (Santos, 2007):

• O tipo, a dimensão e a geometria das obras;


• Os materiais utilizados e o seu comportamento;
• O processo construtivo;
• A idade da obra;
• As condições de manutenção;
• As imprevisibilidades humanas;
• As condições ambientais locais (temperatura, pluviosidade, umidade, etc.);
• As diferenças dos regulamentos de segurança entre países.

A maior dificuldade dessa abordagem reside na obtenção de taxas de falhas para os


diferentes tipos de obras geotécnicas (barragens, escavações, aterros, fundações, túneis,
etc.). Assim, o caráter único associado a esses tipos de obras e a inexistência de valores
reais que permitam a construção de uma base de dados que sustente uma abordagem,
em termos de taxas de ruptura, exige a sua obtenção com o recurso a meios alternativos.

A Tabela 2.4 apresenta as classes de probabilidade constantes na norma MIL-P-1629


(2005). Nela, efetua-se uma divisão da probabilidade de ocorrência de um dado evento
(ou conjunto de eventos) em cinco intervalos, com classificações entre A - Improvável e
E – Esperado, sendo associada uma descrição específica a cada classe.

38
Tabela 2.4: Classes de probabilidade (modificado de MIL-P-1629, 2005)
Intervalos de
Classes Classificação Descrição
probabilidade

A < 0,1% Improvável Probabilidade muito baixa


Possível mas de baixa
B 0,1 – 1% Baixo
probabilidade
C 1 –10% Moderado Ocorrência ocasional
Ocorrência possível e
D 10 – 20% Alto
provável
E > 20% Esperado Ocorrência regular

Nesta concepção, um evento seria ‘esperado’ quando fosse tipificado como sendo de
‘ocorrência regular’, o que implicaria em uma probabilidade de ocorrência superior a
20%. Em geral, as informações disponíveis e de amplo acesso para a análise de
estruturas em engenharia civil não permitem aos analistas de riscos utilizarem esses
intervalos de probabilidade; por outro lado, as atribuições relativas às classes de
probabilidade são de caráter muito subjetivo (Silva et al., 2002). Entretanto,
classificações desta natureza podem servir de referência geral para as análises,
possibilitando adaptações do número de classes, dos critérios de classificação ou nas
fronteiras dos intervalos de probabilidade a serem adotados.

As classes de consequências têm de ser capazes de refletir gradualmente um conjunto de


situações, desde a mais catastrófica a mais insignificante. A escolha e a determinação
das classes de criticidade devem ser claras, objetivas e cuidadosas para que sejam
definidas, da forma mais direta possível, as suas correspondentes atribuições aos efeitos
globais dos modos potenciais de ruptura.

As consequências dos modos de ruptura podem ser agrupadas em diferentes áreas de


interesse, cada uma delas definida com base em atributos específicos, como fatalidades,
perdas econômicas, impactos ao meio ambiente, consequências políticas e censura
pública, etc. Assim, as classes de severidade podem ser atribuídas separadamente a cada
uma das diferentes áreas de interesse. A Tabela 2.5 apresenta um exemplo com cinco
classes de consequências para quatro áreas de interesse.

39
Tabela 2.5: Classes de consequências
Áreas de interesse
Classes de
Saúde e Impacto na mídia Econômicas /
criticidade Meio ambiente
segurança (imagem da empresa) destruição ($)
Impacto baixo
I Desprezível Desprezível Sem impacto
(<100mil)
Primeiros Violação a Legislação Impacto médio
II Baixo
socorros Ambiental (100 mil – 1 milhão)
Pequenos Prejuízo local Impacto médio – alto
III Moderado
ferimentos reversível (1 -10 milhões)
Impacto significativo Impacto alto
IV Incapacidade Severo
reversível (10 -100 milhões)
Ocorrência de Impacto catastrófico Alta destruição
V Extremo
fatalidades irreversível (> 100 milhões)

A criticidade de cada modo de ruptura fica perfeitamente definida quando se relaciona a


severidade das consequências com a probabilidade de ocorrência dos eventos de
origem, obtidos através das respectivas classes. A ordenação dos modos de ruptura em
função da criticidade passa pela atribuição de valores numéricos a cada uma das classes
(índices ponderativos) e pela avaliação da criticidade, expressa em termos do produto
dos índices ponderativos relativos ao par probabilidade - consequência (p, c). Assim, o
índice de criticidade (Icr) para um dado par (p, c) é calculada por (Silva et al., 2006):

I cr = p x c (2.3)

sendo:
Icr ņ Índice de criticidade;
p ņ Índice atribuído à probabilidade de ocorrência de um determinado modo de
ruptura;
c ņ Índice atribuído à consequência dos efeitos de um determinado modo de
ruptura.

Os valores dos índices atribuídos às classes das probabilidades e consequências devem


ser concordantes com a definição atribuída a cada classe. A escala das classes deve ser
crescente em termos de relevâncias, mas o intervalo entre os valores pode ser variável,
ou seja, é possível atribuir maior relevância a uma determinada classe, a critério do
analista. A representação da criticidade pode ser feita também na forma de uma matriz
bidimensional denominada Matriz de Criticidade (Mark e Robert, 1997), na qual as

40
linhas referem-se às classes de probabilidade e as colunas, às classes de consequências,
tal que:

[Cr ] = Cr ( p x c ) (2.4)

ou ainda:

ª ( A, I ) ( A, II ) ( A, III ) ( A,VI ) ( A,V ) º


« ( B, I ) ( B, II ) ( B, III ) ( B, IV ) ( B,V ) »»
«
[CR ] = « (C , I ) (C , II ) (C , III ) (C , IV ) (C ,V ) » (2.5)
« »
«( D, I ) ( D, II ) ( D, III ) ( D, IV ) ( D, V ) »
«¬ ( E , I ) ( E, II ) ( E , III ) ( E, IV ) ( E ,V ) »¼

A matriz de criticidade da Equação 2.5 pode ser representada graficamente (Figura


2.12) para melhor entendimento e visualização.

Figura 2.12: Representação gráfica da matriz de criticidade

Finalmente, após a determinação e caracterização de todos os modos de ruptura, da


criticidade do sistema e conhecidos os limites de aceitação dos riscos, impõe-se focar a
atenção sobre os modos de ruptura críticos ou catastróficos, que excedem o limite de
aceitabilidade dos riscos. A Figura 2.13 apresenta um exemplo típico de uma matriz de
criticidade com 5 níveis de alerta. A posse desta matriz e os níveis de alerta definidos
permitem ao analista elaborar o PAE – Plano de Ações Emergenciais.

41
Figura 2.13: Matriz de criticidade com 5 níveis de alerta

Outro método, comumente adotado para se determinar e classificar quantitativamente a


criticidade, consiste no cálculo do chamado Número de Risco de Prioridade (Risk
Priority Number - RPN). O RPN é o produto dos índices atribuídos à severidade, à
probabilidade de ocorrência e à probabilidade de detecção dos modos potenciais de
ruptura de acordo com critérios previamente definidos, tal que:

RPN = S x O x D (2.6)

sendo:

RPN ņ Número de Prioridade de Risco


S ņ Índice de severidade
O ņ Probabilidade de ocorrência
D ņ Probabilidade de detecção

O índice de severidade pretende avaliar o impacto dos efeitos dos modos de ruptura
sobre o funcionamento do sistema em análise; o índice de probabilidade visa traduzir a
frequência ou a probabilidade de aparecimento de cada modo de falha e o índice de
detecção pretende traduzir a probabilidade de não detecção, pelos dispositivos de
controle, das causas ou efeitos dos modos de ruptura.

42
As Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 apresentam exemplos de índices de severidade, índices de
probabilidade de ocorrência e índices de probabilidade de detecção, respectivamente,
(Toledo e Amaral, 2005) para uma análise de satisfação do cliente.

Tabela 2.6: Índices de severidade (Toledo e Amaral, 2005)


Severidade
Índice Severidade Critério
1 Mínima O cliente mal percebe que a falha ocorreu
2 Ligeira deterioração no desempenho dom leve
Pequena
3 descontentamento do cliente
4
Deterioração significativa no desempenho de um
5 Moderada
sistema com descontentamento do cliente
6
7 Sistema deixa de funcionar e grande
Alta
8 descontentamento do cliente
9
Muito Alta Idem ao anterior, porém afetando a segurança
10

Tabela 2.7: Índices de probabilidade de ocorrência (Toledo e Amaral, 2005)


Ocorrência
Índice Ocorrência Proporção
1 Remota 1:1.000.000
2 1:20.000
Pequena
3 1:4.000
4 1:1.000
5 Moderada 1:400
6 1:80
7 1:40
Alta
8 1:20
9 1:8
Muito Alta
10 1:2

Tabela 2.8: Índices de probabilidade de detecção (Toledo e Amaral, 2005)


Detecção
Índice Detecção Critério
Muito
1 Certamente será detectado
grande
2
Grande Grande probabilidade de ser detectado
3
4
5 Moderada Provavelmente será detectado
6
7
Pequena Provavelmente não será detectado
8
9 Muito
Certamente não será detectado
10 pequena

43
Os valores de RPN mais altos devem ser tratados prioritariamente, mas é necessário
também se atentar para valores parciais dos índices. De acordo com Silva et al.(2006),
uma boa prática é a consideração do par de valores Índice de Criticidade e RPN de cada
modo de falha, para melhor consistência na tomada de decisões. O Anexo I deste
trabalho apresenta um formulário utilizado como base para aplicação da metodologia do
FMEA utilizando o RPN como forma de quantificação dos riscos.

2.6.6.8 – Medidas de Mitigação do Risco

Caso se constate que os riscos a que a obra está sujeita são elevados e intoleráveis,
devem ser tomados os devidos cuidados no sentido de restringi-los ou minimizá-los. A
mitigação de riscos do sistema somente é obtida atuando no sentido de reduzir a
probabilidade de ocorrência dos eventos iniciadores dos modos de ruptura (prevenção
de acidentes), da sequência dos efeitos ou das consequências e na redução da severidade
das consequências dos efeitos finais no sistema (proteção contra os acidentes).

De um modo geral, essas reduções implicam em medidas adicionais de detecção (das


causas iniciadoras ou dos efeitos imediatos) ou de controle (da sequência de efeitos),
para além das existentes ou inicialmente utilizadas. Tais medidas devem estar dirigidas
de modo a atuar nos itens mais críticos ou catastróficos do sistema.

As medidas para mitigação de riscos podem ser diferentes, dependendo da fase da vida
da obra em que se efetua a análise. Na fase de projeto, pode-se chegar à conclusão que
as medidas de controle inicialmente idealizadas não são suficientes para garantir riscos
aceitáveis, resultando na proposição de medidas complementares. Na hipótese do
método ser utilizado na fase operacional da obra, muitas das medidas prévias podem ser
inviáveis, exigindo-se uma reavaliação geral das mesmas.

Após a implementação ou reavaliação das medidas necessárias para a mitigação dos


riscos, devem ser analisadas todas as componentes do sistema, no sentido de serem
atribuídas às mesmas novas classes de probabilidades e de consequências. Desta forma,
pretende-se averiguar se ocorreu efetivamente uma redução dos riscos nos itens críticos
previamente identificados e verificar a eventual ocorrência de novos riscos, e mais, se as
suas consequências são aceitáveis para o sistema em análise.

44
CAPÍTULO 3

3 – PLANOS DE AÇÕES EMERGENCIAIS APLICADOS À


BARRAGENS DE REJEITOS

Nas patologias que podem afetar o meio-ambiente e a sociedade existem diversos tipos
e graus de emergência. É possível distinguir os acidentes, que são as emergências
controladas pelo homem, por exemplo, dos incêndios e das catástrofes que estão
praticamente fora da capacidade humana de controle, tal como os eventos sísmicos. Se o
acidente for provocado pela ocorrência de uma anomalia em uma barragem, as
consequências podem ser muito abrangentes, atingindo proporções de uma catástrofe e
domínio de vários quilômetros a jusante da barragem (Viseu e Almeida, 2000).

Barragens construídas a montante de centros urbanos, densamente povoados,


representam uma ameaça real para as populações residentes nas proximidades do vale
do rio, seja por causa da liberação de grandes vazões, seja por uma eventual ruptura da
barragem. Neste sentido, emergências potenciais em uma barragem devem ser
identificadas e avaliadas, levando-se em consideração as consequências da ruptura, de
modo que ações apropriadas, corretivas ou preventivas, possam ser empreendidas.

O Comitê Brasileiro de Barragens afirma que o responsável legal pela barragem deve
assegurar aspectos relacionados à segurança do empreendimento, devendo ainda fazer
com que sua operação e manutenção sejam executadas por pessoas que tenham
conhecimento e habilitação para tal (CBDB, 1999).

Nos países mais desenvolvidos, tornou-se rotina a implementação do PAE (Plano de


Ação Emergencial) para barragens que apresentam um maior potencial de risco. No
Brasil, a implantação de planos emergenciais começa a merecer algumas aplicações,
particularmente, nesta fase inicial, justamente sobre as barragens a montante de centros
urbanos (Silveira, 2006).

45
Desta forma, um PAE deve ser preparado, testado, divulgado, mantido e revisado para
qualquer barragem cuja ruptura possa ensejar como resultado a perda de vidas, bem
como para qualquer barragem para a qual um alerta antecipado possa reduzir os danos a
montante ou a jusante.

3.1 – RUPTURAS DE BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE REJEITOS

A ruptura de uma barragem é um problema que preocupa, cada vez mais, proprietário,
engenheiros e entidades responsáveis pelos projetos, bem como o licenciamento, a
construção e operação destas estruturas. No âmbito de segurança de barragens,
verifica-se uma crescente conscientização da existência do risco potencial para as
populações instaladas a jusante. Segundo Lima et al. (2008), acidentes com barragens
continuam a acontecer na frequência de pelo menos um acidente grave por ano.

Os prejuízos resultantes de um acidente com uma barragem podem ser bastante


elevados. Os prejuízos gerados por danos materiais são de fácil quantificação, mas os
danos causados ao meio ambiente não são passíveis de igual estimativa, sem citar que
podem ocorrer eventos com perda de vidas humanas. A magnitude desses prejuízos
depende, dentre outros fatores, da densidade de ocupação do território a jusante das
barragens, das características da população, da atividade econômica ou da existência de
indústrias.

Ramos (1995) apresenta alguns números sobre vítimas e prejuízos causados por alguns
desastres ocorridos nos últimos duzentos anos. A título de exemplo, citam-se os casos
das barragens de Baldwin Hills e Teton, nos EUA, em que a perda de vidas foi muito
pequena, mas os prejuízos materiais foram superiores a dez milhões de dólares. Por
outro lado, as rupturas das barragens de South Fork (EUA) e Vajont (Itália) causaram a
morte de mais de duas mil pessoas.

De acordo com dados do Comitê Internacional das Grandes Barragens (ICOLD, 1995),
no período de 1799-1988, ocorreram rupturas em 180 barragens, cerca de 2,2% das
barragens construídas antes de 1950 e cerca de 0,5% das barragens construídas depois
desta data. Destas, 70% dos acidentes ocorreram nos primeiros 10 anos após construção
e 70% das rupturas ocorreram em barragens com alturas inferiores a 30m.

46
No Brasil, observa-se historicamente a predominância da ruptura de barragens de
contenção de rejeitos de minerações; em período recente, podem ser citadas as
seguintes: ruptura da barragem de rejeitos da Mineração Rio Verde, em 2001 em São
Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima-MG, com grandes
prejuízos ambientais ao longo de 6,3 km do percurso da onda de cheia e a perda de
cinco vidas; em 2007, a ruptura da barragem de rejeitos da Mineração Rio Pomba em
Miraí-MG, deixando quatro cidades em estado de calamidade pública; embora sem
causar vítimas, os efeitos resultaram em grandes danos materiais a milhares de pessoas
e danos severos ao meio ambiente.

O Ministério da Integração Nacional, a Agência Nacional de Águas (ANA) e a


Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica (SIH), em parceria com estados, municípios e
proprietários, têm desenvolvido ações para prevenir e minimizar os riscos de acidentes
com barragens. As agências reguladoras mantêm um cadastramento técnico eletrônico
sobre as barragens, pelo site www.ana.gov.br/cnb, monitorando permanentemente as
estruturas em condições de risco.

As barragens objeto de comunicação prioritária à SIH são as que apresentem riscos


inaceitáveis em termos econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas humanas,
decorrentes de mau funcionamento da barragem ou de sua ruptura; as de maciços com
alturas maiores ou iguais a quinze metros, contada do nível do terreno natural à crista;
as de capacidade total do reservatório maior ou igual a cinco milhões de metros cúbicos
e aquelas que possuem reservatórios com presença de resíduos tóxicos. Para situações
críticas, os órgãos municipais e estaduais de defesa civil, bem como a Secretaria
Nacional de Defesa Civil, deverão ser imediatamente alertados.

3.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE LEGISLAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE


SEGURANÇA DE BARRAGENS

A primeira lei européia em análise de risco de ruptura de barragens foi apresentada na


França em 1968. Esse decreto tornou compulsória a elaboração de planos de emergência
para as barragens, inclusive com base em estudos de simulação da onda de inundação
gerada por falhas da estrutura (Morris et al., 1998).

47
De acordo com Delliou (2001), na União Européia ainda não existe uma legislação
específica para o gerenciamento dos resíduos de mineração. No momento, os países
membros têm sua própria legislação sobre mineração e meio ambiente, incluindo-se o
gerenciamento das barragens de contenção de rejeitos.

Na Austrália o Departamento de Minerais e Energia (DME) apresenta orientações


(guidelines) para auxiliar as etapas de projeto, construção, operação e
descomissionamento de barragens de contenção de rejeitos para alcançar eficiência,
custo, segurança e resultados ambientais aceitáveis (AUSTRALIAN EPA, 1995). Nos
EUA, uma tentativa dos legisladores de impor um "código de gerenciamento" uniforme
não deve obter sucesso em função das especificidades de cada companhia mineradora e
cada barragem de contenção de rejeitos (Duarte, 2008).

No Brasil, o projeto de lei nº 1.181 de 2003 estabelece a Política Nacional de Segurança


de Barragens e o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNIB), coordenado pelo Conselho Nacional de Segurança de Barragens (CNSB). Este
conselho atua como organismo de articulação entre os órgãos licenciadores de barragens
no país para divulgação de informações, padronização da classificação de barragens,
estabelecimento de planos de segurança, planos de contingência, registros de acidentes e
estabelecimento de responsabilidades, dentre outras ações.

O projeto abrange barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à


disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais,
estabelecendo parâmetros mínimos que devem servir de base para estudos e projetos,
tais como:

• Previsão de enchentes com período de recorrência mínimo de cem anos;


• Estudo geotécnico da área prevista para implantação;
• Previsão de sistema de extravasão compatível com a vazão máxima de enchente;
• Verificação das condições de estabilidade sob as piores condições previsíveis;
• Detalhamento de fundações, aterros e demais estruturas da obra;
• Contaminação do solo e do aquífero subterrâneo do entorno;
• Elaboração de relatório anual que ateste a segurança do empreendimento.

48
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), por meio da resolução Nº 37 de
26 de março de 2004, no seu 8º artigo, determina que o outorgado é responsável pelos
aspectos relacionados à segurança da barragem, devendo assegurar que seu projeto,
construção, operação e manutenção sejam executados por profissionais legalmente
habilitados. Por outro lado, o projeto de lei nº 436 de 2007 estabelece a obrigatoriedade
da contratação de seguro contra o rompimento de barragens para cobertura de danos
físicos, inclusive mortes e prejuízos materiais às comunidades a jusante. Por este projeto
de lei, as companhias seguradoras atuam como auditores e fiscais, garantindo que os
projetos sejam elaborados e as obras tenham execução e manutenção adequadas.

No estado de Minas Gerais, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) realiza


um trabalho de cadastramento e classificação do potencial de dano ambiental das
barragens de rejeitos industriais seguindo parâmetros da Deliberação Normativa (DN)
62 (COPAM, 2002), DN 87 (COPAM, 2005) e DN 113 (COPAM, 2007). De acordo
com o potencial de dano ambiental, as barragens são subdivididas em três classes:

Classe I: ™V ” 2 (Baixo potencial de dano ambiental) – inspeção a cada três anos;


Classe II: 2 < ™V ” 5 (Médio potencial de dano ambiental) – inspeção a cada dois anos;
Classe III: ™V > 5 (Alto potencial de dano ambiental) – inspeção a cada ano.

A Tabela 3.1 apresenta os valores dos índices de classificação das barragens segundo
estas prescrições normativas.

Tabela 3.1: Critérios para classificação de dano ambiental das barragens


(Modificado de COPAM, 2005)
Altura da Volume do Ocupação Interesse Instalações
barragem reservatório humana a ambiental a na área de
H (m) (x106 m3 ) jusante jusante jusante
Pouco
H < 15 Vr < 0,5 Inexistente Inexistente
significativo
V=0 V=0 V=0 V=0
V=0
Baixa
15 ” H ” 30 0,5 ” Vr ” 5 Eventual Significativo
concentração
V=1 V=1 V=2 V=1
V=1
Alta
H > 30 Vr > 5 Existente Elevado
concentração
V=2 V=2 V=3 V=3
V=2
Grande
- - - -
V=4

49
De acordo com a classificação do potencial de dano ambiental, são estabelecidos prazos
(um, dois ou três anos) para realização de auditorias nas barragens, realizadas por
consultor externo ao quadro de funcionários da empresa. Os relatórios das auditorias
devem levantar as condições físicas e estruturais das barragens e atestar se as mesmas
apresentam condições seguras de estabilidade. Caso não apresentem, o relatório deve
conter um plano de ações com cronograma para a implantação de melhorias, a fim de se
corrigir as falhas e garantir a estabilidade das estruturas.

3.3 – METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE UM PAE

Um PAE deve ser elaborado para cada barragem, a menos que as consequências da
ruptura desta barragem sejam baixas. A definição quanto a necessidade da preparação
de um PAE deverá ser tomada, por meio de uma análise específica, quanto as condições
de risco a jusante; por exemplo, uma grande barragem que retém um grande volume
dentro de um vale confinado, envolvida por uma população significativa, exige
claramente a formulação de um PAE. Inversamente, uma pequena barragem de fazenda,
em uma área relativamente desabitada, normalmente não precisaria.

Assim um PAE deve ser preparado, testado, divulgado e mantido para qualquer
barragem cuja ruptura possa apresentar risco de perda de vidas, bem como para
qualquer barragem para a qual um alerta antecipado possa reduzir os danos a montante
ou jusante. De acordo com Lima et al. (2008), um PAE deve conter uma série de ações
para manter a segurança de um empreendimento e uma resposta eficaz para situações de
risco associadas à integridade da ocupação do vale a jusante.

Menescal e Miranda (1997) destacam ainda que o PAE deve conter procedimentos de
emergência em relação ao acompanhamento da barragem, das medidas em relação à sua
operação e de notificação para as autoridades responsáveis e para a população em geral,
de forma a salvaguardar vidas e reduzir danos ao longo do rio na eventualidade de uma
ruptura da barragem.

Neste mesmo sentido, BUREC (1998) destaca as vantagens de se elaborar um PAE com
base em cinco fases, que são: detecção das falhas, tomada de decisão, notificação, aviso
e evacuação.

50
Viseu e Almeida (2000) sugerem que o PAE deve abordar, em uma primeira fase, os
seguintes aspectos: caracterização da barragem, caracterização do vale a jusante e
caracterização da cheia provocada pela ruptura da barragem. Em uma segunda etapa,
deveriam ser caracterizados os procedimentos a seguir em caso de acidente: cadeias de
decisão e identificação dos aspectos principais intervenientes no processo, detecção e
identificação das potenciais situações perigosas ou anômalas, orientações para a tomada
de decisão, definição de ações de resposta a desenvolver, notificação dos principais
responsáveis e definição do sistema de aviso e alerta e outras questões complementares,
como, por exemplo, definição de acessos e atribuição de recursos humanos, logísticos e
materiais, incluindo equipamentos de emergência.

Como parece exposto, não existe uma metodologia padronizada para a organização e a
implementação de um PAE aplicado a barragens de contenção de rejeitos; existem
apenas várias referências quanto aos aspectos que devem ser abordados. No caso do
estudo de caso abordado neste trabalho, foi adotada a metodologia proposta por Viseu e
Almeida (2000), por ser a mais abrangente.

3.3.1 – Caracterização da Barragem

A caracterização da barragem torna-se importante no processo de elaboração do PAE,


pois a análise de riscos, etapa que antecede a sua implementação, depende basicamente
da natureza e das especificidades do empreendimento. Assim o levantamento dos dados
gerais da barragem inclui a avaliação de projetos, memórias de cálculo, investigação
geotécnica e quaisquer outros documentos técnicos da época de construção. No caso de
não se dispor de uma documentação técnica adequada, a caracterização da barragem
deve ser realizada por meio de levantamentos minuciosos de campo, executados por
uma equipe qualificada de profissionais.

A caracterização geológica e geotécnica do local onde está inserida a barragem,


principalmente da região de fundação, juntamente com a descrição dos materiais e da
geometria da barragem, constituem os principais elementos que caracterizam o
empreendimento e, assim, representam a primeira base de dados exigidos para a
proposição do PAE.

51
Adicionalmente, impõe-se descrever a hidrologia da região e os sistemas de drenagem
superficial do maciço da barragem, além dos sistemas hidráulicos, vertedor, galerias e
sistemas de drenagem de emergência, incluindo, sempre que possível, o sistema de
drenagem interna do barramento e da fundação.

A instrumentação da barragem, quando existente, deve ser descrita de forma qualitativa


e quantitativa, ou seja, deve ser indicada a quantidade de instrumentos, os tipos, as
seções instrumentadas e o estado de conservação dos medidores instalados. O histórico
das leituras dos instrumentos, quando existente, também deve fazer parte da etapa de
caracterização da barragem. No caso de sistemas de disposição de rejeitos de mineração,
devem ser descritos também as características geotécnicas dos rejeitos e o processo de
alteamento adotado, desde o dique de partida até a cota da crista da barragem.

Concluída a caracterização da barragem, o analista responsável pela elaboração do PAE


possui então uma série de informações que permite realizar estudos de estabilidade,
percolação e tensão-deformação do maciço da barragem e verificação da capacidade de
vazão dos sistemas vertedores. A partir destes estudos, o analista está apto a determinar
os níveis do sistema de aviso e alerta (BUREC,1998).

3.3.2 – Caracterização do vale a jusante

Qualquer descarga acidental proveniente de uma barragem causa grandes danos no vale
a jusante. Neste sentido, o mapeamento das zonas a jusante da barragem constitui
estudo básico para a elaboração de uma carta de risco para a definição das estratégias de
proteção na tomada de decisões (Viseu e Martins, 1997). A caracterização deve ocorrer
de forma quantitativa quando se descreve a população afetada nas áreas de risco e
qualitativa para os demais sistemas.

A caracterização do vale a jusante deve ser iniciada com a utilização de plantas


planialtimétricas atualizadas da região, quando disponível, na escala 1/25.000, para
reconhecimento e classificação da área de risco. Quanto a geometria, os vales podem ser
classificados como encaixados, médios ou alargados; a utilização destas plantas permite
ainda verificar o desenvolvimento dos rios e lagos locais, bem como da existência e
localização das zonas de armazenamento de água.

52
Em uma segunda etapa, é realizado um levantamento de campo bem planejado e com
objetivos específicos, visando descrever os tipos de edificações, indústrias e acessos
existentes, vegetação local e um censo amplo da população delimitada pelas áreas de
risco potencial.

3.3.3 – Estudo da onda de cheia

O estudo da onda de cheia indica as áreas passíveis de serem atingidas pela onda
resultante da ruptura da barragem. Este estudo deve conter um zoneamento das áreas
que serão gradativamente atingidas pelas vazões liberadas da barragem ao longo do
tempo após a ruptura.

O modelo DamBreak de estudo de propagação da onda de cheia destaca-se como o mais


aplicado em análise das consequências de ruptura de barragens, tendo sido desenvolvido
pelo NOAA´s (National Weather Service - USA). Este modelo simula a propagação da
onda de cheia pelo vale a jusante a partir da formação de uma brecha, abertura formada
na barragem durante o processo de ruptura, que provoca a destruição parcial ou total do
maciço; desta forma, em poucos minutos, é lançado no vale uma parte ou a totalidade
do volume de água armazenada.

O modelo simula a ruptura da barragem por galgamento ou piping, e possibilita o


cálculo do hidrograma originado pelo esvaziamento do reservatório e a modelação da
onda de inundação no vale a jusante da barragem.

A modelação da onda de cheia, pelo método DamBreak, é efetuada considerando o


escoamento como ocorrendo em uma superfície livre unidirecional. Isto faz com que as
seções transversais sejam consideradas perpendicularmente à direção da linha de água e
que a superfície livre do escoamento seja sempre horizontal nessas mesmas seções. Em
vales abertos com grandes áreas inundáveis, em que o processo de avanço e dissipação
da inundação é mais demorado, verificam-se diferenças sensíveis entre a simulação e a
realidade (Boos, 1988). Estudos em que se fazem correlações entre os resultados de
modelos unidirecionais e bidirecionais, constata-se que, nos primeiros, a onda de cheia
tende a se propagar com maior velocidade e menor amortecimento, o que resulta em um
cenário mais catastrófico do que realmente se verifica (Lança, 2003).

53
A propagação da onda de cheia é regida pelas equações de Saint-Venant, que descrevem
o escoamento gradualmente variado em superfície livre:

∂Q ∂A
+ =q (3.1)
∂x ∂t

1 ∂Q 1 ∂ § Q 2 · ∂y
+ ¨¨ ¸¸ + g − g (S0 − S f ) = 0 (3.2)
A ∂t A ∂x © A ¹ ∂x

sendo:

Q ņ vazão (m3/s)
A ņ área da seção transversal do escoamento (m2)
x ņ distância medida segundo a direção do escoamento (m)
t ņ tempo (s)
g ņ aceleração da gravidade (m/s2)
y ņ profundidade do escoamento (m)
S0 ņ declividade do perfil longitudinal da linha de água (m/m)
Sf ņ declividade da linha de energia

Estas duas equações são, respectivamente, as equações de conservação da massa e de


conservação da quantidade de movimento, em um determinado volume de controle; a
solução do problema é obtida por meio de um esquema implícito, no qual é possível
introduzir condições de fronteira internas que regem o comportamento do escoamento
no vale a jusante da barragem.

O primeiro passo no estudo da onda de cheia deve ser a determinação da geometria da


brecha, induzida por processos de galgamento ou piping. O modelo considera a brecha
como um descarregador de geometria variável, cuja dimensão aumenta em função do
tempo devido à erosão provocada pelo fluxo da água (Lança, 2003).

De acordo com estudos efetuados por Froelich (1987), apud Viseu (1996), o tempo de
ruptura de uma barragem de aterro pode ser expresso pela seguinte relação:

54
0, 5
§V ·
t rup = 0,007¨¨ bar2 ¸¸ (3.3)
© hbar ¹

sendo:

trup ņ tempo de ruptura da barragem


Vbar ņ volume de armazenamento da barragem (m3)
hbar ņ altura da barragem (m)

Com base nos dados da caracterização do vale a jusante, determina-se o coeficiente de


rugosidade de Manning-Strickler para as seções transversais consideradas. De acordo
com Chow (1959), o coeficiente de rugosidade de um canal natural pode ser calculado
pela seguinte expressão:
1
Ks = (3.4)
(n0 + n1 + n2 + n3 + n4 )m5
sendo:
Ks ņ coeficiente de rugosidade de Manning-Strickler;
n0 ņ parâmetro função do material do leito do canal;
n1 ņ parâmetro função do grau de irregularidade do leito;
n2 ņ parâmetro função da variação da secção transversal;
n3 ņ parâmetro função do efeito das obstruções;
n4 ņ parâmetro função da vegetação;
m5 ņ parâmetro função da sinuosidade do vale.

Adicionalmente, para o estudo da onda de cheia associado à ruptura de barragens, faz-se


necessário determinar outros parâmetros tais como: vazão máxima, cota máxima,
velocidade máxima e instante de ocorrência do nível máximo.

3.3.4 – Cadeia de decisão e identificação dos fatores intervenientes

O PAE deve conter um fluxograma que indique a cadeia de decisão para acionamentos
em caso de emergência. Para cada nível de alerta, devem ser listadas todas as pessoas e
autoridades a serem acionadas e os meios de contato mais apropriados, com a definição,
de forma clara e objetiva no documento, do poder de decisão de cada um.

55
Em geral as principais pessoas e autoridades envolvidas no desenvolvimento do PAE
são os operadores da barragem, o dono da obra, as autoridades locais, os órgãos de
segurança pública como a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil e os
órgãos reguladores como o IBAMA, IGAM e ANA, por exemplo.

Dependendo do nível de emergência, um centro de emergências deve ser instalado para


concentrar todas as informações e ser o único responsável pela divulgação oficial de
informações. Viseu e Almeida (2000) citam um exemplo de cadeia de decisão associada
à segurança de barragens e estruturada para três níveis de alerta (Figura 3.1).

Figura 3.1: Cadeia de decisão (modificado de Viseu e Almeida, 2000)

3.3.5 – Detecção e identificação das situações de risco

No contexto de situações de emergência aplicadas a barragens, o processo de detecção e


identificação das situações de perigo faz parte da gestão de riscos. Assim, o PAE deve

56
dispor de diferentes ações para cada nível identificado. Uma vez detectadas com a
devida antecedência, as situações de emergência podem ser avaliadas e as ações
preventivas ou corretivas podem ser tomadas.

A seguir, são discutidas algumas situações que estão diretamente relacionadas à ruptura
de barragens. Para cada um dos cenários de ruptura indicados, o PAE deve apresentar
uma sequência de etapas definidas e características, no sentido de propiciar condições
para o controle e/ou minimização dos impactos decorrentes de situações de emergência.

3.3.5.1 – Percolação excessiva

Problemas relacionados à percolação excessiva e à drenagem interna de barragens de


contenção de rejeitos geralmente ocorrem devido à erosão interna (piping) pelo maciço,
pela fundação ou pelos dispositivos de drenagem interna e de fundação. De acordo com
Vick (1983), a ocorrência destes problemas está normalmente relacionada à colmatação
do dreno de fundo, erosão nos taludes, vazamentos em fissuras ou em juntas de
estruturas de concreto, de galerias ou de tulipas.

Percolação excessiva pode ocorrer em grandes extensões devido a alterações físico-


químicas dos solos e rochas de fundação ou por caminhos preferenciais ao longo de
fraturas horizontais e sub-horizontais nos contatos solo-rocha na fundação ou na região
das ombreiras (Souza et al.,2005).

Uma vez constatada a presença de surgências de água em qualquer ponto a jusante da


barragem de rejeitos, há que se verificar a existência ou não de carreamento de sólidos e
das variações das vazões percoladas com o tempo. O espaço livre resultante do processo
de carreamento das partículas de solo para o exterior do maciço da barragem pelas
forças de percolação assume, em geral, a forma cilíndrica de um tubo, caracterizando o
fenômeno do piping. O processo de erosão interna tende a evoluir rapidamente até o
total colapso da estrutura (Figura 3.2). Assim, a determinação e a implementação de
soluções para controle de percolação pelo maciço tornam-se elementos fundamentais no
comportamento e no controle de estruturas de contenção de rejeitos, principalmente
quando os próprios rejeitos são usados como materiais de construção dos alteamentos
(Bittar, 2006).

57
Figura 3.2: Processo de ruptura da barragem por erosão interna (piping).

3.3.5.2 – Galgamento

Na ocorrência de uma cheia afluente maior que a de projeto ou por problemas oriundos
da falta de manutenção do sistema extravasor da barragem, o nível do reservatório
poderá subir além da cota de borda livre de segurança. Mantendo-se esta elevação do
nível da água, ocorre o galgamento, situação em que a água passa a verter por cima da
crista da barragem, com a consequente ruptura da barragem (Figura 3.3).

Figura 3.3: Processo de ruptura da barragem por galgamento

58
Menescal e Miranda (2002) sugerem que, no momento em que o nível de água do
reservatório atingir trinta centímetros acima da crista da barragem, devem ser adotados
os seguintes procedimentos de emergência:

• Aumentar gradualmente a descarga no vertedor e/ou tomada d’água, se possível;


• notificar as pessoas residentes a jusante sobre o aumento de vazão e aumentar as
vazões em estágios controlados para evitar danos às comunidades a jusante;
• Inspecionar o maciço da barragem procurando por surgências ou percolações
anormais no dreno do pé.
• Verificar o aumento/redução de percolação devido à variação do nível da água;
• Verificar a existência de trincas, abatimentos, zonas de umidade, deslizamentos
ou outros sinais de instabilizações nas áreas próximas às ombreiras ou à crista.

3.3.5.3 – Erosão, abatimento, umedecimento e trincamento

No caso da existência de erosões, abatimentos, zonas de umidades e trincamentos,


estabelecer a localização, dimensões das áreas afetadas, severidade, estimativa das
vazões, turbidez da água de percolação e os níveis de água no reservatório e na região a
jusante.

De posse destes dados, deve ser realizada uma análise de estabilidade e de percolação
para a determinação dos fatores de segurança da barragem, acionando-se os PAE de
acordo com os níveis de alerta determinados. No caso de uma probabilidade real de
ruptura, implementar imediatamente os procedimentos de emergência prescritos para a
respectiva situação.

3.3.5.4 – Escorregamentos

Todo escorregamento na região de montante da barragem, capaz de mobilizar grandes


volumes de material, pode gerar grandes ondas de porte ao longo do reservatório ou no
vertedor. Analogamente, escorregamentos localizados na região de jusante, capazes de
dificultar ou impedir o fluxo normal das águas efluentes, têm também relevância nas
análises de risco da barragem.

59
Nestes casos, as análises devem estabelecer a localização, extensão, causa provável,
impactos na operação, probabilidades de movimentos adicionais na área e a existência
de outras potenciais áreas de escorregamento, devendo o PAE prever o conjunto de
ações efetivas a serem adotadas para a superação destes problemas.

Pinto (2008) cita, como exemplo, a ruptura da barragem de Vajont na Itália em 1963,
devido a um escorregamento de cerca de 240 milhões de m3 do maciço rochoso sobre o
ao reservatório. Esse movimento ocorreu a uma velocidade de 30 m/s, provocando uma
enorme onda que atingiu uma altura estimada em 99 m, acima da crista da barragem.

3.3.5.5 – Eventos sísmicos

Na hipótese de ocorrer um tremor de terra nas proximidades da barragem, deve ser


efetuada uma inspeção visual no maciço e nas estruturas complementares, a fim de se
detectar possíveis danos. Em caso positivo, será analisada a extensão do problema e de
suas possíveis consequências para a segurança da barragem. Estas análises incluem a
inspeção detalhada do maciço da barragem em busca de trincas, recalques, infiltrações,
deslocamentos, aumentos de percolação com alguma turbidez ou presença de lama, etc.

No caso de barragens de contenção de rejeitos que utilizam os próprios rejeitos como


materiais de construção dos alteamentos do maciço, os abalos sísmicos podem induzir a
ruptura por liquefação (Pereira, 2005). Este evento crítico pode ser também induzido em
várias outras situações, como no caso de solicitações dinâmicas impostas por operações
de desmonte de rochas, tráfego de pavimentos ferroviários, vibrações provenientes de
equipamentos de terraplenagem, etc. Nestes casos, esta condição deve ser analisada na
fase de projeto, com ênfase maior caso a barragem de rejeitos esteja localizada em uma
região sismicamente ativa.

3.3.5.6 – Descargas súbitas de água

Descargas súbitas de água, planejadas ou impostas por situações atípicas, pelo vertedor
ou pelos dispositivos de tomada d’água, devem ser objeto de prévia comunicação às
comunidades situadas a jusante da barragem e também aos órgãos de segurança pública
e agências reguladoras.

60
3.3.5.7 – Leituras anormais da instrumentação

Depois de estabelecido o regime de operação normal da barragem, as vazões percoladas


devem ser correlacionadas ao fluxo previsto em projeto, e reavaliados os níveis de alerta
quanto à estabilidade do maciço. Para efetivação dos níveis de alerta, devem ser aferidas
também as cotas de instalação dos marcos superficiais e demais instrumentos instalados.

Depois da fase de calibração de toda a instrumentação instalada, devem ser realizadas


leituras periódicas, para se caracterizar a evolução dos registros com a fase operacional
da barragem. Caso a leitura se mostre anormal ou inesperada, o engenheiro responsável
pela operação deve verificar possíveis alterações do nível de água no reservatório,
variações bruscas das condições climáticas e quaisquer eventos atípicos na área de
influência do empreendimento. Caso a leitura anômala seja confirmada, procede-se a
uma retroanálise para verificar as possíveis causas do problema e é acionado o PAE,
conforme os níveis de alerta exigidos para a situação.

3.3.6 – Tomadas de decisão

O PAE deve conter procedimentos claros quanto à adoção de ações, uma vez
identificada uma emergência em potencial. A notificação da situação de emergência
requer que a pessoa responsável pelo contato inicie a ação corretiva e decida, se e
quando, uma emergência deve ser declarada e o PAE executado. Orientações claras
devem ser fornecidas no PAE sobre as condições de declaração de uma emergência.

As listas de notificação da cadeia de decisão e identificação dos intervenientes devem


constituir um anexo do plano e serem de livre acesso a todos os envolvidos na operação
da barragem. Lima et al. (2008) ressaltam que nenhum alerta deve ser declarado de
forma prematura e/ou inexata, para se evitar situações desnecessárias de pânico.

Por outro lado a tomada de decisões deve acontecer o mais breve possível, de forma a
maximizar o tempo disponível para a notificação e avisos. A lista de notificação do PAE
deve conter uma relação das construções a jusante, contatos dos órgãos públicos de
segurança (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil), contatos das agências
reguladoras e dos institutos de proteção ao meio ambiente.

61
3.3.7 – Definição do sistema de alerta e notificação dos principais responsáveis

O plano deve ser materializado em um único documento, que deve conter um conjunto
de ações para cada nível de emergência. A definição no número de níveis de emergência
e a organização do plano, para cada sistema geotécnico, dependem das exigências do
proprietário, do operador e das autoridades legais envolvidas. Um PAE pode incorporar
os seguintes níveis de alerta (BUREC, 1998):

• Alerta interno ou de prevenção especial: previsão de ocorrência de condições


atmosféricas adversas ou de um evento perigoso para a barragem ou ainda por
detecção de uma anomalia na mesma (resultado de inspeção ou dos dados de
monitoramento); apesar de uma possível convicção de que a situação possa ser
superada sem qualquer tipo de consequência a jusante, impõe-se a tomada de
medidas no sentido de corrigir ou anular a anomalia; o engenheiro responsável
pela obra deve notificar o responsável pelo empreendimento.

• Alerta 1 ou de vigilância permanente ou de prevenção rigorosa: persiste a


ameaça ou a anomalia; continua a existir a convicção de ser possível controlar a
situação, mas já se admitem eventuais efeitos a jusante (descargas imprevistas);
o engenheiro responsável pela barragem deve notificar o responsável pelo
empreendimento e as autoridades civis nos municípios a jusante.

• Alerta 2 ou de iminência de acidente ou de alerta geral: situação envolvendo


uma elevada probabilidade de acidente, em que se admite não ser mais possível
controlar a situação; o engenheiro responsável pela obra deve notificar o
responsável pelo empreendimento, as autoridades civis e, quando previsto, a
população existente na zona próxima do vale para se colocar em estado de alerta
e preparação.

• Alerta 3 ou de evacuação (catástrofe inevitável): na hipótese de uma ruptura


iminente ou potencialmente previsível, há que se proceder a notificações ao
responsável pelo empreendimento e às autoridades civis e, adicionalmente,
emitir avisos de rápida evacuação às populações existentes nas regiões a jusante
do vale e mais próximas da barragem.

62
3.3.8 – Aprovação, distribuição e atualização do PAE

O PAE deve ser um instrumento público, formalmente aprovado e continuamente


atualizado, comportando, portanto, algumas premissas gerais (COGERH, 2008):

• As pessoas que revisam e contribuem com os procedimentos de notificação, tais


como proprietário da barragem, operador da barragem, Defesa Civil e outros
devem assinar o documento;
• Uma cópia completa do PAE deve estar disponível para todos os operadores,
pessoal de operação emergencial, defesa civil e autoridades locais, e a sua
localização deve ser registrada para a troca quando de sua atualização;
• A atualização de informações do PAE (mudanças de pessoal, endereços,
telefones, etc) deve ser feita anualmente e/ou no caso de alterações importantes.

3.4 – SISTEMAS DE APOIO A EMERGÊNCIAS

Um sistema de apoio a emergências constitui um processo automatizado de medição e


cruzamento dos dados da instrumentação de uma barragem com registros de medição do
ambiente climatológico. Sistemas deste tipo constituem uma importante ferramenta de
ajuda aos responsáveis pela operação de barragens como auxílio na tomada de decisões.

De acordo com Santos et al. (1996), um sistema de apoio a emergências deve conjugar,
de forma eficaz, o acesso a equipamentos de medição e observação da barragem e a
outras informações genéricas de caracterização fisiográfica e sócio-econômica da bacia
hidrográfica, sobretudo do vale e da área de influência da barragem.

Os sistemas devem conter modelos de previsão climatológica, hidrológica e hidráulica


capazes de prever, com alguma antecedência, a velocidade e a energia da onda de
inundação, bem como as áreas inundáveis na eventualidade de uma ruptura. Assim, um
sistema de apoio a emergências deve ser desenvolvido de modo a orientar os
responsáveis pela tomada de decisão a por em prática as ações previstas no PAE para
cada nível de alerta. A Figura 3.4 apresenta um exemplo de estrutura de um sistema de
apoio a emergências, desenvolvido em Portugal e constituído por três sub-sistemas
distintos (Gamboa et al.,1996).

63
Figura 3.4: Estrutura do sistema DamSupport (Gamboa et al., 1996)

3.5 – MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS

Em situações de emergência, verifica-se, normalmente, a indisponibilidade de pessoal


para implementação das ações necessárias ou falta de pessoal capacitado, decisões
precipitadas e erradas motivadas pelo cenário de tensão, dificuldades de comunicação e
falta de energia elétrica.

No que diz respeito aos recursos humanos, propõe-se a adoção das seguintes medidas
(Viseu e Martins, 1997):

• Assegurar a permanência de pessoal na barragem em ocasiões potenciais de


acidentes graves (cheias excepcionais ou comportamento anormal da barragem);
o pessoal deve permanecer em local seguro, com visão do talude de jusante, para
observação do mesmo durante a situação de emergência, e dotado dos meios de
comunicação adequados para acionamento e cumprimento do PAE;

• Treinar todo o pessoal envolvido, através de exercícios e simulações, para atuar


com o sistema de comunicações e agir nas diferentes situações possíveis
(comandos locais e à distância, fontes alternativas de energia, manobra manual
de dispositivos automáticos, etc).

64
Para a hipótese de falha no fornecimento de energia, o PAE deve apresentar alternativas
para alimentação dos equipamentos a serem utilizados durante a emergência e também
do sistema de comunicação. O emprego de grupos geradores apresenta-se como a
melhor alternativa. O plano deve ainda possuir uma relação, nome e telefone, de
possíveis fornecedores de materiais de construção e equipamentos de terraplenagem que
eventualmente sejam necessários de mobilização imediata, visando reduzir ou mesmo
contornar a situação de emergência em questão.

65
CAPÍTULO 4

4 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA


DE PEDRA/CSN

4.1 – MINERAÇÃO CASA DE PEDRA

A Mineração Casa de Pedra, localizada no município de Congonhas, aproximadamente


a 70 km de Belo Horizonte, teve início de operação em 1913 pela empresa A-thun até
1941, sendo, então, incorporada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Desde
1970, a cada década, a Mineração Casa de Pedra tem passado por sucessivos processos
de expansão da sua capacidade de produção de minério de ferro. Em 2009, será
concluído o maior projeto de sua expansão, sendo a capacidade instalada de produção
da empresa elevada de 16 para 40 milhões de toneladas por ano (MTPA).

As reservas minerais da Mineração Casa de Pedra são expressivas, com alto teor de
pureza, de até 68%, pelo que a mina possui classificação do tipo WCM (world class
mine). Os processos de extração e tratamento resultam em produtos de diferentes faixas
granulométricas (Tabela 4.1), destinados à Usina Presidente Vargas (Volta Redonda/RJ)
e a vários outros clientes nacionais e internacionais.

Tabela 4.1: Faixas granulométricas dos produtos da Mineração Casa de Pedra/CSN


Produto Granulometria
Granulado (lump ore) 6,35 a 50,0 mm
Granulado guseiro
6,35 a 12,5 mm
(Hematitinha)
Finos (sinter feed) 0,15 a 6,35 mm
Super finos (pellet feed) < 0,15 mm

A lavra é feita a céu aberto, nas frentes denominadas Corpo Principal, Corpo Norte e
Corpo Oeste e as fases de tratamento industrial, com capacidade instalada de produção
de 40MTPA, compreendem britagem, peneiramento, homogeneização, classificação,
concentração e filtragem (Figura 4.1).

66
Figura 4.1: Fluxograma da planta de beneficiamento da CSN – 40MTPA (CSN, 2009)

67
Os rejeitos gerados no processo são provenientes das etapas de classificação,
concentração (fração grossa) e filtragem (fração fina). O descarte da fração grossa do
rejeito acontece em dois momentos no processo, sendo o primeiro na planta de
ciclonagem, que realiza a deslamagem do minério através de linhas de ciclones. O
overflow de cada linha de ciclone alimenta o espessador de rejeitos, cuja função é
recuperar a água de processo, enviando a lama final para o sistema de contenção de
rejeitos. O segundo descarte da fração grossa do rejeito acontece na planta de
concentração, durante a etapa de flotação, que recebe o underflow da etapa de
ciclonagem.

O descarte da fração fina do rejeito acontece na última etapa do processo que realiza a
filtragem do overflow da etapa de flotação através de filtros de disco a vácuo. A Tabela
4.2 apresenta os resultados de distribuição granulométrica, obtidos para uma amostra de
rejeitos coletada na Barragem B6 do empreendimento (Osorio, 2005).

Tabela 4.2: Parâmetros granulométricos de amostras de rejeito da Barragem B6


(Osorio, 2005)
D10 D50 D90
Origem/características
(mm) (µm) (mm) (µm) (mm) (µm)
Fração fina 0,0008 0,84 0,004 4,34 0,014 14,52
Fração grossa 0,021 20,72 0,071 71,54 0,152 152,59

As Tabelas 4.3 e 4.4 apresentam alguns resultados de massas específicas secas (ou
pesos específicos secos) e de índices de vazios limites, realizados em amostras coletadas
na praia de rejeitos da citada barragem B6 (Geolabor, 2005) e em furos de sondagens
executados em praia de rejeitos de aterro hidráulico experimental da CSN (UFV, 2005),
respectivamente.

Tabela 4.3: Massas específicas secas e índices de vazios limites de amostras de rejeitos,
coletadas na praia da Barragem B6 (Geolabor, 2005)
Massa específica Massa específica
Índice de vazios Índice de vazios
Amostra seca máxima seca mínima
3 3 máximo Mínimo
(g/cm ) (g/cm )
Rejeito da
1,09 0,68 3,16 1,03
barragem B6

68
Tabela 4.4: Resultados de ensaios para determinação de pesos específicos dos sólidos e
índices de vazios obtidos no aterro experimental da CSN (UFV, 2005)
Peso Peso
Peso
específico específico Índice de Índice
específico
Amostra dos seco vazios de vazios
seco máximo
sólidos mínimo máximo mínimo
(kN/m3)
(kN/m3) (kN/m3)
AEAM1 38,96 18,08 24,43 1,15 0,59
AEAM2 37,06 17,86 24,26 1,07 0,53
AEAM3 37,83 17,77 23,89 1,13 0,58
AEAM4 40,64 18,38 24,53 1,21 0,66
AEAM5 35,17 16,37 21,81 1,15 0,61

Considerando o teor da jazida e a recuperação de 81,3% em massa, a expectativa de


geração anual de rejeitos, no processo de beneficiamento da Mineração Casa de Pedra
para uma produção 40MTPA de produtos, será da ordem de 3x106m3.

4.2 – SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DA MINERAÇÃO CASA DE


PEDRA/CSN

As atividades de beneficiamento, na maioria das vezes, são realizadas de forma a


favorecer o descarte de rejeitos úmidos, cujo meio de transporte mais prático e
econômico é por via hidráulica. Nesta conjuntura de interesses, estabelece-se uma
matriz operacional da mina, na qual os sistemas de disposição de rejeitos devem estar
harmonicamente inseridos e atender pré-requisitos bem estruturados, tais como:
distância reduzida da planta industrial, utilização de cavas exauridas, eficiência do
processo de recirculação de água no complexo, etc (Gomes, 2005).

Na Mineração Casa de Pedra, os rejeitos gerados no processo de beneficiamento de


minério de ferro são dispostos em quatro barragens de pequeno e médio porte
(designadas como B3, B4, B5 e B6) e também em uma barragem de grande porte (que
constitui a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra). Todas estas estruturas de contenção de
rejeitos foram construídas a jusante da planta e ao longo do córrego de mesmo nome. O
transporte e descarte dos rejeitos nas barragens são realizados por gravidade através de
duas linhas de dutos. A Figura 4.2 apresenta o arranjo geral das barragens que
constituem o sistema atual de disposição de rejeitos da Mineração Casa de Pedra /CSN
(a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra encontra-se em processo de construção).

69
Figura 4.2: Arranjo do sistema de disposição atual de rejeitos da Mineração Casa de
Pedra (CSN,2009)

A disposição dos rejeitos nas barragens B3, B4, B5 e B6 é executada basicamente pelo
lançamento direto da polpa ao longo do leito do córrego Casa de Pedra, a montante dos
respectivos reservatórios; na barragem Casa de Pedra, a forma de disposição se dá por
aterro hidráulico, com espigotamento da fração grossa do rejeito a partir da crista da
barragem e lançamento hidráulico da fração fina a montante do lago. Estas estruturas
são descritas resumidamente a seguir.

4.2.1 – Barragem B3

A Barragem B3 foi projetada pela Leme Engenharia em 1979 e construída entre 1980 e
1981. O dique de partida possui 20,0m na seção de maior altura, com crista na El.
892,0m, tendo sido construído em cinco etapas, cada etapa com altura máxima de
quatro metros, estratégia de construção adotada para permitir melhor consolidação dos
materiais de fundação.

O dique de partida da Barragem B3 foi alteado para montante até a El. 897,0m em 1990
e até a El. 900,0m em 1992. Como material de construção do maciço da barragem, foi

70
utilizado argila, silte e o próprio rejeito arenoso disposto no reservatório, que apresenta
características adequadas para este propósito. A barragem apresenta o talude de
montante com inclinação de 1V: 2H, o talude de jusante com inclinação 1V:1,75H e
área alagada de aproximadamente 3,2x104m2.

O sistema de drenagem interna do barramento é composto por filtro, chaminé e tapete


drenante no dique de partida. Os alteamentos possuem filtro vertical e camada drenante
localizada junto ao contato do talude de montante com o rejeito. O vertedor, construído
em concreto armado, é composto por um poço de seção retangular, canal de adução e
escada de dissipação, sendo o conjunto interligado a uma galeria que emerge a jusante
em canal de concreto. O poço de entrada d’água possui uma estrutura de aço que eleva o
nível d’água de entrada em 0,50m, para controlar a entrada de sedimentos. Os taludes
são protegidos por cobertura vegetal e canaletas de drenagem superficial (Figura 4.3).

Figura 4.3: Vista de jusante da Barragem B3 (CSN, 2006)

4.2.2 – Barragem B4

A barragem B4 foi construída em 1987, possui 54,0m na seção de maior altura e 272m
de comprimento de crista. É constituída por um dique de partida de 41,0m de altura e
um maciço composto por uma seção zonada de aterro compactado e dois alteamentos
complementares, totalizando 9,0 m e implantados em 1991 e 1993. O dique de partida
possui filtro inclinado em chaminé e um dreno horizontal elevado acima do nível da
fundação. Os alteamentos a montante possuem drenos de base que descarregam sobre a
crista do dique de partida para jusante, não sendo conectados ao filtro vertical do dique
de partida, o que implica em uma elevada linha freática no talude de jusante.

71
A barragem está instrumentada com 6 piezômetros e 3 medidores de NA. O vertedor,
localizado na crista da barragem, sob a estrada de acesso a Mineração Casa de Pedra,
consiste de 5 tubos de concreto que descarregam em um trecho curto de canal revestido
de concreto, ligado a um poço de queda do vertedor (dispositivo similar ao da barragem
B3). Este sistema é complementado por uma galeria horizontal na elevação da crista do
dique de partida, que lança o fluxo em um canal em degraus, aberto ao longo da encosta
da ombreira esquerda, até a restituição do fluxo a jusante. Os taludes encontram-se
protegidos por vegetação e com canaletas de drenagem superficial (Figura 4.4). A área
alagada é de aproximadamente 5,4x105m2.

Figura 4.4: Vista de jusante da Barragem B4 (CSN, 2009)


4.2.3 – Barragem B5

A Barragem B5, construída em 1993, possui altura de 32m e comprimento de crista de


455m e está situada a montante da barragem B6, em vale adjacente ao da barragem B4.
Dados de projeto indicam a remoção dos aluviões na área da fundação; entretanto,
estudos recentes indicam divergências quanto à escavação do terreno de fundação
(Figueiredo, 2007).

De acordo com levantamento de campo (DAM, 2002), a barragem possui uma seção
zonada com uma porção central de material siltoso e camada selante em solo argiloso
nos taludes de montante e jusante. O sistema de drenagem interna constitui-se de um
filtro em chaminé e um tapete drenante de material grosso. O barramento possui duas
seções instrumentadas com 6 piezômetros e 3 medidores de NA. O vertedor da
barragem B4 é constituído de uma caixa de concreto conectada a uma galeria que

72
desemboca em um canal vertente. Os taludes encontram-se protegidos por vegetação e
com canaletas de drenagem superficial (Figura 4.5). A área alagada é de
aproximadamente 3,7x105m2.

Figura 4.5: Vista de jusante da Barragem B5 (CSN, 2009)


É importante destacar que atualmente não são depositados rejeitos nas barragens B4 e
B5; os rejeitos depositados nestas barragens possuem alto teor de minério de ferro e,
desta forma, a Mineração Casa de Pedra pretende efetuar o reprocessamento destes
resíduos até 2010, mediante a implantação de uma usina de concentração magnética.

4.2.4 – Barragem B6

A barragem B6, com altura atual de 23m na seção de maior altura e comprimento de
crista de 320m, foi construída sobre rejeitos do reservatório da barragem B3. O dique de
partida foi projetado com taludes suaves de 1V: 3H de montante e 1V:5H a jusante com
bermas. Sobre a superfície de fundação, foi lançada uma camada de rejeito grosso da
barragem B2, para prover uma plataforma de trabalho para lançamento de uma camada
drenante. A barragem tem seção homogênea construída com xisto alterado e foi alteada
em 4m para jusante, atingindo a altura atual de 23m, correspondente à El. 916,0m.

A barragem possui sistema de drenagem interna com dreno sanduíche, filtro em


chaminé e tapete drenante. Dois piezômetros e dois medidores de NA instalados no
maciço da barragem indicam uma baixa posição da linha freática, a jusante do filtro em
chaminé. O vertedor é constituído por uma estrutura em canal lateral, situado na
ombreira esquerda, revestido em concreto. Os taludes encontram-se protegidos por
vegetação e com canaletas de drenagem superficial (Figura 4.6). A área alagada é de
aproximadamente 9,3x105m2.

73
Figura 4.6: Vista de jusante da Barragem B6 (CSN, 2009)
Em função de atrasos na obra da Barragem Casa de Pedra e a proximidade do
esgotamento da capacidade de disposição de rejeitos na barragem B6, foi executado em
um alteamento em 2007 constituído por um muro de concreto de 1,80m de altura ao
longo da crista da barragem, com a finalidade de prolongar a vida útil da barragem até a
conclusão do novo sistema de disposição.

4.3 – BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS CASA DE PEDRA

Em 2003, a Mineração Casa de Pedra iniciou estudos para ampliação de sua capacidade
de disposição de rejeitos, uma vez que o sistema existente encontrava-se em fim de vida
útil. DAM (2003), Pimenta Ávila (2004), Golder (2006) e Figueiredo (2007) realizaram
diversos estudos no sentido de otimizar a disposição dos rejeitos do processo de
beneficiamento; entre as opções estudadas, destacam-se as seguintes:

• Disposição em polpa convencional em nova barragem de aterro compactado;


• Disposição de rejeitos em polpa espessada não segregada;
• Disposição de rejeitos em pasta;
• Disposição de rejeitos filtrados;
• Co-disposição de rejeitos de polpa espessada e estéril;
• Barragem de areia ciclonada com underflow;
• Overflow espessado co-disposto com estéril.

A opção adotada pela CSN, baseado em critérios técnicos, viabilidade econômica e,


principalmente, na maior vida útil do reservatório, foi a de construção da Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra.

74
Definido o sistema de contenção, foram realizados os seguintes levantamentos para a
escolha do local e para definição da geometria do maciço da barragem (Santos e Sousa,
2008), que resultaram em duas propostas de locação (Figura 4.7).

• plantas cartográficas e topográficas das áreas da mineração, constando toda a


infra-estrutura existente e prevista para a área;
• mapa geológico;
• localização planialtimétrica da planta industrial;
• capacidade de armazenamento da barragem e condições de acesso;
• dimensões da bacia hidrográfica e do reservatório previsto;
• condições hídricas e de cobertura vegetal do local de implantação da barragem;
• impactos sobre as áreas a jusante.

Figura 4.7: Locação das opções de construção da BCP (CSN, 2009)

Baseado em fatores econômicos, na maior relação entre volume do reservatório e


volume do aterro da barragem, menor interferência do reservatório com propriedades
(desapropriações) e, principalmente, na utilização potencial de materiais alternativos
proveniente das escavações das próprias estruturas auxiliares da barragem, vertedor e

75
canais de desvio, para a construção do maciço da barragem, a opção 1 foi a adotada para
a construção do novo sistema de contenção de rejeitos da Mineração Casa de Pedra.

4.3.1 – Geologia e geotecnia local

Na área prevista para a implantação da barragem (Opção 1 anterior), foi realizada uma
campanha de sondagens SPT e rotativas para mapeamento geológico-geotécnico de
campo, com a finalidade de definir os tipos litológicos existentes na região e seus
estados de decomposição, bem como caracterizar os solos de cobertura e definir as áreas
de empréstimo para a construção da barragem. A Figura 4.8 apresenta o mapa geológico
do local de implantação da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra e das áreas de
empréstimo.

Figura 4.8: Mapa geológico do local de implantação da BCP e áreas de empréstimo


(CSN, 2009)

A geologia da área da barragem Casa de Pedra, da área de empréstimo e da área do


reservatório, apresenta-se dominada por xistos e filitos do Grupo Nova Lima, Super
Grupo Rio das Velhas de idade Pré-Cambriana. Sua foliação ou xistosidade tem direção
70°N - 80°W, com mergulhos que variam entre 50° e 75° SW.

76
O perfil litológico do local é representado por uma sucessão de xistos e filitos, com
grande variação do ponto de vista petrográfico, mas aparentemente isenta de leitos de
dolomitos ou quartzitos que ocorrem no Grupo Nova Lima (CSN, 2009). Os materiais
presentes na fundação da Barragem Casa de Pedra são constituídos pelos xistos Nova
Lima decompostos, compostos por solos residuais e saprolíticos silto-argilosos e por
colúvios argilo-siltosos e argilo-arenosos de espessuras variadas.

Ensaios de permeabilidade indicaram baixa condutibilidade hidráulica destes materiais,


da ordem de 1x10-6 cm/s para o colúvio argiloso e entre 5x10–5 e 4x10-4 cm/s para o solo
residual. Apenas no furo SP 12-A, ocorreram valores de permeabilidade elevados, com
vários trechos apresentando vazão superior à capacidade da bomba (k> 10-2 cm/s). O
solo saprolítico, mais resistente, apresentou permeabilidade da ordem de 2x10-5 cm/s.

A Tabela 4.5 apresenta os resultados dos ensaios de caracterização geotécnica e a


Tabela 4.6 mostra os resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento, realizados
em amostras dos solos de fundação.

Tabela 4.5: Resultados de ensaios de caracterização geotécnica


(amostras dos solos de fundação)
Poço / PI – 03 PI – 02 PI – 01
profundidade
3,50 – 3,80 3,00 – 3,30 0,70 – 1,00 4,30 – 4,60
(m)
w (%) 22,2 23,5 23,5 21,7
Argila 4 56 26 4
Granulometria

Silte 80 21 55 72
Fina 15 10 9 13
(%)
Areia

Média 1 5 4 4
Grossa - 4 2 1
Pedregulho - 4 4 6
LL (%) NP 56,2 46,2 NP
LP (%) NP 35,3 34,7 NP
IP (%) NP 20,9 11,5 NP
ȡs (g/cm3) 3,013 2,980 2,991 2,891
Ȗ (g/cm3) 1,358 1,624 1,426 1,314
k (cm/s) 3,09 x10-4 1,95 x10-8 4,02 x10-4 2,32 x10-5
Silte areno
Silte areno Argila silto arenosa Silte argilo
argiloso com
argiloso, com pedregulhos, arenoso com
Descrição pedregulhos,
marrom marrom pedregulhos,
marrom
arroxeado avermelhado marrom
arroxeado

77
Tabela 4.6: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento
(ensaios triaxiais Rsat com medidas de poropressões).
Parâmetros
Profundidade Classificação Ȗ
Poço c’ φ’
(m) (USCS) (KN/m3)
(kPa) (o )
0,70 - 1,00 ML 17,16 25 29
PI-01 Possivelmente
4,30 - 4,60 15,11 35 28
ML
PI-02 3,00 - 3,30 MH 16,68 20 33
Possivelmente
PI-03 3,5 - 3,80 16,50 57 23
ML

Na ombreira esquerda, os materiais presentes são constituídos por capas coluvionares


silto-arenosas de baixa espessura, menores que 1m e colúvios argilo-siltosos com
espessuras maiores que 1m. Da mesma forma, na ombreira direita, ocorrem solos
coluvionares, com espessuras estimadas da ordem de 2m, constituídos por argilas
arenosas e argilas siltosas; abaixo dos colúvios, ocorrem solos residuais argilosos e
solos saprolíticos silto-argilosos.

Nas áreas de empréstimo, foram realizadas sondagens a trado e coletadas amostras


deformadas e indeformadas para a realização de ensaios de caracterização, triaxiais e
ensaios especiais (liquefação, adensamento, etc.). Os resultados estão apresentados na
Tabela 4.7.

Tabela 4.7: Resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento


Granulometria Compactação
Classificação ȡs
predominante Argila Silte Areia Ped wot
(g/cm3)
Ȗdmáx
(%) (%) (%) (%) (kN/m3) (%)
Silte areno Máximo 20 82 30 9 16,42 27,0 3,020
argiloso com Médio 11 67 19 3 15,49 23,4 2,914
poucos
pedregulhos Mínimo 6 54 8 0 14,60 18,7 2,805
Argila silto Máximo 51 41 48 9 16,20 28,0 2,982
arenosa com Médio 40 27 28 5 15,69 24,8 2,904
poucos
pedregulhos Mínimo 34 16 16 2 15,20 20,8 2,778
Argila silto Máximo 30 50 18 58 18,64 26,0 3,076
pedregulho Médio 20 33 16 30 16,75 21,2 2,988
arenosa Mínimo 13 13 14 11 15,16 17,8 2,944

78
Os relatórios das sondagens indicam um comportamento gradacional dos saprolitos,
ressaltando a xistosidade bem marcada em solos de granulometria essencialmente
siltosa e de cores bastante variadas. As diferentes cores são acompanhadas por
diferenças nas composições minerais e, consequentemente, nas características físicas
dos solos encontrados. Estudos estatísticos de cubagem, realizados nas áreas definidas
como jazidas de empréstimo, indicaram um volume aproximado de 5,0x105m3 de argila,
aluvião e colúvio e 2,5x106 m3 de siltes argilosos de origem residual (Santos e Sousa,
2008).

4.3.2 – Hidrologia local

O clima da região é do tipo mesotérmico úmido [Cwbl], segundo a classificação de


Koeppen. A Tabela 4.8 apresenta as principais médias meteorológicas da área em
termos anuais.

Tabela 4.8: Médias meteorológicas anuais (DAM, 2003)


Precipitação média anual 1.554 mm
Temperatura média anual 18º C
Temperatura mínima média anual 14º C
Temperatura máxima média anual 25º C
Umidade relativa média anual 76,2%

A climatologia da região, devido à sua posição geográfica, está sob influência de massas
polares e de outros sistemas atmosféricos derivados de frentes. No período de verão,
atuam a Massa Equatorial Continental e a Massa Tropical Atlântica, sendo que a
primeira é responsável pelas chuvas desta época, devido à sua grande umidade e
instabilidade. No inverno, as incursões da Massa Polar Atlântica são responsáveis por
quedas bruscas de temperatura. Tem-se, assim, a presença bem definida de duas
estações: o inverno, correspondendo ao período seco e mais frio e o verão
correspondendo ao período chuvoso e mais quente (DAM, 2003).

As estações correspondentes ao outono e primavera não são bem caracterizadas pela sua
posição intertropical. De acordo com o DNMET, as normais de temperatura apontam
uma média anual de 18º C, ocorrendo temperaturas mais baixas nos meses de maio a
agosto e mais altas nos meses de outubro a março.

79
O regime pluviométrico desta área é tipicamente tropical, apresentando uma média
anual de 1.554 mm. O período chuvoso ocorre nos meses de outubro a março,
destacando-se o mês de janeiro como o de maior índice (média de 315 mm) e o período
seco de abril a setembro como o de menor índice (média de 11 mm no mês de junho).
No semestre mais quente, outubro a março, ocorre cerca de 84% da média anual de
pluviosidade.

Por outro lado, a forte radiação solar incidente sobre a região, a qual se encontra
regularmente distribuída ao longo do ano, devido à posição latitudinal da bacia,
proporciona níveis consideráveis de evapotranspiração, que atinge o valor anual de até
840 mm A Tabela 4.9 apresenta as médias mensais e anuais registradas pela área de
hidrogeologia da Mineração Casa de Pedra (CSN, 2009).

Tabela 4.9: Médias mensais e anuais da região da Mineração Casa de Pedra


(CSN, 2009)
Evapotrans-
Temperatura Temperatura Temperatura Umidade
piração Precipitação
Mês média mínima máxima relativa
potencial total (mm)
(ºC) (ºC) média (ºC) média (%)
(mm)
Jan 20,0 17,0 28,0 88,0 90 315
Fev 21,5 17,0 28,0 77,5 90 194
Mar 20,0 18,0 27,0 80,0 80 184
Abr 18,0 13,0 24,0 77,5 70 76
Mai 16,0 14,0 24,0 77,5 60 42
Jun 15,0 9,0 24,0 75,0 40 11
Jul 14,0 10,0 22,0 75,0 40 24
Ago 16,0 10,0 25,0 70,0 50 27
Set 19,0 14,0 26,0 70,0 70 74
Out 18,0 15,5 26,0 75,0 80 116
Nov 19,0 16,0 25,0 77,5 80 221
Dez 20,0 17,0 26,0 80,0 90 270
Anual 18,0 14,0 25,0 76,2 840 1554

Na região da barragem, os níveis de umidade atmosférica podem situar um pouco acima


da média apresentada, em função da oferta de vapor d'água à atmosfera pela evaporação
proveniente do lago das barragens de rejeito Casa de Pedras que apresenta área alagada
de aproximadamente 1,7x106m2.

Os ventos predominantes na área têm sua origem no núcleo das altas pressões
subtropicais; apresentam velocidades máximas anuais em torno de 35 km/h, sendo que,
podem ser observadas, eventualmente, velocidades de rajada da ordem de 85 km/h com
duração de alguns minutos, sendo a velocidade média anual da ordem de 10 km/h.

80
4.3.3 – Aspectos construtivos da Barragem Casa de Pedra

O projeto conceitual da barragem, desenvolvido originalmente pela DAM (2003),


previa a utilização da barragem B3 como dique de partida e a construção, em três etapas
construtivas, nas elevações 932,0, 945,0 e 954,0 m, respectivamente.

Estudos posteriores concluíram que a construção da primeira etapa, a jusante da


barragem B3, até a elevação 922,0m e posteriores alteamentos, em uma segunda etapa
construtiva, com crista na elevação 945,0m e, na terceira etapa, na cota 954,0m,
viabilizaria um reservatório com maior capacidade de armazenamento (da ordem de
7,6x107m3 ocupando área aproximada de 374 ha, com o barramento com uma altura
máxima de 90 m. A Figura 4.9 apresenta o arranjo geral da barragem na primeira etapa
construtiva (El. 922,00 m), com capacidade de armazenamento de 2,2x107m3.

Figura 4.9: Arranjo geral da Barragem Casa de Pedra (CSN)

O projeto básico da primeira etapa da barragem Casa de Pedra, na elevação 922,00 m,


foi concebido de modo a permitir o seu alteamento em qualquer uma das duas hipóteses,
empilhamento drenado ou aterro compactado; no primeiro caso, o maciço projetado
funcionará como dique de partida para o empilhamento dos rejeitos.

81
Considerando as características granulométricas da fração grossa do rejeito gerado pela
Mineração Casa de Pedra, Figueiredo (2007) apresentou a possibilidade de disposição
através da técnica de aterro hidráulico. A opção adotada pela CSN é a de lançamento
por espigotamento do rejeito grosso, a partir da crista, para a formação da praia e
lançamento hidráulico da fração fina pelo talvegue natural. A opção por este modelo de
disposição viabilizou a utilização do próprio rejeito segregado como material de
fundação e de construção dos alteamentos a montante, até a elevação 954m, cota final
de projeto.

O início de construção da barragem consistiu no tratamento da fundação com a


supressão da vegetação, gramíneas e arbustos, e com a remoção de um metro da camada
superficial de solo. Além disso, foi removido todo o material mole e inconsistente
encontrado na área de fundação da barragem.

O maciço da barragem foi construído, em sua maior parte, com silte, aproximadamente
80% do material da área de empréstimo, e por argila. As argilas, pelos menores volumes
disponíveis no local, foram empregadas apenas como camadas selantes dos taludes de
montante e de jusante. A inclinação do talude de jusante da barragem é de 1V:2H, com
bermas de 5m de largura a cada 10m de desnível e o talude de montante possui
inclinação de 1V:2,4H. A Figura 4.10 apresenta uma seção típica da Barragem Casa de
Pedra até a cota 922,0m.

Figura 4.10: Seção típica da Barragem Casa de Pedra (Ismar, 2007)

A proteção superficial dos taludes é feita por meio de gramíneas, enquanto, nas bermas,
foi aplicada uma camada de 20cm de laterita compactada. A Figura 4.11 é uma foto do
talude de jusante da barragem.

82
Figura 4.11: Vista do talude de jusante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009)

As análises de estabilidade do maciço da barragem foram realizadas para a seção de


maior altura e para a seção considerada mais crítica das ombreiras. Nas simulações, foi
utilizado o método dos elementos finitos a partir do software SLOPE/W, sob regime
permanente de percolação, sendo obtidos os fatores mínimos de segurança indicados na
Tabela 4.10.

Tabela 4.10: Resultados das análises de estabilidade (Pimenta, 2004)


Seção Condição de carregamento Talude FS
Maior Altura 1,72
Percolação estável (operação) Jusante
Ombreira 1,68

O caso de percolação estável é representativo da condição de operação, na qual o nível


normal do reservatório já tenha se estabelecido por um período de tempo relativamente
longo. Neste caso, admite-se que a percolação tenha se tornado estável e que o
adensamento provocado pelo peso do aterro já tenha ocorrido.

É importante destacar que o lançamento de rejeitos na Barragem de Rejeitos Casa de


Pedra está sendo feito pelo vertedor da barragem B6, devido a atrasos na montagem do
sistema de espigotamento e ao término da vida útil do sistema atual. Desta forma,
verifica-se uma grande preocupação dos operadores da barragem com relação ao nível
da freática no maciço. Ainda não foram realizadas análises de percolação atualizadas,
correlacionando-se os valores da instrumentação com os de projeto, para verificação das
condições reais de segurança, uma vez que o reservatório não atingiu a cota máxima. A
Figura 4.12 apresenta o talude de montante da barragem na fase de enchimento do lago.

83
Figura 4.12: Vista do talude de montante da Barragem Casa de Pedra (CSN, 2009)

4.3.4 – Sistemas de drenagem

O sistema de drenagem interna da barragem é constituído por filtro vertical de areia,


tapete drenante e enrocamento, com um metro de espessura, envelopado com duas
camadas de 50 cm de transição fina e média, com material granular, e dreno de pé com
enrocamento. O filtro vertical encontra-se quatro metros à montante do eixo. Na
elevação 910,00m, foi construído um filtro horizontal que servirá de extensão para o
filtro vertical da segunda etapa.

A drenagem superficial dos taludes da barragem é assegurada por caimento longitudinal


de 1% e caimento transversal de 5% das bermas, formando uma área útil suficiente para
conduzir o fluxo para as ombreiras da barragem. No encontro dos taludes com as
ombreiras, foram executadas descidas d’água a distâncias de 5m do off-set da barragem.
No vertedor, um sistema de drenagem superficial, com canaletas trapezoidais de
concreto, foi implantado no reaterro, ao lado do canal retangular de concreto.

As estruturas hidráulicas de drenagem são formadas por um vertedor livre de concreto,


um canal emissário (Figura 4.13), uma torre de tomada d′água e uma galeria. Um canal
de desvio foi executado na ombreira direita durante a 1ª etapa de construção da
barragem. A torre e a galeria fazem parte do sistema de extravasão e atuam também
como elementos de desvio do curso d’água, durante a fase construtiva e de captação de
água industrial. A Tabela 4.11 apresenta as principais características destes sistemas de
drenagem.

84
Tabela 4.11: Características dos dispositivos de drenagem (Pimenta, 2004)
Item Estrutura Dimensões (m)
Comprimento 550,00
1 Vertedor (seção retangular) Largura 7,40
Altura 5,45
Comprimento 134,00
2 Canal Emissário (seção trapezoidal) Largura 7,40
Altura 4,45
Comprimento 448,31
3 Galeria (tubo de aço) Largura da Bacia 5,00
Diâmetro Nominal do Tubo 1,90
4 Torre (Concreto e aço) Altura 34,00
Comprimento 632,64
5 Canal de Desvio (seção trapezoidal) Largura 4,00
Altura 3,40

Figura 4.13: Vertedor e canal emissário da Barragem de rejeitos Casa de Pedra.

O reservatório deve manter uma borda livre de 2m,com lâmina d’água para clarificação,
à montante do barramento. Esta lâmina d’água será submetida a um rebaixamento
rápido e total, através da torre de tomada d’água, para o caso de um eventual sinal de
alerta indicado pelo sistema de monitoramento da barragem. A torre é construída por
um sistema de comporta e stop-log (Figura 4.14).

4.3.5 - Instrumentação da barragem

O monitoramento da barragem é realizado por inspeções visuais e por instrumentos. O


sistema de instrumentação é constituído por marcos de recalque superficial, piezômetros
tipo Casagrande, piezômetro elétricos tipo corda vibrante, medidores de recalque
elétrico tipo corda vibrante, medidores de vazão e medidores de deformação.

85
Figura 4.14: Desenho esquemático da torre de tomada d'água (CSN, 2009)

A Figura 4.15 apresenta a seção da barragem de maior altura com o layout de instalação
dos instrumentos.

Figura 4.15: Locação da instrumentação na seção de maior altura (CSN, 2009)

86
A Figura 4.16 apresenta o layout de locação das três seções instrumentadas da
Barragem Casa de Pedra e a Tabela 4.12 apresenta a locação de todos os instrumentos
instalados na barragem, sendo utilizada a seguinte terminologia: Marco Superficial
(MS), Piezômetro Casagrande (PC), Piezômetro Elétrico (PE), Medidor de Recalque
Elétrico (MR) e Medidor de Vazão (MV).

Figura 4.16: Layout de locação da instrumentação (CSN, 2009)

Tabela 4.12: Locação da instrumentação na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra


LOCAÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO
DISTANCIA ELEVAÇÃO
INSTRUMENTAÇÃO ESTACA
JUSANTE (m)
MS-01 85+0,00 EIXO 920
PE-01 85+0,00 3,00 915
PC-01 85+0,00 3,00 910
PE-02 85+0,00 21,00 905
PE-03 85+0,00 21,00 900
MS-02 85+5,33 EIXO 920
MS-03 85+5,33 45,00 900
PE-04 85+5,33 3,00 890
PC-02 85+5,33 3,00 885
PE-05 85+5,33 24,00 863
PE-06 85+5,33 24,00 855
PC-03 85+5,33 45,00 865
PE-07 85+5,33 68,00 867

87
PE-08 85+5,33 68,00 851
PC-04 85+5,33 91,00 855
PE-09 85+5,33 114,00 861
PE-10 85+5,33 114,00 854
MR-01 85+5,33 10,00 900
MR-02 85+5,33 24,00 900
MR-03 85+5,33 10,00 880
MR-04 85+5,33 24,00 880
MR-05 85+5,33 57,00 880
MS-04 85+5,33 91,00 880
MS-05 75+0,00 EIXO 920
MV-01 80+0,00 152,00 856
MS-06 75+0,00 45,00 900
MS-07 70+0,00 EIXO 920
PE-11 75+0,00 3,00 904
PE-12 75+0,00 3,00 899
PC-06 75+0,00 24,00 883
PE-13 75+0,00 45,00 883
PE-14 75+0,00 45,00 889
MR-08 75+0,00 13,50 910

88
CAPÍTULO 5

5 – GESTÃO DE RISCOS APLICADA À BARRAGEM DE


REJEITOS CASA DE PEDRA

A implementação de um sistema de gestão de riscos geotécnicos, aplicado à Barragem


de Rejeitos Casa de Pedra, justifica-se pelos riscos potenciais que foram mobilizados à
população e ao meio físico a jusante da barragem, decorrentes de sua construção. Na
elaboração deste sistema, serão utilizadas as metodologias de análise dos modos de
ruptura e seus efeitos (FMEA) e da sua criticidade (FMECA), descritas no Capítulo 2.

No Capítulo 4 deste trabalho, foram descritas as concepções construtivas da Barragem


de Rejeitos Casa de Pedra, com os estudos preliminares indicando uma elevação final
da crista do barramento na cota 954,0 m em sua terceira etapa de construção. Uma vez
que ainda não estão definidas as geometrias correspondentes aos alteamentos para as
etapas 2 e 3 do projeto, as análises estarão limitadas ao domínio atual do
empreendimento, ou seja, crista do barramento na cota 922,0 m.

Como ferramenta auxiliar na tomada de decisão para elaboração do PAE, os resultados


das análises de gestão de riscos serão apresentados na forma da matriz de criticidade
final, sendo que, para calibração destas análises, será utilizado o conceito do Número de
Prioridade de Risco (RPN).

5.1 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA GEOTÉCNICO

A descrição do sistema geotécnico compreende duas etapas fundamentais da


metodologia do FMEA. A identificação e a estruturação das componentes básicas que
constituem o sistema, em subsistemas dispostos de forma hierárquica, e a definição das
funcionalidades ou requisitos de operacionalidade que cada uma delas deve satisfazer
para o normal desempenho do sistema. A Figura 5.1 apresenta a estrutura hierárquica
proposta para o sistema geotécnico da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra.

89
90
Figura 5.1: Estrutura hierárquica do sistema geotécnico da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
Os sistemas principais foram discretizados com, no máximo dois níveis de subsistemas,
de forma que a gestão de riscos englobe todos os possíveis riscos associados ao sistema
principal, sem prejuízos para as análises específicas. A descrição do sistema geotécnico
deve ser feita de modo a identificar e hierarquizar os diversos componentes e/ou
subsistemas capazes de sofrer danos devido a um mau funcionamento estrutural,
hidráulico ou ambiental de qualquer elemento associado à obra. Desta forma, além da
barragem propriamente dita, os estudos devem incorporar também toda a sua zona de
influência, como é o caso da Bacia Hidrográfica e do Vale a Jusante.

Na estrutura de hierarquização definida para o sistema geotécnico da Barragem de


Rejeitos Casa de Pedra (Figura 5.1), cada componente encontra-se identificada com o
respectivo código. Cada componente básica considerada na discretização possui uma
função dentro do sistema (Tabela 5.1). É importante destacar que a definição da
estrutura hierárquica resulta de um processo iterativo que se desenvolveu à medida que
a análise foi progredindo e é passível de frequentes e contínuas revisões.

Tabela 5.1: Descrição da funcionalidade das componentes do sistema

Descrição da componente Funcionalidade

I.1.1 – Taludes Submersos Reter o rejeito e água no reservatório


Reter rejeito, reter água no reservatório e reduzir
I.1.2 – Fundo do lago
a percolação de água
I.2 – Taludes de Corte Captar água para o reservatório

II.1.1 – Sistema de proteção do talude de jusante Maior resistência à erosão superficial

II.1.2 – Talude de jusante Prover estabilidade mecânica à barragem

II.1.3 – Talude de montante Prover estabilidade mecânica à barragem

II.1.4 – Núcleo siltoso Prover estabilidade mecânica à barragem


Baixar o nível da linha freática no maciço da
II.1.5 – Filtro/dreno vertical
barragem
Drenar a fundação e coletar a água do filtro
II.1.6 – Tapete drenante
vertical
Prover estabilidade mecânica e reter água no
II.2.1 – Transição solo compactado solo natural
reservatório
Prover estabilidade mecânica e reter água no
II.3.1 – Zona sob o barramento
reservatório
Garantir a liberação dos excessos d’água
III – Vertedor
acumulados no reservatório
Prover o rebaixamento da água do lago em
IV – Torre de tomada d’água
situações de emergências

91
Os sistemas principais III – Vertedor e IV – Torre de tomada d’água não são
discretizados em subsistemas, assim como o sistema principal V – Vale a jusante, por
não possuírem estrutura geotécnica com interferência direta no maciço da barragem. É
importante destacar que deficiências de projeto ou a falta de manutenção em relação aos
dois primeiros sistemas implica acréscimos potenciais aos riscos associados.

Por outro lado o sistema principal I – Bacia Hidrográfica foi discretizado até o segundo
nível de subsistema, uma vez que possui estruturas geotécnicas com interferência direta
na segurança do maciço da barragem.

5.1.1 – Sistema I – Bacia hidrográfica

A função principal da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra é a de contenção de rejeitos;


entretanto, a estrutura é utilizada também como reservatório para recuperação de água
de processo destinada à planta de beneficiamento de minério. A barragem está locada
no leito de um córrego (de mesmo nome) que apresenta regime intermitente. Assim
contribuições de água para a barragem dependem do regime de chuvas na região e da
fração líquida dos rejeitos.

Como já descrito no Capítulo 4, o regime pluviométrico desta área é tipicamente


tropical, apresentando uma média anual de 1.554mm. O período chuvoso ocorre nos
meses de outubro a março, destacando-se o mês de janeiro com o de maior índice
(315mm) e o período seco, entre abril e setembro, com o de menor índice ocorrendo no
mês de junho (11mm). No semestre mais quente (outubro a março), concentra-se cerca
de 84% da média anual de pluviosidade.

As componentes básicas I.1.1– Taludes Submersos e I.1.2 – Fundo do lago, do sistema


principal I – Bacia hidrográfica da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, foram
consideradas nas análises (associadas como condições de fronteira do sistema), pois
estão situados na área de influência direta da barragem. Vale destacar que não foram
executados quaisquer tratamentos prévios nas áreas abrangidas pelo reservatório da
barragem, visando reduzir perdas de água por percolação, mesmo que os ensaios de
laboratório tenham caracterizado como sendo de magnitude média a permeabilidade dos
solos que compõem estes sistemas.

92
Para efeito das análises de risco, a componente básica I.1.1 – Taludes Submersos foi
considerada como incorporando os taludes submersos no reservatório e o subsistema I.2
– Taludes de Corte, constituído pelos mesmos taludes situados acima do nível da água
do reservatório. Essa distinção deve-se a diferentes modos de ruptura associados a cada
uma das condições de contorno das componentes.

Sendo a área de inundação do reservatório uma das áreas de empréstimo de solo para a
construção do barramento, os taludes de corte (submersos ou não) foram conformados
em uma geometria final na inclinação de 1V:1H.

Nas análises, o subsistema I.2 – Taludes de Corte foi considerado como componente
básica, sem discretização, pois os taludes estão expostos às intempéries sem nenhum
tratamento, cobertura vegetal ou drenagem. A hipótese de deslizamento da encosta para
dentro do reservatório pode ocasionar uma onda que, dependendo de suas proporções,
poderá acarretar o galgamento do maciço da barragem e sua provável ruptura. Um
exemplo clássico deste modelo de colapso ocorreu no caso da ruptura da barragem de
Vajont na Itália em 1963 (Pinto, 2008).

5.1.2 – Sistema II – Barramento

A função principal do barramento é a de reter rejeitos e para que isso ocorra de fato,
impõe-se que as componente básicas II.1.2 – Talude de jusante, II.1.3 – Talude de
montante e II.1.4 – Núcleo siltoso devem cumprir suas funções de imprimir
estabilidade mecânica ao maciço e estanqueidade ao sistema.

O mau funcionamento de qualquer uma das componentes básicas citadas acima, por
questões de considerações de projeto, construção, alterações físico-químicas dos solos
ou mesmo de operação, implica em incremento do risco induzido.

A componente básica II.1.1 – Camada de proteção do talude de jusante tem como


função imprimir resistência à formação de sulcos e erosões, principalmente sob chuvas
diretas ou por concentrações do fluxo superficial. A formação destas feições erosivas
implica em perdas de função e de estabilidade, reduzindo-se, assim, os fatores de
segurança de projeto da estrutura.

93
Na eventualidade de galgamento da barragem, a camada de proteção do talude de
jusante perde totalmente sua função por constituir-se basicamente de vegetação rasteira.
Para reduzir a probabilidade de ocorrência deste cenário, o vertedor da Barragem Casa
de Pedra foi dimensionado para cheias com padrão de recorrência decamilenar (Tr =
10.000 anos).

Simultaneamente, as componentes II.1.5 – Filtro/dreno vertical e II.1.6 – Tapete


drenante devem garantir o rebaixamento da linha freática no interior do maciço e,
portanto, conferir maior estabilidade ao sistema. O dimensionamento, a construção e o
funcionamento destes sistemas de drenagem devem evitar o carreamento de partículas
de solo adjacente e, consequentemente, impedir a mobilização do processo de erosão
interna regressiva (piping).

O subsistema II.2.1 – Ombreiras e a componente básica II.3.1 – Zona sob o barramento


(fundação da barragem) constituem domínios de difícil identificação, pois não é simples
definir a fronteira de separação entre ambos. Para as análises desta dissertação,
adotou-se a proposta apresentada por Santos (2007) na qual a região II.3.1 – Zona sob o
barramento é aquela situada na região da seção de maior altura da barragem e com
terreno natural com maior inclinação e a região II.2 – Ombreiras, o local correspondente
ao de menor declividade. A Figura 5.2 apresenta a fronteira adotada para a Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra.

Apesar desta dificuldade de se estabelecer uma fronteira nítida entre os sistemas e de


ambos possuírem diferentes funções e condições de carregamento, o principal e mais
crítico cenário de ruptura das ombreiras está relacionado à percolação excessiva de água
no contato entre o terreno natural e o solo compactado do maciço de barramento.

Figura 5.2: Fronteira entre as componentes II.2 – Ombreiras e II.3 – Fundação (CSN, 2009).

94
5.1.3 – Sistema III – Vertedor

A componente principal III – Vertedor, que tem como função básica extravasar os
excessos de água acumulados na barragem, foi tratada sem refinamento em
componentes básicas, sem que isso implicasse em prejuízos às análises, uma vez ser tal
abordagem representativa de toda a funcionalidade no sistema e não se ter nenhuma
estrutura geotécnica associada.

O vertedor da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, conforme descrito anteriormente,


foi dimensionado para uma chuva com tempo de recorrência de padrão decamilenar,
equivalente a uma vazão de 295m3/s (DAM, 2003). O canal de tomada d’água do
vertedor foi construído na encosta esquerda da barragem, desenvolvendo-se
perpendicularmente ao maciço da barragem até o talude de jusante, onde tem início a
escada de dissipação de energia (Figura 4.13).

O nível de água (NA) máximo normal do reservatório deve ser mantido na elevação
920,0m, ou seja, com dois metros de borda livre. Desta forma, tal elevação corresponde
ao fundo da seção inicial do vertedor, na qual ocorre o controle das vazões vertidas.

5.1.4 – Sistema IV – Torre de tomada d’água

Assim como a componente principal III – Vertedor, a componente principal IV – Torre


de tomada d'água, foi tratada sem refinamento em componentes básicas. Sua função
principal é a de prover o rebaixamento rápido do nível do reservatório em casos de
emergência.

A torre de tomada d'água, que também pode ser utilizada como vertedor de serviço, é do
tipo torre e galeria (Figura 4.14), com tubulação interna de 1900mm de diâmetro. A
operação da torre é realizada com comporta e "stop-log" para várias aberturas verticais
conforme as necessidades.

Para se garantir o rebaixamento do nível do reservatório em casos de emergência, o


circuito de adução da torre de tomada d’água, operando em carga, foi dimensionado
para uma capacidade mínima equivalente a uma chuva com tempo de recorrência de
dois anos, equivalente a uma vazão de 22,4 m3/s (DAM, 2003).

95
5.1.5 – Sistema V – Vale a jusante

A consideração do sistema principal V – Vale a jusante é relevante, embora não sejam


mobilizados modos de ruptura pelo mesmo, pois é sobre esta área que incidem
diretamente todos os efeitos finais dos modos de ruptura iniciados em componentes de
outros sistemas principais, no caso extremo de uma ruptura da barragem.

O córrego Casa de Pedra, onde a barragem está localizada, deságua no Rio Maranhão
que, por sua vez, é afluente do Rio Paraopeba. Em uma extensão de trinta quilômetros a
jusante da barragem, tem-se a presença de três povoados (pertencentes ao município de
Congonhas/MG) situados às margens do mesmo, o município de Jeceaba/MG e diversas
propriedades rurais. De acordo com dados do IBGE e estimativas do número de
propriedades rurais existentes nas áreas imediatamente a jusante da barragem, a
população nas áreas de risco é da ordem de dez mil pessoas.

O vale a jusante da Barragem Casa de Pedra é bastante sinuoso, de média declividade e


com presença de áreas de armazenamento natural de águas de enchentes. A vegetação é
constituída predominantemente por gramíneas, pequenos arbustos e pequenas reservas
de mata preservada. Nas propriedades rurais, predominam áreas de pastagens e de
lavoura de grãos.

Nas margens dos rios, tem-se também uma ferrovia com quatro pontes de pequeno
comprimento, duas pontes rodoviárias e uma usina hidrelétrica. O Anexo I apresenta um
mapa planialtimétrico da região, com a localização dos núcleos urbanos, estruturas,
indústrias e propriedades rurais.

5.2 – MODOS POTENCIAIS DE RUPTURA E SUAS CAUSAS

Conforme exposto no Capítulo 2, a expressão ‘modo de ruptura’ não implica


necessariamente o colapso total da estrutura; desta forma, os modos de ruptura definidos
para a gestão de riscos da Barragem de Rejeito Casa de Pedra (Tabela 5.2) devem
atender a possível perda de funcionalidade das componentes básicas e do sistema
principal durante a vida útil do reservatório e implicar em consequências ao sistema
com graus de severidade não desprezíveis.

96
Tabela 5.2: Modos de ruptura e suas causas
Componente Modos de Ruptura (MR) Causas
Alteração físico-química dos solos
I.1.1(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a grandes
distâncias
Presença de formações permeáveis a grandes
I.1.1 – Taludes
distâncias
submersos
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de Falta da camada vegetal protetora nas encostas
massa de solo Deficiência/falta de manutenção da drenagem
superficial
Deficiência de projeto
Alteração físico-química dos solos
I.1.2 – Fundo do
I.1.2(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a grandes
lago
distâncias
Alteração físico-química dos solos
Presença de formações permeáveis a grandes
distâncias
I.2(1) Percolação excessiva
Falta da camada vegetal protetora nas encostas
Deficiência/falta de manutenção da drenagem
I.2 – Taludes de superficial
corte Falta de camada vegetal protetora nas encostas
Presença de formações permeáveis a grandes
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de distâncias
massa de solo Deficiência/falta de manutenção da drenagem
superficial ou Capilaridade
Deficiência de projeto
II.1.1 – Sistema Deficiência/falta da camada vegetal protetora
de proteção do II.1.1(1) Erosão superficial Deficiência/falta de manutenção da drenagem
talude de jusante superficial
Alteração físico-química dos solos
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de Deficiente ligação ente as camadas de compactação
massa de solo Ação sísmica
Deficiência de projeto
II.1.2 – Talude Deficiente ligação ente as camadas de compactação
II.1.2(2) Deformação excessiva
de jusante Deficiência de projeto
Falta de camada vegetal protetora
Deficiência/falta de manutenção da drenagem
II.1.2(3) Erosão superficial
superficial
Galgamento
Alteração físico-química dos solos
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos
Deficiente ligação ente as camadas de compactação
de massa de solo(durante a fase de enchimento do
II.1.3 – Talude Ação sísmica
lago)
de montante Deficiência de projeto
II.1.3(2) Deformação excessiva (durante a fase de Deficiente ligação ente as camadas de compactação
enchimento do lago) Deficiência de projeto
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento Alteração físico-química dos solos
II.1.4 – Núcleo de material Elevada carga hidráulica (elevação da linha freática)
siltoso II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento Alteração físico-química dos solos
de material Elevada carga hidráulica (elevação da linha freática)
Erro de projeto
II.1.5 – II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante
Colmatação do filtro
Filtro/dreno
Materiais ou construção inadequada
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa
Alteração físico-química dos materiais
Erro de projeto
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante
II.1.6 – Tapete Colmatação do filtro
drenante Materiais ou construção inadequada
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa
Alteração físico-química dos materiais
II.2.1 – Transição Alteração físico-química dos solos
solo compactado II.2.1(1) Percolação excessiva
solo natural
Deficiente ligação ente as camadas de compactação
Tratamento insuficiente da fundação
II.3.1 – Zona sob
II.3.1(1) Percolação excessiva Alteração físico-química dos solos
o barramento
Deficiência do filtro de fundação
Balanço hidráulico desfavorável
III – Vertedor III(1) Mau funcionamento hidráulico Deficiência/falta de manutenção
Deficiência de projeto (erro na vazão de projeto)
Balanço hidráulico desfavorável
IV – Torre de
IV(1) Mau funcionamento hidráulico Deficiência/falta de manutenção
tomada d’água
Deficiência de projeto (erro na vazão de projeto)

97
Os modos de ruptura percolação excessiva e instabilização associada a movimentos de
massa de solo, considerados para a componente principal I – Bacia hidrográfica, estão
associados à granulometria e à média permeabilidade dos solos na região,
principalmente, da área de empréstimo. Entre as prováveis causas iniciadoras dos
mesmos, destaca-se a ação deletéria da água ao longo de formações permeáveis
extensas e na alteração físico-química dos solos locais.

Para a componente principal II- Barramento, os modos de ruptura considerados estão


associados às diferentes funções de seus subsistemas, às características e ao
comportamento geotécnico dos solos e às características e comportamento dos materiais
utilizados para construção.

Assim como para a componente principal I – Bacia hidrográfica, a presença de água no


maciço apresenta-se como a principal causa iniciadora dos modos de ruptura para a
componente II – Barramento. Neste sentido, o conhecimento e o controle dos níveis de
água nos solos da região e no maciço da barragem apresentam-se como um dos fatores
primordiais para a gestão de riscos da barragem. Embora localizada em região
assísmica, ações dinâmicas podem ser impostas à barragem oriundas das detonações por
explosivos nas fases de desmonte na cava da Mineração Casa de Pedra.

As causas dos modos de ruptura por mau funcionamento hidráulico, atribuídas às


componentes principais III – Vertedor e IV – Torre de tomada d’água, resultam dos
erros associados à estimativa das chuvas de projeto e à deficiência ou falta de
manutenção nestes sistemas. Assim, uma chuva maior que a estimada em projeto e/ou a
deterioração ou entupimento dos sistemas de vertimento, por exemplo, pode elevar o
nível d’água no reservatório e causar o galgamento da barragem e consequentes
mecanismos de ruptura da barragem.

5.2.1 – Efeitos dos modos de ruptura

A análise dos efeitos dos modos de ruptura é sistematizada na Tabela 5.3, sendo
indicadas as causas iniciadoras dos processos e os efeitos imediatos, próximos e finais.
Desta forma é possível entender as diferentes inter-relações (Toledo e Amaral, 2005)
que podem levar à ruptura da barragem.

98
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra

ANÁLISE DOS EFEITOS DOS MODOS DE RUPTURA


BARRAGEM DE REJEITOS CASA DE PEDRA
Ouro Preto, maio de 2009
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
I.1.1 - Taludes Alteração físico-química dos solos - Perda de
- Arraste de - Contaminação das zonas
submersos I.1.1(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a estanqueidade do
partículas sólidas envolvidas pelo rejeito
grandes distâncias sistema
Presença de formações permeáveis a
grandes distâncias
I.1.1(2) Instabilização Deficiência da camada vegetal
- Redução do volume - Ruptura da barragem
associada a movimentos de protetora nas encostas - Galgamento
da barragem - Onda de inundação
massa de solo Deficiência/falta de manutenção da
drenagem superficial
Deficiência de projeto

99
Alteração físico-química dos solos - Perda de
I.1.2 - Fundo do - Arraste de - Contaminação das zonas
I.1.2(1) Percolação excessiva Presença de formações permeáveis a estanqueidade do
lago partículas sólidas envolvidas pelo rejeito
grandes distâncias sistema
Alteração físico-química dos solos
Presença de formações permeáveis a
grandes distâncias - Perda de
- Arraste de - Contaminação das zonas
I.2(1) Percolação excessiva Falta da camada vegetal protetora nas estanqueidade do
partículas sólidas envolvidas pelo rejeito
encostas sistema
Deficiência/falta de manutenção da
drenagem superficial
I.2 – Taludes de
Falta de camada vegetal protetora nas
corte
encostas
Presença de formações permeáveis a
I.2(2) Instabilização associada
grandes distâncias - Redução do volume - Ruptura da barragem
a movimentos de massa de - Galgamento
Deficiência/falta de manutenção da da barragem - Onda de inundação
solo
drenagem superficial
Capilaridade
Deficiência de projeto
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
- Redução do volume
II.1.1 - Sistema de Falta de camada vegetal protetora
do maciço - Ruptura da barragem
proteção do talude II.1.1(1) Erosão Deficiência/falta de manutenção da - Ravinamento
- Redução do Fator de - Onda de inundação
de jusante drenagem superficial
Segurança (FS)
II.1.2 - Talude de Alteração físico-química dos solos
jusante Ação sísmica
II.1.2(1) Instabilização - Redução do volume - Perda de
Deficiente ligação entre as camadas - Ruptura da barragem
associada a movimentos de do maciço estanqueidade do
de compactação - Onda de inundação
massa de solo - Redução do FS sistema
Ação sísmica
Deficiência de projeto
Deficiente ligação ente as camadas - Perda de
II.1.2(2) Deformação
de compactação - Redução do FS estanqueidade do - Erosão superficial
excessiva
Deficiência de projeto sistema
Falta de camada vegetal protetora - Arraste de

100
Deficiência/falta de manutenção da partículas sólidas - Ruptura da barragem
II.1.2(3) Erosão superficial - Redução do FS
drenagem superficial - Redução do volume - Onda de inundação
Galgamento do maciço
Alteração físico-química dos solos
II.1.3 (1) Instabilização Ação sísmica
- Redução do volume - Perda de
associada a movimentos de Deficiente ligação entre as camadas - Ruptura da barragem
do maciço estanqueidade do
massa de solo (durante a fase de compactação - Onda de inundação
II.1.3 - Talude de - Redução do FS sistema
de enchimento do lago) Ação sísmica
montante
Deficiência de projeto
II.1.3(2) Deformação Deficiente ligação ente as camadas - Perda de
excessiva (durante a fase de de compactação - Redução do FS estanqueidade do - Erosão superficial
enchimento do lago) Deficiência de projeto sistema

- Perda de
Alteração físico-química dos solos - Erosão interna do
II.1.4 - Núcleo II.1.4(1) Percolação excessiva estanqueidade do - Ruptura da barragem
Elevada carga hidráulica (elevação núcleo
siltoso sem carreamento de material sistema - Onda de inundação
da linha freática) - Piping
- Redução do FS
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS
- Perda de
estanqueidade do
Alteração físico-química dos solos - Colmatação do
II.1.4 - Núcleo II.1.4(2) Percolação excessiva sistema - Ruptura da barragem
Elevada carga hidráulica (elevação sistema drenante
siltoso com carreamento de material - Erosão interna do - Onda de inundação
da linha freática) - Piping
núcleo
- Redução do FS
II.1.5 - Filtro/dreno
vertical II.1.5(1) Insuficiente Erro de projeto - Afogamento do - Percolação excessiva - Redução do FS
capacidade drenante Colmatação do filtro sistema drenante no maciço de jusante - Piping

- Erosão interna do
Materiais ou construção inadequada
II.1.5(2) Perda de estabilidade - Afogamento do filtro - Redução do FS
Alteração físico-química dos
interna e/ou externa sistema drenante - Percolação excessiva - Piping
materiais

101
no maciço de jusante

II.1.6(1) Insuficiente Erro de projeto - Afogamento do - Percolação excessiva - Redução do FS


capacidade drenante Colmatação do sistema drenante sistema drenante no maciço de jusante - Piping
II.1.6 - Tapete
drenante
Materiais ou construção inadequada - Afogamento do
II.1.6(2) Perda de estabilidade - Erosão interna do - Ruptura da barragem
Alteração físico-química dos sistema drenante
interna e/ou externa filtro - Onda de inundação
materiais - Redução do FS

- Colmatação do
Alteração físico-química dos
II.2 1– Transição sistema drenante
materiais - Erosão interna do
solo compactado II.2.1(1) Percolação excessiva - Perda de - Piping
Deficiente ligação ente as camadas núcleo
solo natural estanqueidade do
de compactação
sistema
Tabela 5.3: Causas Iniciadoras e Efeitos dos Modos de ruptura para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Continuação)
EFEITOS
COMPONENTE MODO DE RUPTURA CAUSAS INICIADORAS
IMEDIATOS PRÓXIMOS FINAIS

Tratamento insuficiente da fundação - Afogamento do


II.3.1 - Zona sob o - Ruptura da barragem
II.3.1(1) Percolação excessiva Alteração físico-química dos solos sistema drenante - Piping
barramento - Onda de inundação
Deficiência do filtro de fundação - Redução do FS

- Aumento do nível - Entupimento com


Balanço hidráulico desfavorável d’água no redução da capacidade
III(1) Mau funcionamento Deficiência/falta de manutenção reservatório de vertimento
III - Vertedor - Galgamento
hidráulico Erro de projeto (erro na vazão de - Redução da - Danos no canal e na
projeto) capacidade de escada de dissipação de
vertimento energia
IV - Torre de - Aumento do nível
- Entupimento com
tomada d’água d’água no
Erro de projeto (erro na vazão de redução da capacidade
IV(1) Mau funcionamento reservatório
projeto) de vertimento - Galgamento

102
hidráulico - Redução da
Deficiência/falta de manutenção - Danos na torre e na
capacidade de
galeria
vertimento
Dentre os vários efeitos dos modos de ruptura considerados para a Barragem de Rejeitos
Casa de Pedra, podem ser destacadas as seguintes considerações:

• A ruptura da barragem e a onda de inundação estão sempre associadas como


efeitos finais e podem ser decorrentes de processos de galgamento, perda da
estanqueidade do sistema, erosão interna do núcleo, colmatação ou afogamento
do sistema drenante e piping;

• A consideração de piping como efeito próximo implica na consideração da


ruptura da barragem e onda de inundação como efeito final; por outro lado,
quando este se apresenta como efeito final, a ruptura não é avaliada por se tratar
de efeito implícito ao próprio mecanismo de ruptura;

• O galgamento, quando considerado como efeito próximo, implica na condição


de ruptura da barragem e onda de inundação como efeito final; por outro lado,
quando considerado como efeito final, a condição de ruptura da barragem não é
avaliada por se tratar de uma condição extrema que possui mecanismos para
superar tal situação;

• A consideração da redução do FS somente não implica na ruptura da barragem


como efeito próximo e final quando esta hipótese é expressa como efeito final.

5.2.2 – Identificação das formas de detecção e ações corretivas

A última etapa do FMEA consiste na identificação das formas de detecção e das ações
corretivas para cada modo de ruptura das componentes consideradas na análise. A
detecção pode ser estabelecida por meio de vistorias locais ou por instrumentação. Na
Tabela 5.4, estão apresentados os métodos de detecção e as ações corretivas necessárias
para cada modo de ruptura descrito previamente.

Neste contexto, deve ser estabelecido um plano de inspeções de forma que as falhas
prováveis de ocorrer sejam detectadas a tempo de implementar as ações corretivas,
associado a um planejamento itemizado de procedimentos de manutenção das estruturas
de drenagem superficial e dos dispositivos hidráulicos, visando-se reduzir os riscos
implícitos a estes subsistemas.

103
Tabela 5.4: Métodos de detecção e ação corretiva dos modos potenciais de ruptura
Componente Modos de Ruptura (MR) Métodos de detecção Ações corretivas
- Mapeamento geológico/ geotécnico
I.1.1(1) Percolação excessiva - Injeção de nata de cimento para
- Instrumentação (marcos superficiais,
I.1.1 – Taludes submersos reforçar o solo e reduzir a
I.1.1(2) Instabilização associada a piezômetro e medidores de nível
permeabilidade
movimentos de massa de solo d’água e outros)
- Inspeção visual (das zonas a jusante
da barragem)
- Injeção de nata de cimento para
I.1.2 – Fundo do lago I.1.2(1) Percolação excessiva - Mapeamento geológico/geotécnico
reduzir a permeabilidade
- Instrumentação (piezômetro e
medidores de nível d’água)
- Inspeção visual - Injeção de nata de cimento para reforçar
I.2(1) Percolação excessiva
- Mapeamento geológico/ geotécnico o solo e reduzir a permeabilidade
I.2 – Taludes de corte - Instrumentação (marcos superficiais, - Manutenção nos sistemas de drenagem
I.2(2) Instabilização associada a - Recomposição da camada vegetal
piezômetro e medidores de nível
movimentos de massa de solo protetora
d’água e outros)
- Recomposição do talude
II.1.1 – Sistema de - Recomposição da camada vegetal
proteção do talude de II.1.1(1) Erosão - Inspeção visual protetora
jusante - Manutenção nos sistemas de
drenagem
II.1.2(1) Instabilização associada - Inspeção Visual - Construção de berma estabilizadora a
a movimentos de massa de solo - Instrumentação (marcos superficiais, jusante da zona afetada
- Recomposição do talude
II.1.2 – Talude de jusante II.1.2(2) Deformação excessiva piezômetro, medidores de nível d’água, - Recomposição da camada vegetal
inclinômetro e medidores de recalque protetora
II.1.2(3) Erosão superficial - Estação pluviométrica - Manutenção nos sistemas de drenagem
II.1.3 (1) Instabilização associada
a movimentos de massa de - Inspeção Visual - Recomposição da borda livre
solo(durante a fase de enchimento - Instrumentação (piezômetro, - Recomposição da camada vegetal
II.1.3 – Talude de
do lago) medidores de nível d’água, protetora
montante
II.1.3(2) Deformação inclinômetro e medidores de recalque - Manutenção nos sistemas de
excessiva(durante a fase de - Estação pluviométrica drenagem
enchimento do lago)
II.1.4(1) Percolação excessiva - Inspeção visual (abatimento da crista
sem carreamento de material e de surgência de água a jusante da
- Injeção de nata de cimento para reforçar
barragem)
II.1.4 – Núcleo siltoso o solo e reduzir a permeabilidade
II.1.4(2) Percolação excessiva - Instrumentação (marcos superficiais,
com carreamento de material piezômetro, medidores de nível d’água,
inclinômetro e medidores de recalque)
II.1.5(1) Insuficiente capacidade - Inspeção visual (abatimento da crista
drenante e de surgência de água a jusante da
- Aumento da borda livre
II.1.5 – Filtro/dreno barragem)
(rebaixamento do nível d’água no
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade - Instrumentação (marcos superficiais,
lago)
interna e/ou externa piezômetro, medidores de nível d’água,
inclinômetro e medidores de recalque)
II.1.6(1) Insuficiente capacidade - Inspeção visual (surgência de água a
drenante jusante da barragem) - Aumento da borda livre
II.1.6 – Tapete drenante - Instrumentação (piezômetro, (rebaixamento do nível d’água no
II.1.6(2) Perda de estabilidade
medidores de nível d’água, lago)
interna e/ou externa
inclinômetro e medidores de recalque)
- Construção de berma
estabilizadora a jusante da zona
- Inspeção Visual
afetada
- Instrumentação (piezômetro,
II.2.1 – Transição solo - Recomposição do talude
II.2.1(1) Percolação excessiva medidores de nível d’água,
compactado solo natural - Recomposição da camada vegetal
inclinômetro e medidores de recalque
protetora
- Estação pluviométrica
- Manutenção nos sistemas de
drenagem
- Inspeção visual (surgência de água a
jusante da barragem) - Construção de berma
II.3.1 – Zona sob o
II.3.1(1) Percolação excessiva - Instrumentação (piezômetro, estabilizadora a jusante da zona
barramento
medidores de nível d’água, afetada
inclinômetro e medidores de recalque)
- Inspeção visual
III(1) Mau funcionamento - Manutenção na estrutura do canal
III – Vertedor - Medidor de vazão
hidráulico e na escada de discipação de energia
- Estação pluviométrica
- Inspeção visual
IV – Torre de tomada IV(1) Mau funcionamento - Manutenção da estrutura e dos
- Medidor de vazão
d’água hidráulico equipamentos eletromecânicos
- Estação pluviométrica

104
A instrumentação implantada na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, apresentada no
Capítulo 4, não contempla a magnitude e a locação dos instrumentos conforme as
necessidades apontadas nesta análise e, assim, uma recomendação prévia seria orientar
os responsáveis pela operação da barragem sobre a viabilidade de instalação adicional
de instrumentos.

Uma forma de contornar esta situação poderia ser a aplicação de métodos estatísticos
para extrapolação dos dados obtidos na instrumentação existente, embora tal solução
não seja aplicável para algumas das componentes descritas. Outra forma de reduzir
parcialmente o risco desta carência da instrumentação instalada consistiria na redução
dos períodos previstos para as inspeções visuais.

5.3 – ANÁLISES DE CRITICIDADE (FMECA)

As análises de criticidade da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra foi implementada por


meio do método dos Índices de criticidade (Icr), sendo aplicado também a metodologia
RPN (Risk Priorit Number) para avaliação e calibração dos índices e dos resultados
obtidos nas análises de criticidade.

5.3.1 – Estimação das consequências dos efeitos

Uma vez que a estimação das classes das consequências dos efeitos dos modos de
ruptura é subjetiva, foram adotadas as classes de consequências, definidas previamente
na Tabela 2.5, para as análises de criticidade da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra.
As consequências dos modos de ruptura foram agrupadas em função de diferentes áreas
de interesse, cada uma delas definida com base em atributos específicos, como
fatalidades, perdas econômicas, impactos ao meio ambiente, consequências políticas e
censura pública, etc.

A cada classe foi atribuído um índice ponderativo (dado entre parênteses na Tabela 5.5),
que representa o grau de relevância do efeito no sistema relativo a cada classe analisada.
As classes e seus respectivos índices foram estabelecidos de forma iterativa, à medida
que as análises foram sendo realizadas, visando uma melhor adequação e adaptação dos
critérios adotados às premissas da metodologia FMECA.

105
A Tabela 5.6 apresenta a sistematização das consequências dos efeitos em termos das
classes e dos índices correspondentes, no âmbito das análises de criticidade da
Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, sendo indicada a descrição de cada efeito e sua
correlação com os modos potenciais de ruptura dados anteriormente (Tabela 5.3).

Tabela 5.5: Classes e índices das consequências para as análises de criticidade da BRCP
Classes / Áreas de interesse
Índices de Saúde e Impacto na mídia Econômicas /
Meio ambiente
consequências segurança (imagem da empresa) destruição ($)
Impacto baixo
I (1) Desprezível Desprezível Sem impacto
(<100mil)
Violação a Legislação Impacto médio
II (3) Primeiros socorros Baixo
Ambiental (100 mil – 1 milhão)
Pequenos Prejuízo local Impacto médio – alto
III (5) Moderado
ferimentos reversível (1 -10 milhões)
Impacto significativo Impacto alto
IV (7) Incapacidade Severo
reversível (10 -100 milhões)
Ocorrência de Impacto catastrófico Alta destruição
V (10) Extremo
fatalidades irreversível (> 100 milhões)

Tabela 5.6: Classes e índices das consequências dos efeitos


Identificação Identificação dos Classe das Índice
Descrição do efeito
do efeito modos de ruptura consequências (c)
I.1.1(2) I 1
Redução do volume da barragem E1
I.2(2) I 1
Ravinamento E2 II.1.1(1) I 1
II.1.1(1) II 3
II.1.2(1) II 3
Redução do volume do maciço E3
II.1.2(3) II 3
II.1.3 (1) I 1
I.1.1(1) I 1
I.1.2(1) I 1
Arraste de partículas sólidas E4
I.2(1) I 1
II.1.2(3) I 1
I.1.1(1) III 5
Contaminação das zonas envolvidas pelo
E5 I.1.2(1) III 5
rejeito
I.2(1) II 2
I.1.1(1) I 1
I.1.2(1) I 1
I.2(1) I 1
II.1.2(1) II 3
II.1.2(2) II 3
Perda de estanqueidade do sistema E6
II.1.3 (1) I 1
II.1.3(2) II 3
II.1.4(1) II 3
II.1.4(2) III 5
II.2.1(1) III 5
II.1.4(2) III 5
Colmatação do sistema drenante E7
II.2.1(1) II 3
II.1.2(2) III 5
Erosão superficial E8
II.1.3(2) I 1
II.1.5(1) III 5
Percolação excessiva no maciço de jusante E9 II.1.5(2) III 5
II.1.6(1) III 5
II.1.4(1) I 1
Erosão interna do núcleo E 10 II.1.4(2) II 3
II.2.1(1) II 3

106
Tabela 5.6: Classes e índices das consequências (Continuação)
Identificação Identificação dos Classe das Índice
Descrição do efeito
do efeito modos de ruptura consequências (c)
II.1.4(1) III 5
II.1.4(2) V 10
II.1.5(1) II 3
Piping E 11 II.1.5(2) II 3
II.1.6(1) II 3
II.2.1(1) III 5
II.3.1(1) III 5
II.1.1(1) I 1
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12
II.1.2(1) IV 7
II.1.2(2) III 5
II.1.2(3) III 5
II.1.3 (1) II 3
II.1.3(2) I 1
II.1.4(1) II 3
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12 II.1.4(2) IV 7
II.1.5(1) II 3
II.1.5(2) II 3
II.1.6(1) II 3
II.1.6(2) II 3
II.3.1(1) II 3
I.1.1(2) III 5
I.2(2) III 5
Galgamento E 13
III(1) IV 7
IV(1) IV 7
I.1.1(2) IV 7
I.2(2) IV 7
II.1.1(1) V 10
II.1.2(1) IV 7
II.1.2(3) IV 7
Ruptura da barragem E 14
II.1.3 (1) IV 7
II.1.4(1) IV 7
II.1.4(2) V 10
II.1.6(2) IV 7
II.3.1(1) V 10
I.1.1(2) III 5
I.2(2) III 5
II.1.1(1) II 3
II.1.2(1) V 10
II.1.2(3) V 10
Formação da onda de inundação E 15
II.1.3 (1) V 10
II.1.4(1) V 10
II.1.4(2) IV 7
II.1.6(2) V 10
II.3.1(1) III 5
II.1.5(1) III 5
II.1.5(2) III 5
Afogamento do sistema drenante E 16 II.1.6(1) III 5
II.1.6(2) III 5
II.3.1(1) IV 7
II.1.5(2) III 5
Erosão interna do filtro E 17
II.1.6(2) III 5
III(1) II 3
Aumento do nível de água no reservatório E19
IV(1) II 3
III(1) II 3
Redução da capacidade de vertimento E 20
IV(1) II 3
Entupimento com redução da capacidade III(1) I 1
E 21
de vertimento IV(1) I 1
Dano no canal e na escada de dissipação de
E 22 III(1) II 3
energia
Dano na torre e na galeria E23 IV(1) II 3

107
5.3.2 – Estimação das probabilidades dos efeitos

A estimação da probabilidade de ocorrência dos efeitos dos modos de ruptura foi


implementada de forma similar à elaborada para a classe das consequências, ou seja,
para cada classe das probabilidades, definidas previamente na Tabela 2.4. Nesta
concepção, admitiu-se uma subdivisão de probabilidades de ocorrência de um dado
evento (ou conjunto de eventos) em cinco intervalos, com classificações entre A -
Improvável (evento de ‘ocorrência extremamente singular’, com uma probabilidade de
ocorrência inferior a 0,1%) e E – Esperado (evento de ‘ocorrência regular’, com uma
probabilidade de ocorrência superior a 20%).

Assim, atribuiu-se um dado índice ponderativo (dado entre parênteses na Tabela 5.7),
que representa o grau de relevância do efeito no sistema relativo a cada classe analisada.
Analogamente ao caso anterior, as classes de probabilidade e seus respectivos índices
foram estabelecidos de forma iterativa, à medida que as análises foram sendo realizadas.

Tabela 5.7: Classes de probabilidade para as análises de criticidade da BRCP


Intervalos de
Classes Classificação Descrição
probabilidade
A (1) < 0,1% Improvável Probabilidade muito baixa
Possível mas de baixa
B (2) 0,1 – 1% Baixo
probabilidade
C (5) 1 –10% Moderado Ocorrência ocasional
Ocorrência possível e
D (8) 10 – 20% Alto
provável
E (10) > 20% Esperado Ocorrência regular

A Tabela 5.8 apresenta a sistematização das classes de probabilidades e os respectivos


índices de ponderação, para cada um dos modos de ruptura previstos para a Barragem
de Rejeitos Casa de Pedra. A atribuição das classes das probabilidades também foi
baseada em critérios subjetivos; entretanto, neste caso, a atribuição dos índices a cada
classe de probabilidade pode ser comparada com a possibilidade de ocorrência de um
determinado modo de ruptura em conformidade com suas causas iniciadoras e a
sequência de verificação dos seus efeitos.

108
Tabela 5.8: Classes e índices das probabilidades dos efeitos
Classes das Índices ponderativos
Modos de Ruptura (MR)
probabilidades das probabilidades (p)
I.1.1(1) Percolação excessiva A 1

I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo A 1

I.1.2(1) Percolação excessiva A 1

I.2(1) Percolação excessiva B 2

I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo B 2

II.1.1(1) Erosão A 1

II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo D 8

II.1.2(2) Deformação excessiva B 2

II.1.2(3) Erosão superficial C 5


II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de
B 2
solo(durante a fase de enchimento do lago)
II.1.3(2) Deformação excessiva B 2

II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material C 5

II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material E 10

II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante C 5

II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa D 8

II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante C 5

II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa D 8

II.2.1(1) Percolação excessiva C 5

II.3.1(1) Percolação excessiva D 8

III(1) Mau funcionamento hidráulico D 8

IV(1) Mau funcionamento hidráulico D 8

5.3.3 – Índice e matriz de criticidade

Concluída as etapas de atribuição das classes e dos índices de ponderação das


consequências e das probabilidades, foram, então, estimados os valores correspondentes
aos índices de Criticidade (Icr), de acordo com a Equação 2.3, sendo os resultados
indicados no Anexo III desta dissertação.

A Figura 5.3 apresenta os resultados obtidos para as análises de criticidade da Barragem


de Rejeitos Casa de Pedra, em termos da correlação entre os valores dos índices de
criticidade em função dos modos de ruptura previamente estabelecidos.

109
Índice de criticidade

0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100

I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(3)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.2(2)
II.1.3(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)

110
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
Modos de ruptura

II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
III(1)
IV(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)

uma matriz de criticidade dos efeitos dos modos de ruptura (Figura 5.4).
II.3.1(1)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)

Figura 5.4: Matriz de criticidade dos modos de ruptura da BRCP


II.3.1(1)
II.1.5(2)
II.1.6(2)
III(1)
IV(1)
III(1)
IV(1)
Figura 5.3: Índices de criticidade dos efeitos dos modos de ruptura da BRCP

III(1)
IV(1)
III(1)
IV(1)
formulação mais adequada consiste na apresentação do índice de criticidade na forma de
hierárquica dos níveis de risco associados a cada modo de ruptura; neste sentido, uma
A apresentação dos resultados nesta forma dificulta o entendimento e a caracterização
Na abordagem adotada, as consequências, assim como as probabilidades, foram
subdivididas em um número máximo de cinco classes, permitindo-se, assim, que a
matriz de criticidade pudesse ser dividida em cinco níveis de alerta, identificados de 1 a
5, de forma a facilitar o desenvolvimento das ações a serem descritas no Capitulo 6.

5.3.4 – Estimação do RPN

A atribuição subjetiva de classes e de pesos para cálculo dos índices de criticidade da


metodologia do FMECA pode implicar em erros nas análises de riscos; para verificar
esta atribuição de valores e calibrar as análises, adotou-se complementarmente o
método RPN, embora também um método subjetivo.

Com o objetivo de se ter os mesmos parâmetros para a determinação do Icr e RPN, os


critérios de severidade adotados para o método RPN foram os mesmos utilizados para
as classes das consequências associadas ao parâmetro Icr. Neste mesmo sentido, assim
como as classes de consequência e probabilidade, os índices de cálculo do RPN foram
subdivididos em no máximo cinco níveis. A Tabela 5.9 apresenta os índices e os
critérios adotados para as análises de severidade.

Tabela 5.9: Índices e critérios de severidade para cálculo do RPN


Severidade
Critério
Índice Severidade Impacto na
Saúde e Econômicas /
mídia (imagem Meio ambiente
segurança destruição ($)
da empresa)
Impacto baixo
1 Mínima Desprezível Desprezível Sem impacto
(<100mil)
2 Primeiros Violação a Legislação Impacto médio
Pequena Baixo
3 socorros Ambiental (100 mil – 1 milhão)
4
Pequenos Prejuízo local Impacto médio – alto
5 Moderada Moderado
ferimentos reversível (1 -10 milhões)
6
7 Impacto significativo Impacto alto
Alta Incapacidade Severo
8 reversível (10 -100 milhões)
9 Ocorrência de Impacto catastrófico Alta destruição
Muito Alta Extremo
10 fatalidades irreversível (> 100 milhões)

Os índices e os critérios de probabilidade de ocorrência e de probabilidade de detecção,


associados aos efeitos dos modos de ruptura da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra,
são dados nas Tabelas 5.10 e 5.11 (dadas anteriormente pelas tabelas 2.6 e 2.7) e, com
base nestes índices, foram estimados os valores de RPN (Figura 5.5 e Anexo IV).

111
RPN

0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
I.1.1(2)
I.2(2)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
I.1.1(1)

1
I.1.2(1)
I.2(1)

7a8
4a6
2a3
II.1.2(3)

9 a 10
Índices
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)

Grande
II.2.1(1)

Pequena
Detecção
II.1.2(2)

Moderada
9
8
7
6
5
4
3
2
1

II.1.3(2)

10

Muito grande
II.1.5(1)

Muito pequena
II.1.5(2)
Índice

II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
Alta

II.1.1(1)
Remota

II.1.2(1)
Pequena

II.1.2(2)
Ocorrência

Muito Alta

112
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
Detecção
II.1.4(1)
Ocorrência

II.1.4(2)
II.1.5(1)
1:2
1:8

II.1.5(2)
1:20
1:40
1:80

II.1.6(1)

Modos de ruptura
Moderada 1:400

II.1.6(2)
II.3.1(1)
1:1.000
1:4.000

I.1.1(2)
1:20.000

I.2(2)
III(1)
IV(1)
I.1.1(2)
1:1.000.000
Proporção

I.2(2)
Critério

II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
I.1.1(2)
I.2(2)
Certamente será detectado

II.1.1(1)
II.1.2(1)
Provavelmente será detectado

Certamente não será detectado


II.1.2(3)
II.1.3 (1)
Provavelmente não será detectado

II.1.4(1)
II.1.4(2)
Grande probabilidade de ser detectado

II.1.6(2)

Figura 5.5: RPN dos efeitos dos modos de ruptura da BRCP


II.3.1(1)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
Tabela 5.11: Índices de probabilidade de detecção para cálculo do RPN

II.1.5(2)
II.1.6(2)
III(1)
IV(1)
III(1)
IV(1)
III(1)
Tabela 5.10: Índices e critérios de probabilidade de ocorrência para cálculo do RPN

IV(1)
III(1)
IV(1)
5.4 – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

A avaliação dos resultados obtidos foi realizada de forma a calibrar os índices de


ponderação adotados para a estimativa dos índices de criticidade e os critérios adotados
para a determinação dos valores de RPN.

Devido às características específicas da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, as classes


e os valores atribuídos aos índices de ponderação das consequências e probabilidades,
para implementação da gestão de riscos pelo método FMECA, variaram entre os valores
adotados por Santos (2007), para análise de riscos da Barragem de Rejeitos Cerro do
Lobo em Portugal, e os índices adotados pela VALE (2005) para gestão de riscos de
taludes em cortes e aterros de via permanente ferroviária (Tabela 5.12).

Tabela 5.12: Índices de ponderação das classes de probabilidade e consequência


Classe das consequências
Índice de ponderação
Classe Adotado Barragem de
Santos (2007) CVRD (2005)
Rejeitos Casa de Pedra
I 1 1 1
II 2 2 3
III 4 4 5
IV 6 7 7
V 9 10 10
VI 10

Classe das probabilidades

Índice de ponderação
Classe Adotado Barragem de
Santos (2007) CVRD (2005)
Rejeitos Casa de Pedra
A 1 1 1
B 2 3 2
C 4 6 5
D 7 8 8
E 10 10 10

Os índices adotados foram estabelecidos de forma que o modelo apresentasse resultados


representativos e condizentes com a realidade, de modo a ser utilizado como uma
ferramenta de avaliação do real estado de segurança da barragem. Para a estimativa dos
valores de RPN, como citado anteriormente, os critérios de severidade foram os mesmo
adotados para definição das classes das consequências dos índices de criticidade,
garantindo, assim a comparação direta entre ambas as metodologias de análise.

113
A Figura 5.6 apresenta uma comparação entre os resultados dos modelos utilizados,
levando-se em conta as diferentes escalas dos valores de referência; observa-se uma
concordância muito boa entre os valores obtidos por uma e outra técnica de análise, com
a caracterização similar dos efeitos que apresentam valores limites e, portanto, mais e
menos críticos, validando e calibrando os modelos propostos das análises.

500

Icr
450
RPN

400

350

300
Criticidade

250

200

150

100

50

0
III(1)

III(1)
III(1)
III(1)
III(1)
II.1.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)

II.1.2(3)

II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.2(2)
II.1.3(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.2.1(1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.2.1(1)
II.3.1(1)
II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(2)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.3(2)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
II.3.1(1)

II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)

II.1.1(1)
II.1.2(1)
II.1.2(3)
II.1.3 (1)
II.1.4(1)
II.1.4(2)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.5(1)
II.1.5(2)
II.1.6(1)
II.1.6(2)
II.3.1(1)
II.1.5(2)
II.1.6(2)
I.1.1(2)
I.2(2)

I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)
I.1.1(1)
I.1.2(1)
I.2(1)

I.1.1(2)
I.2(2)
IV(1)
I.1.1(2)
I.2(2)

I.1.1(2)
I.2(2)

IV(1)
IV(1)
IV(1)
IV(1)
Modos de ruptura

Figura 5.5: Comparação entre os resultados dos parâmetros Icr e RPN

5.5 – MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DO RISCO

De acordo com o exposto no Capítulo 2, a mitigação de riscos do sistema somente é


obtida na medida em que se reduz a probabilidade de ocorrência dos eventos iniciadores
dos modos de ruptura, a prevenção de acidentes ou a sequência de efeitos ou das
consequências ou ainda a severidade das consequências dos efeitos finais no sistema.

Neste sentido, as medidas de mitigação de riscos, sugeridas para os modos de ruptura


para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra (Tabela 5.13), consistem basicamente na
implementação de ações que possibilitem identificar as situações de risco o mais cedo
possível reduzindo-se, assim, a probabilidade de acidentes e o desenvolvimento de uma
cadeia de efeitos que pode finalizar com a ruptura global da barragem.

114
Tabela 5.13: Medidas de mitigação dos riscos de ruptura para a BRCP
Componente Modos de Ruptura (MR) Medidas de mitigação
I.1.1(1) Percolação excessiva - Instalação de instrumentação
I.1.1 – Taludes
- Inspeção visual sistemática
submersos I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de
- Instalação de drenagem superficial nas encostas
massa de solo
I.1.2 – Fundo do
I.1.2(1) Percolação excessiva - Instalação de instrumentação
lago
I.2(1) Percolação excessiva - Implantação e manutenção de camada vegetal
protetora
I.2 – Taludes de
- Instalação de drenagem superficial
corte I.2(2) Instabilização associada a movimentos de
- Instalação de instrumentação
massa de solo
- Inspeção visual sistemática
II.1.1 – Sistema - Manutenção da camada vegetal protetora
de proteção do II.1.1(1) Erosão superficial - Manutenção do sistema de drenagem superficial
talude de jusante - Inspeção visual sistemática
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de
massa de solo - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
II.1.2 – Talude
II.1.2(2) Deformação excessiva - Inspeção visual sistemática
de jusante
- Manutenção do sistema de drenagem superficial
II.1.2(3) Erosão superficial
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos
de massa de solo(durante a fase de enchimento do
II.1.3 – Talude - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
lago)
de montante - Inspeção visual sistemática
II.1.3(2) Deformação excessiva (durante a fase de
enchimento do lago)
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento
II.1.4 – Núcleo de material - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
siltoso II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento - Inspeção visual sistemática
de material
II.1.5 – II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
Filtro/dreno - Inspeção visual sistemática
vertical II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa - Rebaixamento do nível do NA

II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante - Leitura e análise sistemática dos instrumentos


II.1.6 – Tapete
- Inspeção visual sistemática
drenante
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa - Rebaixamento do nível do NA
II.2.1 – Transição - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
solo compactado II.2.1(1) Percolação excessiva - Inspeção visual sistemática
solo natural - Manutenção do sistema de drenagem superficial
II.3.1 – Zona sob - Leitura e análise sistemática dos instrumentos
II.3.1(1) Percolação excessiva
o barramento - Inspeção visual sistemática
- Acompanhamento das previsões meteorológicas
- Inspeção visual sistemática
III – Vertedor III(1) Mau funcionamento hidráulico
- Manutenção sistemática das estruturas do vertedor
- Manutenção do sistema de drenagem superficial
- Acompanhamento das previsões meteorológicas
IV – Torre de - Inspeção visual sistemática
IV(1) Mau funcionamento hidráulico
tomada d’água - Manutenção sistemática das estruturas do vertedor
- Manutenção do sistema de drenagem superficial

115
CAPÍTULO 6

6 – PLANO DE AÇÃO EMERGENCIAL APLICADO À


BARRAGEM DE REJEITOS CASA DE PEDRA

A falta de planejamento prévio para enfrentar uma situação de emergência pode resultar
em sérios danos a terceiros, ao patrimônio, a imagem da empresa e ao meio ambiente,
no caso de ruptura de uma barragem de rejeitos. Na iminência de uma ruptura, não há
tempo propício a ações de planejamento, organização ou treinamento de pessoal para
atender e contornar tal situação.

Dessa forma, a elaboração de um Plano de Ação Emergencial (PAE), a partir de uma


avaliação prévia dos riscos envolvidos no empreendimento, apresenta-se como uma
ferramenta importante no sentido de minimizar os danos decorrentes de um acidente
que venha a ocorrer. Os primeiros passos para elaboração do PAE, de acordo com a
metodologia apresentada no Capítulo 3, consistem na caracterização da barragem e do
vale a jusante, como descritos nos Capítulos 4 e 5, respectivamente.

A metodologia FMECA de gestão de riscos foi utilizada como ferramenta auxiliar para
elaborar o PAE aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra. A aplicação desta
metodologia permitiu identificar os potenciais modos de ruptura, determinar suas
causas, descrever as consequências e classificar os riscos envolvidos. Adicionalmente,
foram propostas as devidas medidas de mitigação dos riscos detectados e, para cada
nível de emergência da matriz de criticidade, foram definidos os responsáveis pelas
tomadas de decisão e das ações pertinentes.

De forma similar às premissas adotadas na proposta de implementação da gestão de


riscos, a elaboração do PAE contempla somente a primeira etapa da construção e da
operação da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, com o barramento limitado, portanto,
à cota 922m, por ainda não existir prescrições definidas de projeto para as etapas 2 e 3
subsequentes.

116
Considerando os aspectos legais do Projeto de Lei nº 1.181 de 2003 do Conselho
Nacional de Segurança de Barragens (Brasil 2003), apresentados e discutidos no
Capítulo 3, constata-se que a construção da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
atendeu a todos os requisitos mínimos exigidos. Neste mesmo sentido, a estrutura está
enquadrada como Classe III no critério de classificação de dano ambiental apresentado
pelo COPAM (COPAM, 2005), o que implica, consequentemente, na imposição legal
de inspeção anual por consultor externo aos quadros da empresa.

6.1 – MODELAÇÃO HIDRODINÂMICA DA ONDA DE CHEIA

Diversos modelos numérico-computacionais para simulação do escoamento provocado


pela ruptura de barragens são atualmente disponíveis, sendo os mais utilizados aqueles
que utilizam modelos dinâmicos baseados nas equações de Saint-Venant, que regem o
fenômeno de propagação da onda de cheia.

Conforme exposto previamente no Capítulo 3, o modelo dambreak, desenvolvido pelo


National Weather Service (Boos, 1988) permite simular a ruptura da barragem, calcular
o hidrograma originado pelo esvaziamento do reservatório e modelar a onda de
inundação no vale a jusante da barragem, baseado nas seguintes premissas:

• simulação do processo de formação da cheia, condicionado pelo tipo de ruptura


(total, parcial, instantânea, gradual.) e pelas características da abertura ou brecha
desenvolvida na barragem (geometria, dimensões e tempo de ruptura);
• simulação do processo de propagação da cheia, baseado no estudo e modelação
dos regimes hidráulicos transitórios, com base nos seguintes parâmetros: tempo
de chegada da frente de onda de cheia, cota máxima e vazão máxima.

A propagação da onda de inundação vai depender, além da geometria da brecha e do


processo de ruptura, das condições iniciais de deposição da barragem e da morfologia
do vale a jusante, incluindo-se os efeitos de rugosidades do leito e das margens, das
estruturas de impacto e das zonas de amortecimento e/ou espraiamento ao longo do rio.
A aferição e a potencial interação destes atributos resultam na concepção e análise de
diferentes cenários de ruptura, mais ou menos catastróficos.

117
É importante enfatizar que o escoamento da água em canais naturais envolve um
processo transiente e distribuído, uma vez que as vazões, as velocidades e as alturas da
lâmina de água variam no tempo e no espaço. Conforme visto anteriormente, este
escoamento pode ser expresso analiticamente pelas chamadas equações de Saint-
Venant, que constituem a aplicação, para o problema em questão, das equações da
conservação de massa ou continuidade e da conservação da quantidade de movimento,
formuladas com base nas seguintes hipóteses:

a) o fluido é incompressível e homogêneo;


b) o escoamento é unidirecional em toda a extensão do canal;
c) o eixo longitudinal do canal é aproximadamente uma linha reta;
d) o declive do fundo do vale é pequeno e o fundo não é móvel;
e) o escoamento varia gradualmente ao longo do canal, podendo ser desprezadas as
acelerações verticais e considerar a distribuição de pressões segundo a vertical
hidrostática;
f) os coeficientes de rugosidade para escoamentos em regime não permanente tendem a
ser similares aos do regime permanente e uniforme e, assim, podem ser determinados
pelas equações de Manning ou Chézy.

Para a modelação hidrodinâmica da onda de cheia para o caso da Barragem de


Contenção de Rejeitos Casa de Pedra, aplicou-se o modelo Dambreak (DAM, 2007),
admitindo-se dois cenários de risco: o primeiro considerando o enchimento da barragem
com o maior volume de água possível em contato com o maciço da barragem e o
segundo considerando um maior volume de rejeitos acumulados, sem contato da água
diretamente com o maciço da barragem, a Tabela 6.1 apresenta os dados utilizados na
modelação da onda de cheia.

Tabela 6.1: Dados utilizados para modelação da onda de cheia

Volume máximo do reservatório - cota 922 (m³) 22.000.000


Altura da abertura (m) 12
Largura da abertura (m) 200
Vazão máxima (m³/s) 9800

118
Assim, no caso da formação de uma eventual abertura através do maciço da barragem, o
estudo abrange duas situações possíveis, sendo a primeira a formação de uma onda de
inundação de proporções catastróficas e a segunda, com concentração dos rejeitos nas
zonas de jusante, sem ocorrência de ondas de água ou de rejeitos com características
impactantes no vale a jusante. O PAE aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra
contemplará ambos os cenários de ruptura, uma vez que a identificação do instante que
os divide é imprecisa e de difícil determinação pelos operadores da barragem.

6.1.1 – Ruptura com consequências catastróficas

Esta situação aplica-se à ruptura da barragem na condição de maior volume de água no


reservatório após o seu enchimento, ou ainda, a partir da liquefação dos rejeitos retidos
no reservatório. No cenário de ruptura considerado, a brecha forma-se numa situação de
galgamento, quando a cota da superfície da água atinge a cota da crista da barragem. A
capacidade de armazenamento da barragem é obtida em função da curva cota/volume ou
cota/área inundada; para o arranjo da barragem na primeira etapa construtiva (El. 922,00
m), a capacidade de armazenamento é da ordem de 2,2x107m3.

Na modelação feita, a vazão máxima obtida pelas simulações foi da ordem de 9.800
m3/s, utilizada, então, para descrever os efeitos de propagação da onda ao longo do
Córrego Casa de Pedra, Rio Maranhão e Rio Paraopeba, a jusante da barragem. Por
outro lado, o tempo de ruptura da barragem, correspondente à construção da primeira
etapa (crista localizada na elevação 922,0m), será dado por:

0, 5 0, 5
§V · § 2,2 x10 7 ·
t rup = 0,007¨¨ bar2 ¸¸ = 0,007¨¨ 2
¸¸ = 0,57h ≅ 34 min
© hbar ¹ © 58 ¹

A Figura 6.2 apresenta uma comparação entre o nível do fundo dos rios existentes e o
nível da onda de inundação ao longo do vale a jusante, formada a partir de uma eventual
ruptura da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra.

119
900

886,34
880
874
Elevação (m) 870
860
850 854,2

839 843,3
840
830

820
816,4

805
800
0 5 10 15 20 25
Distância (km)

Fundo do Rio Nível da onda de inundação

Figura 6.2: Comparação entre os níveis do fundo do rio e da onda de inundação


(modificado de DAM, 2007)

No gráfico, são indicados os níveis da onda de inundação na ponte ferroviária situada a


1,65 km, ao longo do município de Congonhas, situado a 13 km e ao longo da cidade de
Jeceaba, situada a 25 km, tais distâncias tomadas para jusante a partir do eixo da crista
da barragem.

A presença da ponte ferroviária e, principalmente, a plataforma da Via Permanente


Ferroviária, situada a 1,65 km a jusante da barragem, apresenta-se como uma
importante estrutura de amortização da onda de inundação, uma vez que a onda inicial
sofre uma queda estimada de doze metros nesta estrutura de anteparo. Do gráfico, pode-
se observar ainda que, com a propagação da onda de inundação, o nível do rio subirá da
ordem de 15 e 12m nos domínios urbanos das cidades de Congonhas e Jeceaba,
respectivamente.

A Figura 6.3 apresenta os resultados do hidrograma de vazões a jusante da barragem,


permitindo uma melhor caracterização dos efeitos devidos aos acréscimos dos níveis do
rio induzidos pela onda de inundação. O Anexo II apresenta uma estimativa das áreas
que serão diretamente afetadas pela onda de inundação.

120
10000

8000

6000
Q(m/s)
3

4000

2000

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6
T(h)

Barragem Ponte - km 1,65 Cidade 1 - km 13 Cidade 2 - km 25

Figura 6.3: Propagação do histograma de inundação a jusante da barragem


(modificado de DAM, 2007)

Os resultados das simulações dos efeitos da onda de inundação indicam a ocorrência da


onda, com uma altura máxima de 24 m, na ponte ferroviária a jusante, uma hora após o
momento de ruptura, a qual deverá ocasionar a sua ruptura. A onda deverá propagar-se
por uma grande extensão ao longo do vale no Córrego Casa de Pedra, no Rio Maranhão
e no Rio Paraopeba, atingindo uma altura de 9 m, seis horas após a ruptura, cerca de 25
km a jusante.

Após a ruptura, a onda de inundação atingirá as propriedades e a população ribeirinha


das cidades de Congonhas e Jeceaba; aproximadamente, dez mil pessoas serão atingidas
diretamente pela catástrofe. Todas as estruturas e propriedades situadas no domínio da
onda (e que foram descritas no Capítulo 5), provavelmente serão total ou praticamente
destruídas.

Cerca de 30 km a jusante da Barragem Casa de Pedra, e após 3 horas da ruptura da


barragem, a onda de inundação deverá atingir cerca de 12 m de altura, chegando nestas
condições à Usina Hidrelétrica (UHE) do Salto de Paraopeba, de propriedade da
CEMIG. Uma situação de sobre-inundação poderá, então, ser desenvolvida pois, além
dos danos e impactos ao sistema de geração de energia da usina, o cenário poderá ser
extremamente agravado no caso de uma ruptura complementar da barragem da própria
usina hidrelétrica.

Em resumo, os estudos relativos à onda de inundação pela ruptura da Barragem de


Rejeitos Casa de Pedra deverá implicar, ao longo de cerca de 30 km a jusante, a ruptura

121
posterior de 4 pontes ferroviárias, duas pontes rodoviárias, danos na UHE do Salto de
Paraopeba, além de provocar a destruição de aproximadamente 350 casas e a perda de
vidas das populações das cidades de Congonhas e Jeceaba.

6.1.2 – Ruptura sem consequências catastróficas

A condição de ruptura sem consequências catastróficas apresenta-se como uma


condição muito mais benéfica em termos dos impactos decorrentes, uma vez que uma
eventual ruptura da barragem não causará a propagação de uma onda de água e/ou
rejeitos pelo vale a jusante.

Nesta situação, a cunha da ruptura não deverá atingir o reservatório de água, confinado
e a razoável distância do maciço da barragem. Um a vez constatado o potencial ou os
riscos iminentes, os operadores da barragem deverão rebaixar imediatamente o nível
d’água no reservatório, de forma a reduzir a possibilidade de ruptura da barragem com
consequências catastróficas. Ao se concretizar este tipo de ruptura, os operadores
deverão solicitar imediatamente a recomposição da área afetada pela cunha de ruptura e
efetuar avaliações detalhadas das possíveis causas e das medidas de contorno para se
evitar um novo evento de mesma natureza.

Neste tipo de ruptura, a existência da plataforma ferroviária a jusante da Barragem de


Rejeitos Casa de Pedra pode vir a contribuir no sentido de reduzir possíveis danos
ambientais a jusante. A estrutura da ponte atua como ponto de estrangulamento no vale
a jusante e, caso ocorra o extravasamento de rejeitos neste cenário, o vão sob a ponte
poderá ser rapidamente vedado, conformando um barramento provisório para os rejeitos
mobilizados, até a adoção de uma solução definitiva.

6.2 – CADEIA DE DECISÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS INTERVENIENTES

Lima et al. (2008) apresentam uma proposta para a cadeia de decisão e identificação dos
fatores intervenientes em um evento crítico, centrada em dois pilares, de naturezas
administrativa e operacional. Viseu e Almeida (2000), por outro lado, estabelecem esta
caracterização e abordagem dos problemas em três níveis: Nível 1, interno à empresa;

122
nível 2 constituído pelo nível 1 acrescido das autoridades legais e o nível 3, que
acrescenta aos níveis 1 e 2, o centro de crise.

Para a implementação da cadeia de decisão e identificação dos intervenientes para a


Barragem de de Rejeitos Casa de Pedra, foram definidos cinco níveis, correspondentes
aos níveis de criticidade estabelecidos na matriz de criticidade do FMECA.

Desta forma, para casa nível de criticidade, atribuiu-se uma série de funções no quadro
funcional hierárquico da Mineração Casa de Pedra como responsáveis pela tomada de
decisão. Neste sentido, à medida que cresce a criticidade da emergência na barragem de
rejeitos, cresce também a responsabilidade e os níveis hierárquicos das tomadas de
decisão.

Na sequência, são apresentadas as funções dos profissionais que devem ser acionados
para cada nível de criticidade da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra tendo como
referência a hierarquia funcional:

• Nível 1: constituído pelos Engenheiros Geotécnicos e Técnicos em Geologia e


Pesquisa (operadores da barragem);

• Nível 2: constituído pelos Coordenadores de infra-estrutura da Mina e Expansão,


Coordenador de Segurança do Trabalho, Coordenador do Meio Ambiente,
Engenheiro Especialista em Barragens, Técnicos em Meio Ambiente, Técnicos
em Segurança do trabalho, Engenheiros Geotécnicos e Técnicos em Geologia e
Pesquisa;

• Nível 3: constituído pelo Gerente de Área de Infra Estrutura da Mina e da


Expansão, Gerente de Área do Meio Ambiente, Coordenadores de infra-
estrutura da Mina e Expansão, Coordenador de Segurança do Trabalho,
Coordenador do Meio Ambiente, Engenheiro Especialista em Barragens,
Técnicos em Meio Ambiente, Técnicos em Segurança do trabalho, Engenheiros
Geotécnicos, Técnicos em Geologia e Pesquisa e consultoria externa;

• Nível 4: constituído pelo Gerente Geral da Mina, Gerente Geral de Planejamento


a Longo Prazo, Gerente Geral da Expansão, Gerente de Área do

123
Beneficiamento, Gerente de Área da Mina, Gerente de Área de Infra Estrutura
da Mina e da Expansão, Gerente de área do Meio Ambiente, Coordenadores de
infra-estrutura da Mina e Expansão, Coordenador de Segurança do Trabalho,
Coordenador do Meio Ambiente, Engenheiro Especialista em Barragens,
Técnicos em Meio Ambiente, Técnicos em Segurança do trabalho, Engenheiros
Geotécnicos, Técnicos em Geologia e Pesquisa e consultoria externa;

• Nível 5: constituído pelo Diretor da área Mineral, Gerente Geral da Mina,


Gerente Geral de Planejamento a Longo Prazo, Gerente Geral da Expansão,
Gerente de Área do Beneficiamento, Gerente de Área da Mina, Gerente de Área
de Infra Estrutura da Mina e da Expansão, Gerente de área do Meio Ambiente,
Coordenadores de infra-estrutura da Mina e Expansão, Coordenador de
Segurança do Trabalho, Coordenador do Meio Ambiente, Engenheiro
Especialista em Barragens, Técnicos em Meio Ambiente, Técnicos em
Segurança do trabalho, Engenheiros Geotécnicos, Técnicos em Geologia e
Pesquisa e consultoria externa.

Para todos os níveis de emergência, propõe-se também a criação de grupos de apoio


para auxiliar as equipes na comunicação das emergências, prestar assistência social às
possíveis vítimas da ruptura da barragem e garantir o fornecimento de suprimentos, que
deverão ser assim constituídos:

• Grupo de Assistência Social: Gerente de Segurança Patrimonial, Assistente


Social, Coordenador de RH e Supervisor do Corpo de Bombeiros;

• Grupo de Comunicação: Especialista em Comunicação, Analista de


Comunicação, Advogado e Consultoria Externa;

• Grupo de Apoio Administrativo: Coordenador de Serviços Gerais, Supervisor de


Segurança Patrimonial, Analista de Consolidação de Informações, Supervisor de
Almoxarifado e Supervisor de Transportes.

No caso de uma eventual ruptura da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, deverá ser
criado ainda um centro de emergência, coordenado pelo Diretor da Área Mineral, com

124
apoio do Gerente Administrativo Financeiro, que deverá cumprir o papel de centralizar
todas as informações e deliberações relativas ao acidente.

A Figura 6.4 apresenta a estrutura da cadeia de decisão, em projeto gráfico de cores


diferenciadas, estabelecida para cada nível de emergência e proposta para a Barragem
de Contenção de Rejeitos Casa de Pedra.

Figura 6.4: Estrutura da Cadeia de Decisão para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra

Cada nível da cadeia de decisão foi colorido na mesma cor dos níveis da matriz de
criticidade, de forma a facilitar a identificação dos profissionais que deverão ser
acionados para cada nível de emergência. É importante destacar que os acionamentos
aos níveis superiores são acumulativos; assim, por exemplo, ao ser acionado o nível 5,
todos os responsáveis pelos níveis 1, 2, 3 e 4 também devem ser acionados. Os grupos
de apoio a emergências serão acionados em todos os níveis de emergência.

Os órgãos públicos municipais e estaduais devem ser acionados à medida que for
identificado a necessidade em cada nível de emergência. Entre estes órgãos, destacam-
se as prefeituras das Cidades de Congonhas e Jeceaba, Defesa Civil, Polícia Civil e
Militar, Corpo de Bombeiros, Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).

A concessionária de transporte ferroviário MRS Logística SA deve ser acionada em


qualquer evento que possa ameaçar a integridade da barragem, em função da
proximidade e dos potenciais danos à ferrovia oriundas de uma eventual ruptura da

125
barragem. O Anexo V apresenta a estruturação geral dos procedimentos para
acionamento dos órgãos e profissionais envolvidos, e seus respectivos meios de contato.

Para atuação durante situações de emergência, deverão ser criadas diversas equipes de
trabalho que deverão desempenhar as seguintes funções, sob treinamento prévio e sob
orientação dos responsáveis pela tomada de decisão:

• Equipe de inspeção e avaliação de risco: esse grupo terá como missão


inspecionar periodicamente a barragem e analisar as leituras dos instrumentos de
monitoramento;

• Equipe de avaliação técnica: a função desse grupo será avaliar os problemas


porventura ocorridos e definir soluções, bem como manter contato com os
consultores;

• Equipe de operações: esse grupo comandará as operações quando o acidente


ocorrer, definindo atividades, providenciando todo o apoio logístico necessário e
acompanhando as equipes de trabalho;

• Equipe de suprimentos: será responsável por providenciar e disponibilizar os


materiais e equipamentos necessários aos trabalhos;

• Equipe de comunicações: será responsável por fornecer informações aos


funcionários, aos moradores de áreas próximas ao acidente e à imprensa, bem
como fazer contato com entidades governamentais, objetivando apoio ou
assistência;

• Equipe de assistência: terá como função prestar assistência médica local às


pessoas que porventura necessitarem, providenciando sua remoção e
acompanhando-as em casos de maior gravidade.

6.3 – TOMADA DE DECISÃO

A tomada de decisão de acionamento das ações previstas, para cada nível de alerta de
emergência identificado para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, deverá ocorrer

126
imediatamente após detectada e confirmada a emergência. A opção de desencadear as
ações o mais cedo possível deve-se ao grande risco de perda de vidas, danos ao meio
ambiente, danos nas propriedades e perdas econômicas, caso a situação de risco evolua
até a ruptura da barragem.

Assim, cada profissional identificado como responsável na cadeia de decisão e


identificação dos fatores intervenientes deve iniciar imediatamente a comunicação e
decidir ações para contornar a situação de risco. A equipe de operações deverá
comparecer imediatamente ao local e, em função do nível de emergência detectado,
delimitar a área de risco envolvida, providenciando o seu isolamento. No caso de se ter
um tempo muito curto entre a constatação do risco e a ruptura da barragem, a equipe de
operações deverá acionar imediatamente o sistema de emergência para o rebaixamento
de lâmina d’água.

O rejeito deverá, a partir da constatação da emergência, ser conduzido para outro


reservatório, mantendo-se aí o seu lançamento até a normalização do funcionamento da
Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, ou eventualmente, a produção da planta deverá ser
suspensa.

As informações sobre o acidente deverão ser fornecidas de forma clara e objetiva, pela
Equipe de Comunicações, enfatizando-se os procedimentos adotados para segurança de
pessoas, do meio ambiente, para recuperação da barragem e mitigação dos danos. As
informações sobre as causas do acidente devem ser fornecidas de forma cuidadosa, após
aprovação prévia pelo Centro de Emergência, pois explicações técnicas precipitadas ou
mal interpretadas podem prejudicar a imagem da Mineração Casa de Pedra, os
empreendimentos minerais de maneira geral ou mesmo os profissionais da empresa.

6.4 – DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE ALERTA E NOTIFICAÇÃO DOS


PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS

Como já descrito anteriormente, os níveis de emergência foram definidos na gestão de


riscos, a partir da matriz de criticidade do FMECA. O sistema de alerta da Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra contém cinco diferentes ações de notificação dos responsáveis:

127
• Nível de alerta 1 (interno ou de vigilância): aplicável quando verificada a
probabilidade de ocorrência de evento perigoso em resultado de uma inspeção
visual, da análise dos dados da instrumentação ou ainda devido à previsão de
ocorrência de condições atmosféricas adversas. A situação pode ser rapidamente
contornada sem qualquer tipo de consequência a jusante e os responsáveis pela
tomada de decisão devem orientar as equipes de trabalho de forma a minimizar
os riscos. A comunicação do fato aos órgãos municipais e estaduais somente
ocorrerá no caso de danos persistentes, como no caso de contaminação ao meio
ambiente, por exemplo;

• Nível de alerta 2 (vigilância permanente ou de prevenção): aplicável quando


verificada a probabilidade de ocorrência de evento perigoso ou a detecção de
uma anomalia no maciço da barragem. Apesar de existir a convicção de a
situação poder ser contornada sem qualquer tipo de consequência a jusante, os
responsáveis pela tomada de decisão devem orientar as equipes de trabalho de
forma a minimizar os riscos. A comunicação do fato aos órgãos municipais e
estaduais somente ocorrerá no caso de danos persistentes, como no caso de
contaminação ao meio ambiente, por exemplo;

• Nível de alerta 3 (alerta geral ou prevenção especial): aplicável quando


verificada uma anomalia grave; existe a convicção de ser possível controlar a
situação, mas já se admite eventuais efeitos a jusante e/ou descargas imprevistas.
Os responsáveis pela tomada de decisão devem orientar as equipes de trabalho
de forma a minimizar ou mitigar as consequências. A comunicação do fato aos
órgãos municipais e estaduais deve ocorrer no sentido de alertar as autoridades e
a população sobre possíveis danos e descargas no vale a jusante;

• Nível de alerta 4 (catástrofe evitável): aplicável quando a ruptura é iminente,


mas existe tempo e meios de se evitar a catástrofe. Os grupos de apoio devem
comunicar o fato, imediatamente, a todos os órgãos públicos municipais,
estaduais e às empresas afetadas (descritas no Anexo V), de forma a evacuar a
população na zona de risco no vale a jusante. Todas as equipes de trabalho
devem atuar de forma a minimizar ou mitigar as consequências e, tão logo se

128
chegue a um consenso sobre as possíveis causas da ruptura e a melhor forma de
reconstruir o trecho afetado, deverão ser iniciados os procedimentos para
recomposição da barragem;

• Nível de alerta 5 (catástrofe inevitável): aplicável quando verificada a ruptura


ou a ruptura iminente da barragem; deve ser implantado o Centro de Emergência
e colocado à disposição da população um número de ligação gratuita (0800),
pelo qual a população atingida possa tirar dúvidas quanto a atuação e as
providências tomadas pela Mineração Casa de Pedra. Os grupos de apoio devem
comunicar o fato, imediatamente, a todos os órgãos públicos municipais
estaduais e as empresas afetadas (descritas no Anexo V), de forma a evacuar a
população na zona de risco no vale a jusante. Todas as equipes de trabalho
devem atuar de forma a minimizar ou mitigar as consequências.

No processo de tomada de decisão, não foram discriminadas as propriedades que podem


ser afetadas pela onda de inundação no caso de ruptura da barragem, apesar de serem
identificadas por meio do Anexo II; em caso real, tal comunicação ficará a cargo da
Defesa Civil e dos Órgãos Municipais, com apoio incondicional dos Grupos de Apoio e
Equipes de trabalho da Mineração Casa de Pedra.

6.5 – FORMALIZAÇÃO DO PAE E MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS

O PAE deve ser reconhecido pela Mineração Casa de Pedra como uma ferramenta de
apoio fundamental para contornar as situações de emergência. Neste contexto formal,
todas as funções da hierarquia da cadeia de decisão devem tomar conhecimento de suas
responsabilidades e aprovar o plano.

A Mineração Casa de Pedra deve simular anualmente todos os níveis de emergência, a


fim de detectar falhas e promover o treinamento dos envolvidos no PAE. Após a
simulação, devem ser revisados todos os procedimentos pré-estabelecidos de forma a se
corrigir as falhas detectadas. O plano deve ainda ser revisado após a conclusão de
alteamentos da barragem ou assim que ocorrerem alterações de responsáveis e dos
respectivos meios de contato. Uma cópia da ultima atualização do PAE deve ser

129
distribuída aos integrantes dos grupos de trabalho e a todos que eventualmente possam
ser acionados em casos de emergência.

Em ocasiões de emergência potencial, torna-se fundamental a permanência no local e o


acesso imediato aos profissionais responsáveis pela barragem. Especificamente na
Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, o pessoal deve permanecer na ombreira esquerda,
local seguro e que permite visão geral de todas as principais estruturas da barragem.
Todo o pessoal envolvido deve portar rádio de comunicação portátil e equipamentos de
segurança individual (EPI), de forma a desempenhar suas atividades com segurança.

No caso de ruptura da barragem ou da iminência de ruptura, todos os equipamentos de


terraplanagem da infra-estrutura da mina, os equipamentos do corpo de bombeiros, as
ambulâncias da medicina do trabalho, bem como geradores de energia e torres de
iluminação de emergência das equipes de manutenção deverão estar à plena disposição
do Grupo de Operações do PAE.

O cadastro de fornecedores da Mineração Casa de Pedra deverá ser mantido bastante


atualizado, possibilitando ao Grupo de Suprimentos atender de imediato todas as
demandas de fornecimento de insumos necessários durante as emergências.

130
CAPÍTULO 7

7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES COMPLEMENTARES

7.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

As barragens de contenção de rejeitos são reconhecidamente estruturas que geram


impactos ambientais significativos. Neste sentido, a gestão dos rejeitos está se tornando
um dos critérios pelos quais o desempenho ambiental das empresas de mineração seja
fortemente avaliado pela opinião pública e pelos órgãos de regulação ambiental. Além
disso, apesar de todos os avanços tecnológicos, as barragens de contenção de rejeitos e
de resíduos industriais continuam sofrendo rupturas e causando prejuízos econômicos,
sociais e ambientais. Uma razão comum para as falhas é que as barragens não são
implementadas de acordo com critérios adequados de projeto, construção e operação
(Duarte, 2008).

Nesse contexto, o trabalho desenvolvido nesta pesquisa, visando estabelecer uma


metodologia de gestão de riscos e a elaboração de um Plano de Ações Emergenciais
(PAE) aplicado a barragens de contenção de rejeitos tende a contribuir para uma prática
melhor da geotecnia de barragens nesta área, em termos da proposição de projetos mais
eficazes e mais confiáveis. A proposta, inserida em um estudo de caso real, viabiliza a
sua praticidade imediata.

A metodologia de análise dos modos de falha, seus efeitos e sua criticidade (FMECA) é
proposta para ser aplicada em todas as fases do projeto, com o objetivo de identificar os
modos de ruptura da barragem de rejeitos e, assim, propor melhorias efetivas. Quanto
mais cedo for possível identificar um dado modo de ruptura, menores serão os custos de
correção e maiores as possibilidades destas correções serem aplicadas sem maiores
consequências sobre o vale a jusante. A aplicação da metodologia FMECA à Barragem
de Rejeitos Casa de Pedra, na fase final de sua implantação, permitiu identificar os
potenciais modos de ruptura da barragem em sua fase operacional.

131
A aplicação da metodologia proposta de elaboração de um PAE, a partir dos níveis de
alerta da matriz de criticidade do FMECA, mostrou-se bastante consistente no sentido
de identificar e implementar, o mais cedo possível, ações necessárias de redução dos
riscos ou ainda de mitigação das consequências em caso de ruptura da Barragem de
Rejeitos Casa de Pedra.

Portanto, torna-se importante destacar algumas contribuições práticas do trabalho que


remetem à gestão da barragem em estudo de maneira mais confiável e segura, que são
explicitadas a seguir.

7.2 – PRINCIPAIS CONCLUSÕES

De uma maneira geral, a utilização da metodologia do FMECA para implementação da


gestão de risco aplicada a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra possibilitou identificar e
ordenar os principais problemas por perda de funcionalidade de suas estruturas e em
toda sua zona de influência na fase inicial de operação.

A implementação da metodologia FMECA possibilitou ainda a análise da maioria das


possíveis formas de ruptura, fornecendo os métodos de detecção e os parâmetros para a
tomada de decisão do plano de ações. Assim, a aplicação da metodologia mostrou-se ser
importante ferramenta na gestão de barragens de contenção de rejeitos, identificando as
deficiências do sistema e as medidas de redução ou mitigação dos riscos associados.

Em termos específicos, as seguintes conclusões podem ser apresentadas em função dos


resultados obtidos na abordagem da técnica ao caso real estudado:

7.2.1 – Gestão de riscos aplicada à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra

• A utilização da metodologia do FMECA para implementação da gestão de riscos


mostrou-se ser uma ferramenta bastante eficiente, de fácil e rápida aplicação,
devido à subjetividade e grande liberdade de atribuição de valores às classes de
probabilidades e consequências;

• Embora as análises tenham uma natureza francamente subjetiva, a adoção


complementar do método RPN (Risk Priorit Number), como ferramenta para

132
calibração da matriz de criticidade, demonstrou ser bastante pertinente, uma vez
que os resultados tenderam a ser consistentes em termos dos mesmos efeitos
mais e menos críticos;

• A matriz de criticidade definida (Figura 5.4) constitui uma ferramenta de análise


de grande apoio às fases de controle e de redução de riscos, por ser baseada em
operadores simples, que explicitam, de forma ordenada, os pontos mais críticos
e que merecem maior atenção quando da operação e manutenção da barragem;

• Os efeitos que apresentam maior risco de ruptura da barragem (classificados


como nível cinco na matriz de criticidade), que devem ser considerados assim
que identificados, são aqueles que estão relacionados à percolação excessiva
com carreamento de material pelo núcleo siltoso da barragem, à instabilização
associada a movimentos de massa de solo pelo talude de jusante, à perda de
estabilidade interna e/ou externa pelo tapete drenante e à percolação excessiva
pela fundação da barragem;

• A aplicação da técnica FMECA permitiu identificar efeitos que poderiam não


ser identificados devido à inexistência de instrumentos de monitoramento na
componente I.2 – Encostas, do sistema principal I – Bacia hidrográfica. Como
forma de contornar esta deficiência, recomenda-se aumentar o número e a
qualidade das inspeções e, eventualmente, adotar um modelo geotécnico-
estatístico para extrapolar as medições do maciço da barragem para as encostas;

• A instrumentação geotécnica da barragem desempenha um papel fundamental


em termos de uma adequada aplicação das técnicas de gestão de riscos e deve
ser mantida sempre em perfeito estado de conservação; com efeito, a detecção
precoce de um efeito possibilita a tomada de decisão e evita o agravamento da
situação (exemplo típico refere-se ao mecanismo de ruptura II.1.4.2 –
Percolação excessiva com carreamento de material pelo núcleo da barragem).
Assim, quanto mais tarde for detectado um dado problema potencial que possa
comprometer o desempenho da barragem, maior será o nível de alerta e maiores
as ações e as consequências devidas;

133
• Apesar de a barragem estar na fase final de implantação e em início de operação
não se tem definido, até o momento, um plano de leituras e interpretação dos
dados da instrumentação (problema crítico em termos dos dados de piezometria,
por exemplo, quando do enchimento do lago). Estas situações remetem ao
aumento do risco por não ser conhecido o comportamento geotécnico do maciço
da barragem;

• Como medidas de mitigação dos riscos, os operadores da barragem deverão


elaborar um plano de manutenção civil dos dispositivos de drenagem superficial,
vertedor e torre de tomada d’água, de forma que estes dispositivos possam ser
utilizados a qualquer momento e a plena capacidade, uma vez que são variadas
as causa iniciadoras dos modos de ruptura devido a problemas de manutenção
nas componentes III – Vertedor e IV – Torre de Tomada D’água;

• Os operadores da barragem deverão providenciar a cobertura vegetal das


encostas da componente principal I – Bacia hidrográfica, de forma a reduzir a
percolação e o carreamento de partículas sólidas e, consequentemente, os riscos
de escorregamentos que possam induzir quaisquer mecanismos de instabilização
da Barragem de Rejeitos Casa de Pedra, pois existem causas iniciadoras dos
modos de ruptura desta natureza relativas às componentes I.1.1 – Taludes e I.2
– Encostas.

• Deve-se revisar a atribuição das classes a cada uma das componentes básicas
sempre que ocorrer alterações significativas nas estruturas ou quando detectado
anomalias geotécnica da barragem.

7.2.2 – PAE Aplicado à Barragem de Rejeitos Casa de Pedra

• A implementação do PAE a partir da matriz de criticidade do FMECA abreviou


algumas das etapas da metodologia apresentada por serem comuns a ambas as
técnicas e facilitou em muito a definição dos níveis de alerta de risco para as
tomadas de decisão;

134
• A elaboração de um único PAE para as duas considerações de ruptura da
barragem, com e sem consequências catastróficas, implica em uma condição
conservadora, uma vez que a verificação da ocorrência sem consequências
catastróficas, embora não possa ser traduzida necessariamente em eventos de
consequências catastróficas, pode incrementar a tendência para tal condição;

• Uma vez que não foi implantado na Barragem de Rejeitos Casa de Pedra um
sistema de apoio a emergências, conforme proposto pela abordagem desta
dissertação, as tomadas de decisão podem ocorrer tardiamente, reduzindo-se a
eficiência do PAE. Outro sistema que deveria ter sido instalado é um sistema
sonoro de aviso de risco nas cidades e propriedades rurais nas áreas a jusante e
passíveis de inundação;

• A distribuição e prévio treinamento dos envolvidos, na tomada de decisão e na


sistemática de quem acionar e quando este profissional deveria ser acionado,
apresenta-se como um dos principais benefícios da metodologia proposta do
PAE, uma vez que a variedade de natureza e abrangência das situações possíveis
de risco é muito grande.

7.3 – CONCLUSÕES GERAIS

• Por se tratar de uma metodologia subjetiva de gestão e quantificação dos riscos,


o estabelecimento de valores para as classes de probabilidade e consequências
deve, ao término da análise, estar no mínimo de acordo com os níveis de
aceitabilidade de risco estabelecidos pela legislação. Adicionalmente, estes
índices poderiam ainda ser mais restritos, de acordo com parâmetros prescritos
pelo próprio proprietário da obra;

• Para cada nível de alerta do PAE, os responsáveis pela tomada de decisão devem
agir de forma a reduzir os efeitos e, assim, evitar que o comprometimento dos
cenários de emergência detectados previamente e o consequente acionamento de
um nível de alerta superior;

135
• A utilização conjunta das duas metodologias propostas neste trabalho: FMECA,
como instrumento e técnica de gestão de riscos e PAE, como instrumento e
técnica de planejamento para ações e tomadas de decisão em situações
emergenciais, para avaliação do desempenho da Barragem de Rejeitos Casa de
Pedra, mostrou-se ser uma proposta bastante prática e atraente pois, além de
orientar a operação da barragem, atendeu plenamente as exigências e prescrições
da legislação brasileira relativas às barragens de contenção de rejeitos.

7.4 – SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Neste trabalho, procedeu-se a uma ampla revisão bibliográfica acerca das metodologias
de análise e gestão de riscos aplicada à engenharia geotécnica, com foco maior no
método FMECA, que foi utilizado para a elaboração de um programa de gestão de
riscos para a Barragem de Rejeitos Casa de Pedra. No contexto dos programas de gestão
de risco, estes estudos poderiam ser complementados ou abordados por outras técnicas,
sendo recomendadas as seguintes proposições de estudos complementares:

• Implementar uma gestão de riscos de forma integrada, utilizando-se os métodos


de análise de risco por listas de verificação (checklist), análise de perigos e
operacionalidade e análise por árvore de eventos, de forma a disponibilizar uma
ferramenta mais completa aos operadores da barragem;

• Aplicar a metodologia FMECA a todas as barragens do sistema de disposição de


rejeitos da Mineração Casa de Pedra/CSN, de forma a se estruturar, como
critério de projeto, uma ferramenta mais ampla de gestão de risco do sistema,
objetivando ordenar os efeitos que devem ser tratadas prioritariamente de acordo
com a criticidade;

• Aplicar a metodologia FMECA de gestão de riscos para as etapas subsequentes


(fases 2 e 3 de alteamento) da barragem Casa de Pedra, nas fases de projeto,
execução e operação;

• Aplicar a metodologia FMECA a casos de barragens de contenção de rejeitos


que sofreram rupturas e, por meio destas retro-análises, verificar a

136
adequabilidade das ferramentas de gestão de risco e fornecendo valores mais
consistentes para os índices relativos às classes de probabilidade e consequência
reduzindo-se, assim, a subjetividade dos métodos;

• Aplicar a metodologia FMECA (ou quaisquer outras técnicas de planejamento e


gestão de riscos) a outros tipos de barragens ou a outras estruturas geotécnicas,
com o objetivo de divulgar o estado da arte e expandir a utilização da
metodologia na área da engenharia geotécnica;

• Após o término de enchimento do lago e estabilizada a linha freática no maciço


da barragem, realizar estudo para elaboração da carta de riscos relativa à
estabilidade do maciço e incorporar estes dados à matriz de criticidade.

Com relação à elaboração do PAE, sugerem-se como pesquisas futuras:

• Estudo da amplificação da onda de inundação ao longo do vale a jusante da


Usina Hidrelétrica de Salto do Paraopeba, no caso da ruptura desta estrutura se
somar aos efeitos e às consequências da ruptura da Barragem de Rejeitos Casa
de Pedra;

• Estudo da ruptura de outras barragens de contenção de rejeitos com o objetivo


de estabelecer, de forma criteriosa e generalizada, parâmetros para quantificar os
recursos (equipamentos, materiais e pessoal) necessários durante o atendimento
de emergências.

137
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CONSELHO DE POLÍTICA AMBIENTAL - COPAM. Deliberação Normativa No


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147
ANEXO I

FORMULÁRIO BASE PARA APLICAÇÃO


DA METODOLOGIA DO FMEA
UTILIZANDO O RPN

148
ANEXO II

MAPA PLANIALTIMÉTRICO DA REGIÃO DE


IMPLANTAÇÃO DA BARRAGEM DE REJEITOS
CASA DE PEDRA/ CSN E ESTIMATIVA DAS
ÁREAS AFETADAS PELA ONDA DE
INUNDAÇÃO

150
ANEXO III

PLANILHA DE CÁLCULO DO INDICE DE


CRITICIDADE (ICR) DOS MODOS DE RUPTURA
DA BARRAGEM DE REJEITOS CASA DE
PEDRA/ CSN

152
Cálculo do Icr
Classe das Índice de ponderação Classe das Índice de ponderação Indice de criticidade
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR
consequências das consequências (c) probabilidades das probabilidades (p) Icr (p x c)

I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) I 1 A 1 1


Redução do volume da barragem E1
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) I 1 B 2 2
Ravinamento E2 II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) I 1 A 1 1
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) II 3 A 1 3
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) II 3 D 8 24
Redução do volume do maciço E3
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) II 3 C 5 15
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) I 1 B 2 2
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) I 1 A 1 1
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) I 1 A 1 1
Arraste de partículas sólidas E4
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) I 1 B 2 2
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) I 1 C 5 5
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) III 5 A 1 5
Contaminação das zonas envolvidas pelo rejeito E5 I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) III 5 A 1 5
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) II 3 B 2 6
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) I 1 A 1 1
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) I 1 A 1 1
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) I 1 B 2 2
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) II 3 D 8 24
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) II 3 B 2 6
Perda de estanqueidade do sistema E6
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) I 1 B 2 2
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) II 3 B 2 6
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) II 3 C 5 15
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) III 5 E 10 50
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) III 5 C 5 25
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) III 5 E 10 50
Colmatação do sistema drenante E7
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) II 3 C 5 15
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) III 5 B 2 10
Erosão superficial E8
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) I 1 B 2 2
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) III 5 C 5 25
Percolação excessiva no maciço de jusante E9 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) III 5 D 8 40
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) III 5 C 5 25
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) I 1 C 5 5
Erosão interna do núcleo E 10 II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) II 3 E 10 30
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) II 3 C 5 15
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) III 5 C 5 25
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) V 10 E 10 100
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) II 3 C 5 15
Piping E 11 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) II 3 D 8 24
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) II 3 C 5 15
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) III 5 C 5 25
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) III 5 D 8 40
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) I 1 A 1 1
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) IV 7 D 8 56
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) III 5 B 2 10
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) III 5 C 5 25
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) II 3 B 2 6
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) I 1 B 2 2
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12 II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) II 3 C 5 15
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) IV 7 E 10 70
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) II 3 C 5 15
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) II 3 D 8 24
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) II 3 C 5 15
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) II 3 D 8 24
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) II 3 D 8 24
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) III 5 A 1 5
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) III 5 B 2 10
Galgamento E 13
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) IV 7 D 8 56
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) IV 7 D 8 56
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) IV 7 A 1 7
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) IV 7 B 2 14
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) V 10 A 1 10
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) IV 7 D 8 56
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) IV 7 C 5 35
Ruptura da barragem E 14
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) IV 7 B 2 14
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) IV 7 C 5 35
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) V 10 E 10 100
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) IV 7 D 8 56
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) V 10 D 8 80
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) III 5 A 1 5
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) III 5 B 2 10
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) II 3 A 1 3
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) V 10 D 8 80
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) V 10 C 5 50
Onda de inundação E 15
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) V 10 B 2 20
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) IV 7 C 5 35
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) V 10 E 10 100
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) V 10 D 8 80
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) III 5 D 8 40
Classe das Índice de ponderação Classe das Índice de ponderação Indice de criticidade
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR
consequências das consequências (c) probabilidades das probabilidades (p) Icr (p x c)

II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) III 5 C 5 25


II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) III 5 D 8 40
Afogamento do sistema drenante E 16 II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) III 5 C 5 25
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) III 5 D 8 40
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) IV 7 D 8 56
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) III 5 D 8 40
Erosão interna do filtro E 17
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) III 5 D 8 40
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) II 3 D 8 24
Aumento do nível de água no reservatório E19
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) II 3 D 8 24
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) II 3 D 8 24
Redução da capacidade de vertimento E 20
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) II 3 D 8 24
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) I 1 D 8 8
Entupimento com redução da capacidade de vertimento E 21
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) I 1 D 8 8
Dano no canal e na escada de dissipação de energia E 22 III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) II 3 D 8 24
Dano na torre e na galeria E23 IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) II 3 D 8 24
ANEXO IV

PLANILHA DE CÁLCULO DO NÚMERO DE


PRIORIDADE DE RISCO (RPN) DOS MODOS
DE RUPTURA DA BARRAGEM DE REJEITOS
CASA DE PEDRA/ CSN

155
Cálculo do RPN Severidade Ocorrência Detecção
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR RPN
(S) (O) (D)
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 1 1 4 4
Redução do volume da barragem E1
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 1 1 4 4
Ravinamento E2 II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 6 5 1 30
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 7 5 1 35
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 8 5 1 40
Redução do volume do maciço E3
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 6 5 1 30
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 6 5 2 60
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 6 4 3 72
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 6 4 3 72
Arraste de partículas sólidas E4
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 6 4 3 72
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 7 5 1 35
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 7 4 5 140
Contaminação das zonas envolvidas pelo rejeito E5 I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 7 4 5 140
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 7 4 5 140
I.1.1(1) Percolação excessiva I.1.1(1) 6 3 3 54
I.1.2(1) Percolação excessiva I.1.2(1) 6 3 5 90
I.2(1) Percolação excessiva I.2(1) 3 6 3 54
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 7 5 2 70
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 7 6 2 84
Perda de estanqueidade do sistema E6
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 7 6 4 168
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 7 6 5 210
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 7 3 2 42
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 8 3 2 48
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 4 3 96
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 8 7 5 280
Colmatação do sistema drenante E7
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 7 5 280
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 6 6 3 108
Erosão superficial E8
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 6 6 2 72
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 7 8 2 112
Percolação excessiva no maciço de jusante E9 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 7 8 2 112
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 7 8 3 168
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 7 7 3 147
Erosão interna do núcleo E 10 II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 8 4 288
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 7 7 3 147
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 7 3 168
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 8 6 432
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 8 6 6 288
Piping E 11 II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 7 6 6 252
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 7 6 6 252
II.2.1(1) Percolação excessiva II.2.1(1) 8 7 6 336
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 7 7 343
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 7 7 1 49
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 8 7 2 112
II.1.2(2) Deformação excessiva II.1.2(2) 7 6 2 84
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 7 7 1 49
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 7 7 3 147
II.1.3(2) Deformação excessiva II.1.3(2) 7 6 3 126
Redução do Fator de Segurança (FS) E 12 II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 5 6 4 120
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 5 6 5 150
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 6 7 3 126
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 7 3 126
II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 6 7 3 126
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 7 3 126
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 6 3 126
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 7 6 4 168
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 7 3 168
Galgamento E 13
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 7 7 2 98
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 7 7 2 98
Severidade Ocorrência Detecção
Descrição do efeito Identificação do efeito Descrição dos Modos de Ruptura (MR) Identificação dos MR RPN
(S) (O) (D)
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 6 4 3 72
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 6 4 192
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 6 5 2 60
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 9 8 5 360
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 8 7 4 224
Ruptura da barragem E 14
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 8 8 6 384
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 7 5 280
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 10 8 6 480
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 7 7 4 196
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 8 7 5 280
I.1.1(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.1.1(2) 4 4 6 96
I.2(2) Instabilização associada a movimentos de massa de solo I.2(2) 8 8 5 320
II.1.1(1) Erosão II.1.1(1) 8 8 2 128
II.1.2(1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo II.1.2(1) 9 9 5 405
II.1.2(3) Erosão superficial II.1.2(3) 9 8 2 144
Onda de inundação E 15
II.1.3 (1) Instabilização associada a movimentos de massa de solo(durante a fase de enchimento do lago) II.1.3 (1) 8 8 4 256
II.1.4(1) Percolação excessiva sem carreamento de material II.1.4(1) 8 8 4 256
II.1.4(2) Percolação excessiva com carreamento de material II.1.4(2) 9 9 5 405
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 8 8 4 256
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 8 8 4 256
II.1.5(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.5(1) 6 7 5 210
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 7 5 210
Afogamento do sistema drenante E 16 II.1.6(1) Insuficiente capacidade drenante II.1.6(1) 6 7 4 168
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 7 5 210
II.3.1(1) Percolação excessiva II.3.1(1) 7 7 5 245
II.1.5(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.5(2) 6 5 6 180
Erosão interna do filtro E 17
II.1.6(2) Perda de estabilidade interna e/ou externa II.1.6(2) 6 5 6 180
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 7 8 2 112
Aumento do nível de água no reservatório E19
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 7 8 2 112
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 4 5 2 40
Redução da capacidade de vertimento E 20
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 4 5 2 40
III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 4 5 2 40
Entupimento com redução da capacidade de vertimento E 21
IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 4 5 2 40
Dano no canal e na escada de dissipação de energia E 22 III(1) Mau funcionamento hidráulico III(1) 2 4 2 16
Dano na torre e na galeria E23 IV(1) Mau funcionamento hidráulico IV(1) 2 4 2 16
ANEXO V

ESTRUTURA HIERÁRQUICA DE
ACIONAMENTO DO PAE APLICADO A
BARRAGEM DE REJEITOS CASA DE
PEDRA/ CSN

158
Telefone Celular E-mail Endereço
Engenheiros Geotécnicos
Nível - 1
Técnicos em Geologia e Pesquisa

Coordenadores de infra-estrutura da Mina e Expansão

Coordenador de Segurança do Trabalho

Coordenador do Meio Ambiente


Nível - 2
Engenheiro Especialista em Barragens

Técnicos em Meio Ambiente

Técnicos em Segurança do trabalho


Gerente de Área de Infra Estrutura da Mina e da
Expansão
Nível - 3 Gerente de área do Meio Ambiente

Consultoria externa.

Gerente Geral da Mina

Gerente Geral de Planejamento a Longo Prazo

Nível - 4 Gerente Geral da Expansão

Gerente de Área do Beneficiamento

Gerente de Área da Mina

Nível - 5 Diretor da área Mineral

CENTRO DE CRISE (0800______)

Gerente Administrativo Financeiro


Grupo de Assistência Social

Gerente de Segurança Patrimonial

Assistente Social

Coordenador de RH

Supervisor do Corpo de Bombeiros

Especialista em Comunicação
Grupo de Comunicação
GRUPOS DE APOIO

Analista de comunicação

Advogado

Consultoria Externa
Grupo de Apoio Administrativo

Coordenador de Serviços Gerais

Supervisor de Segurança Patrimonial

Analista de Consolidação de Informações

Supervisor de Almoxarifado

Supervisor de transporte

Prefeitura
ORGÃOS PÚBLICOS MUNICIPAIS

Defesa Civil
Cidade 1

Policia Civil

Policia Militar

Corpo de Bombeiros

Prefeitura

Defesa Civil
Cidade 2

Policia Civil

Policia Militar

Corpo de Bombeiros
ESTADUAI
PÚBLICOS

Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)


ORGÃOS

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos


S

Naturais (IBAMA)
Companhia Energetica de Minas Gerais (CEMIG) -
Usina Hidrelétrica de Salto do Paraopeba
Companhia Energetica de Minas Gerais (CEMIG) - Usina
Hidrelétrica de Salto do Paraopeba
EMPRESAS
AFETADAS
MRS - Logística

Centro de Controle Operacional - CCO

Gerente da Via Permanente


S.A.

Gerente de Operações

Estação Ferroviária da Plataforma

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