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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO

Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto


Departamento de Engenharia de Minas
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral – PPGEM

AVALIAÇÃO DO FECHAMENTO DE MINA A PARTIR DOS


PROCESSOS MINERÁRIOS DA SUPERINTENDÊNCIA DO DNPM
DE MINAS GERAIS

Autor: JARDEL CARVALHO DIAS

Orientadores: Prof. Dr. HERNANI MOTA DE LIMA


Prof. Dr. JOSÉ CRUZ DO CARMO FLORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação do Departamento de Engenharia de
Minas da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia Mineral.

Área de concentração:
Lavra de Minas

Ouro Preto/MG
Março de 2013.
Dedico a Deus, a minha família, a minha
companheira Lilian e ao querido Xangô.
AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal de Ouro Preto pelo ensino público e de qualidade;

Ao orientador professor Dr. Hernani Mota de Lima pela amizade, dedicação e


orientação durante a elaboração da dissertação;

Ao coorientador professor Dr. José Cruz do Carmo Flôres pela amizade, apoio e
valiosas contribuições;

Ao professor Dr. Wilson Trigueiro de Souza pelas colaborações durante a defesa do


projeto de qualificação;

Ao Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM pela autorização para o


afastamento para fins de capacitação;

Aos servidores do DNPM Miguel Antônio Cedraz Nery, Roberto da Silva, Vanda Lima
de Andrade, José Eduardo Alves Martinez, Antônio Eleutério de Souza, Celso Luiz
Garcia, Ana Lúcia Guará Bezerra, Romel Amarildo Vasconcelos Costa, Guilherme
Santana Lopes Gomes, Sebastião Domingos de Oliveira e Carla Ferreira Vieira Martins.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela


concessão da bolsa de estudos;

Ao meu Pai, Engenheiro de Minas Jaime Dias pelo apoio, disponibilidade e


contribuições preciosas;

À minha companheira Lilian, pelo carinho, auxílio inestimável, paciência excessiva e


incentivo para a elaboração deste trabalho, em todos os momentos;

Ao professor da UFMG Dr. Raul Zanoni Lopes Cançado pelo envio da carta de
recomendação para participar do processo seletivo do Mestrado na UFOP;

À Luciana Mourão da AMIG – Associação dos Municípios Mineradores de Minas


Gerais;

Aos professores, funcionários e colegas do PPGEM/UFOP, em especial, Luis


Guilherme Esteves Leocádio, Josmar de Freitas Alvarenga e Gustavo Fontes Lopes.
RESUMO
Ao longo da história da mineração, o fechamento inadequado de minas e o
abandono de áreas mineradas ocasionaram passivos ambientais, impactos sociais e
econômicos. O gerenciamento desses passivos ambientais e de alguns impactos que se
tornaram perpétuos, representam sérios problemas e um desafio para diversas esferas de
governo, empresas e comunidades locais. No Brasil, muitas minas encontram-se em
processo de exaustão de suas reservas economicamente lavráveis, o que resultará
fatalmente na desativação dos respectivos empreendimentos mineiros. O Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), com o objetivo de regulamentar as questões
sobre o fechamento de mina, elaborou as Normas Reguladoras de Mineração (NRM) e
estabeleceu os procedimentos administrativos e operacionais para o fechamento de mina
(NRM nº 20). Segundo esta Norma, o plano de fechamento de mina deve estar
contemplado no Plano de Aproveitamento Econômico (PAE) e deve ser apresentado
juntamente com o requerimento de lavra para outorga da Portaria de Lavra, quando da
aprovação pelo DNPM. A NRM nº 20 especifica quais são os instrumentos
comprobatórios que devem ser apresentados para o fechamento de mina. O presente
trabalho avaliou a situação do fechamento de mina a partir dos processos minerários da
Superintendência do DNPM de Minas Gerais. A partir desse estudo verificou-se como
estão sendo apresentados os planos de fechamento de mina quando da Outorga da
Portaria de Lavra; quais critérios de análise e procedimentos de aprovação são adotados
pelo DNPM; identificou-se lacunas na legislação mineral vigente sobre o fechamento de
mina e foi proposto aperfeiçoamento da NRM nº 20. Esse estudo serve de subsídio ao
DNPM na eventual elaboração de um manual de desativação de empreendimentos
mineiros.
ABSTRACT
Throughout the history of mining, inadequate closure of mines and abandoned mining
areas caused environmental liability and social and economic impacts. The
management of these environmental liabilities and some impacts that have become
perpetual, pose serious problems and challenges to various spheres of government, the
mining industry and local communities. In Brazil, many mines are in the process of
exhaustion of its economically exploitable reserves, resulting inevitably in the
decommissioning of the respective mining projects. The National Department of
Mineral Production (DNPM), with the goal of regulating mine closure issues, drafted
the Regulating Mining Rules (NRM) and established the administrative and operational
procedures for mine closure (NRM nº 20). According to this Standard, the mine closure
plan must be contemplated in the Economic Exploitation Plan (PAE) and must be
submitted with the application for grant the mining rights upon approval by DNPM.
The NRM nº 20 specifies which are the supporting instruments that must be presented in
the mine closure plan. This study evaluated the mine closure status of the mining
processes in the office of DNPM in Minas Gerais State. This study shows as the mine
closure plans are presented for granting the mining rights, which criteria analysis and
approval procedures are adopted by DNPM, the gaps identified on the mine closure
standard and propos improvement of NRM nº 20. This study also intents to serve as a
subsidy to an eventual preparation of a DNPM manual of mine closure procedures.
“No passado, as empresas mineradoras deixavam um rastro de
devastação. Vivíamos a Idade da Pedra da sustentabilidade.”
Eike Batista
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................8


LISTA DE TABELAS ...................................................................................................11
LISTA DE SIGLAS .......................................................................................................12
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................... 14
CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MINERAÇÃO .............21
CAPÍTULO 3 – LEGISLAÇÃO MINERAL ..................................................................31
CAPÍTULO 4 – FECHAMENTO DE MINA .................................................................45
4 .1 – CONTEXTO NACIONAL ................................................................ 45
4 .2 – CONTEXTO INTERNACIONAL .................................................... 55
4.2.1 – CHILE ..................................................................................55
4.2.2 – PERU .................................................................................... 56
4.2.3 – COLÔMBIA .........................................................................57
4.2.4 – EUA ...................................................................................... 58
4.2.5 – CANADÁ .............................................................................59
4.2.6 – AUSTRÁLIA .......................................................................61
4.3 – RAZÕES PARA O FECHAMENTO DAS MINAS ........................ 62
4.4 – CICLO DE VIDA DE UMA MINA E PLANEJAMENTO DO
FECHAMENTO DE MINA ........................................................... 66
4.5 – TIPOS DE FECHAMENTO E USO PREVISTO PARA A ÁREA
MINERADA...................................................................................71
4.6 – IMPACTOS DO FECHAMENTO DAS MINAS .......................... 75
4.7 – ESTRUTURA E CONTEÚDO BÁSICO DE UM PLANO DE
FECHAMENTO DE MINA .......................................................... 79
CAPÍTULO 5 – SÍNTESE DO FECHAMENTO DE MINA NO ÂMBITO DO DNPM
DE MINAS GERAIS ......................................................................................................84
CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................111
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Valor total da arrecadação da CFEM dos municípios de MG no ano de


2011 .................................................................................................................................19

FIGURA 2: Participação do Quadrilátero Ferrífero na arrecadação da CFEM em Minas


Gerais. .............................................................................................................................. 19

FIGURA 3: Principais razões para o fechamento de minas na Austrália entre os anos de


1981 a 2005 ..................................................................................................................... 65

FIGURA 4: Ciclo de Vida de uma Mina e Planejamento do Fechamento de Mina........66

FIGURA 5: Foto do Projeto do Hotel em uma área de uma antiga pedreira desativada.75

FIGURA 6: Impactos Ambientais do Fechamento de Minas na Austrália entre os anos


de 1981 a 2005.................................................................................................................78

FIGURA 7: Distribuição dos processos segundo o regime de aproveitamento dos


recursos minerais. ............................................................................................................87

FIGURA 8: Distribuição da situação do PAE no DNPM/MG ........................................87

FIGURA 9: Distribuição dos processos quanto ao método de lavra. .............................. 88

FIGURA 10: Distribuição das substâncias minerais nos processos minerários. .............88

FIGURA 11: Quantitativo dos planos de fechamento apresentados nos processos


minerários em cumprimento a NRM nº 20. .....................................................................89

FIGURA 12: Síntese das respostas ao questionário aplicado para análise dos planos de
fechamento submetidos ao DNPM/MG. .........................................................................89

FIGURA 13: Cumprimento da exigência de apresentação do relatório dos trabalhos


efetuados, segundo a NRM nº 20 . ..................................................................................95

FIGURA 14: Cumprimento da exigência da caracterização das reservas remanescentes,


segundo a NRM nº 20 .....................................................................................................96

8
FIGURA 15: Cumprimento da exigência do plano de desmobilização das instalações
equipamentos, segundo a NRM nº 20 ............................................................................97

FIGURA 16: Cumprimento da exigência da atualização dos levantamentos topográficos


da mina, segundo a NRM nº 20 ...................................................................................... 97

FIGURA 17: Cumprimento da exigência da planta da mina com as áreas lavradas


recuperadas, impactadas recuperadas e áreas por recuperar, segundo a NRM nº 20 .....98

FIGURA 18: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e


monitoramento relativo a sistemas de disposição e contenção, segundo a NRM nº 20 .98

FIGURA 19: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e


monitoramento relativo a taludes em geral, segundo a NRM nº 20 ............................... 99

FIGURA 20: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e


monitoramento relativo ao comportamento do lençol freático, segundo a NRM nº 20 .99

FIGURA 21: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e


monitoramento relativo a drenagem das águas, segundo a NRM nº 20 ....................... 100

FIGURA 22: Cumprimento da exigência do plano de controle da poluição do solo,


atmosfera e recursos hídricos, com caracterização dos parâmetros controladores,
segundo a NRM nº 20 ...................................................................................................100

FIGURA 23: Cumprimento da exigência do plano de controle de lançamentos de


efluentes com caracterização de parâmetros controladores, segundo a NRM nº 20 ....101

FIGURA 24: Cumprimento da exigência de conformação topográfica e paisagística


levando em consideração aspectos sobre a estabilidade, segundo a NRM nº 20 .........101

FIGURA 25: Cumprimento da exigência das medidas para impedir o acesso à mina de
pessoas estranhas e interditar com barreiras os acessos às áreas perigosas, segundo a
NRM nº 20 .................................................................................................................... 102

FIGURA 26: Cumprimento da exigência de definição dos impactos ambientais nas


áreas de influência do empreendimento levando em consideração os meios físico,
biótico e antrópico, segundo a NRM nº 20 ...................................................................103

9
FIGURA 27: Cumprimento da exigência de aptidão e intenção de uso futuro da área,
segundo a NRM nº 20 ...................................................................................................104

FIGURA 28: Cumprimento da exigência de relatório das condições de saúde


ocupacional dos trabalhadores durante a vida útil do empreendimento mineiro, segundo
a NRM nº 20 .................................................................................................................105

FIGURA 29: Cumprimento da exigência do cronograma físico e financeiro das


atividades propostas, segundo a NRM nº 20 ................................................................ 106

10
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Classificação das Minas no Brasil ............................................................. 15

TABELA 2: Ranking da arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de


Recursos Minerais (CFEM) nos municípios do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais
(MG) no ano de 2011 ......................................................................................................18

TABELA 3: Impacto do Fechamento das Minas de Carvão na Inglaterra. ..................... 77

TABELA 4: Impacto Social do Fechamento das Minas de Carvão na Inglaterra. ..........78

TABELA 5: Comparativo de informações básicas para os planos de fechamento de


mina ................................................................................................................................ 82

TABELA 6: Situação dos processos/minas quanto ao plano de fechamento ..................86

11
LISTA DE SIGLAS

AIA – AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

AMIG – ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS MINERADORES DE MINAS GERAIS

AML – THE ABANDONED MINE LAND

ANZMEC – AUSTRALIAN AND NEW ZELAND MINERALS AND ENERGY


COUNCIL

CETESB – COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

CFEM – COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA EXPLORAÇÃO DE RECURSOS


MINERAIS

COPAM – CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL

DFAM – DIRETORIA DE FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDADE MINERÁRIA

DGTM – DIRETORIA DE GESTÃO DE TÍTULOS MINERÁRIOS

DMP – DEPARTMENT OF MINES AND PETROLEUM

DNPM – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL

D.O.U – DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO

EIA – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

EUA – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

EPA – ENVIRONMENTAL PROTECTION AUTHORITY

GRI – GLOBAL REPORTING INICIATIVE

IBRAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO

ICMM – INTERNACIONAL COUNCIL ON MINING AND METALS

IISD – INTERNATIONAL INSTITUTE FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT

ISO – INTERNACIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION

IUM – IMPOSTO ÚNICO SOBRE MINERAIS

MME – MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA

MMSD – MINING, MINERALS AND SUSTAINABLE DEVELOPMENT

NRM – NORMAS REGULADORAS DE MINERAÇÃO

OHSAS – OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY ASSESSMENT SERVICES

12
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

PAE – PLANO DE APROVEITAMENTO ECONÔMICO

PNM – PLANO NACIONAL DE MINERAÇÃO

PRAD – PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

RAL – RELATÓRIO ANUAL DE LAVRA

RIMA – RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL

SEAQUA – SISTEMA ESTADUAL DE ADMINISTRAÇÃO DA QUALIDADE


AMBIENTAL

SEMAD – SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

SGM – SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO


MINERAL

SMCRA – SURFACE MINING CONTROL AND RECLAMATION ACT

TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

13
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

A mineração é fundamental para o crescimento econômico de um país e para o


bem estar da humanidade já que fornece bens minerais essenciais para atender as
necessidades básicas da sociedade. Contudo, tem-se observado, como consequência
dessa atividade, efeitos negativos, dentre eles, imensas áreas degradadas e danos
ambientais irreversíveis.

O setor mineral representa atualmente uma parcela expressiva na economia


nacional. Em 2010, reconhecendo a importância desse setor para o País, o Ministério de
Minas e Energia (MME), lançou o Plano Nacional de Mineração 2030, que prevê
investimentos da ordem de US$ 350 bilhões para o setor até 2030. Segundo análise
feita pela Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de
Minas e Energia (SGM/MME), em 2012, as exportações do setor somaram US$ 57
bilhões e as importações de bens minerais totalizaram US$ 29,6 bilhões (BRASIL,
2013). A indústria de mineração é responsável pela geração de centenas de milhares de
postos de trabalho. De acordo com estudos do Instituto Brasileiro de Mineração
(IBRAM) a cada emprego direto na mineração são gerados na cadeia produtiva 13
empregos indiretos.

O Brasil atualmente possui grandes e variadas reservas minerais, destacando as


reservas de nióbio, minério de ferro, bauxita, cassiterita e ocupa posição de destaque
como grande produtor mundial de minério de ferro, bauxita, magnesita, talco e caulim.
A produção mineral do Brasil segundo o Anuário Mineral Brasileiro (2010) tem como
origem 3.370 minas, das quais:

160 minas são de grande porte (acima de 1 milhão de toneladas/ano de


ROM, 4,75% do total);
834 minas são de médio porte (abaixo de 1 milhão de toneladas/ano e
acima de 100 mil toneladas/ano de ROM, 24,75% do total);
2.376 minas são de pequeno porte (abaixo de 100 mil toneladas/ano e
acima de 10.000 toneladas/ ano de ROM, 70,50 % do total).

14
Estas minas, de acordo com a tabela 1, estão divididas nas seguintes classes:

Classes GRANDE PORTE MÉDIO PORTE PEQUENO PORTE


Metálicos 58 57 66
Não-Metálicos 99 757 2.293
Gemas e Diamantes - 3 10
Energéticos 3 17 7
TOTAL 160 834 2.376

Tabela 1 – Classificação das Minas no Brasil.


Fonte: DNPM - Anuário Mineral Brasileiro (2010).

O Estado de Minas Gerais apresenta maior relevância na produção nacional de


bens minerais correspondendo a aproximadamente metade da produção mineral
brasileira. Nesse Estado localiza-se o Quadrilátero Ferrífero com um histórico de mais
de três séculos de mineração e que se constitui como uma das mais importantes regiões
mineradoras do Brasil devido à sua contribuição para o setor mineral do país, uma vez
que representa 91% da arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração dos
Recursos Minerais (CFEM) do Estado (Figuras 1 e 2). No entanto, apesar de toda essa
potencialidade econômica, a mineração se caracteriza por ser uma atividade extrativa de
recursos naturais não renováveis. Com a exaustão das reservas minerais, os
empreendimentos mineiros implantados, com suas minas exauridas ou inviáveis do
ponto de vista técnico, econômico ou ambiental, têm que ser desativados, em
decorrência da impossibilidade da continuidade das atividades de lavra.

Existem no Brasil poucas minas que são devidamente desativadas. Reis e


Barreto (2001) ressaltam que a desativação de um empreendimento mineiro é um
conceito que ainda não está completamente definido e entendido, porque não se teve a
oportunidade de vivenciá-lo extensivamente pela novidade que representa, pela
inexperiência no assunto, pela falta de dados comparativos. Para complementar,
trabalhos de Laurence (2011) apontam dados significativos do impacto do fechamento
de minas no meio ambiente, na saúde pública e na segurança das pessoas.

Ao longo da história da mineração, o fechamento inadequado de minas e o


abandono de áreas mineradas ocasionaram passivos ambientais, impactos sociais e
econômicos. Entre os impactos estão o desemprego, a perda de renda local, a
degradação de áreas, a drenagem ácida, a esterilidade de solos, as alterações das

15
condições de drenagem, a erosão, a contaminação de águas superficiais e subterrâneas,
o assoreamento de recursos hídricos, os rompimentos de barragens de rejeitos, os
desabamentos e subsidências.

Segundo estudos de Worrall et al (2009) estima-se uma quantidade de minas


abandonadas ou órfãs1 nos EUA em mais 600 mil minas, na Austrália mais de 32.000
minas, no Canadá cerca de 10.100 minas, no Reino Unido aproximadamente 11.700
minas, na África do Sul perto de 8.000 minas, na Suécia um total de 1.000 minas, no
Japão quase 5.500 minas. No Brasil, ainda não existe uma registro sobre as minas
abandonadas ou órfãs. O gerenciamento desses passivos ambientais e de alguns
impactos que se tornaram perpétuos, representam sérios problemas e um desafio para
diversas esferas de governo, empresas e comunidades locais. Por isso, o estudo
específico do fechamento de minas tem por finalidade definir as diretrizes e
procedimentos para que a mineração seja praticada de forma responsável e sustentável,
mantendo sempre uma interface com as questões econômicas, ambientais e sociais
envolvidas com todo o empreendimento. Devido a sua complexidade o tema
“fechamento de mina” deve ser discutido com mais profundidade por todas as partes
envolvidas, visando buscar novas diretrizes, regulamentações e soluções, tendo em vista
as carências do setor nesses aspectos.

Em Relatório de Auditoria (Processo: TC 005.711/2011-8, Data da Sessão:


21/3/2012), o Tribunal de Contas da União (TCU), avaliou os procedimentos do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) na fiscalização de unidades
produtivas e constatou que a autarquia não está devidamente aparelhada para controlar e
fiscalizar as atividades de mineração no território nacional.

Consta ainda no referido relatório que:


A Superintendência de Minas Gerais, responsável por fiscalizar quase
metade da produção mineral brasileira, não é capaz de executar todas
as suas atribuições, havendo priorização de algumas atividades, em
prejuízo de outras, tendo sido destacado pelo próprio gestor que a
mesma não dispõe de meios suficientes para atender os anseios da
sociedade. (TCU: 2012)

Diante desses fatos, e dada à importância do tema fechamento de mina, a


presente dissertação tem como objetivo investigar como o plano de fechamento está
sendo apresentado, analisado e aprovado no Departamento Nacional de Produção

1
Minas em que não é possível identificar os responsáveis pelas atividades de lavra.

16
Mineral (DNPM), visto ser essa peça obrigatória no Plano de Aproveitamento
Econômico, que deve ser aprovado pelo DNPM para outorga da Portaria de Lavra. O
Estado de Minas Gerais será analisado neste estudo devido a sua maior participação na
produção mineral brasileira (49,4%)2 e a sua diversidade geológica. Essa análise terá
como foco a região do Quadrilátero Ferrífero devido a sua importância e contribuição
para o setor mineral do país.

A partir desse estudo pretende-se verificar como estão sendo apresentados os


planos de fechamento de mina quando da Outorga da Portaria de Lavra; quais critérios
de análise e procedimentos de aprovação são adotados pelo DNPM; identificar lacunas
na legislação mineral vigente sobre o fechamento de mina, assim como, propor
melhorias para todo o processo de fechamento de mina. Vislumbra-se ainda, com esse
estudo, fornecer subsídios ao DNPM na eventual elaboração de um manual de
desativação de empreendimentos mineiros.

A metodologia adotada para esse estudo consistiu nas seguintes etapas a seguir:

Revisão bibliográfica do tema, em níveis nacional e internacional;


Identificação e cadastramento dos municípios mineradores mais importantes do
Quadrilátero Ferrífero, tendo por base a arrecadação da Compensação Financeira
pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM) no ano de 2011;
Selecionar os municípios que obtiveram arrecadação de CFEM acima de 10
milhões de reais no ano de 2011;
Dentre esses municípios, selecionar as minas com maior contribuição para a
arrecadação da CFEM aos cofres municipais;
Verificar junto ao DNPM, nos respectivos processos minerários das minas
identificadas, se foi apresentado o plano de fechamento de mina, conforme o
disposto na legislação mineral vigente;
Verificação dos planos apresentados quanto ao cumprimento dos quesitos
exigidos pela legislação mineral vigente para o fechamento de mina, a
metodologia de análise adotada pelo DNPM e os despachos do órgão;
Análise quantitativa e qualitativa dos dados levantados.

2
Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – SEDE (2011).

17
A Tabela 2 apresenta o ranking da arrecadação da Compensação Financeira pela
Exploração de Recursos Minerais (CFEM) nos municípios do Quadrilátero Ferrífero em
Minas Gerais (MG) no ano de 2011.
Município Total 100% Total 65%
NOVA LIMA 119.419.514,10 77.622.684,17
ITABIRA 118.150.100,79 76.797.565,51
MARIANA 98.812.313,42 64.228.003,72
SÃO GONÇALO DO RIO
ABAIXO 90.828.126,72 59.038.282,37
ITABIRITO 59.489.357,32 38.668.082,26
BRUMADINHO 53.806.448,15 34.974.191,30
CONGONHAS 52.644.913,57 34.219.193,82
ITATIAIUÇU 24.690.096,78 16.048.562,91
OURO PRETO 22.238.936,23 14.455.308,55
BARÃO DE COCAIS 22.144.903,11 14.394.187,02
SANTA BÁRBARA 13.929.007,24 9.053.854,71
SABARÁ 8.768.162,93 5.699.305,90
CATAS ALTAS 8.655.719,30 5.626.217,55
SARZEDO 5.117.672,42 3.326.487,07
MATEUS LEME 4.563.053,86 2.965.985,01
ITAÚNA 3.178.799,79 2.066.219,86
SÃO JOAQUIM DE BICAS 3.152.046,59 2.048.830,28
IGARAPÉ 2.099.018,93 1.364.362,30
BELO VALE 746.409,06 485.165,89
CONSELHEIRO
LAFAIETE 619.330,37 402.564,74
BETIM 418.401,64 271.961,07
IBIRITÉ 418.353,46 271.929,75
CAETÉ 374.934,91 243.707,69
RIO ACIMA 334.633,65 217.511,87
SANTA LUZIA 241.879,15 157.221,45
BELO HORIZONTE 181.818,70 118.182,16
ESMERALDAS 99.086,80 64.406,42
MÁRIO CAMPOS 40.323,95 26.210,57
RIO MANSO 705,57 458,62
TOTAL: 715.164.068,51 464.856.644,53

Tabela 2 – Ranking de Arrecadação de CFEM nos municípios do Quadrilátero Ferrífero em 2011.


Fonte: Modificada a partir de DNPM apud AMIG (Associação dos Municípios Mineradores de Minas
Gerais) (2011)
Valores em Reais
Os recursos da CFEM (100% arrecadados) são distribuídos da seguinte forma:
12% para a União;
23% para o Estado onde foi extraída a substância mineral;
65% para o município produtor.

18
Figura 1: Valor total da arrecadação de CFEM dos municípios de MG no ano de 2011: R$
512.773.877,69
Fonte: DNPM (2011)

Figura 2: Participação do Quadrilátero Ferrífero na arrecadação da CFEM em Minas Gerais.


Fonte: DNPM (2011)

19
Com essa metodologia foram selecionados 32 processos minerários utilizando o
Cadastro Mineiro do DNPM/MG, que foram enumerados de 1 a 32. Por se tratar de
informações de caráter sigiloso, omitiu-se os nomes das empresas mineradoras, as
localizações e os nomes das minas.

Esta dissertação está estruturada em 6 capítulos, incluindo o presente capítulo


introdutório que aborda a importância do tema, a justificativa para o trabalho, os
objetivos propostos, a metodologia adotada e a forma de organização da estrutura da
dissertação.

O capítulo 2 descreve as discussões de desenvolvimento sustentável e a


incorporação desse conceito na indústria de mineração.

O capítulo 3 aborda as principais características dos direitos minerários, em


vigor, além de fazer uma descrição do seu ordenamento jurídico e dos principais
regimes de aproveitamento econômico dos recursos minerais, assim como, dos direitos
e dos deveres dos titulares dos referidos direitos de lavra.

O capítulo 4 descreve o fechamento de mina no âmbito nacional e internacional,


as principais razões que motivam o fechamento das minas, a importância de planejar o
fechamento de mina, as formas previstas de fechamento de mina e uso futuro previsto
para a área minerada, os impactos do fechamento das minas, além de apontar a estrutura
e o conteúdo básico de um plano de fechamento de mina.

O capítulo 5 apresenta à análise da situação do fechamento de mina nos


processos minerários da Superintendência do DNPM de Minas Gerais, os principais
dados levantados, os resultados e as discussões.

O capitulo 6 é dedicado às considerações finais, com base nos capítulos


anteriores.

20
CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MINERAÇÃO

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em


Estocolmo no ano de 1972, foi o marco para as discussões de sustentabilidade e um
passo importante no desenvolvimento do conceito de desenvolvimento sustentável.
Paralelamente a isso, um grupo de renomados cientistas, juntamente com outros
cidadãos, preocupados com a temática ambiental, reunia-se em Roma para debater a
crise ambiental global que se expandia a uma taxa alarmante. Mais tarde, esse grupo
chamado “Clube de Roma” produziria um relatório intitulado “Os Limites do
Crescimento”, alertando como a sociedade industrial, nas últimas décadas, estava
excedendo os limites ecológicos do planeta, como já sinalizara Thomas Malthus (1766-
1834), em sua “Teoria dos Limites”, considerada a precursora do conceito de
desenvolvimento sustentável. Esta teoria apontou uma descontinuidade entre o
crescimento populacional e a produção de alimentos no mundo, ou seja, enquanto a
população aumentava seguindo uma progressão geométrica, a produção de alimentos
aumentava em progressão aritmética.

Essas discussões despertaram a atenção para que o meio ambiente e o


desenvolvimento fossem pensados e discutidos simultaneamente e que, para isso, seria
necessário repensar as atuais formas de desenvolvimento levando em consideração o
respeito ao meio ambiente e o futuro do planeta. No entanto, o termo “Desenvolvimento
Sustentável” somente apareceu pela primeira vez em 1987 no relatório “Nosso Futuro
Comum”, também conhecido por Relatório Brundtland, da Comissão Mundial de Meio
Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) onde se
definiu “Desenvolvimento Sustentável” como aquele “que atende as necessidades do
presente, sem comprometer e impossibilitar as gerações futuras de também atenderem
as suas”. Esta nova forma de desenvolvimento, além de considerar os aspectos
econômicos na tomada de decisão, deve considerar ainda os aspectos ambientais e
sociais.

A utilização deste conceito tem aumentado significativamente em nível nacional


e internacional, uma vez que o mesmo vem sendo incorporado às políticas públicas de
governo, nas agências internacionais e organizações empresariais. Na indústria da
mineração, nota-se recentemente uma preocupação maior por parte das empresas,
sobretudo de capital aberto, em divulgar suas práticas em relação ao desenvolvimento

21
sustentável. Algumas dessas empresas, listadas na bolsa de valores, participam do
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) - “ferramenta para análise comparativa
da performance das empresas sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada
em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança
corporativa” (BM&FBovespa, 2012). Utilizando esse conceito, divulgam
voluntariamente suas ações de responsabilidade social e sustentabilidade através de
Relatórios de Sustentabilidade, seguindo as diretrizes da Global Reporting Iniciative
(GRI), “uma organização não governamental internacional, com sede em Amsterdã, na
Holanda, cuja missão é desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para a
elaboração de relatórios de sustentabilidade” (INSTITUTO ETHOS, 2012).

Esses Relatórios têm como finalidade prestar contas às “partes interessadas”


sobre o desempenho econômico, social e ambiental das empresas. A GRI define partes
interessadas como

organizações ou indivíduos que possam ser significativamente


afetados pelas atividades, produtos e/ou serviços da organização e
cujas ações possam afetar significativamente a capacidade da
organização de implementar suas estratégias e atingir seus objetivos
com sucesso. Isso inclui organizações ou indivíduos cujos direitos nos
termos da lei ou de convenções internacionais lhes conferem
legitimidade de reivindicações perante a organização. (GRI: 2006,
11).

Verifica-se, atualmente, uma mudança nas práticas de negócios de algumas


empresas que estão preocupadas também em atender as expectativas da sociedade.
Nota-se que muitas agem de forma proativa, demonstrando que não estão apenas
compromissadas com as determinações legais, mas também com os princípios éticos,
que buscam o fim das desigualdades sociais e das degradações ambientais. Muitas
dessas empresas, deliberadamente, apresentam certificações de gestão ambiental de
acordo com a norma ISO 14001, adotam diretrizes de responsabilidade social em
observância à norma ISO 26000 e aplicam sistemas de gestão em saúde e segurança
ocupacional baseados na norma OHSAS 18001. Desta maneira, buscam alcançar uma
“Licença Social” em seus projetos e maior aceitação perante a sociedade,
principalmente nas comunidades nas quais estão inseridas.

22
Contrariamente, parte da sociedade advoga que a mineração é uma atividade
insustentável em termos ambientais e sociais e que muitas empresas alcançam
certificações, por razões de mercado, apesar de continuar a poluir o meio ambiente,
visto que a única exigência necessária para obter essas certificações é a existência de um
plano de prevenção e mitigação dos danos ambientais. Almeida apud Enríquez e
Drummond (2007) afirma que tais certificações não envolvem avaliação de
desempenho, sendo tão somente um reconhecimento de princípios e normas que devem
ser seguidos pelas empresas.

Em 2012, durante a realização da Rio + 20, Conferência das Nações Unidas


sobre Desenvolvimento Sustentável, ao mesmo tempo que o Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM) apresentava as práticas de sustentabilidade na mineração nos
últimos 20 anos, um grupo de ativistas, denominado “Articulação Internacional dos
Atingidos pela Vale”3 lançava o “Relatório de Insustentabilidade da Vale 2012” que, de
acordo com estes ativistas, esta empresa é responsável por impactos socioambientais e
irregularidades em suas operações.

Uma crítica comum em relação a desenvolvimento sustentável versus mineração


diz respeito ao argumento que a atividade de mineração não pode ser sustentável uma
vez que os recursos minerais não são renováveis. Nitsch apud Enríquez (2008, 95)
afirma que “a mineração é insustentável, já que os minerais são recursos
inevitavelmente exauríveis. Por isso, não faz sentido falar em sustentabilidade na
mineração”. De fato, os empreendimentos que extraem recursos minerais devem, em
algum momento, encerrar suas atividades de lavra devido à exaustão da reserva mineral
ou à inexistência de condições técnicas, econômicas e ambientais que permitam a
continuidade da lavra de um depósito mineral.

Por outro lado, Reis e Barreto (2001, 2) afirmam que “o recurso mineral não se
esgota, simplesmente assume outras formas e propriedades, e, neste sentido, não se
perde para as futuras gerações: ao contrário, seu uso e aplicação resultam em
agregação de valor e são o patrimônio ou riqueza das gerações presentes e passadas às
futuras”. Mikesell apud Worrall et al (2009) sugere que a sustentabilidade na indústria
mineral pode ser alcançada reinvestindo as receitas geradas pela mineração em

3
Para maiores informações acessar o site http://atingidospelavale.wordpress.com/

23
atividades sustentáveis que fiquem disponíveis para as futuras gerações. Para Lima
(2002) a produção mineral pode ser sustentável com avanços tecnológicos e com o
melhor desempenho da indústria de mineração. O progresso tecnológico permite que
recursos minerais considerados inviáveis se transformem em reservas. Além disso,
torna-se viável o aproveitamento técnico e econômico de reservas com baixos teores e
em grandes profundidades. Desta forma, para estes autores é possível haver
sustentabilidade na mineração.

No entanto, a reutilização dos recursos minerais, por mais que possibilite a


ampliação da vida útil de algumas minas, não as impedem de exaurir. Assim, pensar em
sustentabilidade não se restringe somente a pensar na exaustão dos recursos minerais, e
sim em todas as etapas de extração mineral, isto é, da prospecção mineral até o
fechamento de mina.

Sachs apud Bellen (2006, 33) afirma que o conceito de desenvolvimento


sustentável apresenta cinco dimensões: sustentabilidade social, econômica, ecológica,
geográfica e cultural. Gibson (2006) menciona ainda que a sustentabilidade é um
conceito integrativo multidimensional que relaciona o social, o econômico e o
ecológico. Além disso, deve considerar, entre outros aspectos, o local e o global, o
humano e o biofísico, o presente e o futuro, o universal e o contexto específico.

Enríquez e Drummond (2007) apontam que muitas empresas na área de


mineração interpretam o conceito de sustentabilidade como sinônimo de gerenciamento
ambiental, considerando unicamente o aspecto da deterioração física ambiental,
enquanto outras questões econômicas e sociais muitas vezes são ignoradas.

Para que a sustentabilidade possa ser avaliada, tanto na mineração quanto em


outras atividades, é necessário reconhecer como pilares os aspectos econômicos, sociais
e ecológicos. Qualquer tentativa de avaliar essas questões isoladamente levaria a
negligenciar assuntos relevantes e a comprometer o equilíbrio de todo o processo de
sustentabilidade, instaurando conflitos entre as partes. A sustentabilidade deve buscar,
nessas atividades, a minimização dos impactos negativos, assim como, a maximização
dos impactos positivos. Além disso, o conceito de sustentabilidade requer a inclusão e
participação de empresas e das partes interessadas (agências reguladoras, governos,
comunidades envolvidas, empregados) em todo o processo de tomada de decisão, como
também o planejamento adequado e perspectiva de longo prazo.

24
Para relacionar a discussão de mineração versus sustentabilidade é importante
contextualizar a criação do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). O
DNPM foi criado em 1934, período de grandes transformações econômicas no país.
Curado e Cruz (2008,407) ressaltam que “a partir de 1933 deu-se o início da
industrialização do Brasil, já que a partir desse ano, o ritmo de crescimento da
economia passou a ser determinado pelo ritmo de expansão do setor industrial”. Nesse
período verificou-se um processo de urbanização e diversificação da estrutura industrial.
O Brasil migrava de uma economia agrária para industrial. Almeida (1999) aponta que
“A partir dos anos 30, à medida que a modernização capitalista transformava de forma
dramática a estrutura econômica do país, a participação governamental direta na
produção de bens e na provisão de serviços de utilidade pública foi crescendo
sistematicamente”.

O Código de Minas de 1934 (Decreto nº 24.642 de 10 de julho de 1934,


publicado em 20 de julho de 1934) que foi recepcionado pela Constituição de 1934,
naquilo que não a contrariasse, significou grande transformação do direito das minas em
nosso país. As jazidas de substâncias minerais úteis à indústria, bem como as minas,
passaram a constituir propriedade distinta da do solo e não parte integrante deste (ou do
subsolo) e seu aproveitamento tornou-se dependente de autorização ou concessão da
União, de acordo com o regime instituído no Código de Mineração. Na forma deste
Código, as jazidas conhecidas continuavam a pertencer aos proprietários do solo,
enquanto as desconhecidas, quando descobertas, seriam incorporadas ao patrimônio da
União, como propriedade imprescritível e inalienável.

Desta forma, verifica-se o maior controle e poder do Estado em setores


estratégicos para o desenvolvimento nacional. Almeida (1999) aponta que a partir dos
anos 40, a criação de empresas estatais foi um instrumento importante para promover e
dirigir a industrialização no país. No setor de mineração, em 1942 o governo anunciava
a criação da Companhia Vale do Rio Doce. O DNPM criado em 1934 tinha, nesse
contexto, o objetivo de disciplinar e fomentar a indústria mineral. As discussões sobre
sustentabilidade somente iniciaram em 1972, ou seja, aproximadamente 38 anos após a
criação do DNPM. O atual Código de Mineração e seu Regulamento, que se encontram
vigentes e estão sendo executados pelo DNPM, foram instituídos pelo Decreto- Lei nº
227 de 28 de fevereiro de 1967 e Decreto nº 62.934, de 2 de julho de 1968,
respectivamente. Como se observa, também são anteriores às discussões sobre

25
sustentabilidade, hoje tão em voga. Assim, pode-se inferir que o DNPM não tendo
participado e incorporado tais discussões, fez com que surgisse um descompasso entre
as atividades de mineração e o meio ambiente.

O que pode ser constatado observando a exposição de motivos do Código de


Mineração de 1967 que visou a:

I- Estimular o descobrimento e ampliar o conhecimento de


recursos minerais do País;
II- Utilizar a produção mineral como instrumento para acelerar o
desenvolvimento econômico e social do Brasil, mediante o
aproveitamento intenso dos recursos minerais conhecidos, quer para
consumo interno, quer para exportação;
III- Promover o aproveitamento econômico dos recursos minerais e
aumentar a produtividade das atividades de extração, distribuição e
consumo de recursos minerais;
IV- Assegurar o abastecimento do mercado nacional de produtos
minerais;
V- Incentivar os investimentos privados na pesquisa e no
aproveitamento dos recursos minerais;
VI- Criar condições de segurança jurídica dos direitos minerais, de
modo a evitar embaraços ao aproveitamento dos recursos minerais e
estimular os investimentos privados na mineração.

Em 10 de novembro de 2010, o Governo Federal, por meio da Secretaria de


Geologia, Mineração e Transformação Mineral – SGM, do Ministério de Minas e
Energia – MME, lançou o Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM – 2030). Este
plano tem como objetivo orientar a formulação de políticas públicas de médio e longo
prazos que possam contribuir para que o setor mineral seja um alicerce para o
desenvolvimento sustentável nos próximos 20 anos. Segundo esse plano, sua construção
tem como diretrizes:

governança pública eficaz para promover o uso dos bens minerais


extraídos no País no interesse nacional e criar as condições para
atração de investimentos produtivos;

agregação de valor e adensamento de conhecimento por todas as


etapas do setor mineral, desde a geologia, pela contribuição à

26
descoberta de jazidas e ao ordenamento territorial, até a mineração e a
transformação mineral, pelo estímulo à expansão de cadeias
produtivas minerais no País, convergindo na multiplicação de renda,
emprego e P, D & I; e

sustentabilidade como premissa, pelo incentivo a uma atividade


mineral que propicie ganho líquido à geração presente, pela criação de
novas oportunidades, e por um legado positivo às gerações futuras,
pela manutenção da qualidade ambiental do território tanto durante a
extração quanto no pós-fechamento das minas, inclusive propiciando a
diversificação produtiva que as rendas mineiras possibilitam.

Esse plano tem como principais desafios, no que tange a mineração e a


sustentabilidade, a segurança e saúde ocupacional, a regularização da mineração em
áreas com restrição legal, a mineração na Amazônia, a produção sustentável e mudanças
climáticas, a produção sustentável e reciclagem e o fechamento de mina. No entanto,
alguns desses temas, como o fechamento de mina, ainda carecem de melhores diretrizes
e regulamentações, devido à sua complexidade. Este tema, por conseguinte, deve ser
mais bem estudado e aprofundado, levando em consideração as discussões atuais sobre
desenvolvimento sustentável.

Um dilema em relação ao desenvolvimento sustentável consiste em avaliar a


sustentabilidade. Observa-se que ainda não existe um consenso sobre como medir a
sustentabilidade. Veiga (2009,432) afirma “é impossível vislumbrar alguma forma de
mensurar o desenvolvimento sustentável, ou tão somente a sustentabilidade ambiental,
que possa vir a ter ampla aceitação. Todavia, vêm surgindo muitas iniciativas que
procuram se aproximar de tão ambicioso propósito”. Alguns estudos propõem
ferramentas como sistemas de indicadores para mensurar a sustentabilidade.

A utilização de indicadores permite averiguar o comportamento e o desempenho


dos processos e fazer inferências; auxilia no planejamento e gerenciamento do sistema e
na tomada de decisão. De acordo com Junior (2006), os indicadores sinalizam como um
determinado processo se encontra e demonstram como as tarefas estão sendo
desenvolvidas. Eles oferecem informações que indicam o estado das etapas de um
processo. Para esse autor, os indicadores são medidores de uma atividade, expressam

27
uma informação que pode ser medida, sendo assim, podem ser comparadas e
administradas.

Bellen (2006, 42) esclarece que indicadores têm como objetivo “agregar e
quantificar informações de modo que sua significância fique mais aparente. Eles
simplificam as informações sobre fenômenos complexos tentando melhorar com isso o
processo de comunicação”.

Ness (2007) descreve ferramentas e instrumentos utilizados para avaliar a


sustentabilidade. O autor propõe metodologias e indicadores de desempenho para aferir
se a sustentabilidade está sendo alcançada. No caso de indicadores, é recomendado que
estes sejam simples, sensíveis, quantificáveis, temporais, confiáveis, duradouros e
integráveis. De forma complementar, Villas-Bôas (2002) recomenda que tais
indicadores tenham características de relevância, transparência e clareza, facilidade de
entendimento dos mesmos, credibilidade e que sejam fundamentados em dados
existentes e de fácil observação e aquisição. Entre alguns instrumentos e ferramentas
para avaliar a sustentabilidade, estes autores elencam indicadores de pressão ambiental,
análise do ciclo de vida do produto, nível de qualidade da água, eficiência energética,
análise de fluxo de materiais e de energia, nível de satisfação social, nível de
desenvolvimento humano e etc.

Em 1996, o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD),


reuniu pesquisadores e especialistas em mensuração da sustentabilidade, de todo
mundo, na Fundação Educacional e Centro de Conferências Rockfeller, na Itália, para
avaliar e fazer uma síntese sobre o progresso alcançado em direção ao desenvolvimento
sustentável. Este encontro resultou nos “Princípios de Bellagio” que servem como um
guia para avaliação de todo o processo de desenvolvimento sustentável, incluindo desde
a escolha e o projeto de indicadores, a sua interpretação e a comunicação de resultados.
Esses princípios - que ao todo totalizam dez - segundo os autores, estão inter-
relacionados e devem ser aplicados de forma conjunta. Eles foram desenvolvidos para
serem utilizados tanto na avaliação de processos iniciais quanto para melhorar a
avaliação de processos já existentes e destinam-se a comunidades, organizações não
governamentais, empresas, instituições de governo nacionais e internacionais. De
acordo com o IISD, esses princípios devem envolver um guia de visões e metas,
perspectiva holística, elementos essenciais, escopo adequado, foco prático, abertura e

28
transparência, comunicação efetiva, ampla participação, avaliação contínua e
capacidade institucional.

A grande dificuldade em desenvolvimento sustentável persiste em estabelecer


critérios para medir os impactos do homem sobre o meio ambiente. Verifica-se,
atualmente, nos trabalhos que versam sobre indicadores de sustentabilidade, a falta de
indicadores de caráter universal, tornando-se a avaliação da sustentabilidade subjetiva,
pois, na mineração, cada mina é uma mina, com seu contexto específico, suas
características topográficas, geológicas e ambientais. Como afirma Penã (2002,34) “é
muito simples determinar se uma atividade não é sustentável, para isso basta saber
quais são os impactos negativos sobre o meio ambiente, contudo, o que é
verdadeiramente difícil é precisar quando se tem alcançado a sustentabilidade”.

Desta forma se concluí que a busca da objetividade para os indicadores acontece


em relação a contextos específicos, uma vez que estes indicadores serão desenvolvidos
a partir das demandas e interesses de tais contextos, já que não existe um padrão
internacional para indicadores de sustentabilidade na mineração.

Contudo alguns especialistas propõem indicadores de sustentabilidade que


podem ser aprofundados e aperfeiçoados para pensar a respeito da sustentabilidade na
indústria extrativa mineral. Vale (2002) aponta indicadores ambientais, tais como
consumo de energia, consumo de água, efluentes, emissões e rejeitos, materiais e
insumos; indicadores sociais, tais como, emprego, relações com a comunidade;
indicadores econômicos, tais como, valor da produção, faturamento, impacto
distributivo, massa de salários e encargos. Penã (2002) aponta indicadores como
conhecimento geológico, tecnologia, integração de recursos ao seu meio. Betancurth
(2002) aponta indicadores do tipo técnico, econômico, ambiental e social.

A sustentabilidade é um tema estratégico para o fechamento de mina. A


sociedade não admite mais o abandono de áreas mineradas e a degradação do meio
ambiente. Após o encerramento das operações mineiras, a mineração deve contribuir
para um legado positivo para as futuras gerações, minimizando os impactos ambientais
e socioeconômicos e fortalecendo a comunidade local. É imprescindível que o
desenvolvimento econômico da mineração seja exercido de forma harmonizada com a
proteção ambiental. O fechamento de mina é uma etapa na qual a conexão entre os
fatores ambientais, sociais e econômicos e os impactos gerados são diretamente sentidos

29
pela comunidade. Por isso, as empresas tem a oportunidade de demonstrar uma parte
das ações sustentáveis da mineração amenizando com isso a má reputação da atividade
minerária.

30
CAPÍTULO 3 – LEGISLAÇÃO MINERAL

Este capítulo tem como objetivo apresentar as principais características dos


direitos minerários, em vigor, além de fazer uma descrição do seu ordenamento jurídico
e dos principais regimes de aproveitamento econômico dos recursos minerais, assim
como, dos direitos e dos deveres dos titulares dos referidos direitos de lavra.

Com o fim de facilitar o entendimento de expressões usuais na Legislação


Minerária Brasileira, é recomendável que elas sejam previamente esclarecidas em suas
definições.

O Código de Mineração de 1967 considera em seu artigo 4º a jazida como “toda


a massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando à superfície ou
existente no interior da terra, e que tenha valor econômico; e mina, a jazida em lavra,
ainda que suspensa”. Em seu artigo 36 lavra é definida como “o conjunto de operações
coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração de
substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas”.
Ainda, segundo o Código a fase de “desenvolvimento”, ou seja, etapa de preparação
para a lavra, encontra-se, no contexto, como parte da mesma.

Para Paiva (1971) jazida é um conceito meramente geológico, enquanto mina


deve ser entendida como expressão de natureza jurídica, que traduz o aproveitamento da
jazida, em termos de atividade econômica e produtiva. No entanto, Freire (2010) aponta
que a jazida entra para o mundo jurídico com a publicação da aprovação do Relatório
Final de Pesquisa pelo DNPM, quando fica admitida oficialmente, por este Órgão, uma
reserva como técnica e economicamente viável. Contudo, a viabilidade técnica e
econômica de uma jazida somente poderá ser comprovada com o Plano de
Aproveitamento Técnico e Econômico. Assim, o Relatório Final de Pesquisa, mesmo
que aprovado pelo DNPM poderá ser julgado a posteriori improcedente por motivos
técnicos, econômicos e ambientais. Nesse caso, a massa mineralizada não poderá ser
classificada como uma jazida e ser transformada em uma mina.

O Direito Minerário é o ramo do Direito que estuda os instrumentos legais e


jurídicos de regulação da exploração e aproveitamento dos recursos minerais. Devido às
suas características especiais, constitui parte autônoma do Direito. Em sua prática

31
apresenta uma interface com vários ramos do Direito, entre eles, o Direito
Constitucional, o Direito Civil e o Direito Administrativo.

Para Herrmann (2000) o Direito Minerário deve levar em consideração as


principais características técnico-econômicas do setor de mineração, que são: rigidez
locacional, exauribilidade da jazida, transitoriedade do empreendimento, alto risco da
atividade, singularidade das jazidas e minas, dinâmica particular de um projeto mineiro
e monitoramento ambiental específico.

A rigidez locacional significa que o minerador não pode escolher


espontaneamente onde exercer sua atividade produtiva, porque as jazidas devem ser
lavradas onde a natureza as colocou. A exauribilidade das jazidas deriva do fato dos
recursos minerais serem bens naturais não renováveis, o que leva também à
transitoriedade do empreendimento mineiro. O alto risco da atividade decorre
normalmente da necessidade de vultosos investimentos, que exigem longos prazos de
maturação, mantendo continuamente um certo caráter de incerteza em relação aos seus
retornos.

A singularidade das minas deriva da grande diversidade de minerais, que


requerem uma correspondente diversidade de métodos de lavra e adaptações decorrentes
das especificidades dos minerais e seus condicionantes geológicos, assim como as
diferentes escalas de produção para cada tipo de mina. A dinâmica particular de um
projeto mineiro, em função de suas peculiaridades deve levar em conta que sua
operação pode alterar as características físicas locais e de seu entorno nas regiões onde
uma mina é operada. Além disso, a dinâmica desta atividade está relacionada com a
volatilidade dos preços das commodities nos mercados nacionais e internacionais. O
monitoramento ambiental específico é exercido em função de sua localização,
proximidades com ecossistemas locais, zonas de abastecimento urbano e restrições
ambientais.

Na concepção de Freire (2010) o Direito Minerário apresenta os seguintes


atributos:

 Tem origem constitucional, que lhe dá o contorno, limites e


garantias;
 Tem como objeto recursos minerais potenciais ou conhecidos;
 Deve ser exercido no interesse nacional;

32
 Tem como conteúdo uma atividade de interesse público, que é
transformar os recursos minerais em benefícios econômicos e
sociais;
 É completo. Trata-se de unidade jurídica autônoma e surte
efeitos por si só, não dependendo de qualquer Direito
Acessório para aperfeiçoar-se;
 Tem como meta econômica o fomento da mineração;
 É outorgado pela União por intermédio do Departamento
Nacional de Produção Mineral e do Ministério de Minas e
Energia, considerando suas competências legais;
 Contém os mesmos atributos do domínio;
 É exclusivo, visto que o titular terá prioridade para pesquisar e
lavrar outras substâncias contidas no polígono delineado por
seu Direito Minerário;
 Pode ser dado em garantia de cumprimento de quaisquer
obrigações, inclusive hipoteca;
 Pode tanto ser dado em penhora e penhorado tanto em
execução comum quanto fiscal;
 Pode ser livremente alienado a quem tenha capacidade e
legitimação para recebê-lo mediante prévio consentimento do
DNPM;
 É outorgado a quem primeiro o requerer regularmente;
 É obrigatoriamente exercido pelo setor privado;
 É obrigatoriamente exercido por brasileiros – natos ou
naturalizados – ou empresa constituída sob as leis brasileiras e
que tenha sede e administração no país;
 Tem unicidade por território;
 Possui os mesmos requisitos exigidos para os atos e processos
administrativos em geral;
 É perpétuo, visto que se vincula à exaustão da jazida;
 Não distingue entre solo e subsolo. Seu objeto alcança os
recursos e jazidas subterrâneas ou afloradas.

A evolução do ordenamento jurídico da exploração e aproveitamento dos


recursos minerais no Brasil vem desde o período colonial, tendo como principais
sistemas: dominical ou regaliano, fundiário ou de acessão e concessão.

No período colonial, onde predominava o sistema regaliano, a propriedade dos


recursos minerais pertencia à Coroa Portuguesa. A propriedade do solo era distinta dos
recursos minerais e jazidas, sendo o aproveitamento dos recursos minerais feito
diretamente pela Coroa, ou mediante autorização a terceiros que ficavam obrigados a
fazer o pagamento de uma contribuição à Coroa denominado “quinto” ou “dízimo”.

No início da República, em 1891, o sistema dominical ou regaliano se


transforma em fundiário ou de acessão em que se atribui a propriedade da jazida ao
proprietário do solo. O parágrafo 17 do artigo 72 da Constituição de 1891 estabeleceu
que “o direito de propriedade mantém-se em toda a sua plenitude, salvo a

33
desapropriação por necessidade de utilidade pública, mediante indenização prévia. As
minas pertencem aos proprietários do solo, salvo as limitações que forem estabelecidas
por lei a bem da exploração deste ramo da indústria”. Neste sistema, segundo Paiva
(1971), o Estado apenas exerce o poder de polícia, restringindo-se a sua ação a orientar
a exploração dos recursos minerais.

A Constituição de 1934 extinguiu o sistema fundiário ou de acessão e


estabeleceu o sistema de concessão. O solo passaria a constituir propriedade distinta dos
recursos minerais. As jazidas já conhecidas continuavam sendo consideradas como
parte acessória do solo e a sua propriedade, consequentemente, integrava ao patrimônio
do proprietário do solo, enquanto as desconhecidas, quando descobertas, seriam
incorporadas ao patrimônio da União. Neste sistema, a jazida pertence ao Estado, que
poderá conceder ao particular sua exploração e aproveitamento.

O Código de Minas de 1934 assegurou o direito de propriedade das jazidas já


conhecidas. Segundo o artigo 10º deste Código, os proprietários das jazidas já
conhecidas e os interessados em suas pesquisas e lavras deveriam, no prazo de 1 (hum)
ano, a contar da publicação deste Código, manifestar estes interesses ao poder público.
As minas e jazidas que não fossem objeto do manifesto de pesquisa e lavra por seus
proprietários seriam incorporadas ao patrimônio da União. Logo, na legislação
minerária vigente, encontram-se duas ocorrências distintas: a mina manifestada e a mina
concedida.

De acordo com Santos (2008) as minas manifestadas demonstram como


características:

Forma de aquisição primária: dá-se mediante manifesto.


É título de natureza predominantemente dominial, cuja justificação foi
feita em 1934.
Tem natureza de direito real de propriedade. O tratamento no Código
de Mineração é diferenciado.
A forma de perdimento se dá por renúncia ou por abandono, quando
será arrecadada na forma do Código Civil.
Não há caducidade porque não é um bem da União.

34
Já para as minas concedidas a mesma autora elenca as seguintes características:
Forma de aquisição primária: dá-se mediante concessão do Governo
Federal através do Ministério de Minas e Energia (MME).
O título é ato administrativo do MME.
Tem natureza de direito pessoal em relação à Administração Pública.
É tratado no Código de Mineração: regime comum de exploração
mineral.
Entre as formas de perdimento tem a caducidade nas hipóteses
previstas pelo Código de Mineração.

O Código de Mineração de 1967, instituído pelo Decreto-Lei nº 226 de 28 de


fevereiro de 1967, em seu artigo 11 reafirmou o princípio constitucional estabelecido na
Constituição de 1967 e garantiu ao proprietário do solo a participação nos resultados da
lavra por meio do dízimo do imposto único sobre minerais (IUM). Este direito foi
recepcionado pela Constituição de 1988, que extinguiu o IUM e criou a participação
correspondente a cinquenta por cento do valor total devido aos Estados, Distrito
Federal, municípios e órgãos da administração direta da União a título de Compensação
Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM).

A CFEM mais tarde foi regulamentada através da Lei 7.990, de 28/12/1989,


publicada no D.O.U de 29/12/1989. O Decreto nº 1, de 11/01/1991, publicado no D.O.U
de 14/01/1991 definiu que a distribuição da Compensação Financeira pela Exploração
dos Recursos Minerais será feita na seguinte forma:

23% (vinte e três por cento) para os Estados e o Distrito Federal;


65% (sessenta e cinco por cento) para os municípios;
12% (doze por cento) para o Departamento Nacional de Produção
Mineral – DNPM, que destinará 2% (dois por cento) à proteção
ambiental nas regiões mineradoras, por intermédio do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA, ou de outro Órgão Federal competente, que o substituir.

Esta compensação financeira, devida pelos detentores de direitos minerários, é


de no máximo 3 % (três por cento) sobre o valor do faturamento líquido, resultante da
venda do produto mineral obtido após a última etapa do processo de beneficiamento,
antes de sua transformação industrial.

35
O referido Decreto estabelece que o percentual desta compensação, de acordo
com as classes de substâncias minerais, é de:

minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio: 3% (três por


cento)
ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias minerais: 2% (dois por
cento)
pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais
nobres:0,2 ( dois décimos por cento)
ouro: 1% ( um por cento), quando extraído por empresas mineradoras,
isento quando por garimpeiros.

Os critérios para determinação destes percentuais ainda não se encontram bem


esclarecidos, tendo em vista que algumas substâncias, dentre elas o potássio,
apresentam alíquotas maiores em relação às alíquotas do minério de ferro e de outras
substâncias. No caso do potássio, uma explicação imediata para essa diferença de
alíquota está relacionada possivelmente aos valores das commodities e à lei da oferta e
da demanda,4 uma vez que o Brasil, possuindo poucas reservas lavráveis dessa
substância e sendo essas reservas insuficientes para atender a demanda interna, torna-se
dependente do mercado externo. Um passo importante, quando da descoberta de novas
reservas, seria a revisão destas alíquotas, para tornarem menores e mais atrativas
visando o incentivo à produção nacional.

O Código de Mineração de 1967, alterado pelas Leis nº 6.403/76, nº 6.567/78, nº


8.901/94 e nº 9.314/96, estabeleceu ainda os seguintes regimes de aproveitamento das
substâncias minerais5: regime de concessão, quando depender de portaria de concessão
do Ministro de Estado de Minas e Energia; regime de autorização, quando depender de
expedição de alvará de autorização do Diretor Geral do DNPM; regime de
licenciamento, quando depender de licença expedida em obediência a regulamentos
administrativos locais e de registro da licença no DNPM; regime de permissão de lavra
garimpeira, quando depender de portaria de permissão do Diretor Geral do DNPM;
regime de monopolização, quando, em virtude de lei especial, depender de execução
direta ou indireta do Governo Federal.

4
O Brasil produzindo menos essas substâncias, e a fim de garantir uma arrecadação considerável aos
estados, municípios e união, estabeleceu para essas substâncias alíquotas maiores.
5
Art. 2º do Código de Mineração de 1967.

36
É importante ressaltar que não estão subordinados aos mandamentos deste
Código6, os trabalhos de movimentação de terras e de desmonte de materiais in natura,
que se fizerem necessários à abertura de vias de transporte, obras em geral de
terraplenagem e de edificações, desde que não haja comercialização das terras e dos
materiais resultantes desses trabalhos e que eles sejam somente aproveitados na própria
obra.

Os regimes de autorização e de concessão estão intrinsecamente ligados. O


regime de autorização é característico da fase de pesquisa mineral, que é a execução dos
trabalhos necessários à definição da jazida, sua avaliação e a determinação da
exequibilidade do seu aproveitamento econômico. Esta fase precede o regime de
concessão de lavra, que é responsável pelo aproveitamento econômico da jazida. A
autorização da pesquisa mineral, segundo o Código, somente será outorgada pelo
DNPM a brasileiros, pessoa natural, firma individual ou empresas legalmente
habilitadas, mediante requerimento do interessado.

A pesquisa mineral consiste, dependendo da substância mineral pesquisada, em


trabalhos de levantamento topográfico, levantamento geológico detalhado, trabalhos de
superfície, sondagem rotativa, sondagem percussiva, abertura de trincheiras e poços
profundos, amostragens, análises químicas e mineralógicas, levantamentos de dados
geotécnicos, caracterização geológica da jazida, etc. Estes trabalhos serão executados
sob a responsabilidade de engenheiro de minas, ou de geólogo, habilitados ao exercício
de suas profissões.

As autorizações de pesquisa ficam adstritas às áreas máximas fixadas na


Portaria DNPM nº 392 de 21/12/2004, publicada no D.O.U de 22/12/2004, sendo o
prazo para pesquisa não inferior a um ano e nem superior a três anos, podendo o DNPM
prorrogar esse prazo por igual período, desde que o requerimento de prorrogação de
prazo seja requerido até sessenta dias antes de expirar o prazo da autorização vigente,
instruído com o relatório dos trabalhos efetuados e justificativa do prosseguimento da
pesquisa.

6
§ 1 º do Art. 3º do Código de Mineração de 1967.

37
O requerimento de autorização de pesquisa mineral somente será outorgado pelo
DNPM se a área pretendida não estiver onerada a outras áreas de autorização de
pesquisa, registro de licença, decreto ou portaria de lavra, manifesto de mina, permissão
de lavra garimpeira e permissão de reconhecimento geológico.

Dentro da vigência do prazo da autorização de pesquisa deverá ser submetido ao


DNPM, o Relatório Final de Pesquisa, contendo a descrição dos trabalhos efetuados
durante a pesquisa. Este relatório deverá conter informações suficientes sobre a
viabilidade técnica e econômica das reservas de minério, métodos empregados na
pesquisa, cálculo das reservas, a tipologia da jazida, os teores e limites do corpo
mineralizado, as características geotécnicas do minério e de suas encaixantes, quando
couber, ensaios geomecânicos, nível do lençol freático, estudos preliminares de
mercado, possíveis métodos de lavra, etc.

O Relatório Final de Pesquisa poderá ser aprovado, quando comprovar a


viabilidade técnica e econômica da jazida; não aprovado, quando ficar constatada a
deficiência técnica do relatório ou que os trabalhos executados foram insuficientes para
comprovar a viabilidade técnica e econômica da jazida; será arquivado, quando
demonstrar a inexistência da jazida; sobrestado, quando ficar caracterizado a
inexequibilidade técnico-econômica da lavra devido a fatores adversos, tais como
inexistência de tecnologia adequada ao aproveitamento econômico da substância
mineral, ou inexistência de mercado interno ou externo para a substância mineral.

Aprovado o Relatório Final de Pesquisa, o titular terá prazo de 1 (hum) ano para
requerer a lavra, sendo que este prazo poderá ser prorrogado mediante solicitação
justificada do titular, antes de findar-se o prazo inicial ou da prorrogação em curso.
Dentro deste prazo, o titular poderá ainda negociar seu Direito Mineral, alienando-o
totalmente ou transferindo parte deste direito a terceiros.

O requerimento de lavra deverá ser dirigido ao Ministro de Minas e Energia e


elaborado por técnico legalmente habilitado, no qual deverá conter os seguintes
elementos de instrução e prova7: certidão de registro, no Departamento Nacional de
Registro do Comércio, da entidade constituída; designação das substâncias minerais a
lavrar, com indicação do alvará de pesquisa outorgado, e de aprovação do respectivo
relatório; denominação e descrição da localização do campo pretendido para a lavra;
7
Art.38 do Código de Mineração de 1967.

38
plantas de detalhes e de situação; servidões de que deverá gozar a mina; plano de
aproveitamento econômico (PAE) da jazida, com descrição das instalações de
beneficiamento; prova de disponibilidade de fundos ou da existência de compromissos
de financiamento, necessários para a execução do plano de aproveitamento econômico
para operação de mina.

É importante frisar, conforme elencado acima, que somente pessoa jurídica tem
competência para requerer a lavra. Desta maneira, caso o relatório final de pesquisa seja
aprovado em favor de pessoa física, esta, para requerer a lavra, deverá se organizar
como pessoa jurídica ou firma individual.

O Plano de Aproveitamento Econômico configura-se como o anteprojeto de


lavra. Terminada a pesquisa e comprovada a viabilidade técnica e econômica da jazida
iniciam-se os estudos técnicos necessários para lavrar a jazida. Este plano deverá
descrever, qual método de lavra será utilizado, céu aberto ou subterrâneo, os acessos e o
desenvolvimento para a lavra, a relação estéril/minério, ângulos de taludes, cava final,
desmonte de rochas, dimensionamento de equipamentos, sistemas de transporte,
instalações de energia, sistemas de beneficiamento do minério, estudos geotécnicos
referentes à construção do depósito de estéril e da barragem de rejeitos, locais para
deposição do estéril e do rejeito, estudos hidrológicos, plano de controle ambiental,
plano de fechamento de mina, programa de gerenciamento de riscos, fluxo de caixa
demonstrando a viabilidade técnica e econômica da lavra, etc.

Julgado satisfatório pelo DNPM o requerimento de lavra, será instruído com a


licença ambiental competente, que resultará na outorga da Concessão de lavra, que terá
como título uma portaria assinada pelo Ministro de Estado de Minas e Energia (MME). 8
Contudo, a autorização de lavra poderá ser recusada pelo governo se for considerada
prejudicial ao bem público ou comprometer interesses que superem a utilidade de sua
exploração industrial. As reservas lavráveis de uma jazida podem eventualmente
apresentar interferência com empreendimentos de outras naturezas, tais como rodovias,
gasodutos, oleodutos, ferrovias, hidrelétricas, termelétricas, unidades de proteção
integral criadas depois da concessão de lavra. Nesta hipótese, caberá ao governo decidir
sobre a prevalência de uma atividade em detrimento de outra. Neste acontecimento, se o

8
Entretanto, este Ministério publicou posteriormente a Portaria nº425/2005 no Diário Oficial da União de
09/09/2005 delegando competência ao Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral deste
Ministério, para outorgar, caducar, anular e indeferir a concessão de lavra.

39
relatório final de pesquisa encontra-se aprovado, o Código de Mineração de 1967
assegura em seu artigo 42 que o titular terá direito a receber uma indenização do
governo referente às despesas realizadas nos trabalhos de pesquisa. Por outro lado,
Pinto (2009) entende que o valor que a Administração Pública deverá indenizar ao
titular do direito mineral invalidado, deverá ser o equivalente ao valor da jazida mineral,
uma vez que o minerador ficou impedido de explotar a jazida em decorrência da
invalidação do seu direito adquirido.

Alcançada a concessão de lavra, o titular deverá requerer ao DNPM a posse da


jazida, dentro de noventa dias, a contar da publicação da respectiva portaria no Diário
Oficial da União. A imissão9 de posse consiste na demarcação do terreno e na
delimitação da jazida, visando evitar possíveis litígios entre concessões vizinhas ou
invasões de áreas. Este procedimento é realizado com a presença de representantes do
DNPM, do titular da concessão de lavra e dos concessionários das minas limítrofes, se
houver. Contudo, o superficiário ou proprietário do terreno que não concordar com a
imissão de posse poderá ingressar com recurso ao Ministro de Minas e Energia, dentro
do prazo de 15 dias, solicitando a anulação da imissão de posse. Este recurso, se
provido, anulará a imissão de posse. Apesar disso, não se vislumbra no Código de
Mineração nenhum impedimento ao titular para a execução da lavra, se impedida a
imissão de posse.

Observa-se que a negociação do direito da concessão de lavra já é possível e


legal a partir da aprovação do relatório final de pesquisa, independente da posse da
jazida. Observa-se ainda, que, mesmo que o titular inicie os trabalhos de lavra sem
requerer a imissão de posse, fica amparado pelo artigo 57 do Código de Mineração que
prevê “no curso de qualquer ação judicial não poderá haver embargo ou sequestro que
resulte em interrupção dos trabalhos de lavra’’. Desta maneira, verifica-se que a
imissão de posse não passa de um formalismo burocrático. Herrmann, Poveda e Silva
(2010) apontam que “a imissão de posse, que era instrumento fundamental para a
perfeita definição da área no campo, hoje perde progressivamente sua importância e
cai em desuso, pelo uso de instrumentos modernos tais como GPS (Global Positioning
System) de alta precisão”.

9
É importante que não se confunda imissão com emissão. Imissão significa tomar posse de algum bem,
assumir os direitos. Já emissão significa enviar, produzir, lançar.

40
A obtenção da concessão de lavra confere ao titular o direito perpétuo ao
aproveitamento econômico das jazidas. No entanto, também implica em deveres. O
Código de Mineração (art. 47) e seu Regulamento (art.54) salientam que o titular da
concessão de lavra, para não sofrer sanções, deverá cumprir as seguintes obrigações:

Iniciar os trabalhos previstos no plano de lavra, dentro do prazo de 6


(seis) meses, contados da data da publicação do Decreto de Concessão
no Diário Oficial da União, salvo motivo de força maior, a juízo do
DNPM;
Lavrar a jazida de acordo com o plano de lavra aprovado pelo DNPM,
e cuja segunda via, devidamente autenticada, deverá ser mantida no
local da mina;
Extrair somente as substâncias minerais indicadas no Decreto de
Concessão;
Comunicar imediatamente ao DNPM o descobrimento de qualquer
outra substância mineral não incluída no Decreto de Concessão;
Executar os trabalhos de mineração com observância das normas
regulamentares;
Confiar, obrigatoriamente, a direção dos trabalhos de lavra a técnico
legalmente habilitado ao exercício da profissão;
Não dificultar ou impossibilitar, por lavra ambiciosa, o
aproveitamento ulterior da jazida;
Responder pelos danos e prejuízos a terceiros, que resultarem, direta
ou indiretamente, da lavra;
Promover a segurança e a salubridade das habitações existentes no
local;
Evitar o extravio das águas e drenar as que possam ocasionar danos e
prejuízos aos vizinhos;
Evitar poluição do Ar, ou da água, que possa resultar dos trabalhos de
mineração;
Proteger e conservar as Fontes, bem como utilizar as águas segundo os
preceitos técnicos quando se tratar de lavra de jazida da Classe VIII;
Tomar as providências indicadas pela Fiscalização dos órgãos
Federais;
Não suspender os trabalhos de lavra, sem prévia comunicação ao
DNPM;
Manter a mina em bom estado, no caso de suspensão temporária dos
trabalhos de lavra, de modo a permitir a retomada das operações;
Apresentar ao Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM
até o dia 15 (quinze) de março de cada ano, o relatório das atividades
realizadas no ano anterior.

As sanções e nulidades decorrentes do não cumprimento destas obrigações pelo


titular podem implicar, dependendo da infração, em advertência, multa e caducidade do
título minerário. Salienta-se que a caducidade da autorização da pesquisa é de
competência do Diretor Geral do DNPM, enquanto a caducidade da concessão de lavra
é de competência do Ministro de Minas e Energia.

41
Extinta a concessão de lavra, compete ao Diretor Geral do DNPM, através de
edital publicado no Diário Oficial da União, declarar a disponibilidade da respectiva
área para fins de requerimento de autorização de pesquisa ou de concessão de lavra.

O Código de Mineração permite agrupar várias concessões de lavra de um


mesmo titular e de uma mesma substância mineral, cujas áreas pertençam a um mesmo
jazimento ou zona mineralizada, em uma só unidade de mineração denominada
Grupamento Mineiro. No entanto, a intensidade da lavra do Grupamento, deverá ser
compatível com a reserva total da jazida agrupada. O objetivo do Grupamento é
concentrar as atividades de lavra em uma ou algumas concessões de lavra aproveitando
a estrutura operacional já existente de forma a possibilitar o melhor aproveitamento
econômico das jazidas. Quando existirem variações de teores dos minérios, entre as
concessões de lavra, a conveniência de um Grupamento Mineiro possibilita blendar os
diferentes tipos de minérios, ajustando os teores finais aos teores exigidos pelo
mercado. A constituição do Grupamento tem ainda como objetivo o melhor controle
administrativo das concessões perante o DNPM. O Regulamento do Código de
Mineração (art.70) estabelece que a formação deste Grupamento, ficará a critério do
DNPM, e será autorizada pelo Diretor Geral do DNPM, devendo o interessado
apresentar os seguintes elementos de informação e prova:

Qualificação do interessado;
Planta onde figurem as áreas de lavra a serem agrupadas, com
indicação dos decretos de concessão;
Plano integrado de aproveitamento econômico das jazidas que, dentre
outros, deverá conter os seguintes elementos:
a) memorial explicativo;
b) método de mineração a ser adotado, com referência à escala de
produção prevista e à sua projeção.

É bom ressaltar, falando-se em legislação mineral, que, a Constituição Federal


de 1988 recepcionou o Código de Mineração de 1967, naquilo que não a contrariava.
Essa Constituição ratificou em seu Art.20 que os recursos minerais, inclusive os do
subsolo, são bens da União e estabeleceu ainda em seu artigo 22 a competência
privativamente à União para legislar sobre as jazidas, minas e outros recursos minerais e
metalurgia. Isto comprova a importância estratégica da mineração que é considerada de

42
interesse nacional10, comparada a outras atividades econômicas, levando em
consideração suas especificidades e contribuição para o desenvolvimento nacional.

Para Ferreira (2007) o interesse nacional denota a utilidade pública do exercício


da mineração, “considerando-se os recursos minerais como bens econômicos, que
pertencem à sociedade, cuja sua exploração deve ser direcionada sempre no interesse
do país”. Além disso, da sobreposição do interesse coletivo sobre o individual, a
utilidade pública fundamenta-se na necessidade da sociedade, em relação aos recursos
minerais, no sentido de atenderem suas necessidades básicas. Entretanto, a utilidade
pública não deve servir de pretexto para imposição do “desenvolvimento a qualquer
custo”, desrespeitando interesses difusos e os preceitos do desenvolvimento sustentável.

A mineração merece atenção especial pelas suas características de rigidez


locacional, uma vez que a implantação desta atividade está condicionada a localização
da jazida. Em contrapartida, isto simboliza também um fator positivo, pois representa
uma alternativa econômica para a indução do desenvolvimento em regiões isoladas e
carentes, que não recebem a devida atenção das autoridades públicas, ajudando a reduzir
as desigualdades regionais. Desta forma, os conflitos, entre a mineração e outras
atividades de interesse público, devem ser refletidos minuciosamente quanto à
realocação dos demais empreendimentos com flexibilidade locacional, já que a
mineração somente pode ser executada nos locais onde a natureza fixou as jazidas.

Para finalizar, observa-se na legislação mineral brasileira que a


procura/descoberta de jazidas, a pesquisa das massas de substâncias minerais
descobertas, a extração das substâncias pesquisadas e a sua negociação estão bem
estruturados na Constituição Federal Brasileira e no Código de Mineração. Contudo, a
preocupação com a regulamentação legal do fechamento das minas só assumiu
importância nas últimas décadas, refletindo a evolução da preocupação da sociedade
com a adoção ampla e efetiva do conceito de desenvolvimento sustentável no qual
incorpora aspectos ambientais, econômicos e sociais.

Por isso, a legislação mineral deve ser constantemente reavaliada buscando a


adequação às novas demandas que surgem a cada momento na sociedade, como, por
exemplo, o fechamento de mina. A legislação no que tange ao fechamento de mina, por

10
Art. 176 da Constituição Federal de 1988.

43
ser recente, necessita de análises criteriosas que apontem suas lacunas e ambiguidades,
tanto no que respeita à orientação dos titulares dos direitos de lavra, quanto no que
respeita à orientação dos funcionários do DNPM sobre os procedimentos para as
análises dos processos minerários. Esta temática será abordada no próximo capítulo.

44
CAPÍTULO 4 – FECHAMENTO DE MINA

4.1 – CONTEXTO NACIONAL

No Brasil, muitas minas encontram-se em processo de exaustão de suas reservas


economicamente lavráveis, o que restará fatalmente na desativação dos respectivos
empreendimentos mineiros. O fechamento de uma mina normalmente resulta em
impactos econômicos, sociais e ambientais para as regiões e comunidades nas quais ela
se encontra inserida.

No passado, muitas minas foram simplesmente abandonadas, ora por falta de


legislação específica, ora por descumprimento das determinações legais vigentes. O
encerramento das atividades de lavra dessas minas, sem um planejamento adequado,
ocasionou, em alguns casos, passivos ambientais permanentes. Além dos passivos
ambientais, com frequência, houve a desconsideração de aspectos relevantes, do ponto
de vista socioeconômico, ligados a esses empreendimentos desativados sem nenhum
critério técnico e legal.

Sánchez (2001:53) descreve que “as minas abandonadas ou inativas são fontes
de diversos problemas. Há risco à segurança das pessoas que transitam por certas
áreas mineradas, e há que se garantir a estabilidade de estruturas como barragens de
rejeitos, pilhas de estéril e pilares de minas subterrâneas. No caso das minas
subterrâneas é comum o problema da subsidência, ou seja, o afundamento do solo
devido ao colapso de uma escavação de subsuperfície”.

No Brasil não existe um cadastro das minas abandonadas; por outro lado,
Machado (1998) aponta que nos EUA existem catalogadas cerca de 550 mil minas
abandonadas e que o custo de recuperação ambiental destas minas estaria entre US$
32,7 bilhões e US$ 71,5 bilhões, de acordo com estimativa do Mineral Policy Center,
ONG sediada em Washington D.C.

A partir da década de oitenta, as questões ambientais tiveram significativos


avanços no Brasil. Em 1981, através da publicação da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de
1981, estabeleceu-se uma Política Nacional para o Meio Ambiente visando a
compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da
qualidade do meio ambiente e um permanente equilíbrio ecológico. A Constituição
Federal de 1988, no capítulo referente ao Meio Ambiente (Art.225), estabeleceu o
estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de obras ou atividades

45
potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. Este estudo é
exigido para o licenciamento ambiental de qualquer atividade de aproveitamento de
recursos minerais, com exceção daquelas de emprego imediato na construção civil. A
obtenção do licenciamento ambiental é obrigatória para a localização, instalação,
ampliação e operação de quaisquer atividades de mineração.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu no parágrafo segundo do Art.225,


que “aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei”. Ou seja, os detentores de manifesto de mina, concessão de lavra,
grupamento mineiro, registro de licença, permissão de lavra garimpeira, registro de
extração e guia de utilização, após execução das atividades extrativas, ficam obrigados a
recuperar a área minerada e impactada pela respectiva atividade mineira, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente. O DNPM entende por área
minerada toda a área utilizada pela atividade mineira, seja a área da própria mina, as
áreas de estocagem de estéril, minérios e rejeitos, as vias de acesso e demais áreas de
servidão.

O Decreto n° 97.632, de 10 de abril de 1989, em vigor, estabeleceu em seu Art.


1º que “os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais devem,
na apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório do Impacto
Ambiental (RIMA), submeter um plano de recuperação de área degradada (PRAD)
para aprovação do órgão ambiental competente”. Este plano11 tem como objetivo a
reabilitação da área minerada, tendo em vista que a topografia alterada pelas atividades
de lavra não poderá ser reconstituída em sua forma original. Este plano preestabelecido
deve ser submetido à análise e aprovação do órgão ambiental competente, para
assegurar que o ambiente degradado retorne ao máximo possível sua configuração
ambiental original, através de uma nova forma de utilização para a área anteriormente
minerada.

11
A ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da NBR 13030 de junho de 1999, fixa
diretrizes para elaboração e apresentação do projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração.

46
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu ainda sanções penais e
administrativas para as pessoas físicas e jurídicas que cometerem infrações ou
praticarem atividades lesivas ao meio ambiente.12 A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas para as condutas lesivas ao meio
ambiente. O artigo 55 desta Lei prevê pena de detenção de seis meses a um ano, além de
multa, para aquele que “executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem
a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a
obtida”. Na mesma pena incorre quem deixar de recuperar a área pesquisada ou
minerada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou da determinação
do órgão competente.

No entanto, o mesmo não aconteceu com as questões especificamente


relacionadas ao fechamento de mina. As preocupações quanto ao fechamento são ainda
recentes e vêm assumindo importância crescente no cenário atual, em decorrência das
demandas ambientais, sociais e econômicas existentes. Weber e Brandt (2012)
salientam que o fechamento controlado de uma mina ainda é uma novidade no Brasil,
levando em conta que poucas são as minas devidamente descomissionadas no país.
Além do mais, essas minas ainda não concluíram todos os trabalhos necessários para
que um efetivo fechamento fosse materializado. Segundo estes autores, os sítios
minerados abandonados, sem as devidas medidas de controle, ainda representam a
grande maioria e acabam por compor a paisagem em muitas regiões do país, de forma
negativamente alterada, tanto no meio urbano como no meio rural. No Brasil, observa-
se que poucas áreas degradadas pela mineração tiveram novos usos buscando o
benefício da sociedade, e em uma quantidade ainda menor foram às áreas que tiveram
novos usos com propostas sustentáveis.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu no item XI do artigo 23 a


competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para
“registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos e minerais em seus territórios”.

O Departamento Nacional de Produção Mineral, autarquia do Ministério de


Minas e Energia – MME, conforme Lei nº 8.876 de 02 de maio de 1994, é o órgão do
poder executivo competente para, dentre outras atividades, fiscalizar a pesquisa, a lavra,

12
§ 3º do Art. 225 da Constituição Federal de 1988.

47
o beneficiamento e a comercialização dos bens minerais. Compete também ao DNPM
baixar normas, em caráter complementar, exercer a fiscalização sobre o controle
ambiental, a higiene e a segurança das atividades de mineração, atuando em articulação
com os demais órgãos responsáveis pelo meio ambiente, pela higiene, segurança e saúde
ocupacional dos trabalhadores. No entanto, observa-se ainda a falta de articulação entre
o DNPM e os demais órgãos ambientais nas questões que envolvem o fechamento de
mina. Taveira (2003) aponta que a legislação brasileira aborda de forma incipiente a
questão do fechamento de mina, não havendo elo entre as competências dos diversos
órgãos licenciadores e fiscalizadores.

O DNPM, com o objetivo de regulamentar as questões sobre o fechamento de


mina, elaborou a Portaria DNPM nº 237 de 18/10/2001 publicada no Diário Oficial da
União (D.O.U) de 19/10/2001, posteriormente, alterada pela Portaria DNPM nº 12 de
22/01/2002, D.O.U de 29/01/2002, aprovando as Normas Reguladoras de Mineração
(NRM), e estabeleceu os procedimentos administrativos e operacionais para o
fechamento de mina (NRM nº 20).

Segundo esta Norma, o plano de fechamento de mina deve estar contemplado no


Plano de Aproveitamento Econômico (PAE) e deve ser apresentado juntamente com o
requerimento de lavra, que ocorre após a aprovação do relatório final de pesquisa,
quando este, após aprovado pelo DNPM, define oficialmente uma reserva como técnica
e economicamente viável. Tendo em vista que a mineração é caracterizada como uma
atividade dinâmica, é importante ressaltar que o plano de fechamento de mina deve ser
revisto periodicamente ao longo da evolução da vida da mina, devendo estar sempre
disponível na mina para fins de fiscalização, tendo como roteiro o que está estabelecido
na NRM 20. A NRM 20 especifica no item 20.4.1 quais são os instrumentos
comprobatórios que devem ser apresentados para o fechamento de mina, após
comunicação prévia ao DNPM, e pleito ao Ministro de Minas e Energia, conforme o
disposto nessa referida norma.

48
No Plano de Fechamento de Mina, exigido pelo DNPM, devem constar:

a) relatório dos trabalhos efetuados;


b) caracterização das reservas remanescentes;
c) plano de desmobilização das instalações e equipamentos que compõem a
infraestrutura do empreendimento mineiro indicando o destino a ser dado aos mesmos;
d) atualização de todos os levantamentos topográficos da mina;
e) planta da mina na qual constem as áreas lavradas recuperadas, áreas impactadas
recuperadas e por recuperar, áreas de disposição do solo orgânico, estéril, minérios e
rejeitos, sistemas de disposição, vias de acesso e outras obras civis;
f) programa de acompanhamento e monitoramento relativo a:
I- sistemas de disposição e de contenção;
II- taludes em geral;
III- comportamento do lençol freático;
IV- drenagem das águas;
g) plano de controle da poluição do solo, atmosfera e recursos hídricos, com
caracterização de parâmetros controladores;
h) plano de controle de lançamento de efluentes com caracterização de parâmetros
controladores;
i) medidas para impedir o acesso à mina de pessoas estranhas e interditar com
barreiras os acessos às áreas perigosas;
j) definição dos impactos ambientais nas áreas de influência do empreendimento
levando em consideração os meios físico, biótico e antrópico;
l) aptidão e intenção de uso futuro da área;
m) conformação topográfica e paisagística levando em consideração aspectos sobre
a estabilidade, controle de erosões e drenagens;
n) relatório das condições de saúde ocupacional dos trabalhadores durante a vida
útil do empreendimento mineiro;
o) cronograma físico e financeiro das atividades propostas.

Essa norma define ainda que caberá ao DNPM, quando necessário,


complementar estas Normas Reguladoras de Mineração com instruções técnicas,
manuais, diretrizes, recomendações práticas ou outros meios de aplicação compatíveis.

Em adição, o DNPM publicou, posteriormente, a Portaria Nº 002 de 08/01/2003,


D.O.U de 10/01/2003, criando um Grupo de Trabalho para elaborar uma proposta de
Manual de Desativação de Empreendimentos Mineiros. Porém, essa Portaria não se
encontra mais em vigor e a proposta de manual não foi apresentada no prazo acordado
de 120 (cento e vinte) dias.

49
De acordo com citada Portaria, o Manual de Desativação de Empreendimentos
Mineiros deveria conter diretrizes, determinações e orientações técnicas relativas a:

I- aspectos gerais sobre encerramento de operações mineiras;


II- diretrizes relativas ao controle dos impactos ambientais nas áreas de influência do
empreendimento;
III- determinações quanto às condições do estado de segurança do empreendimento;
IV- determinações relativas ao plano de controle da poluição do solo, atmosfera e
recursos hídricos;
V- determinações relativas aos sistemas de disposição;
VI- diretrizes sobre o plano de desmobilização das instalações e equipamentos que
compõem a infraestrutura do empreendimento;
VII- determinações quanto ao programa de acompanhamento e monitoramento dos
sistemas de disposição e de contenção, taludes, lençol freático e drenagem das águas;
VIII- determinações sobre a reabilitação da área;
IX- orientações sobre a aptidão e intenção de uso futuro da área;
X- mapas, plantas e desenhos e
XI- demais aspectos técnicos considerados pertinentes e ou necessários.

Apesar da falta de implementação deste manual, e da falta de diretrizes e


orientações precisas sobre como proceder para uma adequada desativação de um
empreendimento mineiro, a NRM nº 20 constitui o primeiro arcabouço efetivo de
regulamentação do tema Fechamento de Mina na legislação minerária brasileira.
Contudo não estabelece garantias que o plano de fechamento será efetivamente
executado. Cabe salientar, que o fechamento de mina, de acordo com a estrutura
regimental do DNPM, é de competência da Diretoria de Gestão de Títulos Minerários
(DGTM) e da Diretoria de Fiscalização da Atividade Minerária (DFAM). À DGTM
compete a análise e a outorga do plano de fechamento de mina, parte integrante do
Plano de Aproveitamento Técnico e Econômico. À DFAM compete fiscalizar a
execução do plano de fechamento de mina. Espera-se com essa norma que o plano de
fechamento de mina torna-se viável quanto aos aspectos técnicos, econômicos,
ambientais e sociais.

Flores (2006) aponta que devido à ausência de diretrizes gerais na órbita federal
sobre a matéria fechamento de mina, os órgãos ambientais estaduais vêm inserindo este
tema em sua legislação de proteção ambiental e propondo outros mecanismos que
garantam o completo, correto e seguro fechamento de minas em exaustão ou
abandonadas.

50
A primeira iniciativa neste escopo foi dada pela CETESB - Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo com a publicação do decreto estadual nº 47.400 de
04 de dezembro de 2002. Este decreto dispõe em seu artigo 5º que:
Os empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental deverão
comunicar ao órgão competente do SEAQUA a suspensão ou o
encerramento das suas atividades.
§ 1° - A comunicação a que se refere o "caput" deverá ser
acompanhada de um Plano de Desativação que contemple a situação
ambiental existente e, se for o caso, informe a implementação das
medidas de restauração e de recuperação da qualidade ambiental das
áreas que serão desativadas ou desocupadas.

Em Minas Gerais, o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), órgão


subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(SEMAD), publicou a Deliberação Normativa COPAM Nº 127, de 27 de Novembro de
2008 que estabelece as diretrizes e os procedimentos para avaliação ambiental da fase
de fechamento de mina.

Na aplicação desta Deliberação Normativa, ficou definido como fechamento de


mina “o processo que abrange toda a vida da mina, desde a fase dos estudos de
viabilidade econômica até o encerramento da atividade minerária, incluindo o
descomissionamento, a reabilitação e o uso futuro da área impactada”.

Nota-se em Minas Gerais que a discussão sobre o fechamento de mina tem sido
incorporada aos estágios iniciais do empreendimento, desde os estudos de viabilidade
técnica e econômica. De acordo com esta Deliberação Normativa, o fechamento da
mina deve ser planejado desde a concepção do empreendimento, para garantir que após
o fechamento da mina os impactos econômicos, ambientais e sociais sejam mitigados.

Com esta Deliberação Normativa ficou estabelecido que o empreendedor deve


protocolar, na unidade do órgão ambiental responsável, o Plano Ambiental de
Fechamento de Mina (PAFEM), contemplando:

I - a reavaliação dos aspectos e impactos ambientais diagnosticados


nos estudos que subsidiaram os processos de licenciamento do
empreendimento, de modo a verificar a real extensão dos impactos e a
eficácia das medidas mitigadoras e compensatórias executadas;
II - a síntese e avaliação dos projetos e ações socioambientais
desenvolvidos visando a sustentabilidade da área de influência do
empreendimento;
III - a avaliação dos impactos socioambientais após o fechamento da
mina, incluindo os aspectos relacionados à recolocação de

51
trabalhadores e propostas para o envolvimento da comunidade no
processo;
IV - a definição das ações que serão executadas após o fechamento da
mina visando à manutenção das condições de segurança da área
minerada e das estruturas existentes, a continuidade da reabilitação
ambiental, a definição de parâmetros e freqüência para o
monitoramento e a identificação de indicadores de qualidade
ambiental adequados;
V - a apresentação de proposta de alternativas para uso futuro da área
minerada, considerando os aspectos sociais, econômicos e ambientais
da área de influência direta do empreendimento;
VI - o cronograma de implantação do plano, incluindo todas as etapas
previstas, os processos de avaliação e revisão e a execução do
monitoramento ambiental;
VII - estimativa de custos do fechamento da mina, em cada etapa.

Para os processos de revalidação da licença de operação de empreendimentos


minerários determinou-se que, a partir de 01 de julho de 2009, a inclusão no Relatório
de Avaliação do Desempenho Ambiental (RADA), da descrição de todas as ações já
implantadas ou em andamento que visam a reabilitação ambiental da área minerada,
bem como a desativação das estruturas. Deste modo, pode-se avaliar a eficácia das
ações de reabilitação ambiental desenvolvidas, e conforme o caso, propor adequações
necessárias para o período subsequente da Licença de Operação.

A publicação desta Deliberação Normativa preenche uma lacuna na legislação


ambiental no Estado de Minas Gerais e prevê, ainda, para alguns empreendimentos a
consulta pública sobre o uso futuro da área minerada. Outro ponto importante, que vale
a pena destacar, foi o estabelecimento de prazo na análise e aprovação do Plano
Ambiental de Fechamento. Demonstra que os direitos e as obrigações devem ser
estabelecidos, não só para o empreendedor como para o poder público.

Assim, o que se verifica é um avanço para o tema Fechamento de Mina, que


hoje, deve ser discutido com mais profundidade, por todas as partes envolvidas, visando
buscar novas diretrizes e regulamentações para um tema tão importante e carente de
diretrizes e regulamentações.

A legislação brasileira, ao contrário de algumas legislações de outros países, não


estabelece garantias financeiras para o fechamento de mina. Reis e Barreto (2001)
apontam que algumas legislações preveem a constituição de garantias financeiras para a
execução do fechamento do projeto, e o fazem com base no princípio de criar
mecanismos econômicos e financeiros que possam ser acionados em caso de
52
necessidade, entre eles, incluem a emissão de letras de crédito, a constituição de caução,
a realização de seguros de performance e a apresentação de fiadores.

Machado (1998:55) relata que:

Em contraste com a prática de países latino-americanos, Canadá, Estados Unidos e


Austrália vêm aperfeiçoando uma legislação crescentemente restritiva com relação aos
danos ambientais causados pela mineração. Desde o início da década de 90 entrou em
vigor um dispositivo extremamente sério, penalizando as empresas de mineração, mas
buscando beneficiar a sociedade desses países. Trata-se da exigência de apresentação
do plano de fechamento da mina, acompanhado de orçamento, ainda durante a fase de
desenvolvimento. Tal exigência significa que, antes de iniciar a produção, o
responsável pelo empreendimento mineiro terá de se comprometer com a execução do
plano de fechamento da mina. Para selar o compromisso, o empreendedor terá de
depositar uma caução em títulos do Tesouro, pagamento à vista ou outra modalidade
aceita pelo governo, de modo a garantir o cumprimento do plano de fechamento da
mina, conforme aprovado pelas autoridades competentes. Por motivos óbvios, não são
aceitas ações em bolsa, seja do empreendedor, seja de quaisquer empresas. Esse
aspecto pode significar um desembolso prévio de US$ 20 milhões, US$ 30 milhões,
ou mais, dependendo das características do projeto. Desse modo, o fluxo de caixa de
cada projeto incorpora, em decorrência da nova legislação, um ônus que não era
contemplado anteriormente, o qual pode comprometer a viabilidade de um grande
número de empreendimentos.

Essas garantias permitem maior êxito na execução do plano de fechamento de


mina e dão garantias de que os custos ambientais não serão repassados à sociedade.
Chambers (2005) ressalta que a garantia financeira é importante por muitas razões.
Primeiro, protege os contribuintes de pagar os custos de fechamento de mina que podem
chegar a muitos milhões ou centena de milhões de dólares. Em segundo lugar, protege o
público contra danos aos recursos públicos, como a degradação ambiental, redução de
valores das propriedades, perda de oportunidades de recreação.

No entanto, o valor dessa garantia é um aspecto delicado, já que cada projeto


tem sua especificidade, que depende do tipo de jazida e do minério, sua dimensão,
localização, tecnologia utilizada, além das oscilações do mercado comprador que
invariavelmente submete o empreendimento mineiro a altos e baixos, entre outras
variáveis que podem resultar em impactos ambientais e socioeconômicos diferenciados
(Reis e Barreto, 2001). Segundo Vale (2000,395) “a orçamentação do plano de
fechamento representa o referencial básico para a fixação do montante da garantia
financeira”. Um dos principais problemas da garantia financeira é como estimar
corretamente os custos reais do fechamento, antes da implantação da mina e sem ainda
conhecer por completo todas as características e comportamento da jazida. Maia (1980)

53
ressalta que “é excepcional o caso de uma jazida totalmente explorada ou desenvolvida
antes que se inicie a lavra”. Além do mais, a vida útil de uma mina pode se estender
por décadas com a descoberta de novos corpos de minério. O custo do fechamento,
dependendo das características da mina, pode alcançar valores exorbitantes. A
subestimação destes custos, por empresas ou órgãos controladores, ou a falência da
empresa de mineração, pode fazer com que estes custos acabem sendo repassados à
sociedade, afetando ainda mais a reputação da indústria mineral.

Para Vale (2000,396) “se a empresa não oferecer a garantia que afiançará sua
solvência frente aos compromissos expressos no plano de fechamento, então a mina não
deve ser aberta, pelo menos por essa empresa”. Tal afirmativa configura um pouco
radical, pois a empresa investiu na pesquisa mineral para viabilizar a jazida mineral
obtendo desta forma um direito adquirido através da aprovação do relatório final de
pesquisa pelo DNPM. Além disso, os empreendimentos minerais são diversos e
apresentam diferentes métodos de lavra, níveis de complexidade, riscos, escalas de
produção, níveis de impactos socioambientais e eventuais turbulências do mercado
comprador do minério e etc. Salientamos que, para obter a concessão de lavra, a
empresa já deve apresentar uma prova de disponibilidade de fundos para execução das
atividades de lavra. Uma alternativa interessante, para empreendimentos que não geram
impactos ambientais significativos, seria a criação de um fundo específico para o
fechamento de mina. De tal forma que não comprometesse a saúde financeira do
empreendimento. Assim, a empresa ficaria obrigada a contribuir mensalmente com uma
quantia estabelecida para assegurar a execução do fechamento de mina. Os custos do
fechamento seriam revistos e atualizados periodicamente. Este fundo seria administrado
pelo governo, empresa, município e sociedade civil. Para assegurar a execução do
fechamento de mina, estas quantias deveriam ser decrescentes, ou seja, maiores no
início do projeto e menores no final do projeto, tendo em vista os eventuais riscos e
imprevistos de um projeto mineiro que podem levar a empresa a decretar falência em
decorrência de dificuldades financeiras, assim como, devido a turbulências políticas e
econômicas que podem ocorrer em nível nacional e internacional. Por outro lado, nos
casos de empreendimentos com significativo impacto ambiental é imprescindível, antes
do início da lavra, garantias financeiras sólidas para assegurar o cumprimento do plano
de fechamento de mina e evitar a ocorrência de passivos ambientais permanentes. Nesse
contexto, a questão que se levanta é como fornecer garantias sólidas para empresas de

54
mineração de pequeno e médio porte, antes do início da lavra, tendo em vista a notória
carência de credito e juros elevados praticados no país.

4.2 – CONTEXTO INTERNACIONAL

Este item visa apresentar a regulamentação do fechamento de minas em alguns


países selecionados para efeito de estudo comparativo. A escolha dos países Chile, Peru,
Colômbia, EUA, Canadá e Austrália baseou-se na tradição mineral, nos investimentos
recentes em grandes projetos de mineração e na contribuição significativa da mineração
na economia nacional.

4.2.1 CHILE

O Chile é o maior produtor mundial de cobre, com 35% da oferta mundial e uma
produção de 5,6 milhões de toneladas/ano de concentrado de cobre e receberá 100
bilhões de dólares em investimentos em mineração entre 2012 e 2020 para projetos de
extração de cobre, ouro e não metálicos , segundo as estimativas da Sociedade Nacional
de Mineração - Sonami (JORNAL ESTADO DE MINAS, 2012).

Na data de 11 de novembro de 2011, o Congresso Nacional Chileno aprovou a


Lei n º 20.551 que regulamenta sobre o fechamento da mina, a fim de prevenir,
minimizar ou controlar os riscos e efeitos adversos gerados sobre a saúde, a segurança
das pessoas e do meio ambiente quando da cessação das operações mineiras.

Esta Lei impõe aos mineradores a obrigação de submeter à aprovação do Serviço


Nacional de Geologia e Mineração, um plano de fechamento da mina, como pré-
requisito ao início das operações de lavra, especificando as medidas técnicas e
atividades propostas para mitigar os efeitos da atividade mineira e assegurar a
estabilidade física e química da área minerada. Este plano, elaborado em conformidade
com as normas ambientais vigentes, dever ser implementado de forma progressiva
durante as diversas etapas de operação da mina.

Ao Serviço Nacional de Geologia e Mineração compete analisar, aprovar e


fiscalizar o cumprimento das obrigações impostas no plano de fechamento de mina.
Compete-lhe ainda, aplicar as sanções cabíveis, caso a empresa não execute
integralmente todas as medidas e atividades contempladas no plano de fechamento de

55
mina aprovado. É bom salientar que o plano de fechamento de mina aprovado tem
caráter público.

Para empreendimentos com capacidade de extração superior a 10.000 (dez mil)


toneladas/mês a lei chilena exige que o plano de fechamento de mina aprovado seja
auditado e revisado a cada 5 (cinco) anos por uma auditoria externa. Estes
empreendimentos ficam ainda obrigados a apresentar para o Estado, garantias
financeiras que assegurem o cumprimento das obrigações impostas no plano de
fechamento de mina. Depois de cumpridas pela empresa todas as obrigações do
fechamento de mina, o Serviço Nacional de Geologia e Mineração emite um certificado
de cumprimento do plano de fechamento de mina.

4.2.2 PERU

O Peru é um dos maiores produtores mundiais de cobre, ouro, prata e zinco e


movimenta mais de US$ 20 bilhões com a mineração (IBRAM, 2012).

Um dos instrumentos de gestão ambiental que exige a lei peruana são os planos
de fechamento de mina (art. 17 da lei nº 28.611). O fechamento de mina é
regulamentado pela lei nº 28.090, que, em seu art.6º institui a obrigatoriedade da
apresentação do plano de fechamento de mina. Além disso, existe também um conjunto
de leis que regem os aspectos ambientais das operações mineiras.

Segundo Ruiz (2000) o plano de fechamento de mina constitui um elemento do


EIA – Estudo de Impacto Ambiental. Desta forma, é exigido um plano conceitual de
fechamento de mina juntamente com o EIA, seguindo depois de um plano detalhado
que incluí o cronograma das atividades e as estimativas dos custos do fechamento.
Segundo a Lei Peruana, a empresa mineradora deve fornecer garantias financeiras para
cobrir o custo de fechamento de mina.

É fundamental à aprovação do plano de fechamento de mina no Ministério de


Minas e Energia do Peru, assim como reportar a este órgão como estão sendo efetuados
os trabalhos de reabilitação ambiental (MORALES e ÁVILA, 2009). A implementação
e execução do plano devem acontecer desde o início das atividades mineiras. Ao
aproximar-se do final da vida útil da mina, é necessário preparar e apresentar uma
versão final do plano de fechamento. Na ocorrência do fechamento, são exigidos
relatórios sobre o acompanhamento, o monitoramento e a manutenção na fase pós-

56
fechamento. Constatado o cumprimento das obrigações do plano de fechamento de
mina, é expedido, pela autoridade competente, um certificado do fechamento da mina.
A fiscalização e verificação do cumprimento do plano de fechamento ficam a cargo do
Ministério de Minas e Energia.

O Ministério de Minas e Energia do Peru preparou um guia com um formato


padronizado para a elaboração de planos de fechamento mina em diferentes estágios do
ciclo de vida da mina. É importante ressaltar que o conteúdo de cada plano dependerá
da natureza particular do projeto e de onde ele está localizado.

4.2.3 COLÔMBIA

Vargas e Polanía (2011) apontam que segundo alguns analistas, os cenários de


produção de carvão, hidrocarbonetos e outros minerais indicam que este país está
atravessando um boom minero-energético. Para estes autores, a mineração tornou-se a
locomotiva de crescimento na Colômbia, considerando que este setor avançou muito
mais economicamente que outros setores da economia.

O Ministério de Minas e Energia tem a função de coordenar, fiscalizar e


regulamentar as atividades de mineração na Colômbia. Para obtenção da concessão de
lavra é obrigatória à apresentação e aprovação de um plano de fechamento das
operações mineiras e abandono das montagens e infraestrutura.

A Lei nº 685, de 2001, regulamenta o fechamento de minas. A partir da


publicação desta lei, o plano de fechamento de minas começou fazer parte do ciclo de
operações mineiras. Desta forma, o plano de fechamento e a gestão ambiental mineira é
uma atividade planejada e deve ser executada em cumprimento ao contrato de
concessão mineira, seguindo as diretrizes técnicas constantes no termo de referência e
do guia de mineração e meio ambiente. O plano de fechamento constitui também um
elemento do EIA - Estudo de Impacto Ambiental.

O artigo 209 do Código de Minas da Colômbia dispõe que “em todos os casos de
encerramento do título, o beneficiário estará obrigado a fazer as obras e colocar em
prática todas as medidas ambientais necessárias para o fechamento e abandono das
operações e frentes de trabalho. Para efeito se exigirá a extensão da garantia
ambiental por mais 3 anos a partir da data de encerramento do contrato”.

57
O Ministério de Meio Ambiente e de Minas e Energia prevê a realização de
auditorias técnicas nas concessões de lavra, após 2 anos do término das atividades de
lavra, para verificação do cumprimento das obrigações ambientais do fechamento de
mina.

4.2.4 EUA

A mineração e o fechamento de minas são assuntos regidos por ampla variedade


de leis e regulamentos, tanto federais quanto estaduais. Entre os instrumentos legais da
Legislação Americana destacam-se o National Environmental Policy Act of 1969
(NEPA), o Clean Air Act of 1970, o Clean Water Act of 1972 (CWA), Federal Land
Use Policy and Management Act of 1976, o Surface Mining Control and Reclamation
Act of 1977 (SMCRA), o Comprehensive Environmental Response, Compesation and
Liability Act of 1980 (CERCLA ou Superfund) e o Superfund Amendments and
Reauthorisation Act of 1986 (SARA) (LIMA apud FLORES, 2006).

Os Estados Unidos adotam um sistema descentralizado para a regulamentação


da reabilitação de áreas de mineração. A gestão mineral e ambiental é de
responsabilidade dos Estados. Desta maneira, cada Estado possui uma legislação
específica para as questões relativas ao fechamento de minas. Flores (2006) ressalta que
embora existam diferentes sistemas de fechamento de minas nos Estados Unidos, todos
ou virtualmente todos, partilham de alguns conceitos básicos, como a obrigatoriedade
de submissão de um plano de fechamento para aprovação pelas agências estaduais.

Entretanto, a recuperação de áreas mineradas de carvão é regulamentada pela


Legislação Federal. Em 1971, os Estados Unidos promulgou o Surface Mining Control
and Reclamation Act (SMCRA). Esta Lei define diretrizes nacionais para a recuperação
de áreas de mineração de carvão a céu aberto e estabelece o programa The Abandoned
Mine Land (AML) para restauração ambiental de áreas de mineração abandonadas. O
AML é financiado por recursos pagos pelos mineradores e arrecadados em cada
tonelada de carvão produzida. Estes recursos são recolhidos a uma conta do Tesouro e
constituem o Abandoned Mine Reclamation Fund (AMRF), o qual é empregado para
pagar os custos da restauração das áreas abandonadas (VALE, 2000). O Departamento
do Interior é o órgão governamental responsável pela execução e fiscalização do

58
cumprimento do SMCRA. Os Estados podem exercer a fiscalização, por delegação de
competência, desde que fique comprovado que a legislação estadual é mais restritiva
que a federal.

O SMCRA estabelece no licenciamento das operações mineiras padrões de


desempenho ambiental, que incluem restauração da área afetada, estabilização da área
de superfície, controle de erosão, revegetação, minimização dos distúrbios do balanço
hídrico e da qualidade da água, disposição adequada de estéreis e rejeitos. Assim, no
decorrer da vigência da licença avalia-se o desempenho das atividades que a empresa
está executando na reabilitação ambiental da mina. A licença serve como um
instrumento legal para assegurar que a empresa irá cumprir plenamente seus
compromissos de reabilitação ambiental.

No Estado da Califórnia, existem diferentes agências com regulamentos e leis


próprias que se aplicam ao fechamento de mina. As duas agências mais importantes são
a agência local que controla o uso do solo e a agência estadual responsável pela
proteção da qualidade da água (MMSD, 2002).

Nos Estados Unidos, somente o estado do Arizona mantém um sistema único


para tratar das questões de licenciamento e reabilitação de áreas de mineração
(ROBERTS, VEIGA e PEITER, 2000). Além disso, neste estado, desde abril de 1997, o
Mine Land Reclamation Act (MLRA), lei que regulamenta os padrões de revegetação de
áreas mineradas, exige das mineradoras que provocam perturbações na área, tanto na
fase de pesquisa quanto na fase de lavra, a apresentação de garantias financeiras, tais
como, caução, certificados de depósito, depósito em dinheiro, anuidades, cartas de
crédito e etc. (MMSD, 2002). Este estado possui ainda uma legislação específica que
trata da participação pública em relação ao fechamento de mina. O Mine Land
Reclamation Act é a peça central que regula este assunto.

4.2.5 CANADÁ

O Canadá posiciona-se entre os maiores produtores de minérios do mundo. A


indústria de mineração é bastante ativa devido aos enormes depósitos minerais
localizados ao longo do país. Este país oferece ainda um ambiente favorável à
mineração porque a tributação da indústria de mineração é classificada como baixa a
média na escala internacional (ALAM, 2011).

59
No Canadá, o controle efetivo da atividade de mineração é de competência
exclusiva das Províncias, com exceção da extração de urânio. Cada província apresenta
regulamentos próprios que ditam como as áreas devem ser reabilitadas dentro de suas
jurisdições. A mineração é também, por determinação constitucional, de
responsabilidade das províncias. No entanto, para os territórios de Yukon, Nunavut e do
noroeste do país, o governo federal assume a responsabilidade pela regulamentação do
fechamento de minas e da recuperação ambiental (MMSD, 2002).

O governo federal atua supletivamente quando a mineração interfere em


questões de pesca, direitos indígenas, negócios e comércio, ferrovias e energia atômica
(FARIAS, 2002). Roberts, Veiga e Peiter (2000) apontam que as leis federais
canadenses atuam indiretamente na reabilitação de áreas mineradas. Entre alguns desses
instrumentos legais, destacam-se o Canadian Environmental Assessment Act (CEAA), o
Canadian Environmental Act (CEPA) e o Fischeries Act.

As exigências para o fechamento de mina geralmente são formalizadas dentro do


processo de licenciamento prévio ou do processo de planejamento de lavra da mina,
podendo integrar a avaliação de impacto ambiental do empreendimento (LIMA apud
Flores, 2006). Todas as províncias adotam a obrigatoriedade para a apresentação e
atualização do plano de fechamento de mina. Estes planos devem ser submetidos à
análise pelo setor competente para aprovação. Além disso, cada província possui
regulamentos específicos sobre o conteúdo do plano de fechamento de mina.

O conteúdo do plano, em síntese, deve incluir uma descrição detalhada do


projeto, objetivos do fechamento, medidas de reabilitação ambiental, plano de
monitoramento, garantias financeiras e etc.

No Canadá, o Water Act é o instrumento legal que estabelece as garantias


financeiras para o fechamento de mina (MMSD, 2002). Todas as províncias exigem
garantias financeiras das empresas mineradoras para o fechamento de mina. Caso ocorra
a falência da empresa, a maioria das províncias dispõe de um sistema de prioridade para
a alocação dos recursos do fundo de recuperação ambiental, baseando-se em fatores
como proximidade com áreas povoadas, saúde e segurança pública e proteção ao meio
ambiente.

60
Em algumas províncias, como a de Ontário, após o término dos trabalhos do
plano de fechamento de mina pela empresa mineradora, é realizada uma auditoria
técnica pelo governo local, para verificação do cumprimento do plano de fechamento de
mina aprovado. Constatada a execução do plano, emite-se um certificado para empresa
sobre a conclusão dos trabalhos técnicos liberando-a das responsabilidades sobre a área.

4.2.6 AUSTRÁLIA

No caso da Austrália, a mineração é administrada pelo Governo Federal


(Commonwealth Government), Estados e Territórios. Todos os Estados e Territórios
possuem políticas próprias para o fechamento de minas, que exigem às empresas
mineradoras a apresentação de um plano de reabilitação ambiental para a área minerada,
para ser aprovado pela agência local. Além do mais, todas as jurisdições exigem alguma
forma de garantia financeira para o fechamento de mina.

Flores (2006) aponta que a regulamentação da indústria mineral, bem como as


responsabilidades para as questões do fechamento de mina, são dos Estados e
Territórios, sendo o Commonwealth Government responsável pelas atividades de
mineração em terras federais.

Na região oeste da Austrália (Western Australia) o quadro regulatório é


compartilhado entre o Department of Mines and Petroleum (DMP) e Environmental
Protection Authority (EPA). O DMP é a autoridade reguladora para os projetos de
mineração conforme o Mining Act de 1978. Ademais, tem o papel de garantir que as
condições do fechamento e os compromissos assumidos pela empresa serão
implementados durante a vigência do projeto de mineração.

O plano de fechamento de mina é de apresentação obrigatória e deve ser


submetido ao DMP para aprovação. Ressalta-se que mesmo depois da aprovação do
plano inicial, após três anos, o plano aprovado deve ser revisto e submetido novamente
à aprovação do DMP ou em algum outro momento como requerido pelo DMP.

A EPA é a autoridade responsável pelo meio ambiente de acordo com o


Environmental Protection Act de 1986 e tem como função fazer a Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA) dos projetos de mineração. Se um projeto tem o potencial de criar um
impacto significativo sobre o meio ambiente ele é encaminhado para a EPA para
avaliação (MMSD, 2002). Neste caso, junto à documentação ambiental deve estar

61
contemplado o plano de fechamento de mina. O processo de aprovação do plano de
fechamento de mina algumas vezes requer o aconselhamento ou endosso de outros
órgãos reguladores ambientais, incluindo o Department of Environment and
Conservation e o Department of Water. O DMP tem um papel consultivo para as
questões relacionadas à gestão ambiental das minas (AUSTRÁLIA, 2011).

Portanto, o plano de fechamento de mina, para ser aprovado, deve satisfazer as


condicionantes técnicas tanto do DMP quanto da EPA. Este plano, depois de aprovado,
permanece à disposição do público, para consulta. No entanto, são resguardadas as
informações de natureza confidencial ou de propriedade intelectual.

Para a empresa renunciar ao título de lavra, é necessária a aceitação formal das


entidades reguladoras para certificar que todas as obrigações do Plano de Fechamento
de Mina foram concluídas.

4.3 – RAZÕES PARA O FECHAMENTO DAS MINAS

Para elucidar as razões que levam ao fechamento de mina é necessário distinguir


entre o fechamento de mina que se dá pela exaustão das reservas minerais e o que
ocorre por outras razões que independem da exaustão das reservas minerais. Faz parte
do senso comum, relacionar o fechamento de uma mina com a exaustão das reservas
minerais, pois a mineração é uma atividade extrativa de recursos naturais não
renováveis, que possuí uma natureza finita. Nesse contexto, pode-se visualizar
antecipadamente quando acontecerá o fechamento de uma mina, já que o planejamento
de lavra de longo prazo permite estimar qual será a vida útil da mina, a partir da escala
de produção prevista e da reserva economicamente lavrável.

Sánchez (2001:46) conta que “a necessidade de desativação de minas e


instalações conexas deriva, portanto, em primeira análise, da quantidade finita de
recurso mineral existente em cada jazida. Com maior frequência, porém, trata-se muito
mais de uma exaustão econômica e não física das reservas de minério, embora haja
algumas notáveis exceções de minas que têm funcionado durante séculos. A regra,
contudo, é o fechamento da mina depois de certo período de atividade”.

Esse cenário é o mais adequado para conduzir o processo do fechamento de uma


mina, visto que as várias partes envolvidas já estão preparadas para o encerramento das
atividades da mina. Assim, os trabalhadores planejam-se para encontrar outro trabalho,
se qualificam para novas oportunidades de emprego e o município que depende

62
economicamente da mina programa-se para diversificar sua economia e criar outras
fontes de renda.

Por outro lado, Laurence (2006) descreve várias outras razões para o fechamento
de mina, que independem da exaustão das reservas minerais. Entre elas, econômicas,
geológicas, geotécnicas e governamentais. No que tange às razões econômicas, o
aumento dos custos de produção pode conduzir à paralisação dos trabalhos. Além do
mais, muitos minérios são commodities que possuem preços regulados no mercado
internacional. O declínio rápido e acentuado desses preços pode tornar a mina não
rentável para operar. Ademais, a concorrência entre materiais e o surgimento no
mercado de um produto concorrente, com preço e qualidade diferenciados e favoráveis
ao consumidor, podem levar ao fechamento de uma mina. A redução da demanda de um
determinado produto e a consequente diminuição do volume de vendas é capaz também
de ocasionar a paralisação das atividades de lavra. “A saúde financeira da empresa,
dentre outros imperativos econômicos, é causa que pode levar ao fechamento não
planejado das minas” (FLORES e LIMA: 2012,53).

Dentre as razões geológicas, a diminuição do teor de corte e das reservas


lavráveis podem acarretar o fechamento prematuro da mina. Isto acontece, algumas
vezes, devido à superestimação dos valores nos cálculos das reservas. Imagina-se uma
quantidade maior para as reservas cubadas, sendo que, na realidade, a quantidade das
reservas é bem menor. A baixa recuperação do minério é outro motivo no qual pode
resultar no fechamento da mina. Júnior (2006) aponta ainda a falta de investimento em
pesquisa mineral (ativa descoberta), tendo como consequências a estagnação das
reservas. Maia (1974,18) salienta que a real conservação mineral deve ser caracterizada
como:
Ativa descoberta – ampliando reservas disponíveis;
Completa extração – não desperdiçando material na extração ou no
beneficiamento;
Adequada utilização – não usando materiais mais nobres quando a
necessidade imediata pode ser provida com outros de menor
qualidade.

Para Maia (1980) uma jazida insuficientemente explorada é uma deficiência


técnica que não pode ser ignorada ou desprezada. Para melhor conhecimento da jazida,
as atividades de exploração deverão ocorrer simultâneamente à lavra.

63
Já as razões geotécnicas que podem levar ao fechamento de uma mina estão
relacionadas às condições adversas do maciço rochoso, impossibilitando a segurança
das operações mineiras. O rompimento de taludes pode provocar a paralisação das
atividades de lavra. Além do mais, o avanço dos trabalhos de lavra pode interceptar
falhas geológicas, descontinuidades, materiais heterogêneos e quebradiços,
comprometendo a estabilidade das escavações mineiras. Nos trabalhos subterrâneos, o
rompimento de pilares e o desmoronamento de blocos de rochas são motivos que podem
afetar a segurança das operações mineiras. Em 2010, após o acidente na mina de San
José, o órgão regulador da mineração no Chile ordenou o fechamento de 30 pequenas
minas de cobre, tendo como justificativa as condições precárias de segurança dessas
minas (JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

No caso de razões governamentais, destacam-se mudanças políticas, restrições


ambientais, impedimentos legais ou de força maior e a oposição da sociedade civil.
Flores e Lima (2012) apontam também outros fatores para o fechamento de minas como
problemas de infraestrutura para transporte e comercialização do minério e a
inexistência de um processo de beneficiamento viável técnica e economicamente que
poderá, em alguns casos, exigir vultosas pesquisas tecnológicas, conduzindo à
postergação da lavra de toda ou de parte da jazida ou ao encerramento das atividades da
mina.

Laurence (2011) aponta na figura 3 as principais razões encontradas para o


fechamento de minas na Austrália entre os anos de 1981 a 2005.

64
Figura 3: Principais razões para o fechamento de minas
Fonte: Laurence (2011)

No estudo de Laurence, a quantidade de minas fechadas por motivos da exaustão


do recurso mineral é relativamente próxima à quantidade de minas fechadas
prematuramente por razões econômicas (alto custo de produção e baixo preço do
minério). No entanto, segundo este autor, somente as minas fechadas em razão da
exaustão do recurso tiveram um planejamento para o seu fechamento.

Algumas dessas situações do fechamento podem ser revertidas, quando os


preços das commodities retornam a valores atrativos que suportam os custos de
produção, novas reavaliações de reservas ou descoberta de novos corpos de minério que
permitam o prolongamento da vida útil da mina, descoberta de novas tecnologias que
possibilitam o aproveitamento econômico de antigos depósitos de rejeitos de minério.
No entanto existem situações que não podem ser revertidas, como na exaustão das
reservas economicamente lavráveis, problemas hidrológicos graves (inundações), ou se
a lavra for considerada prejudicial ao bem público ou comprometer interesses que
superem a utilidade da explotação mineral, a juízo do Governo.

O fechamento de mina pode ocorrer de forma temporária ou definitiva. Muitas


minas têm seu fechamento prematuro por variadas razões. Entretanto, o que se observa,
na maioria dos casos, é a falta de planejamento adequado para o fechamento de mina.
Mudder e Harvey apud ANZMEC (2000) relata que essa falta de planejamento e

65
atualização dos planos de fechamento de minas pode resultar em graves consequências
ambientais e econômicas, além de riscos à segurança e à saúde pública.

4.4 – CICLO DE VIDA DE UMA MINA E PLANEJAMENTO DO


FECHAMENTO DE MINA

Para contextualizar o fechamento de uma mina faz-se necessário explicar o ciclo


de vida de uma mina. Hartman e Mutmansky (2002) salientam que a mineração
compreende as seguintes fases: prospecção, exploração, desenvolvimento, explotação e
recuperação ambiental das áreas mineradas.

Figura 4: Ciclo de Vida de uma Mina e Planejamento do Fechamento de Mina


Fonte: ICMM (2008)

A fase inicial é a prospecção mineral, que consiste na procura dos minérios


utilizando-se mapas, literatura técnica, verificação de ocorrências e anomalias
geológicas, métodos de prospecção aérea, geofísica e geoquímica. A exploração é a
segunda fase e tem como objetivo definir a extensão e o valor do depósito mineral.
Nesta etapa, realizam-se trabalhos, tais como, aberturas de poços e trincheiras,
amostragens, sondagens rotativas e percussivas e estudos prévios de viabilidade
econômica. O desenvolvimento é a próxima fase e consiste na preparação da jazida para
a lavra, através da abertura de acessos e sistemas de transporte, construções de
instalações, escritórios, áreas de disposição de estéreis e rejeitos, etc. A explotação é a

66
quarta fase do ciclo de uma mina na qual se realizam, efetivamente, a extração e o
beneficiamento da substância mineral. Após essa etapa, finalmente iniciam-se os
trabalhos de recuperação ambiental das áreas mineradas com a restauração do sítio
degradado e revegetação da área.

No entanto, devido às recentes demandas ambientais, sociais e econômicas da


sociedade, o fechamento de mina vem sendo tratado como mais uma fase do ciclo de
vida de uma mina. A tendência atual é que as discussões sobre o fechamento de mina
sejam incorporadas aos estágios iniciais do empreendimento, devendo ser consideradas
já nos estudos de viabilidade econômica. Alguns métodos de lavra permitem conjugar
em paralelo as atividades de lavra com as atividades de reabilitação ambiental e
fechamento de mina, tornando possível diluir os custos ao longo da vida da mina,
evitando que a maior parte dos dispêndios ocorra na etapa final da vida útil da mina.

O processo do fechamento inclui as etapas de descomissionamento, desativação,


reabilitação, monitoramento e manutenção e pós-fechamento. O descomissionamento é
a preparação para a desativação da mina. De acordo com Júnior (2006,31) “o
descomissionamento é a fase transitória entre a paralisação completa das atividades
mineiras, programadas com antecedência, e o início da implantação de atividades
visando uma correta desativação”. A desativação é a cessação das atividades mineiras,
remoção das estruturas, equipamentos e materiais contaminados. “Todo esse trabalho
deve seguir um plano de desativação previamente definido” (JÚNIOR: 2006,31).
Algumas dessas estruturas possivelmente serão vendidas ou transferidas para outras
minas. Para Flores e Lima (2012,65) “a reabilitação é o processo através do qual são
reparados os impactos da mineração sobre o meio ambiente”. A reabilitação envolve
um conjunto de ações para assegurar que o ambiente degradado retorne ao máximo
possível à sua configuração ambiental original, através de uma nova forma de utilização
mais adequada para a área anteriormente minerada. Para Brent e Fourie (2006) a etapa
de reabilitação deve considerar fatores como a estabilidade física das escavações,
estabilidade química dos rejeitos dos minérios, manutenção da qualidade da água,
desenvolvimento de ecossistemas sustentáveis, bem como, o atendimento das
expectativas da comunidade. Além disso, outros fatores devem ser considerados, como
topografia, clima, características do solo, forma e tamanho da área.

67
O monitoramento e a manutenção têm como objetivo manter a estabilidade física
e química da área no longo prazo, bem como assegurar a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas. Alguns danos ambientais requerem o monitoramento
contínuo, assim como medidas corretivas. Na mineração de algumas substâncias
minerais, tais como os metálicos e o carvão, a preocupação principal é com a formação
de drenagem ácida, resultado da oxidação de sulfetos, particularmente a pirita. Práticas
inadequadas de disposição de estéreis e rejeitos, assim como o abandono de escavações
subterrâneas, pode favorecer a geração de drenagem ácida, com possibilidade de
contaminação de solos e recursos hídricos com metais pesados. Neste caso, os custos de
controle e monitoramento podem se estender por vários anos ou até mesmo se tornarem
perpétuos. Para estabilizar quimicamente o local, a primeira prioridade é a de conter, ou
se possível, eliminar a fonte de contaminação. O controle e o monitoramento incluem,
entre outras atividades, a neutralização das fontes contaminantes, controle do PH, do
nível de alcalinidade e da concentração de metais. A estabilidade física implica no
controle da erosão, estabilidade de taludes, pilhas de estéreis, acompanhamento
periódico das estruturas de contenção de rejeitos, manutenção e controle do sistema de
drenagens, de forma a evitar o assoreamento dos recursos hídricos à jusante do
empreendimento. É importante que todos esses trabalhos sejam planejados e estejam
contemplados em um plano de monitoramento e manutenção previamente concebido.

Segundo Flores e Lima (2012, 74) “O pós-fechamento tem início no momento


em que a propriedade mineira está pronta para reassumir seus papéis social e
ambiental, com a implantação do uso pós-mineração previamente definido”. Neste
caso, a área minerada já alcançou sua estabilidade física e química e não representa uma
ameaça para a segurança e a saúde pública. O plano de fechamento foi executado com
êxito e o titular da concessão de lavra se isenta de responsabilidades sobre a área. Um
uso futuro para área, caso seja possível, deverá ser acordado previamente entre os
responsáveis pela empresa, comunidade, município e órgão reguladores.

Planejar o encerramento das atividades de mineração é fundamental para evitar


passivos ambientais, bem como, problemas socioeconômicos advindos da desativação
dos empreendimentos mineiros. Ademais, isto se faz necessário, para que o fechamento
torne-se viável quanto aos aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais. O
planejamento é responsável pela definição do curso das ações a serem desenvolvidas.

68
Ele estabelece objetivos, metas, diretrizes, responsabilidades, prazos, custos, orçamento,
identificação dos principais problemas decorrentes e formas para solucioná-los.

A confecção de um plano de fechamento é o primeiro passo para planejar o


fechamento de mina. O escopo desse plano deverá ser bem estruturado, alinhado com as
peculiaridades da jazida e com as características do meio em que a mina se encontra.
Este plano deve ser de conhecimento de todas as partes interessadas, já que o
fechamento de mina é uma atividade que envolve interesses diversos e ocasiona
impactos econômicos, ambientais e sociais. O plano conceitual para o fechamento de
mina inicia-se antes das operações de lavra e deve ser periodicamente revisado e
aperfeiçoado ao longo do tempo, levando-se em consideração as condições locais, as
inovações tecnológicas e as expectativas das comunidades.

A revisão do plano ocorre (ou faz-se necessária) em função de mudanças no


processo operacional, aumento da escala de produção, inovações tecnológicas, novas
áreas de lavra e de servidões de mina, novas demandas da sociedade. Além de
exigências dos órgãos reguladores.

Na concepção de Júnior (2006,54)

Um plano de desativação de mina pode ser definido como um


conjunto de ações preparadas na fase anterior às operações mineiras
(fase de desenvolvimento) que é reavaliado periodicamente durante a
vida útil da mina, de modo a encontrar, com a participação de todos os
interessados (empresa, governo, comunidade e demais cidadãos), o
desenvolvimento sustentável da área após a desativação da mina.

No decorrer da vida da mina esse plano irá sendo detalhado à medida que melhores
conhecimentos são obtidos da jazida. Desta forma, quando a mina se encontrar próxima
do fim de suas atividades, a empresa já terá um plano final bem mais consistente para o
seu efetivo fechamento. Uma abordagem típica para o desenvolvimento de um plano de
fechamento de mina é segregar a mina em áreas ou domínios específicos. Cada domínio
deve ser tratado como uma entidade separada para o plano detalhado de trabalho, mas
dentro de um plano global que aborda a integração desses domínios. Por exemplo, área
da cava, área da usina, local da pilha de estéril, local da barragem de rejeitos, área de
infraestrutura (AUSTRÁLIA, 2006).

69
Um plano de fechamento de mina, dentre diversos objetivos, deve-se pautar-se
principalmente por:

- garantir que o processo de fechamento ocorra de forma ordenada, eficaz e com prazos
adequados;
- reduzir ou eliminar os danos ambientais que ocorrem com o fechamento da mina;
- garantir a saúde e a segurança pública e proteger o meio ambiente;
- manter a estabilidade física, química e biológica da área minerada;
- considerar os interesses de todos os grupos envolvidos durante o processo de
fechamento de mina;
- definir o custo do fechamento e fornecer garantias financeiras para a implementação
do plano de fechamento;
- estabelecer um conjunto de indicadores que demonstram a execução bem sucedida do
processo de fechamento, comprovando que a empresa atingiu os critérios de fechamento
de forma satisfatória para a autoridade responsável;
- assegurar que as medidas de reabilitação sejam permanentes e eficazes no longo prazo;
- identificar possíveis usos futuros para a área minerada;
- atender as metas de longo prazo do fechamento, bem como, reduzir ou eliminar a
necessidade de monitoramento de longo prazo;
- minimizar ou eliminar os impactos socioeconômicos (ANZMEC/MCA, 2000;
AUSTRÁLIA, 2006; P. M. HEIKKINEN et al. 2008; AUSTRÁLIA, 2011).

Para o alcance desses objetivos o ideal é planejar o fechamento antes do início


das operações mineiras. Entretanto, em muitos casos, a elaboração do plano somente
ocorre quando a mina encontra-se próximo do término de suas operações. Nessa
situação, a empresa pode não apresentar recursos suficientes para a execução do plano,
podendo deixar passivos ambientais para a comunidade em que a mina está inserida.

É bom ressaltar que não existe uma padronização de plano, pois cada plano é
elaborado conforme um determinado contexto específico, haja vista os diversos tipos de
substâncias minerais, os diferentes métodos de lavra, os variados níveis de
complexidade, as várias escalas de produção, os possíveis riscos e os distintos graus de
impactos socioambientais. No entanto, algumas diretrizes gerais devem ser adotadas
para confecção de um plano de fechamento.

Para Warhurst e Noronha (2000: 24/25) o plano de fechamento de mina deve


abordar as seguintes questões:
- Que tipos de problemas ambientais e sociais podem ocorrer ao longo da vida da mina
ou que podem surgir com o fim da vida da mina?
- Como estes problemas podem ser mitigados ou evitados?
- Quando esses problemas devem ser tratados, de modo que os resultados sejam os mais
efetivos, sob as perspectivas ambiental, social e econômica?

70
- Quem deverá estar envolvido no processo de fechamento de mina?

A importância de uma abordagem preventiva para as questões do fechamento


evita a ocorrência de danos ao meio ambiente e reduz as despesas finais do processo de
fechamento, bem como, possibilita, em alguns casos, a realização de uma reabilitação
progressiva das áreas mineradas concomitantemente com as atividades de mineração. O
benefício de um planejamento adequado reduz os impactos sociais, econômicos e
ambientais do fechamento, além de diminuir ou eliminar a necessidade de manutenção
de longo prazo. Para isso, portanto, se faz necessário à adoção de um sistema de
gerenciamento ambiental integrado com as atividades de fechamento, contendo uma
análise de riscos, visando a redução de custos e incertezas no longo prazo, e um plano
de monitoramento e reparação dos impactos previsíveis e imprevisíveis, além de uma
extensa análise de impacto ambiental, incorporando uma análise dos impactos sociais.

Ademais, para o sucesso do fechamento é fundamental o constante


acompanhamento de todas as etapas do fechamento, assim como, na fase de pós-
fechamento a realização de auditorias técnicas pelos agentes reguladores, com
elaboração de relatórios técnicos para verificação da situação em que se encontra o
fechamento.

Além disso, é importante que cada parte interessada esteja ciente do propósito,
das metas e dos objetivos do fechamento. Em alguns países, o plano de fechamento
encontra-se disponível para consulta pública. É preciso definir claramente qual é o
limite de responsabilidade de cada parte interessada no que tange ao fechamento de
mina, ou seja, qual é a competência da empresa, do órgão gestor da mineração, do órgão
responsável pelo meio ambiente, do município e da comunidade.

4.5 – TIPOS DE FECHAMENTO E USO FUTURO PREVISTO PARA A ÁREA


MINERADA

O fechamento planejado ocorre quando há um plano conceitual de fechamento


pré-determinado. Por outro lado, o fechamento súbito é quando há necessidade de
implementação de um plano de descomissionamento emergencial (CURI e LIMA:
2005,101).

71
O fechamento de mina pode ter caráter temporário ou definitivo. O fechamento
temporário denota a suspensão ou cessação temporária das operações mineiras e
significa que em algum momento essas atividades poderão ser retomadas. Flores e Lima
(2012,56) salientam ainda para o caráter parcial do fechamento, quando “se trata do
encerramento de uma frente de lavra (uma cava, bancadas, tiras), pilhas de estéril,
barragens de rejeitos e outras obras de apoio à produção”. O fechamento definitivo
contempla o encerramento permanente das operações mineiras.

Em ambos os casos, a NRM nº 20 define procedimentos administrativos e


operacionais para o fechamento de mina, suspensão e retomada das operações mineiras.
Além do mais, o artigo 58 do Código de Mineração dispõe sobre a suspensão
temporária de lavra e renúncia do título de lavra. Este artigo confere que:
Poderá o titular da portaria de concessão de lavra, mediante
requerimento justificado ao Ministro de Estado de Minas e Energia,
obter a suspensão temporária da lavra, ou comunicar a renúncia ao seu
título.
§ 1º Em ambos os casos, o requerimento será acompanhados de um
relatório dos trabalhos efetuados e do estado da mina, e suas
possibilidades futuras.
§ 2º Somente após verificação "in loco" por um de seus técnicos,
emitirá o DNPM parecer conclusivo para decisão do Ministro das
Minas e Energia.
§ 3º Não aceitas as razões da suspensão dos trabalhos, ou efetivada a
renúncia, caberá ao DNPM sugerir ao Ministro das Minas e Energia
medidas que se fizerem necessárias à continuação dos trabalhos e a
aplicação de sanções, se for o caso.

Conforme elencado o titular da concessão de lavra poderá comunicar renúncia


do título de lavra. No entanto, não é obrigado a requerer a renúncia da lavra. Tonidandel
(2011,33) salienta que
“de forma geral as empresas do setor, mesmo após a finalização da
execução dos planos de fechamento, não requerem a renúncia do título
de lavra junto ao DNPM. Isso se deve principalmente em virtude dos
avanços tecnológicos aliados à elevação do preço do minério no
mercado mundial, que podem viabilizar a retomada das atividades do
empreendimento, mesmo com concentrações de teores de minério
mais baixas”.

72
Este comportamento implica em manter a área onerada, bloqueada para outros
fins e improdutiva, uma vez que o titular suspendeu as operações produtivas no sítio
mineiro.

Além disso, os titulares não requerem a renúncia do título de lavra, uma vez que
a área poderia entrar em disponibilidade e passar a ser titulada por outros interessados.
Essas áreas objeto de fechamento de mina acabam permanecendo no DNPM em
suspensão temporária de lavra, com a possibilidade de ser renovada indefinidamente.
Tal tipo de suspensão, ocasiona diversos tipos de entraves, dentre eles, o privilégio de
uma empresa aguardar o desenvolvimento de tecnologias sem necessariamente investir
para tal desenvolvimento, além disso um prejuízo a União já que ela não esta recebendo
sobre a área.

Verificam-se duas situações para os tipos de fechamento de mina. A primeira


refere-se ao fechamento que impõe cuidados de monitoramento e manutenção na fase de
pós-fechamento. Esses trabalhos adicionais podem se estender por longos períodos de
tempo e em alguns casos até assumir um caráter perpétuo, além de implicar em custos
que podem se tornar exorbitantes ao longo do tempo. Para exemplificar, citamos o custo
de controle da drenagem ácida da mina de urânio (Osamu Utsumi) de Poços de Caldas,
Minas Gerais, que encerrou suas atividades de lavra no ano de 1995. Segundo Nóbrega,
Lima e Leite (2008) os custos mensais envolvidos para neutralização da drenagem ácida
no ano de 2005 variou de R$ 800.000,00 a R$ 900.000,00.

E a segunda diz respeito ao fechamento que não requer trabalhos de


monitoramento e manutenção e nem mais medidas corretivas durante o pós-fechamento.
Neste caso, a área já atingiu sua estabilidade física e química e pode ser destinada a um
novo uso. Nesse contexto, cavas de minas exauridas podem ser utilizadas para a
disposição controlada de estéreis e rejeitos de outras minas que ainda se encontram em
atividade, evitando, desta forma, o comprometimento de novas áreas para a construção
de barragens de rejeitos e locais para disposição de estéreis. Cavas exauridas também
podem ser utilizadas para o armazenamento de água para abastecimento público,
piscicultura, disposição de resíduos sólidos inertes, etc.

73
As áreas mineradas próximas a regiões urbanas podem apresentar viabilidade
para serem utilizadas como loteamentos e assentamentos urbanos, levando em conta o
aumento populacional das cidades do centro para as regiões periféricas, a demanda
crescente por moradias, além da possibilidade de transferência para essas áreas de
famílias que vivem atualmente em áreas de risco. Bitar e Vasconcelos (2003) salientam
algumas alternativas de usos pós-mineração em áreas urbanas, dentre elas, o
aproveitamento da área para implantação de projetos industriais, reaterro simples para
desenvolvimento de atividades agrícolas, projetos destinados a áreas de lazer, como
parques, anfiteatros, museus, entre outros.

Damasceno (2000) destaca dois exemplos, em cidades brasileiras, que ilustram a


possibilidade de nova utilização de cavas de minas desativadas. O primeiro, de um
antigo porto de areia na cidade de São Paulo. Com o fim da operação da mina, a área da
cava foi destinada para a construção de uma raia olímpica utilizada para competições de
remo. Essa raia localiza-se na cidade universitária da USP. O segundo, de uma antiga
pedreira em Curitiba em que a área minerada foi aproveitada para a construção de um
Parque e de um teatro em estrutura tubular, o Teatro Ópera de Arame. Ambas as
iniciativas partiram do poder público e utilizaram recursos públicos.

Na China, no distrito de Songjiang em Xangai, um hotel de luxo (Figura 5) está


sendo construído em uma área de uma antiga pedreira desativada. Os investimentos
giram em torno de US$ 555 milhões, ou seja, mais de R$ 1 bilhão. A diária na suíte
padrão deve custar U$ 320 (cerca de R$ 640). Ao redor do hotel, será construído um
parque temático de 428 mil metros quadrados na área da montanha Tianmashan, com
local para salto de bungee jumping e escalada. O hotel deve ser inaugurado entre o fim
de 2014 e o início de 2015 (JORNAL CORREIO BRAZILIENSE, 2012).

74
Figura 5: Foto do Projeto do Hotel - Como se fizesse parte das paredes da pedreira, o hotel descerá pela
pedreira em 19 andares e terá 380 acomodações e do alto cairá uma cascata de 100 metros de altura, ao
lado de jardins suspensos, terraços e um lago.
Fonte: Jornal Correio Braziliense (2012)

O uso futuro de uma área minerada deverá levar em conta: a aptidão da área, as
demandas da sociedade, as condições socioeconômicas locais, a lei de uso e ocupação
do solo e o plano diretor do município, quando houver. O estabelecimento do uso futuro
de uma área antes do inicio das operações de lavra, como prevê o plano de fechamento
de mina, é uma tarefa complexa, considerando que a vida útil de uma mina pode se
estender por várias décadas, também com o descobrimento de novas reservas. Além
disso, as reavaliações das reservas permitem prolongar ainda mais a vida útil das minas,
por isso, essa questão não deve ser negligenciada e deve ser incorporada ao plano de
fechamento, tendo como perspectivas as mudanças temporais das reservas e as
alterações das demandas socioeconômicas. Nesse âmbito, o novo uso pode representar
uma oportunidade para diversificar, incrementar ou solucionar questões
socioeconômicas.

4.6 – IMPACTOS DO FECHAMENTO DAS MINAS

A implantação de um empreendimento mineiro pode representar para o


município e comunidade em que a mina se encontra inserida, o aumento da oferta de
empregos, da arrecadação de impostos, da disponibilidade de bens e serviços e da
melhoria da infraestrutura local. Por outro lado, pode trazer efeitos negativos para o
meio ambiente, dentre eles, imensas áreas degradadas e danos ambientais irreversíveis.

75
Os impactos na mineração ocorrem em todas as etapas do ciclo de vida de uma
mina, desde a prospecção mineral até o fechamento de mina. O desmatamento de áreas
para abertura de picadas e vias de acesso, construções de alojamentos podem ocorrer na
fase de pesquisa. Durante o desenvolvimento pode ocorrer o desmatamento de grandes
áreas para a abertura de estradas, construções de pátios para estocagem de estéril e
minério, barragens de rejeitos, escritórios, implantação das instalações de lavra e
beneficiamento. Alterações na topografia e no balanço hídrico, geração de ruídos,
emissões de material particulado para a atmosfera, formação de erosões, assoreamento
de rios e córregos locais, bem como, a poluição e contaminação do meio ambiente
podem acontecer na fase de lavra. Nesta etapa, podem acontecer ainda problemas
sociais e econômicos como o aumento expressivo da população local, dos valores de
aluguéis, da demanda de serviços de saúde, transporte e segurança. Alguns desses
impactos, caso não sejam administrados e controlados, podem se estender até a fase de
pós-fechamento, trazendo consequências maléficas para o meio ambiente.

Os impactos da mineração dependem do local onde se encontra a jazida, do tipo


de minério, do método de lavra e beneficiamento e da escala de produção. Algumas
minas situam-se em regiões ambientalmente sensíveis. O desmonte de rochas próximo a
regiões urbanas pode ocasionar impacto e desencadear conflitos entre a comunidade e a
empresa de mineração. Alguns tipos de minérios resultam na produção de grandes
quantidades de estéreis e rejeitos e na necessidade de enormes áreas para disposição
desses materiais. Além do mais, determinados tipos de estéreis e minérios podem conter
sulfetos que, quando oxidados na presença de água, podem gerar drenagem ácida.
Alguns métodos de lavra a céu aberto podem provocar mudanças significativas na
paisagem. Em alguns casos é impossível retornar a área ao estado original.
Determinados métodos subterrâneos, podem acarretar subsidências que comprometem o
uso superficial dos terrenos, além de provocar danos nas estruturas presentes na
superfície, tais como, edifícios, sistemas de energia e comunicação.

A etapa de fechamento de uma mina também pode resultar em impactos


ambientais, econômicos e sociais para as regiões e comunidades nas quais as minas se
encontram inseridas. Sánchez (2011) relata que os principais impactos socioeconômicos
do fechamento de minas incluem a perda de arrecadação tributária, principalmente
municipal; a perda de empregos e renda; a diminuição da atividade econômica local; a

76
redução de qualidade e alcance dos serviços públicos e a perda de qualidade de vida da
população local.

Na Inglaterra, a indústria carbonífera fez parte essencial da economia inglesa por


cerca de duzentos anos. Em 1947, o governo britânico nacionalizou a indústria de
carvão. Entre os anos de 1984/1985, o governo anunciou um programa de
racionalização da produção de carvão o que levou ao fechamento da maioria das minas
estatais e demissão de grande parte dos trabalhadores mineiros. O fechamento não
planejado dessas minas provocou enormes problemas sociais, além de problemas
ambientais como a geração de drenagem ácida e contaminação de recursos hídricos
(ROBB, 1994; BEYNON,1994).

Beynon (1994) aponta na tabela 3 os impactos do fechamento dessas minas na


Inglaterra.

Tabela 3: Impactos do Fechamento das Minas de Carvão na Inglaterra.


Fonte: Beynon (1994)

Como se observa na tabela 4, em menos de 50 anos, houve uma redução drástica


do número de minas em operação, e consequentemente, da mão de obra empregada nas
minas. O encerramento dessas atividades produtivas gerou um grande impacto nos
distritos mineiros e acarretou uma grave crise para as instituições locais de gestão de
emprego. O fechamento dessas minas levou ainda a extinção de uma classe operária
mineira, ligada a fortes sindicatos da mineração de carvão, que exerciam grande
influência na política britânica.

77
Tabela 4: Impacto Social do Fechamento das Minas de Carvão na Inglaterra.
Fonte: Beynon (1994)
O encerramento das atividades mineiras sem um planejamento adequado pode
desencadear uma enorme deterioração no meio ambiente. O simples abandono dos
trabalhos de lavra pode ocasionar, dentre outros impactos, subsidências e colapso dos
trabalhos subterrâneos, a erosão dos depósitos de resíduos sólidos oriundos da
mineração, a contaminação dos solos e assoreamento dos recursos hídricos, alterações
no sistema de drenagem, a geração de drenagem ácida, o aumento da erosão e dos
deslizamentos de terra, possíveis rompimentos de barragens de rejeitos. Além de deixar
passivos ambientais como imensas áreas degradadas e problemas relacionados à
segurança e saúde pública.

Laurence (2011) sinaliza na figura 6 os principais impactos ambientais ocorridos


no fechamento das minas na Austrália entre os anos de 1981 a 2005.

Figura 6: Impactos ambientais do fechamento de minas


Fonte: Laurence (2011)

78
Este autor adverte que esses impactos ambientais ocorreram devido ao
fechamento prematuro das minas e a falta de planejamento apropriado para o
fechamento das minas. Neste estudo, a drenagem ácida representa o principal problema
ambiental do fechamento das minas.

Estes danos requerem trabalhos de tratamento, controle e monitoramento de


longo prazo, com custos que podem se tornar impraticáveis ao longo do tempo.

Warhurst e Mitchell (2000) citam como exemplo o desastre ambiental que foi
gerado com o fechamento súbito e não planejado da mina de ouro Summitville
localizada no Colorado, Estados Unidos. Em 1992, após decretar falência, a empresa
mineradora abandonou os trabalhos de lavra trazendo profundas implicações ambientais
como a formação de drenagem ácida e contaminação de recursos hídricos, além de
riscos à saúde pública. Desde o abandono da mina, já foram gastos 150 milhões de
dólares (dados até 1997) em dinheiro público nos trabalhos de tratamento e remediação
da área.

Em termos socioeconômicos muitos municípios dependem economicamente da


mineração. O impacto do fechamento de uma mina pode resultar em desempregos,
perdas de impostos, serviços e oportunidades locais. Pode ainda levar à decadência
econômica da comunidade local. Simões (2008) aponta para a falta de um projeto para o
fechamento da mina de manganês da ICOMI na Serra do Navio, no estado do Amapá.
As operações de lavra foram encerradas em 1997, após quarenta anos de operação. A
economia local era completamente dependente dos benefícios econômicos gerados pelas
atividades da empresa mineradora. O fim das operações, além de gerar desempregos,
pobreza e problemas sociais, deixou ainda passivos ambientais como a contaminação
por arsênio próximo a região do porto no município de Santana. Tanto a empresa,
quanto o poder público não atentaram para as consequências graves do fechamento não
planejado da mina.

4.7 – ESTRUTURA E CONTEÚDO BÁSICO DE UM PLANO DE


FECHAMENTO DE MINA

A elaboração de um plano de fechamento de mina é um trabalho


multidisciplinar que requer a participação de vários especialistas. O presente tópico tem
como objetivo apontar, com base na literatura internacional vigente, qual seria a

79
estrutura e o conteúdo básico de um plano de fechamento de mina. Assim, fornecer
diretrizes gerais para a confecção de um plano conceitual de fechamento de mina, tendo
em vista a atual ausência, no DNPM, de um manual de desativação de empreendimentos
mineiros. Convém ressaltar, novamente, que não existe uma padronização de plano,
pois cada um é elaborado conforme um determinado contexto específico, haja vista os
diversos tipos de substâncias minerais, os diferentes métodos de lavra, os variados
níveis de complexidade, as várias escalas de produção, os possíveis riscos e os distintos
graus de impactos socioambientais.

O primeiro passo para planejar o fechamento de uma mina é elaborar um plano


conceitual para seu fechamento que à medida que a mina for se desenvolvendo, deverá
ser continuamente detalhado e atualizado ao longo da sua vida. A NRM nº 20 do
DNPM, ao contrário de outras legislações, não estabelece prazo para a revisão e
detalhamento do plano de fechamento de mina. A legislação australiana determina a
revisão do plano a cada 3 (três) anos, após aprovação do plano pelo órgão competente.
A legislação peruana estabelece que a primeira atualização do plano de fechamento
deverá ser feita após 3 (três) anos da aprovação do plano pelo órgão competente e,
posteriormente, a cada 5 (cinco) anos.

A revisão do plano não demanda necessariamente um grande retrabalho em


relação ao plano original ou anteriormente apresentado, a menos que ocorram mudanças
significativas no processo de lavra. No entanto, ela é necessária para um melhor
acompanhamento da situação do estado do fechamento (AUSTRÁLIA, 2011). Nesse
aspecto, o DNPM poderia instituir, como mecanismo de acompanhamento da evolução
do plano de fechamento, relatórios técnicos periódicos contemplando todos os
parâmetros técnicos, econômicos, ambientais e sociais necessários para um efetivo
fechamento de mina, a exemplo do que já é feito no Peru e na Austrália. Observa-se,
atualmente, que o único instrumento de controle do fechamento de mina no DNPM é o
Relatório Anual de Lavra (RAL), que trata esse importante evento do setor mineral de
forma muito superficial, tendo em vista o seu item “dados básicos das minas” que
solicita somente informações sobre qual será a previsão de uso da área após o
fechamento de mina e a vida útil restante da mina.

A legislação australiana adota critérios e procedimentos distintos para os planos


conceituais de fechamento entre projetos de curto prazo e de longo prazo. Para os

80
projetos de curto prazo (menos de 10 anos) é exigido, logo no início, um maior número
de detalhes nos planos conceituais de fechamento. Para os projetos de longo prazo (mais
de 10 anos), devido a um maior prazo antes do fechamento, exige-se um menor número
de informações nos planos conceituais, sendo que maiores detalhes são requeridos no
decorrer da vida da mina. Entretanto, para os projetos que implicam riscos ambientais
significativos, são exigidas maiores informações nos planos conceituais de fechamento
de mina.

A legislação chilena, por seu lado, estabelece critérios e procedimentos para os


planos conceituais levando em conta a escala de produção. Para os planos conceituais
com escala de produção inferior a 10.000 toneladas/mês, adota-se um procedimento
mais simplificado, ao contrário dos planos conceituais com escala de produção superior
a 10.000 toneladas/mês, em que o conteúdo mínimo necessário para o plano é muito
mais abrangente e envolve ainda o estabelecimento de garantias financeiras.

Analisando as diretrizes para a elaboração dos planos conceituais de fechamento


de mina na Austrália, Canadá, Peru e Chile, pode-se constatar que todos requerem em
comum as seguintes informações:

 Identificação do responsável legal da empresa pelo fechamento de mina;


 Visão geral do projeto com descrição das operações mineiras, características do
minério, insumos utilizados, localização das instalações e das áreas de
estocagem de minérios, estéreis e rejeitos, informações sobre os superficiários e
detentores dos direitos de lavra, identificação de todas as áreas que poderão ser
impactadas;
 Os objetivos específicos do fechamento;
 As atividades específicas de fechamento de mina que serão implementadas
durante o período de vida da mina para alcançar os objetivos propostos;
 Cronograma das atividades;
 Estimativas dos custos para todas as etapas do fechamento;
 Garantias Financeiras para o fechamento;
 Uso previsto para a área minerada;
 Consulta pública do plano de fechamento.

81
Contudo, conforme apresentado na tabela 5, existem informações solicitadas por
um país que não figuram na lista de outros países, dentre elas:

Comparativo de informações básicas para os planos de fechamento de mina

Informações solicitadas nos planos de Fechamento de Mina Austrália Canadá Peru

A vida esperada do projeto, expresso em meses ou anos. 

Descrição de qualquer atividade anterior ao projeto que pode resultar 


na contaminação da área

Avaliação da estabilidade de aberturas, pilares e controle dos efeitos 


da subsidência.

Controle das estruturas de barragens e das drenagens e detalhes dos 


cursos d' água

Avaliação dos problemas socioeconômicos previstos 

Plano de desmobilização das estruturas e equipamentos 

Programa de gestão dos resíduos na mineração para prevenir, tratar e  


controlar a lixiviação de metais e formação da drenagem ácida.

Coleta e análise de dados sobre caracterização de solos e rejeitos, 


qualidade da água, hidrogeologia, etc.

O monitoramento e a manutenção que serão realizados, incluindo  


metodologia, sistema de controle e estratégias de remediação.

Identificação e gerenciamento de materiais perigosos, instalações


inseguras, drenagem ácida, impactos adversos na qualidade da água 
superficial e subterrânea, emissões de poeiras, ameaças para a fauna e
flora, gerenciamento de lagos de minas e etc.

Cronograma de trabalho das tarefas de reabilitação progressiva.  

Medidas que serão adotadas em caso de um fechamento inesperado ou  


um fechamento temporário.

Tabela 5: Comparativo de informações básicas para os planos de fechamento de mina


Fonte: Autor

82
A NRM nº 20 do DNPM não prevê alguns itens para o fechamento tais como
garantias financeiras, consulta pública do plano de fechamento de mina, impactos
socioeconômicos, medidas adotadas para métodos subterrâneos que podem ocasionar
subsidência, medidas de controle da estabilidade dos pilares e das aberturas
subterrâneas, caracterização de estéreis e rejeitos, medidas de prevenção e controle da
formação da drenagem ácida, procedimentos a ser adotados em caso de um fechamento
súbito, indicadores de avaliação do desempenho do fechamento de mina. Além disso,
não exige a apresentação de relatórios e nem estabelece vistorias periódicas na área para
verificação e acompanhamento da situação do fechamento.

A constatação dessas lacunas não retira ou diminui o mérito das Normas


Reguladoras da Mineração que continuam constituindo um marco importante no
tratamento das questões relacionadas ao fechamento de mina. No entanto, esse tema tão
importante e ainda em construção necessita de maiores discussões e avanços. As
Normas Reguladoras da Mineração precisam ser reavaliadas para uma melhor
estruturação dessa fase derradeira de um empreendimento mineiro.

83
CAPÍTULO 5 – SÍNTESE DO FECHAMENTO DE MINA NO ÂMBITO DO
DNPM DE MINAS GERAIS

Este capítulo apresenta à análise da situação do fechamento de mina nos


processos minerários da Superintendência do DNPM de Minas Gerais, os principais
dados levantados, os resultados e as discussões.

O método adotado para este trabalho foi, primeiramente, a identificação e o


cadastramento dos municípios mineradores mais importantes do Quadrilátero Ferrífero,
tendo por base a arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral de
Recursos Minerais (CFEM) no ano de 2011. Em seguida, efetuou-se um recorte de
pesquisa considerando somente os municípios que obtiveram a arrecadação de CFEM
acima de 10 milhões de reais. A etapa posterior consistiu em selecionar nesses
municípios as minas que mais contribuíram para esta arrecadação aos cofres municipais.
Por fim, verificou-se, junto ao DNPM/MG, se foi apresentado o plano de fechamento de
mina nos processos minerários das minas identificadas, o cumprimento dos quesitos
exigidos pelas Normas Reguladoras de Mineração para o fechamento de mina e os
procedimentos de análise dos planos adotados por este órgão.

A partir dessa metodologia foram selecionados 32 processos minerários


utilizando o Cadastro Mineiro do DNPM/MG, que foram enumerados de 1 a 32. Por se
tratar de informações de caráter sigiloso, omitiu-se os nomes das empresas mineradoras,
as localizações e os nomes das minas. A Tabela 6 sintetiza a situação dos
processos/minas quando da realização deste estudo em relação a produção, vida útil
informada no PAE e ano previsto para o fechamento.

Os processos analisados apresentam diferentes tipos de regime de


aproveitamento econômico dos recursos minerais de acordo com o Código de
Mineração (Brasil, 1967). Alguns processos minerários devido ao seu regime de
aproveitamento englobam mais de uma mina. Cabe salientar, que as Normas
Reguladoras de Mineração do DNPM regulam os diplomas legais e seu cumprimento é
obrigatório para o exercício de atividades minerárias. Dos 32 processos minerários, 20
correspondem a Grupamento Mineiro, 5 são relativos a Requerimento de Grupamento
Mineiro, 3 referem-se a Manifesto de Mina, 3 processos compreendem a Concessão de

84
Lavra e 1 processo corresponde a Englobamento13 (Figura 7). Do total de 32 processos
minerários, constata-se que 24 deles já foram analisados pelo DNPM, com pareceres
proferidos quanto aos Planos de Aproveitamento Econômico (PAEs) e que os 8
processos restantes ainda não tiveram o PAE analisado. (Figura 8).

13
É admissível o englobamento de áreas pesquisadas, para o efeito de outorga de um único título de lavra,
desde que a área resultante do englobamento não ultrapasse o limite máximo da classe a que pertencer a
substância mineral pleiteada para a lavra (item 17.1 da Instrução Normativa DNPM nº 1 de 22/10/1983,
D.O.U de 22/10/1983).

85
Tabela 6 – Situação dos processos/minas quanto ao plano de fechamento.

Processo Situação do Processo em julho de Produção Vida útil da mina informado no Ano previsto para o Fechamento da
2012 Anual (t) PAE (em anos) Mina
Requerimento de Suspensão de Lavra
1 600.000 Não informado Não apresentou PFM
não analisado pelo DNPM

2 Em operação de lavra 3.720 23 Não apresentou PFM

3 Em operação de lavra 235.000 20 Não apresentou PFM

4 Em operação de lavra 2,3 x 106 34 Não apresentou PFM


6
5 Em operação de lavra 26 x 10 24 2027

6 Em operação de lavra 5 x 106 Não informado Não apresentou PFM


6
7 Em operação de lavra 3,5 x 10 64 2034

8 Em operação de lavra 2,5 x 106 30 Não apresentou PFM


6
9 Em operação de lavra 8 x 10 18 2021

10 Em operação de lavra 50 x 106 Não informado 2022


6
11 Em operação de lavra 24 x 10 41 2059

12 Em operação de lavra 66 x 106 10 2024


6
13 Em operação de lavra 9,6 x 10 Não informado Não informado

Requerimento de Grupamento
14 2 x 106 10 Ainda não entrou em operação
Mineiro não analisado pelo DNPM

Requerimento de Grupamento
15 23 x 106 Não informado Ainda não entrou em operação
Mineiro não analisado pelo DNPM

16 Em operação de lavra 54.000 m³ Não informado Não apresentou PFM

Requerimento de Grupamento Não apresentou PFM e ainda não


17 2 x 106 7
Mineiro não analisado pelo DNPM entrou em operação

Requerimento de Grupamento
18 37,5 x 106 Não informado Ainda não entrou em operação
Mineiro não analisado pelo DNPM

Requerimento de Grupamento
19 10,6 x 106 19 Ainda não entrou em operação
Mineiro não analisado pelo DNPM

Requerimento de Suspensão de Lavra


20 588.000 8 Não apresentou PFM
não analisado pelo DNPM

21 Em operação de lavra 37,5 x 106 Não informado 2023

22 Em operação de lavra 25 x 106 36 2029

23 Em operação de lavra 500.000 18 2030

24 Encontra-se em Fechamento de Mina 15 x 106 29 2002

Requerimento de Suspensão de Lavra


25 450.000 Não informado Não apresentou PFM
não analisado pelo DNPM

26 Em operação de lavra 36 x 106 30 Não informado


6
27 Em operação de lavra 6,3 x 10 Não informado Não apresentou PFM

Requerimento de Suspensão de Lavra


28 50.487 Não informado Não apresentou PFM
não analisado pelo DNPM
6
29 Em operação de lavra 1,2 x 10 Não informado Não informado

30 Em operação de lavra 300.000 Não informado Não apresentou PFM

31 Em operação de lavra 468.000 8 2017

Suspensão de lavra autorizada pelo


32 - Não informado Não informado
DNPM

Fonte: Autor

86
Figura 7: Distribuição dos processos segundo o regime de aproveitamento dos recursos minerais. Fonte:
Autor

Figura 8: Distribuição da situação do PAE no DNPM/MG. Fonte: Autor


Quanto ao método de lavra adotado, 25 processos representam projetos de mina
a céu aberto e 7 de mina subterrânea (Figura 9). Diversos bens minerais são objeto de
aproveitamento econômico e distribuem-se nos processos da seguinte forma: 21
processos correspondem a minério de ferro, 1 para caulim, 1 para dolomita, 1 de topázio
imperial, 1 de bauxita e 7 de minério de ouro (Figura 10).

87
Figura 9: Distribuição dos processos quanto ao método de lavra. Fonte: Autor

Figura 10: Distribuição das substâncias minerais nos respectivos processos minerários. Fonte: Autor

Quanto à apresentação do plano de fechamento de mina verificou-se que os


mesmos foram apresentados em 19 processos e 13 não o submeteram ao DNPM como
estabelece a NRM nº 20 (Figura 11). A Figura 12, sintetiza as respostas a um
questionário quanto às características gerais do plano de fechamento apresentado ao
DNPM. O detalhamento das respostas ao questionário é apresentado a seguir.

88
Figura 11: Quantitativo dos planos de fechamento apresentados nos processos minerários em
cumprimento a NRM nº 20. Fonte: Autor

Figura 12: Síntese das respostas ao questionário aplicado para análise dos planos de fechamento
submetidos ao DNPM/MG. Fonte: Autor

89
a) Houve atualização do plano de fechamento de mina?

Os processos numerados como 5, 9, 10, 11, 13, 21 e 22, que equivalem a 36,84%
do total dos 19 que submeteram o plano de fechamento, apresentaram atualização ou
alteração do plano quando da revisão, ou quando do protocolo de um novo PAE. Os
novos PAEs, relativos aos processos 5, 9, 11, 13 e 22 encontravam-se pendente de
análise pelo DNPM quando da realização do estudo.

A NRM nº 20 do DNPM estabelece no item 20.4.2.1 que os planos de


fechamento devem ser atualizados periodicamente, no que couber, e estarem disponíveis
nas minas para fiscalização. No entanto, a norma não estabelece o prazo para a revisão e
detalhamento desses planos. Desta forma, a atualização e o detalhamento dos planos de
fechamento de mina ficam a critério somente do empreendedor.

b) Existe previsão para atualização do plano de fechamento de mina?

Nos 14 processos numerados como 5, 7, 9, 13, 14, 15, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 29
e 32 que correspondem a 73,68% do total, os planos conceituais de fechamento de mina
preveem a atualização destes, entretanto, em nenhum deles há um prazo ou
periodicidade apresentado para tal. Nos demais (processos 10, 11, 12, 26 e 31) não há
sequer, menção sobre a atualização do plano de fechamento de mina.

c) O plano de fechamento de mina foi elaborado pela própria empresa?

Nos 10 processos numerados como 7, 12, 14, 19, 21, 22, 23, 26, 29 e 31 que
equivalem a 52,63% do total, o plano de fechamento de mina foi elaborado pela própria
empresa. Nos 9 processos (5, 9, 10, 11, 13, 15, 18, 24 e 32) restantes, ou seja, 47,37%
do total o plano de fechamento de mina foi elaborado por uma consultoria externa.

d) O plano de fechamento apresenta uma estimativa de custos?

A estimativa dos custos de fechamento foi contemplada em 6 processos ( 5, 7,


14, 15, 21 e 24), ou seja, 31,58% do total. Os restantes 68,42% não apresentaram
nenhuma estimativa de custos para o fechamento de mina. O processo 5 apresenta uma
estimativa de custos de cerca de 68 milhões de reais. O processo 7 apresenta uma
previsão de aplicação de 8 milhões de reais no último ano de operação para o
fechamento de mina. O processo 14 não especifica o valor, mas considera
“investimentos em itens como monitoramento, vigilância e retoques em obras, após o

90
encerramento do empreendimento, em 25% do total aplicado em cada um dos quatro
anos subsequentes ao fechamento da mina.” O processo 15 apresenta uma estimativa
preliminar do custo de fechamento em 78 milhões de dólares. O processo 21 estima os
custos para a desativação (reabilitação da mina, reabilitação de pilhas de estéril,
reabilitação de barragens de rejeitos, projetos e serviços) no valor aproximado de 21
milhões de reais. No processo 24 encontra-se uma estimativa de custos para o
fechamento de mina no valor aproximado de 42 milhões de reais. No entanto, nenhuma
dessas empresas apresentou os custos discriminados.

e) Os custos de fechamento de mina estão apresentados no fluxo de caixa do


empreendimento?

Nenhum dos 19 Processos (5, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 21, 22, 23, 24,
26, 29, 31 e 32) apresentou os custos de fechamento de mina no fluxo de caixa do
empreendimento.

f) O plano contempla os impactos socioeconômicos do fechamento de mina?

Embora a NRM nº 20 do DNPM não requeira nenhum estudo dos impactos


socioeconômicos do fechamento de mina, em 5 Processos (7, 9, 11, 13 e 19), ou seja
26,32% do total, houve alguma menção a esses impactos, visto que procuraram delinear
os objetivos econômicos e sociais que esperam atingir ao término do processo de
fechamento das mina. As considerações socioeconômicas apresentadas incluem, por
exemplo, o desenvolvimento de um plano de monitoramento socioeconômico local
(processo 7); um plano para minimizar os impactos sociais negativos e otimizar os
positivos (processo 9, 11 e 13); um plano de fechamento para proporcionar uma
resposta adequada a reação social e econômica decorrente da desativação do
empreendimento (processo 19). No restante dos processos, ou seja, 73,68% não há
nenhuma consideração a respeito dos impactos socioeconômicos do fechamento.

g) O DNPM realizou vistorias no local para verificação e acompanhamento das medidas


apresentadas no plano de fechamento mina, nos processos já aprovados?

Dos 19 processos, 11 (5, 7, 9, 10, 11, 12, 21, 23, 24, 26 e 29), ou seja, 57,89%
tiveram o plano de fechamento de mina analisado pelo DNPM. Entretanto, observou-se
que o DNPM realizou vistoria apenas na área de um processo para verificação e
acompanhamento do plano de fechamento apresentado. O DNPM somente realizou

91
vistoria na área do processo 24 quando do fechamento de mina e na área do processo 32
quando da análise da suspensão dos trabalhos de lavra, embora o plano de fechamento
deste último não tenha ainda sido analisado. Os processos 13, 14, 15, 18, 19, 22, 31 e
32, equivalente a 42,11% do total, ainda não tiveram o plano de fechamento de mina
analisado pelo DNPM. A NRM nº 20 não exige a apresentação de relatórios e nem
estabelece vistorias periódicas na área para verificação e acompanhamento da situação
do fechamento.

Dos 19 processos que apresentaram plano de fechamento de mina, apenas 2


encontram-se em fase de fechamento de mina (Processos 24 e 32). O processo 24
encontra-se com o plano final de fechamento de mina aprovado pelo DNPM e publicado
no D.O.U. O processo 32 encontra-se com suspensão de lavra autorizada pelo DNPM a
cerca de 10 anos (aguardando estudos internos de viabilidade técnica e financeira para a
sua retomada) e plano de fechamento de mina pendente de análise pelo DNPM. No
entanto, os dois processos não concluíram, até o momento, os trabalhos efetivos para o
fechamento de mina, estando, portanto, ambas as áreas oneradas e sob responsabilidade
das respectivas empresas.

h) Quando está previsto a elaboração do projeto definitivo para o fechamento de mina?

Embora não esteja previsto na NRM nº 20, 6 processos (9, 10, 23, 29, 24 e 32),
ou seja, 31,57% informaram quando será elaborado o projeto definitivo para o
fechamento de mina. O processo 9 afirma que será elaborado um projeto executivo para
desativação à dois anos antes da paralisação das atividades. O processo 10 informa que
“um plano de exaustão será realizado no momento da exaustão do grupamento
mineiro.” Os processos 23 e 29 apontam que o plano de fechamento de mina deverá ser
detalhado por uma equipe multidisciplinar dois anos antes da paralisação das atividades.
O processo 24 apresentou o plano de fechamento de mina definitivo somente após o
encerramento das atividades de lavra. O processo 32 apresentou o relatório de
fechamento da mina detalhado somente após o encerramento definitivo das atividades
de lavra. Os demais processos não informaram quando será apresentado o projeto
definitivo para o fechamento de mina. A Norma NRM nº 20 do DNPM não estabelece
quando deve ser apresentado o projeto definitivo para o fechamento de mina.

92
i) Qual é o período previsto para os trabalhos de monitoramento e manutenção na fase
pós-fechamento de mina?

Dentre os processos que apresentaram plano de fechamento de mina, quatro


processos (15, 23, 24 e 29), ou seja, 21,05% informaram qual será o período para os
trabalhos de monitoramento e manutenção na fase pós-fechamento de mina. Os
processos 23 e 29 salientam que os programas de monitoramento deverão ser instituídos
durante 5 anos após a paralisação das atividades. O processo 15 aponta que “o período
de descomissionamento deverá durar 10 anos. Os primeiros 5 anos seriam de
descomissionamento ativo e os restantes seriam principalmente de monitoramento, com
alguma manutenção.” O processo 24 aponta que os trabalhos de monitoramento e
manutenção estão previstos para durar 5 anos. Os demais processos não informaram o
período previsto para os trabalhos de monitoramento e manutenção na fase pós-
fechamento de mina. Embora os processos acima tenham apresentado uma estimativa de
prazo para os trabalhos de monitoramento e manutenção, não há como avaliar esses
prazos dado a inexistência de estudos que o comprovem. Por outro lado, a NRM nº 20,
também não estabelece sequer um período mínimo para essas atividades ou diretrizes
para tal.

Observações gerais com relação aos planos de fechamento de mina apresentados:

 A empresa titular dos processos 5 e 21 apresentou um mesmo plano de


fechamento de mina para áreas distintas.
 A empresa titular dos processos 9, 11 e 13 apresentou um mesmo plano de
fechamento de mina para áreas distintas.
 A empresa titular dos processos 23 e 29 apresentou um mesmo plano de
fechamento de mina para áreas distintas.

Dado o caráter conceitual do plano apresentado, observa-se que algumas


empresas têm adotado um mesmo plano para mais de uma mina, embora essas estejam
localizadas em áreas diferentes, distintos ecossistemas e especificidades
socioeconômicas.

Dos 13 processos que não apresentaram o plano de fechamento de mina,


verifica-se que em 11 processos (1, 2, 3, 4, 6, 8, 16, 20, 25, 27 e 28) o requerimento de
grupamento mineiro foi anterior a Portaria DNPM nº 237/2001, alterada pela Portaria
DNPM nº 12/2002, que aprovou as Normas Reguladoras de Mineração (NRM) e

93
estabeleceu os procedimentos administrativos e operacionais para o fechamento de mina
(NRM nº 20). Não constam nos referidos processos, após a publicação da citada
Portaria, a apresentação dos planos de fechamento de mina, bem como a solicitação por
parte do DNPM da apresentação desses planos. A referida norma cita no item 20.4.2
que para toda mina que não tenha plano de fechamento contemplado em seu Plano de
Aproveitamento Econômico – PAE, a critério do DNPM, fica o seu empreendedor
obrigado a apresentar o referido plano conforme o disposto na norma. Entretanto, estes
critérios não estão definidos na norma.

Com relação aos demais processos, no de número 30, a requerente protocolou o


PAE, após a Portaria DNPM nº 237/2001, sem o plano de fechamento de mina, e foi
aprovado pelo DNPM, sem que este órgão solicitasse a apresentação do plano de
fechamento de mina. Um processo (o de nº 17) em fase de requerimento de grupamento
mineiro e posterior a Portaria DNPM nº 237/2001 não apresentou o plano de
fechamento de mina. Entretanto, o requerimento ainda não foi analisado pelo DNPM.

Com referência às empresas que não apresentaram o plano de fechamento de


mina e estão em operação, a primeira inferência que se pode fazer é que não estão
considerando no seu planejamento de operações de médio e longo prazo a etapa de
fechamento dessas minas, o que poderá conduzir à consequências danosas não só para o
meio ambiente, como também para a sociedade.

Observa-se que dos 13 processos que não apresentaram Plano de Fechamento de


Mina, 4 deles (processos nº 1, 20, 25 e 28) encontram-se com solicitações de suspensões
de lavra ainda não analisadas pelo DNPM e com trabalhos de lavra paralisados a 4, 5, 3
e 15 anos, respectivamente. O DNPM ainda não realizou vistorias nas áreas desses
processos para análise e acompanhamento das suspensões de lavra. Estes processos
referem-se a quatro minas, sendo duas subterrâneas (nº 20 e 28) e duas a céu aberto (nº
1 e 25), que se encontram em fase de monitoramento e manutenção, segundo constam as
informações das empresas. Os quatro processos apresentaram o relatório do estado da
mina e suas possibilidades futuras. No entanto, o DNPM ainda não analisou esse
relatório.

Os motivos justificados para as suspensões de lavra incluem a inviabilidade


técnica e econômica (processo 1), a necessidade de melhor avaliar os recursos e reservas

94
remanescentes (processo 20), a baixa demanda do minério (processo 25) e os altos
custos de produção frente ao preço de venda do minério (processo 28).

Um comparativo dos 19 processos que apresentaram o plano de fechamento de


mina, incluindo os 11 processos analisados pelo DNPM, quanto ao cumprimento dos
quesitos exigidos na NRM nº 20, foi realizado de forma a avaliar a adequação dos
planos à Norma, bem como, a forma como o DNPM vem realizando tal análise. Nas
figuras 13 a 29, as colunas em cores azul e vermelha referem-se aos 19 processos que
apresentaram o plano de fechamento de mina e as colunas de cores verde e roxa
referem-se aos 11 processos analisados pelo DNPM.

Da figura 13 verifica-se que os relatórios dos trabalhos efetuados somente foram


apresentados para os processos que já se encontram em fase de fechamento de mina (nº
24 e 32) e no processo 13 no qual as reservas remanescentes da mina foram
consideradas antieconômicas. A NRM nº 20 estabelece tal exigência, no entanto,
observa-se que o seu cumprimento somente pode ser atendido quando do fechamento da
mina.

Figura 13: Cumprimento da exigência do relatório dos trabalhos efetuados, segundo a NRM nº 20. Fonte:
Autor

95
A Figura 14 mostra que somente 18,18% dos processos analisados pelo DNPM
apresentaram a caracterização das reservas remanescentes. O processo 24 encontra-se
em fase de fechamento de mina e o processo 11 apresentou a caracterização das reservas
remanescentes visando utilizar a cava exaurida para disposição de rejeitos. A NRM nº
20 estabelece tal exigência, no entanto, observa-se que o seu cumprimento somente
pode ser atendido quando do fechamento da mina.

Figura 14: Cumprimento da exigência da caracterização das reservas remanescentes, segundo a NRM nº
20. Fonte: Autor

A Figura 15 mostra que apenas 31,58% (6 dos 19 processos) apresentaram o


plano de desmobilização das instalações e equipamentos que compõem a infraestrutura
do empreendimento indicando o destino a ser dado aos mesmos. Entretanto, o DNPM
analisou e aprovou 81,82% (9 dos 11 processos) sem que estes tivessem apresentado tal
quesito.

96
Figura 15: Cumprimento da exigência do plano de desmobilização das instalações e equipamentos,
segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

Apenas um processo (nº 24), 5,26%, apresentou a atualização dos levantamentos


topográficos exigidos pela NRM nº 20. Entretanto, 90,91% (10 dos 11 processos),
tiveram os planos analisados e aprovados pelo DNPM a despeito de não terem
apresentado tal quesito (Figura 16). A NRM nº 20 estabelece tal exigência, no entanto,
observa-se que o seu cumprimento somente pode ser atendido quando do fechamento da
mina.

Figura 16: Cumprimento da exigência da atualização dos levantamentos topográficos da mina, segundo a
NRM nº 20. Fonte: Autor

97
A NRM nº 20 estabelece tal exigência (Figura 17), no entanto, observa-se que o
seu cumprimento somente pode ser atendido quando do fechamento da mina. Com
exceção para os casos em que existe uma recuperação progressiva da área minerada
simultaneamente com as atividades de lavra.

Figura 17: Cumprimento da exigência da planta da mina com as áreas lavradas recuperadas, impactadas
recuperadas e áreas por recuperar, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor
A maioria dos processos analisados pelo DNPM (Figuras 18 a 24) atenderam as
exigências da NRM nº 20, visto estarem essas previstas no Plano de Controle de
Impacto Ambiental na Mineração (PCIAM).

Figura 18: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e monitoramento relativo a


sistemas de disposição e contenção, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

98
Figura 19: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e monitoramento relativo a
taludes em geral, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

Figura 20: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e monitoramento relativo ao


comportamento do lençol freático, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

99
Figura 21: Cumprimento da exigência do programa de acompanhamento e monitoramento relativo a
drenagem das águas, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

Figura 22: Cumprimento da exigência do plano de controle da poluição do solo, atmosfera e recursos
hídricos, com caracterização dos parâmetros controladores, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

100
Figura 23: Cumprimento da exigência do plano de controle de lançamentos de efluentes com
caracterização de parâmetros controladores, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

Figura 24: Cumprimento da exigência de conformação topográfica e paisagística levando em


consideração aspectos sobre a estabilidade, controle de erosões e drenagens, segundo a NRM nº 20.
Fonte: Autor

101
Verifica-se, na Figura 25, que apenas 18,18% (2 dos 11 processos) analisados e
aprovados pelo DNPM apresentaram tal exigência. Isto chama a atenção para a baixa
preocupação com as questões de segurança das minas na etapa do fechamento de mina.
Ainda, da mesma forma dos quesitos anteriores, 9 (81,82%) dos 11 processos, não
cumpriram esse requisito e obtiveram a aprovação dos seus planos.

Figura 25: Cumprimento da exigência das medidas para impedir o acesso à mina de pessoas estranhas e
interditar com barreiras os acessos às áreas perigosas, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

A Figura 26 mostra que 68,42% (13 dos 19 processos) apresentaram tal


exigência, por outro lado, 5 dos 11 processos (45,45%) não cumpriram tal requisito e
obtiveram a aprovação de seus planos. Isto reflete uma carência de estudos relativos aos
impactos do fechamento de mina.

102
Figura 26: Cumprimento da exigência de definição dos impactos ambientais nas áreas de influência do
empreendimento levando em consideração os meios físico, biótico e antrópico, segundo a NRM nº 20.
Fonte: Autor
O uso futuro da área pós-mineração foi também avaliado (Figura 27). Dentre os
19 processos que apresentaram o Plano de Fechamento de Mina, 9 Processos (47,37%),
apresentaram proposições de uso futuro da área minerada, que incluem:
 utilização da cava exaurida da mina para disposição de estéril e rejeitos e
acumulação de água para ser reutilizada no processo. No entanto não existe
ainda um projeto para utilização futura da área industrial (processo 10);
 utilização da cava exaurida da mina para disposição de rejeitos e recirculação de
água industrial da planta de beneficiamento. Como uso futuro, a área deverá ser
utilizada como de apoio a outras operações da empresa. O DNPM emitiu parecer
detalhado no qual confirma a exaustão das reservas economicamente lavráveis e
a autorização do uso das cavas para fins de disposição de rejeitos. Entretanto, o
ato não foi publicado haja vista que ainda não há código/evento para publicação
de tal ato no DNPM (processo 11);
 projeto paisagístico e de revitalização e incorporação da área a um parque
estadual da região (processo13);
 utilização da cava para disposição de rejeitos e para as demais áreas foi citado,
sem detalhamento, alternativas de uso do solo como industrial leve, reserva
natural e/ou recreativo (processo 15);

103
 utilização da cava para disposição de resíduos sólidos inertes devido à
proximidade da área com regiões metropolitanas (processo 19);
 utilização da cava exaurida da mina para disposição de rejeitos e estéril de outra
mina que se encontra em operação (processo 22);
 a área atualmente é utilizada como apoio as operações da empresa (processo 24);
 criação de lagos nas áreas das cavas com possibilidade de abertura a visitações e
recreação. O processo cita que estudos hidrogeológicos indicam que estes lagos
poderão funcionar como reservatórios de água para abastecimento público
(processo 26);
 a área a ser descomissionada apresenta como uso mais indicado o
aproveitamento para fins de parcelamento urbano (processo 32).

Dos processos analisados pelo DNPM somente 36,36% apresentaram propostas


de uso futuro para a área minerada. Para os demais processos (63,64%) não se tem ainda
conhecimento de quais serão os usos futuros.

Figura 27: Cumprimento da exigência de aptidão e intenção de uso futuro da área, segundo a NRM nº 20.
Fonte: Autor

104
A NRM nº 20 estabelece a apresentação de um relatório das condições de saúde
ocupacional dos trabalhadores durante a vida útil do empreendimento. No entanto, de
acordo com a figura 28 observa-se que o seu cumprimento somente foi atendido quando
do fechamento da mina. Os processos 24 e 32 encontram-se em fase de fechamento de
mina. Verifica-se que o cumprimento desta exigência, somente pode ser atendido
quando do fechamento da mina.

Figura 28: Cumprimento da exigência de relatório das condições de saúde ocupacional dos trabalhadores
durante a vida útil do empreendimento mineiro, segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

Por fim, da figura 29, pode-se observar que apenas 27,27% dos processos
analisados pelo DNPM apresentaram o cronograma físico e financeiro das atividades
propostas. Isso permite duas considerações. A primeira é que no caso de planos
conceituais a dificuldade em se detalhar o projeto pode justificar a inexistência de um
cronograma físico e financeiro. A segunda demonstra uma falta de planejamento
financeiro para as atividades de fechamento de mina.

105
Figura 29: Cumprimento da exigência do cronograma físico e financeiro das atividades propostas,
segundo a NRM nº 20. Fonte: Autor

De um modo geral, verifica-se uma disparidade com relação a alguns itens


apresentados da NRM nº 20. Enquanto alguns itens foram pouco apresentados, outros
tiveram uma grande apresentação. Constata-se que alguns itens exigidos na NRM nº 20
só poderão ser apresentados quando do fechamento da mina. Por exemplo, relatório dos
trabalhos efetuados, caracterização das reservas remanescentes, atualização de todos os
levantamentos topográficos da mina, planta da mina na qual constem as áreas lavradas
recuperadas, áreas impactadas recuperadas e por recuperar, relatório das condições de
saúde ocupacional dos trabalhadores durante a vida útil do empreendimento mineiro.
Por outro lado, itens como programa de acompanhamento e monitoramento relativos a
sistemas de disposição e contenção, taludes em geral, comportamento do lençol freático,
drenagem das águas, plano de controle de lançamento de efluentes, conformação
topográfica e paisagística levando em consideração aspectos sobre os meios físico,
biótico e antrópico tiveram uma grande apresentação porque essas medidas já estão
previstas no PCIAM – Plano de Controle de Impacto Ambiental na Mineração. No
entanto, nos planos aprovados chama a atenção para alguns itens que tiveram uma baixa
apresentação como plano de desmobilização das instalações e equipamentos (18,18%),
medidas para impedir o acesso à mina de pessoas estranhas e interditar com barreiras os
acessos às áreas perigosas (18,18%), definição dos impactos ambientais nas áreas de
influência do empreendimento levando em consideração os meios físico, biótico e

106
antrópico (54,55%), aptidão e intenção de uso futuro da área (36,36%), cronograma
físico e financeiro das atividades propostas (27,27%). Esses itens deveriam constar
obrigatoriamente nos planos apresentados. A não consideração desses itens sinaliza para
uma falta de segurança em relação às minas que serão fechadas, planejamento
financeiro inadequado, carência de estudos relativos aos impactos do fechamento de
mina e uma ausência de perspectiva com relação ao uso futuro das áreas mineradas.

Critérios de Análise Técnica do DNPM em relação aos 11 processos que já tiveram os


Planos de Fechamento de Mina analisados.

Nos processos (processos 5, 21) a análise técnica cita apenas que o Plano de
Fechamento de Mina foi apresentado satisfatoriamente. Nos processos (processos 7, 9,
23, 29) a análise técnica não faz referência ao Plano de Fechamento de Mina e sugere a
aprovação do Plano de Aproveitamento Econômico. Nos processos (processos 10, 12,
26) a análise técnica cita partes do texto do plano de fechamento e elenca as folhas do
processo. No processo 11 foi feita uma análise técnica detalhada a respeito das reservas
remanescentes e sobre a utilização da cava exaurida para disposição de rejeitos. No
entanto, o novo PAE apresentado contendo o plano de fechamento de mina atualizado
ainda encontra-se pendente de análise. No processo 24 foi feita uma análise técnica
detalhada do Plano de Fechamento de Mina, em que o técnico analisador sugeriu a
formulação de uma exigência à empresa para melhor instrução do processo. No entanto,
primeiro foi aprovado o plano de fechamento de mina e a formulação da exigência, até o
momento deste estudo, ainda não foi encaminhada a empresa. Não consta no Cadastro
Mineiro o evento Plano de Fechamento de Mina aprovado publicado.

107
CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A NRM nº 20 do DNPM representa a primeira tentativa no âmbito federal para a


regulamentação do fechamento de minas. Entretanto, apesar de decorridos
aproximadamente 12 anos de sua publicação, ainda faltam diretrizes precisas sobre
como proceder para uma adequada desativação de um empreendimento mineiro, além
da elaboração de um manual de desativação de empreendimentos mineiros que sirva de
orientação tanto para os detentores dos direitos de lavra quanto para os técnicos
analistas do DNPM.

É possível perceber, através de um comparativo entre a NRM nº 20 e as normas


reguladoras de fechamento de minas de outros países, que a primeira ainda encontra-se
em uma fase bastante incipiente, pois não assegura o efetivo cumprimento do plano de
fechamento de mina. Além disso, é necessário estabelecer competências entre os
diferentes níveis de governo no que tange ao fechamento de mina. É importante definir
claramente na legislação brasileira qual é o limite de responsabilidade da empresa, do
órgão gestor da mineração, do órgão responsável pelo meio ambiente, do município e da
comunidade.

Observa-se que a norma não distingue o plano conceitual de fechamento de mina


do plano final de fechamento de mina. Ademais, a NRM nº 20 do DNPM apresenta
diversas lacunas que devem ser reavaliadas para uma melhor gestão do fechamento de
mina. Alguns temas importantes ainda carecem de discussão, como garantias financeiras
ou a criação de um fundo específico para o fechamento de mina de tal forma que não
comprometesse a saúde financeira do empreendimento, formas de efetiva renúncia do
título de lavra, consulta pública do plano de fechamento de mina, uma certificação que
comprove que o plano de fechamento foi realizado com sucesso liberando a empresa da
responsabilidade sobre a área. Falta também a instituição de medidas para o melhor
acompanhamento e controle das atividades de fechamento como a determinação de
vistorias e relatórios periódicos.

Neste estudo, verificou-se que alguns itens obrigatórios exigidos pela NRM nº
20 não foram apresentados nos planos, no entanto, mesmo assim alguns planos foram
aprovados pelo DNPM. A ausência de alguns desses itens pode trazer consequências
graves quando do fechamento das minas. Constata-se que ainda não existem no DNPM
critérios definidos para as análises técnicas que sirvam como guia para avaliação dos

108
planos de fechamento de mina apresentados pelas empresas titulares dos direitos de
lavra. Esta falta de procedimentos faz com que cada plano de fechamento de mina fique
sujeito a uma interpretação pessoal de cada técnico analista.

Em contrapartida, verificou-se que alguns itens não exigidos na NRM nº 20


foram apresentados por algumas empresas por iniciativa própria. Por exemplo, a
informação de quando será elaborado o projeto definitivo do fechamento, qual será o
período de monitoramento e manutenção na fase pós-fechamento de mina e
considerações sobre os impactos socioeconômicos do fechamento.

As demandas do setor mineral cresceram significativamente, nos últimos anos,


com o aumento dos preços das commodities, no entanto, o mesmo não aconteceu com o
efetivo técnico do DNPM. A Superintendência do DNPM de Minas Gerais, responsável
pela fiscalização e controle de quase metade da produção mineral do país, apesar de
todos os esforços que tem executado, não tem conseguido acompanhar a evolução das
demandas do setor mineral e da sociedade. Desta forma, conforme elencado no
Relatório de Auditoria do Tribunal de Contas da União - TCU (Processo: TC
005.711/2011-8, Data da Sessão: 21/3/2012) esta superintendência tem priorizado
algumas atividades em prejuízo de outras.

Conforme verificado neste estudo, existe a previsão para o fechamento de 9


grandes minas no Quadrilátero Ferrífero – Minas Gerais em um período médio de 17
anos. Muitos dos municípios onde se encontram essas minas têm atualmente a
mineração como a sua principal fonte de receita através da arrecadação de impostos
diretos e indiretos. A mineração gera empregos para esses municípios e alavanca outros
setores da economia. O encerramento das operações dessas minas poderá trazer
consequências desafiadoras para os municípios, principalmente em relação à perda da
arrecadação e desemprego.

O plano de fechamento dessas minas precisa ser debatido intensamente entre as


empresas mineradoras, o poder público e a comunidade local, visando controlar os
possíveis impactos socioeconômicos, evitar passivos ambientais permanentes e buscar
ações para diversificação da atividade econômica. A responsabilidade social do
fechamento de mina deve ser compartilhada entre as partes envolvidas na procura de
soluções sustentáveis.

109
Por outro lado, outras grandes minas que sequer possuem um plano de
fechamento de mina chamam a atenção, pois pressupõe-se que não está sendo
considerado um planejamento adequado objetivando as atividades de fechamento de
mina. Além do mais, embora algumas minas em operação tenham apresentado um plano
de fechamento de mina, todavia, não informaram a previsão para o fechamento de suas
minas. Estes municípios podem ser surpreendidos com o fechamento dessas minas,
tendo em vista a queda da arrecadação municipal, a perda de empregos e a diminuição
da atividade econômica local, além da possibilidade de ocorrência de passivos
ambientais e áreas degradadas. O aperfeiçoamento da NRM nº 20 se faz necessário para
solucionar essas questões do fechamento de mina.

110
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