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Itamar Luiz de Oliveira Júnior

CONTROLE DE VIBRAÇÕES GERADAS PELO


DESMONTE DE ROCHAS EM ESTRUTURAS
GEOTÉCNICAS

Ouro Preto/MG
2022
Itamar Luiz de Oliveira Júnior

CONTROLE DE VIBRAÇÕES GERADAS PELO


DESMONTE DE ROCHAS EM ESTRUTURAS
GEOTÉCNICAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação do Departamento de Engenharia de
Minas da Escola de Minas da Universidade Federal
de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Engenharia
Mineral.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz
Área de Concentração: Lavra de Minas

Ouro Preto/MG
2022
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

O483c Oliveira Junior, Itamar Luiz de.


OliControle de vibrações geradas pelo desmonte de rochas em estruturas
geotécnicas. [manuscrito] / Itamar Luiz de Oliveira Junior. - 2022.
Oli96 f.: il.: color., gráf., tab., mapa.

OliOrientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz.


OliDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro
Preto. Departamento de Engenharia de Minas. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mineral.
OliÁrea de Concentração: Lavra de Minas.

Oli1. Mineração a céu aberto. 2. Desmonte de rochas. 3. Explosivos. I.


Arroyo Ortiz, Carlos Enrique. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III.
Título.

CDU 622.235

Bibliotecário(a) Responsável: Sione Galvão Rodrigues - CRB6 / 2526


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

FOLHA DE APROVAÇÃO

Itamar Luiz de Oliveira Junior

Controle de Vibrações Geradas Pelo Desmonte de Rochas em Estruturas Geotécnicas

Dissertação apresentada ao Programa de Pos-Graduação em Engenharia Mineral da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mineral

Aprovada em 26 de agosto de 2022

Membros da banca

Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz - Orientador(a) Universidade Federal de Ouro Preto
Dr. Juarez Lopes de Morais - SAMARCO Mineração
Dr. Valdir Costa e Silva - VALMON Engenharia

Carlos Enrique Arroyo Ortiz, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da UFOP
em 29/09/2022

Documento assinado eletronicamente por Carlos Enrique Arroyo Ortiz, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
29/09/2022, às 22:17, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.

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Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.013642/2022-80 SEI nº 0405829

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000


Telefone: 3135591590 - www.ufop.br
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meus pais, Itamar e Denise,


por sempre acreditarem em mim.

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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha vida, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados
ao longo do curso e perseverar na trajetória.
Agradeço à minha família, em especial meu pai Itamar, pela sua disponibilidade de estar
sempre me apoiando, minha mãe Denise, por sempre me incentivar a continuar seguindo
em frente.
Ao professor Carlos Enrique Arroyo Ortiz, que me orientou e apoiou, sempre me tirando
da zona de conforto e também por ter acreditado no meu trabalho.
Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral da Universidade Federal de
Ouro Preto pelo suporte necessário à realização do trabalho.
Aos membros da banca de defesa, senhores Valdir e Juarez.
A todos sou imensamente grato.

3
RESUMO
O número de restrições relacionadas a questões ambientais e de segurança é cada vez
maior nos dias de hoje em todos os setores da indústria, e na mineração, não é diferente. Devido
às recentes tragédias ocorridas com o rompimento das barragens de Fundão, em Mariana, e da
Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, houve uma grande preocupação com
o impacto de certas atividades ocorridas dentro das mineradoras. O desmonte de rochas com
explosivos é considerado uma das mais críticas e, ao mesmo tempo, essencial em algumas minas
devido à resistência do maciço rochoso encontrado na região, porém, se realizado de forma
inadequada, pode acarretar em diversos efeitos secundários não desejados: excesso de
vibrações no entorno do desmonte, sobrepressão atmosférica, ruído, ultralançamento de
fragmentos de rocha, presença de matacões na pilha fragmentada, aumento dos custos do
desmonte, etc. Este trabalho visa controlar as vibrações provenientes das detonações em
estruturas críticas (barragens, cavidades, diques, taludes e estruturas de construção civil),
alterando os parâmetros do plano de fogo ao mesmo tempo que melhora a fragmentação, em
uma mina de minério de ferro localizada na região central de Minas Gerais. Para controle das
vibrações serão realizados os monitoramentos dos desmontes com sismógrafos e construídas
as leis de atenuação em direção a cada região crítica. Por fim os resultados serão comparados
com os resultados reais. Como base para esse trabalho será utilizado o software específico de
simulação de desmontes, que permite a simulação em 4D (3D + tempo) das vibrações,
fragmentação, ultralançamento, etc. A comparação entre as vibrações simuladas e reais se
mostrou aderente de acordo com o método de distância escalonada para raiz quadrada, de
acordo com os coeficientes K e Alfa encontrados para cada direção. A separação das cargas
explosivas nos furos com a utilização de decks intermediários realizados com detritos de
perfuração se mostrou uma forma eficaz de redução da carga máxima por espera, o uso de
detonadores eletrônicos também se mostrou eficaz no controle da dispersão dos tempos de
retardo e consequentemente no controle da carga máxima por espera.

4
ABSTRACT
The number of restrictions related with environmental and safety issues is
increasing these days in all sectors of industry and mining is no different. Due to the
recent tragedies that occurred with the failure of the Fundão dam, in Mariana, and Dam
I, located at Córrego do Feijão Mine, in Brumadinho there was great concern about the
impact of certain activities occurring within the mining companies. The blasting of rocks
with explosives is considered one of the most critical and, at the same time, essential in
some mines due to the resistance of the rock mass found in the region, however, if carried
out improperly, it can lead to several unwanted side effects: excess vibrations around the
blasting area, air blast, noise, fly rock, presence of boulders in the muck pile, increased
blasting costs, etc. This works aims to control vibrations from detonations in critical
structures (dams, cavities, dikes, slopes and civil construction structures), changing the
parameters of the blast while improving fragmentation, in an iron ore mine located in the
central region of Minas Gerais. To control the vibrations, monitoring of the blasts will be
carried out with seismographs and attenuation laws will be built towards each critical
region. Finally, the results will be compared with the actual results. As a basis for this
work, a specific software will be used, which allows 4D simulation (3D + time) of
vibrations, fragmentation, fly rock, etc. The comparison between the simulated and real
vibrations proved to be adherent according to the scaled distance method for square root,
according to the K and Alpha coefficients found for each direction. The separation of
explosive charges in the holes with the use intermediate decks made with drilling chips
proved to be an effective way of reducing the maximum charge per delay. The use of
electronic detonators was also effective in controlling the scattering effect of initiation
systems and consequently in controlling the maximum charge per delay.

5
Sumário
1. Introdução.......................................................................................................................... 11
1.1. Objetivos ........................................................................................................................ 12
2. Estado da Arte ................................................................................................................... 13
2.1. Rochas ........................................................................................................................ 13
2.2. Perfuração .................................................................................................................. 15
2.3. Explosivos e sistemas de iniciação............................................................................ 16
2.4. Variáveis Controláveis dos Desmontes .................................................................... 19
2.5. Avaliação dos resultados........................................................................................... 23
2.5.1. Fragmentação e empolamento da pilha desmontada ..................................... 23
2.5.2. Geometria da pilha, altura e deslocamento..................................................... 25
2.5.3. Estado do maciço residual e piso do banco ..................................................... 25
2.5.4. Presença de matacões na pilha desmontada ................................................... 26
2.5.5. Back Break ......................................................................................................... 27
2.5.6. Vibrações, projeções e onda aérea produzida no desmonte .......................... 27
2.6. Efeitos secundários das detonações ......................................................................... 27
2.6.1. Poeira e gases de detonação .............................................................................. 28
2.6.2. Impacto de ar ..................................................................................................... 28
2.6.3. Ultralançamento ................................................................................................ 29
2.6.4. Vibrações ............................................................................................................ 30
2.7. Novas Tecnologias ..................................................................................................... 41
2.8. Modelo de Simulação DNA-Blast............................................................................. 42
2.8.1. Métodos de predição de vibrações ................................................................... 44
2.9. Estruturas Geotécnicas ............................................................................................. 46
2.9.1. Cavidades ........................................................................................................... 46
2.9.2. Barragens ........................................................................................................... 48
2.10. Norma ABNT-NBR 9653 .......................................................................................... 50
3. Metodologia ....................................................................................................................... 52
4. Estudo de Caso .................................................................................................................. 54
4.1. Localização da Mina em Estudo .............................................................................. 54
4.2. Caracterização Geológica do Local ......................................................................... 54
4.3. Simulações .................................................................................................................. 55
4.3.1. Etapa de Simulação de um Furo Detonado............................................................. 55
4.3.2. Etapa de Teste de Campo Furo Detonado .............................................................. 59
4.3.3. Etapa de Simulação Escala Produção ..................................................................... 64

6
4.3.4. Etapa de Teste de Campo Escala Produção ............................................................ 68
4.3.5. Desmontes de Produção ............................................................................................ 70
4.3.6. Desmontes Específicos e suas Particularidades ...................................................... 74
5. Resultados e Discussão ...................................................................................................... 89
Conclusões.................................................................................................................................. 92
Sugestão de trabalhos futuros .................................................................................................. 93
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 94

7
Lista de Figuras

Figura 1 – Rochas ígneas (a) metamórfica (b) e sedimentar (c) (ZHANG, 2016) ..................... 14
Figura 2 - Perfuratriz percussiva (ZHANG, 2016) .................................................................... 15
Figura 3 - Perfuratriz rotativa com bit tricônico (a) e drag bit (b) (ZHANG, 2016) .................. 16
Figura 4 - Detonador eletrônico (ENAEX, 2019) ...................................................................... 18
Figura 5 - Dispersão dos tempos de detonadores tubo de choque (ZHANG, 2016) .................. 19
Figura 6 - Parâmetros geométricos de um desmonte (ENAEX, 2019) ...................................... 20
Figura 7 - Principais efeitos secundários das detonações (SILVA, 2019) ................................. 28
Figura 8 - Efeitos das ondas P e S (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com) ................ 31
Figura 9 - Efeitos das ondas Love e Rayleigh (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com)
..................................................................................................................................................... 32
Figura 10 - Exemplo de mapa de iso-velocidade (CANEDO, 2015) ......................................... 37
Figura 11 - Técnica do furo assinatura (BERNARD, 2008) ...................................................... 38
Figura 12 - Frente de onda para um furo detonado (RICHARDS) ............................................ 40
Figura 13 - Frente de ondas coincidentes gerando um reforço de vibração (RICHARDS) ....... 40
Figura 14 - Mecanismo de fratura da rocha (BERNARD, 2008)............................................... 43
Figura 15 - Estrutura do modelo DNA-Blast (BERNARD, 2008)............................................. 44
Figura 16 - Contexto das vibrações em uma caverna (ICMBio, 2016) ...................................... 46
Figura 17 - Ilustração do espalhamento esférico (ICMBio, 2016) ............................................. 47
Figura 18 - Efeito dos atributos do terreno na atenuação de ondas (ICMBio, 2016) ................. 47
Figura 19 - Local de instalação do sismógrafo (ICMBio, 2016)................................................ 48
Figura 20 - Método linha de centro de alteamento de Barragem (Disponível em:
www.uol.com.br) ........................................................................................................................ 50
Figura 21 - Limites de vibrações estabelecidos pela norma ABNT NBR 9653 (ABNT NBR
9653, 2018) ................................................................................................................................. 51
Figura 22 - Metodologia do trabalho ......................................................................................... 52
Figura 23 - Etapas do processo .................................................................................................. 53
Figura 24 - Localização da Mina em Estudo.............................................................................. 54
Figura 25 - (a)Itabirito semi-compacto (b)Itabirito Friável........................................................ 55
Figura 26 - Modelo de furo com emulsão utilizado na Simulação do I-Blast............................ 56
Figura 27 - Simulação VPP sentido Barragem I ........................................................................ 56
Figura 28 - Simulação VPP sentido Barragem II ....................................................................... 57
Figura 29 - Valor simulado de vibrações para barragem II........................................................ 57
Figura 30 - Valor simulado de vibrações para barragem I ......................................................... 58
Figura 31 - Exemplo de simulação 3D com nuvem de pontos do terreno ................................. 58
Figura 32 - Sismógrafo instalado na direção da barragem I....................................................... 59
Figura 33 - Sismógrafo instalado na direção da barragem II ..................................................... 60
Figura 34 - Carregamento do furo isolado com emulsão ........................................................... 60
Figura 35 - Modelo de furo aplicado no teste real ..................................................................... 61
Figura 36 - Sismógrafos instalados em direção a barragem I .................................................... 61
Figura 37 - Sismógrafos instalados em direção a barragem II ................................................... 62
Figura 38 - Lei de Atenuação sentido barragem I ...................................................................... 63
Figura 39 - Lei de Atenuação sentido barragem II..................................................................... 64
Figura 40 - Modelo de furo utilizado no teste escala produção ................................................. 65
Figura 41 - Malha utilizada na simulação do teste escala produção .......................................... 65
Figura 42 - Simulação de vibrações sentido barragem II ........................................................... 66

8
Figura 43 - Simulação de vibrações sentido barragem I ............................................................ 66
Figura 44 - Simulação 3D de vibrações para barragem II .......................................................... 67
Figura 45 - Simulações 3D de vibrações sentido barragem I ..................................................... 67
Figura 46 - Praça perfurada para teste escala produção ............................................................. 68
Figura 47 - Sismógrafo instalado para o teste ............................................................................ 69
Figura 48 - Momento da detonação do teste escala produção .................................................... 69
Figura 49 - Pontos de monitoramento (estações sismográficas) do complexo .......................... 71
Figura 50 - Volume desmontado ................................................................................................ 72
Figura 51 - Exemplo de malha real contida no relatório pós desmonte ..................................... 73
Figura 52 – Exemplo de registro sísmico obtido e comparação com simulado ......................... 74
Figura 53 - Malha teórica utilizada no desmonte ....................................................................... 75
Figura 54 - Modelo de furo utilizado no desmonte .................................................................... 75
Figura 55 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast ................................ 76
Figura 56 - Reforço de ondas teórico do desmonte gerado no I-Blast ....................................... 76
Figura 57 - Lei de atenuação utilizada para cálculo dos coeficientes ........................................ 77
Figura 58 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento .................... 77
Figura 59 - Malha real executada em campo ............................................................................. 78
Figura 60 - Modelo de furo e malha real executada para o desmonte........................................ 78
Figura 61 - Registro sismográfico da cavidade .......................................................................... 79
Figura 62 - Modelos de furo utilizados no desmonte ................................................................. 80
Figura 63 - Malha teórica do desmonte...................................................................................... 80
Figura 64 - Direção do reforço de ondas .................................................................................... 81
Figura 65 - Lei de atenuação utilizada para dimensionar as cargas ........................................... 81
Figura 66 - Lei de atenuação sentido cavidade .......................................................................... 82
Figura 67 - Janela de sobreposição do desmonte ....................................................................... 82
Figura 68 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast ................................ 83
Figura 69 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento .................... 83
Figura 70 - Registro sismográfico PIC-SMA-05 ....................................................................... 84
Figura 71 - Registro sismográfico PIC-SMA-07 ....................................................................... 84
Figura 72 - Registro sismográfico cavidade ............................................................................... 85
Figura 73 - Análise granulométrica realizada no I-blast ............................................................ 85
Figura 74 - Curva granulométrica obtida para o desmonte ........................................................ 86
Figura 75 - Modelos de furos utilizados no desmonte ............................................................... 86
Figura 76 - Localização dos furos do desmonte ......................................................................... 87
Figura 77 - Temporizações utilizadas no desmonte ................................................................... 88
Figura 78 - Simulação de back break realizado para o desmonte .............................................. 88
Figura 79 - Back break ocorrido no desmonte ........................................................................... 89
Figura 80 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-05 .................................................. 90
Figura 81 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-07 .................................................. 90
Figura 82 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade ........................................................ 91
Figura 83 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade ........................................................ 91

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Lista de Tabelas
Tabela 1 - Caracterização geomecânica (JIMENO apud ASHBY, 1980, adaptado) ................. 26
Tabela 2 - Efeitos da sobrepressão atmosférica (Adaptado de SILVA, 2019) ........................... 29
Tabela 3- Valores simulados e reais obtidos do teste do furo isolado ........................................ 63
Tabela 4 - Valores simulados para as barragens em estudo ....................................................... 68
Tabela 5 - Valores reais e simulados de VPP para o teste escala produção ............................... 70

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1. Introdução
De acordo com Zhang (2016) a experiência humana com explosivos é de longa
data. O fogo grego foi utilizado pela primeira vez por volta do século VII, e
provavelmente era uma mistura de naftaleno, cal viva e enxofre. A pólvora foi inventada
na China, por volta do século IX. A pólvora negra era muito sensível a água, produzia
muita fumaça negra e não era muito potente, porém, apesar desses defeitos, ela foi
utilizada por muitos séculos antes dos explosivos a base de nitroglicerina serem
descobertos pelo cientista italiano Ascario Sobrero, em 1846.
Em 1862, o inventor suíço Immanuel Nobel desenvolveu o método de fabricação
industrial da nitroglicerina e alguns anos depois, seu filho, Alfred Nobel, inventou o
primeiro detonador, que consistia em uma cápsula de metal carregada com fulminato de
mercúrio, tornando os explosivos mais controláveis.
Segundo Jimeno (1987) a remoção de rochas com uso de explosivos ocorre desde
o século XVII, quando se deu início o uso da pólvora nas minerações. Os eventos que
mais marcaram a indústria de explosivos depois da invenção da dinamite por Alfred
Nobel, em 1867, foi a utilização de ANFO a partir de 1955, o desenvolvimento dos
hidrogéis ao final dos anos 50 e, por fim, a invenção das emulsões, ANFO pesado, etc.
Paralelamente ao avanço dos explosivos, os equipamentos de perfuração também
evoluíram através da aplicação de ar comprimido como fonte de energia, a utilização de
grandes perfuratrizes, dos martelos de fundo de furo nos anos 50 e dos martelos
hidráulicos a partir dos anos 70.
Nieble (2017) reforça que até a década de 1960, o uso da dinamite e da gelatina
especial eram comuns nas detonações. Esses tipos de explosivos eram referenciados com
base em suas porcentagens de energia liberada. Com o advento dos explosivos tipo
ANFO, lamas e emulsões, que tem como base principal o nitrato de amônio, os primeiros
foram substituídos. Essa nova geração de explosivos pode ser lançada diretamente nos
furos através de caminhões e, no caso do ANFO, tem baixo custo, porém não é resistente
à água.
Silva (2019) complementa com informações a respeito da aplicação das
perfurações ao relatar que os trabalhos podem ser divididos em perfurações em banco,
perfuração para abertura de rampas e trincheiras, perfuração para abertura de estradas e
ferrovias, perfuração de túneis, perfuração de chaminés, perfuração de poços, perfuração
de galerias e realces, perfuração para gerar faces livres, etc.
Zhang (2016) explica que a perfuração de rochas é utilizada para o carregamento
de explosivos dentro dos furos, aparafusamento no suporte de rochas, extração de
petróleo, gases xistosos, gases naturais, para retiradas de núcleos, produção de rochas
para construção, para produção de slots com a finalidade de reduzir as vibrações,
drenagem de água dos maciços rochosos, etc.
Ricardo e Catalani (2007) relatam que o desenvolvimento de equipamentos de
perfuração mais robustos e a necessidade de tornar tais máquinas mais fáceis de se

11
deslocar levaram ao acoplamento das perfuratrizes a carretas e, posteriormente, a tratores
de pneus ou de esteiras. Dessa forma, a rapidez de locomoção foi aumentada contribuindo
para a produtividade e remoção do equipamento na hora da detonação.
De acordo com Lusk e Worsey (2011), barulho, poeira e vibrações geradas pelos
desmontes são questionáveis por muitos na sociedade de hoje, e no entanto, desmontes
são geralmente necessários para fragmentar grandes volumes de rocha, especialmente se
o maciço rochoso é um meio resistente. Um indício da importância dos desmontes com
explosivos está no consumo anual desses itens na Austrália e Estados Unidos, 1 bilhão e
3 bilhões de quilogramas, respectivamente.
Lusk e Worsey (2011) ainda complementam que a indústria de desmontes passou
por substanciais mudanças desde a década de 80, com muitas técnicas caindo na
obsolescência enquanto os explosivos mudaram drasticamente.

1.1. Objetivos
Objetivo Geral
Apresentar uma metodologia de boas práticas de controle de vibrações e danos
gerados pelo desmonte de rochas com explosivos.

Objetivos Específicos
• Caracterização sísmica do terreno via coleta de registros sismográficos;
• Construção das leis de atenuação;
• Zoneamento sísmico para cada direção de estruturas críticas da mina;
• Alterar os parâmetros de plano de fogo, principalmente CME, de modo a
enquadrar os limites de vibrações dos desmontes dentro dos valores permitidos;
• Comparar os resultados simulados e reais para verificação da aderência via
simulação.

12
2. Estado da Arte
A seguir é realizado uma revisão bibliográfica sobre o desmonte de rochas com o
uso de explosivos. São detalhados quais os tipos de rocha existentes e suas características.
Os tipos de perfuratrizes e malhas de perfuração. Em seguida, são detalhados os tipos de
explosivos e acessórios disponíveis para uso e as variáveis geométricas passíveis de
mudança no desmonte.
Além disso, são especificados quais as formas de avaliação dos resultados de um
desmonte, os efeitos secundários causados pelas detonações e é detalhado o
funcionamento do software de simulação utilizado no estudo de caso.
Por fim. as estruturas críticas presentes no estudo de caso são discriminadas
quanto aos tipos existentes, principais características e limites permissíveis de vibrações
adotados.

2.1. Rochas
Segundo Zhang (2016) existem três tipos de rochas: ígneas, metamórficas e
sedimentares, que são formadas por processos de magmatismo, metamorfismo e
sedimentação, respectivamente.
Rochas ígneas são formadas através do resfriamento e solidificação do magma.
Se o resfriamento ocorre de forma rápida, os grãos são menores e a composição química
é basicamente a mesma do magma. São exemplos desse tipo de rocha o granito, gabro,
basalto, andesito, riolito, etc. Em geral, rochas ígneas possuem altas resistências, pequena
porosidade e baixa permeabilidade a água.
Rochas metamórficas são o resultado da transformação de um tipo de rocha
existente, em um processo chamado metamorfismo. A rocha anterior à transformação
pode ser do tipo ígnea, sedimentar ou mesmo uma rocha metamórfica. Pode ser formada
pela injeção de magma ao redor de uma rocha sólida, por estar suficientemente profunda
na crosta terrestre sujeita a altas temperaturas e grandes pressões provindas das rochas
acima dela ou por processos tectônicos. São exemplos destes tipos de rochas: gnaisse,
ardósia, mármore, xisto, quartzito, filito, etc. A maioria das rochas desse tipo possuem
boa cristalização, texturas compactas, altas resistências, baixa porosidade e baixa
permeabilidade a água.
Rochas sedimentares são formadas pela sedimentação do material na superfície
da terra. Antes da deposição, os sedimentos são gerados pelas intempéries e erosão na
área fonte e então transportados para o lugar da deposição por água, ventos, movimento
de massa ou geleiras. Alguns exemplos são: calcário, arenito, siltito, conglomerados, etc.
Rochas desse tipo geralmente possuem baixas resistências, alta porosidade, alta
anisotropia em suas propriedades físicas e mecânicas. Na Figura 1 são apresentados
exemplos de rochas sedimentares, metamórficas e ígneas.
Figura 1 – Rochas ígneas (a) metamórfica (b) e sedimentar (c) (ZHANG, 2016)

Para Silva (2019), as propriedades das rochas possuem grande influência na


perfuração e fragmentação do maciço rochoso, dentre as mais comuns pode-se citar:
• Orientação das descontinuidades, as quais influenciam na estabilidade e
na formação de blocos e planos de escorregamento;
• A formação de fraturas em camadas de rocha menos resistentes alternadas
com camadas mais resistentes
• A distância entre descontinuidades paralelas entre si;
• O tipo de material que ocupa os vazios das descontinuidades pode
colaborar para diminuir o valor da resistência ao cisalhamento;
• Acomodação de minerais lamelares em camadas favorecendo a foliação.
O autor ainda relata as propriedades mecânicas das rochas que também tem grande
correlação com os parâmetros de desmonte:
• Resistência mecânica das rochas, que é a capacidade da rocha se opor à
ruptura, seja por meio de cisalhamento, tração ou compressão;
• Elasticidade, capacidade da rocha mudar de forma ou volume quando
aplicada uma força externa à mesma e, em seguida, retornar à forma
inicial quando da retirada dessa força;
• Módulo de Young, entendida como a razão entre tensão e deformação da
rocha;
• Número de Poisson, definido como o inverso do Coeficiente de Poisson;
• Velocidade de propagação de onda sísmica ou velocidade sísmica,
definido como a velocidade com que as ondas (longitudinais e
transversais ou cisalhantes) se propagam no maciço rochoso, percebidas
através das vibrações causadas no meio;

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• Empolamento, determinado como o aumento de volume ocorrido quando
se retira uma porção de rocha da sua posição original no solo.

2.2. Perfuração
Zhang (2016) esclarece que a perfuração percussiva, também chamada de
rotopercussiva, é projetada para quebrar a rocha principalmente pelo impacto. Existem
dois tipos de perfuração percussiva: martelo de superfície e martelo de fundo de furo.
Perfuratrizes com martelo de superfície são normalmente utilizadas para furos menores
(menores que 127 mm) em rochas duras, e perfuratrizes com martelo de fundo de furo,
são projetadas para furos mais largos e longos.
Além disso, a diferença essencial entre esses dois tipos de equipamentos está na
transmissão de energia: o martelo de superfície transmite a energia às hastes e quanto
mais longo o furo, maior a perda de energia, enquanto o martelo de fundo de furo possui
a percussão na extremidade das hastes e a perda de energia não ocorre. A Figura 2 exibe
uma perfuratriz percussiva.

Figura 2 - Perfuratriz percussiva (ZHANG, 2016)

A perfuração rotativa é mais utilizada para furos maiores em grandes pedreiras,


minerações a céu aberto, extração de petróleo. Existem dois grandes grupos de
perfuratrizes rotativas: corte rotativo por carregamento de ponto alto para a rocha a partir
de três cones e corte rotativo por força de cisalhamento de bits de arrasto, conforme Figura
3.

15
Figura 3 - Perfuratriz rotativa com bit tricônico (a) e drag bit (b) (ZHANG, 2016)

2.3. Explosivos e sistemas de iniciação


Para Jimeno (1987), o objetivo essencial da utilização de um explosivo no
desmonte de rochas consiste em dispor de uma energia concentrada quimicamente, no
lugar adequado e liberada de forma controlada no tempo e espaço com o objetivo de
fragmentar o maciço rochoso.
O processo de decomposição de uma substância explosiva pode ser dividido em
combustão, deflagração e detonação. A combustão é definida como toda reação química
capaz de desprender calor; deflagração é um processo exotérmico em que a reação de
decomposição se baseia principalmente na condutividade térmica e sua velocidade não
ultrapassa os 1000 m/s; por fim a detonação é um processo físico-químico distinguido por
sua grande velocidade de reação e formação de grande quantidade de produtos gasosos a
uma alta temperatura, adquirindo uma grande força expansiva.
Jimeno (1987) esclarece que uma vez iniciado o explosivo, o primeiro efeito
produzido é a geração de uma onda de choque que se propaga através de sua própria
massa, essa onda é suficiente para ativar a massa explosiva ao redor da qual se iniciou a
reação, provocando assim uma reação em cadeia. No caso de a onda de pressão atuar em
sentido contrário a massa de explosivos sem detonar, um regime de deflagração lenta é
produzido e a reação explosiva vai perdendo energia até o ponto de não se conseguir
energizar o restante da massa explosiva.
De acordo com Bhandari (1997), os explosivos podem ser divididos em baixos e
altos explosivos, sendo esse último, dividido em primários e secundários. Os baixos
explosivos foram os primeiros a serem desenvolvidos, são detonados por deflagração, que
é um processo considerado uma rápida forma de combustão. São exemplos desse tipo de
explosivo: a pólvora, propelentes de foguetes e fogos pirotécnicos. Já os altos explosivos

16
detonam a uma velocidade que varia entre 1500-8000 m/s e produzem altos volumes de
gases a uma temperatura e pressão extremamente altas.
Os primários são caracterizados pela sua sensibilidade a estímulos como um
pequeno choque mecânico, fagulha ou chama, os quais podem levá-lo de um estado de
deflagração para detonação de forma rápida. São exemplos desse tipo de explosivos:
fulminato de mercúrio, azida de chumbo, estifnato de chumbo, tetrazeno e outras
misturas. Esse tipo de explosivo é utilizado como carga iniciadora em detonadores.
Explosivos secundários são capazes de detonar só sobre a ação de uma onda de choque,
normalmente gerada pela detonação de um explosivo primário. São exemplos desse tipo
de explosivo: emulsão, ANFO, lamas, etc.
O ANFO, segundo Jimeno (1987), pode ser misturado com qualquer combustível
para produzir um agente explosivo, porém o uso do óleo diesel se mostrou eficaz graças
a sua baixa volatilidade e consequentemente menor risco de explosão pelo vapor e, além
disso, torna a mistura mais homogênea. Silva (2019) indica que a proporção ideal, citada
pelos americanos Lee e Akre, entre essas duas substâncias fica em 94,5% de nitrato de
amônio e 5,5% de óleo diesel.
O autor ainda relata que as maiores vantagens do ANFO são: ocupar inteiramente
o volume do furo, possuir grande insensibilidade a choques, poucos gases tóxicos
liberados após a detonação e preço baixo. As desvantagens ficam por conta da pouca
resistência à água, baixa densidade e a inevitabilidade de utilização de um iniciador
especial.
Jimeno (1987) explica que a emulsão é um explosivo do tipo “água em óleo”, na
qual a fase aquosa é composta por sais inorgânicos oxidantes dispersas em água e a fase
oleosa por um combustível líquido imiscível com a água, do tipo hidrocarboneto. Dentre
as vantagens da emulsão pode-se citar: excelente resistência à água, densidades entre 1 e
1.45 g/cm³, elevadas velocidades de detonação (4000 a 5000 m/s), grande segurança no
manuseio, etc. As desvantagens englobam alterabilidade em baixas temperaturas, tempo
de armazenamento, condições de preparação estritas, dentre outros.
Segundo Lusk e Worsey (2011), existem três tipos de sistemas de iniciação: o
elétrico, o não elétrico e o eletrônico. Os elétricos são iniciados com uma pequena
corrente elétrica, que entra dentro da cápsula através de um fio, em seguida, aquece um
composto pirotécnico, que por sua vez inicia um elemento de retardo até chegar à
detonação de uma carga primária de PETN.
Os detonadores não elétricos englobam cordéis detonantes, espoleta e estopim e
tubos de choque não elétricos. Detonadores eletrônicos utilizam microchips para fornecer
os retardos ao desmonte, são compostos de fios, cápsula detonante similar à dos
detonadores elétricos e não elétricos, um microchip, capacitor e uma carga primária.
Os detonadores elétricos e não elétricos do tipo tubo de choque são fabricados
com muitas opções de retardos nominais, de forma que a maioria dos fabricantes de
detonadores seguem uma sequência de intervalos de retardo formados pelas séries MS
(milissegundos) e LP (longo período). A série MS consiste basicamente de 20 a 40
retardos de detonadores com uma separação de 25 ms entre dois retardos consecutivos
identificados por seus respectivos números: número zero que possui um retardo de 0 ms

17
ou instantâneo até o número 20, que possui um retardo de 500 ms. O intervalo de retardo
é de aproximadamente 25 ms, mas pode variar em ± 10 ms ou mais. Com os detonadores
da série LP, a maioria dos fabricantes possuem aproximadamente 20 retardos LP com
tempos variáveis entre retardos consecutivos. Geralmente, o tempo de retardo entre
detonadores consecutivos para sistemas LP varia entre 200 e 400 ms, a depender do
fabricante.
Lusk e Worsey (2011) concluem que os detonadores eletrônicos programáveis
fornecem a maior flexibilidade em termos de retardo pois a maioria dos sistemas
permitem um grande número de detonadores a serem programados em um desmonte com
tempos de disparo variando entre 0 ms e 20000 ms, com uma dispersão em relação aos
tempos programados de ± 1 ms ou ± 0,1 %, o que nas duas escalas é excelente. A
desvantagem desse tipo de detonador fica por conta dos altos custos, alta taxa de falhas
nos detonadores e complexidade do uso. Diante disso, é melhor aproveitado em grandes
desmontes com maiores diâmetros de perfuração, uma vez que o custo é diluído. A Figura
4 revela um exemplo de detonador eletrônico.

Figura 4 - Detonador eletrônico (ENAEX, 2019)

Agrawal e Mishra (2018) complementam com um estudo realizado com o intuito


de analisar o efeito da dispersão do tempo de retardo dos sistemas de iniciação para
construção das leis de atenuação. Nesse artigo, os autores constatam a alta dispersão dos
detonadores pirotécnicos como cordel detonante e tubo de choque, podendo os tempos de
retardo nesses tipos de sistema variar de ± 10 % a ± 20 % em relação ao tempo nominal
informado, falha que ocorre em uma escala muito menor nos detonadores eletrônicos, em
que a dispersão varia a no máximo ± 0,05 % em relação ao tempo nominal. Zhang (2016)
também relata uma alta porcentagem de dispersão em sistemas de iniciação do tipo tubo
de choque Nonel, utilizados na mina de Malmberget. Conforme é possível notar na Figura
5, as dispersões chegaram a 150 ms de diferença. Essa dispersão mínima encontrada nos

18
detonadores eletrônicos permite um maior controle da carga máxima por espera e
consequentemente do nível de vibrações esperadas nos pontos críticos.

(Medido na mina)
Tempos nominais de iniciação dos detonadores
Tempos reais de iniciação dos detonadores
Velocidade pico partícula (mm/s)

Tempo (ms)

Figura 5 - Dispersão dos tempos de detonadores tubo de choque (ZHANG, 2016)

2.4. Variáveis Controláveis dos Desmontes


Segundo Jimeno (1987) as variáveis controláveis nos desmontes podem ser
divididas em:
• Geométricas (Diâmetro, comprimento de carga, afastamento,
espaçamento, etc.)
• Químico-físicas (tipo de explosivo, potência, energia, sistema de escorva,
etc.)
• Temporais (tempos de retardo e sequência de iniciação)
Segundo Silva (2019), as variáveis geométricas são:
• Altura da bancada (m);
• Diâmetro do furo (diâmetro de perfuração) (mm);
• Inclinação da frente de desmonte (ângulo dos furos com a vertical, em
graus)
• Hf: comprimento do furo (m);
• W: largura da frente de desmonte (m);
• Hb: altura da bancada (m);
• A: menor distância da linha de furos à frente livre (m);
• E: espaçamento entre furos da mesma linha (m);
• S: subperfuração (m);
• T: comprimento de tamponamento (m);

19
• Cf: comprimento da carga no furo (m);
• Ccf: comprimento da carga de fundo (m);
• Ccc: comprimento da carga de coluna (m);
• F: erro de perfuração ou fator corretivo do desvio de perfuração.
As físico-químicas:
• Tipos de explosivo;
• Massa do explosivo (kg);
• Diâmetro do explosivo (mm);
• Comprimento do explosivo (m);
• Densidade do explosivo (g/cm³) e razão linear de carga (kg/m);
• Razão de carga (g/m³ ou g/t);
• Perfuração específica (m/m³ ou m/t).
E por fim, as variáveis temporais:
• Tempos de retardo;
• Sequência de detonação.
Ricardo e Catalani (2007) realizam algumas observações a respeito das variáveis
geométricas (Figura 6):

Figura 6 - Parâmetros geométricos de um desmonte (ENAEX, 2019)

Afastamento: Distância entre duas linhas sucessivas de furos ou entre a face livre da
bancada e a primeira linha de furos depois dela. Silva (2019) complementa que um
afastamento muito pequeno pode gerar lançamentos de fragmentos rochosos na face livre
do desmonte e excesso de ruído. Por outro lado, um afastamento muito grande pode gerar
ultralançamento do material do tampão, alto nível de onda aérea, vibrações no terreno,
problemas de fragmentação no maciço rochoso e de “repés” na base da bancada detonada.

20
Espaçamento: Distância entre furos sucessivos da mesma linha. Silva (2019) reforça que
espaçamentos muto pequenos podem gerar excesso de fragmentação entre furos e blocos
maiores à frente da linha de furos, por outro lado, espaçamento maior que o ideal pode
gerar menor fragmentação entre furos e uma frente remanescente muito irregular.
Silva (2014) esclarece que as malhas podem ser do tipo quadrada, retangular ou
estagiadas. As malhas quadradas e retangulares são de fácil perfuração, as estagiadas são
de mais difícil perfuração, porém distribuem o explosivo de forma mais homogênea pelo
maciço rochoso. As malhas triângulo equilátero possuem a relação E/A = 1,15, são
preferíveis para rochas duras e compactas, aumentando a fragmentação do maciço
rochoso. Por fim, as malhas alongadas dispõem de alta relação E/A (acima de 1,75) e são
mais indicadas para rochas friáveis e macias, ficando a desvantagem por conta do curto
afastamento que pode aumentar a chance de lançamento do material rochoso.
Inclinação da face: As vantagens da inclinação da face livre estão na redução da
sobrefuração no pé da bancada, na economia de explosivo, reduzindo-se o consumo por
metro cúbico escavado e na segurança em relação a bancada vertical. As desvantagens
ficam por conta da maior probabilidade de ocorrerem desvios nos furos, no maior cuidado
com o embocamento do furo, diminuindo-se a produtividade e na inclinação correta dos
furos, mesmo com o surgimento de novas tecnologias que auxiliam nesse quesito.
Ricardo e Catalani (2007) ressaltam que é necessário considerar a inclinação das
camadas para que seus efeitos não se oponham ao ângulo de inclinação da face, assim
como uma atenção maior deve ser dada à inclinação dos furos para que uma pequena
diferença na inclinação não resulte em uma convergência dos furos.
Altura da bancada: Bancadas muito altas (superior a 20 metros) devem ser evitadas, a
menos que perfuratrizes com martelo de fundo sejam utilizados.
A altura da bancada deve ser escolhida em função dos equipamentos de perfuração
disponíveis, da necessidade de reafiação da coroa após determinado número de metros
perfurados, comprimento da haste, que deve ser múltiplo da altura da bancada, das
peculiaridades do maciço rochoso e, por fim, do acesso às bancadas.
Profundidade de perfuração: É função da altura da bancada, porém, levando-se em
consideração também a sobrefuração para se evitar “repés”, que são irregularidades no
piso das próximas bancadas.
Carga de fundo: Uma maior quantidade de carga explosiva concentrada é necessária
junto a parte inferior do furo devido a maior dificuldade de movimentar o maciço rochoso
nessa região.
Carga de coluna: A concentração de explosivo nessa região deve ser de 40 % a 50 % em
relação a carga de fundo.
Tampão: É parte superior do furo, que não é carregada com explosivo, podendo ser
preenchida com areia seca, pó de pedra ou argila. De acordo com Silva (2019), o material
do tampão deve ser angular, com tamanho ideal de 0,05 vezes o diâmetro do furo, e
detritos de perfuração devem ser evitados.

21
Jimeno (1987) explica que o grupo de variáveis mais desconhecido por técnicos e
operadores são as sequências de ligação e os tempos de retardo entre as cargas explosivas
de um desmonte, podendo modificar inclusive as variáveis geométricas afastamento e
espaçamento. Para isso, o autor sugere que existe uma relação ótima entre essas duas
variáveis (espaçamento/afastamento = 2,4), pois caso o espaçamento seja menor do que
o recomendado, as fendas originadas entre os furos se interceptam antes do restante
chegar à face livre, gerando um plano de descontinuidade pelo qual os gases escapam
prematuramente. É produzido então um empurre simultâneo na rocha da frente, diminui-
se o número de colisões entre fragmentos e a quebra por cisalhamento só ocorre na parte
inferior da maciço e nas interfaces laterais do desmonte com a rocha remanescente,
prejudicando a fragmentação. Caso não se necessite de uma fragmentação muito fina ou
quando a rocha está intensamente fraturada e o próprio deslocamento do maciço já
fornece a fragmentação desejada, a relação Espaçamento/Afastamento pode ser menor
que 2,4, gerando fragmentos de rocha de 25 % a 30 % maiores do que em desmontes
sequenciais. A posição das descontinuidades influencia na relação
afastamento/espaçamento pois se as mesmas estiverem paralelas à face livre, a relação
pode ser maior sem prejudicar a fragmentação, caso as descontinuidades estejam normais
a face livre, a relação deve ser menor.
Em desmontes onde há uma face livre, cada furo deve possuir ao menos uma face
livre no momento da detonação, a malha deve estar na forma triangular, o ângulo Ɵ entre
os furos de uma linha anterior e os dois furos da linha da frente (que formam o triângulo)
deve estar preferencialmente entre 120° e 140°. Para um deslocamento maior do maciço
rochoso o ângulo Ɵ deve ser o maior possível, o espaçamento efetivo, que é o
espaçamento real dependente da sequência de iniciação, deve ser o menor possível, e, por
fim, deve-se aumentar o número de furos com uma face livre adequada.
O desmonte ótimo tem como objetivos: fragmentação, empolamento e
deslocamento adequado da rocha, controle das projeções e sobre escavações, ao mesmo
tempo que gera um nível mínimo de vibrações e onda aérea.
Os tempos de retardo segundo Jimeno (1987) apud Lang e Favreau devem
permitir os seguintes acontecimentos: Propagação das ondas de compressão e tração dos
furos até a face livre (aproximadamente 0,58 ms/m); Reajuste do campo inicial de tensões,
devido a presença de fendas radiais primárias e o efeito da reflexão da onda de choque na
face livre. O tempo de reajuste pode-se estimar entre 10 e 20 ms depois da iniciação,
dependendo dos tipos de rocha e explosivos; Aceleração da rocha fragmentada por ação
dos gases até uma velocidade que assegure um deslocamento horizontal adequado. O
movimento é mais fácil quanto maior o tempo de retardo e é estimado entre 30 e 50 ms
depois da iniciação.
Jimeno (1987) explica que a interação das ondas de choque primárias não
contribui de maneira significativa para a fragmentação da rocha. Assim, em um desmonte
com uma fila de furos sequenciados, a fragmentação depende basicamente do
desenvolvimento total das fendas geradas ao redor de cada furo antes que o próximo
detone.
Se o equipamento de carga é uma pá carregadeira, o ideal são tempos de retardos
entre filas maiores, possibilitando um maior espalhamento do material e a facilidade do

22
manejo do material, caso o equipamento seja uma escavadeira hidráulica por exemplo,
tempos de retardos menores entre filas deixam a pilha desmontada mais próxima da
posição inicial, facilitando a operação desse tipo de equipamento.

2.5. Avaliação dos resultados


Segundo Jimeno (1987) uma vez executado um desmonte, é necessário realizar a
avaliação dos resultados obtidos, já que sua interpretação permitirá promover
modificações nos parâmetros dos próximos desmontes. Para o autor os seguintes aspectos
devem ser analisados:
• Fragmentação e empolamento da pilha desmontada;
• Geometria da pilha, altura e deslocamento;
• Estado do maciço residual e piso do banco;
• Presença de matacões na pilha de material;
• Vibrações, projeções e onda aérea produzida no desmonte.

2.5.1. Fragmentação e empolamento da pilha desmontada


Silva (2019) especifica os seguintes métodos mais usuais de avaliação da
fragmentação e empolamento da pilha fragmentada:
• Análise quantitativa visual;
• Método fotográfico;
• Método fotogramétrico;
• Fotografia ultrarrápida;
• Estudo de produtividade dos equipamentos;
• Curva granulométrica completa;
• Volume de material que requer fragmentação secundária;
• Interrupções pela presença de matacões no britador primário.
Silva (2019) explica que existem dois sistemas para se obter o gráfico de
distribuição dos grânulos da pilha fragmentada pelo sistema de análise fotográfica: o
estático e o dinâmico. O estático é realizado pela retirada de uma quantidade de fotos com
uma escala de referência. As fotos retiradas devem possuir um alto grau representativo
da pilha como um todo. No sistema dinâmico, uma câmera filma o material proveniente
da pilha desmontada que está sendo descarregado no britador. A última inovação vista
neste aspecto é a foto análise 3D, que não necessita de referencial, nem de uma distância
específica para retirar as fotos.
De acordo com Jimeno (1987) a análise quantitativa visual é a técnica mais
utilizada e muitas vezes, a única aplicável. O aspecto geral da pilha fragmentada é
analisado subjetivamente por um profissional experiente logo após o disparo da
detonação. Em geral esse método não é muito preciso pois não possui rigor na avaliação
e serve mais como um referencial de primeira instância com o objetivo de levar resultados
rápidos em oposição a um relatório formal, que demora mais tempo.

23
O método fotográfico é uma técnica que pode ser aplicada de diferentes formas
como por exemplo, a retirada de fotografias da pilha fragmentada de uma área que
corresponde a 15 % do total, inserindo sobre as fotos uma malha para avaliação dos
tamanhos e contagem dos fragmentos. Um dos erros mais comuns dessa técnica é a
retirada de fotos somente da região superficial da pilha como se essa fosse representativa
da pilha total. Para contornar esse problema o ideal é retirar várias fotos da pilha com
uma escala graduada, à medida que a mesma vai sendo revolvida e diminuída pelos
equipamentos de carregamento, de modo a ser mais representativo do todo. As
desvantagens ficam por conta do tempo necessário a realizar tal análise e da quantificação
dos tamanhos pequenos.
Os métodos fotogramétricos adicionam uma precisão maior que as fotografias
tradicionais. As vantagens estão na possibilidade de um estudo 3D da pilha desmontada,
podendo-se calcular os tamanhos dos fragmentos e o empolamento da pilha. As
desvantagens se referem ao alto custo de investimento em equipamentos e de pessoal
qualificado.
O emprego da fotografia ultrarrápida foi só recentemente aproveitado como forma
de avaliação dos fragmentos e o principal problema enfrentado por essa técnica é a
formação de gases e poeira logo após o desmonte, o que atrapalha a visualização da
formação de fendas e o deslocamento da pilha. De forma qualitativa, pode-se utilizar essa
técnica para verificar os primeiros movimentos da rocha, confinamento e trajetória de
movimento da pilha. E de forma quantitativa essa técnica permite avaliar o tempo de saída
dos acessórios de desmonte, tempo e efetividade do confinamento dos gases, aceleração,
velocidade e direção dos fragmentos de rocha.
A técnica de estudo da produção dos equipamentos de carga é baseada no
rendimento dos equipamentos de carregamento em função inversa com relação a
granulometria e direta com relação ao empolamento do material. A presença de blocos
grandes na pilha, de empolamento e “repés” refletirá diretamente na produção.
A análise do volume de material que requer fragmentação secundária ou que não
passa pelo britador primário se baseia nos fragmentos de rocha que não podem ser
movimentados pelos equipamentos ou que são grandes demais para passar pela abertura
do britador. O volume desse tipo de fragmento deve ser sempre mantido ao mínimo
devido ao alto retrabalho e custo que se tem para diminuir o tamanho desses blocos de
rocha.
Por fim, Silva (2014) revela outros problemas originários pela má fragmentação
em 5 setores:
Carregamento:
• Menor enchimento das caçambas;
• Presença de blocos e lajes;
• Pilha baixa e compacta;
• Aumento nos custos da manutenção;
• Aumento do ciclo dos caminhões, escavadeiras e/ou pá carregadeiras;
• Aumento do desmonte secundário;

24
Transporte:
• Atraso na pilha de deposição;
• Pisos irregulares;
• Ângulos acentuados das vias de acesso
• Aumento nos custos de manutenção;
• Desgaste dos pneus e/ou das correias transportadoras.
Britagem:
• Engaiolamento dos blocos no britador;
• Atraso nas correias;
• Aumento nos custos de manutenção.
Controle do Maciço:
• Instabilidade dos taludes;
• Aumento no tempo de bate choco;
• Sobre escavação do maciço.
Meio ambiente:
• Excessivo pulso de ar;
• Maior ultralançamento;
• Excessiva quantidade de poeira e gases;
• Excessivo nível de vibrações;
• Riscos de danos às instalações, estruturas, equipamentos e operários;

2.5.2. Geometria da pilha, altura e deslocamento


A configuração da pilha final desmontada é ditada por alguns parâmetros como
variáveis geométricas do desmonte, consumo dos explosivos, sequência de saída e tempos
de retardos.
Silva (2014) descreve os seguintes perfis de pilha desmontada e respectivos
equipamentos adequados:
• Pilha baixa e material espalhado: necessária limpeza excessiva, baixa produção
com escavadeira, alta produção com pá carregadeira e muito segura.
• Pilha alta e material contido: Necessária pouca limpeza, alta produção com
escavadeira, baixa produção com pá carregadeira e altura da pilha perigosa.
• Cenário intermediário entre os dois anteriores: Pouca limpeza, produção aceitável
e altura da pilha segura.

2.5.3. Estado do maciço residual e piso do banco


Segundo Jimeno (1987), depois de realizado o carregamento de toda a pilha
desmontada, é possível verificar a existência ou não de sobre escavação e o nível de danos
ao maciço remanescente. A análise pode ser feita com qualquer um dos métodos de

25
caracterização geomecânica, porém, para o autor a melhor forma é segundo o método
proposto por Ashby (1980), conforme Tabela 1.

Tabela 1 - Caracterização geomecânica (JIMENO apud ASHBY, 1980, adaptado)

Condições Observadas no Talude


Nível de Danos Juntas e Blocos Ângulo de Talude e Condições de Escavação
Condições da Frente da Frente
Escavação não praticável.
Juntas fechadas, material >75°
Sinais visíveis da
Leve de enchimento não Se vê as meias-canas dos
escavadeira na frente em
mobilizado. furos de contorno.
formações brandas.
Moderado Pequenas juntas >65°
Sinais de penetração dos
preenchidas são abertas, A frente é suave, se vê
dentes da escavadeira,
blocos isolados e juntas algumas seções dos furos.
mas de escavação difícil.
ligeiramente deslocadas. Pequenas rachaduras.
Forte >65°
Algumas juntas estão Pequena descamação da Escavação factível com
abertas e deslocadas. frente. Rachaduras radiais esforço <1,50 m
podem ser vistas.
Severo >55°
Frente fraturada, juntas
Frente irregular, alguns Escavação factível <3,0
abertas. Alguns blocos
rebaixos e rachaduras de m
mobilizados
sobre escavação.
Extremo 37°>55°
Blocos mobilizados e Frente muito irregular,
Escavação bastante fácil
rachados. O desmonte descamação pesada da
>3,0 m
produz material fino. frente. Grande sobre
escavação.

Em seguida é realizado a análise do piso da bancada desmontada que pode


apresentar os seguintes problemas:
• “Repés” à frente dos furos, o qual pode ser resolvido diminuindo-se o
afastamento, aumentando-se a carga de fundo, a sobreperfuração ou o retardo
entre filas;
• “Repés” entre furos, o qual tem solução na diminuição do espaçamento;
• Piso alto e piso baixo, o qual podem ser solucionados aumentando-se ou
reduzindo a carga de fundo e a sobrefuração, respectivamente.

2.5.4. Presença de matacões na pilha desmontada


Para Jimeno (1987), a presença de grandes blocos de rochas pode aparecer em
áreas distintas e para cada setor há uma solução diferente.
Matacões na parte alta podem ser indícios de uma camada mais dura de rocha ou
de má fragmentação da parte superior da bancada. Para solucioná-lo deve-se aumentar a
coluna de explosivo ou colocar uma pequena carga no tampão. Matacões no piso são
tratados da mesma forma que quando se têm “repés”: diminuindo o afastamento,
aumentando a carga de fundo, a sobreperfuração e o retardo entre filas. Grandes blocos
de rocha no interior da pilha são causados por uma perfuração incorreta, escorva mal feita,
defeitos no explosivo devido à por exemplo o umedecimento do ANFO, etc. Por fim,
blocos gerados na região da frente da pilha podem ser devidos a um fraturamento
excessivo do desmonte anterior nessa zona.

26
2.5.5. Back Break
Segundo Konya (1991), a quebra além dos limites da escavação é muito comum
em muitos tipos de desmonte. O aumento do backbreak e endbreak podem ser controlados
pela seleção das temporizações corretas. Zhang (2016) complementa que o backbreak
geralmente aumenta com o aumento dos diâmetros dos furos, desde que os mesmos sejam
carregados com a carga completa.

2.5.6. Vibrações, projeções e onda aérea produzida no


desmonte
Se o tempo de retardo e a sequência de iniciação de um desmonte não é adequada,
se produzirão, entre outros resultados, uma má fragmentação do maciço rochoso e
empolamento insuficiente da pilha, projeções incontroladas de fragmentos de rocha,
níveis de vibrações elevados e frequências de vibrações baixas. Através do
monitoramento do desmonte e da modificação dos parâmetros relacionados a esse
problema é possível otimizar a energia gerada pela detonação em fragmentação e
consequente redução dos níveis de vibrações ao redor do desmonte. Com relação a onda
aérea, são diversos fatores que atuam no seu aparecimento, porém um dos mais
importantes é o escape prematuro dos gases através de um tamponamento incorreto do
furo.

2.6. Efeitos secundários das detonações


Silva (2019) explica que quando realizada de forma correta, atendendo aos
requisitos e boas práticas, o desmonte de rochas com explosivo é uma forma eficaz de
acelerar o desenvolvimento de empreendimentos minerários, obras civis como combate
as cheias de rios e mobilidade urbana. No entanto, mesmo sendo a forma mais eficiente
de realizar determinados trabalhos específicos, apenas cerca de 20 % a 30 % da energia
dos explosivos são utilizadas na fragmentação de rocha, de forma que o restante acaba
causando impactos ao meio ambiente como vibrações no terreno, emissão de ruídos,
ultralançamento e geração de poeira, conforme pode ser observado na Figura 7.

27
Figura 7 - Principais efeitos secundários das detonações (SILVA, 2019)

2.6.1. Poeira e gases de detonação


Nieble (2017) relata que a detonação de uma carga explosiva é uma reação muito
veloz e que se fosse realizada de forma ideal produziria CO2, vapor d’água e N2. No
entanto, em reações reais, além dos compostos já citados, também são formadas fumaças
como CO, NO2, entre outros.

2.6.2. Impacto de ar
Para Jimeno (1987) a onda aérea é a onda de pressão associada à detonação de
uma carga explosiva, enquanto o ruído é a parte audível e infrassônica desse espectro,
que vai de 20 Hz a 20000 Hz. Segundo o autor apud Wiss e Linehan (1978) as fontes que
geram tal fenômeno são:
• Movimento do terreno provocado pela detonação;
• Escape dos gases pela boca do furo ao projetar-se o tampão;
• Escape dos gases através da formação de fendas na frente do maciço rochoso;
• Deslocamento da frente do banco à medida que o desmonte progride;
• Colisão entre os fragmentos projetados.
Silva (2019) complementa que a sobrepressão atmosférica, outro nome para ruído
ou pressão acústica, contém uma quantidade razoável de energia de baixa frequência, que
pode produzir danos diretos às estruturas, no entanto, são mais comuns as vibrações em
alta frequência, que ocasionam ruídos em janelas e portas, por exemplo.
De acordo com o autor, a direção dos ventos e as trocas rápidas de temperatura
podem afetar os níveis de sobrepressão atmosférica. Coberturas de nuvens podem
ocasionar a reflexão da onda em determinado local e gerar danos às estruturas, além disso,

28
a topografia e a configuração da geologia local podem levar à concentração de ondas em
determinadas regiões. A tabela 2 indica alguns danos causados pelos respectivos níveis
de sobrepressão atmosférica.

Tabela 2 - Efeitos da sobrepressão atmosférica (Adaptado de SILVA, 2019)

Variação da sobrepressão
Efeito
dBL Pascal
Suportável (não causa danos) 114 10
Queda 171-174 7.000-10.000
Ruptura do tímpano 185-194 35.000-100.000
Lesões nos pulmões 200-208 200.000-500.000
Morte 211-217,5 700.000-1.500.000

Segundo Nieble (2017) o impacto de ar tem uma duração de aproximadamente o


mesmo tempo que o desmonte. As formas de reduzir esse efeito secundário são: realizar
um tamponamento adequado do furo, utilizar um acessório adequado de superfície
(SNTEC – Nonel, Brinel, Excel, etc.) ou detonador eletrônico, diminuir a carga máxima
por espera através da diminuição do número de furos por espera, do diâmetro do
explosivo, do diâmetro de perfuração, etc. Além disso, a hora em que o desmonte será
executado influencia também na ocorrência do impacto de ar, uma vez que em horários
de inversão térmica, esse fenômeno pode ser agravado.
Nieble (2017) explica a física por trás desse processo através da transferência de
momento de uma molécula para outra, dessa forma, o impacto de ar é propagado por uma
onda de compressão que viaja o meio (ar) de forma análoga a forma com que a onda
longitudinal P viaja através do maciço rochoso.
A velocidade do som no ar ao nível do mar e a 0 °C é de 326 m/s. Essa velocidade
se intensifica 1 % a cada 5,5 °C de elevação na temperatura do ar. Isso ocorre, pois, a
velocidade das partículas no ar aumenta à medida que a temperatura também aumenta,
facilitando a passagem da onda de pressão.

2.6.3. Ultralançamento
Para Silva (2019), ultralançamento é entendido como qualquer projeção de
pedaços de rocha provenientes de detonações que porventura venham a colocar em risco
a integridade física de pessoas, danos aos equipamentos e a infraestrutura da mina, assim
como residentes e casas ao redor da mina.
Para o autor, as causas desse tipo de efeito são:
• Tampão pequeno;
• Afastamento pequeno ou grande;
• Tempo curto de retardo;
• Material de tampão inadequado;
• Alto nível de confinamento entre furos e/ou entre linhas;
• Diferença entre os tempos nominais e reais de retardos;

29
• Face livre da bancada inadequada (irregular);
• Alta ou baixa energia do explosivo;
• Desvios nos furos da bancada;
• Presença de cavidades ou litologias mais friáveis no interior do maciço rochoso;
• Uso de explosivos bombeáveis em rochas fraturadas.

2.6.4. Vibrações
Silva (2019) relata que a vibração é tida como um reflexo elástico da rocha às
interações promovidas pela onda de tensão com início numa solicitação dinâmica. As
vibrações ocorridas nos terrenos são divididas em três agrupamentos:
• Contínuas: são geradas quando há um grau de vibração de forma relativamente
ininterrupto por um prolongado intervalo de tempo. São exemplos desse tipo de
vibração: máquinas de regime alternativo, bombas ou compressores em
funcionamento regular.
• Transitórias: Ocorre quando o grau de vibração é proveniente de um choque
repentino, para em seguida haver um intervalo de tempo de inatividade. São
exemplos desse tipo de vibração: terrenos sujeitos a compactação dinâmica,
detonação de explosivos na forma de cargas únicas, etc.
• Intermitentes: são geradas quando se realiza uma sequência de episódios de
vibração, cada um com uma curta duração. São exemplos desse tipo de vibração:
uma série de explosivos detonados com um intervalo de tempo entre eles, a
perfuração de rochas através do método da percussão, etc.
Nieble (2017) destaca que as ondas sísmicas percorrem os maciços rochosos e
transmitem a energia por onde passam, além desse tipo de ondam, ainda se encontra ondas
do tipo sonoras, de luz e de rádio. Existem ondas sísmicas geradas de forma natural e
também ocasionadas pelo homem. Quando essas últimas são percebíveis possuem o nome
de vibração e podem ser provocadas pela detonação de explosivos e pela atuação do
equipamento bate-estaca, por exemplo.
Esse tipo de onda é do tipo elástica, o que significa que após a passagem da mesma
por determinado meio, ele volta a posição e dimensões originais. A deformação pode
ocorrer por mudança de volume devido à compressão ou mudança de forma devido ao
cisalhamento.
Silva (2019) complementa ao classificar as ondas sísmicas em dois grupos: ondas
internas ou de corpo e ondas superficiais. O primeiro tipo de onda interna é chamado de
onda primária ou de compressão (Onda P) e se propaga dentro dos materiais, produzindo
em alternância, compressões e rarefações, ocasionando um movimento de partículas na
mesma direção de propagação das ondas. São também denominadas ondas sônicas, são
as mais velozes e criam trocas de volume, porém, sem alteração de forma no material que
estão percorrendo. Viajam na água, por exemplo, a 1.490 m/s e, no ar, a cerca de 340 m/s.
São perceptíveis pelo homem caso estejam numa faixa entre 20 Hz e 20.000 Hz.
O segundo tipo de onda que possui propagação interna ao meio a qual percorre é
a chamada onda transversal ou de cisalhamento (Onda S). Possui um movimento de
partícula perpendicular à direção de propagação da onda. Ao contrário das ondas P, as
30
ondas S exercem troca de forma, porém, não de volume. São menos velozes que as ondas
P, alcançando geralmente três quintos da velocidade das primeiras. A Figura 10 retrata os
efeitos das ondas P e S em estruturas.

Figura 8 - Efeitos das ondas P e S (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com)

A velocidade com que a onda sísmica se propaga nos meios depende diretamente
de suas características como constantes de deformação, coeficientes de Poisson e
densidades. A densidade, no que lhe diz respeito, também é dependente de uma série de
outras características como os minerais que formam a rocha, o grau de cimentação, a
quantidade de poros presentes, temperatura em que a rocha se encontra, pressão, etc.
Segundo Jimeno (1987), as ondas superficiais formadas durante uma detonação
são as ondas Rayleigh-R e as ondas Love-Q. Outros tipos comuns são as ondas Canal e
Stonelly, que não possuem muita utilidade devido à pouca informação que possuem.
As ondas Rayleigh produzem nas partículas um movimento elíptico, com sentido
contrário ao de propagação das ondas. As ondas Love, por sua vez, são mais rápidas que
as Rayleigh e promovem um movimento de partículas transversal ao de propagação da
onda, conforme pode ser visto na Figura 9.

31
Figura 9 - Efeitos das ondas Love e Rayleigh (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com)

Silva (2019) explica que as vibrações induzidas pelos desmontes de rochas podem
ser medidas de três formas diferentes: aceleração, velocidade e deslocamento. A
aceleração registra a variação de velocidade em determinado ponto de monitoramento e
sua unidade é mm/s². A aceleração em si não causa danos, mas acelerações diferentes em
objetos distintos sim, pela geração de estresse dinâmico e tensões.
A velocidade é a medida de quanto um ponto de interesse se movimenta ao longo
do tempo e sua unidade é em mm/s. Da mesma forma que a aceleração, por si só, não
causa danos. Determinados objetos que estejam sobre outros a uma velocidade
considerável, não sofrerão danos, por exemplo.
Por fim, o deslocamento é a distância pela qual um ponto de interesse percorre em
relação a um referencial e sua unidade é expressa em mm. Da mesma forma que as duas
formas anteriores, o deslocamento, em si, não causa danos, o que causa são as diferenças
de deslocamento que provocam deformação.
Silva (2019) define o sismógrafo como o aparelho que registra vibrações no solo,
quer sejam provenientes de ondas sísmicas, quer sejam por ação de equipamentos em
obras de construção civil, ferrovias, rodovias, explosões, etc. O equipamento
sismográfico consiste de um sensor, que pode ser tanto um sismômetro quanto geofones
triortogonais entre si, que conseguem medir o movimento do solo, realizando as medições
das velocidades de vibração nas direções longitudinal, transversal e vertical, e de um
microfone, que realiza a medição da pressão acústica. Além disso, ainda contêm um
sistema que realiza o armazenamento das medidas e de apresentações gráficas.
Segundo Jimeno (1987) a cadeia de registro é composta por diversos elementos
que realizam as seguintes funções:
• Detecção por captadores;

32
• Transmissão dos registros elétricos emitidos pelos captadores através de cabos
condutores;
• Gravação dos registros em um sismógrafo para análise e estudo posterior.
Os captadores constituem o primeiro elemento de registro da cadeia de medida e
devem estar o mais unido possível ao meio em que ocorrerá a vibração de forma a registrar
fielmente as vibrações ocorridas. Essa união entre o captador e o meio pode ser realizado
de diversas formas: simplesmente apoiado sobre o terreno, aparafusado a um cubo de
alumínio ou outro material não férrico, enterrando-o dentro do solo, efetuar furos e
cimenta-los de forma a criar uma base firme, empregar resinas sintéticas, etc.
O lugar de colocação dos captadores é outra questão referente ao monitoramento,
e, relacionado a isso, existem duas tendências: uma é colocá-lo sobre o terreno próximo
às estruturas a se proteger e outra é colocá-lo sobre as estruturas, de forma que a última
captará não o movimento do terreno, mas a resposta da estrutura às vibrações.
Com relação aos captadores de vibrações, os mais utilizados são os geofones ou
velocímetros e os acelerômetros. Os primeiros são os mais populares pelo fato de a
velocidade de partícula ter sido o parâmetro mais utilizado para correlacionar as vibrações
com os danos produzidos nos desmontes. Os transdutores do tipo eletromagnético emitem
uma tensão elétrica proporcional a velocidade de partícula de vibração. O sinal elétrico é
gerado por uma bobina móvel dentro do campo de um ímã fixo. O intervalo de aplicações
está limitado pela frequência de ressonância própria do geofone, que geralmente está entre
5 Hz e 15 Hz até um máximo de 300 Hz, portanto não são recomendáveis para baixas
frequências.
Os acelerômetros se baseiam na diferença de potencial elétrico que gera um cristal
piezoelétrico quando o mesmo é submetido a uma força. Essa força é proporcional a
massa do cristal pela aceleração do movimento vibratório.
Os registradores são os equipamentos comumente chamados de sismógrafos que
conseguem visualizar e amplificar os sinais provenientes dos capacitores. São dos mais
diversos tipos: os que mostram apenas o valor de pico, os que gravam os sinais de forma
analógica, os que possuem uma janela que permite reproduzir os sinais quantas vezes
forem necessários, etc.
Canedo (2013) complementa que os microfones que acompanham os sismógrafos
são utilizados para medir a sobrepressão do ar, que é receptado pelo aparelho de
sismografia na forma de pulsos com valores medidos mais altos que a pressão
atmosférica. As unidades de medidas são dadas em psi ou Pa e posteriormente convertidas
em dB.
Nieble (2017) complementa ao explicar que o sismograma gerado pelo sismógrafo
mostra três linhas de vibração, um para cada uma das três componentes nas direções
longitudinal L, transversal T e vertical V, e por último, os sismogramas ainda contam
com uma quarta linha relativa ao impacto de ar. A amplitude máxima de cada traço é
registrada para determinação do grau máximo de vibração e sua respectiva frequência.
Silva (2019), por sua vez, lista os componentes dos sismógrafos mais modernos
como os seguintes:

33
• Interface USB;
• Impressora;
• GPS;
• Tela sensível ao toque;
• Função de monitoramento remoto;
• Quatro canais para microfone e geofone triaxial;
• Faixa de medição da velocidade de vibração de 0 mm/s a 254 mm/s;
• Faixa de medição de pressão acústica de 80 dBL a 148 dBL (0,2 Pa a 502,4
Pa);
• Memória de mil eventos (dependendo do tempo programado de gravação de
cada evento);
• Modo de disparo (trigger): 0,13 mm/s (velocidade) e 80 dBL (pressão
acústica);
• Modo de gravação: histograma, manual, contínuo, contínuo histograma.
O autor ainda cita os principais recursos dos softwares que acompanham os
equipamentos:
• Programação do aparelho;
• Exibição dos sismogramas e outras informações relevantes dos
monitoramentos efetuados;
• Determinação das frequências dominantes, por meio da transformada de
Fourier (FFT);
• Determinação da lei de atenuação da vibração do terreno e da pressão acústica,
com seus respectivos gráficos;
• Simulações dos prováveis níveis de vibração do terreno e do ar, por meio das
leis de atenuação determinadas;
• Análises individuais das componentes das velocidades e acelerações de
vibração;
• Cálculo dos tempos de dispersão dos elementos de retardo utilizados nos
planos de fogo.
Segundo Jimeno (1987) uma das etapas fundamentais no estudo e controle de
vibrações geradas por desmontes é a determinação das leis que governam a propagação
das mesmas em distintos meios como terra e ar. Uma das primeiras equações de
propagação foi a sugerida por Morris (1950) e obedece a expressão:
√𝑄
A = 𝐾. 𝐷𝑆 (1)

Onde:
A = Amplitude máxima de partícula (mm).
Q = Peso da carga de explosivo (Kg).
DS = Distância do desmonte ao ponto de registro (m).
K = Característica do lugar que varia de 0,57, para rochas duras e competentes, até
3,40 para solos não consolidados.

34
Jimeno (1987) apud Leconte (1967), em uma revisão das técnicas de controle de
vibrações, sugere a substituição da amplitude máxima de partícula da fórmula de Morris
pelo vetor soma da velocidade de partícula, obtendo-se a seguinte fórmula:
√𝑄
V = 𝐾𝑣𝑟 . 𝐷𝑆 (2)

Para Jimeno (1987), entre os trabalhos mais rigorosos destacam-se os de Blair e


Duvall (1954), Duvall e Petkof (1959), que tentam correlacionar a intensidade do
movimento sísmico gerado com a quantidade de carga de explosivo e a distância da fonte.
Supondo uma simetria esférica da carga explosiva, a conclusão foi que qualquer dimensão
linear deve ser corrigida pela raiz cúbica da carga de explosivo. Resultados similares
foram obtidos por Ambraseys e Hendron (1968) e Dowding (1971).
Em um sentido geral e tomando como parâmetro mais característico as vibrações
da velocidade de partícula, se afirmava que a intensidade das ondas sísmicas e a distância
reduzida (coeficiente entre a distância e a carga elevada a um expoente) seguiam a
seguinte lei:
𝐷𝑆
V = 𝐾. (𝑄1/3 )− 𝑛 (3)

Onde:
V = velocidade de partícula
DS = Distância
Q = Carga máxima por retardo
K, n = Constantes empíricas
Caso se utilizem cargas de explosivos cilíndricas, foi constatado por análise
dimensional que as distâncias devem ser corrigidas dividindo-as pela raiz quadrada da
carga. A seguinte lei de propagação foi então definida da seguinte forma:
𝐷𝑆
V = 𝐾. (𝑄1/2 )− 𝑛 (4)

Segundo o autor, essa expressão tem sido uma das mais empregadas até os dias
de hoje por numerosos investigadores, organismos oficiais, usuários e empresas
fabricantes de explosivos. Já outros autores como Atewel et al (1965), Holmberg e
Persson (1978), Shoop e Daemen (1983) não consideram uma simetria de carga particular
e utilizam a seguinte expressão:
𝑉 = 𝐾. 𝑄 𝑎 . 𝐷𝑆 𝑏 (5)
Onde:
K, a e b: Constantes empíricas estimadas para uma região mediante uma análise de
regressão linear.
Para Silva (2019) as razões que contribuem para a atenuação das vibrações com a
distância são a expansão geométrica das ondas, o gradativo distanciamento das três
componentes (que resulta das divergentes velocidades de propagação), a existência de
descontinuidades nos maciços (provocando reflexões, refrações, difrações e dispersões)
e o atrito interno dinâmico característico das rochas.

35
Na definição dos aspectos locais de atenuação, procura-se determinar uma
conexão entre as amplitudes de vibrações, mensuradas através da velocidade de vibração
de partícula de pico e os aspectos relacionados à fonte de energia sobre as quais se tem
domínio, como a quantidade de quilos de explosivo detonados em um mesmo tempo e a
longitude entre o local do desmonte e o ponto de monitoramento.
O autor explica que a forma geral da equação que conecta, para cargas cilíndricas,
as três variáveis é a equação.
𝑉 = 𝐾. (𝐷𝐸)−𝑚 (6)
Onde:
K e m = constantes específicas de um determinado local onde ocorrem os desmontes de
rocha;
DE = distância escalonada, definida pela equação.
𝐷
𝐷𝐸 = (7)
√𝑄

Onde:
D = distância do local do desmonte ao ponto de monitoramento (m);
Q = carga máxima por espera (Kg)

Dessa forma:
𝐷 −𝑚
𝑉 = 𝐾. ( ) (8)
√𝑄

Para se conseguir uma lei de atenuação de vibração de onda, empregam-se


métodos de análises estatísticas através da aquisição dos valores de velocidade de
vibração e respectivas distâncias escalonadas (DE).
A construção dos gráficos de velocidade pico no eixo Y e distância escalonada no
eixo X se realiza em uma escala log-log e a equação obtida é da forma da equação.
𝑌 = 𝐾. 𝑋 𝑚 ou log 𝑌 = log 𝐾 + 𝑚. log 𝑋 (9)
Uma forma de aumentar a confiabilidade das leis de atenuação é aumentar o nível
de confiança para 95 % ou encontrar leis de atenuação que tenham um coeficiente de
determinação maior ou igual a 0,7. O desvio padrão, utilizado para determinar o nível de
confiança, é esperado que tenha seu valor o mais próximo de 0 e inferior a 0,5. O número
ideal de registros e respectivas cargas máximas e distâncias deve ser por volta de 30
valores, ainda que em alguns casos, se consiga uma boa correlação com menos pares.
Por fim, através do processo descrito, é possível prever o provável nível de
vibrações em determinado local, sabendo-se a distância (D) e a carga máxima por espera
(Kg).
Canedo (2013) apud Iramina (2002) explica que a empresa Geosonics Inc.,
desenvolveu um sistema chamado de mapa “Iso-Sísmico” com o intuito de realizar
medições do efeito das vibrações no terreno ao redor de uma mina através da instalação
de diversos sismógrafos. A instalação desse grande número de equipamentos tem como

36
finalidade caracterizar melhor o maciço rochoso em torno da mina para prever com mais
rapidez os limites de carga explosiva que cada região comporta.
Canedo (2013) complementa que Iramina (2002) realizou um trabalho com base
no sistema criado pela Geosonics com a intenção de construir os mapas de iso-velocidade
para uma pedreira no estado de São Paulo, porém com um número reduzido de
sismógrafos (9), colocando-os em quatro direções perpendiculares entre si e
monitorando-se os desmontes. Em seguida as equações de lei de atenuação foram criadas,
a interpolação dos pontos intermediários foi realizada, os valores foram plotados em um
mapa e as isolinhas de velocidade foram traçadas, como pode ser visto na Figura 10.

Figura 10 - Exemplo de mapa de iso-velocidade (CANEDO, 2015)

Segundo Bernard (2009) o método da onda elemental é baseado na assinatura


sísmica de uma carga medida em um dado ponto. A assinatura sísmica de uma carga é
definida como o registro em um dado ponto das vibrações criadas por uma carga de
explosivo isolada (sem interação com outras cargas). Esse método tem a vantagem de
integrar as modificações do traço fonte, uma vez que a onda formada pela detonação do
furo isolado atravessa diferentes camadas geológicas e a morfologia do sítio.
Uma detonação nada mais é que uma série de cargas detonadas com intervalos de
tempo, então tudo que se tem a fazer, segundo o autor, para cada carga explosiva, é
retardar a assinatura sísmica elementar da carga pelo retardo da última (tempo de retardo),
e adicionar junto todas as assinaturas sísmicas, de forma a obter a assinatura sísmica do
desmonte. A Figura 11 ilustra a técnica do furo assinatura.

37
Ponto de previsão

Furo Assinatura

Assinatura do furo deslocado


por retardo entre cargas

Sobreposição linear

Furos
Síntese do sinal do desmonte

Figura 11 - Técnica do furo assinatura (BERNARD, 2008)

Deve-se notar que:


• O método leva em consideração a sequência de iniciação;
• O método requer uma assinatura sísmica por tipo de carga;
• É possível levar em consideração a posição relativa dos furos entre os mesmos
e compará-los com o ponto de monitoramento, corrigindo-se o tempo de
retardo entre as cargas pelo tempo de viagem entre a carga e o ponto de
monitoramento;
• O nível de vibração só é estimado a uma distância igual ao da separação entre
o furo assinatura ao ponto de monitoramento da assinatura sísmica elementar;
• Aplicando-se este princípio, a regra dos 8 ms não faz mais sentido, pois cada
tempo de retardo corresponde a um nível de vibração diferente, mesmo
sabendo que a regra dos 8 ms insiste que além dos 8 ms o nível de vibrações
é constante.
A assinatura sísmica de um desmonte, dada em um determinado ponto, é a soma
de todas as assinaturas sísmicas geradas por todas as cargas explosivas retardadas por
tempos. Isso pode ser matematicamente escrito de acordo com a equação 10.
𝑆𝐺 = ∑𝑁
𝑖=1 𝑆𝑖 (𝑡) (10)
Onde:
SG(t) = Representa a assinatura sísmica de um desmonte (expresso no domínio do
tempo);
Si(t) = Representa a assinatura sísmica elementar de cada carga explosiva (expresso no
domínio do tempo);
N = número de cargas explosivas no desmonte.

38
Considerando-se que cada carga cria uma assinatura sísmica que é praticamente
idêntica, a expressão se torna:
𝑆𝐺(𝑡) = ∑𝑁
𝑖=1 𝑎𝑖 𝑆(𝑡 − 𝛥𝑡𝑖 ) (11)
Onde:
S(t) = Representa a assinatura sísmica elementar de uma típica carga explosiva
(expresso no domínio do tempo);
𝜟ti = Representa o tempo de retardo de uma carga na sequência.

Couceiro e Silva (2020) complementam ao relatar que o estudo de vibrações por


meio de ondas elementais é um método de modelagem fundamentado na superposição de
ondas individuais, formadas por cargas explosivas sequenciadas, em um ponto do espaço,
após a propagação das mesmas pelo solo. O princípio dessa técnica é respaldado no uso
de uma onda elemental, formada por uma única carga explosiva, com o fim de modelar o
histórico temporal de vibrações por meio da convolução escalada conforme as cargas
sequenciadas de um desmonte, em um ponto de interesse pré-determinado. O método leva
em consideração a geometria das malhas de perfuração, carga máxima por espera, tempos
e sequências de iniciação, dispersão dos tempos de retardos, velocidade sísmica do
terreno, etc.
Jaroonpattanapong et al (2017) explica através de um estudo conduzido na mina
Mae Moh, localizada na Tailândia, que quando um furo é detonado, uma frente de onda
ocorre e se espalha uniformemente em todas as direções em uma velocidade sísmica. Em
um determinado período depois da detonação, a frente de onda estará com um raio r a
partir do centro do furo detonado, o qual é proporcional ao tempo t.
Já quando dois furos são detonados com um retardo de tempo entre eles, as frentes
de onda estarão com raios diferentes devido ao tempo de retardo colocado entre os furos
e à localização diferente dos centros dos furos. Sob certas circunstâncias, quando a
distância entre furos e o tempo de retardo entre eles coincidem com o tempo de viagem
da frente de onda entre furos, as frentes de onda irão coincidir em determinada direção.
As Figuras 12 e 13 ilustram a situação de reforço de ondas em determinada direção.

39
Frente de onda viaja para fora na
velocidade de propagação em todas
as direções

Furo

O raio da frente de onda


é proporcional ao tempo

Figura 12 - Frente de onda para um furo detonado (RICHARDS)

Frente de onda efetivamente duplicada nessa direção pela chegada de


ondas simultaneamente

Diferença de zero tempos nessa direção

Ondas chegando
simultaneamente

Figura 13 - Frente de ondas coincidentes gerando um reforço de vibração (RICHARDS)

Jaroonpattanapong et al (2017) sugere que o modelo de reforço de frente de onda,


que identifica as direções onde há uma maior concentração de ondas juntas pode ser
utilizado para identificar as áreas onde as frentes de onda são reforçadas utilizando-se a
malha de perfuração e os tempos de retardo. Em 16 dos 21 desmontes realizados no
estudo, as velocidades de partícula nas áreas onde o reforço da frente de onda ocorreu
foram maiores que as áreas onde não houve esse reforço de ondas. As áreas de reforço da
frente de onda geralmente estão localizadas na parte da frente e na parte de trás do
desmonte.
Outras áreas de reforço de frente de onda podem ocorrer nas laterais do desmonte
caso os retardos entre furos não sejam bem dimensionados. O modelo de reforço de frente

40
de onda, segundo o autor, é uma boa alternativa na redução das vibrações induzidas no
solo.
Venkatesh e Rao (2008) realizaram um estudo em uma mina de carvão na Índia
sobre a efetividade de trincheiras na redução das vibrações de um desmonte e concluíram
que a construção de trincheiras se mostrou uma alternativa efetiva na diminuição das
vibrações de um desmonte, sendo que o principal parâmetro na efetividade dessa técnica
é a relação entre profundidade da trincheira e profundidade dos furos do desmonte (T/H)
que deve ser igual a 1, gerando por consequência uma redução de 55 % a 60 % nas
vibrações.
Uysal e Cavus (2013) realizaram estudos para verificação da efetividade do pré-
fissuramento ou pré-corte na redução de vibrações provenientes dos desmontes. Para isso
foram realizados 63 testes na mineração Seyitomer, Turquia. O estudo consistiu em
realizar filas de furos com um metro de espaçamento entre os mesmos, diâmetro de 9
polegadas, 24 metros de profundidade, cargas espaçadas dentro dos furos (90 Kg + 90 Kg
+ 70 Kg) e, por fim, a linha de teste foi colocada, em média, a cerca de 400 metros dos
desmontes. Além disso, sismógrafos foram posicionados antes e depois das linhas de
furos dos testes e foi constatado nos registros uma redução em média de 58 % nas
vibrações entre os sismógrafos colocados antes e depois da linha de furos, no entanto, os
autores ressaltam também que houve uma leve redução nas frequências das vibrações, o
que pode acarretar em danos às estruturas uma vez que frequências baixas provocam mais
danos às construções.
Abadi (2005) explica que barreiras de amortecimento são seções do terreno
alteradas artificialmente com o intuito de reduzir o nível de vibrações sísmicas
provenientes da detonação de explosivos.
Abadi (2005) em sua tese de dissertação, relata que a efetividade de barreiras de
amortecimento depende basicamente de parâmetros geométricos: distância entre a
barreira e a carga, largura da barreira e altura da barreira. A largura da barreira, segundo
o autor, deve ser comparável ao comprimento da onda incidente e deverá ser posicionada
dentro da zona de deformação residual provocada pela detonação da carga explosiva.

2.7. Novas Tecnologias


Silva (2019) relata novas tecnologias que ajudam na avaliação dos desmontes
como o uso de drones ou VANT’s (veículos aéreos não tripulados), que apresentam as
seguintes vantagens:
• Posição dos furos carregados com explosivos;
• Cálculo das dimensões das bancadas;
• Gravação dos desmontes em alta resolução;
• Levantamento das condições das leiras, vias de acesso, faces livres;
• Retirada de fotos para análise granulométrica;
• Medição dos lançamentos e deslocamentos da pilha;
• Etc.

41
Atualmente existem vários softwares que realizam o gerenciamento, simulação e
avaliação dos desmontes:
• Fragment;
• O-Pit-Blast Design
• I-Blast
• DNAFRAG
• Soft Blast
Esses programas são capazes de armazenar as coordenadas do local do desmonte,
equipe envolvida, foto análises, monitoramentos e filmagens realizadas, produtividade de
equipamentos, características geológicas, explosivos utilizados, acessórios,
temporizações empregadas, etc.

2.8. Modelo de Simulação DNA-Blast


Segundo Bernard (2008), a descrição dos efeitos de uma detonação pode ser
dividida da seguinte forma:
• A carga explosiva é detonada e dividida em alta pressão e temperatura;
• Os gases são pressionados contra o furo o qual contém o explosivo e cria um
campo de tensão na rocha;
• Esse campo de tensão, devido ao seu aspecto impulsionador, cria uma onda de
tensão que é propagada na rocha e a danifica;
• Esse dano é o centro das fendas na rocha;
• A pressão do gás é reduzida via saída pelas fendas formadas,
consequentemente separando os fragmentos de rocha;
• A pressão dos gases aplicada à face dos fragmentos, produz forças que
propelem os fragmentos;
• Os fragmentos adotam uma trajetória balística;
• Nas áreas onde os danos à rocha não foram suficientes para criar fragmentos,
a onda de tensão continua sua trajetória até que a energia se esgote, através da
vibração do maciço rochoso (Figura 14).

42
1 - Pressão 2 - Ondas 3 - Rachaduras 4 - Fragmentos

Figura 14 - Mecanismo de fratura da rocha (BERNARD, 2008)

O modelo DNA-Blast foi construído ao redor de mecanismos elementares (genes),


cada um descreve aspectos do mecanismo geral, ligando-se um ao outro através de
interações. Através da descrição efetuada acima é possível modelar os efeitos de uma
detonação através dos seguintes genes (Figura 15):
• Gene de detonação (que descreve a evolução da pressão depois da detonação);
• Gene da propagação da onda de tensão (resultante da pressão de campo);
• Gene da interferência de onda (no caso de várias cargas explosivas);
• Gene de dano à rocha (fraquezas relativas às características do material de
acordo com a tensão);
• Gene de fissuramento de acordo com o dano;
• Gene balístico (trajetória dos fragmentos).

43
Figura 15 - Estrutura do modelo DNA-Blast (BERNARD, 2008)

2.8.1. Métodos de predição de vibrações


Segundo Bernard (2008), há muitos métodos utilizados para prever as vibrações
criadas por um desmonte, em um dado ponto. Os dois métodos mais utilizados são o da
carga máxima por espera (distância escalonada) e o da forma da onda semente (onda
elemental), ambos explicados anteriormente.
Bernard (2008) revela que se pode modelar as vibrações de uma maneira confiável
com o modelo DNA-Blast, na área ao redor do desmonte, enquanto são considerados
todos os parâmetros chave (geologia, posição dos furos, cargas nos furos e a sequência
de iniciação). Através do princípio da onda elemental, que diz que a assinatura sísmica
de um desmonte é a soma de todas as assinaturas sísmicas de todas as cargas do desmonte,
já descrito de forma matemática anteriormente, tem-se que a equação (11) pode ser escrita
da seguinte forma:
𝑆𝐺(𝑓) = 𝐹(𝑓). 𝑆(𝑓) (12)
Onde:
SG(f) = representa a amplitude da transformada de Fourier de SG(t);
S(f) = representa a amplitude da transformada de Fourier de S(t);
F(f) = representa a função de amplificação.

𝐹(𝑓) = (∑𝑵 𝑁
𝑖=1 𝑎𝑖 (cos 2𝜋𝛥𝑖 ))² + (∑𝑖=1 𝑎𝑖 sin 2𝜋𝛥𝑖 ))² (13)
Chamando-se de D0 a distância de referência entre a carga por retardo e o ponto
de monitoramento da assinatura sísmica e aplicando-se a lei clássica (equação (8)) de
decréscimo na amplitude para um furo único, obtêm-se:

44
𝐷0 𝛼 𝐷𝑖 𝛼
𝑉0 = 𝐾. ( ) e 𝑉𝑖 = 𝐾. ( ) (14)(15)
√𝑄 √𝑄

Então, têm-se:
𝐷 √𝑄0 𝛼
𝑉𝑖 = (𝐷 𝑖 )𝛼 . ( ) . 𝑉0 = 𝑎𝑖 . 𝑉0 (16)
0 √𝑄𝑖

Portanto:
𝐷 √𝑄0 𝛼
𝑎𝑖 = ( 𝐷 𝑖 ) 𝛼 . ( ) (17)
0 √𝑄𝑖

A partir das equações acima, pode-se depreender que:


𝐷
𝛥𝑡𝑖 = 𝛥𝑖 + 𝑉 𝑖 (18)
𝑝

Onde:
𝜟i = representa o tempo de retardo da sequência de iniciação;
Di/Vp = representa o tempo de retardo da trajetória da onda sísmica entre a carga e o
ponto de monitoramento.

Bernard (2008) ainda relata que ao se assumir que a frequência dominante da


assinatura sísmica de uma carga é idêntica para todas as cargas, é possível, portanto,
calcular o fator de amplificação sísmica em qualquer ponto ao redor do desmonte.
Deve-se notar que:
• O fator de amplificação leva em consideração a posição dos furos, a sequência
de iniciação e a carga em cada furo;
• O fator de amplificação é exclusivamente dependente do tempo de chegada do
traço sísmico, da posição das cargas e da frequência
O fator de amplificação será utilizado no modelo da DNA-Blast com os seguintes
objetivos:
• Identificar o nível de vibração em um dado ponto multiplicando-o pelo
espectro da assinatura sísmica e realizando a transformação inversa de Fourier;
• Procurar por uma sequência de iniciação que leve a uma redução do nível de
vibrações na área;
• Para modelar e otimizar a fragmentação. Esse fator permite a amplitude gerada
por cada furo ser corrigida no modelo de fragmentação da DNA-Blast.
Por fim, deve-se notar que o fator de amplificação permite uma fácil deconvolução
do traço sísmico e a obtenção de uma assinatura sísmica elementar a partir da assinatura
sísmica geral do desmonte.

45
2.9. Estruturas Geotécnicas
2.9.1. Cavidades
De acordo com o ICMBio (2016), no manual “Sismografia Aplicada ao
Patrimônio Espeleológico, Contribuição Técnica à Análise de Estudos Ambientais”
revela que as vibrações sísmicas devem ser verificadas a partir de três pontos de vista:
qual a fonte que está emitindo as vibrações, as formas como as ondas se propagam pelo
meio e a estrutura que está sendo afetada pelas vibrações, no caso, as cavernas. Conforme
a Figura 16.

Figura 16 - Contexto das vibrações em uma caverna (ICMBio, 2016)

O manual ICMBio (2016) explica que dois fatores devem ser levados em
consideração com relação à atenuação das ondas pelo terreno. O primeiro é o
espalhamento esférico, se por exemplo, por hipótese, considerar-se o meio homogêneo e
isotrópico, as ondas vibracionais sofreriam atenuação somente pelo efeito do
espalhamento esférico. Esse efeito causa a atenuação natural da amplitude da onda através
da expansão esférica da mesma pelo terreno. A Figura 17 ilustra o efeito do espalhamento.

46
Figura 17 - Ilustração do espalhamento esférico (ICMBio, 2016)

O segundo fator existente são os atributos do próprio terreno, que possui uma
composição não homogênea e anisotrópica, a presença de descontinuidades e a
composição geológica promove grande intervenção no grau de atenuação como é
ilustrado na Figura 18.

Figura 18 - Efeito dos atributos do terreno na atenuação de ondas (ICMBio, 2016)

A geologia existente entre a fonte que está emitindo as vibrações e o local da


receptora (cavidade) pode influenciar a atenuação das ondas sísmicas. Dessa forma, para

47
realizar o monitoramento das vibrações é necessário que os pontos de medição estejam
entre a fonte e a receptora, estando o mais próximo possível da receptora (cavidade). A
Figura 19 ilustra a forma correta e a errada de instalação do ponto de monitoramento.

Figura 19 - Local de instalação do sismógrafo (ICMBio, 2016)

Na falta de um relatório geológico-geotécnico específico da cavidade, não há


forma de avaliar o nível de fragilidade da mesma. Na ocorrência de tal situação, o ideal é
adotar um certo conservadorismo e tratar a cavidade como do mais alto nível de
fragilidade. Portanto, para o caso de uma vibração de caráter intermitente, é recomendado
o nível de 5,00 mm/s como critério de segurança preliminar para cavidades de máxima
relevância.
Este critério recomendado é equivalente a 1/3 do limite inferior do critério de
segurança estabelecido pela norma ABNT 9653 para situações em que se tenha
construções ao redor de áreas de mineração que realizam desmontes com explosivos.

2.9.2. Barragens
Segundo Thomé e Passini (2018) o método mais comum de acomodação de
rejeitos da mineração é o espalhamento do mesmo em lagos de decantação, retido em
barragens. Devido ao crescente aumento de produção e consequentemente de resíduos ao
longo dos anos, a dimensão desses tipos de estruturas também segue a mesma linha. A
técnica, de forma geral, passa pela construção de um dique capaz de represar o rejeito
proveniente da usina de beneficiamento e à medida que a polpa é depositada à montante
desse dique, o material sólido que compõem a polpa tem a tendência de se depositar no
fundo do local. Devido à diferença de velocidade de decantação da parte sólida, os grãos
de maior granulometria tendem a permanecer próximos ao ponto em que foram
despejados, favorecendo à formação de “praias”. Por outro lado, os grãos de menor
granulometria tendem a ser levados pelo fluxo d’água para maiores distâncias desse local.

48
É uma prática comum no início da construção das barragens, a criação de um dique inicial,
que é capaz de suportar os primeiros anos de produção, porém, após esse período, são
necessários a construção de alteamentos para aumento do volume de deposição.
Os métodos de alteamentos mais comuns são: montante, jusante e linha de centro.
O método à montante corresponde à construção de diques sobre as próprias praias de
rejeito, alterando o eixo da construção para uma posição à montante do original. É um
método mais simples e barato, por isso sua preferência em muitos casos. Por outro lado,
as desvantagens se referem ao menor nível de segurança, maior capacidade de liquefação
da massa de rejeitos saturada, menor distância entre o talude jusante e a linha freática,
que pode ocasionar a travessia da água pelo talude, enfraquecendo-o.
Thomé e Passini (2018) apud Soares (2010) recomendam as seguintes ações para
evitar danos às estruturas geotécnicas desse tipo: controle do nível de água do reservatório
através do uso de drenos, realizando um dimensionamento dos mesmos e não levando em
consideração apenas a vazão de rejeitos mas também o nível pluviométrico da região;
descarte inicial desse tipo de construção quando já se tem a informação de que a área
sofrerá ações de vibrações relacionadas a ações tectônicas ou antrópicas (explosivos e
grande movimentação de equipamentos, por exemplo), uma vez que tremores são, já de
forma reconhecida, estímulo para processos de liquefação da massa do rejeito; e por fim,
a utilização de canaletas e caixas de passagem, além da cobertura vegetal, para evitar a
erosão de taludes a jusante.
O método à jusante translada o eixo da estrutura na direção inversa à do lago de
decantação. Para essa técnica, o dique necessita possuir uma drenagem interna e o talude
a montante deve ser isolado com argila e material sintético. As vantagens ficam por conta
do maior nível de segurança, menor chance de fendas horizontais proveniente da maior
força de cisalhamento encontrado nesse método de construção e mais alto grau de
resistência às vibrações com origem em desmontes com explosivos e vibrações naturais.
As desvantagens, segundo os autores, são o alto custo, maior quantidade de
material necessário, maior tempo para construção desse tipo de estrutura e a
impossibilidade de utilização de cobertura vegetal e drenagem superficial devido a
colocação de rejeitos na inclinação a jusante.
Por fim, os autores explicam que o método de linha de centro é de mais fácil
construção, com as desvantagens de possuir uma área à montante com chance de
escorregamento, não tolerar a colocação de cobertura vegetal na superfície a jusante e a
drenagem superficial. A Figura 20 exibe os tipos de construção de barragens.

49
Figura 20 - Método linha de centro de alteamento de Barragem (Disponível em: www.uol.com.br)

Taiebat et al (2010) relata que a poro pressão geralmente ocorre em meios


arenosos de pouco a médio densos que estão totalmente saturados e induz a dois
fenômenos: uma liquefação do fluxo que leva a um fluxo das laterais do meio e a uma
mobilidade cíclica que leva a um espalhamento lateral. O fluxo de liquefação ocorre
quando as forças de cisalhamento requeridas para um equilíbrio estático do meio excedem
a força de cisalhamento residual, em oposição à liquefação, que implica em zero tensão
efetiva. Nesse fenômeno um terremoto traz o solo a um ponto de instabilidade, e as
deformações são ditadas pela tensão estática. As falhas associadas ocorrem rapidamente
e sem aviso prévio, gerando grandes deformações.
Jayasinghe et al (2018) realizou um estudo para verificar a diferença de atenuação
das ondas sísmicas, provenientes de desmontes com explosivos, no solo e na rocha, e
através da instalação de acelerômetros nos dois tipos de meios conseguiu verificar que a
atenuação em solos se dá de forma muito mais rápida que em rochas, a não ser em
distâncias muito grandes, quando as ondas de superfície têm uma intensidade muito maior
que as ondas internas ao meio.
Além disso, os autores chegaram à conclusão de que não é o ideal utilizar o
monitoramento de superfície para avaliar a segurança de estruturas subterrâneas, como
por exemplo fundações e oleodutos, sobre os efeitos de vibrações provindas de desmontes
de rocha.

2.10. Norma ABNT-NBR 9653


A norma ABNT NBR 9653 “Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso
de explosivos nas minerações em áreas urbanas” especifica a metodologia para diminuir
as ameaças características às detonações de rochas com uso de explosivos nas minerações
e no setor de construção civil, determinando orientações a um nível conciliável com a

50
tecnologia atual, visando a proteção dos moradores próximos a estes empreendimentos,
no que se refere a danos estruturais e meios sugeridos segundo a resposta humana.
Nieble (2017) revela que a NBR 9653 especifica que a velocidade de vibração
decorre da frequência, iniciando-se em 15 mm/s para as menores frequências até 50 mm/s
para frequências iguais ou maiores que 40 Hz. Com relação ao impacto de ar, o autor
explica que o nível deve ser menor que 134 dBL e, com relação ao ultralançamento, o
mesmo não deve ocorrer além da área de operação do empreendimento.
A norma estabelece que a velocidade de vibração de partícula de pico é o maior
valor instantâneo da velocidade de vibração de uma partícula em um ponto, durante um
determinado espaço de tempo, considerado como sendo o mais alto valor entre os valores
de pico das três componentes de velocidade de vibração de partícula (vertical,
longitudinal e transversal) para o mesmo intervalo de tempo. A Figura 21 mostra em
detalhes os limites de vibrações e respectivas frequências associadas definidas pela
norma.

Figura 21 - Limites de vibrações estabelecidos pela norma ABNT NBR 9653 (ABNT NBR 9653, 2018)

51
3. Metodologia
O presente trabalho realiza um estudo de caso, que tem como objetivo descrever
formas de controle de produtos e danos causados por desmonte de rochas com uso de
explosivos em mineração

Revisão Bibliográfica
METODOLOGIA

Coleta e Tratamento
de Dados

Simulação

Resultados

Figura 22 - Metodologia do trabalho

As seguintes etapas foram seguidas para realização deste trabalho:


• Execução de uma revisão bibliográfica sobre o tema, englobando desde
conceitos de litologia, perfuração de rochas, parâmetros de plano de fogo até
conceitos envolvendo leis de atenuação, simulação de vibrações, uso de
software de simulação e reação de estruturas às ondas vibracionais. Decidiu-
se por englobar todas essas fases uma vez que cada processo do desmonte de
rochas se conecta com outro e uma etapa influencia na próxima.
• Em seguida foram coletados dados teóricos e reais fornecidos pela mineradora
em que será realizado o estudo como geologia do local, parâmetros de
perfuração, parâmetros do plano de fogo, parâmetros dos explosivos e
acessórios, etc.
• A partir dos dados coletados foram realizadas simulações iniciais de um furo
isolado no software I-blast com constantes conservadoras. Os testes foram
então executados em campo, em regiões afastadas das zonas críticas
(barragens) e caminhamentos com sismógrafos foram colocados em direção
às zonas críticas.
• A partir das constantes K e Alfa encontradas pela detonação do furo foram
realizadas simulações com 20 furos, chamado de teste escala produção. A
partir dessas simulações, foram realizados os testes escala produção em
campo, em áreas próximas ao do furo isolado, também com caminhamentos
de sismógrafos em direção às zonas críticas (barragens).
• Os resultados em campo foram comparados com os resultados simulados e as
constantes foram otimizadas ao máximo para, a partir daí, se iniciarem os
desmontes de produção.
• Os desmontes de produção realizados também foram monitorados com
sismógrafos para otimização das constantes K e Alfa.
• Os resultados foram comparados com as simulações e, a depender dos
resultados, as constantes K e Alfa são otimizadas.
A Figura 23 explicita o organograma do processo descrito acima.

Simulação
de Furo
Isolado

Desmonte Teste de
de Furo
Produção Isolado em
em Campo campo

Simulação
Simulação
Desmonte
Escala de
de
Produção
Produção
Teste
Escala de
Produção
em Campo

Figura 23 - Etapas do processo

53
4. Estudo de Caso
4.1. Localização da Mina em Estudo
A mina em estudo está localizada na cidade de Itabirito, no estado de Minas
Gerais. O acesso à mina é realizado pela BR-040, a partir de Belo Horizonte sentido Ouro
Preto, por cerca de 30 Km. Então, já na BR-356, sentido Itabirito, por cerca de 12 Km,
até o posto da Polícia Rodoviária Federal, há um acesso a direita. Esse acesso, por cerca
de 3 Km, leva a portaria da mineradora.
A mina em questão possui duas barragens em nível 1 de alerta, o que significa que
correm risco baixo de ruptura. As duas barragens, aqui denominadas de Barragem I e
Barragem II, construídas pelo método à montante, considerado mais arriscado.

Figura 24 - Localização da Mina em Estudo

4.2. Caracterização Geológica do Local


A mina se encontra na região oeste do Quadrilátero Ferrífero, especificamente na
borda centro leste do Sinclinal Moeda. O distrito do Quadrilátero Ferrífero localiza-se na
porção central do estado de Minas Gerais e ocorre sobre a borda sul do Cráton São
Francisco.
A geologia da mina, pertencente ao complexo, tem extensão de cerca de 3,5 km,
está dividida em três cavas (Norte, Central e Sul). O limite geológico destas cavas é
delimitado por intrusões de rochas metabásicas de direção NW-SE. A formação ferrífera
ocorrente pode ser resumida em itabiritos anfibolíticos, itabiritos (silicosos), hematitas e
itabiritos manganesíferos. Os materiais ocorrem na forma de consistência friável, semi-
compacto (médio) e compacto. Coberturas sedimentares recentes (Terciária) foram
observadas nos logs de sondagens cobrindo em grande parte as rochas da Formação
Gandarela e localmente os filitos da Formação Batatal.

(a) (b)

Figura 25 - (a)Itabirito semi-compacto (b)Itabirito Friável

4.3. Simulações
4.3.1. Etapa de Simulação de um Furo Detonado
A primeira etapa consistiu na realização da detonação de um furo isolado.
Escolheu-se o lugar para realização do teste com base em uma litologia que fosse
compacta de modo a se ter um cenário mais crítico (Itabirito compacto).
Para simulação via distância escalonada foram escolhidos os coeficientes K e Alfa
encontrados em um teste realizado anteriormente, que se encontra ao lado da mina em
estudo, com o intuito de trabalhar com cenários mais representativos e com a finalidade
de preservar as estruturas geotécnicas da área (barragens). Através disso foi possível

55
estabelecer a carga explosiva para o furo. A Figura 26 mostra o modelo de carga utilizado
no teste.

Figura 26 - Modelo de furo com emulsão utilizado na Simulação do I-Blast

Em seguida foi definido a localização de instalação dos sismógrafos e optou-se


pela instalação de 4 sismógrafos em direção a barragem II e 4 sismógrafos em direção a
barragem I, devido à proximidade dessa mina com essas duas barragens. A simulação foi
rodada e os valores encontrados para os pontos de monitoramento se encontram retratados
na Figura 27 e na Figura 28.

Figura 27 - Simulação VPP sentido Barragem I

56
Figura 28 - Simulação VPP sentido Barragem II

As simulações na zona das barragens I e II também foram simulados e foi


constatado que o limite permissível não foi ultrapassado em nenhum dos casos. As figuras
29 e 30 mostram os valores simulados.

Figura 29 - Valor simulado de vibrações para barragem II

57
Figura 30 - Valor simulado de vibrações para barragem I

Através da realização da simulação de vibrações 3D é possível verificar os níveis


VPP em pontos reais do campo e ter uma noção mais apurada dos valores ao longo do
terreno.

Figura 31 - Exemplo de simulação 3D com nuvem de pontos do terreno

58
4.3.2. Etapa de Teste de Campo Furo Detonado
Após realização das simulações e verificação do respeito aos limites de vibrações
pré-estabelecidos passou-se então para o planejamento da execução da detonação do furo
isolado em campo.
Após visita em campo foi constatado os seguintes parâmetros relacionados ao
furo: diâmetro de 8 polegadas, profundidade do furo igual a 14,80 metros, afastamento
de 7,30 metros.
No dia do teste foram instalados sismógrafos nas direções das zonas críticas,
diferentes das localizações simuladas devido à dificuldade de acesso em alguns locais ou
mesmo devido à falta de um local adequado para instalação dos sismógrafos, não
acarretando prejuízo ao teste.

Figura 32 - Sismógrafo instalado na direção da barragem I

59
Figura 33 - Sismógrafo instalado na direção da barragem II

Após carregamento do furo com emulsão, booster de 900 gramas e detonador


eletrônico, a detonação foi executada e os resultados analisados. A Figura 34 mostra o
carregamento do furo com emulsão.

Figura 34 - Carregamento do furo isolado com emulsão

Devido aos desvios operacionais realizados no teste de detonação do furo foi


necessário realizar uma nova simulação com os valores atualizados de carregamento com

60
emulsão, posições dos sismógrafos, etc. A Figura 35 mostra o modelo de furo real
utilizado no teste.

Figura 35 - Modelo de furo aplicado no teste real

As Figuras 36 e 37 mostram a localização atualizada dos sismógrafos relacionadas


às posições reais encontradas em campo devido as melhores condições encontradas para
instalação.

Figura 36 - Sismógrafos instalados em direção a barragem I

61
Figura 37 - Sismógrafos instalados em direção a barragem II

A Tabela 3 apresenta os valores simulados e reais obtidos no teste de detonação


do furo para a mina. Como pode ser observado na tabela o ponto P2VGR apresentou um
valor anômalo proveniente, provavelmente, do local onde o mesmo foi instalado, porém
não acarretando prejuízo ao cálculo das constantes K e Alfa para as direções dos
caminhamentos. Como pode ser observado nas leis de atenuação encontradas, nos valores
de coeficiente de determinação (R²), que indicam o quanto os valores do eixo das abcissas
(distância escalonada) explicam os valores do eixo das ordenadas (VPP) e na diferença
entre o real e o simulado, que com exceção do valor anômalo P2VGR, não ultrapassou
30 %, valor considerado aceitável para esse tipo de simulação numérica. As figuras 38 e
39 revelam as leis de atenuação encontradas para as duas direções estudadas (sentido
barragem I e barragem II)

62
Tabela 3- Valores simulados e reais obtidos do teste do furo isolado

Figura 38 - Lei de Atenuação sentido barragem I

63
Figura 39 - Lei de Atenuação sentido barragem II

4.3.3. Etapa de Simulação Escala Produção


De posse dos resultados do teste, avaliou-se que mesmo no cenário mais crítico
(itabirito compacto) e com a carga explosiva preenchendo a totalidade do furo destinado
a colocação do mesmo, os resultados foram condizentes com os valores de VPP
simulados. Como visto nas imagens anteriores, também foi possível encontrar valores de
K e Alfa representativos das áreas estudadas, o que permitiu definir os parâmetros para o
teste escala produção: carga máxima por espera, profundidade dos furos, diâmetro,
inclinação, sobreperfuração, afastamento, espaçamento, tamanho do tampão, sequência
de iniciação, etc.
A partir disso foram então realizadas as simulações do teste escala produção na
mina com o intuito de verificar as melhores geometrias de malha visando não ultrapassar
o limite permissível de vibrações nos sentidos das estruturas geotécnicas críticas
(barragem I e II). Os parâmetros retratados na Figura 40 foram utilizados para realização
do teste (Malha: 5,00 m x 6,15 m).

64
Figura 40 - Modelo de furo utilizado no teste escala produção

A malha realizada no I-Blast, respectivas temporizações e isolinhas são mostradas


na Figura 41. Os valores de K e Alfa utilizados para simulação do teste escala produção
foram os encontrados pelo teste do furo detonado de forma isolada.

Figura 41 - Malha utilizada na simulação do teste escala produção

Os caminhamentos realizados para o teste escala produção foram os mesmos


realizados para o teste de furo isolado, no sentido das duas estruturas geotécnicas críticas
próximas à mina, barragem I e barragem II. As figuras 42 e 43 retratam os sismógrafos

65
alocados para a simulação e os respectivos valores simulados de VPP para os pontos de
registro do caminhamento e da barragem correspondente.

Figura 42 - Simulação de vibrações sentido barragem II

Figura 43 - Simulação de vibrações sentido barragem I

Após realização da simulação via distância escalonada, realizou-se a simulação


3D das VPP’s atingidas em cada zona, conforme ilustra Figura 44 e Figura 45.

66
Figura 44 - Simulação 3D de vibrações para barragem II

Figura 45 - Simulações 3D de vibrações sentido barragem I

A Tabela 4 mostra os valores de VPP simulados para as barragens I e II, conforme


pode ser constatado, os limites não são ultrapassados na simulação.

67
Tabela 4 - Valores simulados para as barragens em estudo

4.3.4. Etapa de Teste de Campo Escala Produção


A etapa de realização do teste escala produção em campo se iniciou com a
perfuração da bancada de acordo com os parâmetros pré-estabelecidos. A Figura 46
mostra a imagem da praça perfurada.

Figura 46 - Praça perfurada para teste escala produção

No dia programado para execução do teste, os sismógrafos foram instalados nos


respectivos locais programados de formas distintas, a depender do local, através da
fixação com gesso, acoplados ao solo ou em uma cova no solo. A Figura 47 ilustra um
dos sismógrafos utilizados no teste.

68
Figura 47 - Sismógrafo instalado para o teste

Os furos foram carregados com emulsão com uma carga de cerca de 350,00 Kg
por furo, booster de 900 gramas e detonador eletrônico, conforme realizado na simulação.
Em seguida, após evacuação da área num raio de 500 metros, foi realizado a detonação.
A Figura 48 ilustra o exato momento da detonação.

Figura 48 - Momento da detonação do teste escala produção

Após a detonação dos furos, os registros dos sismógrafos foram recolhidos e os


valores analisados. A Tabela 5 mostra os valores medidos e simulados referentes ao teste

69
escala produção. Como pode ser visto, houve uma certa correlação para a maioria dos
valores, o que indica uma boa aderência das constantes encontradas, ainda que os valores
devam sempre ser atualizados à medida que novos registros forem coletados.

Tabela 5 - Valores reais e simulados de VPP para o teste escala produção

4.3.5. Desmontes de Produção


Finalizado as etapas de testes de detonação de furo isolado e escala produção, foi
constatado uma boa correlação entre os valores simulados e reais. A partir disso foi
possível iniciar os desmontes de produção, com um número de furos maior na mina. A
mina possui estações de monitoramento sismográfico que monitoram pontos 24 horas por
dia e esses pontos foram utilizados de início para se obter registros dos desmontes de
produção e ao mesmo tempo monitorar e atualizar as leis de atenuação obtidas. A Figura
49 ilustra os pontos de monitoramento, barragens e localização da mina.

70
Figura 49 - Pontos de monitoramento (estações sismográficas) do complexo

Conforme relatado anteriormente, o primeiro passo na predição e simulação de


valores de velocidade pico partícula foi a realização dos testes de detonação de furo
isolado e teste escala produção. Esses testes são executados em primeira instância pois
são poucos furos (um na primeira parte e vinte na segunda), então são mais conservadores
e tendem a não afetar as estruturas críticas da mina até que se tenham constantes mais
confiáveis e seguras para realização de desmontes maiores. Os pontos PIC-SMA expostos
na Figura 49 se referem às estações sismográficas e foram utilizadas para se atualizar as
constantes K e Alfa e realizar previsões mais confiáveis. Os pontos PIC-SMA-01, 02, 03
e 04 se encontram encima da barragem II, os pontos PIC-SMA-09 e 10 se encontram no
caminhamento próximo e em direção a barragem I. O limite de vibrações para as duas
barragens é de 1 mm/s. Os pontos denominados MP na Figura 49 se referem às cavidades
encontradas na mina, tais estruturas foram sendo consideradas críticas à medida que os
desmontes foram se aproximando dessas áreas. As cavernas encontradas na mina são
classificadas de acordo com seu grau de relevância em baixo, médio e alto grau.
Cavidades que possuem grau baixo e médio de relevância possuem limite de vibrações
de 15 mm/s, já cavidades com alto grau de relevância possuem limite de vibrações de 5
mm/s. Entre o mês abril de 2021 a janeiro de 2022 foram realizados 32 desmontes de
produção. A Figura 50 mostra o gráfico do volume dos desmontes ao longo desse período
na mina.

71
180000,00

160000,00

140000,00
Volume Desmontado (m³)

120000,00

100000,00

80000,00

60000,00

40000,00

20000,00

0,00
MAI JUL AGO AGO AGO SET SET SET OUT OUT OUT NOV NOV DEZ DEZ JAN
Mês do Desmonte

Figura 50 - Volume desmontado

Para cada desmonte foram realizados planos de fogo com a utilização do I-Blast
a serem repassados a empresa mineradora com o objetivo de minimizar as vibrações e ao
mesmo tempo otimizar ao máximo a fragmentação do maciço rochoso. Cada plano de
fogo continha:
• Características dos furos: profundidade, diâmetro, quantidade de carga
explosiva, tampão mínimo, booster, detonador utilizado, tipo de explosivo,
etc;
• Malha utilizada, número de furos simulados, razão de carregamento, carga
máxima por espera, etc;
• Temporizações utilizadas entre linhas e entre furos, sequência de iniciação,
janela de sobreposição, etc;
• Descrição das distâncias entre os desmontes e os pontos de monitoramento,
leis de atenuação e coeficientes K e Alfa utilizados para cada área;
• Simulação de vibrações pico partícula para os pontos de monitoramento da
mina;
• Distribuição de energia do explosivo ao longo da malha;
• Simulação de fragmentação esperada;
• Dentre outras informações.
Após a entrega dos planos de fogo com o as informações já citadas, o desmonte é
executado e as informações colhidas para realização do relatório pós desmonte. O
relatório pós desmonte contêm todas as informações de medições realizadas em campo
referente aos processos que tem como o objetivo final o desmonte de rochas. As
informações contidas nos pós-desmonte são:

72
• Características dos furos reais: profundidade média, diâmetro, quantidade de
carga explosiva, tampão mínimo, booster, detonador utilizado, tipo de
explosivo, etc.;
• Se a carga máxima por espera foi respeitada ou não;
• Malha real encontrada em campo através de mapeamento planialtimétrico com
drone;
• Temporizações reais utilizadas em campo e verificação da janela de
sobreposição;
• Afastamentos e espaçamentos reais através do uso de ortoimagem obtida com
uso de drone e do I-Blast;
• Gráficos de desvios de carregamentos com explosivo, profundidades e malhas
reais utilizadas;
• Comparação entre as simulações e os valores reais de velocidade pico
partícula;
• Análise da curva granulométrica através do DNA-Frag com ortoimagem da
pilha desmontada;
As Figuras 51 e 52 mostram exemplo de algumas das informações contidas nos
relatórios pós desmonte realizados como malha real retirada com mapeamento, registros
dos pontos de monitoramento, etc.

Figura 51 - Exemplo de malha real contida no relatório pós desmonte

73
Figura 52 – Exemplo de registro sísmico obtido e comparação com simulado

4.3.6. Desmontes Específicos e suas Particularidades


Conforme exposto anteriormente, à medida que os desmontes se iniciaram na
mina e foram avançando na direção norte, a presença de cavidades se tornou um fator
crítico no cálculo dos parâmetros do desmonte com o objetivo de limitar as vibrações.
Como forma de diminuir a carga máxima por espera (CME), que é a quantidade de quilos
de explosivo detonados em um mesmo instante de tempo, foi realizado a utilização de
decks com material de pó de perfuração dentro dos furos com o objetivo de separar duas
cargas explosivas e diminuir a CME. Além disso, foi utilizado temporizações que
maximizavam ao máximo a janela de tempo entre cargas detonadas, como forma de
diminuir a interação entre ondas e reduzir as vibrações. Foram realizados diversos
desmontes dessa forma nas proximidades da mina, porém, a título de exemplo serão
mostrados a seguir desmontes em específico que representam as formas de controle de
vibrações, dentre outros controles utilizados.
Foi realizado um plano de fogo com 535 furos na mina, o desmonte se encontrava
a 4,5 km da barragem I (limite VPP = 1,00 mm/s), 3,8 km da barragem II (limite VPP =
1,00 mm/s), 160 metros da cavidade MP-12 (limite VPP = 15,00 mm/s) e a 487 metros
da cavidade MP-04 (limite VPP = 5,00 mm/s). A Figura 53 mostra a imagem da malha
teórica utilizada no plano de fogo.

74
Figura 53 - Malha teórica utilizada no desmonte

De acordo com as distâncias do desmonte às zonas críticas, das leis de atenuação


encontradas e da profundidade dos furos já pré-estabelecidas de acordo com o tamanho
da bancada foi realizado o modelo de furo (Figura 54).

Figura 54 - Modelo de furo utilizado no desmonte

75
Em seguida, foi realizado o cálculo das temporizações com base na janela de
sobreposição, na direção da face livre e na direção de reforço das ondas retirando a
sobreposição das direções críticas (Barragem I, MP-04 e MP-12), o que gerou os tempos
de 23 ms entre furos e 165 ms entre linhas. As Figuras 55 e 56 retratam a sequência de
iniciação e as zonas de reforço de ondas (teórico).

Figura 55 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast

Figura 56 - Reforço de ondas teórico do desmonte gerado no I-Blast

76
Por fim, as simulações foram realizadas com as leis de atenuação encontradas para
as zonas críticas presentes e os valores encontrados ficaram dentro do limite de vibrações
estabelecido acrescido de um fator de segurança aplicado com base em diferenças entre
o real e o simulado. As Figuras 57 e 58 mostram a lei de atenuação utilizada para as
cavidades e os valores simulados para os pontos de monitoramento, respectivamente.

Figura 57 - Lei de atenuação utilizada para cálculo dos coeficientes

Figura 58 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento

77
Após o acompanhamento do carregamento e detonação do desmonte, os dados
foram colhidos e um relatório pós desmonte foi realizado. As Figuras 59 e 60 mostram a
malha real executada em campo e o modelo de furo realizado, onde se pode constatar o
respeito à CME planejada.

Figura 59 - Malha real executada em campo

Figura 60 - Modelo de furo e malha real executada para o desmonte

78
Conforme pode ser observado na Figura 61, a diferença entre o simulado e o real
ficou em torno de 20 %, o que demonstra uma boa aderência da simulação e dos
coeficientes K e Alfa utilizados.

Figura 61 - Registro sismográfico da cavidade

Outro desmonte cuidadoso realizado na mina é detalhado a seguir. O citado


desmonte estava localizado próximo (117 m) a uma estrutura de construção civil (caixa
d’água) que era parte integrante da usina de beneficiamento da mina e a uma distância
razoável das cavidades (1,3 km da cavidade MP-04 e a 731 m da cavidade MP-12)
presentes na região. Através do I-blast foi possível realizar as simulações e determinar
dois tipos de modelo de furo para um mesmo desmonte e através do sistema de
geolocalização do software foi possível determinar as coordenadas em campo onde se
mudava o modelo de carregamento. As Figuras 62 e 63 retratam os modelos de furos
utilizados e a malha teórica definida para o desmonte.

79
Figura 62 - Modelos de furo utilizados no desmonte

Figura 63 - Malha teórica do desmonte

É possível notar na Figura 64 que o reforço de ondas acontece em uma direção


diferente de onde se encontra a estrutura crítica (caixa d’água), reduzindo a ocorrência de
maiores vibrações nessa área e consequentemente a possibilidade de danos. Como não se
tinha uma lei de atenuação específica para a direção da caixa d’água, foi utilizado o K e
Alfa (K: 704,10 e Alfa: -1,40) da área mais próxima que se tinha informação, área essa
que se encontra a cerca de 700 metros do desmonte em questão. O intervalo de confiança
para esses coeficientes foi então elevado para 95 %, o que aumenta o nível de

80
conservadorismo, obtendo-se os valores: K: 854,8 e Alfa: -1,40, conforme pode ser visto
na Figura 65. A Figuras 66 ilustra a leis de atenuação sentido cavidade MP-04.

Figura 64 - Direção do reforço de ondas

Figura 65 - Lei de atenuação utilizada para dimensionar as cargas

81
Figura 66 - Lei de atenuação sentido cavidade

Além das técnicas utilizadas acima, foi realizado uma análise de sobreposição de
ondas onde foi constatado que, considerando a dispersão dos tempos de retardo dos
detonadores eletrônicos como 1 ms, não há possibilidade de detonação de duas cargas
simultâneas e o tempo mínimo de detonação entre duas cargas explosivas é de 4 ms. A
Figura 67 mostra a janela de sobreposição.

Figura 67 - Janela de sobreposição do desmonte

82
As temporizações utilizadas se encontram na Figura 68, conforme relatado
anteriormente, os tempos foram selecionados com base na maximização da janela de
tempo de detonação entre furos.

Figura 68 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast

A simulação foi realizada com as leis de atenuação obtidas para cada direção e os
valores encontrados são apresentados na Figura 69. Conforme pode ser observado, os
valores de VPP não são ultrapassados em nenhuma estrutura.

Figura 69 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento

83
Após entrega do plano de fogo, o desmonte foi executado e os dados colhidos.
Devido às condições climáticas do dia do desmonte não foi possível realizar o
monitoramento da caixa d’água e da cavidade MP-12, no entanto, os pontos de
monitoramento denominados “PIC’s” e da cavidade MP-04 estavam ativos. As Figuras
70, 71 e 72 mostram os registros sísmicos provindos do desmonte realizado e a
comparação entre o simulado e o real.

Figura 70 - Registro sismográfico PIC-SMA-05

Figura 71 - Registro sismográfico PIC-SMA-07

84
Figura 72 - Registro sismográfico cavidade

Foi realizado uma análise da curva granulométrica através da ortoimagem gerada


pelo drone e processada no I-Blast. O P80 (80 % do material da pilha granulométrica é
menor que esse valor) requerido pela usina de beneficiamento da mina é de 610 mm e
segundo a análise da curva realizada gerou uma pilha fragmentada com P80 igual a 600
mm. As Figuras 73 e 74 mostram a análise granulométrica realizada no software.

Figura 73 - Análise granulométrica realizada no I-blast

85
Figura 74 - Curva granulométrica obtida para o desmonte

Um último exemplo de simulação é mostrado a seguir e se refere ao controle de


back break. O desmonte era localizado no limite do pit final da mina. Os modelos de furos
utilizados para controle da quebra para trás estão descritos na Figura 75.

Figura 75 - Modelos de furos utilizados no desmonte

A Figura 76 mostra a localização dos modelos de furo. Os furos da última linha


possuíam 30,00 Kg de explosivo do tipo ANFO, com um deck de ar que ocupa 5,60
metros de comprimento e um tampão final de 3,50 metros. A penúltima linha de furos

86
teve sua carga reduzida para 150,00 Kg de emulsão e um deck de ar que completa o
restante do furo até seu tampão final de 3,50 metros, o qual é realizado com material de
perfuração. A escolha por se utilizar ANFO na última linha se deve pelo fato desse tipo
de explosivo liberar mais gás do que explosivo do tipo emulsão, o que, aliado ao deck de
ar, permite um corte melhor e mais regular na última linha.

Figura 76 - Localização dos furos do desmonte

Além da redução da carga nas últimas linhas, foi proposto a duplicação dos dois
últimos tempos entre linhas, como forma de fornecer mais tempo aos furos das linhas

87
finais para que ficassem menos confinados e consequentemente reduzir a quebra para
trás. A Figura 77 mostra a sequência de saída junto dos tempos utilizados.

Figura 77 - Temporizações utilizadas no desmonte

Com o uso do software I-Blast foi possível simular o back break através da
utilização das constantes do maciço rochoso representativas do local (módulo de Young,
coeficiente de Poisson, velocidade da onda P, densidade da rocha, resistência a
compressão uniaxial e resistência a tração) e das constantes K e Alfa relacionadas a VPP
crítica. A Figura 78 ilustra a simulação de quebra para trás realizado, em vermelho a zona
de finos, em verde, a zona de fraturas induzidas e em azul, a região do maciço estável.

Figura 78 - Simulação de back break realizado para o desmonte

88
Conforme pode ser observado na Figura 79, que mostra a pilha desmontada do
desmonte, os resultados de controle de back break condizem com a simulação realizada.

3,50 m

Figura 79 - Back break ocorrido no desmonte

5. Resultados e Discussão
É possível notar nas Figuras 80 e 81 que no início dos processos de simulação a
lei de atenuação utilizada através dos testes realizados com furo assinatura e escala
produção não possuíam uma boa correlação com os valores reais encontrados. Isso pode
ser explicado pela diferença entre os locais onde foram realizados os testes e onde
começaram a ocorrer os desmontes em maior escala e também, possivelmente, pelo fato
dos desmontes de produção possuírem um maior número de furos sendo detonados em
um curto intervalo de tempo, o que pode contribuir para várias interações entre as
respectivas ondas de vibrações do desmonte, por consequência, aumentando o nível de
vibrações e gerando novos valores de K e Alfa. Além disso, as mesmas figuras também
revelam que a partir do momento que se iniciou o uso dos registros obtidos nos pontos de
monitoramento (PIC’s) para desmontes de maior escala, houve uma melhor correlação
entre os valores simulados e reais.

89
PIC-SMA-05
0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
MAI

AGO

OUT
OUT
OUT
OUT
OUT

DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
JUN

AGO
AGO
AGO
JUL

SET
SET
SET
SET
SET

NOV
NOV
NOV
NOV

JAN
JAN
PPV Simulado PPV Real

Figura 80 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-05

PIC-SMA-07
0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
MAI

AGO

AGO

AGO

SET

SET

OUT

NOV

NOV

NOV

DEZ

DEZ

DEZ

PPV Simulado PPV Real

Figura 81 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-07

Os valores simulados para as cavidades MP-12 e MP-04, por sua vez, obtiveram
uma correlação melhor na maior parte do processo e de forma mais prematura devido à
realização de monitoramentos sismográficos nos caminhamentos entre os desmontes e as
zonas críticas desde o início da realização das detonações nessas regiões, o que permitiu
se obter mais dados sismográficos e de forma mais rápida, enquanto nos desmontes de
produção distantes das cavidades, os registros eram obtidos apenas através das estações
de monitoramento, o que nem sempre ocorria devido às grandes distâncias.

90
Além disso, o uso da lei de atenuação encontrada para a cavidade MP-12 nos
desmontes realizados para a cavidade MP-04 mostrou uma boa correlação desde o início
do processo, uma vez que as duas estruturas se encontravam em regiões próximas, até
que se encontrasse uma lei de atenuação específica para a cavidade MP-04. As Figuras
82 e 83 mostram a diferença de VPP entre o real e simulado para as cavidades citadas ao
longo dos meses.

Cavidade MP-12
16

14

12

10

0
JUN

AGO

AGO

AGO

SET

SET

SET

SET

SET

SET

SET

OUT

OUT

OUT
PPV Simulado PPV Real

Figura 82 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade

Cavidade MP-04
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
OUT

OUT

NOV

NOV

NOV

DEZ

DEZ

DEZ

DEZ

DEZ

JAN

JAN

PPV Simulado PPV Real

Figura 83 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade

91
Conclusões
A metodologia apresentada permitiu realizar desmontes próximos a estruturas
críticas desde que seja aplicado um fator de segurança adequado nas predições.
A realização dos caminhamentos de sismógrafos em direção às estruturas críticas
foi uma solução prática para construção das leis de atenuação, sendo que depois de se
adquirir uma base de dados robusta, foi necessário apenas a instalação de um sismógrafo
nas proximidades da estrutura a cada desmonte para manutenção da lei.
A diminuição das cargas máximas por espera com o uso de decks se mostrou
eficaz no controle e atenuação das vibrações sem prejudicar a fragmentação.
Neste estudo foi possível definir que as predições de valores de vibrações
realizadas com o uso de software específico de simulação permitiram uma boa correlação
entre o simulado e o real em menos tempo e com menos desmontes do que a literatura
recomenda.
O uso do software permitiu realizar análises de leis de atenuação de forma mais
rápida, avaliar diversos cenários em um ambiente digital e visualmente mais
compreensível do que o uso de diversos cálculos feitos de forma manual ou na forma de
planilhas. Além disso, ainda permitiu uma análise completa de todos os parâmetros do
desmonte.
Através do uso do software de simulação foi possível:
• Plotar os furos no ambiente digital e através do uso de GPS RTK, plotar os
furos em campo com uma precisão milimétrica;
• Construir projetos com os pontos de monitoramento, litologia com
parâmetros das rochas, construir furos teóricos (malha, carga por furos,
tampão, acessórios utilizados, sequência de iniciação, etc.) e visualizar isso
de forma 3D com uma nuvem de pontos da área;
• Verificar, em um ambiente digital 3D, através dos desmonte reais realizados:
a malha executada, os locais dos pontos de monitoramento e registros
sismográficos reais, as cargas explosivas utilizadas nos furos, aderência entre
o real e simulado, curva granulométrica real obtida com o desmonte, etc.
• Realizar análises de lei de atenuação de forma ágil e encontrar os coeficientes
K e Alfa mais representativos para a região;
• Controlar efeitos secundários do desmonte: ultralançamento, back break,
vibrações excessivas, etc.

92
Sugestão de trabalhos futuros
Como sugestão de trabalhos futuros são propostos os seguintes tópicos:
• Utilização de inteligência artificial em conjunto com as simulações;
• Uso de realidade virtual para aumentar o nível da simulação e aproximá-la
ainda mais do cenário real;
• Utilização de um sistema mais integrado que possa rodar de forma autônoma
e retroalimentar as informações dentro do próprio sistema;
• Utilização cada vez maior de ferramentas que permitam ligar os dados
obtidos em campo com as informações inseridas na simulação da forma mais
fidedigna possível.
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