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Ouro Preto/MG
2022
Itamar Luiz de Oliveira Júnior
Ouro Preto/MG
2022
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 622.235
FOLHA DE APROVAÇÃO
Membros da banca
Dr. Carlos Enrique Arroyo Ortiz - Orientador(a) Universidade Federal de Ouro Preto
Dr. Juarez Lopes de Morais - SAMARCO Mineração
Dr. Valdir Costa e Silva - VALMON Engenharia
Carlos Enrique Arroyo Ortiz, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da UFOP
em 29/09/2022
Documento assinado eletronicamente por Carlos Enrique Arroyo Ortiz, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
29/09/2022, às 22:17, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.013642/2022-80 SEI nº 0405829
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha vida, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados
ao longo do curso e perseverar na trajetória.
Agradeço à minha família, em especial meu pai Itamar, pela sua disponibilidade de estar
sempre me apoiando, minha mãe Denise, por sempre me incentivar a continuar seguindo
em frente.
Ao professor Carlos Enrique Arroyo Ortiz, que me orientou e apoiou, sempre me tirando
da zona de conforto e também por ter acreditado no meu trabalho.
Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral da Universidade Federal de
Ouro Preto pelo suporte necessário à realização do trabalho.
Aos membros da banca de defesa, senhores Valdir e Juarez.
A todos sou imensamente grato.
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RESUMO
O número de restrições relacionadas a questões ambientais e de segurança é cada vez
maior nos dias de hoje em todos os setores da indústria, e na mineração, não é diferente. Devido
às recentes tragédias ocorridas com o rompimento das barragens de Fundão, em Mariana, e da
Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, houve uma grande preocupação com
o impacto de certas atividades ocorridas dentro das mineradoras. O desmonte de rochas com
explosivos é considerado uma das mais críticas e, ao mesmo tempo, essencial em algumas minas
devido à resistência do maciço rochoso encontrado na região, porém, se realizado de forma
inadequada, pode acarretar em diversos efeitos secundários não desejados: excesso de
vibrações no entorno do desmonte, sobrepressão atmosférica, ruído, ultralançamento de
fragmentos de rocha, presença de matacões na pilha fragmentada, aumento dos custos do
desmonte, etc. Este trabalho visa controlar as vibrações provenientes das detonações em
estruturas críticas (barragens, cavidades, diques, taludes e estruturas de construção civil),
alterando os parâmetros do plano de fogo ao mesmo tempo que melhora a fragmentação, em
uma mina de minério de ferro localizada na região central de Minas Gerais. Para controle das
vibrações serão realizados os monitoramentos dos desmontes com sismógrafos e construídas
as leis de atenuação em direção a cada região crítica. Por fim os resultados serão comparados
com os resultados reais. Como base para esse trabalho será utilizado o software específico de
simulação de desmontes, que permite a simulação em 4D (3D + tempo) das vibrações,
fragmentação, ultralançamento, etc. A comparação entre as vibrações simuladas e reais se
mostrou aderente de acordo com o método de distância escalonada para raiz quadrada, de
acordo com os coeficientes K e Alfa encontrados para cada direção. A separação das cargas
explosivas nos furos com a utilização de decks intermediários realizados com detritos de
perfuração se mostrou uma forma eficaz de redução da carga máxima por espera, o uso de
detonadores eletrônicos também se mostrou eficaz no controle da dispersão dos tempos de
retardo e consequentemente no controle da carga máxima por espera.
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ABSTRACT
The number of restrictions related with environmental and safety issues is
increasing these days in all sectors of industry and mining is no different. Due to the
recent tragedies that occurred with the failure of the Fundão dam, in Mariana, and Dam
I, located at Córrego do Feijão Mine, in Brumadinho there was great concern about the
impact of certain activities occurring within the mining companies. The blasting of rocks
with explosives is considered one of the most critical and, at the same time, essential in
some mines due to the resistance of the rock mass found in the region, however, if carried
out improperly, it can lead to several unwanted side effects: excess vibrations around the
blasting area, air blast, noise, fly rock, presence of boulders in the muck pile, increased
blasting costs, etc. This works aims to control vibrations from detonations in critical
structures (dams, cavities, dikes, slopes and civil construction structures), changing the
parameters of the blast while improving fragmentation, in an iron ore mine located in the
central region of Minas Gerais. To control the vibrations, monitoring of the blasts will be
carried out with seismographs and attenuation laws will be built towards each critical
region. Finally, the results will be compared with the actual results. As a basis for this
work, a specific software will be used, which allows 4D simulation (3D + time) of
vibrations, fragmentation, fly rock, etc. The comparison between the simulated and real
vibrations proved to be adherent according to the scaled distance method for square root,
according to the K and Alpha coefficients found for each direction. The separation of
explosive charges in the holes with the use intermediate decks made with drilling chips
proved to be an effective way of reducing the maximum charge per delay. The use of
electronic detonators was also effective in controlling the scattering effect of initiation
systems and consequently in controlling the maximum charge per delay.
5
Sumário
1. Introdução.......................................................................................................................... 11
1.1. Objetivos ........................................................................................................................ 12
2. Estado da Arte ................................................................................................................... 13
2.1. Rochas ........................................................................................................................ 13
2.2. Perfuração .................................................................................................................. 15
2.3. Explosivos e sistemas de iniciação............................................................................ 16
2.4. Variáveis Controláveis dos Desmontes .................................................................... 19
2.5. Avaliação dos resultados........................................................................................... 23
2.5.1. Fragmentação e empolamento da pilha desmontada ..................................... 23
2.5.2. Geometria da pilha, altura e deslocamento..................................................... 25
2.5.3. Estado do maciço residual e piso do banco ..................................................... 25
2.5.4. Presença de matacões na pilha desmontada ................................................... 26
2.5.5. Back Break ......................................................................................................... 27
2.5.6. Vibrações, projeções e onda aérea produzida no desmonte .......................... 27
2.6. Efeitos secundários das detonações ......................................................................... 27
2.6.1. Poeira e gases de detonação .............................................................................. 28
2.6.2. Impacto de ar ..................................................................................................... 28
2.6.3. Ultralançamento ................................................................................................ 29
2.6.4. Vibrações ............................................................................................................ 30
2.7. Novas Tecnologias ..................................................................................................... 41
2.8. Modelo de Simulação DNA-Blast............................................................................. 42
2.8.1. Métodos de predição de vibrações ................................................................... 44
2.9. Estruturas Geotécnicas ............................................................................................. 46
2.9.1. Cavidades ........................................................................................................... 46
2.9.2. Barragens ........................................................................................................... 48
2.10. Norma ABNT-NBR 9653 .......................................................................................... 50
3. Metodologia ....................................................................................................................... 52
4. Estudo de Caso .................................................................................................................. 54
4.1. Localização da Mina em Estudo .............................................................................. 54
4.2. Caracterização Geológica do Local ......................................................................... 54
4.3. Simulações .................................................................................................................. 55
4.3.1. Etapa de Simulação de um Furo Detonado............................................................. 55
4.3.2. Etapa de Teste de Campo Furo Detonado .............................................................. 59
4.3.3. Etapa de Simulação Escala Produção ..................................................................... 64
6
4.3.4. Etapa de Teste de Campo Escala Produção ............................................................ 68
4.3.5. Desmontes de Produção ............................................................................................ 70
4.3.6. Desmontes Específicos e suas Particularidades ...................................................... 74
5. Resultados e Discussão ...................................................................................................... 89
Conclusões.................................................................................................................................. 92
Sugestão de trabalhos futuros .................................................................................................. 93
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 94
7
Lista de Figuras
Figura 1 – Rochas ígneas (a) metamórfica (b) e sedimentar (c) (ZHANG, 2016) ..................... 14
Figura 2 - Perfuratriz percussiva (ZHANG, 2016) .................................................................... 15
Figura 3 - Perfuratriz rotativa com bit tricônico (a) e drag bit (b) (ZHANG, 2016) .................. 16
Figura 4 - Detonador eletrônico (ENAEX, 2019) ...................................................................... 18
Figura 5 - Dispersão dos tempos de detonadores tubo de choque (ZHANG, 2016) .................. 19
Figura 6 - Parâmetros geométricos de um desmonte (ENAEX, 2019) ...................................... 20
Figura 7 - Principais efeitos secundários das detonações (SILVA, 2019) ................................. 28
Figura 8 - Efeitos das ondas P e S (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com) ................ 31
Figura 9 - Efeitos das ondas Love e Rayleigh (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com)
..................................................................................................................................................... 32
Figura 10 - Exemplo de mapa de iso-velocidade (CANEDO, 2015) ......................................... 37
Figura 11 - Técnica do furo assinatura (BERNARD, 2008) ...................................................... 38
Figura 12 - Frente de onda para um furo detonado (RICHARDS) ............................................ 40
Figura 13 - Frente de ondas coincidentes gerando um reforço de vibração (RICHARDS) ....... 40
Figura 14 - Mecanismo de fratura da rocha (BERNARD, 2008)............................................... 43
Figura 15 - Estrutura do modelo DNA-Blast (BERNARD, 2008)............................................. 44
Figura 16 - Contexto das vibrações em uma caverna (ICMBio, 2016) ...................................... 46
Figura 17 - Ilustração do espalhamento esférico (ICMBio, 2016) ............................................. 47
Figura 18 - Efeito dos atributos do terreno na atenuação de ondas (ICMBio, 2016) ................. 47
Figura 19 - Local de instalação do sismógrafo (ICMBio, 2016)................................................ 48
Figura 20 - Método linha de centro de alteamento de Barragem (Disponível em:
www.uol.com.br) ........................................................................................................................ 50
Figura 21 - Limites de vibrações estabelecidos pela norma ABNT NBR 9653 (ABNT NBR
9653, 2018) ................................................................................................................................. 51
Figura 22 - Metodologia do trabalho ......................................................................................... 52
Figura 23 - Etapas do processo .................................................................................................. 53
Figura 24 - Localização da Mina em Estudo.............................................................................. 54
Figura 25 - (a)Itabirito semi-compacto (b)Itabirito Friável........................................................ 55
Figura 26 - Modelo de furo com emulsão utilizado na Simulação do I-Blast............................ 56
Figura 27 - Simulação VPP sentido Barragem I ........................................................................ 56
Figura 28 - Simulação VPP sentido Barragem II ....................................................................... 57
Figura 29 - Valor simulado de vibrações para barragem II........................................................ 57
Figura 30 - Valor simulado de vibrações para barragem I ......................................................... 58
Figura 31 - Exemplo de simulação 3D com nuvem de pontos do terreno ................................. 58
Figura 32 - Sismógrafo instalado na direção da barragem I....................................................... 59
Figura 33 - Sismógrafo instalado na direção da barragem II ..................................................... 60
Figura 34 - Carregamento do furo isolado com emulsão ........................................................... 60
Figura 35 - Modelo de furo aplicado no teste real ..................................................................... 61
Figura 36 - Sismógrafos instalados em direção a barragem I .................................................... 61
Figura 37 - Sismógrafos instalados em direção a barragem II ................................................... 62
Figura 38 - Lei de Atenuação sentido barragem I ...................................................................... 63
Figura 39 - Lei de Atenuação sentido barragem II..................................................................... 64
Figura 40 - Modelo de furo utilizado no teste escala produção ................................................. 65
Figura 41 - Malha utilizada na simulação do teste escala produção .......................................... 65
Figura 42 - Simulação de vibrações sentido barragem II ........................................................... 66
8
Figura 43 - Simulação de vibrações sentido barragem I ............................................................ 66
Figura 44 - Simulação 3D de vibrações para barragem II .......................................................... 67
Figura 45 - Simulações 3D de vibrações sentido barragem I ..................................................... 67
Figura 46 - Praça perfurada para teste escala produção ............................................................. 68
Figura 47 - Sismógrafo instalado para o teste ............................................................................ 69
Figura 48 - Momento da detonação do teste escala produção .................................................... 69
Figura 49 - Pontos de monitoramento (estações sismográficas) do complexo .......................... 71
Figura 50 - Volume desmontado ................................................................................................ 72
Figura 51 - Exemplo de malha real contida no relatório pós desmonte ..................................... 73
Figura 52 – Exemplo de registro sísmico obtido e comparação com simulado ......................... 74
Figura 53 - Malha teórica utilizada no desmonte ....................................................................... 75
Figura 54 - Modelo de furo utilizado no desmonte .................................................................... 75
Figura 55 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast ................................ 76
Figura 56 - Reforço de ondas teórico do desmonte gerado no I-Blast ....................................... 76
Figura 57 - Lei de atenuação utilizada para cálculo dos coeficientes ........................................ 77
Figura 58 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento .................... 77
Figura 59 - Malha real executada em campo ............................................................................. 78
Figura 60 - Modelo de furo e malha real executada para o desmonte........................................ 78
Figura 61 - Registro sismográfico da cavidade .......................................................................... 79
Figura 62 - Modelos de furo utilizados no desmonte ................................................................. 80
Figura 63 - Malha teórica do desmonte...................................................................................... 80
Figura 64 - Direção do reforço de ondas .................................................................................... 81
Figura 65 - Lei de atenuação utilizada para dimensionar as cargas ........................................... 81
Figura 66 - Lei de atenuação sentido cavidade .......................................................................... 82
Figura 67 - Janela de sobreposição do desmonte ....................................................................... 82
Figura 68 - Sequência de iniciação e temporizações simuladas no I-Blast ................................ 83
Figura 69 - Valores de simulação encontrados para os pontos de monitoramento .................... 83
Figura 70 - Registro sismográfico PIC-SMA-05 ....................................................................... 84
Figura 71 - Registro sismográfico PIC-SMA-07 ....................................................................... 84
Figura 72 - Registro sismográfico cavidade ............................................................................... 85
Figura 73 - Análise granulométrica realizada no I-blast ............................................................ 85
Figura 74 - Curva granulométrica obtida para o desmonte ........................................................ 86
Figura 75 - Modelos de furos utilizados no desmonte ............................................................... 86
Figura 76 - Localização dos furos do desmonte ......................................................................... 87
Figura 77 - Temporizações utilizadas no desmonte ................................................................... 88
Figura 78 - Simulação de back break realizado para o desmonte .............................................. 88
Figura 79 - Back break ocorrido no desmonte ........................................................................... 89
Figura 80 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-05 .................................................. 90
Figura 81 - Valores reais e simulados de VPP - PIC-SMA-07 .................................................. 90
Figura 82 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade ........................................................ 91
Figura 83 - Valores reais e simulados de VPP – Cavidade ........................................................ 91
9
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Caracterização geomecânica (JIMENO apud ASHBY, 1980, adaptado) ................. 26
Tabela 2 - Efeitos da sobrepressão atmosférica (Adaptado de SILVA, 2019) ........................... 29
Tabela 3- Valores simulados e reais obtidos do teste do furo isolado ........................................ 63
Tabela 4 - Valores simulados para as barragens em estudo ....................................................... 68
Tabela 5 - Valores reais e simulados de VPP para o teste escala produção ............................... 70
10
1. Introdução
De acordo com Zhang (2016) a experiência humana com explosivos é de longa
data. O fogo grego foi utilizado pela primeira vez por volta do século VII, e
provavelmente era uma mistura de naftaleno, cal viva e enxofre. A pólvora foi inventada
na China, por volta do século IX. A pólvora negra era muito sensível a água, produzia
muita fumaça negra e não era muito potente, porém, apesar desses defeitos, ela foi
utilizada por muitos séculos antes dos explosivos a base de nitroglicerina serem
descobertos pelo cientista italiano Ascario Sobrero, em 1846.
Em 1862, o inventor suíço Immanuel Nobel desenvolveu o método de fabricação
industrial da nitroglicerina e alguns anos depois, seu filho, Alfred Nobel, inventou o
primeiro detonador, que consistia em uma cápsula de metal carregada com fulminato de
mercúrio, tornando os explosivos mais controláveis.
Segundo Jimeno (1987) a remoção de rochas com uso de explosivos ocorre desde
o século XVII, quando se deu início o uso da pólvora nas minerações. Os eventos que
mais marcaram a indústria de explosivos depois da invenção da dinamite por Alfred
Nobel, em 1867, foi a utilização de ANFO a partir de 1955, o desenvolvimento dos
hidrogéis ao final dos anos 50 e, por fim, a invenção das emulsões, ANFO pesado, etc.
Paralelamente ao avanço dos explosivos, os equipamentos de perfuração também
evoluíram através da aplicação de ar comprimido como fonte de energia, a utilização de
grandes perfuratrizes, dos martelos de fundo de furo nos anos 50 e dos martelos
hidráulicos a partir dos anos 70.
Nieble (2017) reforça que até a década de 1960, o uso da dinamite e da gelatina
especial eram comuns nas detonações. Esses tipos de explosivos eram referenciados com
base em suas porcentagens de energia liberada. Com o advento dos explosivos tipo
ANFO, lamas e emulsões, que tem como base principal o nitrato de amônio, os primeiros
foram substituídos. Essa nova geração de explosivos pode ser lançada diretamente nos
furos através de caminhões e, no caso do ANFO, tem baixo custo, porém não é resistente
à água.
Silva (2019) complementa com informações a respeito da aplicação das
perfurações ao relatar que os trabalhos podem ser divididos em perfurações em banco,
perfuração para abertura de rampas e trincheiras, perfuração para abertura de estradas e
ferrovias, perfuração de túneis, perfuração de chaminés, perfuração de poços, perfuração
de galerias e realces, perfuração para gerar faces livres, etc.
Zhang (2016) explica que a perfuração de rochas é utilizada para o carregamento
de explosivos dentro dos furos, aparafusamento no suporte de rochas, extração de
petróleo, gases xistosos, gases naturais, para retiradas de núcleos, produção de rochas
para construção, para produção de slots com a finalidade de reduzir as vibrações,
drenagem de água dos maciços rochosos, etc.
Ricardo e Catalani (2007) relatam que o desenvolvimento de equipamentos de
perfuração mais robustos e a necessidade de tornar tais máquinas mais fáceis de se
11
deslocar levaram ao acoplamento das perfuratrizes a carretas e, posteriormente, a tratores
de pneus ou de esteiras. Dessa forma, a rapidez de locomoção foi aumentada contribuindo
para a produtividade e remoção do equipamento na hora da detonação.
De acordo com Lusk e Worsey (2011), barulho, poeira e vibrações geradas pelos
desmontes são questionáveis por muitos na sociedade de hoje, e no entanto, desmontes
são geralmente necessários para fragmentar grandes volumes de rocha, especialmente se
o maciço rochoso é um meio resistente. Um indício da importância dos desmontes com
explosivos está no consumo anual desses itens na Austrália e Estados Unidos, 1 bilhão e
3 bilhões de quilogramas, respectivamente.
Lusk e Worsey (2011) ainda complementam que a indústria de desmontes passou
por substanciais mudanças desde a década de 80, com muitas técnicas caindo na
obsolescência enquanto os explosivos mudaram drasticamente.
1.1. Objetivos
Objetivo Geral
Apresentar uma metodologia de boas práticas de controle de vibrações e danos
gerados pelo desmonte de rochas com explosivos.
Objetivos Específicos
• Caracterização sísmica do terreno via coleta de registros sismográficos;
• Construção das leis de atenuação;
• Zoneamento sísmico para cada direção de estruturas críticas da mina;
• Alterar os parâmetros de plano de fogo, principalmente CME, de modo a
enquadrar os limites de vibrações dos desmontes dentro dos valores permitidos;
• Comparar os resultados simulados e reais para verificação da aderência via
simulação.
12
2. Estado da Arte
A seguir é realizado uma revisão bibliográfica sobre o desmonte de rochas com o
uso de explosivos. São detalhados quais os tipos de rocha existentes e suas características.
Os tipos de perfuratrizes e malhas de perfuração. Em seguida, são detalhados os tipos de
explosivos e acessórios disponíveis para uso e as variáveis geométricas passíveis de
mudança no desmonte.
Além disso, são especificados quais as formas de avaliação dos resultados de um
desmonte, os efeitos secundários causados pelas detonações e é detalhado o
funcionamento do software de simulação utilizado no estudo de caso.
Por fim. as estruturas críticas presentes no estudo de caso são discriminadas
quanto aos tipos existentes, principais características e limites permissíveis de vibrações
adotados.
2.1. Rochas
Segundo Zhang (2016) existem três tipos de rochas: ígneas, metamórficas e
sedimentares, que são formadas por processos de magmatismo, metamorfismo e
sedimentação, respectivamente.
Rochas ígneas são formadas através do resfriamento e solidificação do magma.
Se o resfriamento ocorre de forma rápida, os grãos são menores e a composição química
é basicamente a mesma do magma. São exemplos desse tipo de rocha o granito, gabro,
basalto, andesito, riolito, etc. Em geral, rochas ígneas possuem altas resistências, pequena
porosidade e baixa permeabilidade a água.
Rochas metamórficas são o resultado da transformação de um tipo de rocha
existente, em um processo chamado metamorfismo. A rocha anterior à transformação
pode ser do tipo ígnea, sedimentar ou mesmo uma rocha metamórfica. Pode ser formada
pela injeção de magma ao redor de uma rocha sólida, por estar suficientemente profunda
na crosta terrestre sujeita a altas temperaturas e grandes pressões provindas das rochas
acima dela ou por processos tectônicos. São exemplos destes tipos de rochas: gnaisse,
ardósia, mármore, xisto, quartzito, filito, etc. A maioria das rochas desse tipo possuem
boa cristalização, texturas compactas, altas resistências, baixa porosidade e baixa
permeabilidade a água.
Rochas sedimentares são formadas pela sedimentação do material na superfície
da terra. Antes da deposição, os sedimentos são gerados pelas intempéries e erosão na
área fonte e então transportados para o lugar da deposição por água, ventos, movimento
de massa ou geleiras. Alguns exemplos são: calcário, arenito, siltito, conglomerados, etc.
Rochas desse tipo geralmente possuem baixas resistências, alta porosidade, alta
anisotropia em suas propriedades físicas e mecânicas. Na Figura 1 são apresentados
exemplos de rochas sedimentares, metamórficas e ígneas.
Figura 1 – Rochas ígneas (a) metamórfica (b) e sedimentar (c) (ZHANG, 2016)
14
• Empolamento, determinado como o aumento de volume ocorrido quando
se retira uma porção de rocha da sua posição original no solo.
2.2. Perfuração
Zhang (2016) esclarece que a perfuração percussiva, também chamada de
rotopercussiva, é projetada para quebrar a rocha principalmente pelo impacto. Existem
dois tipos de perfuração percussiva: martelo de superfície e martelo de fundo de furo.
Perfuratrizes com martelo de superfície são normalmente utilizadas para furos menores
(menores que 127 mm) em rochas duras, e perfuratrizes com martelo de fundo de furo,
são projetadas para furos mais largos e longos.
Além disso, a diferença essencial entre esses dois tipos de equipamentos está na
transmissão de energia: o martelo de superfície transmite a energia às hastes e quanto
mais longo o furo, maior a perda de energia, enquanto o martelo de fundo de furo possui
a percussão na extremidade das hastes e a perda de energia não ocorre. A Figura 2 exibe
uma perfuratriz percussiva.
15
Figura 3 - Perfuratriz rotativa com bit tricônico (a) e drag bit (b) (ZHANG, 2016)
16
detonam a uma velocidade que varia entre 1500-8000 m/s e produzem altos volumes de
gases a uma temperatura e pressão extremamente altas.
Os primários são caracterizados pela sua sensibilidade a estímulos como um
pequeno choque mecânico, fagulha ou chama, os quais podem levá-lo de um estado de
deflagração para detonação de forma rápida. São exemplos desse tipo de explosivos:
fulminato de mercúrio, azida de chumbo, estifnato de chumbo, tetrazeno e outras
misturas. Esse tipo de explosivo é utilizado como carga iniciadora em detonadores.
Explosivos secundários são capazes de detonar só sobre a ação de uma onda de choque,
normalmente gerada pela detonação de um explosivo primário. São exemplos desse tipo
de explosivo: emulsão, ANFO, lamas, etc.
O ANFO, segundo Jimeno (1987), pode ser misturado com qualquer combustível
para produzir um agente explosivo, porém o uso do óleo diesel se mostrou eficaz graças
a sua baixa volatilidade e consequentemente menor risco de explosão pelo vapor e, além
disso, torna a mistura mais homogênea. Silva (2019) indica que a proporção ideal, citada
pelos americanos Lee e Akre, entre essas duas substâncias fica em 94,5% de nitrato de
amônio e 5,5% de óleo diesel.
O autor ainda relata que as maiores vantagens do ANFO são: ocupar inteiramente
o volume do furo, possuir grande insensibilidade a choques, poucos gases tóxicos
liberados após a detonação e preço baixo. As desvantagens ficam por conta da pouca
resistência à água, baixa densidade e a inevitabilidade de utilização de um iniciador
especial.
Jimeno (1987) explica que a emulsão é um explosivo do tipo “água em óleo”, na
qual a fase aquosa é composta por sais inorgânicos oxidantes dispersas em água e a fase
oleosa por um combustível líquido imiscível com a água, do tipo hidrocarboneto. Dentre
as vantagens da emulsão pode-se citar: excelente resistência à água, densidades entre 1 e
1.45 g/cm³, elevadas velocidades de detonação (4000 a 5000 m/s), grande segurança no
manuseio, etc. As desvantagens englobam alterabilidade em baixas temperaturas, tempo
de armazenamento, condições de preparação estritas, dentre outros.
Segundo Lusk e Worsey (2011), existem três tipos de sistemas de iniciação: o
elétrico, o não elétrico e o eletrônico. Os elétricos são iniciados com uma pequena
corrente elétrica, que entra dentro da cápsula através de um fio, em seguida, aquece um
composto pirotécnico, que por sua vez inicia um elemento de retardo até chegar à
detonação de uma carga primária de PETN.
Os detonadores não elétricos englobam cordéis detonantes, espoleta e estopim e
tubos de choque não elétricos. Detonadores eletrônicos utilizam microchips para fornecer
os retardos ao desmonte, são compostos de fios, cápsula detonante similar à dos
detonadores elétricos e não elétricos, um microchip, capacitor e uma carga primária.
Os detonadores elétricos e não elétricos do tipo tubo de choque são fabricados
com muitas opções de retardos nominais, de forma que a maioria dos fabricantes de
detonadores seguem uma sequência de intervalos de retardo formados pelas séries MS
(milissegundos) e LP (longo período). A série MS consiste basicamente de 20 a 40
retardos de detonadores com uma separação de 25 ms entre dois retardos consecutivos
identificados por seus respectivos números: número zero que possui um retardo de 0 ms
17
ou instantâneo até o número 20, que possui um retardo de 500 ms. O intervalo de retardo
é de aproximadamente 25 ms, mas pode variar em ± 10 ms ou mais. Com os detonadores
da série LP, a maioria dos fabricantes possuem aproximadamente 20 retardos LP com
tempos variáveis entre retardos consecutivos. Geralmente, o tempo de retardo entre
detonadores consecutivos para sistemas LP varia entre 200 e 400 ms, a depender do
fabricante.
Lusk e Worsey (2011) concluem que os detonadores eletrônicos programáveis
fornecem a maior flexibilidade em termos de retardo pois a maioria dos sistemas
permitem um grande número de detonadores a serem programados em um desmonte com
tempos de disparo variando entre 0 ms e 20000 ms, com uma dispersão em relação aos
tempos programados de ± 1 ms ou ± 0,1 %, o que nas duas escalas é excelente. A
desvantagem desse tipo de detonador fica por conta dos altos custos, alta taxa de falhas
nos detonadores e complexidade do uso. Diante disso, é melhor aproveitado em grandes
desmontes com maiores diâmetros de perfuração, uma vez que o custo é diluído. A Figura
4 revela um exemplo de detonador eletrônico.
18
detonadores eletrônicos permite um maior controle da carga máxima por espera e
consequentemente do nível de vibrações esperadas nos pontos críticos.
(Medido na mina)
Tempos nominais de iniciação dos detonadores
Tempos reais de iniciação dos detonadores
Velocidade pico partícula (mm/s)
Tempo (ms)
19
• Cf: comprimento da carga no furo (m);
• Ccf: comprimento da carga de fundo (m);
• Ccc: comprimento da carga de coluna (m);
• F: erro de perfuração ou fator corretivo do desvio de perfuração.
As físico-químicas:
• Tipos de explosivo;
• Massa do explosivo (kg);
• Diâmetro do explosivo (mm);
• Comprimento do explosivo (m);
• Densidade do explosivo (g/cm³) e razão linear de carga (kg/m);
• Razão de carga (g/m³ ou g/t);
• Perfuração específica (m/m³ ou m/t).
E por fim, as variáveis temporais:
• Tempos de retardo;
• Sequência de detonação.
Ricardo e Catalani (2007) realizam algumas observações a respeito das variáveis
geométricas (Figura 6):
Afastamento: Distância entre duas linhas sucessivas de furos ou entre a face livre da
bancada e a primeira linha de furos depois dela. Silva (2019) complementa que um
afastamento muito pequeno pode gerar lançamentos de fragmentos rochosos na face livre
do desmonte e excesso de ruído. Por outro lado, um afastamento muito grande pode gerar
ultralançamento do material do tampão, alto nível de onda aérea, vibrações no terreno,
problemas de fragmentação no maciço rochoso e de “repés” na base da bancada detonada.
20
Espaçamento: Distância entre furos sucessivos da mesma linha. Silva (2019) reforça que
espaçamentos muto pequenos podem gerar excesso de fragmentação entre furos e blocos
maiores à frente da linha de furos, por outro lado, espaçamento maior que o ideal pode
gerar menor fragmentação entre furos e uma frente remanescente muito irregular.
Silva (2014) esclarece que as malhas podem ser do tipo quadrada, retangular ou
estagiadas. As malhas quadradas e retangulares são de fácil perfuração, as estagiadas são
de mais difícil perfuração, porém distribuem o explosivo de forma mais homogênea pelo
maciço rochoso. As malhas triângulo equilátero possuem a relação E/A = 1,15, são
preferíveis para rochas duras e compactas, aumentando a fragmentação do maciço
rochoso. Por fim, as malhas alongadas dispõem de alta relação E/A (acima de 1,75) e são
mais indicadas para rochas friáveis e macias, ficando a desvantagem por conta do curto
afastamento que pode aumentar a chance de lançamento do material rochoso.
Inclinação da face: As vantagens da inclinação da face livre estão na redução da
sobrefuração no pé da bancada, na economia de explosivo, reduzindo-se o consumo por
metro cúbico escavado e na segurança em relação a bancada vertical. As desvantagens
ficam por conta da maior probabilidade de ocorrerem desvios nos furos, no maior cuidado
com o embocamento do furo, diminuindo-se a produtividade e na inclinação correta dos
furos, mesmo com o surgimento de novas tecnologias que auxiliam nesse quesito.
Ricardo e Catalani (2007) ressaltam que é necessário considerar a inclinação das
camadas para que seus efeitos não se oponham ao ângulo de inclinação da face, assim
como uma atenção maior deve ser dada à inclinação dos furos para que uma pequena
diferença na inclinação não resulte em uma convergência dos furos.
Altura da bancada: Bancadas muito altas (superior a 20 metros) devem ser evitadas, a
menos que perfuratrizes com martelo de fundo sejam utilizados.
A altura da bancada deve ser escolhida em função dos equipamentos de perfuração
disponíveis, da necessidade de reafiação da coroa após determinado número de metros
perfurados, comprimento da haste, que deve ser múltiplo da altura da bancada, das
peculiaridades do maciço rochoso e, por fim, do acesso às bancadas.
Profundidade de perfuração: É função da altura da bancada, porém, levando-se em
consideração também a sobrefuração para se evitar “repés”, que são irregularidades no
piso das próximas bancadas.
Carga de fundo: Uma maior quantidade de carga explosiva concentrada é necessária
junto a parte inferior do furo devido a maior dificuldade de movimentar o maciço rochoso
nessa região.
Carga de coluna: A concentração de explosivo nessa região deve ser de 40 % a 50 % em
relação a carga de fundo.
Tampão: É parte superior do furo, que não é carregada com explosivo, podendo ser
preenchida com areia seca, pó de pedra ou argila. De acordo com Silva (2019), o material
do tampão deve ser angular, com tamanho ideal de 0,05 vezes o diâmetro do furo, e
detritos de perfuração devem ser evitados.
21
Jimeno (1987) explica que o grupo de variáveis mais desconhecido por técnicos e
operadores são as sequências de ligação e os tempos de retardo entre as cargas explosivas
de um desmonte, podendo modificar inclusive as variáveis geométricas afastamento e
espaçamento. Para isso, o autor sugere que existe uma relação ótima entre essas duas
variáveis (espaçamento/afastamento = 2,4), pois caso o espaçamento seja menor do que
o recomendado, as fendas originadas entre os furos se interceptam antes do restante
chegar à face livre, gerando um plano de descontinuidade pelo qual os gases escapam
prematuramente. É produzido então um empurre simultâneo na rocha da frente, diminui-
se o número de colisões entre fragmentos e a quebra por cisalhamento só ocorre na parte
inferior da maciço e nas interfaces laterais do desmonte com a rocha remanescente,
prejudicando a fragmentação. Caso não se necessite de uma fragmentação muito fina ou
quando a rocha está intensamente fraturada e o próprio deslocamento do maciço já
fornece a fragmentação desejada, a relação Espaçamento/Afastamento pode ser menor
que 2,4, gerando fragmentos de rocha de 25 % a 30 % maiores do que em desmontes
sequenciais. A posição das descontinuidades influencia na relação
afastamento/espaçamento pois se as mesmas estiverem paralelas à face livre, a relação
pode ser maior sem prejudicar a fragmentação, caso as descontinuidades estejam normais
a face livre, a relação deve ser menor.
Em desmontes onde há uma face livre, cada furo deve possuir ao menos uma face
livre no momento da detonação, a malha deve estar na forma triangular, o ângulo Ɵ entre
os furos de uma linha anterior e os dois furos da linha da frente (que formam o triângulo)
deve estar preferencialmente entre 120° e 140°. Para um deslocamento maior do maciço
rochoso o ângulo Ɵ deve ser o maior possível, o espaçamento efetivo, que é o
espaçamento real dependente da sequência de iniciação, deve ser o menor possível, e, por
fim, deve-se aumentar o número de furos com uma face livre adequada.
O desmonte ótimo tem como objetivos: fragmentação, empolamento e
deslocamento adequado da rocha, controle das projeções e sobre escavações, ao mesmo
tempo que gera um nível mínimo de vibrações e onda aérea.
Os tempos de retardo segundo Jimeno (1987) apud Lang e Favreau devem
permitir os seguintes acontecimentos: Propagação das ondas de compressão e tração dos
furos até a face livre (aproximadamente 0,58 ms/m); Reajuste do campo inicial de tensões,
devido a presença de fendas radiais primárias e o efeito da reflexão da onda de choque na
face livre. O tempo de reajuste pode-se estimar entre 10 e 20 ms depois da iniciação,
dependendo dos tipos de rocha e explosivos; Aceleração da rocha fragmentada por ação
dos gases até uma velocidade que assegure um deslocamento horizontal adequado. O
movimento é mais fácil quanto maior o tempo de retardo e é estimado entre 30 e 50 ms
depois da iniciação.
Jimeno (1987) explica que a interação das ondas de choque primárias não
contribui de maneira significativa para a fragmentação da rocha. Assim, em um desmonte
com uma fila de furos sequenciados, a fragmentação depende basicamente do
desenvolvimento total das fendas geradas ao redor de cada furo antes que o próximo
detone.
Se o equipamento de carga é uma pá carregadeira, o ideal são tempos de retardos
entre filas maiores, possibilitando um maior espalhamento do material e a facilidade do
22
manejo do material, caso o equipamento seja uma escavadeira hidráulica por exemplo,
tempos de retardos menores entre filas deixam a pilha desmontada mais próxima da
posição inicial, facilitando a operação desse tipo de equipamento.
23
O método fotográfico é uma técnica que pode ser aplicada de diferentes formas
como por exemplo, a retirada de fotografias da pilha fragmentada de uma área que
corresponde a 15 % do total, inserindo sobre as fotos uma malha para avaliação dos
tamanhos e contagem dos fragmentos. Um dos erros mais comuns dessa técnica é a
retirada de fotos somente da região superficial da pilha como se essa fosse representativa
da pilha total. Para contornar esse problema o ideal é retirar várias fotos da pilha com
uma escala graduada, à medida que a mesma vai sendo revolvida e diminuída pelos
equipamentos de carregamento, de modo a ser mais representativo do todo. As
desvantagens ficam por conta do tempo necessário a realizar tal análise e da quantificação
dos tamanhos pequenos.
Os métodos fotogramétricos adicionam uma precisão maior que as fotografias
tradicionais. As vantagens estão na possibilidade de um estudo 3D da pilha desmontada,
podendo-se calcular os tamanhos dos fragmentos e o empolamento da pilha. As
desvantagens se referem ao alto custo de investimento em equipamentos e de pessoal
qualificado.
O emprego da fotografia ultrarrápida foi só recentemente aproveitado como forma
de avaliação dos fragmentos e o principal problema enfrentado por essa técnica é a
formação de gases e poeira logo após o desmonte, o que atrapalha a visualização da
formação de fendas e o deslocamento da pilha. De forma qualitativa, pode-se utilizar essa
técnica para verificar os primeiros movimentos da rocha, confinamento e trajetória de
movimento da pilha. E de forma quantitativa essa técnica permite avaliar o tempo de saída
dos acessórios de desmonte, tempo e efetividade do confinamento dos gases, aceleração,
velocidade e direção dos fragmentos de rocha.
A técnica de estudo da produção dos equipamentos de carga é baseada no
rendimento dos equipamentos de carregamento em função inversa com relação a
granulometria e direta com relação ao empolamento do material. A presença de blocos
grandes na pilha, de empolamento e “repés” refletirá diretamente na produção.
A análise do volume de material que requer fragmentação secundária ou que não
passa pelo britador primário se baseia nos fragmentos de rocha que não podem ser
movimentados pelos equipamentos ou que são grandes demais para passar pela abertura
do britador. O volume desse tipo de fragmento deve ser sempre mantido ao mínimo
devido ao alto retrabalho e custo que se tem para diminuir o tamanho desses blocos de
rocha.
Por fim, Silva (2014) revela outros problemas originários pela má fragmentação
em 5 setores:
Carregamento:
• Menor enchimento das caçambas;
• Presença de blocos e lajes;
• Pilha baixa e compacta;
• Aumento nos custos da manutenção;
• Aumento do ciclo dos caminhões, escavadeiras e/ou pá carregadeiras;
• Aumento do desmonte secundário;
24
Transporte:
• Atraso na pilha de deposição;
• Pisos irregulares;
• Ângulos acentuados das vias de acesso
• Aumento nos custos de manutenção;
• Desgaste dos pneus e/ou das correias transportadoras.
Britagem:
• Engaiolamento dos blocos no britador;
• Atraso nas correias;
• Aumento nos custos de manutenção.
Controle do Maciço:
• Instabilidade dos taludes;
• Aumento no tempo de bate choco;
• Sobre escavação do maciço.
Meio ambiente:
• Excessivo pulso de ar;
• Maior ultralançamento;
• Excessiva quantidade de poeira e gases;
• Excessivo nível de vibrações;
• Riscos de danos às instalações, estruturas, equipamentos e operários;
25
caracterização geomecânica, porém, para o autor a melhor forma é segundo o método
proposto por Ashby (1980), conforme Tabela 1.
26
2.5.5. Back Break
Segundo Konya (1991), a quebra além dos limites da escavação é muito comum
em muitos tipos de desmonte. O aumento do backbreak e endbreak podem ser controlados
pela seleção das temporizações corretas. Zhang (2016) complementa que o backbreak
geralmente aumenta com o aumento dos diâmetros dos furos, desde que os mesmos sejam
carregados com a carga completa.
27
Figura 7 - Principais efeitos secundários das detonações (SILVA, 2019)
2.6.2. Impacto de ar
Para Jimeno (1987) a onda aérea é a onda de pressão associada à detonação de
uma carga explosiva, enquanto o ruído é a parte audível e infrassônica desse espectro,
que vai de 20 Hz a 20000 Hz. Segundo o autor apud Wiss e Linehan (1978) as fontes que
geram tal fenômeno são:
• Movimento do terreno provocado pela detonação;
• Escape dos gases pela boca do furo ao projetar-se o tampão;
• Escape dos gases através da formação de fendas na frente do maciço rochoso;
• Deslocamento da frente do banco à medida que o desmonte progride;
• Colisão entre os fragmentos projetados.
Silva (2019) complementa que a sobrepressão atmosférica, outro nome para ruído
ou pressão acústica, contém uma quantidade razoável de energia de baixa frequência, que
pode produzir danos diretos às estruturas, no entanto, são mais comuns as vibrações em
alta frequência, que ocasionam ruídos em janelas e portas, por exemplo.
De acordo com o autor, a direção dos ventos e as trocas rápidas de temperatura
podem afetar os níveis de sobrepressão atmosférica. Coberturas de nuvens podem
ocasionar a reflexão da onda em determinado local e gerar danos às estruturas, além disso,
28
a topografia e a configuração da geologia local podem levar à concentração de ondas em
determinadas regiões. A tabela 2 indica alguns danos causados pelos respectivos níveis
de sobrepressão atmosférica.
Variação da sobrepressão
Efeito
dBL Pascal
Suportável (não causa danos) 114 10
Queda 171-174 7.000-10.000
Ruptura do tímpano 185-194 35.000-100.000
Lesões nos pulmões 200-208 200.000-500.000
Morte 211-217,5 700.000-1.500.000
2.6.3. Ultralançamento
Para Silva (2019), ultralançamento é entendido como qualquer projeção de
pedaços de rocha provenientes de detonações que porventura venham a colocar em risco
a integridade física de pessoas, danos aos equipamentos e a infraestrutura da mina, assim
como residentes e casas ao redor da mina.
Para o autor, as causas desse tipo de efeito são:
• Tampão pequeno;
• Afastamento pequeno ou grande;
• Tempo curto de retardo;
• Material de tampão inadequado;
• Alto nível de confinamento entre furos e/ou entre linhas;
• Diferença entre os tempos nominais e reais de retardos;
29
• Face livre da bancada inadequada (irregular);
• Alta ou baixa energia do explosivo;
• Desvios nos furos da bancada;
• Presença de cavidades ou litologias mais friáveis no interior do maciço rochoso;
• Uso de explosivos bombeáveis em rochas fraturadas.
2.6.4. Vibrações
Silva (2019) relata que a vibração é tida como um reflexo elástico da rocha às
interações promovidas pela onda de tensão com início numa solicitação dinâmica. As
vibrações ocorridas nos terrenos são divididas em três agrupamentos:
• Contínuas: são geradas quando há um grau de vibração de forma relativamente
ininterrupto por um prolongado intervalo de tempo. São exemplos desse tipo de
vibração: máquinas de regime alternativo, bombas ou compressores em
funcionamento regular.
• Transitórias: Ocorre quando o grau de vibração é proveniente de um choque
repentino, para em seguida haver um intervalo de tempo de inatividade. São
exemplos desse tipo de vibração: terrenos sujeitos a compactação dinâmica,
detonação de explosivos na forma de cargas únicas, etc.
• Intermitentes: são geradas quando se realiza uma sequência de episódios de
vibração, cada um com uma curta duração. São exemplos desse tipo de vibração:
uma série de explosivos detonados com um intervalo de tempo entre eles, a
perfuração de rochas através do método da percussão, etc.
Nieble (2017) destaca que as ondas sísmicas percorrem os maciços rochosos e
transmitem a energia por onde passam, além desse tipo de ondam, ainda se encontra ondas
do tipo sonoras, de luz e de rádio. Existem ondas sísmicas geradas de forma natural e
também ocasionadas pelo homem. Quando essas últimas são percebíveis possuem o nome
de vibração e podem ser provocadas pela detonação de explosivos e pela atuação do
equipamento bate-estaca, por exemplo.
Esse tipo de onda é do tipo elástica, o que significa que após a passagem da mesma
por determinado meio, ele volta a posição e dimensões originais. A deformação pode
ocorrer por mudança de volume devido à compressão ou mudança de forma devido ao
cisalhamento.
Silva (2019) complementa ao classificar as ondas sísmicas em dois grupos: ondas
internas ou de corpo e ondas superficiais. O primeiro tipo de onda interna é chamado de
onda primária ou de compressão (Onda P) e se propaga dentro dos materiais, produzindo
em alternância, compressões e rarefações, ocasionando um movimento de partículas na
mesma direção de propagação das ondas. São também denominadas ondas sônicas, são
as mais velozes e criam trocas de volume, porém, sem alteração de forma no material que
estão percorrendo. Viajam na água, por exemplo, a 1.490 m/s e, no ar, a cerca de 340 m/s.
São perceptíveis pelo homem caso estejam numa faixa entre 20 Hz e 20.000 Hz.
O segundo tipo de onda que possui propagação interna ao meio a qual percorre é
a chamada onda transversal ou de cisalhamento (Onda S). Possui um movimento de
partícula perpendicular à direção de propagação da onda. Ao contrário das ondas P, as
30
ondas S exercem troca de forma, porém, não de volume. São menos velozes que as ondas
P, alcançando geralmente três quintos da velocidade das primeiras. A Figura 10 retrata os
efeitos das ondas P e S em estruturas.
A velocidade com que a onda sísmica se propaga nos meios depende diretamente
de suas características como constantes de deformação, coeficientes de Poisson e
densidades. A densidade, no que lhe diz respeito, também é dependente de uma série de
outras características como os minerais que formam a rocha, o grau de cimentação, a
quantidade de poros presentes, temperatura em que a rocha se encontra, pressão, etc.
Segundo Jimeno (1987), as ondas superficiais formadas durante uma detonação
são as ondas Rayleigh-R e as ondas Love-Q. Outros tipos comuns são as ondas Canal e
Stonelly, que não possuem muita utilidade devido à pouca informação que possuem.
As ondas Rayleigh produzem nas partículas um movimento elíptico, com sentido
contrário ao de propagação das ondas. As ondas Love, por sua vez, são mais rápidas que
as Rayleigh e promovem um movimento de partículas transversal ao de propagação da
onda, conforme pode ser visto na Figura 9.
31
Figura 9 - Efeitos das ondas Love e Rayleigh (Disponível em:mybrainsociety.wordpress.com)
Silva (2019) explica que as vibrações induzidas pelos desmontes de rochas podem
ser medidas de três formas diferentes: aceleração, velocidade e deslocamento. A
aceleração registra a variação de velocidade em determinado ponto de monitoramento e
sua unidade é mm/s². A aceleração em si não causa danos, mas acelerações diferentes em
objetos distintos sim, pela geração de estresse dinâmico e tensões.
A velocidade é a medida de quanto um ponto de interesse se movimenta ao longo
do tempo e sua unidade é em mm/s. Da mesma forma que a aceleração, por si só, não
causa danos. Determinados objetos que estejam sobre outros a uma velocidade
considerável, não sofrerão danos, por exemplo.
Por fim, o deslocamento é a distância pela qual um ponto de interesse percorre em
relação a um referencial e sua unidade é expressa em mm. Da mesma forma que as duas
formas anteriores, o deslocamento, em si, não causa danos, o que causa são as diferenças
de deslocamento que provocam deformação.
Silva (2019) define o sismógrafo como o aparelho que registra vibrações no solo,
quer sejam provenientes de ondas sísmicas, quer sejam por ação de equipamentos em
obras de construção civil, ferrovias, rodovias, explosões, etc. O equipamento
sismográfico consiste de um sensor, que pode ser tanto um sismômetro quanto geofones
triortogonais entre si, que conseguem medir o movimento do solo, realizando as medições
das velocidades de vibração nas direções longitudinal, transversal e vertical, e de um
microfone, que realiza a medição da pressão acústica. Além disso, ainda contêm um
sistema que realiza o armazenamento das medidas e de apresentações gráficas.
Segundo Jimeno (1987) a cadeia de registro é composta por diversos elementos
que realizam as seguintes funções:
• Detecção por captadores;
32
• Transmissão dos registros elétricos emitidos pelos captadores através de cabos
condutores;
• Gravação dos registros em um sismógrafo para análise e estudo posterior.
Os captadores constituem o primeiro elemento de registro da cadeia de medida e
devem estar o mais unido possível ao meio em que ocorrerá a vibração de forma a registrar
fielmente as vibrações ocorridas. Essa união entre o captador e o meio pode ser realizado
de diversas formas: simplesmente apoiado sobre o terreno, aparafusado a um cubo de
alumínio ou outro material não férrico, enterrando-o dentro do solo, efetuar furos e
cimenta-los de forma a criar uma base firme, empregar resinas sintéticas, etc.
O lugar de colocação dos captadores é outra questão referente ao monitoramento,
e, relacionado a isso, existem duas tendências: uma é colocá-lo sobre o terreno próximo
às estruturas a se proteger e outra é colocá-lo sobre as estruturas, de forma que a última
captará não o movimento do terreno, mas a resposta da estrutura às vibrações.
Com relação aos captadores de vibrações, os mais utilizados são os geofones ou
velocímetros e os acelerômetros. Os primeiros são os mais populares pelo fato de a
velocidade de partícula ter sido o parâmetro mais utilizado para correlacionar as vibrações
com os danos produzidos nos desmontes. Os transdutores do tipo eletromagnético emitem
uma tensão elétrica proporcional a velocidade de partícula de vibração. O sinal elétrico é
gerado por uma bobina móvel dentro do campo de um ímã fixo. O intervalo de aplicações
está limitado pela frequência de ressonância própria do geofone, que geralmente está entre
5 Hz e 15 Hz até um máximo de 300 Hz, portanto não são recomendáveis para baixas
frequências.
Os acelerômetros se baseiam na diferença de potencial elétrico que gera um cristal
piezoelétrico quando o mesmo é submetido a uma força. Essa força é proporcional a
massa do cristal pela aceleração do movimento vibratório.
Os registradores são os equipamentos comumente chamados de sismógrafos que
conseguem visualizar e amplificar os sinais provenientes dos capacitores. São dos mais
diversos tipos: os que mostram apenas o valor de pico, os que gravam os sinais de forma
analógica, os que possuem uma janela que permite reproduzir os sinais quantas vezes
forem necessários, etc.
Canedo (2013) complementa que os microfones que acompanham os sismógrafos
são utilizados para medir a sobrepressão do ar, que é receptado pelo aparelho de
sismografia na forma de pulsos com valores medidos mais altos que a pressão
atmosférica. As unidades de medidas são dadas em psi ou Pa e posteriormente convertidas
em dB.
Nieble (2017) complementa ao explicar que o sismograma gerado pelo sismógrafo
mostra três linhas de vibração, um para cada uma das três componentes nas direções
longitudinal L, transversal T e vertical V, e por último, os sismogramas ainda contam
com uma quarta linha relativa ao impacto de ar. A amplitude máxima de cada traço é
registrada para determinação do grau máximo de vibração e sua respectiva frequência.
Silva (2019), por sua vez, lista os componentes dos sismógrafos mais modernos
como os seguintes:
33
• Interface USB;
• Impressora;
• GPS;
• Tela sensível ao toque;
• Função de monitoramento remoto;
• Quatro canais para microfone e geofone triaxial;
• Faixa de medição da velocidade de vibração de 0 mm/s a 254 mm/s;
• Faixa de medição de pressão acústica de 80 dBL a 148 dBL (0,2 Pa a 502,4
Pa);
• Memória de mil eventos (dependendo do tempo programado de gravação de
cada evento);
• Modo de disparo (trigger): 0,13 mm/s (velocidade) e 80 dBL (pressão
acústica);
• Modo de gravação: histograma, manual, contínuo, contínuo histograma.
O autor ainda cita os principais recursos dos softwares que acompanham os
equipamentos:
• Programação do aparelho;
• Exibição dos sismogramas e outras informações relevantes dos
monitoramentos efetuados;
• Determinação das frequências dominantes, por meio da transformada de
Fourier (FFT);
• Determinação da lei de atenuação da vibração do terreno e da pressão acústica,
com seus respectivos gráficos;
• Simulações dos prováveis níveis de vibração do terreno e do ar, por meio das
leis de atenuação determinadas;
• Análises individuais das componentes das velocidades e acelerações de
vibração;
• Cálculo dos tempos de dispersão dos elementos de retardo utilizados nos
planos de fogo.
Segundo Jimeno (1987) uma das etapas fundamentais no estudo e controle de
vibrações geradas por desmontes é a determinação das leis que governam a propagação
das mesmas em distintos meios como terra e ar. Uma das primeiras equações de
propagação foi a sugerida por Morris (1950) e obedece a expressão:
√𝑄
A = 𝐾. 𝐷𝑆 (1)
Onde:
A = Amplitude máxima de partícula (mm).
Q = Peso da carga de explosivo (Kg).
DS = Distância do desmonte ao ponto de registro (m).
K = Característica do lugar que varia de 0,57, para rochas duras e competentes, até
3,40 para solos não consolidados.
34
Jimeno (1987) apud Leconte (1967), em uma revisão das técnicas de controle de
vibrações, sugere a substituição da amplitude máxima de partícula da fórmula de Morris
pelo vetor soma da velocidade de partícula, obtendo-se a seguinte fórmula:
√𝑄
V = 𝐾𝑣𝑟 . 𝐷𝑆 (2)
Onde:
V = velocidade de partícula
DS = Distância
Q = Carga máxima por retardo
K, n = Constantes empíricas
Caso se utilizem cargas de explosivos cilíndricas, foi constatado por análise
dimensional que as distâncias devem ser corrigidas dividindo-as pela raiz quadrada da
carga. A seguinte lei de propagação foi então definida da seguinte forma:
𝐷𝑆
V = 𝐾. (𝑄1/2 )− 𝑛 (4)
Segundo o autor, essa expressão tem sido uma das mais empregadas até os dias
de hoje por numerosos investigadores, organismos oficiais, usuários e empresas
fabricantes de explosivos. Já outros autores como Atewel et al (1965), Holmberg e
Persson (1978), Shoop e Daemen (1983) não consideram uma simetria de carga particular
e utilizam a seguinte expressão:
𝑉 = 𝐾. 𝑄 𝑎 . 𝐷𝑆 𝑏 (5)
Onde:
K, a e b: Constantes empíricas estimadas para uma região mediante uma análise de
regressão linear.
Para Silva (2019) as razões que contribuem para a atenuação das vibrações com a
distância são a expansão geométrica das ondas, o gradativo distanciamento das três
componentes (que resulta das divergentes velocidades de propagação), a existência de
descontinuidades nos maciços (provocando reflexões, refrações, difrações e dispersões)
e o atrito interno dinâmico característico das rochas.
35
Na definição dos aspectos locais de atenuação, procura-se determinar uma
conexão entre as amplitudes de vibrações, mensuradas através da velocidade de vibração
de partícula de pico e os aspectos relacionados à fonte de energia sobre as quais se tem
domínio, como a quantidade de quilos de explosivo detonados em um mesmo tempo e a
longitude entre o local do desmonte e o ponto de monitoramento.
O autor explica que a forma geral da equação que conecta, para cargas cilíndricas,
as três variáveis é a equação.
𝑉 = 𝐾. (𝐷𝐸)−𝑚 (6)
Onde:
K e m = constantes específicas de um determinado local onde ocorrem os desmontes de
rocha;
DE = distância escalonada, definida pela equação.
𝐷
𝐷𝐸 = (7)
√𝑄
Onde:
D = distância do local do desmonte ao ponto de monitoramento (m);
Q = carga máxima por espera (Kg)
Dessa forma:
𝐷 −𝑚
𝑉 = 𝐾. ( ) (8)
√𝑄
36
finalidade caracterizar melhor o maciço rochoso em torno da mina para prever com mais
rapidez os limites de carga explosiva que cada região comporta.
Canedo (2013) complementa que Iramina (2002) realizou um trabalho com base
no sistema criado pela Geosonics com a intenção de construir os mapas de iso-velocidade
para uma pedreira no estado de São Paulo, porém com um número reduzido de
sismógrafos (9), colocando-os em quatro direções perpendiculares entre si e
monitorando-se os desmontes. Em seguida as equações de lei de atenuação foram criadas,
a interpolação dos pontos intermediários foi realizada, os valores foram plotados em um
mapa e as isolinhas de velocidade foram traçadas, como pode ser visto na Figura 10.
37
Ponto de previsão
Furo Assinatura
Sobreposição linear
Furos
Síntese do sinal do desmonte
38
Considerando-se que cada carga cria uma assinatura sísmica que é praticamente
idêntica, a expressão se torna:
𝑆𝐺(𝑡) = ∑𝑁
𝑖=1 𝑎𝑖 𝑆(𝑡 − 𝛥𝑡𝑖 ) (11)
Onde:
S(t) = Representa a assinatura sísmica elementar de uma típica carga explosiva
(expresso no domínio do tempo);
𝜟ti = Representa o tempo de retardo de uma carga na sequência.
39
Frente de onda viaja para fora na
velocidade de propagação em todas
as direções
Furo
Ondas chegando
simultaneamente
40
de onda, segundo o autor, é uma boa alternativa na redução das vibrações induzidas no
solo.
Venkatesh e Rao (2008) realizaram um estudo em uma mina de carvão na Índia
sobre a efetividade de trincheiras na redução das vibrações de um desmonte e concluíram
que a construção de trincheiras se mostrou uma alternativa efetiva na diminuição das
vibrações de um desmonte, sendo que o principal parâmetro na efetividade dessa técnica
é a relação entre profundidade da trincheira e profundidade dos furos do desmonte (T/H)
que deve ser igual a 1, gerando por consequência uma redução de 55 % a 60 % nas
vibrações.
Uysal e Cavus (2013) realizaram estudos para verificação da efetividade do pré-
fissuramento ou pré-corte na redução de vibrações provenientes dos desmontes. Para isso
foram realizados 63 testes na mineração Seyitomer, Turquia. O estudo consistiu em
realizar filas de furos com um metro de espaçamento entre os mesmos, diâmetro de 9
polegadas, 24 metros de profundidade, cargas espaçadas dentro dos furos (90 Kg + 90 Kg
+ 70 Kg) e, por fim, a linha de teste foi colocada, em média, a cerca de 400 metros dos
desmontes. Além disso, sismógrafos foram posicionados antes e depois das linhas de
furos dos testes e foi constatado nos registros uma redução em média de 58 % nas
vibrações entre os sismógrafos colocados antes e depois da linha de furos, no entanto, os
autores ressaltam também que houve uma leve redução nas frequências das vibrações, o
que pode acarretar em danos às estruturas uma vez que frequências baixas provocam mais
danos às construções.
Abadi (2005) explica que barreiras de amortecimento são seções do terreno
alteradas artificialmente com o intuito de reduzir o nível de vibrações sísmicas
provenientes da detonação de explosivos.
Abadi (2005) em sua tese de dissertação, relata que a efetividade de barreiras de
amortecimento depende basicamente de parâmetros geométricos: distância entre a
barreira e a carga, largura da barreira e altura da barreira. A largura da barreira, segundo
o autor, deve ser comparável ao comprimento da onda incidente e deverá ser posicionada
dentro da zona de deformação residual provocada pela detonação da carga explosiva.
41
Atualmente existem vários softwares que realizam o gerenciamento, simulação e
avaliação dos desmontes:
• Fragment;
• O-Pit-Blast Design
• I-Blast
• DNAFRAG
• Soft Blast
Esses programas são capazes de armazenar as coordenadas do local do desmonte,
equipe envolvida, foto análises, monitoramentos e filmagens realizadas, produtividade de
equipamentos, características geológicas, explosivos utilizados, acessórios,
temporizações empregadas, etc.
42
1 - Pressão 2 - Ondas 3 - Rachaduras 4 - Fragmentos
43
Figura 15 - Estrutura do modelo DNA-Blast (BERNARD, 2008)
𝐹(𝑓) = (∑𝑵 𝑁
𝑖=1 𝑎𝑖 (cos 2𝜋𝛥𝑖 ))² + (∑𝑖=1 𝑎𝑖 sin 2𝜋𝛥𝑖 ))² (13)
Chamando-se de D0 a distância de referência entre a carga por retardo e o ponto
de monitoramento da assinatura sísmica e aplicando-se a lei clássica (equação (8)) de
decréscimo na amplitude para um furo único, obtêm-se:
44
𝐷0 𝛼 𝐷𝑖 𝛼
𝑉0 = 𝐾. ( ) e 𝑉𝑖 = 𝐾. ( ) (14)(15)
√𝑄 √𝑄
Então, têm-se:
𝐷 √𝑄0 𝛼
𝑉𝑖 = (𝐷 𝑖 )𝛼 . ( ) . 𝑉0 = 𝑎𝑖 . 𝑉0 (16)
0 √𝑄𝑖
Portanto:
𝐷 √𝑄0 𝛼
𝑎𝑖 = ( 𝐷 𝑖 ) 𝛼 . ( ) (17)
0 √𝑄𝑖
Onde:
𝜟i = representa o tempo de retardo da sequência de iniciação;
Di/Vp = representa o tempo de retardo da trajetória da onda sísmica entre a carga e o
ponto de monitoramento.
45
2.9. Estruturas Geotécnicas
2.9.1. Cavidades
De acordo com o ICMBio (2016), no manual “Sismografia Aplicada ao
Patrimônio Espeleológico, Contribuição Técnica à Análise de Estudos Ambientais”
revela que as vibrações sísmicas devem ser verificadas a partir de três pontos de vista:
qual a fonte que está emitindo as vibrações, as formas como as ondas se propagam pelo
meio e a estrutura que está sendo afetada pelas vibrações, no caso, as cavernas. Conforme
a Figura 16.
O manual ICMBio (2016) explica que dois fatores devem ser levados em
consideração com relação à atenuação das ondas pelo terreno. O primeiro é o
espalhamento esférico, se por exemplo, por hipótese, considerar-se o meio homogêneo e
isotrópico, as ondas vibracionais sofreriam atenuação somente pelo efeito do
espalhamento esférico. Esse efeito causa a atenuação natural da amplitude da onda através
da expansão esférica da mesma pelo terreno. A Figura 17 ilustra o efeito do espalhamento.
46
Figura 17 - Ilustração do espalhamento esférico (ICMBio, 2016)
O segundo fator existente são os atributos do próprio terreno, que possui uma
composição não homogênea e anisotrópica, a presença de descontinuidades e a
composição geológica promove grande intervenção no grau de atenuação como é
ilustrado na Figura 18.
47
realizar o monitoramento das vibrações é necessário que os pontos de medição estejam
entre a fonte e a receptora, estando o mais próximo possível da receptora (cavidade). A
Figura 19 ilustra a forma correta e a errada de instalação do ponto de monitoramento.
2.9.2. Barragens
Segundo Thomé e Passini (2018) o método mais comum de acomodação de
rejeitos da mineração é o espalhamento do mesmo em lagos de decantação, retido em
barragens. Devido ao crescente aumento de produção e consequentemente de resíduos ao
longo dos anos, a dimensão desses tipos de estruturas também segue a mesma linha. A
técnica, de forma geral, passa pela construção de um dique capaz de represar o rejeito
proveniente da usina de beneficiamento e à medida que a polpa é depositada à montante
desse dique, o material sólido que compõem a polpa tem a tendência de se depositar no
fundo do local. Devido à diferença de velocidade de decantação da parte sólida, os grãos
de maior granulometria tendem a permanecer próximos ao ponto em que foram
despejados, favorecendo à formação de “praias”. Por outro lado, os grãos de menor
granulometria tendem a ser levados pelo fluxo d’água para maiores distâncias desse local.
48
É uma prática comum no início da construção das barragens, a criação de um dique inicial,
que é capaz de suportar os primeiros anos de produção, porém, após esse período, são
necessários a construção de alteamentos para aumento do volume de deposição.
Os métodos de alteamentos mais comuns são: montante, jusante e linha de centro.
O método à montante corresponde à construção de diques sobre as próprias praias de
rejeito, alterando o eixo da construção para uma posição à montante do original. É um
método mais simples e barato, por isso sua preferência em muitos casos. Por outro lado,
as desvantagens se referem ao menor nível de segurança, maior capacidade de liquefação
da massa de rejeitos saturada, menor distância entre o talude jusante e a linha freática,
que pode ocasionar a travessia da água pelo talude, enfraquecendo-o.
Thomé e Passini (2018) apud Soares (2010) recomendam as seguintes ações para
evitar danos às estruturas geotécnicas desse tipo: controle do nível de água do reservatório
através do uso de drenos, realizando um dimensionamento dos mesmos e não levando em
consideração apenas a vazão de rejeitos mas também o nível pluviométrico da região;
descarte inicial desse tipo de construção quando já se tem a informação de que a área
sofrerá ações de vibrações relacionadas a ações tectônicas ou antrópicas (explosivos e
grande movimentação de equipamentos, por exemplo), uma vez que tremores são, já de
forma reconhecida, estímulo para processos de liquefação da massa do rejeito; e por fim,
a utilização de canaletas e caixas de passagem, além da cobertura vegetal, para evitar a
erosão de taludes a jusante.
O método à jusante translada o eixo da estrutura na direção inversa à do lago de
decantação. Para essa técnica, o dique necessita possuir uma drenagem interna e o talude
a montante deve ser isolado com argila e material sintético. As vantagens ficam por conta
do maior nível de segurança, menor chance de fendas horizontais proveniente da maior
força de cisalhamento encontrado nesse método de construção e mais alto grau de
resistência às vibrações com origem em desmontes com explosivos e vibrações naturais.
As desvantagens, segundo os autores, são o alto custo, maior quantidade de
material necessário, maior tempo para construção desse tipo de estrutura e a
impossibilidade de utilização de cobertura vegetal e drenagem superficial devido a
colocação de rejeitos na inclinação a jusante.
Por fim, os autores explicam que o método de linha de centro é de mais fácil
construção, com as desvantagens de possuir uma área à montante com chance de
escorregamento, não tolerar a colocação de cobertura vegetal na superfície a jusante e a
drenagem superficial. A Figura 20 exibe os tipos de construção de barragens.
49
Figura 20 - Método linha de centro de alteamento de Barragem (Disponível em: www.uol.com.br)
50
tecnologia atual, visando a proteção dos moradores próximos a estes empreendimentos,
no que se refere a danos estruturais e meios sugeridos segundo a resposta humana.
Nieble (2017) revela que a NBR 9653 especifica que a velocidade de vibração
decorre da frequência, iniciando-se em 15 mm/s para as menores frequências até 50 mm/s
para frequências iguais ou maiores que 40 Hz. Com relação ao impacto de ar, o autor
explica que o nível deve ser menor que 134 dBL e, com relação ao ultralançamento, o
mesmo não deve ocorrer além da área de operação do empreendimento.
A norma estabelece que a velocidade de vibração de partícula de pico é o maior
valor instantâneo da velocidade de vibração de uma partícula em um ponto, durante um
determinado espaço de tempo, considerado como sendo o mais alto valor entre os valores
de pico das três componentes de velocidade de vibração de partícula (vertical,
longitudinal e transversal) para o mesmo intervalo de tempo. A Figura 21 mostra em
detalhes os limites de vibrações e respectivas frequências associadas definidas pela
norma.
Figura 21 - Limites de vibrações estabelecidos pela norma ABNT NBR 9653 (ABNT NBR 9653, 2018)
51
3. Metodologia
O presente trabalho realiza um estudo de caso, que tem como objetivo descrever
formas de controle de produtos e danos causados por desmonte de rochas com uso de
explosivos em mineração
Revisão Bibliográfica
METODOLOGIA
Coleta e Tratamento
de Dados
Simulação
Resultados
Simulação
de Furo
Isolado
Desmonte Teste de
de Furo
Produção Isolado em
em Campo campo
Simulação
Simulação
Desmonte
Escala de
de
Produção
Produção
Teste
Escala de
Produção
em Campo
53
4. Estudo de Caso
4.1. Localização da Mina em Estudo
A mina em estudo está localizada na cidade de Itabirito, no estado de Minas
Gerais. O acesso à mina é realizado pela BR-040, a partir de Belo Horizonte sentido Ouro
Preto, por cerca de 30 Km. Então, já na BR-356, sentido Itabirito, por cerca de 12 Km,
até o posto da Polícia Rodoviária Federal, há um acesso a direita. Esse acesso, por cerca
de 3 Km, leva a portaria da mineradora.
A mina em questão possui duas barragens em nível 1 de alerta, o que significa que
correm risco baixo de ruptura. As duas barragens, aqui denominadas de Barragem I e
Barragem II, construídas pelo método à montante, considerado mais arriscado.
(a) (b)
4.3. Simulações
4.3.1. Etapa de Simulação de um Furo Detonado
A primeira etapa consistiu na realização da detonação de um furo isolado.
Escolheu-se o lugar para realização do teste com base em uma litologia que fosse
compacta de modo a se ter um cenário mais crítico (Itabirito compacto).
Para simulação via distância escalonada foram escolhidos os coeficientes K e Alfa
encontrados em um teste realizado anteriormente, que se encontra ao lado da mina em
estudo, com o intuito de trabalhar com cenários mais representativos e com a finalidade
de preservar as estruturas geotécnicas da área (barragens). Através disso foi possível
55
estabelecer a carga explosiva para o furo. A Figura 26 mostra o modelo de carga utilizado
no teste.
56
Figura 28 - Simulação VPP sentido Barragem II
57
Figura 30 - Valor simulado de vibrações para barragem I
58
4.3.2. Etapa de Teste de Campo Furo Detonado
Após realização das simulações e verificação do respeito aos limites de vibrações
pré-estabelecidos passou-se então para o planejamento da execução da detonação do furo
isolado em campo.
Após visita em campo foi constatado os seguintes parâmetros relacionados ao
furo: diâmetro de 8 polegadas, profundidade do furo igual a 14,80 metros, afastamento
de 7,30 metros.
No dia do teste foram instalados sismógrafos nas direções das zonas críticas,
diferentes das localizações simuladas devido à dificuldade de acesso em alguns locais ou
mesmo devido à falta de um local adequado para instalação dos sismógrafos, não
acarretando prejuízo ao teste.
59
Figura 33 - Sismógrafo instalado na direção da barragem II
60
emulsão, posições dos sismógrafos, etc. A Figura 35 mostra o modelo de furo real
utilizado no teste.
61
Figura 37 - Sismógrafos instalados em direção a barragem II
62
Tabela 3- Valores simulados e reais obtidos do teste do furo isolado
63
Figura 39 - Lei de Atenuação sentido barragem II
64
Figura 40 - Modelo de furo utilizado no teste escala produção
65
alocados para a simulação e os respectivos valores simulados de VPP para os pontos de
registro do caminhamento e da barragem correspondente.
66
Figura 44 - Simulação 3D de vibrações para barragem II
67
Tabela 4 - Valores simulados para as barragens em estudo
68
Figura 47 - Sismógrafo instalado para o teste
Os furos foram carregados com emulsão com uma carga de cerca de 350,00 Kg
por furo, booster de 900 gramas e detonador eletrônico, conforme realizado na simulação.
Em seguida, após evacuação da área num raio de 500 metros, foi realizado a detonação.
A Figura 48 ilustra o exato momento da detonação.
69
escala produção. Como pode ser visto, houve uma certa correlação para a maioria dos
valores, o que indica uma boa aderência das constantes encontradas, ainda que os valores
devam sempre ser atualizados à medida que novos registros forem coletados.
70
Figura 49 - Pontos de monitoramento (estações sismográficas) do complexo
71
180000,00
160000,00
140000,00
Volume Desmontado (m³)
120000,00
100000,00
80000,00
60000,00
40000,00
20000,00
0,00
MAI JUL AGO AGO AGO SET SET SET OUT OUT OUT NOV NOV DEZ DEZ JAN
Mês do Desmonte
Para cada desmonte foram realizados planos de fogo com a utilização do I-Blast
a serem repassados a empresa mineradora com o objetivo de minimizar as vibrações e ao
mesmo tempo otimizar ao máximo a fragmentação do maciço rochoso. Cada plano de
fogo continha:
• Características dos furos: profundidade, diâmetro, quantidade de carga
explosiva, tampão mínimo, booster, detonador utilizado, tipo de explosivo,
etc;
• Malha utilizada, número de furos simulados, razão de carregamento, carga
máxima por espera, etc;
• Temporizações utilizadas entre linhas e entre furos, sequência de iniciação,
janela de sobreposição, etc;
• Descrição das distâncias entre os desmontes e os pontos de monitoramento,
leis de atenuação e coeficientes K e Alfa utilizados para cada área;
• Simulação de vibrações pico partícula para os pontos de monitoramento da
mina;
• Distribuição de energia do explosivo ao longo da malha;
• Simulação de fragmentação esperada;
• Dentre outras informações.
Após a entrega dos planos de fogo com o as informações já citadas, o desmonte é
executado e as informações colhidas para realização do relatório pós desmonte. O
relatório pós desmonte contêm todas as informações de medições realizadas em campo
referente aos processos que tem como o objetivo final o desmonte de rochas. As
informações contidas nos pós-desmonte são:
72
• Características dos furos reais: profundidade média, diâmetro, quantidade de
carga explosiva, tampão mínimo, booster, detonador utilizado, tipo de
explosivo, etc.;
• Se a carga máxima por espera foi respeitada ou não;
• Malha real encontrada em campo através de mapeamento planialtimétrico com
drone;
• Temporizações reais utilizadas em campo e verificação da janela de
sobreposição;
• Afastamentos e espaçamentos reais através do uso de ortoimagem obtida com
uso de drone e do I-Blast;
• Gráficos de desvios de carregamentos com explosivo, profundidades e malhas
reais utilizadas;
• Comparação entre as simulações e os valores reais de velocidade pico
partícula;
• Análise da curva granulométrica através do DNA-Frag com ortoimagem da
pilha desmontada;
As Figuras 51 e 52 mostram exemplo de algumas das informações contidas nos
relatórios pós desmonte realizados como malha real retirada com mapeamento, registros
dos pontos de monitoramento, etc.
73
Figura 52 – Exemplo de registro sísmico obtido e comparação com simulado
74
Figura 53 - Malha teórica utilizada no desmonte
75
Em seguida, foi realizado o cálculo das temporizações com base na janela de
sobreposição, na direção da face livre e na direção de reforço das ondas retirando a
sobreposição das direções críticas (Barragem I, MP-04 e MP-12), o que gerou os tempos
de 23 ms entre furos e 165 ms entre linhas. As Figuras 55 e 56 retratam a sequência de
iniciação e as zonas de reforço de ondas (teórico).
76
Por fim, as simulações foram realizadas com as leis de atenuação encontradas para
as zonas críticas presentes e os valores encontrados ficaram dentro do limite de vibrações
estabelecido acrescido de um fator de segurança aplicado com base em diferenças entre
o real e o simulado. As Figuras 57 e 58 mostram a lei de atenuação utilizada para as
cavidades e os valores simulados para os pontos de monitoramento, respectivamente.
77
Após o acompanhamento do carregamento e detonação do desmonte, os dados
foram colhidos e um relatório pós desmonte foi realizado. As Figuras 59 e 60 mostram a
malha real executada em campo e o modelo de furo realizado, onde se pode constatar o
respeito à CME planejada.
78
Conforme pode ser observado na Figura 61, a diferença entre o simulado e o real
ficou em torno de 20 %, o que demonstra uma boa aderência da simulação e dos
coeficientes K e Alfa utilizados.
79
Figura 62 - Modelos de furo utilizados no desmonte
80
conservadorismo, obtendo-se os valores: K: 854,8 e Alfa: -1,40, conforme pode ser visto
na Figura 65. A Figuras 66 ilustra a leis de atenuação sentido cavidade MP-04.
81
Figura 66 - Lei de atenuação sentido cavidade
Além das técnicas utilizadas acima, foi realizado uma análise de sobreposição de
ondas onde foi constatado que, considerando a dispersão dos tempos de retardo dos
detonadores eletrônicos como 1 ms, não há possibilidade de detonação de duas cargas
simultâneas e o tempo mínimo de detonação entre duas cargas explosivas é de 4 ms. A
Figura 67 mostra a janela de sobreposição.
82
As temporizações utilizadas se encontram na Figura 68, conforme relatado
anteriormente, os tempos foram selecionados com base na maximização da janela de
tempo de detonação entre furos.
A simulação foi realizada com as leis de atenuação obtidas para cada direção e os
valores encontrados são apresentados na Figura 69. Conforme pode ser observado, os
valores de VPP não são ultrapassados em nenhuma estrutura.
83
Após entrega do plano de fogo, o desmonte foi executado e os dados colhidos.
Devido às condições climáticas do dia do desmonte não foi possível realizar o
monitoramento da caixa d’água e da cavidade MP-12, no entanto, os pontos de
monitoramento denominados “PIC’s” e da cavidade MP-04 estavam ativos. As Figuras
70, 71 e 72 mostram os registros sísmicos provindos do desmonte realizado e a
comparação entre o simulado e o real.
84
Figura 72 - Registro sismográfico cavidade
85
Figura 74 - Curva granulométrica obtida para o desmonte
86
teve sua carga reduzida para 150,00 Kg de emulsão e um deck de ar que completa o
restante do furo até seu tampão final de 3,50 metros, o qual é realizado com material de
perfuração. A escolha por se utilizar ANFO na última linha se deve pelo fato desse tipo
de explosivo liberar mais gás do que explosivo do tipo emulsão, o que, aliado ao deck de
ar, permite um corte melhor e mais regular na última linha.
Além da redução da carga nas últimas linhas, foi proposto a duplicação dos dois
últimos tempos entre linhas, como forma de fornecer mais tempo aos furos das linhas
87
finais para que ficassem menos confinados e consequentemente reduzir a quebra para
trás. A Figura 77 mostra a sequência de saída junto dos tempos utilizados.
Com o uso do software I-Blast foi possível simular o back break através da
utilização das constantes do maciço rochoso representativas do local (módulo de Young,
coeficiente de Poisson, velocidade da onda P, densidade da rocha, resistência a
compressão uniaxial e resistência a tração) e das constantes K e Alfa relacionadas a VPP
crítica. A Figura 78 ilustra a simulação de quebra para trás realizado, em vermelho a zona
de finos, em verde, a zona de fraturas induzidas e em azul, a região do maciço estável.
88
Conforme pode ser observado na Figura 79, que mostra a pilha desmontada do
desmonte, os resultados de controle de back break condizem com a simulação realizada.
3,50 m
5. Resultados e Discussão
É possível notar nas Figuras 80 e 81 que no início dos processos de simulação a
lei de atenuação utilizada através dos testes realizados com furo assinatura e escala
produção não possuíam uma boa correlação com os valores reais encontrados. Isso pode
ser explicado pela diferença entre os locais onde foram realizados os testes e onde
começaram a ocorrer os desmontes em maior escala e também, possivelmente, pelo fato
dos desmontes de produção possuírem um maior número de furos sendo detonados em
um curto intervalo de tempo, o que pode contribuir para várias interações entre as
respectivas ondas de vibrações do desmonte, por consequência, aumentando o nível de
vibrações e gerando novos valores de K e Alfa. Além disso, as mesmas figuras também
revelam que a partir do momento que se iniciou o uso dos registros obtidos nos pontos de
monitoramento (PIC’s) para desmontes de maior escala, houve uma melhor correlação
entre os valores simulados e reais.
89
PIC-SMA-05
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
MAI
AGO
OUT
OUT
OUT
OUT
OUT
DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
JUN
AGO
AGO
AGO
JUL
SET
SET
SET
SET
SET
NOV
NOV
NOV
NOV
JAN
JAN
PPV Simulado PPV Real
PIC-SMA-07
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
MAI
AGO
AGO
AGO
SET
SET
OUT
NOV
NOV
NOV
DEZ
DEZ
DEZ
Os valores simulados para as cavidades MP-12 e MP-04, por sua vez, obtiveram
uma correlação melhor na maior parte do processo e de forma mais prematura devido à
realização de monitoramentos sismográficos nos caminhamentos entre os desmontes e as
zonas críticas desde o início da realização das detonações nessas regiões, o que permitiu
se obter mais dados sismográficos e de forma mais rápida, enquanto nos desmontes de
produção distantes das cavidades, os registros eram obtidos apenas através das estações
de monitoramento, o que nem sempre ocorria devido às grandes distâncias.
90
Além disso, o uso da lei de atenuação encontrada para a cavidade MP-12 nos
desmontes realizados para a cavidade MP-04 mostrou uma boa correlação desde o início
do processo, uma vez que as duas estruturas se encontravam em regiões próximas, até
que se encontrasse uma lei de atenuação específica para a cavidade MP-04. As Figuras
82 e 83 mostram a diferença de VPP entre o real e simulado para as cavidades citadas ao
longo dos meses.
Cavidade MP-12
16
14
12
10
0
JUN
AGO
AGO
AGO
SET
SET
SET
SET
SET
SET
SET
OUT
OUT
OUT
PPV Simulado PPV Real
Cavidade MP-04
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
OUT
OUT
NOV
NOV
NOV
DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
DEZ
JAN
JAN
91
Conclusões
A metodologia apresentada permitiu realizar desmontes próximos a estruturas
críticas desde que seja aplicado um fator de segurança adequado nas predições.
A realização dos caminhamentos de sismógrafos em direção às estruturas críticas
foi uma solução prática para construção das leis de atenuação, sendo que depois de se
adquirir uma base de dados robusta, foi necessário apenas a instalação de um sismógrafo
nas proximidades da estrutura a cada desmonte para manutenção da lei.
A diminuição das cargas máximas por espera com o uso de decks se mostrou
eficaz no controle e atenuação das vibrações sem prejudicar a fragmentação.
Neste estudo foi possível definir que as predições de valores de vibrações
realizadas com o uso de software específico de simulação permitiram uma boa correlação
entre o simulado e o real em menos tempo e com menos desmontes do que a literatura
recomenda.
O uso do software permitiu realizar análises de leis de atenuação de forma mais
rápida, avaliar diversos cenários em um ambiente digital e visualmente mais
compreensível do que o uso de diversos cálculos feitos de forma manual ou na forma de
planilhas. Além disso, ainda permitiu uma análise completa de todos os parâmetros do
desmonte.
Através do uso do software de simulação foi possível:
• Plotar os furos no ambiente digital e através do uso de GPS RTK, plotar os
furos em campo com uma precisão milimétrica;
• Construir projetos com os pontos de monitoramento, litologia com
parâmetros das rochas, construir furos teóricos (malha, carga por furos,
tampão, acessórios utilizados, sequência de iniciação, etc.) e visualizar isso
de forma 3D com uma nuvem de pontos da área;
• Verificar, em um ambiente digital 3D, através dos desmonte reais realizados:
a malha executada, os locais dos pontos de monitoramento e registros
sismográficos reais, as cargas explosivas utilizadas nos furos, aderência entre
o real e simulado, curva granulométrica real obtida com o desmonte, etc.
• Realizar análises de lei de atenuação de forma ágil e encontrar os coeficientes
K e Alfa mais representativos para a região;
• Controlar efeitos secundários do desmonte: ultralançamento, back break,
vibrações excessivas, etc.
92
Sugestão de trabalhos futuros
Como sugestão de trabalhos futuros são propostos os seguintes tópicos:
• Utilização de inteligência artificial em conjunto com as simulações;
• Uso de realidade virtual para aumentar o nível da simulação e aproximá-la
ainda mais do cenário real;
• Utilização de um sistema mais integrado que possa rodar de forma autônoma
e retroalimentar as informações dentro do próprio sistema;
• Utilização cada vez maior de ferramentas que permitam ligar os dados
obtidos em campo com as informações inseridas na simulação da forma mais
fidedigna possível.
Referências Bibliográficas
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initiation systems and concept of modified charge per delay for prediction of blast
induced ground vibrations. ELSEVIER, 2018, 12 p.
BERNARD, T. A unique Web based blasting simulator that allows the selection of
best initiation sequence based on production objectives. DNA-Blast. 2008, 26 p.
Disponível em: www.dna-blast.com. Acesso em: de dezembro de 2021.
BERNARD, T. A “holistic” approach of blast vibration modeling and prediction.
International Society of Explosives Engineers. 2009, 10 p.
BERNARD, T. GAGNON, G. Blasting 1 Million Tons, 205 Meters from a Town.
International Society of Explosives Engineers. 2014, 14 p.
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