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Aplicando Polirritmia e Metricas Impares
Aplicando Polirritmia e Metricas Impares
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
CARLOS I. N. EZEQUIEL
Salvador, BA
2014
CARLOS ISMAEL NASCIMENTO EZEQUIEL
Salvador, BA
2014
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Música da Universidade Federal da Bahia
1. MEMORIAL ............................................................................................................. 11
2. ESTUDOS EM SAMBA ........................................................................................... 12
2.1 VOCABULÁRIO RÍTMICO PARA DESENVOLVIMENTO DE FRASEADO ..... 12
2.2 OSTINATO RÍTMICO PARA CONTRABAIXO E BATERIA ............................... 12
2.3 COMPOSIÇÕES ......................................................................................................... 13
2.3.1 “Você Me Colcheia” ............................................................................................ 13
2.3.2 “Nove da Manhã” ................................................................................................ 16
2.3.3 “Circular II” ........................................................................................................ 21
3. ESTUDOS EM BAIÃO .............................................................................................. 25
3.1 VOCABULÁRIO RÍTMICO ...................................................................................... 25
3.2 OSTINATO RÍTMICO PARA CONTRABAIXO E BATERIA ............................... 25
3.3 COMPOSIÇÕES ......................................................................................................... 26
3.3.1 “Forró da Sexta-Feira 13” ..................................................................................... 26
3.3.2 “Xaxado da Agulha Enganchada” ........................................................................ 28
3.3.3 “Circular I” ............................................................................................................ 30
4. ATIVIDADES REALIZADAS .................................................................................. 33
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 35
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 36
APÊNDICE – Formulários de registro de Práticas Profissionais Orientadas
............................................................................................................................................. 39
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1. MEMORIAL
Com uma freqüência cada vez maior, o músico popular brasileiro se depara com situações que
Tendo isto em mente, idealizei este projeto com a intenção de estudar diferentes
instrumental brasileira.
Meu principal desafio consistiu em adaptar a síncope e o vocabulário dos ritmos Samba e
Baião (em algumas de suas vertentes) para métricas ímpares. A identificação de modelos
standards) da música popular brasileira também foi fundamental para a criação de novos
Assim, apresento a seguir uma série de seis composições (precedidas por comentários
professores de música popular para estudos sobre uma base rítmica de Samba e Baião em
2. ESTUDOS EM SAMBA
Segundo Sergio Gomes (2008, pg.22), as células rítmicas mais representativas do Samba são:
A fim de destacar a antecipação de semicolcheia do 1o. tempo, uma síncope tão frequente na
2.3. Composições
Esta composição foi escrita tendo como referência o seguinte quadro de células rítmicas, a
Partido Alto (Ex. 10 no quadro acima), enquanto na parte B o ostinato tradicional de Samba
a métrica 9/8 (aqui em subdivisão 2+2+2+3). Também merece destaque o uso de modulação
A seguir vemos o quadro de frases de Samba adaptadas ao 9/8. A frase no. 4 aparece no
groove de bateria e mão esquerda do piano a partir do compasso 6, e a frase no. 10 (Partido
Esta composição foi criada tendo em mente o conceito africano de polirritmia circular, em que
o tempo forte pode ser sentido em pontos diferentes da timeline1. A introdução explora
claramente este efeito ao apresentar um instrumento por vez: o piano, partindo da segunda
partindo da segunda semicolcheia, mas sugerindo uma subdivisão regular 3+3+3; e por fim a
bateria, marcando o tempo forte como definido na partitura, com subdivisão igual à do piano
as seguintes frases apenas como referência inicial para o estudo direcionado à performance
desta composição:
1
Ver A. M. Jones, em seu Studies in African Music, ou qualquer outro musicólogo que se
dedicou ao estudo das culturas musicais da África Ocidental (West Africa).
22
Por fim, seguindo o padrão estabelecido anteriormente, temos como ostinato para contrabaixo
e bateria:
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25
3. ESTUDOS EM BAIÃO
3.1.Vocabulário rítmico
Ainda segundo Sergio Gomes (2008, pg.53), temos as seguintes células rítmicas tradicionais
do Baião:
Apesar do Baião ser tradicionalmente escrito em 2/4, o que subentende uma pulsação em dois
tempos, parti do princípio de que este ritmo pode ser ouvido como uma pulsação em três
ostinato para contrabaixo e bateria (bumbo) seria melhor descrito através da notação abaixo:
26
3.3. Composições
temos:
Obtive um Baião na métrica 13/16 através da manipulação de sua célula rítmica convencional
de cada segunda célula. A frase resultante serve como referência para a criação de linhas de
contrabaixo e bateria:
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O fraseado rítmico do Baião na métrica 19/16 pode ser adaptado da seguinte forma:
Assim como na composição anterior, a métrica 19/16 foi elaborada a partir da manipulação da
célula rítmica convencional do Baião. Neste caso, a cada grupo de duas células foi adicionada
uma colcheia pontuada. Como de praxe na interpretação deste ritmo por uma formação
instrumental moderna, a célula rítmica deve ser utilizada como modelo para a criação de
Para escrever esta composição, parti da mesma ideia de polirritmia circular mencionada na
peça Circular II (ver pág. 17), compreendendo a célula rítmica do Baião tendo cada batida
Escrevi a partitura seguindo a fórmula de compasso tradicional em 2/4, mas destacando com
barras pontilhadas onde a sensação de tempo forte muda de lugar. Embora todos os
instrumentos toquem juntos os novos tempos fortes, a intenção aqui é que o ouvinte possa
sensação polirrítmica de dois (ou mesmo três) tempos fortes simultâneos. Esta possibilidade
também é sugerida aos músicos executantes, para aplicação durante os solos improvisados.
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4. ATIVIDADES REALIZADAS
O período de atividades mais extenso ocorreu em São Paulo, onde lecionei duas turmas da
disciplina Inovações Rítmicas na Faculdade de Música Souza Lima durante todo o ano de
métricas ímpares – a maioria delas presentes nas composições apresentadas neste memorial.
Em julho de 2013, por ocasião de uma turnê com o Walbum/Maintz Brazilian Quintet no
grupo experimentos práticos dos conceitos que compõem a minha pesquisa. Os demais
integrantes (dois brasileiros e dois dinamarqueses) são músicos profissionais de vasta carreira
Entre outubro e dezembro de 2013, ministrei em Salvador um curso de quatro aulas onde os
mas com nenhum contato prévio com polirritmia. Foi especialmente interessante perceber
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métricas ímpares – não apenas ligados à adaptação de grooves e fraseados, mas também à
que cheguei até aquele momento. Também executei frases de samba em subdivisões rítmicas
Em outubro de 2013, realizei dois workshops como professor convidado na Seoul Jazz
Academy (Coreia do Sul) – uma situação especial, por poder experimentar os conceitos da
minha pesquisa com 120 músicos de um país de cultura musical bastante diferente da
brasileira. Trabalhei diversas atividades práticas, como a audição de gravações em que todos
de cada estilo era assimilado, e com que grau de dificuldade a adaptação das frases para
métricas ímpares ocorria. Esta experiência foi de vital importância para que eu chegasse à
apresentação dos conceitos possa ser compreendida por um público o mais amplo possível.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o objetivo final da minha proposta de mestrado tenha sido aplicar musicalmente o
minha banca de defesa, é evidente que há um amplo terreno a ser explorado com relação a
Apesar do meu trio com os músicos Guillaume Duvigneau e Gustavo Bugni ter tido ensaios
Gismonti, Moacir Santos, Baden Powell e tantos outros, bem como a análise do material de
artistas e grupos mais recentes como Fernando Corrêa, Trio Corrente, Nenê, Hamilton de
Holanda, Trio Curupira, Sizão Machado e Proveta, apenas para citar alguns.
músicos métodos de estudo que contemplem de forma equilibrada a prática musical de ritmos
REFERÊNCIAS
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CD. Faixa 7.
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1975). Dissertação de Mestrado. Campinas: UNICAMP, 2013.
GISMONTI, Egberto. Maracatu. Intérprete: Lupa Santiago & Carlos Ezequiel Sexteto. In:
LUPA SANTIAGO & CARLOS EZEQUIEL. Images, São Paulo: Mix House/Ouver
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GOMES, Sergio. Novos Caminhos da Bateria Brasileira, São Paulo: Vitale, 2008.
GOMES, Sergio. Frevo Pé Trocado. Intérprete: Sergio Gomes. In: SERGIO GOMES.
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HARTIGAN, Royal. West African Rhythms for Drumset, Van Nuys: Alfred Publishing Co.
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JOBIM, Antonio C. Surfboard. Intérprete: Antonio Carlos Jobim. In. ANTONIO CARLOS
JOBIM. Antonio Brasileiro, Columbia Records, 1994. 1 CD. Faixa 5.
JOBIM, Antonio C.; MORAES, Vinicius. Garota de Ipanema. Intérprete: Trio Corrente. In:
FABIO TORRES, PAULO PAULLELI, EDU RIBEIRO. Corrente. São Paulo: Selo
Maritaca, 2005. 1 CD. Faixa 2.
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LIMA, Realcino (Nenê). A Bateria Brasileira no Século XXI, São Paulo, 2008.
LIMA, Realcino (Nenê). Correndo na Frente. Intérprete: Nenê Trio. In: NENÊ TRIO.
Sudeste, São Paulo, 2007. 1 CD. Faixa 7.
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OLIVEIRA PINTO, Tiago de. As Cores do Som: Estruturas Sonoras e Concepção Estética
na Música Afro-Brasileira. In: África: Revista do Centro de Estudos Africanos, São Paulo:
USP, 1999.
PASCOAL, Hermeto. Pintando o Sete. Intérprete: Hermeto Pascoal e Grupo. In: HERMETO
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Faixa 1.
SANTOS, Moacir; TELLES, Mário. Coisa no. 10. Intérprete: Moacir Santos. In: MOACIR
SANTOS. Coisas, Forma, 1965. 1 CD. Remasterizado em digital. Faixa 2.
SANTOS, Moacir. Nanã. Intérprete: Edison Machado. In: EDISON MACHADO. Edison
Machado é Samba Novo, CBS/Sony, 1964. 1 CD. Remasterizado em digital. Faixa 1.
TOUSSAINT, Godfried. The Geometry of Musical Rhythm: What Makes a “Good” Rhythm
Good?, Boca Raton: CRC Press, 2013.
URIBE, Ed. Afro-Cuban Percussion & Drum Set, Miami: Warner Bros., 1996.
VICENTE, Alexandre Luís. Moacir Santos, Seus Ritmos e Modos: "Coisas" do Ouro
Negro. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: UDESC, 2012.