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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª CÂMARA CRIMINAL

Apelação Criminal n° 0006169-75.2018.8.16.0058


2ª Vara Criminal de Campo Mourão
Apelante(s): MAYLON CRISTIAN TEIXEIRA
Apelado(s): Ministério Público do Estado do Paraná
Relator: Desembargador Mário Helton Jorge

APELAÇÃO CRIME. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO DELITO


PREVISTO NO ART. 330 DO CP. RECURSO DO RÉU. PEDIDO DE
ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA PREJUDICADO,
EM RAZÃO DO RECONHECIMENTO, DE OFÍCIO, DA PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA. PENA EM CONCRETO
FIXADA EM 15 DIAS DE DETENÇÃO E 10 DIAS-MULTA. APLICÁVEL À
HIPÓTESE O PRAZO PRESCRICIONAL DE 03 ANOS (ART. 109, VI, DO
CP). ACUSADO MENOR DE 21 ANOS NA EPÓCA DOS FATOS.
REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PELA METADE (ART. 115
DO CP). LAPSO TEMPORAL ENTRE A DATA DO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA E DA PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA SUPERIOR A 01 ANO
E 06 MESES. PRESCRIÇÃO NA MODALIDADE RETROATIVA
RECONHECIDA. RECURSO PREJUDICADO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recurso de Apelação Crime


nº 0006169-75.2018.8.16.0058, da 2ª Vara Criminal de Campo Mourão, em que é apelante
MAYLON CRISTIAN TEIXEIRA e apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.

I - EXPOSIÇÃO DOS FATOS

Trata-se de apelação criminal interposta contra a sentença (mov. 240.1)


que julgou parcialmente procedente a pretensão punitiva para absolver o acusado dos crimes
previstos no art. 309 da Lei 9.503/97 e no art. 16 da Lei 10.826/03 e condená-lo nas sanções
do art. 330 do CP, fixando-lhe pena de 15 dias de detenção, em regime aberto, e 10 dias-multa.
A pena privativa de liberdade foi substituída por uma restritiva de direitos, na modalidade de
prestação de serviços à comunidade.

Consta da denúncia (mov. 38.2):

“FATO 01

Em data de 28 de junho de 2018, por volta das 20h00min, na

Avenida Jorge Walter, nas proximidades do numeral 1.303, nesta cidade e


Comarca de Campo Mourão/PR, os denunciados KARLOS EDUARDO
MACIEL LOURENÇO e MAYLON CRISTIAN TEIXEIRA, cada um aderindo
subjetivamente à conduta ilícita do outro, de forma livre, conscientes da
ilicitude e reprovabilidade de suas condutas, transportavam arma de fogo
de uso restrito, consistente em 01 (uma) pistola modelo G-Cherokee,
calibre nominal 9 mm, capacidade de 19 (dezenove) tiros, municiada com
08 (oito) munições intactas (auto de exibição e apreensão de mov. 1.6),
sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar,
estando com o funcionamento normal de seus mecanismos e eficaz para a
realização de disparos – conforme auto de exame provisório de eficiência e
prestabilidade de arma de fogo movimento 1.8.

Consta do incluso caderno investigatório que policiais militares estavam de


serviço, quando foram informados pelo rádio da Central de Operações, que
02 (dois) indivíduos, em uma motocicleta CB 300, cor vermelha, teriam
tentado praticar um assalto na região central de Campo Mourão/PR. A
equipe recebeu a informação de que os indivíduos estavam rondando os
postos de combustíveis, com o provável intuito de realizar assaltos, motivo
pelo qual os policiais iniciaram diligências a fim de localizar a referida
motocicleta e seus ocupantes.

Enquanto a equipe diligenciava em busca dos indivíduos, um policial militar


que se encontrava de folga (Diego Osvaldo Hoose Nunes), abastecia seu
veículo no Posto de Combustível FLEX, nas proximidades da
Concessionária FORD, quando percebeu uma motocicleta CB 300, cor
vermelha, com as mesmas características da anteriormente citada, a qual
passou 03 (três) vezes pelo local, sendo que os ocupantes ficaram olhando
para o interior do estabelecimento, oportunidade que o referido policial
reconheceu o condutor do veículo como sendo o denunciado MAYLON
CRISTIAN TEIXEIRA, pois estava com o capacete aberto e se tratava de
indivíduo conhecido do meio policial pela prática de roubo.

Diante disso, o policial checou a placa da motocicleta, constatando que se


tratava da placa ASV-7169, emplacada em

Cianorte/PR e, posteriormente, repassou as informações para os policiais


da ROTAM, que foram até o local.

Em diligências nas proximidades do mencionado posto de combustíveis,


cerca de duas quadras de distância, os policiais avistaram a motocicleta
com as características repassadas, sendo que ao dar sinal de abordagem,
os indivíduos se evadiram do local.

Os policiais efetuaram diversas tentativas de abordagem, porém, sem êxito,


sendo constatado que no cruzamento da Avenida Jorge Walter com a Rua
Brasil, os denunciados KARLOS EDUARDO MACIEL LOURENÇO e
MAYLON CRISTIAN TEIXEIRA dispensaram um objeto e continuaram a
fuga e, uma quadra depois, a equipe logrou êxito em alcançá-los, ocasião
que procedeu-se a identificação dos denunciados e foi efetuada a prisão
em flagrante.

Posteriormente, em diligências para localizar o objeto dispensado pelos


denunciados, os policiais encontraram a pistola GCherokee, municiada e
alimentada, além de uma balaclava, cor preta, instrumento comumente
utilizado para cobrir o rosto em situações de cometimento de delitos de
roubo.

FATO 02

Na mesma data e horário descritos no tópico anterior, o denunciado


MAYLON CRISTIAN TEIXEIRA, de forma livre, consciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, desobedeceu à ordem legal de abordagem
policial, sendo que, ao receber os sinais sonoros e luminosos da equipe
policial, empreendeu fuga do local na motocicleta por ele conduzida.

FATO 03

Nas mesmas condições de data, horário e local acima descritos,


constatou-se que o denunciado MAYLON CRISTIAN

TEIXEIRA, de forma livre e consciente da ilicitude e reprovabilidade de sua


conduta, conduzia a motocicleta HONDA/CB 300R, placas ASV- 7169, cor
vermelha, sem a devida permissão, uma vez que seu documento indicava
sua habilitação apenas na categoria B (automóveis - conforme cópia da
Carteira Nacional de Habilitação de movimento 1.12), gerando, assim,
perigo de dano. ”

A denúncia foi recebida em 16/07/2018 (mov. 49.1). Não houve suspensão


do processo.

O acusado foi intimado da sentença (mov. 253.1).

Em suas razões recursais (mov. 252.1), sustentou que não restou


demonstrado que teve conhecimento da primeira ordem de parada, considerando que o “giro
flex” e a sirene somente foram ligados durante a suposta perseguição. Disse que, após
perceber o sinal sonoro e visual, imediatamente o veículo. Aduziu que, diante da dúvida, deve
ser absolvido, com base no princípio do “in dubio pro reu”. Pediu o provimento do recurso, a fim
de absolve-lo pela prática do delito previsto no art. 330 do CP, nos termos do art. 386, VII, do
CPP e, consequentemente, da pena pecuniária e das custas.

O Ministério Público, em contrarrazões (mov. 286.1), alegou que os


policiais militares foram coerentes e harmônicos no sentido de que o acusado desobedeceu à
ordem legal. Disse que “é totalmente incogitável a negativa do recorrente Maylon quanto à
fuga no momento dos fatos, isso porque busca afastar sua responsabilidade criminal do delito
em questão”. Pediu o desprovimento do recurso.

A d. Procuradoria Geral de Justiça se manifestou pelo reconhecimento da


extinção da punibilidade, em razão da ocorrência da prescrição retroativa da pretensão punitiva
(mov. 13.1 – TJ).

Relatei, em síntese.

II - O VOTO E SEUS FUNDAMENTOS

Não há óbice ao conhecimento do recurso, eis que preenchidos os


pressupostos de admissibilidade.

Da análise dos autos, verifica-se que o acusado foi absolvido pela prática
dos delitos previstos no art. 309 da Lei 9.503/97 e no art. 16 da Lei 10.826/03, e foi condenado
pela prática do delito previsto no art. 330 do CP, sendo-lhe fixada pena de 15 dias de detenção
e 10 dias-multa.

Conforme pontuado pela d. Procuradoria Geral de Justiça, necessário, no


caso, o reconhecer a extinção da punibilidade em razão da prescrição da pretensão punitiva
retroativa.

Considerando que o Ministério Público não apresentou recurso, é possível


que se observe a pena em concreto para o cálculo do prazo prescricional, nos termos da
Súmula 146 do STF, in verbis:

“A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença,


quando não há recurso da acusação”.

Pois bem. Como dito, o acusado foi condenado a pena de 15 de detenção,


de modo que a prescrição ocorre em 03 anos, consoante o disposto no art. 109, IV c/c art. 110,
§1º, ambos do CP.

Ainda, o acusado, à época dos fatos (29/06/2018), era menor de 21 anos


(mov. 1.12), de modo que deve ser reconhecida a redução do prazo prescricional prevista no
art. 115 do CP:

Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o


criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos

Assim, considerando a redução do prazo de prescrição pela metade, em


razão da idade do acusado, o prazo prescricional, no caso, é de 01 ano e 06 meses.

No caso, a contagem do lapso prescricional se iniciou com o recebimento


da denúncia, em 16/07/2018 (mov. 49.1), sendo que após aproximadamente 01 anos e 07
meses, houve a publicação da sentença, em 14/02/2020, evento que figura como causa
interruptiva da prescrição, nos termos do art. 117, IV, do CP.

Logo, desde o recebimento da denúncia até a publicação da sentença,


transcorreu período superior a 01 e 06 meses.

Destarte, consoante o disposto no inciso VI, do art. 109, combinado com o


§ 1º, do art. 110, ambos do CP, impõe-se o reconhecimento da prescrição retroativa da
pretensão punitiva estatal.

Nesse sentido é o entendimento desta Câmara Criminal:

APELAÇÃO CRIME. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. SENTENÇA


CONDENATÓRIA. IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA. 1) EX OFFICIO,
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO. PLEITO ABSOLUTÓRIO
PREJUDICADO. PENA EM CONCRETO APLICADA EM 07 (SETE)
MESES E 06 (SEIS) DIAS DE DETENÇÃO E MULTA DE 12 (DOZE)
DIAS-MULTA. PENA QUE PRESCREVE EM 03 (TRÊS) ANOS.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 109, INCISO VI, DO CÓDIGO PENAL.
APELANTE QUE, NA DATA DOS FATOS, ERA MENOR DE 21 (VINTE E
UM) ANOS DE IDADE. REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PELA
METADE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 115, DO CÓDIGO PENAL. LAPSO
TEMPORAL ENTRE A DATA DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E
PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA SUPERIOR A 01 (UM) ANO E 06 (SEIS)
MESES. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO NA MODALIDADE
RETROATIVA. 2) ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
POSSIBILIDADE EM SEDE RECURSAL.DE OFÍCIO, EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE, PELA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. RECURSO
PREJUDICADO. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. (
TJPR - 2ª C.Criminal - 0010078-17.2017.8.16.0170 - Toledo - Rel.: Juiz
Mauro Bley Pereira Junior - J. 03.07.2020)

APELAÇÃO CRIME – EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306, CTB) –


PARCIAL PROCEDÊNCIA. APELO DA DEFESA – PRELIMINAR –
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA NA MODALIDADE
RETROATIVA – PENA IN CONCRETO QUE NÃO EXCEDE A UM ANO –
ANÁLISE DO ART. 119, CP,

CONSIDERA CADA CRIME ISOLADAMENTE PARA CONTAGEM DO


PRAZO PRESCRICIONAL – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE –
PREJUDICIAL DE MÉRITO – RECURSO PROVIDO. 1. É de se reconhecer
a extinção de punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, em razão
de que entre o recebimento da denúncia e a sentença condenatória houve
o transcurso de lapso temporal superior ao prazo prescricional

aplicável ao caso. (TJPR - 2ª C.Criminal - 0000529-61.2013.8.16.0060 -


Cantagalo - Rel.: Desembargador Luís Carlos Xavier - J. 24.01.2019)

Desse modo, deve ser reconhecida a ocorrência da prescrição da


pretensão punitiva, na modalidade retroativa, para julgar extinta a punibilidade do acusado pelo
crime de desobediência (art. 330 do CP).

Ressalta-se, por oportuno, que o mesmo ocorre com a pena de multa, a


qual é regida pelo art. 114, II, do CP, cujo prazo prescricional é idêntico àquele previsto para a
pena privativa de liberdade, eis que aplicada cumulativamente.
Por conseguinte, resta prejudicada análise do recurso.

DIANTE DO EXPOSTO, conclui-se pelo reconhecimento, de ofício, da


extinção da punibilidade do acusado em relação ao delito previsto no art. 330 do CP (fato 02),
restando prejudicado o recurso.

III – DISPOSITIVO

ACORDAM os integrantes da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em declarar, de ofício, a extinção da
punibilidade em razão da prescrição retroativa e julgar prejudicado o recurso, nos termos
do voto e dos seus fundamentos.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Mário Helton Jorge


(relator), com voto, e dele participaram Desembargador Luís Carlos Xavier e Desembargadora
Priscilla Placha Sá.

Curitiba, 20 de novembro de 2020.

MÁRIO HELTON JORGE


Relator

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