Você está na página 1de 45

18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.

nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Comissão Permanente / Temporária


TIPO : DEBATE PÚBLICO

Da VEREADOR REIMONT

REALIZADA EM 19/11/2019

Íntegra Debate Público :

DEBATE PÚBLICO REALIZADO EM 19 DE NOVEMBRO DE 2019


(Os impactos socioambientais, econômicos e de saúde na cidade ocasionados pela
construção do conjunto penal vertical)

Presidência do Sr. Vereador Reimont.

Às dez horas e quarenta e um minutos, no Salão Nobre Vereador Antonio Carlos


Carvalho, sob a Presidência do Sr. Vereador Reimont, tem início o Debate Público para
discutir o tema “Os impactos socioambientais, econômicos e de saúde na cidade
ocasionados pela construção do conjunto penal vertical”.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Bom dia a todos e todas.


Nos termos do Precedente Regimental nº 43/2007, não estando presentes os demais
membros da Comissão, declaro que não há quórum para o trabalho convocado pela
Comissão Especial instituída pela Resolução nº 1.469/2019, “Com a finalidade de
acompanhar, estudar e fiscalizar a implementação dos objetivos de desenvolvimento
sustentável – ODS 230 – nas políticas do Município do Rio de Janeiro”. No entanto,
realizaremos, sob a minha Presidência, um Debate Público.
Dou por aberto o Debate Público, com o tema “Os impactos socioambientais,
econômicos e de saúde na cidade ocasionados pela construção do conjunto penal
vertical”.
Meu nome é Reimont. Nós estamos fazendo esse debate puxado pela Comissão
Especial que a Câmara tem sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
da Agenda 2030.
Para que seja um Debate com menos formalidade possível é que estou pedindo a
todos para se sentarem aqui nas cadeiras brancas, para eu também não ter que
apresentar todos, embora tenha aqui os nomes de todas as pessoas, porque foram
identificadas na chegada, com a lista de presenças, mas vou também rodar o
microfone, para que façamos uma apresentação simples.
É só dizer o nome, a instituição, e a gente roda o microfone de mim até o Mauro;
depois, nós começamos. Inclusive, as pessoas que estão do lado de fora da roda, que
ainda não aceitaram o meu convite para vir para as cadeiras brancas.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Bom dia, meu nome é Letícia, sou arquiteta, servidora do
Instituto Estadual de Engenharia e Arquitetura (IEEA), e trabalho lotada na Secretaria
de Estado de Infraestrutura e Obras (Seinfra), junto com o arquiteto Fábio Sotero, que
é o superintendente que trabalha no projeto do conjunto penal vertical, que eu vim
apresentar para vocês mais um pouquinho de como está estruturado esse projeto.
https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 1/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

O SR. ADIB MIGUEL – Meu nome é Adib Miguel, sou assessor da Secretaria de
Administração Penitenciária do Estado (Seap), e minha parte é de gestão desse
projeto.

O SR. MARCOS PINHEIRO – Bom dia. Meu nome é Marcos Pinheiro. Sou inspetor
penitenciário e assessor do Subsecretário de Tratamento da Seap.

A SRA. PAULA MARACAJÁ – Bom dia. Eu sou Paula Maracajá e integro o Coletivo Em
Silêncio.

O SR. PEDRO CUNCA BOCAIÚVA – Bom dia. Eu sou Cunca Bocaiúva, professor do
Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A SRA. KÁTIA MELLO – Bom dia. Eu sou Kátia Mello, antropóloga, professora na
UFRJ e líder do Grupo sobre Sociabilidades Urbanas, Espaço Público e Mediação de
Conflitos, e venho, no meu último projeto de pesquisa, trabalhando com o tema de
mulheres encarceradas em situação de maternidade.

O SR. EDSON SODRÉ – Bom dia. Meu nome é Edson Sodré. Eu sou interno do
Sistema Penitenciário – por ora, estou cumprindo pena em regime semiaberto – e sou
um dos membros do Grupo Teatral Cria Daqui, que é um grupo formado, inteiramente,
por detentos do Sistema Penitenciário. É um grupo que escreve e dirige os próprios
textos.

A SRA. ALINE BARROS – Olá. Bom dia. Meu nome é Aline Barros. Faço parte do
Coletivo Em Silêncio.

O SR. MARDEN MARQUES – Bom dia. Eu me chamo Marden. Sou psicólogo. Sou de
Brasília. Fui responsável pela elaboração, pactuação e implementação da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema
Prisional. Atualmente, moro aqui no Rio, por conta da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Sou professor universitário. Agora, estou me doutorando, na UFF.
Faço parte do Observatório de Saúde Mental da UFF.

O SR. MARLON BARCELLOS – Bom dia. Sou Marlon Barcellos, defensor. Trabalho na
Coordenação do Núcleo do Sistema Penitenciário, junto com o Leonardo Rosa, que
está ali. Estamos juntos aqui, na mesma missão. O Núcleo presta assistência jurídica
nas unidades prisionais e trabalha, também, com a tutela coletiva prisional.

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Bom dia a todos e todas. Eu sou Márcia Badaró. Eu sou
psicóloga aposentada da Seap e integro a Secretaria Executiva do Fórum Permanente
de Saúde no Sistema Penitenciário, que aqui, hoje, estou representando.

A SRA. ALEXANDRA SANCHEZ – Bom dia. Eu sou Alexandra Sanchez. Eu sou


médica, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lidero um grupo de
pesquisa especificamente sobre saúde nas prisões. Fui médica do Sistema
Penitenciário durante muitos anos, mais de quinze anos, quase vinte. A gente

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 2/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

desenvolve pesquisa na área de tuberculose, saúde materno-infantil e da estruturação


do serviço de saúde como um todo, inclusive, a questão da mortalidade, mais
recentemente.

O SR. EDUARDO SANCHEZ – Bom dia. Meu nome é Eduardo. Sou mestrando da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ. Pesquiso também a respeito da
arquitetura penitenciária.

O SR. OSVALDO – Bom dia. Meu nome é Osvaldo. Eu sou arquiteto. Faço parte de
uma rede de profissionais que atuam na área de cultura e acessibilidade.

A SRA. ANA MARCELA TERRA – Bom dia. Sou Ana Marcela Terra. Sou psicóloga.
Faço doutorado no Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Sou assessora da Deputada Estadual
Mônica Francisco.

A SRA. VERACI ALIMANDRO – Bom dia. Meu nome é Veraci. Estou representando o
mandato do Vereador Tarcísio Motta.

A SRA. ANA ALICE – Bom dia. Meu nome é Ana Alice. Sou médica, gerente do
Programa de Tuberculose da Secretaria de Estado de Saúde do Estado do Rio de
Janeiro (SES-RJ).

O SR. ADRIANO – Bom dia. Meu nome é Adriano. Faço parte também do Grupo de
Teatro Cria Daqui, feito por detentos do sistema penitenciário.

O SR. LEONARDO ROSA – Meu nome é Leonardo Rosa, como o Marlon falou, do
núcleo do sistema penitenciário. Eu iria assistir à palestra daquele sofá imperial, mas
vim para cá. Ali parecia ser mais confortável.

O SR. JOÃO MARCELO DIAS – Bom dia. Sou João Marcelo, membro do Mecanismo
Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro (Alerj).

O SR. MAURO SANTOS – Eu sou Mauro Santos. Sou professor da UFRJ, da


Arquitetura. Sou arquiteto. Trabalho com o tema arquitetura prisional. Tive
oportunidade, inclusive, de desenvolver um manual, junto com a Alexandra, de
intervenções para tentar minimizar questões da tuberculose no ambiente de presídios.

O SR. MÁRIO TEIXEIRA – Bom dia. Meu nome é Mário Teixeira. Eu sou assessor da
Seinfra.

A SRA. ANA CAROLINA MILANI – Bom dia. Sou Ana Carolina Milani. Também
componho a Comunicação da Seinfra.

A SRA. DANIELLA NUNES BERNARDES – Eu sou a Dani. Sou do mandato do


Vereador Reimont.

A SRA. KATHLEEN FEITOSA – Bom dia. Meu nome é Kathleen. Sou do mandato do

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 3/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Vereador Renato Cinco, da Casa.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Quero agradecer, então, a presença de todos. Na


verdade, a nossa ideia seria ter duas apresentações iniciais: a apresentação da Letícia
e a do Professor Mauro. Depois, a gente abre a nossa roda de conversa.
Eu queria situar, um pouquinho, o caminho, ou, pelo menos, traçar, aqui, o caminho
que nos trouxe até essa rota. Nós estamos, na verdade, buscando um debate sobre
esse tema, que é o “Conjunto Penal Vertical – Impactos socioambientais, econômicos e
de saúde na cidade – Projeto para uma nova tipologia arquitetônica e equipamento
prisional do Estado”.
Assim, então, a Comissão Especial, que tem como objetivo acompanhar, estudar e
fiscalizar a implementação dos objetivos do desenvolvimento sustentável, que é a
agenda 2030, nas políticas do Município do Rio de Janeiro, se ocupa então desse
debate e, portanto, torna público esse projeto de lei complementar, que ainda não
recebeu número.
Ele é um projeto de lei que ainda está sendo apresentado, porque ele regulamenta
parâmetros urbanísticos de uso da Área de Especial Interesse Funcional de Gericinó
(Aeif) de Gericinó, revoga a Lei Complementar nº 71. Também a gente coloca luz sobre
um projeto de lei apresentado nesta Casa – esse sim com número –, que é o Projeto
de Lei nº 787/2018, que institui a política municipal de proteção e garantia de direitos
para pessoas em situação de privação de liberdade, egressas e dá outras
providências. É um projeto construído pelo nosso mandato, em parceria com diversas
instituições, que, inclusive, integram esta nossa roda.
Busca-se então traçar a argumentação seguindo os preceitos estipulados pela Agenda
2030, pelos ODS. Dessa maneira, a gente vai, na verdade, avaliar a viabilidade de
implementação da nova tipologia arquitetônica, segundo os nossos critérios, de
equipamento prisional do Estado, bem como os seus impactos socioambientais e a
responsabilidade desta municipalidade, a partir dos objetivos e desdobramentos desta
Agenda 2030, como promover o Estado de Direito em nível nacional e internacional e
garantir a igualdade de acesso à justiça para todos.
Promover também e fazer cumprir as leis e políticas não discriminatórias para o
desenvolvimento sustentável. Esse debate é construído a muitas mãos por diversas
instituições que estão aqui, grupos que aqui estão e que, inclusive, ajudaram a
construir o Projeto de Lei nº 787, que citei há pouco.
O Projeto de Lei nº 787 é desdobramento desse grupo de trabalho, de mulheres e
liberdade, oriundo do Debate Público “Mulheres e liberdade: a população feminina em
cárcere”, realizado aqui na Câmara, neste mesmo espaço, em 28 de setembro de
2017, com a Comissão Especial de Juventude, naquela época.
Observado o fato de a maioria das mulheres em situação de privação de liberdade
estar na faixa etária entre 18 e 29 anos, segundo o Departamento Penitenciário
Nacional (Depen), entre 2000 e 2014, houve um crescimento médio de 567% da
população feminina nos presídios, ante um aumento médio de 220% do universo
masculino.
O evento foi presidido naquele momento por dois vereadores: pela Vereadora Marielle
Franco e por mim, Vereador Reimont. A ideia do projeto de lei surgiu por meio da
pesquisa, quando entramos em contato com uma proposta apresenta na Câmara
Municipal de São Paulo pelo vereador Eduardo Suplicy. Ela dispõe, essa proposta,
sobre a implantação de uma política municipal de proteção e garantia de direitos para
pessoas em situação de privação de liberdade e egressas, sob os princípios do

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 4/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

resguardo dos direitos humanos, combate ao preconceito e ao racismo, proteção dos


direitos sociais da convivência em família e em comunidade e também da reparação
histórica.
O projeto de lei é regido por diretrizes, de modo a estabelecer o papel da administração
municipal na condução da justiça restaurativa junto à articulação com outros entes da
federação e objetiva integrar Município, Estado e União para a redução do
encarceramento, de modo a contribuir na diminuição da esfera criminal, através do
estímulo ao acesso aos serviços municipais em uma rede de atendimento articulada.
O projeto de lei cria também o Programa Municipal de Proteção da Cidadania de
Pessoas Egressas no âmbito da administração municipal. Propõe a instalação do
Conselho Municipal de Proteção e Garantia de Direitos às pessoas em restrição de
liberdade e egressas, integrado paritariamente por representantes, titulares e
suplentes, da sociedade civil e do Poder Público.
Portanto, na verdade, nesse debate agora, que é proposto aqui pelas ODS, a gente
fala sobre o projeto de lei que regulamenta os parâmetros urbanísticos de uso para a
Aeif de Gericinó. O projeto permite que edificações prisionais, em resumo, tenham até
15 pavimentos, de altura máxima de 45 m. O projeto cria a Aeif, situada em Bangu,
para fins de prestação de serviços de interesse público, permitindo atividades laborais
para pessoas com restrição de liberdade ali residentes.
No art. 4º, diz: “Além dos usos previstos na zona residencial multifamiliar dois, a que a
Aeif Gericinó está situada, serão permitidos usos do grupo um, indústria de
transformação, descrito no anexo II, parágrafo único, a base de trabalhadores nas
instalações laborais será formada exclusivamente por pessoas em restrição de
liberdade”.
Nós vamos então discutir um pouco isso que está colocado. Esse é o nosso propósito.
Para isso a gente ouve inicialmente a arquiteta Letícia Amado, da Seinfra. Depois,
ouviremos o Professor Mauro Santos, da FAU da UFRJ. Depois das falas dos dois, nós
rodaremos o microfone para as intervenções dos presentes.
Com a palavra, então, a Letícia, que vai fazer uma apresentação.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Eu vou falar um pouco sobre como está estruturado o
projeto do Conjunto Penal Vertical. Lembrando que cabe ao Poder Executivo a custódia
da população que está em cárcere. Então, o que a gente tem são muitas situações
hoje de algumas unidades prisionais que não estão com uma qualidade boa de
arquitetura, que já estão em processo de deterioração, que apresentam algumas
patologias.
Algumas estão condenadas do ponto de vista do conforto, dos direitos humanos. A
proposta é trazer uma nova arquitetura, de modo que se consiga substituir as vagas,
principalmente do déficit que existe de vagas prisionais, que estão deficitárias de
qualidade com um projeto que possa trazer um número maior de vagas em um tempo
mais curto, para haver essa substituição. Para isso, foi escolhido pelo governo, um
modelo vertical de conjunto penal.

(Inicia-se a apresentação de slides)

A SRA. LETÍCIA AMADO – Essa é uma tomada aérea do projeto. Ele está
demonstrando que com a verticalização se consegue a liberação de terreno para
outras atividades. O foco, principalmente, é ter atividades laborais. Porque o trabalho
tem uma função de ressocialização da pessoa que está em cárcere e também existe

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 5/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

redução de pena, acesso à renda, uma série de coisas que envolvem o trabalho.
Então, essa é uma das vantagens que foi buscada, a liberação de área para o
estabelecimento de indústrias, principalmente na região. Além de poder trabalhar um
número maior de vagas para o número menor de área, de terreno.
Esses são exemplos de arquitetura vertical prisional que existem no mundo. No Japão,
nos Estados Unidos, na Europa têm exemplos bem antigos que estão em
funcionamento até hoje. Algumas funcionam há mais de 100 anos.
Nós não fizemos o projeto de dentro pra fora. A Seap demanda um projeto de
arquitetura prisional e muitos órgãos do estado, muitas secretarias participaram de
reuniões contínuas, semanais, a respeito de todos os assuntos possíveis que poderiam
envolver a questão da arquitetura. Então, a Secretaria de Estado de Educação
(Seeduc) e a SES-RJ estiveram ligadas diretamente nesse processo construtivo do
projeto.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) também foi
consultado. Recentemente, nós recebemos uma equipe da Secretaria de Estado do
Ambiente e Sustentabilidade (Seas) para discutir, até o Abid estava presente, a
respeito de um plano de gestão de resíduos para o conjunto.
Sobre essa proposta de verticalização, a gente também pensou muito na questão da
salubridade, porque a gente evita contato direto com o solo de umidade, de uma série
de outras coisas, a gente propôs todas as passagens de instalações úmidas por shafts
externas da edificação. Pensamos nas questões de insolação, ventilação e de
segurança, principalmente.
Aí, está uma demonstração de como é dividida a proposta do projeto. Ele consiste de
um embasamento de atividades, então, o térreo de uso comum para as unidades
prisionais, não se trata de uma única unidade prisional em forma vertical. Na verdade,
é um conjunto penal que está verticalizado.
São cinco unidades prisionais independentes, sendo a primeira de apenas um
pavimento, e as demais, de dois pavimentos. O térreo é um embasamento com
atividades compartilhadas para todas as unidades, e essa disposição em conjunto
possibilitou a criação desse espaço de atividades mais amplo. Assim, você consegue
reduzir o investimento em infraestrutura, que é, na verdade, o que as cidades fazem
hoje.
Hoje, nós vivemos de forma verticalizada, porque você reduz o investimento, o custo
de obra, de infraestrutura instalada, do espaço físico, e libera para os demais usos. A
gente compartilha o espaço dessa forma, hoje, na nossa sociedade.
Aí, está colocada, mais ou menos, a independência das unidades. São cinco unidades.
A primeira é para pessoas com mobilidade reduzida, então, as celas são adaptadas, o
sanitário das celas é adaptado. Na verdade, todo o espaço de uso comum é adaptado,
possibilita o uso de cadeirante; mas essa unidade mais baixa, a primeira, é exclusiva
para pessoas com mobilidade mais reduzida.
O térreo conta com diversos serviços como saúde, educação e oficinas de trabalho,
mais por questão, talvez, da educação, do trabalho, de aprender uma atividade, uma
oficina, e, no térreo, assim como na cobertura, temos pátios de sol.
No bloco externo, temos um bloco administrativo do conjunto. Na verdade, cada
unidade tem a sua própria administração, mas existe uma administração geral do
conjunto, e é onde, também, existe a administração de entrada de materiais, de
pessoas, que se otimiza juntando num único bloco.
Isso é um esquema que representa isso que eu estava falando. Cada uma das
unidades tem a sua administração, seu espaço de tratamento penal, de educação, de

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 6/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

saúde, e, também, no térreo, você tem um espaço compartilhado com todas essas
atividades, que pode administrar pelo conjunto geral, pela administração geral do
conjunto, mas cada uma delas tem, também, os seus espaços próprios, exclusivos.
Cada um dos blocos tem um uso, na verdade. Você tem esses quatro braços de celas
coletivas, um desses braços é de celas individuais, tanto de celas de seguro quanto de
celas para visitas íntimas, e um dos blocos é multiuso, então, é só de convivência, que
são os salões de visita, espaço ecumênico, entre outros espaços, algumas salas de
educação, de uso do coletivo.
Os agentes também têm espaços para eles: salas de descompressão, salas próprias
para os agentes que estão atuando lá dentro. Também tem uma sala... tem toda a
parte administrativa fora, num bloco, de dormitório, mas também têm as salas dentro
das unidades.
Isso é um fluxograma das atividades. O fluxo verde é até onde acontece o fluxo
externo. O fluxo vermelho é o fluxo apenas dos agentes nas unidades.
Com relação à salubridade, é o que estávamos falando. A zona bioclimática é a
número 8. Então, trabalhamos com aberturas de janelas maiores do que é o mínimo
exigido pela legislação. A legislação exige certa abertura, só que pela zona
bioclimática, se indica uma abertura maior para poder ter melhor ventilação, por ser
uma área um pouco mais quente. Então trabalhamos com a recomendação da zona
bioclimática, com ventilação cruzada, e os shafts externos das instalações úmidas para
retirar a umidade de dentro da edificação.
Trabalhamos também com brises horizontais e verticais que ajudam na questão do
conforto térmico e também serve de barreira entre as celas, para não haver contato
externo pelas janelas. Os pisos das celas são levemente inclinados, permitindo que
sejam lavados.
Essa está mostrando a questão dos exaustores e dos shafts.
A implantação do conjunto foi pensada em função da insolação, de melhor
aproveitamento da insolação para os pátios de sol, e para não ter um
superaquecimento interno da edificação, inclusive.
Uma das preocupações que nós tivemos muito foi a questão do combate ao incêndio.
A edificação conta com três pontos de escape, de escada enclausurada. O acesso
entre os blocos é feito por uma passarela, um pouco inclinada, levemente inclinada,
que dá acesso vertical, no fluxo do cotidiano. Mas no caso de escape, existe a escada
enclausurada, conforme a legislação do CBMERJ exige. Permite a entrada do
caminhão do CBMERJ, tem total acesso à edificação. As distâncias de percurso são
curtas, dentro da legislação do CBMERJ.
Está citando a questão dos desníveis, porque você tem, necessariamente, uma
circulação vertical acontecendo no cotidiano do conjunto. Essa circulação vertical
acontece através dessas passarelas, não é pela mesma rota de escape. A rota de
escape é exclusiva, acontece por passarelas que são levemente inclinadas, a menos
de 5% de inclinação, não é nem considerada uma rampa pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).
Você tem circulações exclusivamente verticais e circulação exclusiva de cada unidade
prisional. Então, alguém que esteja numa unidade prisional no meio – número 4,
número 5 –, que tenha que fazer um deslocamento vertical para o térreo, não vai
passar por dentro das demais unidades. Os fluxos são totalmente separados.
O térreo que conta com essas atividades é um pavimento só de atividades. Ele é
distribuído dessa forma, sendo que o bloco externo tem a parte de revista do visitante,
administração e a guarda externa; os blocos internos têm uma ala de tratamento penal,

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 7/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

de saúde, de inclusão, de ensino de oficinas.


Tratamento penal é número 4, naquele bloco ali. É o bloco que eu falei que é multiuso.
Esse bloco, de cima a baixo, é um bloco de atividades. Sendo que no térreo as
atividades são compartilhadas por todas as unidades penais. Isso possibilita um
aumento de área disponível para as atividades. Cada uma das unidades tem atividades
nesse mesmo bloco, no número 4, de atividades de múltiplo uso.
Os pavimentos superiores das unidades estão divididos em blocos de celas íntimas,
que são as celas, na verdade, celas íntimas ou celas de isolamento. Existem umas
celas individuais de segurança. Ficam nesse bloco 1, que está numerado como 1, onde
os setores 2 são os de celas coletivas. O 3 é do bloco multiuso. Então, é área de visitas
e de outras atividades.
É que eu não tenho todos os números de cabeça, mas eu acho que estão entre 12 m²
e 15 m², mais ou menos. É para seis pessoas. Entre 12 m² e 15 m², não é isso? São 16
m²? Ah, é 16 m². As imagens não estão carregando, aí eu pedi para ela abrir o arquivo
em .pdf, que é mais leve, porque essas imagens são de maquete eletrônica. Elas estão
um pouco pesadas, não estão lendo. Está vendo? O computador não está lendo.
Não, são mais salas. Não é uma sala só. Tem uma sala que a gente chama de salão
ecumênico e tem outras salas. São salas de tamanhos variados. Tem salas menores,
salas maiores, e aí a administração pode usar da forma que achar mais conveniente.
Porque uma das paredes, na verdade, não existe. Ela é só gradeada, é gradeada de
ponta a ponta. Sim, mas a janela de onde vem tem 2 m. Então, ela é uma janela alta.
Ela não pode ser uma janela de peitoril muito baixo, mas ela é bem extensa, ela vai de
ponta a ponta praticamente da cela.
A visualização. A galeria em si também tem janela e essa parte de onde está o
observador é a parte central do núcleo, onde tem a vigia. Ele é um espaço muito aberto
também, porque dá acesso direto às passarelas, e as passarelas são muito amplas,
têm as janelas amplas. Essa é uma observação ao contrário, de quem está dentro da
galeria observando lá fora a vigia.
Essa é a vista da cela. Aí a planta. São seis pessoas, com banheiro individual para
cada cela, e tem um espaço para uma mesa e um espaço para colocação dos
pertences. Esse é o salão de visitas, ele tem pé direito duplo. A janela ali, perto de
onde é o sanitário. Como todas as instalações úmidas acontecem por shafts externos,
os sanitários ficam junto à janela. A grade para a galeria é desse lado aqui.
Tem as janelas da cela, tem as janelas da galeria e tem onde fica o vigia. Onde o vigia
fica você tem uma área que fica mais aberta, porque tem acesso às passarelas, e as
passarelas lá são bem abertas também, tem bastantes janelas, bastantes aberturas, e
isso faz uma circulação cruzada. Uma ventilação cruzada, porque você tem a abertura
em diversos pontos, em diversos lados da edificação.
Esse é o salão de visitas. Cada unidade prisional tem um salão com pé direito duplo de
visitantes. Os visitantes têm acesso às unidades por elevadores. Eles não usam a
mesma circulação do conjunto. Porque o conjunto conta com um sistema de
elevadores que é para serviço, não é?
Toda unidade prisional tem o seu. Não. É a cada dois andares, porque ele tem pé
direito duplo. Então, a cada dois andares você tem um salão. Aí, você acessa por
elevadores. Estão dimensionados elevadores de capacidade grande, para poder fazer
o transporte dessas pessoas e transporte também dos serviços da própria unidade.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Deixa eu só pedir, me permitam uma consideração.


Vou pedir à Letícia que ela dê uma acelerada.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 8/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

A SRA. LETÍCIA AMADO – Acelerada? Tá bom.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Se você consegue em cinco minutos, porque


depois a gente volta para as questões. Pode ser?

A SRA. LETÍCIA AMADO – Tá bom.


Mas são todas imagens do salão. A localização dos pátios de sol. Temos 12 pátios de
sol no total. Apesar de serem cinco unidades, a gente tem um número maior de pátio
de sol, porque, na verdade eles são diferentes entre si. Alguns são só um espaço mais
livre. Outros têm quadra poliesportiva, outros têm acesso a mais terreno, outros mais
piso. Pode ter variação do tipo de atividade, não é? Então, existem diferentes tipos de
pátio de sol.
Essa é uma vista superior, porque existe uma vigia também, uma ronda. Pela parte
superior do prédio, que vigia as fachadas, temos essa visualização também do pátio de
sol. Esse é um que tem a quadra. Esse é um superior. Tem uma tela de vedação em
toda volta, por questão de segurança.
Voltamos para aquela imagem que mostra o conjunto e a questão da implantação de
galpões industriais próximos a esses conjuntos, que é viabilizada pela verticalização. A
ideia é investir, principalmente, na questão do trabalho da pessoa.
Da forma como passam hoje. Só que hoje eles dificilmente têm acesso ao mercado de
trabalho, porque o trabalho não vai até eles, eles que têm que ir até o trabalho.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Nós vamos, então, agradecer a doutora Letícia e


passar a palavra para o Professor Mauro.
Quero registrar a presença do Vereador Babá e do Vereador Tarcísio Motta. Tem mais
algum vereador, deputado? Também o pessoal que chegou logo depois da
apresentação. Depois a gente retoma para a apresentação de vocês também.
Vamos ouvir, então, o Professor Mauro.

O SR. MAURO SANTOS – Primeiro, é um prazer estar aqui. Bom dia. É um prazer
estar aqui conversando sobre esse tema.
De minha parte, é um momento raro em que se discute a arquitetura prisional. Esse é
um tema que está envolvido sempre num mistério à luz da segurança, tanto que eu
pediria, mais uma vez, que fosse disponibilizado esse projeto para que a gente
pudesse ter acesso detalhado a todas as informações. Ele é um projeto público.
A análise que eu faço aqui é recolhida de informações e peças a que eu tive acesso,
mas não é plenitude. Mas fico feliz de ver que os aspectos principais constam,
inclusive, de um documento público do Depen, de uma análise a que nunca tive
acesso, a que tive acesso ontem. Várias das questões que eu abordo também estão
abordadas lá, do ponto de vista da análise crítica do projeto.
Meus parabéns para a equipe que desenvolveu o projeto. Letícia, parabéns por compor
essa equipe. Já estive com o coordenador.
A minha análise crítica é de um profissional que tem experiência nessa área, que
percorreu o Brasil inteiro analisando e estudando tipologias prisionais, que fez
propostas de intervenção para essas tipologias, que estudou, inclusive, algumas que
são compradas em pacotes fechados de empresas internacionais para implantação.
Eu fui procurado, alguns meses atrás, por um jornal, por uma emissora de televisão
que queria fazer entrevista comigo, que dizia que ontem houve uma declaração do

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDoc… 9/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

governador dizendo que vai fazer presídios verticais. Mais do que isso: nessa
declaração, ele também aborda outro tema que, talvez, futuramente a gente tenha que
discutir, que é um presídio navio.
Eu disse: “Olha, eu não tenho acesso a essas informações, não posso fazer uma
análise desse tipo. Tenho uma experiência, posso fazer considerações sobre isso,
inclusive sobre quais as referências no sentido do presídio vertical, mas acho que
conceitualmente ele é um equívoco”. Eu me perguntei: por que um presídio vertical? A
única coisa que vem nesse sentido seria aumentar o número de vagas. Nem discutindo
a questão da política de encarceramento ou desencarceramento, mas mesmo na
política de ampliação do número de vagas, ela não se dá, exclusivamente, pela
verticalização. Ela tem outros modelos que podem suprir esse caminho de mais vagas.
As questões relativas ao custo – eu me perguntando, na época, sem o projeto – não
são verdadeiras, porque o horizontal apresenta custos de produção – obra – e custos
de manutenção bem melhores do que o vertical.
Só se aplica o vertical em um contexto de cidade em que a terra seja escassa, no
centro da cidade. Se fosse fazer um presídio no centro da cidade – não tem como,
pelas ofertas de terreno –, nós tínhamos que ter verticalização, mas esse não é o
conceito da política prisional.
Então, eu comecei a tentar decifrar e, como professor, como arquiteto –
fundamentalmente como arquiteto envolvido, eu trabalho com habitação social, eu
trabalho com saúde, particularmente com a área de saúde mental, que também tem
uma origem dos presídios historicamente –, fui começar a analisar a proposta dentro
das peças que me foram fornecidas ao longo desse tempo.
Primeira coisa são as referências que foram apresentadas. Essas referências que são
apresentadas são referências dos anos 1960, 1970, e até anterior aos anos 1960. Hoje
estão totalmente desativadas como políticas de construção de novos presídios. Então,
essa referência é uma referência antiga, nós estamos atrasados nela, colocando como
se fosse o futuro. Isso daí é o passado, e alguns, inclusive desativados ou em processo
de desativação.
Mais do que isso, mostra qualidades totalmente diferentes do que está sendo
produzido no projeto. Aquele ambiente ali tem uma situação de fechamento de celas,
que é a circulação rebatida, mas ele tem, se você olhar um shaft vazio de exaustão na
frente de cada uma das celas, permitindo fazer, mesmo que na verticalização, o
processo de saída do ar.
A cela que está ali à direita nada tem a ver com as nossas soluções ou com o nosso
tratamento de celas. Quando a gente fala de janela... Ali, a gente está falando de
janela. Quando a gente fala nos nossos presídios como um todo, nós estamos falando
de abertura altas e mínimas, mínimas.
Então, essas referências são referências que não estão nos servindo, ou não deveriam
nos servir.
Aqui são exemplos da Bélgica. Mesma coisa, ambiente da cela, o leito, a cama, o
mobiliário, a altura, as circulações, o próprio percurso e também os pavilhões, que são
pavilhões horizontais.
Tóquio. Tóquio, também a referência. Tóquio, todos nós sabemos, Japão, a questão da
densidade. Não só no tema do presídio, mas na moradia em geral: são áreas mínimas
e verticalizadas por falta de área livre, então, é centro de cidade.
Aqui nós estamos na nossa área, que é área de Gericinó, que tem um contexto urbano
de baixa altura, que está se propondo modificação na legislação, inclusive modificação
no decreto que proíbe novas construções, que é o de 2004, porque nós temos um

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 10/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

complexo extremamente saturado, do ponto de vista da sua infraestrutura.


Nós vamos propor uma maior saturação vertical. Nós estamos propondo... Nós, não,
porque eu não proponho, mas o Estado propõe 3.500. Se ficar em 3.500, mas a nossa
situação hoje nós sabemos que nós temos os de 800, que já chegaram a 3.000. Então,
de 3.500, chega a 10.000.
Isso é um erro gravíssimo. Os de 800, que a legislação coloca, que já estão chegando
a 3.000 alguns, então você imagina que, em um quadro desses, o de 3.500 vai chegar
a 10.000.
Essa situação de verticalização também cria um elemento simbólico para a cidade, que
eu acho que é uma imagem negativa, por mais que esse desenho seja um desenho
bem apresentado, com características de um condomínio residencial, mas que não é a
verdade, porque, na verdade, nós vamos ter uma imagem para a cidade que é da
verticalização da presença de um elemento que vai simbolizar o encarceramento.
Digo mais: afirmo uma coisa aqui, que nós estamos num momento muito sério e eu vou
mostrar depois o porquê. Quem não morreu fora, vai morrer dentro, eu não tenho a
menor dúvida, porque nós vamos agravar as condições ambientais, e a Alexandra tem
um trabalho sobre isso, não é? A primeira causa de morte é a tuberculose, e nós
vamos agravar esse quadro aqui, e muito, vamos multiplicar, vamos potencializar isso.
A nossa zona climática oito exige aberturas e sombreamentos, mas essa abertura de
40% do piso não apresenta nesse projeto, está aquém disso daí.
Não podemos esquecer que essa região lá é de altas temperaturas, e a velocidade do
vento é baixíssima. Então, nós vamos agravar as condições da ventilação cruzada e
das trocas desse ambiente, que são fundamentais. Então, o aumento dessa densidade
no complexo vai trazer não só problemas do ponto de vista da sua infraestrutura –
água, esgoto –, mas, principalmente, trazendo uma população para transporte interno
bastante acrescida. Nós vamos estar multiplicando, e muito, os visitantes, o transporte
dos visitantes internos, o controle dos visitantes internos, e ela não está preparada
para isso, ela não responde a esse acréscimo.
Uma unidade com 3.456 apenados, em cinco unidades verticais, na verdade, isso aqui,
para mim, é um empilhamento de presídios, rompe totalmente as diretrizes. Não
adianta querer dividir isso por cinco e dizer que são 800 x 5, porque 800 não é uma
questão numérica, 800 são unidades autônomas de acesso individual, de apoio de
unidades de serviço interno individual. Não adianta eu dividir e dizer que cada um vai
ter um diretor e vai ter um diretor-geral: eu preciso ter independência nesses acessos.
Isso não é uma questão burocrática, administrativa, isso é uma questão inclusive de
segurança, de logística da funcionalidade. Então, colocar e movimentar 3.500 presos,
eu diria que vai ser quase que impossível.
Se eu tiver uma situação de incêndio, essa caixa de incêndio fechada, a escada
enclausurada, que é exigência, não vai dar conta, até porque ela fica fechada, por uma
questão de segurança. Tem que ser aberta, e vamos ter que evacuar 3.500 pessoas
num processo vertical: é impossível, numa ação de rapidez. O horizontal me facilita os
deslocamentos. A visita num presídio vertical, quer dizer, você trazer o visitante para
essa unidade superior, ela não é a diretriz apresentada, essas áreas de visita deveriam
e devem estar no térreo.
Essa proposta rompe tudo, inclusive as diretrizes nacionais de construção e arquitetura
prisional, mas ela agrava, ela não rompe no sentido de “vamos fazer o diferente”, ela
agrava as condições, e eu diria que agrava mesmo que mantidos os seis presos por
cela.
Mesmo que mantidos, ela já está agravando, não responde ao módulo de saúde e não

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 11/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

responde ao módulo educacional, uma vez que eu tenho que ter um módulo desse
para cada unidade. Então, se são cinco, mesmo na lógica dos cinco pavimentos dois a
dois, eu teria que ter cinco unidades de saúde e teria que ter cinco unidades de
educação e, se fizer a conta do número de vagas, não responde a uma. O que nós
estamos dizendo é que não vai ter essa atividade. Vai ser impossível você praticá-la,
mesmo em três turnos.
Uma temperatura de 40°C, em Bangu – quem conhece Bangu com 40°C? –, dizer que
vai fazer banho de sol na laje? Eu diria que isso é criminoso. Isso é criminoso. Mais do
que isso: as celas que estarão abaixo dessa laje vão estar a uma temperatura... Eu
trabalho com arquitetura, já fritei ovo, já fiz experiências em coberturas desse tipo, você
frita ovo. De 53°C a 55°C. Essa temperatura abaixo, nas celas de baixo, é insuportável.
É insuportável.
Já falei dos incêndios. Não vou repetir. Aquelas são as imagens das circulações. Essas
circulações não são abertas. Essas rampas, elas são rampas fechadas; mais uma vez,
com abertura superior mínima. É um ambiente totalmente insalubre, porque é um
ambiente fechado, sem circulação. Dificulta, gera dificuldades do acesso e da
permanência e cria questões de insegurança. Tem problemas de operação. Vamos
imaginar os percursos, as descidas para o sol, no térreo; ou as subidas para o sol,
pelas rampas, já com uma situação, inclusive, de número de profissionais prisionais no
sistema.
Esse, se você olhar, ele está multiplicando, ainda mais, o controle, que são aqueles
pontos vermelhos de controle... De amarelo. São pontos internos. Aí, nós temos que
falar o seguinte: estamos falando de tuberculose, no presídio, como número um. Não é
só para o preso, não. É para os profissionais que estão lá confinados num ambiente
insalubre. É para aqueles que são seus parentes, visitantes, e para aqueles que saem
de lá e vão para o bairro, vão morar. Muitos, inclusive, vão morar próximo do seu
trabalho. Então, teremos uma repercussão de área bastante forte e significativa, do
ponto de vista da saúde. Isso, a Alexandra e a Márcia podem... Porque, aqui, eu estou
de leigo, mas com um sentimento de quem viveu essa história.
Aqui é a demonstração dessa situação: fechada, não troca esse ar. Essa circulação
interna, ela é doente. Essas celas são doentes. O estudo lá da Fiocruz, desenvolvido
pela Alexandra, mostra que 12% dos presos têm tuberculose, 5.200 casos ao ano.
Entretanto, somente um terço é detectado. Há 42 mais vezes de tuberculose entre
presos do que a taxa geral do Rio de Janeiro, e 72 vezes maior do que a média do
país. Esse é um índice absurdo, e nós estamos potencializando isso, nós estamos
ampliando essas condições, com essa solução.
Esta, do armário, da perspectiva, e até mesmo da abertura, se nós formos ver como vai
funcionar, essa solução em nicho, ela dificulta a circulação de ar, inclusive no próprio
ambiente do leito, e ele, sem dúvida, vai ser fechado nas suas laterais, pela própria
situação de necessidade de privacidade entre os leitos. Ninguém vai ficar nessa
situação. Então, ela é melhor do que antes, quando era totalmente fechado. É melhor
aberta, mas não resolve. A melhor solução para a cela é o leito perpendicular à parede,
porque ele circula de maneira maior. Isso, logicamente, traz uma situação de layout
diferente; consequentemente, vai agregar uma pequena área maior na organização
desse espaço, mas é uma qualidade muito superior.
Essas seriam situações. A da esquerda é a situação atual, não circula; aquela área
vermelha ali é uma situação de contaminação ambiental. Se fossem fazer o vertical,
que fizessem com esse átrio; com essa abertura, que tem algumas soluções, inclusive,
presentes, que garantem ou ajudam na circulação, pelo efeito chaminé do ar mais

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 12/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

quente subindo.
Aquele da esquerda é tampado, é fechado. Aquela solução ali é uma boa solução
horizontal, com que diversos estados trabalham. A nossa tradição não é de vertical, a
nossa tradição não é por acaso e nem questão de conservadorismo; você tem, no
máximo, alguns exemplos de quatro pavimentos.
A questão de uma rebelião não é agravada por uma situação vertical. Você não tem
domínio espacial nenhum desse edifício. Hoje, para você ter uma ação de invasão, de
entrada, ela está aí multiplicada por 1000, em termos de dificuldade. O pessoal da área
de segurança e os agentes penitenciários não acham essa uma solução adequada do
ponto de vista da segurança e do controle.
Isso tem que ser conversado, isso tem que ser posto claramente. Por que insistem
nessa proposta? Porque é uma proposta símbolo de um governo. Isso é um absurdo.
Eu vou entrar em um estudo de insolação que não foi apresentado no projeto e que
deveria ser peça dele. Todo projeto deve ter um estudo detalhado de ventilação e
insolação, e isso tem programas de simulação que vão demonstrar bem.
Essa é a situação, nós vamos ter boa parte das celas sem insolação durante o ano
inteiro, verão e inverno, devido aos afastamentos das lâminas e a posição das lâminas.
Fizemos uma simulação com o norte e nós temos aqui o resultado. A quantidade de
unidades sem iluminação é agravado pelas condições de ventilação precária.
Eu li outro dia, reli, por causa dessas histórias e as discussões, e vi o filme também
“Memórias do Cárcere”, quando Graciliano entra e diz assim: “aqui não é para
recuperar, aqui é para matar”. Desculpem-me, mas é isso que vai acontecer. Esse
banho de sol não vai acontecer, essas celas vão estar trancadas a bel-prazer da sorte.
Eu estou discutindo arquitetura, não estou discutindo política, conceitos da política
carcerária. Eu estou discutindo a arquitetura de um projeto que está sendo
apresentado.
Por que não fazer? Já que quer mais vagas, por que não fazer horizontal? Assim,
melhoram as condições de ventilação, de iluminação, de banho de sol, de
transferências, de controle. Nada, nada, nada, nada justifica isso, a não ser o custo da
terra; mas onde o custo da terra não se justifica?
Os programas de habitação populares vão buscar a terra lá onde está, porque a terra
tem preço muito barato. Então, a troca do custo de infraestrutura versus a construção,
ela não se aplica. Era a única forma de se aplicar. Pode passar.
Aqui eu fiz uma simulação de custos. Já que estamos conversando sobre custos, eu
não tenho projeto, mas fiz uma simulação de custo. Ali eu tenho 30% mais caro no
vertical, só em concreto, do que a solução horizontal. Então, a discussão de custos não
está aplicada a essa solução vertical.
Não estou entrando no mérito da infraestrutura de elevadores, de manutenção, das
fundações, porque no horizontal eu trabalho com radier, eu trabalho com técnicas mais
simples. Em uma vertical desse tipo, eu não vou conseguir fazer isso, eu vou ter que
ter fundações profundas. Então, não entrou no mérito da fundação porque não tenho o
estudo de sondagem. Mas se colocar a fundação, essa conta sobe. Fora pilares, que
eu não vou ter; vigas que eu não vou ter no horizontal. Eu tenho a própria estrutura das
paredes portantes. Então, nem o custo se justifica.
Essa foi o que eu já coloquei, isso aqui é um fechamento. A verticalização como
implantação em uma área consolidada, ausência de espaço de socialização,
necessária... Ah, um detalhe que eu vi, não sei se isso já foi modificado, mas é
gravíssimo. As celas, inclusive íntimas, que deveriam ser diferentes para a relação da
visita íntima, não deveriam ser um ambiente igual ao de uma cela com outra função,

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 13/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

estão na circulação das solitárias.

A SRA. LETÍCIA AMADO – A única em que existe uma circulação compartilhada é a


que só tem um pavimento, que é para cadeirantes. As outras todas são em pavimentos
diferentes.

O SR. MAURO SANTOS – Mas, mesmo essa, não pode. Não tem essa justificativa.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Nessa, só temos um pavimento. Nas outras temos dois
pavimentos. Cada uma está em um pavimento separado.

O SR. MAURO SANTOS – Eu não posso ter o acesso de uma cela que é uma cela
chamada de “castigo”, que é o caminho; é a mesma circulação da cela de visita íntima.
Estamos jogando no lixo, inclusive, todos os conceitos do porquê disso. Não pode. Se
tem, tira. Se não tem como resolver, invente. Mas não dá para colocar.
Eu tenho uma teoria nas minhas áreas de trabalho. Área social, todo arquiteto que
projetar habitação social, e aí eu falo para os vereadores: vocês poderiam fazer uma
lei, seis meses morando lá com a família. Acho que em um projeto de um presídio,
antes da inauguração, os arquitetos deveriam ficar lá dentro da cela por seis meses,
vivendo naquele ambiente, para ver se ele realmente é salubre e é digno de uma
pessoa. Independentemente de ela estar ou não em uma situação de cerceamento da
sua liberdade, ela tem direitos que precisam ser garantidos.

A SRA. LETÍCIA AMADO – É por isso que se tem uma proposta nova, diferente da que
se tem hoje.

O SR. MAURO SANTOS – Essas são as diretrizes nacionais e internacionais que


estamos discutindo. Porque o projeto é apresentado com uma vertente, e o que acho
muito bom da questão humana é a descentralização, e a não centralização; redução da
escada do edifício, e não da verticalização.
Essa solução de verticalização foi uma solução de arquitetura moderna, nas décadas
de 1960 e 1970, que já está ultrapassada do ponto de vista da boa relação e da
qualidade dos ambientes; do ponto de vista das proximidades; do ponto de vista da
orientação domínio espacial. Orientação e domínio espacial em um edifício, em
qualquer tema, tem que ser qualquer um, desde o preso até os profissionais e
visitantes. Ela, inclusive, vai ser usada em cada uma dessas categorias de maneira
diferente, inclusive do controle.
Relação do ambiente interno com o exterior e natureza. Nada disso tem a ver com a
questão da segurança. Eu preciso ter relação com o verde. Eu preciso ter relação com
a natureza, mesmo mantendo toda a segurança. Essa história de colocar barreira na
frente das celas, das janelas, já reduzidíssimas, ela só agrava a questão da ventilação.
Se você for olhar, a maioria dos presídios faz isso, por uma questão de proibição da
perspectiva externa. Discuti isso com vários profissionais da área penitenciária e de
segurança, e chegamos à conclusão de que poderíamos ter o processo de vedação da
comunicação, do olhar, da passagem de objetos, através de uma perspectiva
trabalhada e desenhada sem a exclusão mínima. Porque ver o lado de fora, ver uma
grama aqui do meu lado, traz tranquilidade e me traz reflexão. Isso, para um ambiente
prisional, é importante, inclusive, para sua vida interna. Isso não é luxo.
Referência residencial, aqui, não é o mar, o lar, a fantasia, não. Aqueles todos que nós

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 14/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

vimos são referências internacionais; veja como eles trabalham as celas: são quartos.
Ah, lá não tem segurança? Tem.
Privacidade e redução do estresse. Uma questão são as aberturas, ventilação natural,
principalmente nos ambientes onde é preciso ter o mínimo de privacidade e,
consequentemente, redução de espaço.
Adequação dos usuários, sobre isso a gente já falou.
Acessibilidade: facilidade de acessibilidade universal, acolhimento e convívio social e
participação dos acompanhantes, visitantes, parentes, amigos no processo que ali
estão previstos e precisam ser facilitados e não dificultados.
Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Professor Mauro, nós que agradecemos, muito


obrigado. Vamos recompor nossa rodinha aqui, vamos?
Depois de termos ouvido a explanação e exposição da Letícia e também do Professor
Mauro, nós agora vamos abrir para as falas. Agradeço aos que chegaram depois, e
peço que quem chegou sinalize para nós, porque todo mundo se apresentou. O Babá
eu já anunciei, o Vereador Tarcísio Motta também, estou vendo aqui a Rafaela, nossa
querida, está ali também o João conosco, Presidente da ONG Eu Sou Eu. Quem mais
chegou depois? Breno está aí, do gabinete do Babá. Tem mais representação de
algum outro vereador? Então, vamos às falas.
Eu estou deixando o microfone rodar. Eu tenho aqui algumas pessoas inscritas, tem
aqui a Márcia Badaró, o Professor Cunca, João Raimundo, a Professora Kátia,
Professora Alexandra; mas o microfone vai rodar. O Babá e o Tarcísio querem falar e a
senhora também, Rafaela. O microfone vai rodar.
Pâmela, você escreve para mim, fazendo o favor? Vou passar então a palavra para a
Márcia Badaró, para a gente não se alongar muito.
Nós podemos combinar assim: não estou fechando um tempo, mas só para que mais
pessoas possam falar, que tenham mais síntese na fala.

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Bom, eu, enquanto representante do Fórum Permanente


de Saúde no Sistema Penitenciário e tendo trabalhado 32 anos no sistema
penitenciário, o Fórum vem se preocupando muito com essa proposta desse conjunto
vertical.
Sobre as questões de saúde, acho que a Alexandra, por todo o trabalho da pesquisa
dela pela Fiocruz, e o Professor Mauro apresentou bastante, explanou muito bem as
preocupações dele, que são as do Fórum também. Tem uma questão: eu não sei se o
projeto que tenho aqui é diferente do que foi apresentado. Trouxe aqui algumas outras
informações que não tenho, até gostaria de saber de você se a gente pode ter acesso,
ter com a gente esse projeto que você apresentou.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Eu vou pedir, então, se você puder, Letícia, tanto
você quanto o Professor Mauro, que disponibilizem para esta Audiência a
apresentação de vocês e a gente socializa pela lista de presença depois. Pode ser
assim?

A SRA. LETÍCIA AMADO – Pode.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Muito obrigado.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 15/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Essa questão do módulo de saúde, por exemplo, que eu
não sei se eu entendi bem, mas você disse que entre cada conjunto haverá um módulo
de saúde para cada.
É vai ter que ter o microfone ali.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Em cada unidade existe sala de uso exclusivo para cada
uma das atividades necessárias, tanto saúde, quanto educação, espaço ecumênico,
multiuso.

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – E esses espaços são multiutilizados? Eu acho que é a


pergunta que a Alexandra Sanchez fez.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Na verdade, isso é uma questão mais da Administração, de


como vai ser administrado. Os espaços estão previstos, mas se vai ser administrado
com mais de uma atividade ou sendo substituída uma atividade por outra, conforme
seja a necessidade da unidade – aí, eu não vou ter como saber. Mas existem espaços
previstos em cada uma das unidades e existe o espaço compartilhado.
Com relação numérica, a questão do número de pessoas que fazem uso, esse projeto
foi submetido ao Depen, que é o dono das diretrizes nacionais. Foi analisado tanto pela
Seeduc, na parte de educação, como os profissionais da área de saúde, analisando
qual é a realidade e as necessidades hoje. Então, os projetos, esses espaços foram
calculados de acordo e foram submetidos também à análise do Depen.

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – É porque o projeto que chegou a mim, que nós
analisamos, não tem nenhum espaço de sala de atendimento da psicologia, por
exemplo. Então, não aparece.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Tem psicologia e psiquiatria.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Eu vou pedir que a Letícia guarde as questões


colocadas e coloque ao final, senão fica um bate-bola e a gente não...

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – A questão que me preocupa muito é a da saúde mental.


Um espaço como este, nós do Fórum, também me questionei o tempo todo: por que
não uma construção horizontal em uma área que é absolutamente permitida? Há área
suficiente para fazer. Essa área verde que compõe o ambiente é fundamental para que
a pessoa se sinta, minimamente...
A gente se lembra, como o Professor Mauro já citou, da construção do prédio da Uerj,
que me fez lembrar isso. Aquele monte de concreto. Nós temos um índice de suicídio
alto na Uerj. Um banho de sol naquela laje, para alguém se jogar lá de cima ou ser
empurrado lá de cima – não vai surpreender ninguém, porque é possível isso
acontecer.
Essa questão das rampas... Bom, em primeiro lugar, eu quero dizer a vocês que,
enquanto funcionária, mesmo aposentada e circulando na Seap, de vez em quando,
quantas vezes eu já cheguei ao prédio da Seap e subimos cinco, seis andares de
escada, porque os elevadores estavam sem funcionar por falta de dinheiro para a
manutenção.
Eu me questiono: daqui a minimamente um ano, como é que esses elevadores vão
estar? Que custo a gente vai ter de manutenção para isso?

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 16/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Essas famílias que já passam por um sofrimento de levar as suas sacolas, subindo
rampas e mais rampas, chega lá ao elevador, mas não está funcionando. Sobe rampa,
e desce rampa. Isso vai gerar uma questão de possível afastamento de ida desses
familiares. A gente sabe muito bem da importância do acesso da família, as suas
visitas – é ela que leva medicamento, alimentos, é ela que leva roupa. Então, esse vai
e vem de rampas e de sobe e desce... Sinceramente, pela minha experiência no
sistema prisional, acreditar que esses elevadores vão estar em pleno funcionamento é
muita ingenuidade, é muita ingenuidade!
O Fórum vem se preocupando com essa questão da saúde mental, das equipes. Nós
temos problemas sérios de falta de recursos humanos. É estranho, porque no
momento em que a gente tem as unidades do jeito que estão, com os problemas
graves de família, com ausência de profissionais da área de saúde, absolutamente...
Hoje mesmo, eu abri o e-mail, antes de vir para cá, o e-mail do Fórum, a queixa dos
familiares para nós era: “Não há médico”, “Não há assistente social”, “Não há
psicólogo”... Não há! Então, o governo, em vez de se preocupar em dar melhores
condições para as unidades que já existem, trabalhar em cima daquilo que é
necessário e colocar recursos humanos, ele vem com um projeto dessa ordem. Então,
isso é extremamente preocupante para nós.
Eu passo a palavra. A gente tem pouco tempo para circular a palavra. Então, a gente
se manifesta aqui, enquanto Fórum de Saúde, bastante preocupados com isso.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Vou passar para o João aí mesmo, que está ao
seu lado. Antes, porém, eu quero sugerir aos dois vereadores presentes e aos
vereadores aqui representados que a gente faça um pedido à Mesa Diretora de que
quando esse projeto for ser debatido, quando ele tomar número e for debatido, que a
gente consiga trazer também o Professor Mauro para ajudar na coletiva de vereadores,
para a gente esclarecer.
Aliás, há um projeto de lei nosso tramitando na Câmara desde 2010, que é um projeto
de que quando vierem temas polêmicos como este, por exemplo, que haja a
possibilidade de ter o contraditório da Tribuna – alguém que defenda tecnicamente,
porque nós vereadores não somos técnicos, não somos especialistas em muitos
temas, mas esse projeto não conseguiu lograr êxito. Mas na reunião prévia na Mesa
Diretora, com os vereadores, vamos sugerir, Tarcísio Motta, Babá e Vereador Renato
Cinco, que está aqui representado também. Vamos sugerir que a Mesa acolha a
presença do Professor Mauro para fazer o contraditório do que for apresentado pelo
Estado.
Com a palavra, o Senhor João.

O SR. JOÃO LUIS SILVA – Obrigado. Bom dia a todos e todas. Eu me chamo João
Luís. Sou um dos fundadores de um grupo chamado “Eu sou eu, reflexo de uma vida
na prisão”. Sou estudante de Direito e sou egresso desse sistema prisional já
degradante, humilhante e exterminador.
A gente, olhando da perspectiva de quem foi afetado, diretamente afetado com todo
esse sistema, muito me preocupa uma ideia de um presídio vertical, para quem sabe o
que acontece no dia a dia da prisão. Primeiro, que a gente sempre tem a preocupação
e tem uma observação da seguinte questão: quem pensa a prisão, quem escreve
sobre prisão, quem faz os projetos arquitetônicos das prisões, não vai à prisão, não
conhece prisão. A gente tem ideias absurdas como a de um presídio vertical.
A gente tem que entender o que se quer com esse projeto. Eu já peço desculpas se eu

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 17/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

vou fazer um prejulgamento aqui e algo que não seja real, mas o que se quer não é
humanização, não é a ressocialização, seja lá o que queriam dizer. O que se quer é
construir um monumento de aprisionamento e de punição, de onde as pessoas possam
ver ao passar pela Avenida Brasil, ou seja, que “se prende no Rio de Janeiro, coloca-se
pessoas em situações degradantes, que aqui se paga pelo crime que comete”, dentro
de um projeto, dentro de um projeto que visa não só o governo, que visa pleitos
políticos presidenciais.
O governador está surfando nessa onda do punitivismo, da punição exagerada,
exacerbada, do encarceramento em massa, isso com foco em uma possível eleição de
2022, mas à custa de muitas vidas. Nós temos pessoas morrendo hoje. Um número – e
aí o João Marcelo, que está sempre, e os doutores da Defensoria Pública que estão
sempre nas unidades podem dizer melhor – enorme de pessoas que já morrem nesse
sistema que tem pouca ventilação.
Como o Professor Mauro já trouxe, e a gente já vem conversando de outras vezes, não
há ventilação, não há sol e para quem conhece toda aquela geografia de bambu,
quando é sol, meu irmão, é sol de verdade! Quando é frio, gela a ponto de a pessoa
que nunca teve uma doença respiratória acabar tendo.
Eu não duvido, em hipótese alguma, dos estudos que o Professor Mauro fez e traz aqui
apresentando sobre essa questão do banho de sol. Do sol batendo em algumas celas
– e celas que não terão sol durante o ano inteiro. Isso vai agravar ainda mais a questão
da tuberculose do sistema prisional. Sem contar que a gente já teve um surto de
meningite há pouco tempo.
O que se quer é matar! Desculpa essa fala mais dura. Mas o que se quer é matar, não
é punir pelo crime que se fez. Hoje, a gente está vivendo uma questão de punição com
pena de morte indireta. Porque eu não me considero, eu uso essa palavra “egresso” às
vezes, mas eu não costumo usar muito. Eu sou sobrevivente. Eu sobrevivi. Quantos
amigos de cela eu vi morrerem! E não morreram espancados. Pasmem os senhores,
não morreram estuprados, não morreram por qualquer questão de violência. Morreram
por causa da degradação do sistema de saúde prisional. Da falta de acesso.
A gente acompanhou o processo de morte de um companheiro que sentiu um
formigamento no braço esquerdo. Mas levou mais de duas horas para que alguém
viesse atender. O cara morreu em nossa frente, enfartando. O que se faz para
solucionar isso? Constrói-se um prédio. Constrói-se um condomínio. Condomínio da
morte. Um projeto onde a gente vai colocar pessoas amontoadas.
Hoje, vão ficar amontoados de verdade, uns em cima dos outros. As pessoas que
passarão ali, algumas terão orgulho de morar nesta cidade onde se colocam presos
diante de toda a cidade. Porque é isso que parte desta sociedade quer. Quer ver o
preso como aquele instrumento de punição e como um comercial de uma política
fracassada, que há muito não deu certo, que é o aprisionamento.
A gente tem mais de 40% de presos em prisão provisória hoje. Parte significativa
desses 40% será solta depois da audiência. Não terão uma punição de privação de
liberdade. Sem contar o dano que isso traz para quem vai para o presídio todo dia.
Tanto os familiares, quanto os agentes. A gente também fala a partir dessa saúde
mental e física dos agentes prisionais. Serão partes afetadas, como já têm sido. Hoje
existe um número muito grande de agentes que estão afastados dos seus serviços.
Eu tenho uma experiência muito particular. Depois que eu saí da prisão, que fui levar
meu pai a uma Unidade de Pronto Atendimento da Vila Kennedy e vi uma enfermeira
conversando com uma médica que estava perplexa com o número de pessoas daquela
redondeza, daquele espaço da Vila Kennedy em Bangu, o número de pessoas que se

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 18/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

apresentavam com tuberculose – coisa diferente dos demais bairros da Cidade do Rio.
Mas isso sinaliza o seguinte: aquilo que é criado dentro da cadeia vem aqui para fora.
Querer a degradação e a piora do ambiente prisional para o preso é querer também a
piora do tratamento para as pessoas que estão aqui fora. Pensar no adoecimento do
preso como uma forma de punição, privação da saúde, é adoecimento da comunidade
como um todo – da sociedade como um todo.
O que a gente quer, nesta casa Pública de representantes do povo, é que seja
pensado que aquelas pessoas estão privadas da sua liberdade, e não dos seus
direitos.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, João Luís.


Passar agora para o Marden, o Professor Marden, da UFF. Saúde Penal.

O SR. MARDEN MARQUES – Fica até complicado falar depois desses relatos, desses
depoimentos tão bonitos e brilhantes.
Mas, assim, eu acho que falar de presídio necessita de uma discussão que é mais
complexa do que soluções simples, não é? Quando a gente fala de verticalização do
presídio, a gente está falando de uma solução simples. A ideia não é essa, a gente tem
que tratar ideias complexas de forma complexa.
Então, falar de presídio, a gente tem que falar de milhões de questões que envolvem a
questão do aprisionamento e da violência como um todo.
O presídio é um sistema punitivo. Nunca serviu para ressocializar ninguém. Essa ideia
é balela, a gente sabe disso. Então, a ideia que está sendo construída aqui é de
verticalizar para punir cada vez mais e prender cada vez mais. O problema do
encarceramento tem outras questões que envolvem, por exemplo, o próprio sistema de
Justiça. A gente prende mal. O que é prender mal? Nós temos uma quantidade enorme
de quarenta e poucos por cento, aqui, no Rio, acho que já chega a 42% ou 43% de
presos provisórios. Isso aí já está errado.
Além disso, a gente tem também prisões que poderiam estar dentro de alternativas
penais. Ou seja, tem alternativas à prisão que poderiam ser aplicadas melhor do que o
próprio aprisionamento. Então, a gente está falando de construir presídios, sendo que a
gente está lotando esses presídios de pessoas que poderiam não estar ali, já poderiam
estar dentro da comunidade, prestando seus serviços à comunidade, como alternativa
penal ou pecuniária e por aí vai. Até mesmo a justiça restaurativa, tornozeleiras e por
aí vai.
Bem, além disso, a gente tem a questão da saúde mental. Tem um filme que teve
grande repercussão de bilheteria que é o “Coringa”. Aí, toda vez que eu ando pela rua,
eu fico vendo os coringas que o próprio sistema capitalista e a maneira com a qual a
gente trata as pessoas nesse sistema têm gerado. Vejo coringas por todos os lados, e
a gente continua produzindo Coringas dentro do sistema prisional.
Já que a gente está falando de arte, tem gente do Coletivo Silêncio aqui. Eu fiz essa
reflexão quando eu tava passando e já passei por várias áreas do sistema. Então, o
sistema prisional também produz essas pessoas.
A gente produz doença ali dentro. Eu sempre digo que o sistema prisional é uma
bomba-relógio. Quem entra no sistema sabe que as doenças que aparecem, as
pesquisas que nós encomendamos na época que eu estava na gestão apontam para
isso. Tuberculose, em primeiro lugar, não é Alexandra? – Nossa querida também está
ali presente o tempo inteiro –, por conta dessa arquitetura penal que é montada a cada
vez mais para diminuir janela e luminosidade dentro das celas.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 19/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Outra questão que são as próprias doenças sexualmente transmissíveis. A sífilis está
altíssima; HIV... Pasmem! Infecção rábica humana. Eu fiquei pensando: “Gente, o que
é a necessidade da vacina antirrábica humana como 4º indicador de problema de
saúde dentro do presídio?” Aí eu falei: “Eles devem estar soltando os cachorros em
cima dos presos”. Não é isso! Os animais circulam ali dentro, tem muito gato, muito
cachorro dentro do sistema prisional e rato. Rato é o que mais tem também. Esse
contato com esses animais gera Infecção rábica humana. Aí, a gente vai vendo os
agravos todos aparecendo, e esses agravos, como o colega bem relatou, vão todos
para a comunidade, a família visita, os agentes estão em contato.
Quando eu entrei na gestão, em 2011, a gente começou a ver morte por gripe. Eu falei:
“morte por gripe? Tem alguma coisa errada! Preso morrendo por gripe? Doenças
pulmonares poderiam ser tratadas”. Fui à imunização do Ministério da Saúde e falei
assim: “Vem cá, vocês não estão vacinando os presos, não?”. O pessoal: “Não, a gente
nunca pensou nisso”.
Eu Falei: “Por que a gente não pensa em vacinar os presos? Vamos vacinar para
H1N1!” Só com essa ação de vacinação dos presos e dos agentes já modificou o
cenário. As mortes diminuíram – não completamente, obviamente – porque nem todos
são imunizados. Ainda tem isso. As ações, às vezes, não chegam dentro do sistema
prisional como um todo. Nutrição a mesma coisa. A gente tem um caos instalado
dentro do sistema, e para modificar isso aí para mim é acabando com as prisões. Essa
é minha visão antiprisional e abolicionista penal.
A gente precisa pensar não em construção de prisões, mas em pensar nesse
fenômeno de uma forma complexa para ver se a gente acaba com esse sistema, que é
um sistema que adoece as pessoas e não as recompõem num âmbito social. É isso.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT)- Obrigado, Professor Marden. Passar a palavra para


o Professor Cunca Bocaiuva.

O SR. PEDRO CUNCA BOCAIÚVA – É claro, bom dia a todos e todas, que nós todos
concordamos que a prioridade é diminuir a população encarcerada. Duplamente tanto
em função do modo como é aplicada a lei, quanto em função das políticas públicas de
juventude e educação, quanto geração de emprego, saneamento básico. Políticas
massivas para a cidade, como também, do ponto de vista judiciário, do ponto de vista
dos direitos.
Em um país em que a gente tem uma população encarcerada que não passou pelos
trâmites jurídicos, nós temos uma enorme margem hoje de redução da população
carcerária estrategicamente na questão da legislação antidrogas e na questão da
possibilidade do acesso aos direitos elementares: audiência de custódia, coisas
elementares. Então, a gente tem que construir presídios preparados para audiências
de custódia, para a porta da liberdade, para a conexão com a comunidade e para
interação socioambiental e produtiva e para a relação com a cidade.
Que arquitetura é necessária? Essa arquitetura pode ter verticalização? Pode. Eu
posso construir escolas, salas de aula, eu posso construir academias, eu posso
construir leitos hospitalares, eu posso construir inclusive alguns alojamentos e ampliar
a hotelaria e os sistemas. Eu posso combinar. Eu posso fazer uma cidade carcerária de
outro tipo que dialogue com a cidade.
Se eu tenho uma cidade em que eu não tenho um campo de futebol em uma
comunidade, eu nunca vou pensar em uma prisão com campo de futebol, mas é
impossível abrir uma prisão cujo centro não seja uma quadra, por exemplo. Não existe

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 20/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

possibilidade humana de vida, só para pensar o que é o conceito de arquitetura que


nós estamos lidando.
Uma prisão tem que ter uma quadra? Uma prisão tem que ter leitos hospitalares? Ou
seja, uma prisão tem que ter lugares de interação com a cidade?
O que é a cidade produtiva? É o galpão fabril ou é a horta produtiva ou é o ateliê
produtivo? Que tipo de produção hoje uma cidade vai ter? Quer dizer, o que é a
produção que a gente vai desenvolver: montagem eletroeletrônica, plantar flores etc.?
Como é a sustentabilidade? Porque a gente também quer reduzir custos.
A gente não produz margens de sustentabilidade, margens de sustentabilidade têm
que ter políticas de segurança alimentar. Cultiva-se alguma coisa, faz-se produção de
hortaliças? Quer dizer, essa região é seca, mas também é um o ecossistema propício a
transformações produtivas, ambientais, florestais e hídricas.
Eu tenho que ter possibilidade de manejo dos recursos hídricos, quer dizer, eu tenho
uma área, então, já que eu estou entrando na função social da propriedade em área
pública no Parque do Gericinó e estou considerando que é emergencial o contexto,
então vamos tratar o contexto emergencialmente nas três emergências: redução da
população carcerária, construção de um conjunto de elementos de atendimento físico,
social, sanitário, humano e jurídico. Assim, nós vamos criar esse novo espaço de
design.
Eu fiquei aqui consultando e vi que tem várias possibilidades, não tem problema. Claro,
como eu vou fazer a urbanização da Rocinha? O Toledo combinou para pegar o
problema do saneamento... Ele pensou como fazer verticalização com
horizontalização. As favelas têm que ter isso. Como eu lido com a Muzema?
O adensamento em uma área construída é diferente do adensamento em uma área
não construída. Então é óbvio que eu posso construir esses prédios de outra maneira.
Claro que eu posso reduzir custos com construção vertical, desde que eu tenha as
fábricas.
Eu tinha um dia a fábrica de escola, eu tinha um conceito que era o Centro Integrado
de Educação Pública (Ciep). Então, o Ciep era um tipo de construção, um tipo de
arquitetura. Hoje em dia a gente não faria dessa forma, a gente faria um conjunto mais
variado de formas construtivas para pensar o novo Ciep, não é isso?
Eu acho que a gente está aqui, essa discussão é muito propícia para transformar a
discussão estratégica que impõe um depósito vertical carcerário com risco, mesmo que
se faça um enorme esforço de circulação de ar, é impossível, esse ambiente é
impossível.
Todo mundo vai ficar basicamente contido, não há possibilidade humana de ter um
objeto do lado, não há possibilidade humana de o sujeito pregar uma coisa em uma
parede, quer dizer, uma fotografia da família, um elemento qualquer, o elemento
mínimo de humanidade. Então, esses elementos exigem, ao contrário, aproveitar se
tenho uma disposição de utilizar um determinado espaço para que ser um espaço que
articule.
Quer dizer, prédios com cobertura verde. São coisas completamente diferentes, ou
seja, há questões elementares que são produzidas. Todas as soluções arquitetônicas
têm que estar hoje subordinados aos avanços tecnológicos, quer dizer, como se dá o
gasto de energia, como se dá a renovação, todos os elementos ambientais porque nós
temos que estar em diálogo com a construção da cidade.
Nós já estamos cheios de destruições, o projeto do Porto Maravilha, os projetos de
construção de torres, os desastres do Parque Olímpico, todas essas opções
arquitetônicas condicionadas, todas têm consequência desastrosa.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 21/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Nós vamos ser centro da Arquitetura e Urbanismo Mundial ano que vem, quer dizer, já
se sabe do fracasso do depósito humano, tem que sair da cidade gueto. Nós estamos
transformando radicalmente, radicalizando essa hipótese de criminalização social,
quando não temos nem saneamento, quer dizer, nós não geramos emprego com
saneamento e não é por falta de meios internos, de recursos materiais, eu não preciso
de nenhuma tecnologia sofisticada. Então, ao contrário, o problema não é oposição ao
elemento vertical, é a natureza do objeto que está sendo construído.
Concordo com a sua intervenção, ou seja, além de ser um elemento simbólico na
contramão da necessidade do sistema, que é a redução da população carcerária, é
negativo do ponto de vista também das condições do objeto que faz a Arquitetura ser
inovadora na relação entre horizontalidade e verticalidade, na combinação de usos, em
condições mínimas.
Não pode ter um determinado espaço de manejo que seja uma regressão desse nível,
que a gente tenha um depósito humano aqui e um elemento fabril aqui, inclusive
porque não existe mais essa fábrica, esse modelo de fábrica não existe, nem na China,
nem em Cingapura onde tentaram inventar esse presídio vertical ultraprodutivo,
flexível.
O custo era tão grande para flexibilizar, que além disso essas populações são divididas
em tempos de encarceramento, gravidade das situações, ou seja, a escala de 3.000
não trabalha com o que o próprio sistema constitui como elemento da sua criminologia,
quer dizer, ela está na contramão até da criminologia existente, que não é essa
massificação gigantesca porque, na realidade, crime organizado é produzido pelo
Estado, é óbvio, põe milhares de pessoas depositadas em condições subumanas, que
têm que criar estratégias de vida.
Não sei quais serão as estratégias de vida, isso é verdade, ou seja, de fato as
economias horizontais e de conexão são maiores, não sei como as pessoas poderão
sobreviver porque as pessoas, para sobreviver, precisam compartilhar outras coisas,
não sei como será isso nesse modelo. Além disso, aquelas galerias assim são
espaços... O dia inteiro você em confronto visual com alguém do outro lado...
Quer dizer, porque mesmo aquele espaço, a melhor coisa desse sistema é que ele é
aberto aqui, a jaula aqui está aberta, uma de frente para a outra, não fecha com a
tranca tradicional, seria um avanço para compensar, no caso para as pessoas não
morrerem aquecidas, na realidade fica um choque frontal, um de frente para o outro,
quer dizer, do ponto de vista das condições do dormitório coletivo nesse espaço? É
inimaginável o espaço de ruído, o espaço de odores, o espaço de relações...
Bem, eu acho que todas essas coisas têm que ser pensadas, sem precisar a solução
tão drástica de impor às pessoas a vida draconiana. Podemos usar alguns exemplos
de quartéis, já que estamos tão militarizados; quartéis têm campos de futebol, as
camas são colocadas, como você falou, sem ser no alinhamento, coloca-se na
verticalidade, na relação perpendicular com as paredes, quer dizer, nós podemos
pensar que até a arquitetura de caserna, que também é uma arquitetura de opressão,
ela é uma arquitetura já hoje plena de modos de conexão, ela é profundamente
horizontalizada a caserna e é um regime de alta disciplinar porque estamos num país
onde o modelo é disciplinar, tem que ser policial, tem que ser militar, e esse é o modelo
que enquadra e forma gente.
Se esse é o modelo que enquadra e forma gente, também podemos tirar algumas
lições positivas dessa arquitetura, essa arquitetura tem verde nos quartéis, tem
espaços de convivência, tem clubes, tem espaços de saúde, espaços de atenção
familiar, só para dizer que acho muito interessante que a arquitetura esteja nos

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 22/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

convidando, neste momento, a pensar e acho muito interessante porque o projeto


oficial nos ajuda a pensar as potencialidades que nós podemos devolver para os
arquitetos do Estado, ou os que trabalham com isso, ficarem menos condicionados. Se
me impõem colocar o teleférico, eu não vou trabalhar com o plano inclinado. Tem
consequências. Mas se eu vou trabalhar com isso, se eu vou trabalhar com uma torre,
eu posso trabalhar. Trabalha com uma torre hospital, trabalha com uma torre escola.
Então, há possibilidade de pensar esses condicionamentos. Mas se a gente não abrir,
é um desastre completo, do ponto de vista arquitetônico e urbanístico, se a gente fizer
dessa forma, porque a gente só está fazendo depósito humano.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Professor Cunca.


Com a palavra, a Professora Kátia Mello, da Escola de Serviço Social da UFRJ.

A SRA. KÁTIA MELLO – Bom dia. Para quem chegou depois, eu sou antropóloga e
trabalho na Escola de Serviço Social da UFRJ. Venho, nos últimos três anos,
trabalhando com o tema “prisões”, mais particularmente fazendo o recorte de gênero
sobre as mulheres encarceradas em situação de maternidade.
O que eu gostaria de falar aqui, para contribuir um pouco com o diálogo da arquitetura,
pode parecer óbvio, mas o óbvio está tão na nossa cara que, às vezes, a gente não
enxerga. Enquanto eu estava ouvindo as apresentações – eu queria agradecer pelas
apresentações e pelas falas das pessoas que estão aqui –, eu me lembrei muito dos
livros de um jovem escritor contemporâneo, daqui do Rio de Janeiro, que é o André
Mussa. Em um de seus livros, ele diz o seguinte: “Quer conhecer uma sociedade? Veja
os crimes que são cometidos nessa sociedade”. Eu acrescentaria: quer conhecer uma
sociedade ou uma nação? Olhe para as prisões.
Eu gostaria imensamente que, hoje, nós tivéssemos podendo debater aqui quais as
etapas e os caminhos que deveríamos seguir na direção do abolicionismo penal. Mas,
infelizmente, não é isso o que temos para hoje. Então, temos que discutir o que temos
para hoje. A minha fala é nessa direção. Eu acho que, para contribuir na discussão
dessa arquitetura prisional, ela fala muito de uma sociedade que nasceu em cima da
escravidão, de uma sociedade que escravizava pessoas negras vindas da África e que
continua discriminando e matando pessoas negras já nascidas aqui também.
Esse projeto me parece reforçar a ideia de que, hoje, mais do que punição, nós
estamos vivendo um momento que, particularmente, eu acho muito perigoso – acho
que não sou a única a pensar isso aqui –, em termos das políticas que vêm sendo
implantadas, principalmente no âmbito da Justiça Criminal e da Segurança Pública.
Essa arquitetura me lembrou muito sabe o quê? Campos de concentração da época do
nazismo. Não são câmaras de gás, mas são câmaras para fazer morrer, por tudo o que
já foi colocado aqui, principalmente. Eu não sou da área de saúde, mas compreendi
perfeitamente as questões levantadas aqui.
Sabe, Márcia, a primeira coisa que eu pensei quando eu vi aquela foto ali no slide,
tomar sol na laje, foi em quantidade de “suicídios”. A facilidade com que “suicídios”
serão cometidos será muito grande. Então, eu queria lembrar isso.
Novamente, eu acho que o sistema prisional fala a respeito de uma sociedade. O
sistema prisional brasileiro mostra uma sociedade, que é a nossa, que entristece, que
adoece e que mata. Eu acho que essa arquitetura é uma arquitetura para matar. Ela
não é mais só para punir, ela é para matar.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Professora Kátia.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 23/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Com a palavra, agora, o Vereador Babá.

O SR. VEREADOR BABÁ – Primeiro, o seguinte: em 2012, quem se lembra do Instituto


de Assistência dos Servidores do Estado (Iaserj), ali atrás do Instituto Nacional de
Câncer (Inca)? Foi um hospital construído a partir da contribuição de servidores
municipais, estaduais, e que tinha 400 leitos. Por um acordo entre Governo Federal e o
governo do Cabral, numa madrugada a PM invadiu. Eram 400 leitos e pessoas na UTI
que foram retiradas na marra. Derrubaram o Iaserj com o discurso de que iriam ampliar
a área do Inca, tão necessária hoje para o tratamento de câncer, onde, inclusive, faltam
médicos.
Só para demonstrar a vocês a brutalidade de um governador que se, ao invés de
derrubar o Inca, passasse uma semana numa dessas cadeias, ia pensar duas vezes se
roubaria ou não o estado, correto? Estou colocando isso aqui porque me revolta. Um
dinheiro desses, com esses prédios, essa coisa toda, quando a saúde está um caos,
quando a nossa educação está um caos, porque a melhor forma de combater a
violência urbana é justamente dar educação de qualidade para a nossa criançada, para
nossos jovens e tudo mais.
Eu coloco isso porque, quando eu vi a explanação, ela mostra claramente o quê? A
mente de um assassino, que é o Governador do Estado, Witzel. Isso deve ser um
simpatizante do Hitler, assim, de longa data. Por quê? Ele deu uma declaração dizendo
que, se tivesse autorização da ONU, ele jogaria um míssil na Cidade de Deus.
Lembram? Correto? Um assassino, porque ele é o mandante.
Só em 2019, até agosto, foram 1.249 mortes nesses conflitos abertos da polícia com a
população. Quais são as declarações do assassino Witzel? Eu o chamo de assassino
ali da Tribuna da Câmara e repito aqui, porque ele é um assassino. Uma mente
assassina pensa num presídio dessa forma.
Se construíssem, eu esperaria que ele fosse tomar sol lá num desses presídios se
fosse preso, porque eu espero que não seja concluída essa ideia assassina dele. Isso
é um absurdo, um dinheiro que é para ser aplicado na saúde. Ali, até hoje, o que tem
no lugar do Iaserj? É um monte de escombros. Não fizeram nada. Poderiam pegar
esse dinheiro para construir um novo Inca para atender a população, ou os hospitais
que estão precariamente atendendo à população, ou as nossas escolas, que estão em
situação precária, com problemas graves de saúde dos profissionais que atuam tanto
nas escolas municipais quanto estaduais, em que professores têm sérios problemas,
está certo?
Isso tudo, na verdade, e o que ele diz? Que serão caçados nas comunidades e
abatidos. O companheiro ali relembrou, justamente, o que era feito na caça aos que se
transformaram em escravos na África. Os que saíam correndo eram abatidos. Esse é o
pronunciamento dele, a forma de um pensamento.
Estou falando isso porque espero que um dia ele seja preso, que nem o Cabral está
hoje. Deve ter muito mais privilégio do que outros presos, correto? Mas eu ainda
espero que um dia este Governador do Estado vá para uma cadeia para pagar pelos
seus crimes, que é o que ele está fazendo.
Quem falou ainda há pouco aqui foi aquele companheiro – eu esqueci o nome dele.
João Luis, que teve a infelicidade de passar uma temporada no regime prisional, está
certo? Ele felizmente está aqui com a gente. Ele conseguiu se recuperar, conseguiu
sair de lá, mas a quantidade de jovens que estão ali é enorme.
É importante ressaltar que o que resulta da escravidão – podem fazer a comparação
dos presos – é a ampla maioria de jovens negros que são presos por nada. São

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 24/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

presos, às vezes, por furtarem um pacote de bolacha dentro de um supermercado ou


na rua correndo. Não tem perdão, vão direto para o presídio. Não tem esse negócio. A
justiça é outra fonte de corrupção neste país, que preserva os poderosos, e os
pequenos que se lixem.
Eu encerro aqui falando da necessidade de que este debate seja feito ali dentro
daquele Plenário, para mostrar aos vereadores da base do Crivella. Se o Crivella
quiser ficar conivente com o crime do assassino Witzel, ele que assuma essa culpa.
Nós vamos fazer de tudo para impedir que isso seja aprovado. É temeroso. Eu fiquei
espantado. Quando falaram presídio vertical, a gente não tem a ideia do que foi
apresentado aqui. A ideia terrível do que é isso.
Por isso, seria importante que o senhor Witzel passasse uma temporada lá em Bangu,
para ele fazer um treino. Para ele saber o que é uma cadeia. Porque ele um dia vai
parar lá. Eu, quando coloquei 1.200 pessoas, foi até agosto. Porque extrapolando até
agora de mortos, incluindo Tainá, Ágatha e outras crianças que estão sendo
assassinadas, já chegam a 1.561 pessoas que foram assassinadas só este ano.
Cadê o Iaserj? Cadê os nossos hospitais? Esse dinheiro é para ser utilizado para as
nossas escolas, ao invés de ampliar o número de vagas em cadeia. Nós temos, na
verdade, que ter uma política de diminuir os que já estão presos, e não ampliar mais
vagas. É revoltante, mas é isso que a gente tem que travar. Porque o Witzel, eu repito
aqui, é um assassino. Eu quero até que ele me processe. Porque ele vai ter que pagar
o preço disso aí. Porque ele é um assassino mesmo. Porque quem pensa e diz: “Olha,
se a ONU me liberar, eu jogo um míssil na Cidade de Deus”, é um assassino. Mente
assassina. Só uma mente assassina pode pensar em um presídio desse vertical. Não
tem outra resposta para isso.
Nós vamos para o combate, dentro do que nós podemos fazer aqui dentro desta
Câmara, para impedir que algo seja aprovado aqui dentro. Mas este debate tem que ir
para a sociedade em geral. Não pode ficar só preso aqui dentro dos plenários da
Câmara. É necessário colocar esse debate para a sociedade.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Vereador Babá.


Vou passar a palavra para a Rafaela, e depois para a doutora Alexandra.
Antes de a Rafaela falar, eu só quero dar um dado para vocês. Eu acompanho duas
comunidades, comunidades que têm perdido as suas moradias. Uma comissão que eu
presido acompanha. Eu estou acompanhando recentemente, atualmente, duas
comunidades. A comunidade da Eternit e a comunidade de Barros Filho. Eles estão
com um problema porque estão querendo remover 10 famílias da Eternit. Pois,
pensem, ontem – só para ver essa questão da perseguição aos pobres e do
encarceramento –, de manhã cedinho, chega lá a Guarda Municipal, Polícia Militar, a
Cedae e a Light. A Cedae e a Light foram dizendo que eles estavam fazendo gato e,
portanto, teriam que ser presos.
Aí, foram exatamente as 10 famílias, de uma comunidade enorme, que precisam ser
removidas. Elas foram conduzidas nas patrulhas policiais até a Cidade da Polícia para
prestar depoimento. Com muito custo, a Defensoria Pública, o Núcleo de Terras e
Habitação da Defensoria Pública, doutora Maria Júlia e doutora Adriana Bevilaqua
estiveram lá e garantiram que a delegada não exigisse deles fiança. Portanto, pôde
liberá-los sem fiança. Mas é isso. Então, é isso mesmo, a perseguição aos pobres.
Com a palavra, Rafaela.

A SRA. RAFAELA ALBERGARIA – Bom dia a todos. Eu sou Rafaela Albergaria. Sou

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 25/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

membro do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura. Eu acho que é


muito importante a gente situar esse debate. Quero dizer que eu vi, acho que na
explanação de algumas pessoas, dizendo que a gente estava falando da técnica e, na
verdade, é importante a gente perceber que a técnica é política.
Quando a gente debate o modelo de cidade, o direito à cidade, a ocupação do espaço
público, a gente está falando não só de uma gestão e de uma construção de cidade
que é meramente técnica: a gente está falando da gestão e da construção de uma
cidade e da gestão de condições de políticas de espaços públicos que são
perpassados por interesses, olhares, concepções e noções políticas.
Quando eu olho para as fotos, para as ilustrações, para o projeto que se apresenta, me
vem à cabeça a imagem de outro cemitério vertical. Quem conhece Bangu, e acho que
é muito importante, queria deixar um convite do mecanismo de prevenção e combate à
tortura para a equipe de arquitetos para fazer uma visita conosco no Jorge Santana,
por exemplo, para entender qual é a estrutura prisional. É muito fácil a gente
apresentar qual é o projeto e a maquete desassociado de qual é a materialidade, quais
são as demandas concretas da realidade de quem vive o sistema prisional.
A gente tem falado tanto da importância de disputar esses espaços, acho que o projeto
que vocês apresentam aqui deixa isso muito nítido. Quem constrói as obras, quem
gera as políticas públicas... elas estão muito afastadas daqueles corpos e daquelas
pessoas que, materialmente, são atravessados por essas políticas.
Mesmo na obra de presídios verticais, a questão de circulação de ar, do
enclausuramento, da falta de saneamento, são grandes vetores de adoecimento, não
só das pessoas que estão presas, como foi posto. Em 2017, eram mais de 18 mil
pessoas que faziam visitação e que vivenciavam esse ambiente de enclausuramento,
que vivenciam esse ambiente insalubre e de vetor de doença, de sarna, que a gente já
deveria ter superado, mas que ainda, por essas condições, estão colocadas.
Eu acho que isso mostra também a invisibilidade dessas pessoas; o quanto é grande
esse ranço punitivo. A gente está falando de arquitetura prisional, e não dá para
desvincular do debate do sistema penal. Isso me remete, também, à época da
escravidão, porque não sei se vocês sabem, mas o Congo foi um dos primeiros reinos
a sofrer com processo de escravização portuguesa transatlântica. Portugal funda o
comércio de escravo transatlântico. O racismo não nasce dentro desse processo; mas
o racismo de marca sim.
A princípio, as pessoas que eram postas para escravização eram as que tinham
cometido alguns delitos condenáveis naquele reino. E, aí, esse tráfico transatlântico
marcado pela cor da raça instaura um processo de escravização pela marca da cor da
pele.
A gente vive isso no Rio de Janeiro ainda hoje, pois 40% da população prisional são
presos provisórios. Há prisões arbitrárias, por condenações arbitrárias. No Rio de
Janeiro, que ou mata ou prende, tem crimes selecionados a partir dos corpos
destinados para ocupar aqueles espaços. Aí, você me fala de um complexo industrial e
fico me questionando quantos outros corpos vão ser capturados e sequestrados, para
serem empregados nesse complexo industrial.
Acho que a gente precisa colocar essas demandas, e o que é o sistema prisional; qual
é a materialidade; por isso, te pergunto se você conhece Bangu. Porque é impensável,
a gente sabe que o calor é um inferno em Bangu, e baixa a imunidade, além de terem
pessoas lá que estão superfragilizadas.
Na unidade Jorge Santana, por exemplo, e vou mais uma vez reforçar o convite do
mecanismo para que vocês participem de uma visita de monitoramento, para que

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 26/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

possam entender do que se trata a arquitetura prisional. O Jorge Santana é uma


unidade que recebe presos baleados, tem gente sem mão, com uma gazezinha toda
suja de sangue, porque é isso! Tem gente com bala na cabeça! E olhar para isso e
dizer: “A gente vai construir mais prédio”. Vai amontoar mais gente. Para mim, a
sensação que passa é a de um cemitério vertical, da produção sistemática de morte e
do enclausuramento, porque essas relações não estão desvinculadas, não estão
descoladas.
Quando você coloca aí que são seis presos, dentro de um espaço de, no máximo, 16
m², já é irregular, inclusive. Porque o mínimo que está previsto são 6 m² por pessoa.
Então é de fato a produção de enclausuramento de corpos que a gente precisa pensar.
Como a gente pensa essas construções coletivas é, sim, obra de um projeto de um
governo violento e genocida, voltado aos territórios de periferia; mas é, sim, obra. É um
projeto genocida, que também é obra, daqueles que estão implicados nessa
construção. É obra também dos arquitetos que estão implicados nessa construção de
produção de morte. Acho que a gente precisa olhar para isso, precisa olhar que são
pessoas que estão ali.
O questionamento que o Mauro traz, então porque a gente não faz um teste? Coloca
um contêiner, lá em Bangu. Faz um teste antes. Coloca todos os engenheiros e
arquitetos que estão envolvidos na obra para passarem um mês lá. E, aí, se vocês
ainda acharem que é viável, a gente parte para discutir esse projeto. Porque a gente
não consegue olhar para os presos como pessoas que têm relações, que são pessoas.
Não dá para construir um cemitério vertical. Desculpem...

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Nada. Obrigado, Rafaela.


Só quero fazer não uma correção, mas uma lembrança. Você falou de 6 m² por pessoa,
na verdade são 16 m² para seis, na verdade nós estamos falando aí de 2.66 m² por
pessoa. Obrigado.
Com a palavra, Doutora Alexandra.

A SRA. ALEXANDRA SANCHEZ – Eu sou Alexandra Sanchez, da Fiocruz, e trabalho


com saúde nas prisões.
Eu gostaria de chamar a atenção para alguns pontos, além de ter concordado com
todos os comentários, achei todos pertinentes.
Eu acho que a gente tem que atentar também para o fato de que esse projeto, na sua
concepção, traz uma novidade que é muito perigosa, e que a gente tem que refutar de
uma maneira enérgica: que é a questão da minimização dos serviços de saúde,
educação e trabalho.
O acesso das pessoas a esses serviços está minimizado ao extremo nesse projeto. Na
apresentação da Letícia, ela fala de uma maneira muito fluida, muito superficial, “que
vai ser na sala multiuso; vai estar na dependência da finalidade da utilização da sala
multiuso; vai depender da direção; pode ser escola, pode ser igreja, pode ser sala de
visita, pode não ser nada”. “Uma parte está embaixo, no térreo”, mas no térreo,
provavelmente, não tem a quantidade suficiente de salas de aula, de consultórios de
saúde. Então, isso está claro.
Já assisti a várias apresentações desse projeto e, em nenhuma delas, é definida qual é
a relação de salas de aula, número de presos, número de consultórios. Porque isso
tudo está definido na legislação do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde. O
número de consultórios depende do número de presos. As vagas de escola dependem
do número de presos. Em nenhum momento, esse projeto aponta isso. Ele sempre é

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 27/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

apresentado de uma maneira genérica, de uma maneira global, falando na


ressocialização, mas negando os principais meios de acesso, que já são muito
escassos nas prisões horizontais, e serão muito piores na prisão vertical.
Ao lado de toda a questão estrutural, arquitetural – que foi muito bem apresentada pelo
Mauro, o João comentou muito bem também – mas a gente não pode esquecer dessa,
porque é a primeira vez, no estado, e talvez no país, que se constrói uma prisão
ignorando esses direitos básicos de acesso à educação e à saúde. Então, eu acho que
a gente tem que focar na ventilação, e eu foco nisso porque é a minha área, mas eu
acho que a gente não pode esquecer essa questão da saúde e do acesso aos serviços
básicos.
Uma sala multiuso precisa estar definida no projeto. Não é o diretor da unidade que vai
definir para quê ela vai ser utilizada, onde é que vão estar os serviços.
Em relação à saúde, eu acho que tem uns dados que são importantes para que as
pessoas tenham consciência. Todo mundo já sabe que a tuberculose é a principal
doença do sistema penitenciário. Talvez o que muita gente não saiba é que ela é a
doença que mais mata no sistema penitenciário. Ela mata oito vezes mais as pessoas
presas do que as pessoas livres. A gente sabe que quem morre de tuberculose hoje
são as pessoas pobres, as pessoas de comunidade, de favelas, na população geral.
Mas isso, na prisão, é oito vezes maior. Isso é de uma gravidade enorme, é
inexplicável, é inaceitável.
Outra doença que é muito importante, que todo mundo que vai a uma prisão sabe, são
as doenças de pele. As doenças de pele, que começam com uma escabiose, ou pode
começar por um impetigo, um pelo encravado, que vira uma septicemia. Essa
septicemia mata. É a terceira causa de morte no sistema penitenciário por doenças
infecciosas. Isso é muito grave. Isso é desassistência.
Isso é causado por quê? Da mesma maneira que a tuberculose, ela é propiciada e
disseminada pelas condições de ventilação e iluminação que são horrorosas, que vão
ser piores nesse sistema vertical. Como foi demonstrado, as doenças de pele têm
relação com o acesso à água, com o acesso ao sabão, com acesso a lugar para lavar
e secar roupa, que, aliás, é uma coisa que não foi falada aqui e que faz parte da nossa
vida diária, e também da vida diária das pessoas que estão presas.
Hoje, as pessoas naquelas celas enormes que a gente tem nas prisões, com 100
pessoas onde deveriam ter 20 ou 30. São espaços ainda amplos, como isso aqui, por
exemplo, metade daqui, podemos dizer; e é nesses locais que as pessoas penduram
suas roupas. Elas lavam no banheiro e penduram nesse lugar sombrio e úmido. As
roupas ali secam, não é? No presídio, onde elas vão fazer isso? Onde vai ser a
lavagem de roupa? Vai ter uma lavandeira? Isso não foi falado.
Mas, enfim, hoje, o que a gente vê hoje? As pessoas lavam, secam ali naquele lugar
insalubre, lavam mal, tomam banho mal, porque tem que economizar água, porque não
tem sabão. Então, um simples pelo encravado ou uma simples escabiose são causas
de óbito; morte por uma doença disseminada por uma infecção de pele. Então, isso é
uma coisa muito importante.
Quando a gente vê que, nesse projeto, a situação não vai melhorar... porque eu nunca
vi uma coisa dessas. Isso devia ser proibido. Você ter um chuveiro que é em cima do
vaso sanitário, que é no chão... Então, como você vai tomar banho? Dentro do vaso
sanitário? Isso é uma coisa desumana. É uma coisa de uma mediocridade que eu não
consigo imaginar como um arquiteto pode conceber uma coisa desta: botar um
chuveiro em cima de uma privada. Isso não existe.
Então, eu acho que tem coisas que a gente tem que atentar. Pela questão de saúde,

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 28/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

não se tem dúvida de que a situação piora. As principais doenças estão ali e não
estamos prestando atenção na proliferação delas, nem das de pele, nem das
respiratórias, principalmente a tuberculose.
A questão do acesso ao trabalho, do acesso à educação... Quando a Letícia começou
a apresentar, fez um discurso bacana, de reinserção, de introdução de trabalho, de
disponibilização de indústrias, de serviços, de trabalho para as pessoas presas, dentro
do complexo – eu nem entendi muito bem, não ficou muito claro –, mas aí você vê a
área de trabalho nessas unidades. Elas ficam onde? Ficam no térreo. Para 4.000
pessoas, quem sabe 8.000 pessoas? Que trabalho é esse? Que atividades vão ter?
A gente sabe que a saúde, o trabalho e a educação são serviços que vão entrar nas
cadeias, na medida em que elas têm um espaço previsto para serem desenvolvidas.
Uma Secretaria de Educação não vai disponibilizar um professor se você não tem sala
de aula para ele trabalhar. A indústria não vai querer investir numa produção de seja lá
o que for se não tiver um espaço para as pessoas trabalharem. Então, isso inviabiliza
qualquer tipo de atividade dentro da unidade.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Ok.

A SRA. ALEXANDRA SANCHEZ – Eu acho que o resumo é isso: um cemitério vertical.


Eu acho que quem passa no Caju vai ter a mesma ideia do que estão pensando lá em
Bangu.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Doutora Alexandra. Muito obrigado.


Nós temos algumas falas. Eu vou aqui só lembrar aqui quais são elas: Vereador
Tarcísio Motta; Marlon, da Defensoria Pública; Edson Sodré; Ana Alice; João Marcelo;
Marcela; Adriana Greta; e a Paula Maracajá. Se faltar alguém, me falem.
Vou pedir um pouco mais de síntese nas falas. Com a palavra, o Vereador Tarcísio
Motta.

O SR. VEREADOR TARCÍSIO MOTTA – Vou tentar ser bem rápido, Vereador Reimont.
Então, primeiro quero agradecer a presença aqui da Letícia, pela sua exposição. Eu
perdi o início, porque eu estava em uma reunião da Comissão Permanente de
Educação também pela belíssima exposição e crítica ao projeto.
Eu acho que a gente tem... Na minha cabeça aqui, fica que existem dois patamares de
discussão. Um deles tem a ver com a contradição, a incoerência existente entre o que
é o discurso político do governador em relação ao tema amplo da segurança pública e
o discurso que é apresentado como justificativa para este projeto.
Um primeiro nível da discussão é sobre – embora a Letícia venha aqui apresentar um
projeto que tenha como, também fez assim o vice-governador aqui na sala da
Presidência – quem apresentou o projeto. Que diga que é um projeto que pretende
humanizar o presídio, aumentar a dignidade humana no presídio, que aumente a porta
de saída dos aprisionados, porque confere acesso ao trabalho, existe um discurso que
lastreia a proposta.
É contraditório com o próprio discurso amplo do governo. Aí, é óbvio, a
responsabilidade não cai sobre os arquitetos que fizeram a proposta, etc. cai,
sobretudo, sobre, como é que a gente acredita que é o governo que diz: “Vai mirar na
cabecinha”. É o governo que atira de helicóptero, não é, para cima das favelas. É um
discurso do ódio, sobretudo. Aí, agora, a gente imagina que é esse mesmo governador,
com esse mesmo discurso, que ao olhar para aqueles que estão aprisionados e

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 29/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

condenados, aí, não! É, vamos dar dignidade, ressocializar, dar acesso ao trabalho,
etc. Então, tem uma dimensão que a gente não pode abstrair.
Nós não podemos discutir essa coisa separada. É esse governador que disse a
campanha inteira, e eu o enfrentei na campanha, que ia investir em inteligência, em
investigação e agora cortou 87% das verbas para investigação e inteligência na política
de segurança pública. As coisas não estão desconectadas. Portanto, é preciso que a
gente entenda que existe essa dimensão.
Existe uma segunda dimensão, que é o seguinte: então, vamos, tudo bem! Estamos
acreditando que, de fato, o Witzel e toda a equipe que pensou isso estão preocupados,
sinceramente, com a dignidade. Eu imagino que grande parte da equipe esteja, embora
as ordens, a adesão política não seja nisso, mas então vamos partir do princípio de
que então é esta a preocupação.
O projeto não me parece resolver os problemas que estão apontados, pelo contrário.
Parece piorar o problema. É preciso que nesta dimensão, que é uma dimensão
também importante, o que me parece que a gente está concluindo aqui de uma série
de falas é que não há razão econômica para a verticalização, e que o processo da
verticalização não trará dignidade, de que o processo de inserção do trabalho na
educação não está claro sobre como vai acontecer, e tende a ficar mais complexo
ainda o fato de que os problemas da questão saúde e dignidade piorarão nesse
sistema.
Mesmo que a gente acredite nas intenções, na forma, no desejo, naquilo que justifique,
a realidade do sistema prisional, tão bem aqui colocada pela Rafaela agora há pouco,
mostra que o que vai acontecer nesses presídios não é a manutenção dessa
dignidade. Na verdade, mais e mais encarceramento, mais tortura, menos condição,
menos preocupação, menos dignidade, etc. Por isso, a gente aqui precisa na Câmara
dizer não a esse projeto de alteração de gabarito, porque é isso que esta Câmara vai
analisar.
Esta Câmara de Vereadores vai ter de autorizar ou não a mudança de gabarito na área
do Gericinó para este projeto que está aqui colocado. Aí, a gente vai ter todo um
trabalho de convencer o conjunto de vereadores. Mesmo que acreditássemos que as
intenções do mesmo governador que fala que vai mirar na cabecinha seja dar
dignidade aos presos, isso não vai acontecer no condomínio da morte, que vai ser
erguido, se a mudança de gabarito acontecer.
Esse elemento, eu acho que é, em minha opinião, o que a gente precisa, porque a
gente não pode... Aqui dentro da Casa – o Reimont e o Babá sabem disso – muitas
vezes, para justificar um voto favorável ao governo, os vereadores vão dizer: “Isso aí é
coisa da oposição, que está só querendo porque é oposição ao Governo Witzel. Só
estão falando isso porque eles são oposição ao Governo Witzel”.
Nós, então, vamos dar um voto de confiança ao governo. Nós precisaremos ir além do
primeiro nível do debate, que é o da crítica política ao governo, para crítica que é
técnico-política, porque não se separa técnica nesse ponto de vista, para poder mostrar
que este processo não faz sentido do ponto de vista econômico. Não faz sentido do
ponto de vista da saúde pública.
Ele não toca nos reais problemas, que são os 40% de presos provisórios. Ele não toca
no problema de ampliação das audiências de custódia que poderiam diminuir, e das
penas alternativas que poderiam, sim, diminuir a população carcerária e que poderiam,
sim, apontar para caminhos que a gente pudesse, de fato, então, trabalhar a questão
da dignidade humana daqueles que estão privados de liberdade no sistema prisional.
Eu acho que essa é uma tarefa difícil. A gente precisa, o Vereador Reimont já falou

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 30/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

aqui. A gente não pode considerar que esse debate, embora seja muito importante,
seja o único debate a acontecer nesta Casa.
Quando o projeto de lei retornar a esta Casa, é preciso ter uma audiência pública, em
que a gente, inclusive, traga os trabalhadores do sistema prisional, traga mais
egressos, traga o saber da academia que está muito presente aqui hoje nas diversas
áreas, mas que a gente traga, também, o povo aqui para poder falar, para que a gente
possa criar massa crítica para de alguma forma influenciar nesses vereadores, para
que esse projeto, aqui, onde se discutirá apenas o gabarito não passe para que a
gente possa impedir que esse condomínio da morte seja erguido lá em Bangu, em
Gericinó.
Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Vereador Tarcísio Motta.


Com a palavra, Marlon, nosso querido da Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro.

O SR. MARLON BARCELLOS – Boa tarde. Obrigado pelo convite.


Eu proponho uma fala curta, até porque muito do que nós nos propusemos a trazer
aqui já foi dito; então, não vale a pena repetir por repetir.
Entendo o papel dos arquitetos da Seinfra, que tem um pressuposto por eles
inquestionável de que é verticalização, que é uma opção política que não é deles –
penso eu, não sei –, é do gestor. Aliás, até criticamos a opção política do gestor que
deva ser pelas alternativas penais, como o Mauro falou.
Agora, em relação à Seinfra, nós, encarecidamente, insistimos que precisamos do
projeto. Desde fevereiro, a Defensoria vem insistentemente pedindo o projeto, que é
um ponto. Vocês disseram que já passou pela saúde, passou pela educação... A
Defensoria fornece um dos serviços, uma das assistências; tem a assistência
educacional, assistência à saúde, assistência material e tem assistência jurídica. Nós
estamos lá operando um dos serviços e até agora não sabemos se a gente vai ter sala
lá. A gente precisa desse ponto. É importante para nós.
Alguns cuidados que tenho que ter a partir do modelo de verticalização, todos eles
foram muito bem cuidados aqui, mas eu não sei se isso faz parte exatamente, porque a
gente não tem toda a documentação. Eu sei que não é obrigação legal, mas não há um
estudo de impacto de vizinhança, ou há? Estudo de impacto de vizinhança, foi feito
algum? Estudo de impacto de vizinhança no processo?

A SRA. LETÍCIA AMADO – Ele não vai ser colocado em uma área residencial, uma
área externa, dentro do complexo.

O SR. MARLON BARCELLOS – Sim. É. Exatamente por isso a lei não obriga que haja
o estudo, mas houve algum? De certo modo, ele traz algum impacto para a urbanidade
da região. Não houve?

A SRA. LETÍCIA AMADO – Justamento porque ele vai ser dentro do complexo não
precisaria.

O SR. MARLON BARCELLOS – É uma preocupação que tenho. Do ponto de vista do


município, pensando...

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 31/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

A SRA. LETÍCIA AMADO – Sim, isso tudo está previsto. Ampliação dos sistemas.

O SR. MARLON BARCELLOS – A questão das alternativas penais que a gente expõe
aqui, mas na verdade não é o debate da Câmara, pensando na Câmara, pensando da
perspectiva do município e dos munícipes. Tem toda a questão que o Mauro colocou
da simbologia, de uma verticalização, a questão de quem passa por uma Avenida
Brasil, percebe um presídio vertical. O município recebe um piso de atenção básica fixo
para cada munícipe que lá está, mas também os outros que não são munícipes.
Com a criação de mais vagas no Município do Rio de Janeiro, o Município do Rio de
Janeiro passa a estar mais obrigado a prestar assistência à saúde a quem lá está. Com
a verticalização criando desafios de locomoção vertical, isso passa a estar mais difícil.
Existe uma ação civil pública contra Município do Rio, justamente, para isso, para que
o município preste um serviço de assistência à saúde pelo piso de atenção básica.
As campanhas de vacinação se tornam mais difíceis porque o acesso às pessoas se
torna mais difícil. O município tem também que prestar o serviço de verificação de
óbito. Esse é um serviço que está sendo montado pouco a pouco. Imagine o drama
que seria remover um corpo e verificar o óbito no nono andar de um prédio que não é
um prédio comercial do Rio de Janeiro, é um edifício penitenciário em que todo mundo
que está ali fica. Não é um prédio com salas comerciais, o que já seria um drama no
Centro do Rio de Janeiro, imagina um presídio, e morre gente.
O Léo já fez um levantamento hoje. Este ano, foram 178 pessoas mortas no centro
penitenciário, 30% morrem dentro da unidade prisional. Então, isso é frequente.
Vamos lá, haveria 3.456 pessoas ali no Plácido, quando tinha quatro mil pessoas,
morriam quantas por ano em média?
Eram 32 pessoas por ano, sendo os corpos removidos de um presídio vertical. Qual
seria o impacto social para as outras pessoas vendo aquele corpo sendo removido?
Sim, sem contar que o Município do Rio de Janeiro está no movimento ou aderiu
completamente à política nacional de atenção integral à saúde dos privados de
liberdade. Isso tem reflexos na própria arquitetura prisional. Não se sabe se isso está
refletido no projeto de vocês. Isso se reflete na área da saúde nos ambulatórios.
Agora, no ponto de vista dos munícipes, há uma discussão importante. Um projeto
daquele valoriza ou desvaloriza a região para os munícipes? Será que os munícipes
querem um projeto daquele? Os que moram lá e os impactos que vai trazer.
Quem conhece mais... Uma pena que a Seap não está aqui. Tinha um engenheiro...
Ele iria dizer, com certeza. Nesse projeto, a ideia é fazê-lo ao fundo do complexo ao
lado do Jonas Lopes. Não é isso?

A SRA. LETÍCIA AMADO – Inicialmente, o Plácido é o primeiro que a gente pretende.


A gente não, o governo de uma forma geral pretende desativar e substituir as vagas.
Inicialmente, os primeiros são construídos nos poucos terrenos livres e depois os
terrenos do Plácido vão ser demolidos.

O SR. MARLON BARCELLOS – Tem ao fundo, não é? Bem ao fundo, perto do Jonas
Lopes. Ali tem um problema que não é de vocês, dos arquitetos, mas é um problema
que eu acho que o município precisa encarar.
Ali é conhecido como fim de linha do abastecimento de água do complexo, então, por
mais que a Cedae vá lá e historicamente é um serviço municipal, apesar de todas as
controvérsias...
Os municípios de uma grande região metropolitana optaram por entregar a Cedae,

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 32/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

que, por todos os esforços, melhorou esse serviço e muito, mas ainda é fim de linha.
Por ser fim de linha, no verão, quando muitas vezes dá algum problema, o Jonas
Lopes sofre com isso porque é o primeiro a ser desabastecido, e o último a ser
abastecido quando a água volta.
A opção de colocar um vertical lá me parece que piora essa situação, porque são muito
mais vagas, e uma opção vertical exigiria um reservatório maior ainda para poder
abastecer e manter o ritmo. O reservatório não conseguiria ser por cima, teria que ser
embaixo e bombeando a água.
Por fim, a verticalização dificulta quase todas as assistências. Seriam diariamente
distribuídas 3.456 quentinhas ao longo de todo ele vertical. Na parte do café da manhã,
do almoço, são quatro refeições por dia. Torna-se pior à medida que o acesso é
sempre por terra.
No horizontal, como é o Vicente Piragibe, no Plácido – o Plácido já chegou a quatro mil
pessoas –, você espraia isso ao longo da horizontalidade, o que não consegue na
verticalidade.
Que bom que vocês conseguiram fixar a respeito do regime, estabeleceram o fechado,
porque até então isso era uma indefinição e impacta no projeto. A partir do regime, tem
uma expectativa da arquitetura...

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Depois, ela vai responder ao final.

O SR. MARLON BARCELLOS – Por fim, são duas dúvidas pontuais, a respeito da
abertura da cela para o exterior, que você informou que era de 2 m2. Nós temos uma
informação de um registro anterior, que não sei se corresponde ao projeto atual, de que
a parede tinha 16 m2 e, considerando a informação de 40% da norma técnica, se a
abertura teria os 40%. Essa é uma dúvida pontual.
A segunda dúvida pontual é a respeito de pontos elétricos nas celas porque isso...
Sempre a referência da saúde é a Alexandra, mas é verdade porque ela é sensacional.
Os presos têm muitos equipamentos de nebulização. Eles têm que fazer. No mínimo,
esse é um dos que necessitam do equipamento elétrico e, se não tiver a tomada, como
algumas unidades não têm, eles não fazem e, se não fazem, às vezes vão para óbito.
É mais ou menos por aí.
Obrigado pela oportunidade de estar aqui e também pelo evento em si, pelo
conhecimento que está sendo produzido aqui.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Marlon.


Nós vamos encerrar. São 13h15 e ainda tem algumas pessoas para falar. A gente quer
voltar aqui para a Letícia e para o Mauro. Acho que em meia hora nós encerramos. Vou
pedir um pouco mais de rapidez nas falas, por favor.
Com a palavra, Edson Sodré.

O SR. EDSON SODRÉ – Eu gostaria de chamar a atenção para o fato de que existem
dois modelos que poderíamos tomar como referência, um modelo representado pelos
Países Baixos, tipo Noruega, Holanda, Dinamarca e Suécia, enfim, onde estão até
fechando as prisões, porque lá o programa de desencarceramento é combatido
distribuindo renda.
A gente sabe que, distribuindo-se renda, diminui a criminalidade. Ao mesmo tempo,
temos o modelo americano que prova isso também, porque Detroit era uma cidade
muito rica e, quando teve uma crise econômica lá, aumentou muito o índice de

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 33/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

criminalidade, o que prova que a pobreza está associada a isso.


Eu vejo que, em um país como o nosso, não queremos combater a pobreza porque
isso diminuiria a criminalidade, e as autoridades não querem que a criminalidade
diminua em nosso país, mas a reflexão que eu faço é que os Estados Unidos oferecem
o mau exemplo e oferecem o bom exemplo.
O mau exemplo é esse modelo que está sendo importado dos Estados Unidos, que foi
previsto em uma obra chamada “As prisões da miséria”, que algumas pessoas devem
ter lido, do Loïc Wacquant, que ele escreve sobre esse modelo de prisão americana,
que está sendo exportado para o mundo inteiro e que pressupõe, quando vejo falar no
trabalho do preso, é uma lógica de explorar o trabalho do preso, pagando o menor
salário possível e é uma lógica de uma nova escravização.
Quando eu digo que os Estados Unidos oferecem os bons exemplos é porque o que
não presta, no meu modo de pensar, são os governantes americanos. O povo
americano é um povo como outro qualquer no mundo inteiro, mas os intelectuais
americanos produziram obras que criticam o sistema penitenciário americano.
Nós temos o documentário da 13ª Emenda, que fala tudo isso que vou tentar falar em
rápidas palavras. Temos livros que foram produzidos, já citei o do Loïc Wacquant: “As
prisões da miséria” e “Punir os Pobres”.
Depois disso, tem a Michelle Alexander, que escreve também um livro e cita o Loïc
Wacquant, quando ela escreve “O encarceramento em massa”, “O surgimento de uma
nova casta” e fala dessa questão dos guetos. Enfim, a obra de Loïc Wacquant foca
isso, do preso como um novo escravo mesmo, para ser explorado aquele trabalho do
preso. A Michelle Alexander já fala isso, do gueto. Se você estiver incomodando, você
vai ter que trabalhar dentro das cadeias.
Depois, tem a Angela Davis, que fala sobre aquilo que já foi falado aqui, que o sistema
penitenciário é composto, na maioria, por pessoas negras e totalmente pela maioria
pobre. Eu nunca vi um rico na cadeia e, se tiver, ele fica em um cubículo especial, no
caso. Porém, meu raciocínio é que é preocupante essa escolha, porque a gente
desiste da parte mais bela do ser humano.
Por exemplo, quando eu vejo que tinha antropóloga presente, tem psicólogas, médicas,
a gente sabe que a criminologia fala que o sistema penitenciário deveria ser
semelhante a hospital. Ou seja, você chega lá, é recebido por uma equipe técnica, que
vai fazer o diagnóstico do seu problema social – com psicólogas, assistente social,
enfim, essa casta de profissionais –, que vai adequar qual o melhor tratamento para o
seu problema social. A partir disso, você vai receber o tratamento para voltar ao
convívio social, e não é assim.
O que eu vejo é que virou um campo de concentração, como já foi falado aqui, e não
há nenhuma política de ressocialização do preso, nem a preocupação de esse preso
voltar para o convívio social. Porque nesse momento do pacote – eu nem vou falar
pacote anticrime – desse pacote de matar o preso na cadeia, onde eles estão
querendo aumentar a pena do preso de 30 para 40 anos, então, se pressupõe que o
preso vai morrer na cadeia. Quando tiver trabalho, é para o preso ser explorado de seu
trabalho. Não vejo nenhuma preocupação nessa questão do retorno do preso à
sociedade.
Eu gostaria de falar uma coisa: o teatro tem uma coisa de bela, e a Medicina também.
Por incrível que pareça, eu estou querendo citar umas pessoas que são de teatro, mas
eles são, foram médicos. O Brecht falou que violento não é o rio, mas as margens que
o comprimem. É fácil a gente perceber isso, porque um rio com margens largas
geralmente é mais sereno; e os rios estreitos geralmente são mais violentos.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 34/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Eu percebo isso na prática, porque eu estive preso em uma cadeia que era menos
desumana, tinha cubículo individual. A cadeia abria às 6 horas e fechava às 20 horas.
Lá, não havia violência nenhuma. Conviviam ex-policiais, estupradores, bandido
comum, porque ninguém queria perder aquele espaço, que era um espaço menos
desumano do que nas outras prisões.
No entanto, assim que essa cadeia foi desativada, e a gente foi transferida para o
Complexo de Bangu, aquele mesmo coletivo, que foi mudado de espaço físico, quando
chegou lá, passou a ter os mesmos problemas que havia nas outras prisões. Porque,
agora, a gente não tinha o privilégio de um espaço mais humano. Aí, teve que dividir:
estupradores para um lado; ex-policiais para outro.
O que eu vejo – já que eu citei ex-policiais; pelo meu envolvimento no teatro, eu convivi
com ex-policiais – é que a galeria de ex-policiais era totalmente diferente da do preso
comum, porque os guardas tratavam todo mundo com mais educação, digamos assim,
com mais humanidade.
Eu fui bem tratado porque eu sou lido como branco e, talvez, porque eles me
confundiram com ex-policiais também. Então, o sofrimento nessa cadeia é menor. Já
na cadeia comum, o guarda vê o preso como inimigo.
Aí, eu devo falar dos intelectuais americanos, porque um deles, doutor em Psicologia,
escreveu um livro famoso, “O efeito Lúcifer”, que fala da questão de o guarda
penitenciário ver o preso como inimigo. Para eu não me alongar muito, a pesquisa dele
foi o seguinte: ele pegou alguns alunos dele da universidade, levou para um lugar e
simulou uma penitenciária.
Ele dividiu os alunos em dois grupos. Um dos grupos iria fazer o papel de guardas
penitenciários, e outro iria fazer o papel de presos. Em resumo: começou a ter tanta
violência nessa pesquisa que esse doutor teve que acabar com a pesquisa.
Realmente, estava virando o quotidiano de um presídio. Esse doutor estava virando
uma espécie de diretor da cadeia. Ele só foi se dar conta disso quando ele convidou
uma namorada dele, que também era psicóloga, para visitar a pesquisa dele, e ela,
com uma visão de fora, diagnosticou. Então, o que eu vejo é que a gente está falando
da arquitetura, mas não há uma mudança na política do tratamento humano.
Existem, no mundo, nesses países que eu citei, os Países Baixos, um lugar em que os
presos convivem tranquilamente com os guardas. Eu acho que, se tiver que haver
guarda, teria que ser em cima do muro, para não deixar o preso fugir, já que é a lógica
da segurança, mas no trato do quotidiano, tinham que ser profissionais educadores,
para tentar ressocializar esse preso.
Não alguém que vai ver o preso como inimigo. Geralmente, quem ele vê como inimigo
é o preto e o pobre que estão lá, porque quando é alguém é rico, eles logo oferecem
mordomia, cubículo individual.
Uma questão: foi citado aí, por uma senhora que estava do meu lado, que é no sistema
penitenciário que a gente vê a justiça do país. Eu fiquei emocionado com isso, porque
semana passada eu fui lá ao Jacarezinho. O Adriano, que estava aqui, é morador lá da
favela, e eu estava vendo uma questão que me lembrou que eu disse Rousseau, não
é?
Rousseau, na obra dele chamada “Emílio, ou da educação”, fala que é na choupana do
pobre que a gente vê a justiça de um país. Então, naquele momento que fomos à parte
mais pobre da favela, lá onde está tendo uma invasão, não é, Adriano? Então, eu vi
isso de perto ali, a tremenda injustiça que é este país, porque as pessoas que vão vir
parar no sistema penitenciário são aquelas pessoas mais pobres ali.
Para eu encerrar – eu sou um pouco mentiroso, talvez eu não encerre –, gostaria de

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 35/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

fazer uma citação de uma obra, “Utopia”, que é uma obra que eu li. Eu reescrevi
alguma coisa e ficou assim: “Não seria melhor garantir a cada criança o alimento, a
educação, a cultura e todas as condições necessárias a sua subsistência a fim de que
nenhuma criança ao crescer se veja na necessidade de cometer crimes primeiro para
ser presa ou morta depois?”.
Toda vez que eu falo isso me emociono, e não tem como não me emocionar, porque eu
vejo que o criminoso mais odiado pela sociedade é aquele jovem que nasceu na
pobreza tão grande, que ele não tem nem força nem inteligência para cometer um
crime. Ele termina cometendo o crime mais fácil, que é roubar uma mulher grávida,
roubar um telefone, roubar as pessoas mais pobres. Nisso que ele rouba as pessoas
mais pobres, traz sobre ele um ódio ao criminoso, um ódio que é explorado – o João
citou muito bem aí – no mundo inteiro.
Por exemplo, a gente sabe que o Governo Trump, nem sei falar o nome dele, mas não
importa, porque ele não merecia nem ser falado, ele se elegeu, e outros governantes
aí, no nosso próprio país nós temos o exemplo, com a lógica do bandido bom é o
bandido morto, do combate ao crime.
É natural que a gente não goste de ser roubado. Eu prometo a vocês que vou tentar
encerrar, mas a lógica que eu vejo é que nem o ladrão gosta de ser roubado, o ladrão
gosta de roubar. Na cadeia, se você for pego roubando, ou você morre ou você apanha
muito. Se você roubar na favela, ou você morre ou você apanha muito, porque
ninguém gosta de ser roubado.
Para concluir essa questão do roubo, por que as pessoas roubam? É uma questão
muito longa, mas eu queria encerrar propondo uma reflexão. Aliás, duas. Essa que eu
acabei de falar e outra. A Antropologia define o homem como um animal predador. O
que significa isso? Ladrão e assassino. Então, é só por meio da cultura e da educação
que a gente vai evoluir.
Se a gente continuar sendo governado por esses políticos lobos, desculpa as pessoas
que, de repente, têm convicções religiosas, mas por esses vendilhões dos templos...
Veja bem, no meu tempo, eu aprendi o Evangelho de Jesus Cristo; hoje em dia, os
vendilhões dos templos estão optando agora pela posse de armas ou ódio ao pobre.
Desculpa, que eu me alonguei um pouco aí, mas eu achei necessário.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Edson. Muito boa sempre a sua fala.
Com a palavra, Ana Alice.

A SRA. ANA ALICE – Eu vou ser bem breve, por causa do tempo. Gostei muito da
colocação dele, excelente. Algumas coisas que ele colocou eu até ia falar, já diminuiu
meu tempo. Sobre a questão do modelo vertical ou horizontal, concordo com o que
está sendo colocado, nem vou tecer muitos comentários.
Eu quero reforçar algumas coisas. Nós vivemos em um sistema capitalista, quero
chamar a atenção disso. Nós vivemos em um sistema capitalista que tem um exército
de reserva, e quer matar as pessoas, porque hoje o exército de reserva está muito
grande.
Tudo o que se faz hoje nas nossas comunidades, nos nossos bairros pobres, é
genocídio, assim como se faz na prisão, quer dizer, se aprisiona, além do que, vou
reforçar aquele primeiro livro que você falou, que eu tenho dificuldade de falar o nome
do cara, que é Wacquant.
Ele coloca uma questão que eu acho essencial a gente levantar, que é o seguinte:
aumentou o número de pessoas presas no mundo, nos Estados Unidos, no Brasil, etc.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 36/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Todo mundo capitalista resolveu que tinha que prender para resolver o problema da
violência, e a violência não diminuiu. Cada vez mais, a gente prende gente e não está
resolvendo o problema da violência. Então, o problema não é esse.
A gente aprisiona negro, pobre. É isso que a gente está aprisionando, e levando à
condição de genocídio, porque hoje o que se faz nas nossas comunidades, o que se
faz nos nossos bairros pobres, o que se faz dentro dos presídios, para mim é
genocídio. Deixar a pessoa vivendo naquela condição, deixar doenças que estão
aumentando como a tuberculose... De 2015 para cá, a gente dobrou o número de
pessoas com diagnóstico de tuberculose, fora o que a gente não está diagnosticando,
que sai de lá para morrer.
Houve casos que saíram de lá carregados para o hospital, para morrer de tuberculose.
Não conseguiram, sequer, fazer um diagnóstico lá dentro do presídio. Então, só para
concluir, eu tenho uma proposta para o vereador, para ele refletir, que é o seguinte:
existe um movimento de desencarceramento. Eu acho que é um movimento que a
gente tem que pegar.
Alguns juristas fazem parte desse movimento. Internacionalmente, o colega ali já citou,
existe um movimento de desencarceramento. Não adianta a gente ficar presa porque
não tem prova nenhuma. A gente só está produzindo miséria, aumentando a miséria e
aumentando a violência, porque não tem violência maior do que hoje é feito dentro dos
presídios.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Ana Alice.


Com a palavra, João Marcelo Dias, do Mecanismo.

O SR. JOÃO MARCELO DIAS – Boa tarde.


Vou tentar ser breve também, pelo avanço da hora. Primeiro, queria dizer que eu fico
muito satisfeito de ver tantos profissionais da Arquitetura envolvidos na questão.
Segundo, eu sinto muito que tenham sido envolvidos como possíveis solucionadores
da questão, porque eu acho que um arquiteto jamais vai dar conta de resolver um
problema da superlotação carcerária. Acho que nenhum outro profissional, que não do
Poder Judiciário, que eu também não vi nenhum representante aqui hoje, infelizmente.
Para a gente debater superpopulação, a gente precisa passar pelo Poder Judiciário
inevitavelmente, que é quem prende. Sequer a Seap tem gerência sobre as pessoas
que vão para lá.
Eu já vi muito essa apresentação que foi feita hoje aqui, esses slides. Vi algumas
coisas que não tinha visto ainda antes e compartilho algumas das preocupações das
pessoas que conhecem muito mais sistema penitenciário do que eu, tem muito mais
tempo aí.
Por exemplo, na semana passada, nós fizemos uma vistoria em Benfica, que já é um
presídio vertical. O Oscar Stevenson passou, recentemente, absorveu as presas do
Joaquim Ferreira. Então, agora temos um presídio de quatro andares lá.
As presas do quarto andar estavam reclamando muito que sequer conseguiam ver as
guardas. Então, se tiver algum problema, alguma emergência, isso era no quarto
andar, não era no quinto, no sexto e nem no nono. Era no quarto andar.
O fornecimento de quentinha, como o Marlon lembrou muito bem aqui... A gente teve a
oportunidade de ver como é feita a distribuição. As quentinhas chegam, e duas presas
são responsáveis por subir com as caixas de quentinha até lá. Então, as presas do
quarto andar estavam recebendo o almoço por volta das 16 horas, das 17 horas.
Novamente, quatro andares apenas. Eu fico pensando como vai ser quando forem

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 37/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

nove ou até mais, porque a gente não sabe, o projeto vai mudando, e o gabarito sendo
15, isso preocupa também.
Outra questão também que preocupou bastante e foi bem falada aqui é a questão do
fornecimento de água. Algumas coisas já vêm erradas de projeto. Acho que a
Alexandra pontuou muito bem a questão do chuveiro em cima do boi.
O boi também é um modelo que a gente já devia ter abandonado. Não é uma forma
nem um pouco digna de ir ao banheiro as pessoas terem que se abaixar,
especialmente as que têm deficiência física e dificuldade de mobilidade, mas, em 2016,
quando eu estava ainda na Defensoria, a gente fez também uma fiscalização no
presídio de Resende, antes dele inaugurar.
Uma das coisas que me chamaram a atenção, e eu relembrei aqui agora, é que o
chuveiro, alguns lá já eram também em cima do boi, e o projeto sequer contemplava o
misturador de água, porque já partia do pressuposto de que o preso não vai controlar a
própria água.
A gente sabe que isso é um problema aqui. O fornecimento lá no Jonas Lopes é muito
ruim. No Plácido também. Nós estivemos, o Marlon e o Léo estavam comigo, quando
fomos fazer uma questão de avaliação de água lá e solicitamos que o diretor abrisse a
água da cadeia toda. Em menos de 40 minutos, foram 15 ou 20 minutos, e a água tinha
acabado. Isso no Plácido, com 4.200, numa escala de superlotação. O vertical,
inaugurando com sabe-se quantos, não é? Porque eu caso dinheiro aqui que ele já
abre superlotado. Se não abrir, vão segurar, mas a superlotação global continua e,
depois, vai superlotar.
Uma coisa que eu também não tinha visto ainda no projeto – e que hoje me chamou
muita atenção e que é objeto de uma preocupação muito grande –, foi a questão do
galpão laboral, que está previsto ali, que seria para entrada de empresas, para
trabalho, e tal, etc. Eu me pergunto em que modelo as empresas chegariam nesse
galpão para se utilizar da mão de obra dos presos, porque, estruturalmente, a gente já
tem, no Esmeraldino Bandeira, um galpão parecido, que serve ao mesmo propósito, e
a gente pode ir lá agora e ele está às moscas, não tem uma empresa sequer. De vez
em quando, tem alguém fazendo vassoura, ou costurando bola, alguma coisa assim,
mas não tem um investimento nesse sentido, e me preocupa de qual seria o modelo
que vai trazer as empresas.
Aí, não consigo não pensar no Projeto de Lei nº 190, que está em trâmite na Alerj,
agora, e permite que a iniciativa privada se aproprie dessa mão de obra do preso, e
sob que circunstâncias a gente já imagina, porque os serviços que a gente já tem no
sistema prisional, e que são privatizados, notadamente saúde e alimentação, são
péssimos – quando não inexistentes, no caso da saúde.
Então, me preocupa muito essa entrada também da iniciativa privada sobre a questão
desse galpão laboral. Fico pensando que terrores vamos discutir, daqui a alguns anos,
caso isso venha a se concretizar.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, João Marcelo.


Com a palavra, Marcela, assessora da Deputada Estadual Mônica Francisco.

A SRA. ANA MARCELA TERRA – Boa tarde.


Eu ia falar, justamente, do que a galera do Mecanismo falou, porque, além desse
projeto, João, está tramitando na Alerj o Projeto nº 361 desse ano, do Deputado Bruno
Dauaire, que prevê trabalho voluntário, sem remuneração, de presos, que é igual a
trabalho escravo, até onde eu sei, porque você está dentro de uma prisão, não tem

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 38/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

nada de voluntário, para começar.


Quem é que vai escolher quem é que pode ou não trabalhar, quem quer ou não
trabalhar? Não remunerado, que é contra a Lei de Execução Penal (LEP) e, enfim, é
um monte de bizarrice. A Mônica é Presidente da Comissão de Trabalho, e nós fizemos
uma emenda... Não é nem emenda: além da emenda, a gente fez um parecer, porque
esse projeto passou pela nossa comissão. Eu, inclusive, conversei com o pessoal do
Mecanismo, para a gente fazer esse trabalho técnico de dizer que: “Olha, é
inconstitucional”. Na LEP já é um absurdo, mas, na Lei de Execuções Penais, tem que
ter, pelo menos, 1/3 do salário-mínimo, que o preso tem que receber.
Isso tudo é a mesma coisa, é só para a gente lembrar. De um lado, tem um
investimento em abrir mais espaço de prisão, que a gente, que é da Frente pelo
Desencarceramento, é contra a abertura de uma vaga sequer. A gente não quer mais
vaga: a gente tem que tirar as pessoas da prisão, não que ela fique mais humana,
como se fosse possível... Isso é uma coisa. Outra coisa é a privatização que o João
falou. Outra coisa é a entrada das indústrias, para trabalho escravo.
Então, isso tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Só para a gente lembrar que
Câmara, a gente lá na Alerj, o Governo Federal estão todos num processo muito bem
articulado, e em todos os âmbitos possíveis, tentando fazer isso com as prisões do
nosso país.
É isso.
Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Marcela.


Com a palavra, Adriana Greta.

A SRA. ADRIANA GRETA – Boa tarde. Eu não tinha me apresentado porque cheguei
um pouquinho atrasada. Meu nome é Adriana Greta, represento a Rede Trans, e a
população trans vem aumentando, como qualquer população vulnerável nos presídios,
e ela se torna muito mais vulnerável dentro deles.
Quando a gente fala de humanização, que esse projeto é de humanização, isso é uma
enganação, porque o governador não quer ouvir os segmentos e as pessoas que vão
usar esse serviço. Não se sei pode chamar isso de serviço, ou um desserviço. Então,
eu pego o gancho na fala do Babá, quando ele fala de outras prioridades.
Não que o presídio não seja, eu acho que tem que ser, mas o presídio já é
consequência da falta desses outros serviços fora, que são a Saúde e a Educação.
Porque nós estamos vivendo num país que está abrindo igrejas, nada contra, mas
estão fechando museus. Nós estamos fechando escolas e abrindo presídios.
A partir do momento que os segmentos que lidam diretamente com a população
carcerária não estão sendo ouvidos pelo governador, nada de humanização tem nesse
programa. É um programa faraônico. Ele quer deixar a marca dele no governo, e essas
marcas podem deixar marcas irreversíveis.
Aí, a gente tem que falar, sim, na questão. O Professor Mauro falou que ia se ater mais
à questão arquitetônica, porque é a sua área, mas a gente tem que se preocupar muito
com a questão financeira, porque a conta, quem vai pagar é a gente. Não precisa ser
acadêmico, não precisa estar na área para ver que manter um prédio é muito caro. Eu
trabalho mais ou menos com isso e, para a gente manter quatro pequenos elevadores,
a gente gasta R$ 10 mil por mês – isso, dinheiro privado. Coloque R$ 10 mil em um
ano: R$ 120 mil. Esse dinheiro poderia ser revertido. São R$ 10 mil porque é uma
coisa simples.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 39/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Quando você vai para a licitação, ainda tem a máfia da licitação, que a gente não sabe
o que está por trás disso. Então, é mais um ponto a ser pensado, a questão da
despesa, porque vai ter bombas para bombear a água para esses prédios. Uma vez
que eu sou da Zona Oeste, e lá já falta água. Então, é uma questão a ser pensada, que
já foi colocada aqui, e eu acho que a Letícia tem que...
Como arquiteta e tudo... Você é arquiteta, não é? Porque eu cheguei depois da sua
apresentação. Eu acho que até o governo, se ele estivesse interessado mesmo em
humanizar e se aproximar da população, ele teria mandado outros representantes,
porque, certamente, ele sabe o que está acontecendo aqui, em outras áreas. Não te
desmerecendo, Letícia, e obrigado por estar vindo, até para nos botar mais a par do
que é realmente o projeto. Então, a gente não pode falar em humanização, enquanto a
gente está há quatro meses tentando falar com o governador a respeito da população,
a qual eu milito...
Embora eu seja de um coletivo de mulheres cis também, eu sou de um coletivo de
pessoas trans. O governador tem um filho trans e, através, inclusive, do filho, que é
homem trans, nós tentamos, mas o filho disse que não tem esse “afrouxo”, não tem
como. Tentamos, por meio de assessoria, uma vez que a resposta foi que esse não é o
interesse do momento. Eles têm outras prioridades. Então, você vê que ele não está
preocupado com quem vai estar dentro desse sistema. Não está com as pessoas que
já estão...
Outra coisa: a se tratar de prédio, as tubulações são muito maiores. Uma dúvida
minha, porque a questão da proliferação de doenças através de insetos, enfim, uma
vez que as tubulações são bem mais complexas. Então é isso, e obrigada.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Greta.


Com a palavra, Paula Maracajá.

A SRA. PAULA MARACAJÁ – Obrigada. Vou ser rápida, a gente já debateu muito aqui.
Para mim, me soa como um projeto que foi pensado de infraestrutura e, depois,
adaptado à arquitetura. Não me parece um projeto que foi pensado do ponto de vista
da humanização. Já debatemos de várias formas aqui, hoje, e a gente está
encontrando muitas delicadezas que devem ser aprofundadas e debatidas com a
sociedade civil, não apenas com técnicos.
A minha voz, aqui, é sociedade civil. Existem muitos que estão aqui em grupos de
pesquisa, e também estou vinculada a alguns, mas é muito importante que a sociedade
civil possa estar presente a essas discussões, uma vez que detalhes nesse projeto
podem ser pensados por pessoas que jamais viram um sistema prisional antes e que
podem olhar o sistema prisional de outra forma.
É importante a gente dizer que esse projeto tem fins eleitorais. Está claro. Não existe
um projeto pensado aos conceitos de Educação e conceitos de trabalho repensado
sobre isso. A gente vê que é um projeto da indústria carcerária, um modelo de indústria
carcerária. É a mercantilização desses corpos. É isso aí. A gente vai mercantilizar isso
até quando não pudermos mais.
Do ponto de vista da Saúde, já foram ditas aqui, várias discussões, mas a
acessibilidade e listar qual é o percentual em que esse projeto está pensando
realmente um projeto de reinserção social... Uma palavra difícil de a gente entender, a
reinserção social. A gente não reinsere ninguém na sociedade, mas, já que o nome
que a Seap tem como um modelo capaz de desencarcerar pessoas está colocado na
etimologia reinserção, a gente está aqui pensando o que é esse modelo de trabalho, o

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 40/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

que é esse modelo de Educação.


É um modelo de educação... Eu, como educadora, digo: que modelo de Educação é
esse? Estamos lidando com um projeto que lida diretamente com a evasão escolar.
Como educar essas pessoas, e qual é o conceito de Educação que está pautado a
essas pessoas? O Enem não é uma oportunidade para essas pessoas. Na maioria,
elas não chegaram ao 5º ano de estudo. Então, a gente está lidando, certo, com
pessoas, na sua maioria, analfabetas. Se o projeto de Educação for esse que está
dado e o projeto de trabalho for um projeto da indústria, a nova indústria carcerária na
Zona Oeste, então, a gente tem que realmente se aprofundar, pensar esse projeto e,
enfim...
Agradecer aos técnicos que estavam aqui e aos poucos da sociedade civil, sobretudo
aos diretamente atingidos que tiveram fala no debate.
Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Paula.


Nós vamos aqui, imediatamente, passar a palavra para a Letícia e para o Mauro, para
as considerações, e a gente depois conclui. Está bom?
Letícia, com você as considerações, e depois o Professor Mauro.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Boa tarde. Eu anotei algumas das questões que vocês
colocaram. Muitas das coisas que vocês falaram não cabem, a questão da arquitetura,
a questão de política pública e questões que cabem ao Legislativo e ao Judiciário.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Claro.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Mas, dentro do que eu posso falar a respeito da questão
projetual, foi colocada a questão de infraestrutura, infraestrutura urbana, abastecimento
de água. Realmente, vai existir uma necessidade de abastecimento de água. Quando
você faz um determinado tipo de projeto, isso sempre existe. Então, você vai colocar
um projeto para receber três mil pessoas, quatro mil pessoas: você tem que ter um
abastecimento coerente com a capacidade daquele lugar.
Com relação ao que acontece no Plácido de Sá, que é, inclusive, um dos primeiros que
se quer substituir, você falou que existe um grande número de mortes, que é um
espaço que tem quatro mil pessoas. É um espaço que tem quatro mil pessoas, mas foi
pensado para oitocentas, ou menos. Ali é um espaço pensado para este número de
pessoas. Então, a infraestrutura que o Plácido de Sá conta, em questão de arquitetura,
não é a mesma infraestrutura que esse projeto vai contar. Vai contar para um número
adequado de pessoas.
Com relação à Saúde e à Educação, foi muito colocado... Existe uma série de cálculos
que são feitos, e participaram, desse momento inicial de decisão de quantitativo e tudo
o mais, tanto a Seap, quanto a Seeduc, quanto as pessoas da Seap que participam do
sistema penitenciário. Também foi à secretaria um coordenador do Depen, que é de
onde vêm as diretrizes nacionais. As diretrizes foram amplamente estudadas, esse
projeto já foi enviado a eles, eles já fizeram análise, já foram à secretaria em reunião, já
foram discutidas, ponto a ponto, as questões das diretrizes sobre o projeto.
Infelizmente, a gente não consegue abrir o projeto detalhadamente para todo mundo,
porque é um projeto de segurança, mas a gente pode ver se consegue, talvez, expor o
programa de forma mais detalhada, de tudo que está sendo atendido.
As reuniões decisórias sobre o projeto foram realizadas, semanalmente, com esses

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 41/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

atores. Inclusive, a Defensoria foi convidada algumas vezes, não sei por que não
participou das reuniões. Existe, sim, área para a Defensoria, para o Ministério Público...

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Só para ficar... Desculpa, Letícia, porque apenas


aparece o que está no microfone, não é? A Defensoria está dizendo que não foi
convidada. Foi convidada apenas uma vez, e foi.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Existe uma área de inclusão, de tratamento penal, com
sala de videoconferência, com parlatório, com sala para a Defensoria e sala para o
Ministério Público. São infraestruturas que não existem hoje, pelo menos não na
maioria das unidades prisionais, e estão sendo incorporadas, porque essas legislações
vão se atualizando, vão se modernizando, e as unidades que existem, que se pretende
substituir, não teriam condições de atender. Somente unidades novas poderiam ser
atendidas...
Olha, eu sou de obras, está bem? Mas eu vou fazer, vou te dar uma resposta, que é o
que a gente vê da organização do sistema penitenciário, que é você não misturar.
Então, você não teria misturas. A princípio, você não pode trabalhar dessa forma...
Não, não tenho esse conhecimento. Eu sei que... Até, recentemente, a gente teve uma
reunião com o pessoal da Seap, e eles falaram, realmente, desse grupo de presos e
que, aí, deveria ser o conjunto inteiro para esse grupo de presos, não haveria mistura.
É isso que ela está querendo saber, se haveria mistura. Não haveria. Se não tem
facção, não tem facção, não é?

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Ok. Nós precisamos ouvir aqui a Letícia, porque
senão nós não conseguimos concluir.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Com relação às doenças, muitas coisas foram pensadas,
inclusive com os profissionais da área de Saúde. Até você perguntou... Você não deve
ter ouvido quando eu apresentei que todas as tubulações são feitas por shafts
externos, justamente para tirar a possibilidade de vazamento, qualquer umidade dentro
das celas. Então, elas são por shafts externos. Facilita a manutenção, e você tira a
umidade dali, não é? Os banheiros são individuais, por cela, diferente do que acontece.
Foi colocado aqui: “Ah, que hoje as celas são maiores”. Mas as celas são maiores, com
um número muito grande de pessoas reunidas, e apenas um banheiro para cada uma.
No projeto, tem as celas para seis pessoas e um banheiro individual para cada cela.
Algumas particularidades da arquitetura interna das celas, como a questão dos
sanitários, do chuveiro, das camas, são padrões que são usados pela Seap. Não se
tem muita decisão de qual vai ser a cama que vai colocar, qual vai ser o...
Não se tem muita decisão a respeito disso. Muitas das coisas vêm do demandante do
projeto, até mesmo porque eles é que administram. Então, eles falam “não posso
administrar um vaso de louça numa cela” e, para botar um vaso de inox, seria inviável.
Então, o modelo é aquele. Então, existem prerrogativas que não se conseguem alterar
porque é a administração que tem que dizer como ela consegue atuar.
Com relação à acessibilidade, existe uma proposta de uma das unidades ser acessível,
e aí, nesse caso, o sanitário vai ter que ser o sanitário de inox, mesmo ele sendo
muitas vezes mais caro, mas para poder possibilitar a acessibilidade aos cadeirantes
ou às pessoas mais idosas, obesas, de todas as formas.
Com relação às salas de múltiplo uso, existem salas de múltiplo uso nas unidades, mas
não quer dizer que são salas sem uso pré-definido. São destinadas à Educação, à

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 42/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

Saúde, existe uma sala de um espaço ecumênico, existe um salão de visita – são
coisas separadas, não é um espaço que vai ser para múltiplos usos. A gente, às vezes,
fala sala de multiuso porque o arquiteto, às vezes, tem muita tendência a querer
direcionar o uso de um espaço.
Ele simplesmente coloca o espaço como existente, e quem vai fazer o uso é o usuário,
mas a gente coloca o espaço como um espaço para Saúde, um espaço para
Educação. Mas essas salas de multiuso, elas são internas às unidades, vai ter que ser
um pouco mais de acordo com o funcionamento da unidade qual vai ser o uso delas,
mas teria espaço para implantação de Saúde e Educação, internamente, de cada
unidade.
Com relação à questão do trabalho, da oficina, é que vocês não têm mais acesso à
planta, mas, no térreo daqueles módulos, daqueles braços – não sei se vocês estão
lembrados do projeto –, dois deles são para Educação, e um para a oficina. Esse de
oficinas, o que se pretende não é o uso de produção para o mercado externo, seria um
uso mais de ensino da profissão. Não é uma oficina para ser uma indústria dentro do
conjunto, é mais uma oficina da questão do ensino da profissão ali dentro, e os
espaços de trabalho seriam nos galpões. Mas é o que sempre falo: questões referentes
à administração penitenciária, não me cabe responder, mas eu coloco sobre os
espaços que estão ali previstos.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Ok, Letícia.


Eu vou passar para o Professor Mauro, porque nosso tempo está, de fato,
“engasgadíssimo”. Eu vou pedir ao Professor Mauro, então, suas considerações.

O SR. MAURO SANTOS – Rapidamente, porque eu acho que a gente já conversou o


suficiente. Eu considero essa proposta um equívoco, do ponto de vista conceitual,
inaceitável. Mesmo que venha a ser construída, acho que a gente deve trabalhar, em
todos os sentidos técnicos e sociais, para que isso não venha a se viabilizar. Ele não
se justifica em nenhum dos aspectos técnicos; ele não é mais econômico; ele tem uma
manutenção mais cara, mais difícil; ele tem uma série de equipamentos que trazem um
dia a dia de maior dificuldade.
O processo de mobilidade, o processo de logística funcional se agrava enormemente;
ele tem uma segurança piorada, do ponto de vista interno, tanto para os presos quanto
para os que trabalham, os agentes; ele tem uma situação de qualidade ambiental
agravada pela sua concepção. Então, ele, de fato, é um espaço que não contribui em
nada, mesmo na política de acréscimo do número de vagas no sistema penitenciário.
Ele é uma aberração, do meu ponto de vista, arquitetonicamente falando, mas é muito
bom que a gente tenha discutido isso pela primeira vez. Acho que ele fere, inclusive, as
diretrizes, que não têm nada de excelente, as diretrizes arquitetônicas que estão
postas oficialmente. Ele fere, inclusive, uma delas, que é a principal, que não sei como
é que pode ser resolvido isso, como é que o Depen vai aceitar isso, que é a questão
dos 800 versus os 3.500, porque é exigido que você tenha estruturas independentes,
de acessos independentes, e que cada um dos serviços – de Educação, de Saúde –
tenha uma estrutura própria para cada uma dessas unidades. Isso não está posto.
Então é um desleixo total, inclusive com o mínimo que está estabelecido pelo sistema.
Acho que essa discussão não se justifica, além das discussões de detalhe do ponto de
vista arquitetônico, mesmo de soluções específicas, mas é isso.
Agradeço a oportunidade mais uma vez.

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 43/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Professor Mauro.


Acho que a Letícia queria fazer um complemento na fala dela.

A SRA. LETÍCIA AMADO – Eu me esqueci de falar, me perguntaram sobre a questão


do trabalho. O arquiteto Mauro inclusive, que é o coordenador desse projeto, não está
presente hoje, porque ele está em Brasília, em um workshop que é justamente sobre
esse tema.
O que foi falado, pelo que me passaram, o que foi falado ontem pelo Depen é um
sistema de remuneração. A menina falou a respeito de trabalho voluntário. Eu não sei o
que querem dizer com voluntário, talvez seja o fato de você poder optar por fazê-lo ou
não, porque o preso tem direito de optar por trabalhar e optar por não trabalhar.
Então, não sei se é isso que está sendo colocado, mas eu trago, de informação desse
workshop que aconteceu ontem em Brasília, justamente isso: o preso pode optar por
trabalhar. Assim, ele recebe uma renda, que seria na proposta de três quartos do
salário-mínimo, sendo que esse um quarto é revertido para a administração
penitenciária, e existe uma parcela que vai para uma poupança, algum sistema nesse
sentido.

A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Eu queria fazer um apelo agora aos vereadores, a esta
Casa, neste debate tão importante, porque, vejam bem, uma estrutura desse porte
requer recursos humanos importantes, tanto da área dos inspetores penitenciários,
quanto de toda a área técnica. Porque, falando como experiência vivida dentro do
sistema prisional, se nós não tivermos recursos humanos, para esse complexo
penitenciário, que atendam à Saúde, à Educação e a todas as questões que foram
colocadas para esses espaços, esses espaços se tornarão ociosos e, podem escrever
o que eu estou dizendo, se transformarão em celas.
Eu vivi isso em três unidades por onde eu passei. Então, é muito importante saber do
governador se ele vai de fato contratar pessoas em número suficiente, porque hoje nós
não temos no sistema. Nós não temos médico, não temos psicólogo, não temos
assistente social. A Defensoria Pública se vira para ocupar esse complexo, porque, se
não tiver os profissionais ocupando esses espaços, certamente serão mais celas, além
de todas essas.
Eu falo por experiência de três unidades. Eu gostaria que vocês levassem essa
preocupação.

O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Estaremos atentos.


Eu quero agradecer a todo mundo, nós ficamos aqui quase quatro horas neste Debate,
no meu entendimento, muito rica, para nós vereadores. Eu sei que posso falar pelo
Tarcísio Motta, pelo Babá e por mim: para nós, foi muito bom.
Nós vamos levar à Presidência da Mesa Diretora, que, quando esse projeto vier à
baila, a gente tenha a presença de vocês para ajudar a esclarecer melhor aos
vereadores.
Eu quero dizer aquilo que é atribuição nossa: atribuição nossa é a atribuição de discutir
o padrão de edificação naquele espaço, portanto, essa é a nossa avaliação, e nós
estaremos muito atentos a isso.
Depois, também cabe a nós, porque somos homens e mulheres aqui na Câmara
Municipal que têm representação popular, portanto, recebemos delegação do povo
para o representar.
A nossa preocupação é uma preocupação exatamente naquilo, Letícia – agradecendo

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 44/45
18/09/2020 https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b…

muito a você e a sua equipe que está aqui, a equipe do estado – de que a gente não
tem discordância do caminho que vocês tomam: nós temos discordância daquilo que
vocês apresentam, quando nós contrastamos aquilo que vocês apresentam com aquilo
que a governança do Estado do Rio de Janeiro tem proposto nos últimos tempos.
Nesse sentido, eu também acho que o governador poderá, em algum momento – e
muito rapidamente o fará, se continuar nesse processo que a gente vê, de construção
política da cidade –, pegar o projeto de vocês, para além de todas as críticas técnicas,
que a gente concorda, feitas pelo Professor Mauro e por todos que aqui falaram, e
fazer desse projeto, de fato, um projeto de extermínio dos presos.
A Arquitetura, na nossa leitura – e aí, é uma leitura laica da nossa parte –, pode, nesse
momento, estar sendo usada pelo governador para apresentar um projeto humanitário
que não será um projeto humanitário. A Arquitetura estará assinando, exatamente às
vésperas de a cidade ser considerada a cidade mundial da Arquitetura, um projeto que
é um projeto de implementação de uma política nazifacista, como tem apresentado o
Governador Witzel.
É a assinatura de vocês que vai estar lá. É responsabilidade de vocês, que são
técnicos, profissionais, adultos, mas é um pouco essa a nossa preocupação, e nós
vamos bater nessa tecla enquanto pudermos, porque cabe a nós fazermos essa leitura
política.
A todos vocês, muito obrigado. Obrigado mesmo.
Que a gente siga em frente, debatendo pela democracia, já que ela está tão esgarçada
nos governos de Bolsonaro e Witzel.
Está encerrado nosso Debate Público.

(Encerra-se Debate Público às 14h03)

https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 45/45

Você também pode gostar