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Da VEREADOR REIMONT
REALIZADA EM 19/11/2019
A SRA. LETÍCIA AMADO – Bom dia, meu nome é Letícia, sou arquiteta, servidora do
Instituto Estadual de Engenharia e Arquitetura (IEEA), e trabalho lotada na Secretaria
de Estado de Infraestrutura e Obras (Seinfra), junto com o arquiteto Fábio Sotero, que
é o superintendente que trabalha no projeto do conjunto penal vertical, que eu vim
apresentar para vocês mais um pouquinho de como está estruturado esse projeto.
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O SR. ADIB MIGUEL – Meu nome é Adib Miguel, sou assessor da Secretaria de
Administração Penitenciária do Estado (Seap), e minha parte é de gestão desse
projeto.
O SR. MARCOS PINHEIRO – Bom dia. Meu nome é Marcos Pinheiro. Sou inspetor
penitenciário e assessor do Subsecretário de Tratamento da Seap.
A SRA. PAULA MARACAJÁ – Bom dia. Eu sou Paula Maracajá e integro o Coletivo Em
Silêncio.
O SR. PEDRO CUNCA BOCAIÚVA – Bom dia. Eu sou Cunca Bocaiúva, professor do
Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A SRA. KÁTIA MELLO – Bom dia. Eu sou Kátia Mello, antropóloga, professora na
UFRJ e líder do Grupo sobre Sociabilidades Urbanas, Espaço Público e Mediação de
Conflitos, e venho, no meu último projeto de pesquisa, trabalhando com o tema de
mulheres encarceradas em situação de maternidade.
O SR. EDSON SODRÉ – Bom dia. Meu nome é Edson Sodré. Eu sou interno do
Sistema Penitenciário – por ora, estou cumprindo pena em regime semiaberto – e sou
um dos membros do Grupo Teatral Cria Daqui, que é um grupo formado, inteiramente,
por detentos do Sistema Penitenciário. É um grupo que escreve e dirige os próprios
textos.
A SRA. ALINE BARROS – Olá. Bom dia. Meu nome é Aline Barros. Faço parte do
Coletivo Em Silêncio.
O SR. MARDEN MARQUES – Bom dia. Eu me chamo Marden. Sou psicólogo. Sou de
Brasília. Fui responsável pela elaboração, pactuação e implementação da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema
Prisional. Atualmente, moro aqui no Rio, por conta da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Sou professor universitário. Agora, estou me doutorando, na UFF.
Faço parte do Observatório de Saúde Mental da UFF.
O SR. MARLON BARCELLOS – Bom dia. Sou Marlon Barcellos, defensor. Trabalho na
Coordenação do Núcleo do Sistema Penitenciário, junto com o Leonardo Rosa, que
está ali. Estamos juntos aqui, na mesma missão. O Núcleo presta assistência jurídica
nas unidades prisionais e trabalha, também, com a tutela coletiva prisional.
A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Bom dia a todos e todas. Eu sou Márcia Badaró. Eu sou
psicóloga aposentada da Seap e integro a Secretaria Executiva do Fórum Permanente
de Saúde no Sistema Penitenciário, que aqui, hoje, estou representando.
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O SR. EDUARDO SANCHEZ – Bom dia. Meu nome é Eduardo. Sou mestrando da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ. Pesquiso também a respeito da
arquitetura penitenciária.
O SR. OSVALDO – Bom dia. Meu nome é Osvaldo. Eu sou arquiteto. Faço parte de
uma rede de profissionais que atuam na área de cultura e acessibilidade.
A SRA. ANA MARCELA TERRA – Bom dia. Sou Ana Marcela Terra. Sou psicóloga.
Faço doutorado no Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Sou assessora da Deputada Estadual
Mônica Francisco.
A SRA. VERACI ALIMANDRO – Bom dia. Meu nome é Veraci. Estou representando o
mandato do Vereador Tarcísio Motta.
A SRA. ANA ALICE – Bom dia. Meu nome é Ana Alice. Sou médica, gerente do
Programa de Tuberculose da Secretaria de Estado de Saúde do Estado do Rio de
Janeiro (SES-RJ).
O SR. ADRIANO – Bom dia. Meu nome é Adriano. Faço parte também do Grupo de
Teatro Cria Daqui, feito por detentos do sistema penitenciário.
O SR. LEONARDO ROSA – Meu nome é Leonardo Rosa, como o Marlon falou, do
núcleo do sistema penitenciário. Eu iria assistir à palestra daquele sofá imperial, mas
vim para cá. Ali parecia ser mais confortável.
O SR. JOÃO MARCELO DIAS – Bom dia. Sou João Marcelo, membro do Mecanismo
Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, da Assembleia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro (Alerj).
O SR. MÁRIO TEIXEIRA – Bom dia. Meu nome é Mário Teixeira. Eu sou assessor da
Seinfra.
A SRA. ANA CAROLINA MILANI – Bom dia. Sou Ana Carolina Milani. Também
componho a Comunicação da Seinfra.
A SRA. KATHLEEN FEITOSA – Bom dia. Meu nome é Kathleen. Sou do mandato do
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A SRA. LETÍCIA AMADO – Eu vou falar um pouco sobre como está estruturado o
projeto do Conjunto Penal Vertical. Lembrando que cabe ao Poder Executivo a custódia
da população que está em cárcere. Então, o que a gente tem são muitas situações
hoje de algumas unidades prisionais que não estão com uma qualidade boa de
arquitetura, que já estão em processo de deterioração, que apresentam algumas
patologias.
Algumas estão condenadas do ponto de vista do conforto, dos direitos humanos. A
proposta é trazer uma nova arquitetura, de modo que se consiga substituir as vagas,
principalmente do déficit que existe de vagas prisionais, que estão deficitárias de
qualidade com um projeto que possa trazer um número maior de vagas em um tempo
mais curto, para haver essa substituição. Para isso, foi escolhido pelo governo, um
modelo vertical de conjunto penal.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Essa é uma tomada aérea do projeto. Ele está
demonstrando que com a verticalização se consegue a liberação de terreno para
outras atividades. O foco, principalmente, é ter atividades laborais. Porque o trabalho
tem uma função de ressocialização da pessoa que está em cárcere e também existe
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redução de pena, acesso à renda, uma série de coisas que envolvem o trabalho.
Então, essa é uma das vantagens que foi buscada, a liberação de área para o
estabelecimento de indústrias, principalmente na região. Além de poder trabalhar um
número maior de vagas para o número menor de área, de terreno.
Esses são exemplos de arquitetura vertical prisional que existem no mundo. No Japão,
nos Estados Unidos, na Europa têm exemplos bem antigos que estão em
funcionamento até hoje. Algumas funcionam há mais de 100 anos.
Nós não fizemos o projeto de dentro pra fora. A Seap demanda um projeto de
arquitetura prisional e muitos órgãos do estado, muitas secretarias participaram de
reuniões contínuas, semanais, a respeito de todos os assuntos possíveis que poderiam
envolver a questão da arquitetura. Então, a Secretaria de Estado de Educação
(Seeduc) e a SES-RJ estiveram ligadas diretamente nesse processo construtivo do
projeto.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) também foi
consultado. Recentemente, nós recebemos uma equipe da Secretaria de Estado do
Ambiente e Sustentabilidade (Seas) para discutir, até o Abid estava presente, a
respeito de um plano de gestão de resíduos para o conjunto.
Sobre essa proposta de verticalização, a gente também pensou muito na questão da
salubridade, porque a gente evita contato direto com o solo de umidade, de uma série
de outras coisas, a gente propôs todas as passagens de instalações úmidas por shafts
externas da edificação. Pensamos nas questões de insolação, ventilação e de
segurança, principalmente.
Aí, está uma demonstração de como é dividida a proposta do projeto. Ele consiste de
um embasamento de atividades, então, o térreo de uso comum para as unidades
prisionais, não se trata de uma única unidade prisional em forma vertical. Na verdade,
é um conjunto penal que está verticalizado.
São cinco unidades prisionais independentes, sendo a primeira de apenas um
pavimento, e as demais, de dois pavimentos. O térreo é um embasamento com
atividades compartilhadas para todas as unidades, e essa disposição em conjunto
possibilitou a criação desse espaço de atividades mais amplo. Assim, você consegue
reduzir o investimento em infraestrutura, que é, na verdade, o que as cidades fazem
hoje.
Hoje, nós vivemos de forma verticalizada, porque você reduz o investimento, o custo
de obra, de infraestrutura instalada, do espaço físico, e libera para os demais usos. A
gente compartilha o espaço dessa forma, hoje, na nossa sociedade.
Aí, está colocada, mais ou menos, a independência das unidades. São cinco unidades.
A primeira é para pessoas com mobilidade reduzida, então, as celas são adaptadas, o
sanitário das celas é adaptado. Na verdade, todo o espaço de uso comum é adaptado,
possibilita o uso de cadeirante; mas essa unidade mais baixa, a primeira, é exclusiva
para pessoas com mobilidade mais reduzida.
O térreo conta com diversos serviços como saúde, educação e oficinas de trabalho,
mais por questão, talvez, da educação, do trabalho, de aprender uma atividade, uma
oficina, e, no térreo, assim como na cobertura, temos pátios de sol.
No bloco externo, temos um bloco administrativo do conjunto. Na verdade, cada
unidade tem a sua própria administração, mas existe uma administração geral do
conjunto, e é onde, também, existe a administração de entrada de materiais, de
pessoas, que se otimiza juntando num único bloco.
Isso é um esquema que representa isso que eu estava falando. Cada uma das
unidades tem a sua administração, seu espaço de tratamento penal, de educação, de
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saúde, e, também, no térreo, você tem um espaço compartilhado com todas essas
atividades, que pode administrar pelo conjunto geral, pela administração geral do
conjunto, mas cada uma delas tem, também, os seus espaços próprios, exclusivos.
Cada um dos blocos tem um uso, na verdade. Você tem esses quatro braços de celas
coletivas, um desses braços é de celas individuais, tanto de celas de seguro quanto de
celas para visitas íntimas, e um dos blocos é multiuso, então, é só de convivência, que
são os salões de visita, espaço ecumênico, entre outros espaços, algumas salas de
educação, de uso do coletivo.
Os agentes também têm espaços para eles: salas de descompressão, salas próprias
para os agentes que estão atuando lá dentro. Também tem uma sala... tem toda a
parte administrativa fora, num bloco, de dormitório, mas também têm as salas dentro
das unidades.
Isso é um fluxograma das atividades. O fluxo verde é até onde acontece o fluxo
externo. O fluxo vermelho é o fluxo apenas dos agentes nas unidades.
Com relação à salubridade, é o que estávamos falando. A zona bioclimática é a
número 8. Então, trabalhamos com aberturas de janelas maiores do que é o mínimo
exigido pela legislação. A legislação exige certa abertura, só que pela zona
bioclimática, se indica uma abertura maior para poder ter melhor ventilação, por ser
uma área um pouco mais quente. Então trabalhamos com a recomendação da zona
bioclimática, com ventilação cruzada, e os shafts externos das instalações úmidas para
retirar a umidade de dentro da edificação.
Trabalhamos também com brises horizontais e verticais que ajudam na questão do
conforto térmico e também serve de barreira entre as celas, para não haver contato
externo pelas janelas. Os pisos das celas são levemente inclinados, permitindo que
sejam lavados.
Essa está mostrando a questão dos exaustores e dos shafts.
A implantação do conjunto foi pensada em função da insolação, de melhor
aproveitamento da insolação para os pátios de sol, e para não ter um
superaquecimento interno da edificação, inclusive.
Uma das preocupações que nós tivemos muito foi a questão do combate ao incêndio.
A edificação conta com três pontos de escape, de escada enclausurada. O acesso
entre os blocos é feito por uma passarela, um pouco inclinada, levemente inclinada,
que dá acesso vertical, no fluxo do cotidiano. Mas no caso de escape, existe a escada
enclausurada, conforme a legislação do CBMERJ exige. Permite a entrada do
caminhão do CBMERJ, tem total acesso à edificação. As distâncias de percurso são
curtas, dentro da legislação do CBMERJ.
Está citando a questão dos desníveis, porque você tem, necessariamente, uma
circulação vertical acontecendo no cotidiano do conjunto. Essa circulação vertical
acontece através dessas passarelas, não é pela mesma rota de escape. A rota de
escape é exclusiva, acontece por passarelas que são levemente inclinadas, a menos
de 5% de inclinação, não é nem considerada uma rampa pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).
Você tem circulações exclusivamente verticais e circulação exclusiva de cada unidade
prisional. Então, alguém que esteja numa unidade prisional no meio – número 4,
número 5 –, que tenha que fazer um deslocamento vertical para o térreo, não vai
passar por dentro das demais unidades. Os fluxos são totalmente separados.
O térreo que conta com essas atividades é um pavimento só de atividades. Ele é
distribuído dessa forma, sendo que o bloco externo tem a parte de revista do visitante,
administração e a guarda externa; os blocos internos têm uma ala de tratamento penal,
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O SR. MAURO SANTOS – Primeiro, é um prazer estar aqui. Bom dia. É um prazer
estar aqui conversando sobre esse tema.
De minha parte, é um momento raro em que se discute a arquitetura prisional. Esse é
um tema que está envolvido sempre num mistério à luz da segurança, tanto que eu
pediria, mais uma vez, que fosse disponibilizado esse projeto para que a gente
pudesse ter acesso detalhado a todas as informações. Ele é um projeto público.
A análise que eu faço aqui é recolhida de informações e peças a que eu tive acesso,
mas não é plenitude. Mas fico feliz de ver que os aspectos principais constam,
inclusive, de um documento público do Depen, de uma análise a que nunca tive
acesso, a que tive acesso ontem. Várias das questões que eu abordo também estão
abordadas lá, do ponto de vista da análise crítica do projeto.
Meus parabéns para a equipe que desenvolveu o projeto. Letícia, parabéns por compor
essa equipe. Já estive com o coordenador.
A minha análise crítica é de um profissional que tem experiência nessa área, que
percorreu o Brasil inteiro analisando e estudando tipologias prisionais, que fez
propostas de intervenção para essas tipologias, que estudou, inclusive, algumas que
são compradas em pacotes fechados de empresas internacionais para implantação.
Eu fui procurado, alguns meses atrás, por um jornal, por uma emissora de televisão
que queria fazer entrevista comigo, que dizia que ontem houve uma declaração do
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governador dizendo que vai fazer presídios verticais. Mais do que isso: nessa
declaração, ele também aborda outro tema que, talvez, futuramente a gente tenha que
discutir, que é um presídio navio.
Eu disse: “Olha, eu não tenho acesso a essas informações, não posso fazer uma
análise desse tipo. Tenho uma experiência, posso fazer considerações sobre isso,
inclusive sobre quais as referências no sentido do presídio vertical, mas acho que
conceitualmente ele é um equívoco”. Eu me perguntei: por que um presídio vertical? A
única coisa que vem nesse sentido seria aumentar o número de vagas. Nem discutindo
a questão da política de encarceramento ou desencarceramento, mas mesmo na
política de ampliação do número de vagas, ela não se dá, exclusivamente, pela
verticalização. Ela tem outros modelos que podem suprir esse caminho de mais vagas.
As questões relativas ao custo – eu me perguntando, na época, sem o projeto – não
são verdadeiras, porque o horizontal apresenta custos de produção – obra – e custos
de manutenção bem melhores do que o vertical.
Só se aplica o vertical em um contexto de cidade em que a terra seja escassa, no
centro da cidade. Se fosse fazer um presídio no centro da cidade – não tem como,
pelas ofertas de terreno –, nós tínhamos que ter verticalização, mas esse não é o
conceito da política prisional.
Então, eu comecei a tentar decifrar e, como professor, como arquiteto –
fundamentalmente como arquiteto envolvido, eu trabalho com habitação social, eu
trabalho com saúde, particularmente com a área de saúde mental, que também tem
uma origem dos presídios historicamente –, fui começar a analisar a proposta dentro
das peças que me foram fornecidas ao longo desse tempo.
Primeira coisa são as referências que foram apresentadas. Essas referências que são
apresentadas são referências dos anos 1960, 1970, e até anterior aos anos 1960. Hoje
estão totalmente desativadas como políticas de construção de novos presídios. Então,
essa referência é uma referência antiga, nós estamos atrasados nela, colocando como
se fosse o futuro. Isso daí é o passado, e alguns, inclusive desativados ou em processo
de desativação.
Mais do que isso, mostra qualidades totalmente diferentes do que está sendo
produzido no projeto. Aquele ambiente ali tem uma situação de fechamento de celas,
que é a circulação rebatida, mas ele tem, se você olhar um shaft vazio de exaustão na
frente de cada uma das celas, permitindo fazer, mesmo que na verticalização, o
processo de saída do ar.
A cela que está ali à direita nada tem a ver com as nossas soluções ou com o nosso
tratamento de celas. Quando a gente fala de janela... Ali, a gente está falando de
janela. Quando a gente fala nos nossos presídios como um todo, nós estamos falando
de abertura altas e mínimas, mínimas.
Então, essas referências são referências que não estão nos servindo, ou não deveriam
nos servir.
Aqui são exemplos da Bélgica. Mesma coisa, ambiente da cela, o leito, a cama, o
mobiliário, a altura, as circulações, o próprio percurso e também os pavilhões, que são
pavilhões horizontais.
Tóquio. Tóquio, também a referência. Tóquio, todos nós sabemos, Japão, a questão da
densidade. Não só no tema do presídio, mas na moradia em geral: são áreas mínimas
e verticalizadas por falta de área livre, então, é centro de cidade.
Aqui nós estamos na nossa área, que é área de Gericinó, que tem um contexto urbano
de baixa altura, que está se propondo modificação na legislação, inclusive modificação
no decreto que proíbe novas construções, que é o de 2004, porque nós temos um
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responde ao módulo educacional, uma vez que eu tenho que ter um módulo desse
para cada unidade. Então, se são cinco, mesmo na lógica dos cinco pavimentos dois a
dois, eu teria que ter cinco unidades de saúde e teria que ter cinco unidades de
educação e, se fizer a conta do número de vagas, não responde a uma. O que nós
estamos dizendo é que não vai ter essa atividade. Vai ser impossível você praticá-la,
mesmo em três turnos.
Uma temperatura de 40°C, em Bangu – quem conhece Bangu com 40°C? –, dizer que
vai fazer banho de sol na laje? Eu diria que isso é criminoso. Isso é criminoso. Mais do
que isso: as celas que estarão abaixo dessa laje vão estar a uma temperatura... Eu
trabalho com arquitetura, já fritei ovo, já fiz experiências em coberturas desse tipo, você
frita ovo. De 53°C a 55°C. Essa temperatura abaixo, nas celas de baixo, é insuportável.
É insuportável.
Já falei dos incêndios. Não vou repetir. Aquelas são as imagens das circulações. Essas
circulações não são abertas. Essas rampas, elas são rampas fechadas; mais uma vez,
com abertura superior mínima. É um ambiente totalmente insalubre, porque é um
ambiente fechado, sem circulação. Dificulta, gera dificuldades do acesso e da
permanência e cria questões de insegurança. Tem problemas de operação. Vamos
imaginar os percursos, as descidas para o sol, no térreo; ou as subidas para o sol,
pelas rampas, já com uma situação, inclusive, de número de profissionais prisionais no
sistema.
Esse, se você olhar, ele está multiplicando, ainda mais, o controle, que são aqueles
pontos vermelhos de controle... De amarelo. São pontos internos. Aí, nós temos que
falar o seguinte: estamos falando de tuberculose, no presídio, como número um. Não é
só para o preso, não. É para os profissionais que estão lá confinados num ambiente
insalubre. É para aqueles que são seus parentes, visitantes, e para aqueles que saem
de lá e vão para o bairro, vão morar. Muitos, inclusive, vão morar próximo do seu
trabalho. Então, teremos uma repercussão de área bastante forte e significativa, do
ponto de vista da saúde. Isso, a Alexandra e a Márcia podem... Porque, aqui, eu estou
de leigo, mas com um sentimento de quem viveu essa história.
Aqui é a demonstração dessa situação: fechada, não troca esse ar. Essa circulação
interna, ela é doente. Essas celas são doentes. O estudo lá da Fiocruz, desenvolvido
pela Alexandra, mostra que 12% dos presos têm tuberculose, 5.200 casos ao ano.
Entretanto, somente um terço é detectado. Há 42 mais vezes de tuberculose entre
presos do que a taxa geral do Rio de Janeiro, e 72 vezes maior do que a média do
país. Esse é um índice absurdo, e nós estamos potencializando isso, nós estamos
ampliando essas condições, com essa solução.
Esta, do armário, da perspectiva, e até mesmo da abertura, se nós formos ver como vai
funcionar, essa solução em nicho, ela dificulta a circulação de ar, inclusive no próprio
ambiente do leito, e ele, sem dúvida, vai ser fechado nas suas laterais, pela própria
situação de necessidade de privacidade entre os leitos. Ninguém vai ficar nessa
situação. Então, ela é melhor do que antes, quando era totalmente fechado. É melhor
aberta, mas não resolve. A melhor solução para a cela é o leito perpendicular à parede,
porque ele circula de maneira maior. Isso, logicamente, traz uma situação de layout
diferente; consequentemente, vai agregar uma pequena área maior na organização
desse espaço, mas é uma qualidade muito superior.
Essas seriam situações. A da esquerda é a situação atual, não circula; aquela área
vermelha ali é uma situação de contaminação ambiental. Se fossem fazer o vertical,
que fizessem com esse átrio; com essa abertura, que tem algumas soluções, inclusive,
presentes, que garantem ou ajudam na circulação, pelo efeito chaminé do ar mais
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quente subindo.
Aquele da esquerda é tampado, é fechado. Aquela solução ali é uma boa solução
horizontal, com que diversos estados trabalham. A nossa tradição não é de vertical, a
nossa tradição não é por acaso e nem questão de conservadorismo; você tem, no
máximo, alguns exemplos de quatro pavimentos.
A questão de uma rebelião não é agravada por uma situação vertical. Você não tem
domínio espacial nenhum desse edifício. Hoje, para você ter uma ação de invasão, de
entrada, ela está aí multiplicada por 1000, em termos de dificuldade. O pessoal da área
de segurança e os agentes penitenciários não acham essa uma solução adequada do
ponto de vista da segurança e do controle.
Isso tem que ser conversado, isso tem que ser posto claramente. Por que insistem
nessa proposta? Porque é uma proposta símbolo de um governo. Isso é um absurdo.
Eu vou entrar em um estudo de insolação que não foi apresentado no projeto e que
deveria ser peça dele. Todo projeto deve ter um estudo detalhado de ventilação e
insolação, e isso tem programas de simulação que vão demonstrar bem.
Essa é a situação, nós vamos ter boa parte das celas sem insolação durante o ano
inteiro, verão e inverno, devido aos afastamentos das lâminas e a posição das lâminas.
Fizemos uma simulação com o norte e nós temos aqui o resultado. A quantidade de
unidades sem iluminação é agravado pelas condições de ventilação precária.
Eu li outro dia, reli, por causa dessas histórias e as discussões, e vi o filme também
“Memórias do Cárcere”, quando Graciliano entra e diz assim: “aqui não é para
recuperar, aqui é para matar”. Desculpem-me, mas é isso que vai acontecer. Esse
banho de sol não vai acontecer, essas celas vão estar trancadas a bel-prazer da sorte.
Eu estou discutindo arquitetura, não estou discutindo política, conceitos da política
carcerária. Eu estou discutindo a arquitetura de um projeto que está sendo
apresentado.
Por que não fazer? Já que quer mais vagas, por que não fazer horizontal? Assim,
melhoram as condições de ventilação, de iluminação, de banho de sol, de
transferências, de controle. Nada, nada, nada, nada justifica isso, a não ser o custo da
terra; mas onde o custo da terra não se justifica?
Os programas de habitação populares vão buscar a terra lá onde está, porque a terra
tem preço muito barato. Então, a troca do custo de infraestrutura versus a construção,
ela não se aplica. Era a única forma de se aplicar. Pode passar.
Aqui eu fiz uma simulação de custos. Já que estamos conversando sobre custos, eu
não tenho projeto, mas fiz uma simulação de custo. Ali eu tenho 30% mais caro no
vertical, só em concreto, do que a solução horizontal. Então, a discussão de custos não
está aplicada a essa solução vertical.
Não estou entrando no mérito da infraestrutura de elevadores, de manutenção, das
fundações, porque no horizontal eu trabalho com radier, eu trabalho com técnicas mais
simples. Em uma vertical desse tipo, eu não vou conseguir fazer isso, eu vou ter que
ter fundações profundas. Então, não entrou no mérito da fundação porque não tenho o
estudo de sondagem. Mas se colocar a fundação, essa conta sobe. Fora pilares, que
eu não vou ter; vigas que eu não vou ter no horizontal. Eu tenho a própria estrutura das
paredes portantes. Então, nem o custo se justifica.
Essa foi o que eu já coloquei, isso aqui é um fechamento. A verticalização como
implantação em uma área consolidada, ausência de espaço de socialização,
necessária... Ah, um detalhe que eu vi, não sei se isso já foi modificado, mas é
gravíssimo. As celas, inclusive íntimas, que deveriam ser diferentes para a relação da
visita íntima, não deveriam ser um ambiente igual ao de uma cela com outra função,
https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/atas.nsf/b86bb783027a72fe832581ef005920f7/371873aa94ac19d0832584c000688b02?OpenDo… 13/45
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O SR. MAURO SANTOS – Mas, mesmo essa, não pode. Não tem essa justificativa.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Nessa, só temos um pavimento. Nas outras temos dois
pavimentos. Cada uma está em um pavimento separado.
O SR. MAURO SANTOS – Eu não posso ter o acesso de uma cela que é uma cela
chamada de “castigo”, que é o caminho; é a mesma circulação da cela de visita íntima.
Estamos jogando no lixo, inclusive, todos os conceitos do porquê disso. Não pode. Se
tem, tira. Se não tem como resolver, invente. Mas não dá para colocar.
Eu tenho uma teoria nas minhas áreas de trabalho. Área social, todo arquiteto que
projetar habitação social, e aí eu falo para os vereadores: vocês poderiam fazer uma
lei, seis meses morando lá com a família. Acho que em um projeto de um presídio,
antes da inauguração, os arquitetos deveriam ficar lá dentro da cela por seis meses,
vivendo naquele ambiente, para ver se ele realmente é salubre e é digno de uma
pessoa. Independentemente de ela estar ou não em uma situação de cerceamento da
sua liberdade, ela tem direitos que precisam ser garantidos.
A SRA. LETÍCIA AMADO – É por isso que se tem uma proposta nova, diferente da que
se tem hoje.
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vimos são referências internacionais; veja como eles trabalham as celas: são quartos.
Ah, lá não tem segurança? Tem.
Privacidade e redução do estresse. Uma questão são as aberturas, ventilação natural,
principalmente nos ambientes onde é preciso ter o mínimo de privacidade e,
consequentemente, redução de espaço.
Adequação dos usuários, sobre isso a gente já falou.
Acessibilidade: facilidade de acessibilidade universal, acolhimento e convívio social e
participação dos acompanhantes, visitantes, parentes, amigos no processo que ali
estão previstos e precisam ser facilitados e não dificultados.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Eu vou pedir, então, se você puder, Letícia, tanto
você quanto o Professor Mauro, que disponibilizem para esta Audiência a
apresentação de vocês e a gente socializa pela lista de presença depois. Pode ser
assim?
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A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Essa questão do módulo de saúde, por exemplo, que eu
não sei se eu entendi bem, mas você disse que entre cada conjunto haverá um módulo
de saúde para cada.
É vai ter que ter o microfone ali.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Em cada unidade existe sala de uso exclusivo para cada
uma das atividades necessárias, tanto saúde, quanto educação, espaço ecumênico,
multiuso.
A SRA. MÁRCIA BADARÓ – É porque o projeto que chegou a mim, que nós
analisamos, não tem nenhum espaço de sala de atendimento da psicologia, por
exemplo. Então, não aparece.
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Essas famílias que já passam por um sofrimento de levar as suas sacolas, subindo
rampas e mais rampas, chega lá ao elevador, mas não está funcionando. Sobe rampa,
e desce rampa. Isso vai gerar uma questão de possível afastamento de ida desses
familiares. A gente sabe muito bem da importância do acesso da família, as suas
visitas – é ela que leva medicamento, alimentos, é ela que leva roupa. Então, esse vai
e vem de rampas e de sobe e desce... Sinceramente, pela minha experiência no
sistema prisional, acreditar que esses elevadores vão estar em pleno funcionamento é
muita ingenuidade, é muita ingenuidade!
O Fórum vem se preocupando com essa questão da saúde mental, das equipes. Nós
temos problemas sérios de falta de recursos humanos. É estranho, porque no
momento em que a gente tem as unidades do jeito que estão, com os problemas
graves de família, com ausência de profissionais da área de saúde, absolutamente...
Hoje mesmo, eu abri o e-mail, antes de vir para cá, o e-mail do Fórum, a queixa dos
familiares para nós era: “Não há médico”, “Não há assistente social”, “Não há
psicólogo”... Não há! Então, o governo, em vez de se preocupar em dar melhores
condições para as unidades que já existem, trabalhar em cima daquilo que é
necessário e colocar recursos humanos, ele vem com um projeto dessa ordem. Então,
isso é extremamente preocupante para nós.
Eu passo a palavra. A gente tem pouco tempo para circular a palavra. Então, a gente
se manifesta aqui, enquanto Fórum de Saúde, bastante preocupados com isso.
O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Vou passar para o João aí mesmo, que está ao
seu lado. Antes, porém, eu quero sugerir aos dois vereadores presentes e aos
vereadores aqui representados que a gente faça um pedido à Mesa Diretora de que
quando esse projeto for ser debatido, quando ele tomar número e for debatido, que a
gente consiga trazer também o Professor Mauro para ajudar na coletiva de vereadores,
para a gente esclarecer.
Aliás, há um projeto de lei nosso tramitando na Câmara desde 2010, que é um projeto
de que quando vierem temas polêmicos como este, por exemplo, que haja a
possibilidade de ter o contraditório da Tribuna – alguém que defenda tecnicamente,
porque nós vereadores não somos técnicos, não somos especialistas em muitos
temas, mas esse projeto não conseguiu lograr êxito. Mas na reunião prévia na Mesa
Diretora, com os vereadores, vamos sugerir, Tarcísio Motta, Babá e Vereador Renato
Cinco, que está aqui representado também. Vamos sugerir que a Mesa acolha a
presença do Professor Mauro para fazer o contraditório do que for apresentado pelo
Estado.
Com a palavra, o Senhor João.
O SR. JOÃO LUIS SILVA – Obrigado. Bom dia a todos e todas. Eu me chamo João
Luís. Sou um dos fundadores de um grupo chamado “Eu sou eu, reflexo de uma vida
na prisão”. Sou estudante de Direito e sou egresso desse sistema prisional já
degradante, humilhante e exterminador.
A gente, olhando da perspectiva de quem foi afetado, diretamente afetado com todo
esse sistema, muito me preocupa uma ideia de um presídio vertical, para quem sabe o
que acontece no dia a dia da prisão. Primeiro, que a gente sempre tem a preocupação
e tem uma observação da seguinte questão: quem pensa a prisão, quem escreve
sobre prisão, quem faz os projetos arquitetônicos das prisões, não vai à prisão, não
conhece prisão. A gente tem ideias absurdas como a de um presídio vertical.
A gente tem que entender o que se quer com esse projeto. Eu já peço desculpas se eu
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vou fazer um prejulgamento aqui e algo que não seja real, mas o que se quer não é
humanização, não é a ressocialização, seja lá o que queriam dizer. O que se quer é
construir um monumento de aprisionamento e de punição, de onde as pessoas possam
ver ao passar pela Avenida Brasil, ou seja, que “se prende no Rio de Janeiro, coloca-se
pessoas em situações degradantes, que aqui se paga pelo crime que comete”, dentro
de um projeto, dentro de um projeto que visa não só o governo, que visa pleitos
políticos presidenciais.
O governador está surfando nessa onda do punitivismo, da punição exagerada,
exacerbada, do encarceramento em massa, isso com foco em uma possível eleição de
2022, mas à custa de muitas vidas. Nós temos pessoas morrendo hoje. Um número – e
aí o João Marcelo, que está sempre, e os doutores da Defensoria Pública que estão
sempre nas unidades podem dizer melhor – enorme de pessoas que já morrem nesse
sistema que tem pouca ventilação.
Como o Professor Mauro já trouxe, e a gente já vem conversando de outras vezes, não
há ventilação, não há sol e para quem conhece toda aquela geografia de bambu,
quando é sol, meu irmão, é sol de verdade! Quando é frio, gela a ponto de a pessoa
que nunca teve uma doença respiratória acabar tendo.
Eu não duvido, em hipótese alguma, dos estudos que o Professor Mauro fez e traz aqui
apresentando sobre essa questão do banho de sol. Do sol batendo em algumas celas
– e celas que não terão sol durante o ano inteiro. Isso vai agravar ainda mais a questão
da tuberculose do sistema prisional. Sem contar que a gente já teve um surto de
meningite há pouco tempo.
O que se quer é matar! Desculpa essa fala mais dura. Mas o que se quer é matar, não
é punir pelo crime que se fez. Hoje, a gente está vivendo uma questão de punição com
pena de morte indireta. Porque eu não me considero, eu uso essa palavra “egresso” às
vezes, mas eu não costumo usar muito. Eu sou sobrevivente. Eu sobrevivi. Quantos
amigos de cela eu vi morrerem! E não morreram espancados. Pasmem os senhores,
não morreram estuprados, não morreram por qualquer questão de violência. Morreram
por causa da degradação do sistema de saúde prisional. Da falta de acesso.
A gente acompanhou o processo de morte de um companheiro que sentiu um
formigamento no braço esquerdo. Mas levou mais de duas horas para que alguém
viesse atender. O cara morreu em nossa frente, enfartando. O que se faz para
solucionar isso? Constrói-se um prédio. Constrói-se um condomínio. Condomínio da
morte. Um projeto onde a gente vai colocar pessoas amontoadas.
Hoje, vão ficar amontoados de verdade, uns em cima dos outros. As pessoas que
passarão ali, algumas terão orgulho de morar nesta cidade onde se colocam presos
diante de toda a cidade. Porque é isso que parte desta sociedade quer. Quer ver o
preso como aquele instrumento de punição e como um comercial de uma política
fracassada, que há muito não deu certo, que é o aprisionamento.
A gente tem mais de 40% de presos em prisão provisória hoje. Parte significativa
desses 40% será solta depois da audiência. Não terão uma punição de privação de
liberdade. Sem contar o dano que isso traz para quem vai para o presídio todo dia.
Tanto os familiares, quanto os agentes. A gente também fala a partir dessa saúde
mental e física dos agentes prisionais. Serão partes afetadas, como já têm sido. Hoje
existe um número muito grande de agentes que estão afastados dos seus serviços.
Eu tenho uma experiência muito particular. Depois que eu saí da prisão, que fui levar
meu pai a uma Unidade de Pronto Atendimento da Vila Kennedy e vi uma enfermeira
conversando com uma médica que estava perplexa com o número de pessoas daquela
redondeza, daquele espaço da Vila Kennedy em Bangu, o número de pessoas que se
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apresentavam com tuberculose – coisa diferente dos demais bairros da Cidade do Rio.
Mas isso sinaliza o seguinte: aquilo que é criado dentro da cadeia vem aqui para fora.
Querer a degradação e a piora do ambiente prisional para o preso é querer também a
piora do tratamento para as pessoas que estão aqui fora. Pensar no adoecimento do
preso como uma forma de punição, privação da saúde, é adoecimento da comunidade
como um todo – da sociedade como um todo.
O que a gente quer, nesta casa Pública de representantes do povo, é que seja
pensado que aquelas pessoas estão privadas da sua liberdade, e não dos seus
direitos.
O SR. MARDEN MARQUES – Fica até complicado falar depois desses relatos, desses
depoimentos tão bonitos e brilhantes.
Mas, assim, eu acho que falar de presídio necessita de uma discussão que é mais
complexa do que soluções simples, não é? Quando a gente fala de verticalização do
presídio, a gente está falando de uma solução simples. A ideia não é essa, a gente tem
que tratar ideias complexas de forma complexa.
Então, falar de presídio, a gente tem que falar de milhões de questões que envolvem a
questão do aprisionamento e da violência como um todo.
O presídio é um sistema punitivo. Nunca serviu para ressocializar ninguém. Essa ideia
é balela, a gente sabe disso. Então, a ideia que está sendo construída aqui é de
verticalizar para punir cada vez mais e prender cada vez mais. O problema do
encarceramento tem outras questões que envolvem, por exemplo, o próprio sistema de
Justiça. A gente prende mal. O que é prender mal? Nós temos uma quantidade enorme
de quarenta e poucos por cento, aqui, no Rio, acho que já chega a 42% ou 43% de
presos provisórios. Isso aí já está errado.
Além disso, a gente tem também prisões que poderiam estar dentro de alternativas
penais. Ou seja, tem alternativas à prisão que poderiam ser aplicadas melhor do que o
próprio aprisionamento. Então, a gente está falando de construir presídios, sendo que a
gente está lotando esses presídios de pessoas que poderiam não estar ali, já poderiam
estar dentro da comunidade, prestando seus serviços à comunidade, como alternativa
penal ou pecuniária e por aí vai. Até mesmo a justiça restaurativa, tornozeleiras e por
aí vai.
Bem, além disso, a gente tem a questão da saúde mental. Tem um filme que teve
grande repercussão de bilheteria que é o “Coringa”. Aí, toda vez que eu ando pela rua,
eu fico vendo os coringas que o próprio sistema capitalista e a maneira com a qual a
gente trata as pessoas nesse sistema têm gerado. Vejo coringas por todos os lados, e
a gente continua produzindo Coringas dentro do sistema prisional.
Já que a gente está falando de arte, tem gente do Coletivo Silêncio aqui. Eu fiz essa
reflexão quando eu tava passando e já passei por várias áreas do sistema. Então, o
sistema prisional também produz essas pessoas.
A gente produz doença ali dentro. Eu sempre digo que o sistema prisional é uma
bomba-relógio. Quem entra no sistema sabe que as doenças que aparecem, as
pesquisas que nós encomendamos na época que eu estava na gestão apontam para
isso. Tuberculose, em primeiro lugar, não é Alexandra? – Nossa querida também está
ali presente o tempo inteiro –, por conta dessa arquitetura penal que é montada a cada
vez mais para diminuir janela e luminosidade dentro das celas.
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Outra questão que são as próprias doenças sexualmente transmissíveis. A sífilis está
altíssima; HIV... Pasmem! Infecção rábica humana. Eu fiquei pensando: “Gente, o que
é a necessidade da vacina antirrábica humana como 4º indicador de problema de
saúde dentro do presídio?” Aí eu falei: “Eles devem estar soltando os cachorros em
cima dos presos”. Não é isso! Os animais circulam ali dentro, tem muito gato, muito
cachorro dentro do sistema prisional e rato. Rato é o que mais tem também. Esse
contato com esses animais gera Infecção rábica humana. Aí, a gente vai vendo os
agravos todos aparecendo, e esses agravos, como o colega bem relatou, vão todos
para a comunidade, a família visita, os agentes estão em contato.
Quando eu entrei na gestão, em 2011, a gente começou a ver morte por gripe. Eu falei:
“morte por gripe? Tem alguma coisa errada! Preso morrendo por gripe? Doenças
pulmonares poderiam ser tratadas”. Fui à imunização do Ministério da Saúde e falei
assim: “Vem cá, vocês não estão vacinando os presos, não?”. O pessoal: “Não, a gente
nunca pensou nisso”.
Eu Falei: “Por que a gente não pensa em vacinar os presos? Vamos vacinar para
H1N1!” Só com essa ação de vacinação dos presos e dos agentes já modificou o
cenário. As mortes diminuíram – não completamente, obviamente – porque nem todos
são imunizados. Ainda tem isso. As ações, às vezes, não chegam dentro do sistema
prisional como um todo. Nutrição a mesma coisa. A gente tem um caos instalado
dentro do sistema, e para modificar isso aí para mim é acabando com as prisões. Essa
é minha visão antiprisional e abolicionista penal.
A gente precisa pensar não em construção de prisões, mas em pensar nesse
fenômeno de uma forma complexa para ver se a gente acaba com esse sistema, que é
um sistema que adoece as pessoas e não as recompõem num âmbito social. É isso.
O SR. PEDRO CUNCA BOCAIÚVA – É claro, bom dia a todos e todas, que nós todos
concordamos que a prioridade é diminuir a população encarcerada. Duplamente tanto
em função do modo como é aplicada a lei, quanto em função das políticas públicas de
juventude e educação, quanto geração de emprego, saneamento básico. Políticas
massivas para a cidade, como também, do ponto de vista judiciário, do ponto de vista
dos direitos.
Em um país em que a gente tem uma população encarcerada que não passou pelos
trâmites jurídicos, nós temos uma enorme margem hoje de redução da população
carcerária estrategicamente na questão da legislação antidrogas e na questão da
possibilidade do acesso aos direitos elementares: audiência de custódia, coisas
elementares. Então, a gente tem que construir presídios preparados para audiências
de custódia, para a porta da liberdade, para a conexão com a comunidade e para
interação socioambiental e produtiva e para a relação com a cidade.
Que arquitetura é necessária? Essa arquitetura pode ter verticalização? Pode. Eu
posso construir escolas, salas de aula, eu posso construir academias, eu posso
construir leitos hospitalares, eu posso construir inclusive alguns alojamentos e ampliar
a hotelaria e os sistemas. Eu posso combinar. Eu posso fazer uma cidade carcerária de
outro tipo que dialogue com a cidade.
Se eu tenho uma cidade em que eu não tenho um campo de futebol em uma
comunidade, eu nunca vou pensar em uma prisão com campo de futebol, mas é
impossível abrir uma prisão cujo centro não seja uma quadra, por exemplo. Não existe
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Nós vamos ser centro da Arquitetura e Urbanismo Mundial ano que vem, quer dizer, já
se sabe do fracasso do depósito humano, tem que sair da cidade gueto. Nós estamos
transformando radicalmente, radicalizando essa hipótese de criminalização social,
quando não temos nem saneamento, quer dizer, nós não geramos emprego com
saneamento e não é por falta de meios internos, de recursos materiais, eu não preciso
de nenhuma tecnologia sofisticada. Então, ao contrário, o problema não é oposição ao
elemento vertical, é a natureza do objeto que está sendo construído.
Concordo com a sua intervenção, ou seja, além de ser um elemento simbólico na
contramão da necessidade do sistema, que é a redução da população carcerária, é
negativo do ponto de vista também das condições do objeto que faz a Arquitetura ser
inovadora na relação entre horizontalidade e verticalidade, na combinação de usos, em
condições mínimas.
Não pode ter um determinado espaço de manejo que seja uma regressão desse nível,
que a gente tenha um depósito humano aqui e um elemento fabril aqui, inclusive
porque não existe mais essa fábrica, esse modelo de fábrica não existe, nem na China,
nem em Cingapura onde tentaram inventar esse presídio vertical ultraprodutivo,
flexível.
O custo era tão grande para flexibilizar, que além disso essas populações são divididas
em tempos de encarceramento, gravidade das situações, ou seja, a escala de 3.000
não trabalha com o que o próprio sistema constitui como elemento da sua criminologia,
quer dizer, ela está na contramão até da criminologia existente, que não é essa
massificação gigantesca porque, na realidade, crime organizado é produzido pelo
Estado, é óbvio, põe milhares de pessoas depositadas em condições subumanas, que
têm que criar estratégias de vida.
Não sei quais serão as estratégias de vida, isso é verdade, ou seja, de fato as
economias horizontais e de conexão são maiores, não sei como as pessoas poderão
sobreviver porque as pessoas, para sobreviver, precisam compartilhar outras coisas,
não sei como será isso nesse modelo. Além disso, aquelas galerias assim são
espaços... O dia inteiro você em confronto visual com alguém do outro lado...
Quer dizer, porque mesmo aquele espaço, a melhor coisa desse sistema é que ele é
aberto aqui, a jaula aqui está aberta, uma de frente para a outra, não fecha com a
tranca tradicional, seria um avanço para compensar, no caso para as pessoas não
morrerem aquecidas, na realidade fica um choque frontal, um de frente para o outro,
quer dizer, do ponto de vista das condições do dormitório coletivo nesse espaço? É
inimaginável o espaço de ruído, o espaço de odores, o espaço de relações...
Bem, eu acho que todas essas coisas têm que ser pensadas, sem precisar a solução
tão drástica de impor às pessoas a vida draconiana. Podemos usar alguns exemplos
de quartéis, já que estamos tão militarizados; quartéis têm campos de futebol, as
camas são colocadas, como você falou, sem ser no alinhamento, coloca-se na
verticalidade, na relação perpendicular com as paredes, quer dizer, nós podemos
pensar que até a arquitetura de caserna, que também é uma arquitetura de opressão,
ela é uma arquitetura já hoje plena de modos de conexão, ela é profundamente
horizontalizada a caserna e é um regime de alta disciplinar porque estamos num país
onde o modelo é disciplinar, tem que ser policial, tem que ser militar, e esse é o modelo
que enquadra e forma gente.
Se esse é o modelo que enquadra e forma gente, também podemos tirar algumas
lições positivas dessa arquitetura, essa arquitetura tem verde nos quartéis, tem
espaços de convivência, tem clubes, tem espaços de saúde, espaços de atenção
familiar, só para dizer que acho muito interessante que a arquitetura esteja nos
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A SRA. KÁTIA MELLO – Bom dia. Para quem chegou depois, eu sou antropóloga e
trabalho na Escola de Serviço Social da UFRJ. Venho, nos últimos três anos,
trabalhando com o tema “prisões”, mais particularmente fazendo o recorte de gênero
sobre as mulheres encarceradas em situação de maternidade.
O que eu gostaria de falar aqui, para contribuir um pouco com o diálogo da arquitetura,
pode parecer óbvio, mas o óbvio está tão na nossa cara que, às vezes, a gente não
enxerga. Enquanto eu estava ouvindo as apresentações – eu queria agradecer pelas
apresentações e pelas falas das pessoas que estão aqui –, eu me lembrei muito dos
livros de um jovem escritor contemporâneo, daqui do Rio de Janeiro, que é o André
Mussa. Em um de seus livros, ele diz o seguinte: “Quer conhecer uma sociedade? Veja
os crimes que são cometidos nessa sociedade”. Eu acrescentaria: quer conhecer uma
sociedade ou uma nação? Olhe para as prisões.
Eu gostaria imensamente que, hoje, nós tivéssemos podendo debater aqui quais as
etapas e os caminhos que deveríamos seguir na direção do abolicionismo penal. Mas,
infelizmente, não é isso o que temos para hoje. Então, temos que discutir o que temos
para hoje. A minha fala é nessa direção. Eu acho que, para contribuir na discussão
dessa arquitetura prisional, ela fala muito de uma sociedade que nasceu em cima da
escravidão, de uma sociedade que escravizava pessoas negras vindas da África e que
continua discriminando e matando pessoas negras já nascidas aqui também.
Esse projeto me parece reforçar a ideia de que, hoje, mais do que punição, nós
estamos vivendo um momento que, particularmente, eu acho muito perigoso – acho
que não sou a única a pensar isso aqui –, em termos das políticas que vêm sendo
implantadas, principalmente no âmbito da Justiça Criminal e da Segurança Pública.
Essa arquitetura me lembrou muito sabe o quê? Campos de concentração da época do
nazismo. Não são câmaras de gás, mas são câmaras para fazer morrer, por tudo o que
já foi colocado aqui, principalmente. Eu não sou da área de saúde, mas compreendi
perfeitamente as questões levantadas aqui.
Sabe, Márcia, a primeira coisa que eu pensei quando eu vi aquela foto ali no slide,
tomar sol na laje, foi em quantidade de “suicídios”. A facilidade com que “suicídios”
serão cometidos será muito grande. Então, eu queria lembrar isso.
Novamente, eu acho que o sistema prisional fala a respeito de uma sociedade. O
sistema prisional brasileiro mostra uma sociedade, que é a nossa, que entristece, que
adoece e que mata. Eu acho que essa arquitetura é uma arquitetura para matar. Ela
não é mais só para punir, ela é para matar.
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A SRA. RAFAELA ALBERGARIA – Bom dia a todos. Eu sou Rafaela Albergaria. Sou
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não se tem dúvida de que a situação piora. As principais doenças estão ali e não
estamos prestando atenção na proliferação delas, nem das de pele, nem das
respiratórias, principalmente a tuberculose.
A questão do acesso ao trabalho, do acesso à educação... Quando a Letícia começou
a apresentar, fez um discurso bacana, de reinserção, de introdução de trabalho, de
disponibilização de indústrias, de serviços, de trabalho para as pessoas presas, dentro
do complexo – eu nem entendi muito bem, não ficou muito claro –, mas aí você vê a
área de trabalho nessas unidades. Elas ficam onde? Ficam no térreo. Para 4.000
pessoas, quem sabe 8.000 pessoas? Que trabalho é esse? Que atividades vão ter?
A gente sabe que a saúde, o trabalho e a educação são serviços que vão entrar nas
cadeias, na medida em que elas têm um espaço previsto para serem desenvolvidas.
Uma Secretaria de Educação não vai disponibilizar um professor se você não tem sala
de aula para ele trabalhar. A indústria não vai querer investir numa produção de seja lá
o que for se não tiver um espaço para as pessoas trabalharem. Então, isso inviabiliza
qualquer tipo de atividade dentro da unidade.
O SR. VEREADOR TARCÍSIO MOTTA – Vou tentar ser bem rápido, Vereador Reimont.
Então, primeiro quero agradecer a presença aqui da Letícia, pela sua exposição. Eu
perdi o início, porque eu estava em uma reunião da Comissão Permanente de
Educação também pela belíssima exposição e crítica ao projeto.
Eu acho que a gente tem... Na minha cabeça aqui, fica que existem dois patamares de
discussão. Um deles tem a ver com a contradição, a incoerência existente entre o que
é o discurso político do governador em relação ao tema amplo da segurança pública e
o discurso que é apresentado como justificativa para este projeto.
Um primeiro nível da discussão é sobre – embora a Letícia venha aqui apresentar um
projeto que tenha como, também fez assim o vice-governador aqui na sala da
Presidência – quem apresentou o projeto. Que diga que é um projeto que pretende
humanizar o presídio, aumentar a dignidade humana no presídio, que aumente a porta
de saída dos aprisionados, porque confere acesso ao trabalho, existe um discurso que
lastreia a proposta.
É contraditório com o próprio discurso amplo do governo. Aí, é óbvio, a
responsabilidade não cai sobre os arquitetos que fizeram a proposta, etc. cai,
sobretudo, sobre, como é que a gente acredita que é o governo que diz: “Vai mirar na
cabecinha”. É o governo que atira de helicóptero, não é, para cima das favelas. É um
discurso do ódio, sobretudo. Aí, agora, a gente imagina que é esse mesmo governador,
com esse mesmo discurso, que ao olhar para aqueles que estão aprisionados e
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condenados, aí, não! É, vamos dar dignidade, ressocializar, dar acesso ao trabalho,
etc. Então, tem uma dimensão que a gente não pode abstrair.
Nós não podemos discutir essa coisa separada. É esse governador que disse a
campanha inteira, e eu o enfrentei na campanha, que ia investir em inteligência, em
investigação e agora cortou 87% das verbas para investigação e inteligência na política
de segurança pública. As coisas não estão desconectadas. Portanto, é preciso que a
gente entenda que existe essa dimensão.
Existe uma segunda dimensão, que é o seguinte: então, vamos, tudo bem! Estamos
acreditando que, de fato, o Witzel e toda a equipe que pensou isso estão preocupados,
sinceramente, com a dignidade. Eu imagino que grande parte da equipe esteja, embora
as ordens, a adesão política não seja nisso, mas então vamos partir do princípio de
que então é esta a preocupação.
O projeto não me parece resolver os problemas que estão apontados, pelo contrário.
Parece piorar o problema. É preciso que nesta dimensão, que é uma dimensão
também importante, o que me parece que a gente está concluindo aqui de uma série
de falas é que não há razão econômica para a verticalização, e que o processo da
verticalização não trará dignidade, de que o processo de inserção do trabalho na
educação não está claro sobre como vai acontecer, e tende a ficar mais complexo
ainda o fato de que os problemas da questão saúde e dignidade piorarão nesse
sistema.
Mesmo que a gente acredite nas intenções, na forma, no desejo, naquilo que justifique,
a realidade do sistema prisional, tão bem aqui colocada pela Rafaela agora há pouco,
mostra que o que vai acontecer nesses presídios não é a manutenção dessa
dignidade. Na verdade, mais e mais encarceramento, mais tortura, menos condição,
menos preocupação, menos dignidade, etc. Por isso, a gente aqui precisa na Câmara
dizer não a esse projeto de alteração de gabarito, porque é isso que esta Câmara vai
analisar.
Esta Câmara de Vereadores vai ter de autorizar ou não a mudança de gabarito na área
do Gericinó para este projeto que está aqui colocado. Aí, a gente vai ter todo um
trabalho de convencer o conjunto de vereadores. Mesmo que acreditássemos que as
intenções do mesmo governador que fala que vai mirar na cabecinha seja dar
dignidade aos presos, isso não vai acontecer no condomínio da morte, que vai ser
erguido, se a mudança de gabarito acontecer.
Esse elemento, eu acho que é, em minha opinião, o que a gente precisa, porque a
gente não pode... Aqui dentro da Casa – o Reimont e o Babá sabem disso – muitas
vezes, para justificar um voto favorável ao governo, os vereadores vão dizer: “Isso aí é
coisa da oposição, que está só querendo porque é oposição ao Governo Witzel. Só
estão falando isso porque eles são oposição ao Governo Witzel”.
Nós, então, vamos dar um voto de confiança ao governo. Nós precisaremos ir além do
primeiro nível do debate, que é o da crítica política ao governo, para crítica que é
técnico-política, porque não se separa técnica nesse ponto de vista, para poder mostrar
que este processo não faz sentido do ponto de vista econômico. Não faz sentido do
ponto de vista da saúde pública.
Ele não toca nos reais problemas, que são os 40% de presos provisórios. Ele não toca
no problema de ampliação das audiências de custódia que poderiam diminuir, e das
penas alternativas que poderiam, sim, diminuir a população carcerária e que poderiam,
sim, apontar para caminhos que a gente pudesse, de fato, então, trabalhar a questão
da dignidade humana daqueles que estão privados de liberdade no sistema prisional.
Eu acho que essa é uma tarefa difícil. A gente precisa, o Vereador Reimont já falou
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aqui. A gente não pode considerar que esse debate, embora seja muito importante,
seja o único debate a acontecer nesta Casa.
Quando o projeto de lei retornar a esta Casa, é preciso ter uma audiência pública, em
que a gente, inclusive, traga os trabalhadores do sistema prisional, traga mais
egressos, traga o saber da academia que está muito presente aqui hoje nas diversas
áreas, mas que a gente traga, também, o povo aqui para poder falar, para que a gente
possa criar massa crítica para de alguma forma influenciar nesses vereadores, para
que esse projeto, aqui, onde se discutirá apenas o gabarito não passe para que a
gente possa impedir que esse condomínio da morte seja erguido lá em Bangu, em
Gericinó.
Muito obrigado.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Ele não vai ser colocado em uma área residencial, uma
área externa, dentro do complexo.
O SR. MARLON BARCELLOS – Sim. É. Exatamente por isso a lei não obriga que haja
o estudo, mas houve algum? De certo modo, ele traz algum impacto para a urbanidade
da região. Não houve?
A SRA. LETÍCIA AMADO – Justamento porque ele vai ser dentro do complexo não
precisaria.
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A SRA. LETÍCIA AMADO – Sim, isso tudo está previsto. Ampliação dos sistemas.
O SR. MARLON BARCELLOS – A questão das alternativas penais que a gente expõe
aqui, mas na verdade não é o debate da Câmara, pensando na Câmara, pensando da
perspectiva do município e dos munícipes. Tem toda a questão que o Mauro colocou
da simbologia, de uma verticalização, a questão de quem passa por uma Avenida
Brasil, percebe um presídio vertical. O município recebe um piso de atenção básica fixo
para cada munícipe que lá está, mas também os outros que não são munícipes.
Com a criação de mais vagas no Município do Rio de Janeiro, o Município do Rio de
Janeiro passa a estar mais obrigado a prestar assistência à saúde a quem lá está. Com
a verticalização criando desafios de locomoção vertical, isso passa a estar mais difícil.
Existe uma ação civil pública contra Município do Rio, justamente, para isso, para que
o município preste um serviço de assistência à saúde pelo piso de atenção básica.
As campanhas de vacinação se tornam mais difíceis porque o acesso às pessoas se
torna mais difícil. O município tem também que prestar o serviço de verificação de
óbito. Esse é um serviço que está sendo montado pouco a pouco. Imagine o drama
que seria remover um corpo e verificar o óbito no nono andar de um prédio que não é
um prédio comercial do Rio de Janeiro, é um edifício penitenciário em que todo mundo
que está ali fica. Não é um prédio com salas comerciais, o que já seria um drama no
Centro do Rio de Janeiro, imagina um presídio, e morre gente.
O Léo já fez um levantamento hoje. Este ano, foram 178 pessoas mortas no centro
penitenciário, 30% morrem dentro da unidade prisional. Então, isso é frequente.
Vamos lá, haveria 3.456 pessoas ali no Plácido, quando tinha quatro mil pessoas,
morriam quantas por ano em média?
Eram 32 pessoas por ano, sendo os corpos removidos de um presídio vertical. Qual
seria o impacto social para as outras pessoas vendo aquele corpo sendo removido?
Sim, sem contar que o Município do Rio de Janeiro está no movimento ou aderiu
completamente à política nacional de atenção integral à saúde dos privados de
liberdade. Isso tem reflexos na própria arquitetura prisional. Não se sabe se isso está
refletido no projeto de vocês. Isso se reflete na área da saúde nos ambulatórios.
Agora, no ponto de vista dos munícipes, há uma discussão importante. Um projeto
daquele valoriza ou desvaloriza a região para os munícipes? Será que os munícipes
querem um projeto daquele? Os que moram lá e os impactos que vai trazer.
Quem conhece mais... Uma pena que a Seap não está aqui. Tinha um engenheiro...
Ele iria dizer, com certeza. Nesse projeto, a ideia é fazê-lo ao fundo do complexo ao
lado do Jonas Lopes. Não é isso?
O SR. MARLON BARCELLOS – Tem ao fundo, não é? Bem ao fundo, perto do Jonas
Lopes. Ali tem um problema que não é de vocês, dos arquitetos, mas é um problema
que eu acho que o município precisa encarar.
Ali é conhecido como fim de linha do abastecimento de água do complexo, então, por
mais que a Cedae vá lá e historicamente é um serviço municipal, apesar de todas as
controvérsias...
Os municípios de uma grande região metropolitana optaram por entregar a Cedae,
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que, por todos os esforços, melhorou esse serviço e muito, mas ainda é fim de linha.
Por ser fim de linha, no verão, quando muitas vezes dá algum problema, o Jonas
Lopes sofre com isso porque é o primeiro a ser desabastecido, e o último a ser
abastecido quando a água volta.
A opção de colocar um vertical lá me parece que piora essa situação, porque são muito
mais vagas, e uma opção vertical exigiria um reservatório maior ainda para poder
abastecer e manter o ritmo. O reservatório não conseguiria ser por cima, teria que ser
embaixo e bombeando a água.
Por fim, a verticalização dificulta quase todas as assistências. Seriam diariamente
distribuídas 3.456 quentinhas ao longo de todo ele vertical. Na parte do café da manhã,
do almoço, são quatro refeições por dia. Torna-se pior à medida que o acesso é
sempre por terra.
No horizontal, como é o Vicente Piragibe, no Plácido – o Plácido já chegou a quatro mil
pessoas –, você espraia isso ao longo da horizontalidade, o que não consegue na
verticalidade.
Que bom que vocês conseguiram fixar a respeito do regime, estabeleceram o fechado,
porque até então isso era uma indefinição e impacta no projeto. A partir do regime, tem
uma expectativa da arquitetura...
O SR. MARLON BARCELLOS – Por fim, são duas dúvidas pontuais, a respeito da
abertura da cela para o exterior, que você informou que era de 2 m2. Nós temos uma
informação de um registro anterior, que não sei se corresponde ao projeto atual, de que
a parede tinha 16 m2 e, considerando a informação de 40% da norma técnica, se a
abertura teria os 40%. Essa é uma dúvida pontual.
A segunda dúvida pontual é a respeito de pontos elétricos nas celas porque isso...
Sempre a referência da saúde é a Alexandra, mas é verdade porque ela é sensacional.
Os presos têm muitos equipamentos de nebulização. Eles têm que fazer. No mínimo,
esse é um dos que necessitam do equipamento elétrico e, se não tiver a tomada, como
algumas unidades não têm, eles não fazem e, se não fazem, às vezes vão para óbito.
É mais ou menos por aí.
Obrigado pela oportunidade de estar aqui e também pelo evento em si, pelo
conhecimento que está sendo produzido aqui.
O SR. EDSON SODRÉ – Eu gostaria de chamar a atenção para o fato de que existem
dois modelos que poderíamos tomar como referência, um modelo representado pelos
Países Baixos, tipo Noruega, Holanda, Dinamarca e Suécia, enfim, onde estão até
fechando as prisões, porque lá o programa de desencarceramento é combatido
distribuindo renda.
A gente sabe que, distribuindo-se renda, diminui a criminalidade. Ao mesmo tempo,
temos o modelo americano que prova isso também, porque Detroit era uma cidade
muito rica e, quando teve uma crise econômica lá, aumentou muito o índice de
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Eu percebo isso na prática, porque eu estive preso em uma cadeia que era menos
desumana, tinha cubículo individual. A cadeia abria às 6 horas e fechava às 20 horas.
Lá, não havia violência nenhuma. Conviviam ex-policiais, estupradores, bandido
comum, porque ninguém queria perder aquele espaço, que era um espaço menos
desumano do que nas outras prisões.
No entanto, assim que essa cadeia foi desativada, e a gente foi transferida para o
Complexo de Bangu, aquele mesmo coletivo, que foi mudado de espaço físico, quando
chegou lá, passou a ter os mesmos problemas que havia nas outras prisões. Porque,
agora, a gente não tinha o privilégio de um espaço mais humano. Aí, teve que dividir:
estupradores para um lado; ex-policiais para outro.
O que eu vejo – já que eu citei ex-policiais; pelo meu envolvimento no teatro, eu convivi
com ex-policiais – é que a galeria de ex-policiais era totalmente diferente da do preso
comum, porque os guardas tratavam todo mundo com mais educação, digamos assim,
com mais humanidade.
Eu fui bem tratado porque eu sou lido como branco e, talvez, porque eles me
confundiram com ex-policiais também. Então, o sofrimento nessa cadeia é menor. Já
na cadeia comum, o guarda vê o preso como inimigo.
Aí, eu devo falar dos intelectuais americanos, porque um deles, doutor em Psicologia,
escreveu um livro famoso, “O efeito Lúcifer”, que fala da questão de o guarda
penitenciário ver o preso como inimigo. Para eu não me alongar muito, a pesquisa dele
foi o seguinte: ele pegou alguns alunos dele da universidade, levou para um lugar e
simulou uma penitenciária.
Ele dividiu os alunos em dois grupos. Um dos grupos iria fazer o papel de guardas
penitenciários, e outro iria fazer o papel de presos. Em resumo: começou a ter tanta
violência nessa pesquisa que esse doutor teve que acabar com a pesquisa.
Realmente, estava virando o quotidiano de um presídio. Esse doutor estava virando
uma espécie de diretor da cadeia. Ele só foi se dar conta disso quando ele convidou
uma namorada dele, que também era psicóloga, para visitar a pesquisa dele, e ela,
com uma visão de fora, diagnosticou. Então, o que eu vejo é que a gente está falando
da arquitetura, mas não há uma mudança na política do tratamento humano.
Existem, no mundo, nesses países que eu citei, os Países Baixos, um lugar em que os
presos convivem tranquilamente com os guardas. Eu acho que, se tiver que haver
guarda, teria que ser em cima do muro, para não deixar o preso fugir, já que é a lógica
da segurança, mas no trato do quotidiano, tinham que ser profissionais educadores,
para tentar ressocializar esse preso.
Não alguém que vai ver o preso como inimigo. Geralmente, quem ele vê como inimigo
é o preto e o pobre que estão lá, porque quando é alguém é rico, eles logo oferecem
mordomia, cubículo individual.
Uma questão: foi citado aí, por uma senhora que estava do meu lado, que é no sistema
penitenciário que a gente vê a justiça do país. Eu fiquei emocionado com isso, porque
semana passada eu fui lá ao Jacarezinho. O Adriano, que estava aqui, é morador lá da
favela, e eu estava vendo uma questão que me lembrou que eu disse Rousseau, não
é?
Rousseau, na obra dele chamada “Emílio, ou da educação”, fala que é na choupana do
pobre que a gente vê a justiça de um país. Então, naquele momento que fomos à parte
mais pobre da favela, lá onde está tendo uma invasão, não é, Adriano? Então, eu vi
isso de perto ali, a tremenda injustiça que é este país, porque as pessoas que vão vir
parar no sistema penitenciário são aquelas pessoas mais pobres ali.
Para eu encerrar – eu sou um pouco mentiroso, talvez eu não encerre –, gostaria de
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fazer uma citação de uma obra, “Utopia”, que é uma obra que eu li. Eu reescrevi
alguma coisa e ficou assim: “Não seria melhor garantir a cada criança o alimento, a
educação, a cultura e todas as condições necessárias a sua subsistência a fim de que
nenhuma criança ao crescer se veja na necessidade de cometer crimes primeiro para
ser presa ou morta depois?”.
Toda vez que eu falo isso me emociono, e não tem como não me emocionar, porque eu
vejo que o criminoso mais odiado pela sociedade é aquele jovem que nasceu na
pobreza tão grande, que ele não tem nem força nem inteligência para cometer um
crime. Ele termina cometendo o crime mais fácil, que é roubar uma mulher grávida,
roubar um telefone, roubar as pessoas mais pobres. Nisso que ele rouba as pessoas
mais pobres, traz sobre ele um ódio ao criminoso, um ódio que é explorado – o João
citou muito bem aí – no mundo inteiro.
Por exemplo, a gente sabe que o Governo Trump, nem sei falar o nome dele, mas não
importa, porque ele não merecia nem ser falado, ele se elegeu, e outros governantes
aí, no nosso próprio país nós temos o exemplo, com a lógica do bandido bom é o
bandido morto, do combate ao crime.
É natural que a gente não goste de ser roubado. Eu prometo a vocês que vou tentar
encerrar, mas a lógica que eu vejo é que nem o ladrão gosta de ser roubado, o ladrão
gosta de roubar. Na cadeia, se você for pego roubando, ou você morre ou você apanha
muito. Se você roubar na favela, ou você morre ou você apanha muito, porque
ninguém gosta de ser roubado.
Para concluir essa questão do roubo, por que as pessoas roubam? É uma questão
muito longa, mas eu queria encerrar propondo uma reflexão. Aliás, duas. Essa que eu
acabei de falar e outra. A Antropologia define o homem como um animal predador. O
que significa isso? Ladrão e assassino. Então, é só por meio da cultura e da educação
que a gente vai evoluir.
Se a gente continuar sendo governado por esses políticos lobos, desculpa as pessoas
que, de repente, têm convicções religiosas, mas por esses vendilhões dos templos...
Veja bem, no meu tempo, eu aprendi o Evangelho de Jesus Cristo; hoje em dia, os
vendilhões dos templos estão optando agora pela posse de armas ou ódio ao pobre.
Desculpa, que eu me alonguei um pouco aí, mas eu achei necessário.
O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Obrigado, Edson. Muito boa sempre a sua fala.
Com a palavra, Ana Alice.
A SRA. ANA ALICE – Eu vou ser bem breve, por causa do tempo. Gostei muito da
colocação dele, excelente. Algumas coisas que ele colocou eu até ia falar, já diminuiu
meu tempo. Sobre a questão do modelo vertical ou horizontal, concordo com o que
está sendo colocado, nem vou tecer muitos comentários.
Eu quero reforçar algumas coisas. Nós vivemos em um sistema capitalista, quero
chamar a atenção disso. Nós vivemos em um sistema capitalista que tem um exército
de reserva, e quer matar as pessoas, porque hoje o exército de reserva está muito
grande.
Tudo o que se faz hoje nas nossas comunidades, nos nossos bairros pobres, é
genocídio, assim como se faz na prisão, quer dizer, se aprisiona, além do que, vou
reforçar aquele primeiro livro que você falou, que eu tenho dificuldade de falar o nome
do cara, que é Wacquant.
Ele coloca uma questão que eu acho essencial a gente levantar, que é o seguinte:
aumentou o número de pessoas presas no mundo, nos Estados Unidos, no Brasil, etc.
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Todo mundo capitalista resolveu que tinha que prender para resolver o problema da
violência, e a violência não diminuiu. Cada vez mais, a gente prende gente e não está
resolvendo o problema da violência. Então, o problema não é esse.
A gente aprisiona negro, pobre. É isso que a gente está aprisionando, e levando à
condição de genocídio, porque hoje o que se faz nas nossas comunidades, o que se
faz nos nossos bairros pobres, o que se faz dentro dos presídios, para mim é
genocídio. Deixar a pessoa vivendo naquela condição, deixar doenças que estão
aumentando como a tuberculose... De 2015 para cá, a gente dobrou o número de
pessoas com diagnóstico de tuberculose, fora o que a gente não está diagnosticando,
que sai de lá para morrer.
Houve casos que saíram de lá carregados para o hospital, para morrer de tuberculose.
Não conseguiram, sequer, fazer um diagnóstico lá dentro do presídio. Então, só para
concluir, eu tenho uma proposta para o vereador, para ele refletir, que é o seguinte:
existe um movimento de desencarceramento. Eu acho que é um movimento que a
gente tem que pegar.
Alguns juristas fazem parte desse movimento. Internacionalmente, o colega ali já citou,
existe um movimento de desencarceramento. Não adianta a gente ficar presa porque
não tem prova nenhuma. A gente só está produzindo miséria, aumentando a miséria e
aumentando a violência, porque não tem violência maior do que hoje é feito dentro dos
presídios.
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nove ou até mais, porque a gente não sabe, o projeto vai mudando, e o gabarito sendo
15, isso preocupa também.
Outra questão também que preocupou bastante e foi bem falada aqui é a questão do
fornecimento de água. Algumas coisas já vêm erradas de projeto. Acho que a
Alexandra pontuou muito bem a questão do chuveiro em cima do boi.
O boi também é um modelo que a gente já devia ter abandonado. Não é uma forma
nem um pouco digna de ir ao banheiro as pessoas terem que se abaixar,
especialmente as que têm deficiência física e dificuldade de mobilidade, mas, em 2016,
quando eu estava ainda na Defensoria, a gente fez também uma fiscalização no
presídio de Resende, antes dele inaugurar.
Uma das coisas que me chamaram a atenção, e eu relembrei aqui agora, é que o
chuveiro, alguns lá já eram também em cima do boi, e o projeto sequer contemplava o
misturador de água, porque já partia do pressuposto de que o preso não vai controlar a
própria água.
A gente sabe que isso é um problema aqui. O fornecimento lá no Jonas Lopes é muito
ruim. No Plácido também. Nós estivemos, o Marlon e o Léo estavam comigo, quando
fomos fazer uma questão de avaliação de água lá e solicitamos que o diretor abrisse a
água da cadeia toda. Em menos de 40 minutos, foram 15 ou 20 minutos, e a água tinha
acabado. Isso no Plácido, com 4.200, numa escala de superlotação. O vertical,
inaugurando com sabe-se quantos, não é? Porque eu caso dinheiro aqui que ele já
abre superlotado. Se não abrir, vão segurar, mas a superlotação global continua e,
depois, vai superlotar.
Uma coisa que eu também não tinha visto ainda no projeto – e que hoje me chamou
muita atenção e que é objeto de uma preocupação muito grande –, foi a questão do
galpão laboral, que está previsto ali, que seria para entrada de empresas, para
trabalho, e tal, etc. Eu me pergunto em que modelo as empresas chegariam nesse
galpão para se utilizar da mão de obra dos presos, porque, estruturalmente, a gente já
tem, no Esmeraldino Bandeira, um galpão parecido, que serve ao mesmo propósito, e
a gente pode ir lá agora e ele está às moscas, não tem uma empresa sequer. De vez
em quando, tem alguém fazendo vassoura, ou costurando bola, alguma coisa assim,
mas não tem um investimento nesse sentido, e me preocupa de qual seria o modelo
que vai trazer as empresas.
Aí, não consigo não pensar no Projeto de Lei nº 190, que está em trâmite na Alerj,
agora, e permite que a iniciativa privada se aproprie dessa mão de obra do preso, e
sob que circunstâncias a gente já imagina, porque os serviços que a gente já tem no
sistema prisional, e que são privatizados, notadamente saúde e alimentação, são
péssimos – quando não inexistentes, no caso da saúde.
Então, me preocupa muito essa entrada também da iniciativa privada sobre a questão
desse galpão laboral. Fico pensando que terrores vamos discutir, daqui a alguns anos,
caso isso venha a se concretizar.
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A SRA. ADRIANA GRETA – Boa tarde. Eu não tinha me apresentado porque cheguei
um pouquinho atrasada. Meu nome é Adriana Greta, represento a Rede Trans, e a
população trans vem aumentando, como qualquer população vulnerável nos presídios,
e ela se torna muito mais vulnerável dentro deles.
Quando a gente fala de humanização, que esse projeto é de humanização, isso é uma
enganação, porque o governador não quer ouvir os segmentos e as pessoas que vão
usar esse serviço. Não se sei pode chamar isso de serviço, ou um desserviço. Então,
eu pego o gancho na fala do Babá, quando ele fala de outras prioridades.
Não que o presídio não seja, eu acho que tem que ser, mas o presídio já é
consequência da falta desses outros serviços fora, que são a Saúde e a Educação.
Porque nós estamos vivendo num país que está abrindo igrejas, nada contra, mas
estão fechando museus. Nós estamos fechando escolas e abrindo presídios.
A partir do momento que os segmentos que lidam diretamente com a população
carcerária não estão sendo ouvidos pelo governador, nada de humanização tem nesse
programa. É um programa faraônico. Ele quer deixar a marca dele no governo, e essas
marcas podem deixar marcas irreversíveis.
Aí, a gente tem que falar, sim, na questão. O Professor Mauro falou que ia se ater mais
à questão arquitetônica, porque é a sua área, mas a gente tem que se preocupar muito
com a questão financeira, porque a conta, quem vai pagar é a gente. Não precisa ser
acadêmico, não precisa estar na área para ver que manter um prédio é muito caro. Eu
trabalho mais ou menos com isso e, para a gente manter quatro pequenos elevadores,
a gente gasta R$ 10 mil por mês – isso, dinheiro privado. Coloque R$ 10 mil em um
ano: R$ 120 mil. Esse dinheiro poderia ser revertido. São R$ 10 mil porque é uma
coisa simples.
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Quando você vai para a licitação, ainda tem a máfia da licitação, que a gente não sabe
o que está por trás disso. Então, é mais um ponto a ser pensado, a questão da
despesa, porque vai ter bombas para bombear a água para esses prédios. Uma vez
que eu sou da Zona Oeste, e lá já falta água. Então, é uma questão a ser pensada, que
já foi colocada aqui, e eu acho que a Letícia tem que...
Como arquiteta e tudo... Você é arquiteta, não é? Porque eu cheguei depois da sua
apresentação. Eu acho que até o governo, se ele estivesse interessado mesmo em
humanizar e se aproximar da população, ele teria mandado outros representantes,
porque, certamente, ele sabe o que está acontecendo aqui, em outras áreas. Não te
desmerecendo, Letícia, e obrigado por estar vindo, até para nos botar mais a par do
que é realmente o projeto. Então, a gente não pode falar em humanização, enquanto a
gente está há quatro meses tentando falar com o governador a respeito da população,
a qual eu milito...
Embora eu seja de um coletivo de mulheres cis também, eu sou de um coletivo de
pessoas trans. O governador tem um filho trans e, através, inclusive, do filho, que é
homem trans, nós tentamos, mas o filho disse que não tem esse “afrouxo”, não tem
como. Tentamos, por meio de assessoria, uma vez que a resposta foi que esse não é o
interesse do momento. Eles têm outras prioridades. Então, você vê que ele não está
preocupado com quem vai estar dentro desse sistema. Não está com as pessoas que
já estão...
Outra coisa: a se tratar de prédio, as tubulações são muito maiores. Uma dúvida
minha, porque a questão da proliferação de doenças através de insetos, enfim, uma
vez que as tubulações são bem mais complexas. Então é isso, e obrigada.
A SRA. PAULA MARACAJÁ – Obrigada. Vou ser rápida, a gente já debateu muito aqui.
Para mim, me soa como um projeto que foi pensado de infraestrutura e, depois,
adaptado à arquitetura. Não me parece um projeto que foi pensado do ponto de vista
da humanização. Já debatemos de várias formas aqui, hoje, e a gente está
encontrando muitas delicadezas que devem ser aprofundadas e debatidas com a
sociedade civil, não apenas com técnicos.
A minha voz, aqui, é sociedade civil. Existem muitos que estão aqui em grupos de
pesquisa, e também estou vinculada a alguns, mas é muito importante que a sociedade
civil possa estar presente a essas discussões, uma vez que detalhes nesse projeto
podem ser pensados por pessoas que jamais viram um sistema prisional antes e que
podem olhar o sistema prisional de outra forma.
É importante a gente dizer que esse projeto tem fins eleitorais. Está claro. Não existe
um projeto pensado aos conceitos de Educação e conceitos de trabalho repensado
sobre isso. A gente vê que é um projeto da indústria carcerária, um modelo de indústria
carcerária. É a mercantilização desses corpos. É isso aí. A gente vai mercantilizar isso
até quando não pudermos mais.
Do ponto de vista da Saúde, já foram ditas aqui, várias discussões, mas a
acessibilidade e listar qual é o percentual em que esse projeto está pensando
realmente um projeto de reinserção social... Uma palavra difícil de a gente entender, a
reinserção social. A gente não reinsere ninguém na sociedade, mas, já que o nome
que a Seap tem como um modelo capaz de desencarcerar pessoas está colocado na
etimologia reinserção, a gente está aqui pensando o que é esse modelo de trabalho, o
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A SRA. LETÍCIA AMADO – Boa tarde. Eu anotei algumas das questões que vocês
colocaram. Muitas das coisas que vocês falaram não cabem, a questão da arquitetura,
a questão de política pública e questões que cabem ao Legislativo e ao Judiciário.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Mas, dentro do que eu posso falar a respeito da questão
projetual, foi colocada a questão de infraestrutura, infraestrutura urbana, abastecimento
de água. Realmente, vai existir uma necessidade de abastecimento de água. Quando
você faz um determinado tipo de projeto, isso sempre existe. Então, você vai colocar
um projeto para receber três mil pessoas, quatro mil pessoas: você tem que ter um
abastecimento coerente com a capacidade daquele lugar.
Com relação ao que acontece no Plácido de Sá, que é, inclusive, um dos primeiros que
se quer substituir, você falou que existe um grande número de mortes, que é um
espaço que tem quatro mil pessoas. É um espaço que tem quatro mil pessoas, mas foi
pensado para oitocentas, ou menos. Ali é um espaço pensado para este número de
pessoas. Então, a infraestrutura que o Plácido de Sá conta, em questão de arquitetura,
não é a mesma infraestrutura que esse projeto vai contar. Vai contar para um número
adequado de pessoas.
Com relação à Saúde e à Educação, foi muito colocado... Existe uma série de cálculos
que são feitos, e participaram, desse momento inicial de decisão de quantitativo e tudo
o mais, tanto a Seap, quanto a Seeduc, quanto as pessoas da Seap que participam do
sistema penitenciário. Também foi à secretaria um coordenador do Depen, que é de
onde vêm as diretrizes nacionais. As diretrizes foram amplamente estudadas, esse
projeto já foi enviado a eles, eles já fizeram análise, já foram à secretaria em reunião, já
foram discutidas, ponto a ponto, as questões das diretrizes sobre o projeto.
Infelizmente, a gente não consegue abrir o projeto detalhadamente para todo mundo,
porque é um projeto de segurança, mas a gente pode ver se consegue, talvez, expor o
programa de forma mais detalhada, de tudo que está sendo atendido.
As reuniões decisórias sobre o projeto foram realizadas, semanalmente, com esses
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atores. Inclusive, a Defensoria foi convidada algumas vezes, não sei por que não
participou das reuniões. Existe, sim, área para a Defensoria, para o Ministério Público...
A SRA. LETÍCIA AMADO – Existe uma área de inclusão, de tratamento penal, com
sala de videoconferência, com parlatório, com sala para a Defensoria e sala para o
Ministério Público. São infraestruturas que não existem hoje, pelo menos não na
maioria das unidades prisionais, e estão sendo incorporadas, porque essas legislações
vão se atualizando, vão se modernizando, e as unidades que existem, que se pretende
substituir, não teriam condições de atender. Somente unidades novas poderiam ser
atendidas...
Olha, eu sou de obras, está bem? Mas eu vou fazer, vou te dar uma resposta, que é o
que a gente vê da organização do sistema penitenciário, que é você não misturar.
Então, você não teria misturas. A princípio, você não pode trabalhar dessa forma...
Não, não tenho esse conhecimento. Eu sei que... Até, recentemente, a gente teve uma
reunião com o pessoal da Seap, e eles falaram, realmente, desse grupo de presos e
que, aí, deveria ser o conjunto inteiro para esse grupo de presos, não haveria mistura.
É isso que ela está querendo saber, se haveria mistura. Não haveria. Se não tem
facção, não tem facção, não é?
O SR. PRESIDENTE (REIMONT) – Ok. Nós precisamos ouvir aqui a Letícia, porque
senão nós não conseguimos concluir.
A SRA. LETÍCIA AMADO – Com relação às doenças, muitas coisas foram pensadas,
inclusive com os profissionais da área de Saúde. Até você perguntou... Você não deve
ter ouvido quando eu apresentei que todas as tubulações são feitas por shafts
externos, justamente para tirar a possibilidade de vazamento, qualquer umidade dentro
das celas. Então, elas são por shafts externos. Facilita a manutenção, e você tira a
umidade dali, não é? Os banheiros são individuais, por cela, diferente do que acontece.
Foi colocado aqui: “Ah, que hoje as celas são maiores”. Mas as celas são maiores, com
um número muito grande de pessoas reunidas, e apenas um banheiro para cada uma.
No projeto, tem as celas para seis pessoas e um banheiro individual para cada cela.
Algumas particularidades da arquitetura interna das celas, como a questão dos
sanitários, do chuveiro, das camas, são padrões que são usados pela Seap. Não se
tem muita decisão de qual vai ser a cama que vai colocar, qual vai ser o...
Não se tem muita decisão a respeito disso. Muitas das coisas vêm do demandante do
projeto, até mesmo porque eles é que administram. Então, eles falam “não posso
administrar um vaso de louça numa cela” e, para botar um vaso de inox, seria inviável.
Então, o modelo é aquele. Então, existem prerrogativas que não se conseguem alterar
porque é a administração que tem que dizer como ela consegue atuar.
Com relação à acessibilidade, existe uma proposta de uma das unidades ser acessível,
e aí, nesse caso, o sanitário vai ter que ser o sanitário de inox, mesmo ele sendo
muitas vezes mais caro, mas para poder possibilitar a acessibilidade aos cadeirantes
ou às pessoas mais idosas, obesas, de todas as formas.
Com relação às salas de múltiplo uso, existem salas de múltiplo uso nas unidades, mas
não quer dizer que são salas sem uso pré-definido. São destinadas à Educação, à
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Saúde, existe uma sala de um espaço ecumênico, existe um salão de visita – são
coisas separadas, não é um espaço que vai ser para múltiplos usos. A gente, às vezes,
fala sala de multiuso porque o arquiteto, às vezes, tem muita tendência a querer
direcionar o uso de um espaço.
Ele simplesmente coloca o espaço como existente, e quem vai fazer o uso é o usuário,
mas a gente coloca o espaço como um espaço para Saúde, um espaço para
Educação. Mas essas salas de multiuso, elas são internas às unidades, vai ter que ser
um pouco mais de acordo com o funcionamento da unidade qual vai ser o uso delas,
mas teria espaço para implantação de Saúde e Educação, internamente, de cada
unidade.
Com relação à questão do trabalho, da oficina, é que vocês não têm mais acesso à
planta, mas, no térreo daqueles módulos, daqueles braços – não sei se vocês estão
lembrados do projeto –, dois deles são para Educação, e um para a oficina. Esse de
oficinas, o que se pretende não é o uso de produção para o mercado externo, seria um
uso mais de ensino da profissão. Não é uma oficina para ser uma indústria dentro do
conjunto, é mais uma oficina da questão do ensino da profissão ali dentro, e os
espaços de trabalho seriam nos galpões. Mas é o que sempre falo: questões referentes
à administração penitenciária, não me cabe responder, mas eu coloco sobre os
espaços que estão ali previstos.
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A SRA. MÁRCIA BADARÓ – Eu queria fazer um apelo agora aos vereadores, a esta
Casa, neste debate tão importante, porque, vejam bem, uma estrutura desse porte
requer recursos humanos importantes, tanto da área dos inspetores penitenciários,
quanto de toda a área técnica. Porque, falando como experiência vivida dentro do
sistema prisional, se nós não tivermos recursos humanos, para esse complexo
penitenciário, que atendam à Saúde, à Educação e a todas as questões que foram
colocadas para esses espaços, esses espaços se tornarão ociosos e, podem escrever
o que eu estou dizendo, se transformarão em celas.
Eu vivi isso em três unidades por onde eu passei. Então, é muito importante saber do
governador se ele vai de fato contratar pessoas em número suficiente, porque hoje nós
não temos no sistema. Nós não temos médico, não temos psicólogo, não temos
assistente social. A Defensoria Pública se vira para ocupar esse complexo, porque, se
não tiver os profissionais ocupando esses espaços, certamente serão mais celas, além
de todas essas.
Eu falo por experiência de três unidades. Eu gostaria que vocês levassem essa
preocupação.
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muito a você e a sua equipe que está aqui, a equipe do estado – de que a gente não
tem discordância do caminho que vocês tomam: nós temos discordância daquilo que
vocês apresentam, quando nós contrastamos aquilo que vocês apresentam com aquilo
que a governança do Estado do Rio de Janeiro tem proposto nos últimos tempos.
Nesse sentido, eu também acho que o governador poderá, em algum momento – e
muito rapidamente o fará, se continuar nesse processo que a gente vê, de construção
política da cidade –, pegar o projeto de vocês, para além de todas as críticas técnicas,
que a gente concorda, feitas pelo Professor Mauro e por todos que aqui falaram, e
fazer desse projeto, de fato, um projeto de extermínio dos presos.
A Arquitetura, na nossa leitura – e aí, é uma leitura laica da nossa parte –, pode, nesse
momento, estar sendo usada pelo governador para apresentar um projeto humanitário
que não será um projeto humanitário. A Arquitetura estará assinando, exatamente às
vésperas de a cidade ser considerada a cidade mundial da Arquitetura, um projeto que
é um projeto de implementação de uma política nazifacista, como tem apresentado o
Governador Witzel.
É a assinatura de vocês que vai estar lá. É responsabilidade de vocês, que são
técnicos, profissionais, adultos, mas é um pouco essa a nossa preocupação, e nós
vamos bater nessa tecla enquanto pudermos, porque cabe a nós fazermos essa leitura
política.
A todos vocês, muito obrigado. Obrigado mesmo.
Que a gente siga em frente, debatendo pela democracia, já que ela está tão esgarçada
nos governos de Bolsonaro e Witzel.
Está encerrado nosso Debate Público.
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