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Aprenda a lidar com a vitamina C em

cosméticos e garanta produtos mais estáveis


e eficazes.

O ácido ascórbico (AA), mais conhecido como vitamina C, é uma vitamina


hidrossolúvel frequentemente utilizada em formulações cosméticas devido às
suas propriedades benéficas e terapêuticas para a pele. O AA é um excelente
antioxidante, ou seja, ele combate os danos causados pelos radicais livres na
nossa pele, prevenindo o envelhecimento cutâneo. [1]

Além disso, a vitamina C apresenta outros importantes benefícios para a pele,


pois participa na biossíntese de colágeno (principal proteína cutânea) e auxilia
no clareamento de manchas da pele fotoenvelhecida.

Como se sabe, esta vitamina apresenta dificuldades na sua manipulação,


inerentes ao seu alto risco de oxidação perante a luz, altas temperaturas e
presença de água. A utilização de ácido ascórbico em produtos cosméticos e
farmacêuticos é limitada devido à sua baixa estabilidade. Em condições
aeróbicas, o ácido ascórbico é reversivelmente oxidado para ácido dehidro L-
ascórbico, que pode ser irreversivelmente degradado à ácido oxálico. [10]

Continue lendo esse artigo para saber:


 Mais informações sobre a vitamina C.

 Dicas importantes para a correta manipulação da vitamina C.

 As principais opções de vitamina C estabilizadas disponíveis e suas


particularidades.
 

Conheça mais sobre a vitamina C

A vitamina C é cofator para duas enzimas essenciais na biossíntese do colágeno:


a lisil hidroxilase e a prolil hidroxilase. Muito importante citar que além de
atuar como importante cofator para essas enzimas, a vitamina C regula também
a síntese de colágeno tipo I e III (os principais tipos de colágeno da pele)
diretamente pelos fibroblastos dérmicos de forma independente da idade da
pessoa. [2]

Agentes antioxidantes, como a vitamina C, são capazes de inibir as etapas de


oxidação necessárias para a formação da melanina, promovendo clareamento
cutâneo. A vitamina C tópica promove um efeito redutor de manchas, reduzindo
a formação da melanina (pigmento escuro da pele). Um estudo divulgado no
Jornal Internacional de Dermatologia mostrou que a vitamina C a 5% foi capaz
de clarear as manchas de melasma após 4 meses. Interessante destacar que as
análises colorimétricas (que medem a intensidade da cor da mancha) não
mostraram diferenças significativas entre a vitamina C a 5% e a hidroquinona a
4% (fármaco considerado padrão ouro no tratamento de manchas hipercrômicas
da pele). [3]

Como visto, o ácido ascórbico (vitamina C) é amplamente utilizado em


cosméticos devido às suas propriedades antioxidantes e ao seu efeito
estimulador da síntese de colágeno. Porém, a luz solar e a poluição ambiental
podem esgotar com a quantidade de vitamina C presente na epiderme, sendo
importante a sua reposição para a prevenção do envelhecimento precoce. [4]

Agora que você já recebeu mais informações sobre essa vitamina, conheça as 7
dicas importantes para a correta manipulação da vitamina C.

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7 dicas para a correta manipulação da vitamina C

A vitamina C é um antioxidante, sendo, portanto, altamente instável. A


oxidação dessa vitamina pode ocorrer na presença de ar (oxigênio), luz, água e
temperatura elevada. Um dos maiores desafios do formulador é evitar a
oxidação da vitamina C na formulação. Veja agora dicas importantes para a
correta manipulação da vitamina C:

1. Temperatura

A vitamina C é solúvel em água (hidrossolúvel), assim sua solubilização é


simples, bastando adicionar qs de água (ou de um glicol para melhor
estabilidade). Porém essa vitamina é termolábil, e por isso a solubilização deve
ser em processo a frio, assim como sua adição à formulação. O ácido ascórbico
deve sempre ser adicionado na fase termolábil em suas formulações cosméticas.

Alguns estudos recomendam ainda o armazenamento das formulações


cosméticas contendo vitamina C em temperaturas de 5 a 8ºC, de modo a manter
a sua estabilidade química, prolongado assim o prazo de validade [6]

2. pH
É importante manter o pH igual ou menor a 3,5. Além de melhorar a
estabilidade do ativo, estudos da absorção percutânea do ácido ascórbico
revelaram a importância do pH na formulação tópica, assim, as formulações
com vitamina C devem ter níveis de pH iguais a 3,5 ou menores do que isso. [1]

3. Adição de ácido ferúlico

A utilização de um sistema antioxidante eficaz é necessária para manter a


estabilidade do ácido ascórbico em preparações cosméticas. O ácido ferúlico e o
metabissulfito de sódio têm sido usados como antioxidantes para a estabilização
de ácido ascórbico em formulações tópicas. [9]

Um estudo realizado por pesquisadores da Divisão de Dermatologia do Centro


Médico da Universidade Duke, na Carolina do Norte, EUA, com uma fórmula
estável contendo 15% de ácido L-ascórbico, 1% de alfa-tocoferol, e 0,5% de
ácido ferúlico, comprovou que essa formulação apresentou potente eficácia
contra os danos causados pela radiação ultravioleta.

Porém, o ácido ferúlico, um antioxidante oriundo de plantas, além de ser


acrescentado na fórmula com o objetivo de aumentar a fotoproteção cutânea,
também foi utilizado para aumentar a estabilidade da vitamina C em mais de
90%. [5]

 
 

4. Emulsionantes e umectantes

Um estudo recente demonstrou o efeito de agentes umectantes e emulsionantes


na fotoestabilidade do ácido ascórbico em formulações de creme. O ácido
ascórbico se mostrou mais estável na presença de ácido palmítico e glicerina.
[11]

5. Base anidra

O tipo de formulação também desempenha um papel importante na estabilidade


de ácido ascórbico. O ácido ascórbico é mais estável em sistemas emulsionados
em comparação com soluções aquosas. [9]
Mas a vitamina C se oxida facilmente em preparações semi-sólidas contendo
água na sua composição, incluindo géis, géis cremes ou emulsões O/A. Assim,
as formulações anidras (isentas de água em sua composição) são bases ideais
para a incorporação da vitamina C pois aumentam a estabilidade frente a
oxidação pela água. Um estudo mostrou que o uso da vitamina C em
preparações anidras, como um creme de propilenoglicol e silicones, permite
obter melhores resultados devido à ausência de água, com boas características
de estabilidade física e química. [6]

6. Viscosidade

Outro fator que deve ser avaliado é a viscosidade do sistema. A viscosidade do


meio é um importante fator que deve ser considerado na estabilidade do ácido
ascórbico, sendo que formulações de viscosidade mais elevada mostraram
algum grau de proteção frente a oxidação dessa vitamina. [9]

7. Embalagem

Também é importante considerar os aspectos da embalagem e as condições de


armazenamento para prolongar a estabilidade da vitamina C e, assim, do prazo
de validade do produto cosmético. [9] Utilize preferencialmente embalagens
pump com dispenser airless, características que facilitam a aplicação e protegem
as formulações sensíveis ao ar e à umidade.
 

Principais opções de vitamina C estabilizadas


disponíveis no mercado

Devido à dificuldade de estabilização do ácido ascórbico, vários derivados mais


estáveis foram desenvolvidos e disponibilizados para uso cosmético. Exemplos
são os ésteres, como o ascorbil fosfato de sódio e o ascorbil fosfato de
magnésio, que apresentam melhor estabilidade frente à oxidação em
comparação com o ácido ascórbico. [10]

O ascorbil fosfato de magnésio é um derivado do ácido ascórbico obtido pela


reação de esterificação de um grupo hidroxila por uma cadeia inorgânica, que
protege o anel enediol das reações de degradação. Este ativo, ao penetrar na
epiderme, libera vitamina C livre devido à ação das enzimas estearases
presentes na pele. Porém, o uso do ascorbil fosfato de magnésio em associações
fica limitado à restrita faixa de pH permitida para a formulação (pH de 7 a 8).
[7,8]
O ascorbil fosfato de sódio também é um derivado da vitamina C estável que é
clivado por enzimas da pele para liberar o ácido ascórbico. Em um estudo
realizado em 2013 que investigou a estabilidade de emulsões O/A contendo
ácido ascórbico e seus ésteres ascorbil fosfato de sódio e de magnésio, a
formulação com ascorbil fosfato de sódio se mostrou a mais estável em
comparação com as de ascorbil fosfato de magnésio e de ácido ascórbico. [10]

Outra opção interessante de vitamina C estabilizada é o LumineCense® (INCI


Name: Caprylyl 2-Glyceryl Ascorbate), um novo derivado do ácido ascórbico
sintetizado através da introdução de um grupo octila e um grupo de glicerila.
Essa molécula recentemente desenvolvida resultou em uma vitamina C não
iônica, anfifílica e biologicamente ativa. É preciso, porém, incorporá-la à frio
em suas formulações. A matéria-prima deve ser acondicionada em geladeira (10
graus Celsius), mas após a manipulação da formulação cosmética esta não
precisa ser acondicionada em geladeira, bastando manter a formulação final à
25 graus Celsius. O pH final da formulação precisa estar entre 3,5 e 5,5.

Os ésteres de vitamina C, embora mais estáveis que a vitamina C pura,


dependem de uma faixa de pH diferente do que a do seu ácido para uma boa
eficácia e estabilidade. Veja na tabela abaixo as principais opções de vitamina C
estabilizadas disponíveis e suas particularidades:

Faixa de
pH de
Derivado da estabilidad %
vitamina C INCI Name Solubilidade e Características us
Activespheres Water (and) Butylene Hidrossolúve 5-6 Ascorbil 1-
™ Vit C PMG Glycol (and) l fosfato de 10%
Magnesium Ascorbyl magnésio
Phosphate (and) encapsulado
Atelocollagen (and) em colágeno
SodiumChondroitin e sulfato de
Sulfate (and) Xanthan condroitina
Gum (and) de origem
Polysorbate 20. marinha.

Ascorbyl Vitamina C
Ascorbosilane Methylsilanol Hidrossolúve vetorizada
®C Pectinate l 5-7 em silanóis. 3-5

Ascorbil
fosfato de
magnésio
(Nikkol VC Ascorbil
PMG®; VC- Magnesium Ascorbyl Hidrossolúve fosfato de
PMG®) Phosphate l 6,5-8 magnésio. 1-3

Ácido
Hidrossolúve Ascórbico 2-
AA2G™ Ascorbyl Glucoside l 5-7 glicosado 1-2

2 – gliceril- 0,5
Caprylyl 2-Glyceryl Hidrossolúve 3 – octil 100
LumineCense® Ascorbate l 3,5-5,5 ascorbato %

Ascorbic Acid (and) Dispersão de


Sodium vitamina C
Propoxyhydroxyprop sob a forma
Nanoesferas yl Thiosulfate Silica nanosferizad 0,5
Vitamina C® (and) Water. N/A 5,5-6,8 a 3%

Derivado
lipossolúvel
Ascorbyl de vitamina 1-
Nikkol VC IP® Tetraisopalmitate Lipossolúvel C 10%

 
Lidar corretamente com a vitamina C em formulações cosméticas pode ser um
desafio para quem não conhece as características e peculiaridades desse ativo.
Mas como mostrado, o segredo para a sua utilização correta, garantindo sua
estabilidade e máxima eficácia em produtos, consiste em passos simples a serem
seguidos pelo profissional técnico.

Espero que o conteúdo aqui abordado seja útil em seu dia a dia. O objetivo
desse artigo é contribuir para a elevação do nível técnico de profissionais da
área. Para qualquer orientação procure sempre um profissional habilitado como
um dermatologista ou farmacêutico.

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