Você está na página 1de 3

Carl Jung, médico Suíço, foi o fundador da Psicologia Analítica.

Autor de uma extensa obra,


seu trabalho exerceu influência nos campos da psiquiatria, antropologia, arqueologia, literatura,
filosofia e estudos religiosos. Inicia seus estudos em psiquiatria aos 24 anos e trabalha como
cientista pesquisador no Hospital de Burghölzli, sob a supervisão de Bleuler. Por ocasião desse
período vem à atenção de Freud do qual torna-se colega e com o qual estabelece um vínculo
estreito, compartilhando uma visão sobre a psique humana. Torna-se forte candidato a principal
propagador de sua teoria, vindo a ser presidente da recém fundada Associação Psicanalítica
Internacional. A pesquisa individual de Jung tornou inviável que ele mantivesse o status de
seguidor de Freud: divergências vieram à tona e o vínculo foi rompido de forma particularmente
dolorosa para Jung. O resultado desse rompimento, entretanto, foi a criação de uma extensa
obra fundadora da Psicologia Analítica.

Algumas das razões das divergências foram a visão junguiana da teoria da personalidade e do
que causaria e manteria os sintomas e especialmente o conceito de inconsciente coletivo.

Psicologia Analítica tem um número de aspectos que podem ser considerados


não-convencionais em relação a outras teorias mais populares como a Teoria Cognitiva
Comportamental, Terapia da Realidade, Terapia Existencial, etc.

Encontraremos muitos termos em comum entre a Psicologia Analítica e a Psicanálise, porém


com definições diferentes. Por exemplo, o ​Ego​. Carl Jung vê o Ego como a maneira com que o
indivíduo se concebe: uma estrutura auto-reguladora. Para Freud o ​Ego​ mediaria as pulsões
oriundas do ​Id​ e a moralidade do ​Superego​. Carl Jung também teorizou sobre níveis de
consciência: a ​mente consciente​, o i​ nconsciente pessoal ​e o ​inconsciente coletivo​. Para Freud
a divisão inicial foi a de ​consciência​, s​ ubconsciência​ e ​inconsciente​. O conceito de mente
consciente nas duas teorias têm mais similaridades do que diferenças. O inconsciente pessoal
tem mais diferenças em relação ao subconsciente freudiano: contém pensamentos, ideias e
memórias reprimidas e esquecidas. Para Freud esses itens seriam recuperáveis, porém fora da
consciência. A maior divergência estava no conceito de inconsciente coletivo. Na mente
inconsciente de Freud estaria guardado o inaceitável das urgências e pulsões. O inconsciente
freudiano guarda mais material do que a consciência e o subconsciente combinados. O coletivo
inconsciente de Jung é a reservas de conceitos compartilhados através de gerações. Ele não
acreditava que esse coletivo inconsciente fosse herdado, mas sim compartilhado. Ele
acreditava numa predisposição a determinados arquétipos, essa, sim, herdada.

Eis uma das razões principais para a ruptura entre Freud e Jung. Freud, basicamente não
acreditava que o inconsciente coletivo existia.
Para Jung, o inconsciente coletivo não era apenas uma parte de sua teoria, mas uma parte
fundamental dela. A ideia de arquétipo é um elemento muito importante na Terapia Analítica.
Em seus escritos ele enfatiza os conceitos arquetípicos de ​persona​ - essencialmente uma
máscara social; a ​anima​ - a parte feminina da psique masculina; o ​animus​ - a parte masculina
da psique feminina; a ​sombra​ = o lado escuro da personalidade, o s​ elf​ - que dá propósito e
coesão à psique. De fato um dos objetivos da terapia na linha jungiana é a de ter o ​Ego​ em
uma relação apropriada com o ​Self​, este sendo o arquétipo de inteireza, completude. Outro
objetivo seria reintegrar o material inconsciente à mente consciente, como na Psicanálise.

É um tipo particularmente complexo de teoria com algumas técnicas também complexas, mas
bastante concretas. Temos, como na Psicanálise, a associação livre e a análise de sonhos e
outras técnicas catárticas como o uso de arte - poesia, música, etc. A interpretação da
transferência é similar à de Freud, mas a análise dos sonhos difere no sentido de se direcionar
diretamente ao entendimento dos símbolos como representação do que acontece no
inconsciente. Para Freud os sonhos disfarçam e velam pulsões e urgências consideradas não
apropriadas, logo o objetivo era interpretar o sonho, não o símbolo.

Hoje em dia a terapia jungiana é uma modalidade que se integra mais facilmente à terapia
psicodinâmica, mas tem características peculiares que dificultam sua integração com terapias
mais conhecidas. É perfeitamente capaz, entretanto de se sustentar por si própria como
abordagem independente. É uma modalidade sofisticada, abstrata, interessante, com alto teor
de filosofia e para as muitas pessoas para as quais ressoam ideias como a do coletivo
inconsciente e os arquétipos assim como o componente religioso, místico e espiritual e o
aspecto da abertura à fantasia e à criatividade.

As mesmas características são por vezes tidas pelos críticos dessa abordagem como a razão
de sua dificuldade de aplicação a desordens mentais e sua melhor aplicação a exploração de
valores, propósitos e questões existenciais.

Jung via a existência de todos os sintomas como portadora de algum aspecto útil, alguma
comunicação necessária do ​Ego​ com o indivíduo, como uma espécie de alerta. Embora
tenhamos evoluído na etiologia de vários sintomas e condições patológicas, especialmente em
relação às suas bases biológicas e ambientais, podemos dizer que Jung tocou em áreas que
podem ser úteis à terapia hoje. Isso deve ser dito sem deixarmos de reconhecer que,
definitivamente, alguns sintomas são claras indicações de mudanças necessárias.

De maneira geral uma terapia de certo modo difícil de aplicar, mas um fascinante objeto de
estudo.

Você também pode gostar