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Belo Horizonte
28/02/2021
UM RECORTE HISTÓRICO SOBRE A CONCEPÇÃO DO FUNDO DE
MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DE
VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
A construção desse imaginário sobre a escola pública teve início a partir da processo de
industrialização e pela disseminação dos serviços terciários da economia. De acordo
com Monlevade (2012, p.5) houve uma inversão na estrutura demográfica do Brasil,
pois a população rural migrou do campo para as grandes cidades. As oportunidades de
emprego e a busca por mão-de-obra qualificada “provocou uma expansão insuportável
da demanda por escolas de ensino fundamental e médio públicos, uma vez que a
maioria dos que batiam às portas das escolas vinha agora de classes populares,
premiadas com o direito à educação pelas legislações cada vez mais avançadas.”
Monlevade (2012, p.5) Na contramão, a arrecadação dos impostos estaduais, municipais
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e fundos de participação federais era menor que o número de matriculas que só
aumentava ano a ano. Desta forma, foi instaurada uma crise aguda no financiamento da
educação, o que ocasionou posteriormente, em um arrocho salarial para os professores
em todas as Unidades da Federação – disparidade de jornadas e ganhos salariais entre os
estados. Com o Arrocho de salários os profissionais da Educação se viram obrigados a
dobrar suas jornadas de trabalho ocasionando assim, uma crise de qualidade da
educação. Dado o contexto, foi celebrado em 19 de Outubro de 1994 um acordo
nacional entre os governos estaduais e a Confederação Nacional de Trabalhadores em
Educação, com o objetivo de implantar um Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN)
para os professores da educação básica. Entretanto, para João Antônio Monlevade
(2012, p. 6) a situação perdurou-se e foi remediada após a posse do presidente Fernando
Henrique Cardoso em Janeiro de 1995, quando o então Ministro da Educação Paulo
Renato Souza instituiu através da Lei 9424/96 , o FUNDEF- Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. A criação
deste fundo permitiu garantir que uma determinada quantidade de de recursos
financeiros fosse vinculada para o orçamento público da educação, especificamente
para o ensino fundamental ( 1ª a 8ª série) e educação especial do ensino fundamental.
Bem como assegurar que esses recursos fossem seguramente distribuídos para os
estados e municípios, que por sua vez, recebia o valor de acordo com o número de
alunos matriculados- de acordo com os dados do Censo Escolar- em sua respectiva rede
de ensino (estadual e municipal).
Em 2002 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito e no seu 3º (terceiro) ano de
governo, foi submetido ao Congresso Nacional, a proposta que substituiria o Fundef
pelo FUNDEB- Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação básica. Este
fundo consideraria toda a Educação Básica ( da educação infantil ao ensino médio). A
sua duração não seria por apenas 10 anos, e sim por 14 anos. Também foi alterado o
percentual de arrecadação de impostos, e a utilização de recursos abrangeu a
incorporação de todo o quadro de profissionais da educação, não apenas professores.
Veja abaixo o quadro com os principais parâmetros que diferenciam os 3 (três) Fundos
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação no Brasil:
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PARÂMETRO FUNDEF FUNDEB (2007) FUNDEB (2020)
S
1.Vigência 10 anos [ até 2006] 14 anos [a partir da Tem caráter permanente
promulgação da Emenda
Constitucional]
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dos alunos do ensino Educação da Educação
recursos fundamental regular Básica (Creche, Pré-Escolar, Básica (Creche, Pré-
e especial, de acordo Fundamental e Médio), de Escolar, Fundamental e
com dados do Censo acordo com dados do Censo Médio), de acordo com
Escolar do Escolar do ano anterior, dados do Censo Escolar do
ano anterior. observada a seguinte escala ano anterior, observada a
de inclusão: seguinte escala de
inclusão:
• Alunos do ensino
fundamental • Alunos do ensino
regular e especial: fundamental
regular e especial:
100% a partir do 1º ano;
• Alunos da Educação 100% a partir do 1º ano;
Infantil, Ensino Médio e • Alunos da Educação
EJA: 33,33% no 1º ano; Infantil, Ensino Médio e
66,66% no 2º e 100% a EJA: 33,33% no 1º ano;
partir do 3º ano. 66,66% no 2º e 100% a
• Em cada esfera (estadual partir do 3º ano.
ou • Em cada esfera (estadual
municipal) serão ou
considerados os municipal) serão
alunos da educação básica considerados os alunos da
que a educação básica que a
respectiva esfera tem respectiva esfera tem
prioridade de atendimento, prioridade de
de acordo com a atendimento, de acordo
Constituição Federal. com a Constituição
Federal.
9. Utilização Mínimo de 60% • Mínimo de 60% para • Mínimo de 70% para
dos para remuneração dos (todos) os remuneração dos
recursos remuneração dos profissionais do magistério Profissionais do magistério
profissionais do da educação básica. da educação básica.
magistério do ensino • O restante dos recursos em • O restante dos recursos
fundamental outras despesas de em outras despesas de
O restante dos manutenção e manutenção e
recursos em outras desenvolvimento da desenvolvimento da
despesas de Educação Educação
manutenção e Básica pública. Básica pública.
desenvolvimento do
ensino
fundamental público
10. Valor Fixado anualmente Fixado anualmente com Fixado anualmente com
Mínimo com as diferenciações previstas diferenciações previstas
Nacional por seguintes para: para:
aluno/ano diferenciações:
[detalhamento Até 2004: Educação Infantil * Educação Infantil (0 a 3
a ser 1ª a 4ª série (0 a 3 anos) anos)
definido na 5ª a 8ª série e Educação Infantil Educação Infantil
regulamentaçã Educação (Pré-Escola) (Pré-Escola)
o da Especial Séries Iniciais Séries Iniciais
PEC] A partir de 2005: Urbanas Urbanas
Séries Iniciais Séries Iniciais Séries Iniciais
Urbanas Rurais Rurais
Séries Iniciais Quatro Séries Quatro Séries
Rurais Finais Urbanas Finais Urbanas
Quatro Séries Quatro Séries Quatro Séries
Finais Urbanas Finais Rurais Finais Rurais
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Quatro Séries Ensino Médio Ensino Médio
Finais Rurais e Urbano Urbano
Educação Especial Ensino Médio Ensino Médio
Rural Rural
Ensino Médio Ensino Médio
Profissionalizante Profissionalizante
Educação de Educação de
Jovens e Adultos Jovens e Adultos
Educação de Educaçã
Jovens e Adultos o de Jovens e
Integrada à educação Adultos Integrada
profissional à educação
Educação profissional
Especial Educação
Educação Especial
Indígena e de Educação
quilombolas Indígena e de
quilombolas
Figura 1
Fonte: Lei nº 9.424, de 24 de Dezembro de 1996. / Lei 11.494 de 20 de Junho de 2007. / Lei nº
14.113, de 25 de dezembro de 2020.
Finalizando nossa reflexão, não podemos deixar de associar todos esses apontamentos
relacionando-os às desigualdades social e escolar se dão que: ora pelo não acesso ao
sistema escolar, ora pela exclusão de dentro do próprio sistema, e ainda pelo acesso a
padrões diferentes de conhecimentos na qualidade educacional. Todas essas
desigualdades de acordo com Sampaio e Oliveira (2016, p.512) promovem o não acesso
ou efetivo exercício da cidadania. Isto nos faz refletir sobre a necessidade de tecermos
uma análise sobre a seguinte questão: ”Qual é o conceito de justiça na educação que
está presente na democratização do ensino por meio da expansão de vagas e ampliação
das oportunidades de acesso?” E mais, ao analisarmos as igualdades de oportunidades e
de tratamento na educação, como são consideradas as desigualdades sociais e escolares
existentes entre os alunos? Na escola, elas são compensadas? Parte destas questões
surgiu após a leitura do artigo: O que é uma escola justa? do sociólogo François Dubet.
Os alunos que nos ajudarão a pensar nossa pesquisa são “os vencidos” que Dubet tanto
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reflete em seu artigo. Estes “que fracassam, ou seja, não são vistos como vítimas de uma
injustiça social e sim, como responsáveis pelo seu fracasso.” (Dubet, 2004, p.543) Logo,
deduz-se que o sistema escolar lhe deu todas as oportunidades para concluir o seu
processo de escolarização. O sociólogo francês considera que a instituição acaba se
tornando “a principal agente dessa seleção escolar e social”, pois culpabiliza o indivíduo
e legitima as desigualdades sociais e escolares. Por outro lado, os educadores devem de
acordo com Monlevade (2012, p.8) “ despir-se de uma irresponsabilidade construída
historicamente: se é ele que é tido como culpado pela pouca aprendizagem dos
estudantes, a ele compete assumir as rédeas da gestão da educação, inclusive dos
recursos financeiros.
REFERÊNCIAS
CORREA, Licinia Maria et CARMO, Helen Cristina do. O Ensino médio no Brasil:
Desafíos e perspectivas. Cadernos temáticos: juventude brasileira e ensino médio. Belo
Horizonte, MG : Editora UFMG, 2014.
DUBET, François. O que é uma escola justa? Cadernos de pesquisa, v. 34, n. 123, p.
539–555, 2004.
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SAMPAIO, Gabriela Thomazinho Clementino; OLIVEIRA, Romualdo Luiz Portela de.
Dimensões da desigualdade educacional no Brasil. Revista Brasileira de Política e
Administração da Educação - Periódico científico editado pela ANPAE, [S.l.], v. 31, n.
3, p. 511 - 530, jun. 2016.