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O monitor disciplinar no ambiente de uma escola policial cívico-militar

José Francisco Scartezini e Silva Junior 1

RESUMO
Esse artigo tem por objetivo demostrar a importância do monitor disciplinar para o ambiente
escolar, sobretudo nas escolas militares. Mas para dar início a construção teórica, foi preciso
ter como problema a seguinte indagação: como o monitor disciplinar pode ser um aliado na
construção do processo ensino aprendizagem, na formação ética, cidadã e civil dos indivíduos?
Levantado a hipótese é possível dizer que depois de um período de inconsistência pedagógica
das escolas tradicionais que vem dando resultados negativos nos exames de proficiência, as
escolas cívico-militares têm sido muito procuradas nos últimos anos pela questão da disciplina,
rendimento e resultados. Justifica-se trazer esse tema pela necessidade em lançar luz a
importância do monitor disciplinar no controle do ambiente e no suporte técnico aos alunos,
professores e quadro administrativo. O objetivo geral é demonstrar a importância desse
profissional para o ambiente escolar e a necessidade de sua qualificação profissional e
valorização. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa. O
referencial teórico se orientou pela busca em demonstrar a importância e relevância do
monitor disciplinar nas redes de ensino militar, promovendo uma reflexão acerca das condutas
hábeis a tornar o ambiente escolar mais propício ao processo de ensino e aprendizagem.

Palavras Chave: Monitor Disciplinar. Escolas Cívico-Militares. Educação.

1. Introdução

O presente estudo tece uma importante discussão sobre o


desenvolvimento diferenciado do processo de ensino e aprendizagem nas
escolas cívico-militares, ressaltando o papel do monitor disciplinar. Função
essa que ainda não está regulamentada em nível federal, havendo alguns
Estados, como o Rio Grande do Sul, que já possuem legislação visando dar
suporte normativo ao trabalho desse importante profissional.
1
Possui Pós-Graduação em Orientação e Supervisão Escolar pela Faculdade Educacional da
Lapa, Pós-Graduação em Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário pela
Universidade Católica de Brasília. É Tecnólogo em Gestão de Segurança e Ordem Pública
pela Universidade Católica de Brasília e Bacharelando em Direito pela Universidade Projeção.
Possui ainda Curso de Extensão Juventude e Direitos Humanos pela Universidade Católica de
Brasília. E-mail: silvajunior1809@gmail.com.
2

O tema se justifica pela crescente visibilidade dada às escolas cívico-


militares que têm se destacado não só pelos seus excelentes resultados
alcançados pelos seus alunos, mas, também, pelas ações de civismo e de
resgate de valores como honestidade, respeito e disciplina no âmbito escolar,
fatores de sucesso desse modelos educacional.

O monitor disciplinar constitui um profissional imprescindível para que


muitos processos educativos se desenvolvam. Para isso, o estudo aborda a
educação militar, perpassando o surgimento das escolas cívico-militares até a
discussão da importância do monitor disciplinar na constituição da organização
dos ambientes e da própria aprendizagem. Esse último, constituiu a base do
objetivo geral da pesquisa, ou seja, demonstrar a importância do monitor
disciplinar para o ambiente escolar, sua relevância na construção da
aprendizagem, na formação humana e a necessidade de sua formação
profissional qualificada, bem como sua valorização. A metodologia utilizada foi
a pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa.

Autores como Cunha (2018), Iavelberg (2011) subsidiaram a pesquisa


destacando como o monitor disciplinar pode ser uma ferramenta importante às
instituições de ensino, na garantia da ordem e do relacionamento com alunos e
demais integrantes da escola, por isso entendeu-se que esse profissional não
somente operacionaliza atividades administrativas, mas também pode ser
inserido nos processos pedagógicos.

Revelou-se como ponto importante de todo o estudo que outros olhares


sejam relacionados ao trabalho de apoio à educação pelos militares, embora
haja inúmeras discordâncias nesse contexto, mas de forma muito responsável
e fundamentada em documentos científicos ou publicações de editoriais
renomados, o objetivo foi trazer os aspectos positivos dos regimes de gestão
implantado nas escolas cívico-militares em benefício da educação.

2. A educação militar

O regime de governo militar no Brasil foi o período compreendido de


1964 à 1985. Nesse contexto, as discussões sobre a organização da educação
eram muito fortes, visto que já no período de 1930 e anos posteriores a
educação vinha construindo um quadro de organização escolar desde o fim do
3

Império. As estruturas legislativas, físicas e de diretrizes educativas ainda não


contemplariam uma parcela maior da população. Isso porque antes do período
militar, a educação ainda era direito maior da elite. Não que isso tenha mudado
no regime militar, mas começaram a implantar novas diretrizes que
constituíram passos importantes para a educação do país (ASSIS, 2012).

Para Assis (2012, p. 331), as mudanças que aconteceram no regime


militar na área educacional se deram pela própria evolução econômica do país.
Pois, até então a maior parte da população brasileira se concentrava na área
rural. Com a industrialização nacional, as pessoas passaram a migrar
intensamente para os grandes centros urbanos em busca de melhores
condições de vida. Isso gerou pressões sobre o governo para melhorar seus
processos de ensino, principalmente ampliando a obrigatoriedade e
construindo propostas curriculares mais densas como foi a Lei Federal n.º
5.692/71.

O Brasil, ao iniciar o seu processo de industrialização, necessitaria de


mão de obra qualificada para assumir e operar postos de trabalhos importantes
na indústria. O movimento do capital e da industrialização fez com o que o
governo militar implantasse a abertura rápida de acesso à escola. Muitos
diziam que o intuito do governo era formar uma grande massa de trabalhadores
na escola, porém o fato é de que se começaria a implantar um novo ritmo de
trabalho e a busca de formação para obtê-lo (BOUTIN, 2015, p. 5861).

Esse contexto ideológico promovido tanto pelo governo militar quanto


pela sociedade, gerou muitos conflitos. Amparados pelas decisões
antidemocráticas, diversas instituições surgiram para dar abertura a um espaço
de luta e busca por direitos. Os sindicatos que antes do início do governo
militar de 1964 somavam 1.608, passaram para 2.049 depois desse período.
Essas organizações sindicais buscavam um diálogo de implantação de
políticas educacionais mais qualitativas para área, sobretudo para que os
processos das implantações de diretrizes educacionais não acontecessem
unilateralmente (NETTO, 2014).

Carvalho (2009, p. 35) reporta ao regime militar como um período que se


constitui por políticas educacionais importantes para a história da educação,
contudo a economia sofria altos e baixos. Quando ela não produzia o
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desenvolvimento do capital esperado, cortavam-se as políticas de investimento


na área educacional, principalmente os investimentos financeiros pelo governo
federal a estados e municípios.

Conforme Boutin (2015, p. 5858).


A educação, nesse contexto, revelou-se como a grande ferramenta
do governo para a validação desses objetivos, pois através dela
foram transmitidos ideais nacionalistas que enfatizavam a
neutralização de qualquer atividade revolucionária, a inibição dos
questionamentos acerca da ordem vigente e a valorização do ensino
técnico visando preparação de mão de obra qualificada para o
trabalho no sistema capitalista.

Para o autor, como a indústria necessitava de mão de obra


especializada, o governo militar fortaleceu amplamente o ensino técnico. Nesse
sentido, a implantação de um material correspondente para fortalecer a
profissionalização dos estudantes era elaborado por equipe de governo com
interesses voltados para o capital.

Cunha (2018, n.p.) destaca que não se pode desqualificar esse processo
e nem dizer que foi abarcado em um quadro negativo da educação. Isso por
várias razões. Uma delas estaria na falta de dados estatísticos que
diagnosticassem o ensino da época. Mas como o governo sofria fortes
influências da elite, que era quem organizava o processo econômico do país,
principalmente na indústria, ditava regras e implantavam normativas que
asseguravam a formação dos estudantes de forma técnica.

Saviani (2009) já colocava o seu ponto de vista como negativo nesse


processo de educação técnica. Pois, considerava que todo o processo
educacional era subordinado ao capital. Isso fazia com que a formação dos
alunos não buscasse uma equidade com o desenvolvimento crítico. Isso faria
com que as pessoas fossem impossibilitadas de usar um senso mais crítico
nesses processos formativos. O que se tornava, segundo o autor, um processo
injusto por constituir um processo de alienação dos estudantes e da sociedade.

Zinet (2018, n.p.) traz uma questão positiva sobre a educação do regime
militar. A Lei n.º 5692/71 ampliou a obrigatoriedade de frequência ao ensino de
1.º grau para oito anos. Apesar de outros pontos ainda serem o problema para
a época como o próprio trabalho infantil que impossibilitava a continuidade das
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pessoas mais pobres no ensino, mostrou-se como ponto importante para um


acesso maior das pessoas à educação.

3. As escolas cívico-militares

Menezes e Lima (2018) destacam que as escolas cívico-militares seriam


ampliadas e implantadas em todos os Estados do Brasil. Isso porque o
presidente eleito em 2018, Jair Messias Bolsonaro, demonstrou o interesse
para o fortalecimento desse processo. Um dos objetivos da abertura das
escolas cívico-militares é a melhoria da qualidade da educação em espaços
escolares que possuem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) baixo e com problemas sociais, principalmente nos espaços onde os
alunos sofrem algum tipo de vulnerabilidade social, naquilo que se pode
chamar de prevenção social da violência e da criminalidade.

Segundo as autoras, os princípios de gestão das escolas cívico-militares


são consolidados em três importantes áreas: didático pedagógico, educacional
e administrativa. Todo o processo de gestão e administração será conduzido
por militares, que implantarão suas diretrizes constitutivas de sua formação
como disciplina e o fortalecimento dos valores cívicos.

As escolas públicas militarizadas estão sendo muito procuradas pelos


pais pelo fato de apresentarem nos exames de proficiência resultados
melhores do que as escolas tradicionais. Isso tem levado a família a escolher
essas instituições não somente pelo rigor disciplinar, tão importante para a
formação dos estudantes, mas por apresentar uma rotina de estudos muito
mais qualificada em relação às demais (SILVA, 2019).
Os colégios cívicos-militares do Distrito Federal da Rede Pública de
Ensino/CCMDF (2019) demonstram, em seu regimento escolar, que a
construção da aprendizagem e seus fatores associados são de
responsabilidade de inúmeras pessoas, sendo uma delas o monitor disciplinar.
Conforme prescreve o art. 25 do Regimento Escolar CCMDF (2019, p.
18):
Art. 25. O militar no exercício da função de Instrutor/Monitor é
responsável por ministrar instruções de acordo com as qualificações
específicas e necessárias à atividade ministrada nos Colégios Cívico-
Militares do Distrito Federal, bem como a atribuição de supervisionar
os educandos, incentivando o desenvolvimento de virtudes essenciais
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ao exercício da cidadania e garantindo o cumprimento dos preceitos


disciplinares instituídos por meio do Regulamento Disciplinar, do
Regulamento de Uniformes e deste Regimento, naquilo que couber.

Segundo o Governo de Santa Catarina (2019), a procura por matrículas


nas escolas militares aumentaram muito. Isso ocorre porque os pais estão
procurando um regime educacional que valorize os princípios éticos, cívicos e
de cidadania. As escolas da rede estadual de ensino, que são enquadradas por
gestão militar, terão a inclusão de vários monitores militares para orientar os
alunos aos princípios elencados anteriormente.
Para Menezes e Lima (2018, n.p.), as três áreas de intervenção de
trabalho escolar são especificadas da seguinte forma:
Didático-pedagógica: com atividades de supervisão escolar e
psicopedagogia para melhorar o processo de ensino e de
aprendizagem, preservando as atribuições exclusivas dos docentes;
Educacional: pretende fortalecer os valores humanos, éticos e
morais, bem como incentivar a formação integral do aluno como
cidadão e promover a sensação de pertencimento no ambiente
escolar; e
Administrativa: objetiva aprimorar a infraestrutura e a organização da
escola e, consequentemente, a utilização de recursos disponíveis na
unidade escolar. Os militares atuarão, prioritariamente, na área
educacional e prestarão assessoramento nas áreas administrativa e
didático-pedagógica. O governo preservará a exclusividade das
atribuições dos profissionais da educação previstas na LDB.

Tem-se apontado como diretrizes do ensino das escolas cívico-militares,


a disciplina e o ensino tradicional, pautado no respeito às pessoas e amor às
atividades cívicas. Isso está assegurado pelo Decreto n.º 9.365/2019 que
instituiu a Subsecretaria de Fomento as Escola Cívico Militares (Secim) junto
ao Ministério da Educação. Antes da implantação desse Decreto, que
operacionaliza a forma de gestão militar em muitas escolas, já existiam cerca
120 escolas desse modelo espalhadas pelo país. Isso se fortalece ainda mais
no Estado de Goiás (n.p.).

O autor aponta que esse modelo de escola, cujo projeto do Governo


Federal é implantá-lo em diferentes estados brasileiros, tem gerado alguns
embates, propiciando de certa forma a oportunidade para se discutir os
processos educacionais como ferramenta hábil a monitorar a qualidade e seus
processos de gestão, que para ele devem estar ancorados num bom processo
de ensino.

Para Valeriani (2020, n.p.),


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As escolas cívico-militares são uma mescla entre a escola tradicional


e a escola militar. Na primeira, a gestão é feita por pedagogos e por
outros profissionais da área de Educação, já na segunda, a gestão
fica sob a responsabilidade apenas dos militares.
No modelo da escola cívico-militar, a gestão é compartilhada entre a
Secretaria de Educação e a de Segurança Pública, de modo que a
gestão pedagógica fica sob a responsabilidade de pedagogos e
profissionais de Educação, enquanto a gestão administrativa e de
conduta ficam com os militares ou profissionais da área de
segurança.

Valeriani (2020) acredita ainda que as escolas militares são de interesse


de muitos pais que gostariam que seus filhos aprendessem além dos
conteúdos, valores importantes para a constituição e formação humana, o que
é latente nas escolas militares, onde a conduta do aluno faz parte de sua
avaliação escolar. Por isso, o ensino militar não visa formar um conceito
tradicional de suas diretrizes, mas fortalecer os princípios morais, éticos e
cívicos.

A Figura 1 traz o número de escolas militarizadas no Brasil até o ano de


2019. Pode-se perceber que elas estão concentradas em maior parte no
Estado de Goiás, conforme aponta Ferreira (2019).

Figura 1- Escolas Militarizadas no Brasil

FONTE: Ministério da Educação (2019).


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Para Westin (2019, p. 25), as escolas militares dividem opiniões, mas é


certo enfatizar que nos locais onde elas foram implantadas, os níveis de
violência encontrados dentro do âmbito escolar, caíram ou se tornaram
inexistentes, dando um espaço real para a aprendizagem e disciplina. As
rotinas implantadas na escola promovem o ajustamento de condutas pelos
alunos que devem sempre estar uniformizados e possuir alto respeito
hierárquico aos pares, militares e todos os profissionais envolvidos no processo
de ensino e aprendizagem.

4. A importância do monitor disciplinar nas escolas policiais cívico-


militares

Diz-se que a indisciplina quando não monitorada com cuidado pode


fazer com que a criança na fase adulta apresente os mesmos comportamentos
apresentados em sala de aula, e isso a faz, na transgressão de regras sociais,
construir uma imagem negativa sobre si. Isso corrobora para distanciá-la não
só dos seus círculos de amizades, como, também, na busca de um trabalho ou
formação profissional (ANTUNES, 2015).
Catarina Iavelberg (2011, p. 2-3) defende a ideia de que para ajudar
esses espaços de conflitos nas escolas surge um profissional importante: o
monitor disciplinar. Esse profissional transita em todos os espaços escolares e
tem contato direto com boa parte dos conflitos, interesses, pensamentos e
perspectivas dos alunos. Assim, tendo um panorama razoável do espaço
escolar, ele é capaz de conhecer as necessidades do alunado intervindo, em
conflitos desgastantes entre eles, e com os demais agentes da comunidade
escolar.
Segundo a autora, o monitor também é um educador. Sobre ele recaem
responsabilidades. Por isso, é bom envolvê-lo também nas práticas de
formação escolar. Isso fará com que esse profissional tenha um olhar mais
clínico e educacional sobre os alunos. Como ele está mais próximo de todos os
atores que interagem no espaço escolar, pode nutrir pedagogos e diretores
sobre as necessidades dos alunos, que passam despercebidas pela equipe
pedagógica e administrativa da escola.
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Importa ainda lançar luz ao retrato de desigualdades postuladas na


figura do monitor em relação aos docentes. Pois, não se dá o verdadeiro valor
a esse profissional, que tem menor remuneração, mas tem uma
responsabilidade também pedagógica. Muitas vezes, quando algum
profissional efetivo falta ao trabalho, o monitor assume essa função (SANTOS,
2013).
Bernardo (2019, n.p.) ressalta que a diferenciação e posterior
desqualificação entre professores e monitores acarretam um empobrecimento
do ensino, pois restringir apenas aos professores a condição de promotores
únicos de ações metodológicas e pedagógicas, definindo os monitores apenas
como cuidadores, promove o distanciamento das crianças a um trabalho mais
efetivo de todos os profissionais que estão envolvidos no processo educativo.
Para Azevedo (2018, p. 3):
O monitor é um atuante na educação com carga horária de 6 a 8
horas diárias no processo educativo da criança. Porém ele não possui
o mesmo reconhecimento social que um professor, e muitos
carregam uma imagem de sua função de forma inferiorizada. Não
afirmo aqui que o professor no Brasil recebe toda a valorização
constante em lei e que deveria, por ser essa uma profissão com
tamanha responsabilidade política, mas nesse quesito, o monitor de
educação consegue ainda superar essa imagem de profissional
desvalorizado. É possível encontrar monitores que ouvem de colegas
de trabalho coisas para que se sintam inseguros pela própria
instabilidade decorrente dos processos de seleção aos editais. É
possível encontrar também professores e monitores que fazem uma
bela parceria em prol da oferta de uma educação de qualidade.

É importante salientar que não basta apenas deixar um monitor cuidar


dos alunos sem que todo o corpo docente e discente entenda o seu verdadeiro
papel no processo de ensino e aprendizagem. É preciso formá-lo e capacitá-lo.
Pois, o monitor deve entender que a dinâmica educacional também exige por
parte dele, disciplina e conhecimento para lidar com inúmeras situações vividas
na escola. É preciso, ainda, que o monitor tenha acesso à sua missão
educacional prevista nas propostas político-pedagógicas. Assim, de posse
dela, terá melhor resultados de sua ação (IAVELBERG, 2011).
Para Mori (2019, n.p.), a configuração das escolas cívico-militares deve
oferecer um campo de transparência na hora de sua implantação, deixando
claro para a sociedade como funcionará todo o processo, o fazendo participar
diretamente, pois se espera um trabalho distinto das escolas convencionais. A
monitoria disciplinar que será conduzida essencialmente por policiais militares,
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conduzirá os estudantes para um processo disciplinar de ajuda ao cumprimento


das normas. Estaria também vinculado aos processos apoio aos estudantes,
sem que esses interfiram na elaboração pedagógica, conduzida somente pela
equipe pedagógica.
Segundo Costa (2019, n.p.), a parceria do governo com os militares para
a sua atuação nas redes de ensino pode ser um bom caminho para organizar
espaços conflituosos dentro das escolas, considerando o fato de que que
muitos desses ambientes, são permeados, infelizmente, pela violência,
desrespeito e fuga do que é mais primordial na escola: a busca do
conhecimento. Espaços carentes de profissionais que cuidem, organizem e
protejam os alunos. Nesse sentido, os policiais militares da reserva podem
facilmente desenvolver esse trabalho de organização, contudo é preciso que
eles estabeleçam uma relação harmônica com todos os demais profissionais
envolvidos no processo.
Para Silva (2019), o intuito de investidura militar nas escolas não é o
controle e fiscalização, mas sim o aprimoramento do ensino. Isso é
corroborado quando é demonstrado quadros de sucessos das escolas
militarizadas nos exames de avaliação externa, pois tem demonstrado que
possuem um índice mais qualitativo.
A Figura 2 demonstra a organização do espaço realizada por um monitor
militar. Podem-se perceber traços muito marcantes do regime militar como o
perfilamento, a postura ereta e a disciplina.

Figura 2 – Demonstração da Organização do Espaço Escolar regida por um policial militar do


Distrito Federal – CCMDF CED 01 da Cidade Estrutural – DF.
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FONTE: Folha de São Paulo, (2019).

5. Considerações finais

A educação é um dos pilares de qualquer nação que se quer ter como


evoluída. Quanto mais se investe nela, mais desenvolvido será o país e mais
qualificados se tornarão os seus cidadãos. Assim como a economia, a cultura e
a política, a educação brasileira também passou por um intenso processo de
transformação e mudanças ao longo das ultimas décadas.
Por requerer vultosas soma de recursos, a educação apresenta, em
qualquer parte do mundo, um retrato do desenvolvimento alinhado, por óbvio,
ao crescimento econômico do país. No caso do Brasil, a educação, em
distintas fases da história, se mostrou frágil em relação a carência de
investimentos, principalmente com a falta de aporte para assegurá-la como
instrumento de transformação. Influenciada pelos problemas sociais e
econômicos de uma país em desenvolvimento, a educação brasileira,
sobretudo a pública, passou a ter que lidar com indisciplina, violência e
empobrecimento de suas diretrizes curriculares.
Diante desse quadro, parte considerável da população começou a
perceber que o ensino ofertado pelas escolas cívico-militares representava
uma ilha de excelência em meio ao caos em que se encontra a educação,
conforme demonstram os exames de proficiência dos seus alunos, confirmadas
pelas médias de desempenho divulgadas pelo Sistema de Avaliação da
Educação Básica (SAEB), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira(INEP) e IDEB.
A importância do monitor disciplinar nas instituições de ensino, foi
amplamente discutida ao longo do presente artigo, demonstrando ser esse
profissional extremamente importante para o ambiente e processo de gestão
escolar, pois propicia um ambiente de aprendizagem tranquilo, hígido,
organizado e livre de violências tão comuns nas escolas públicas brasileiras.
Cabe aqui, de forma oportuna, mencionar o papel crucial que o monitor
disciplinar assume nas escolas militares e, no caso do Distrito Federal, no
âmbito das escolas de gestão compartilhada, sendo tal profissional, com a sua
expertise, formação e atuação direcionada ao controle da disciplina e boa
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ordem nas escolas, um agente de destaque e de fundamental importância para


todo o sucesso experimentado por essas escolas.
O policial militar ao ser capacitado para exercer a função de Monitor
Disciplinar na Escola Cívico Policial Militar, somado à sua formação profissional
e acadêmica, sua experiência vivenciada no labor diário, ocorrências,
atendimentos, patrulhamentos e outros, durante toda a sua carreira
operacional, terá a oportunidade de exercer a Prevenção Primária, tornando-o
um monitor disciplinar por excelência. Esse conhecimento peculiar do policial
militar, não é algo possível de ser adquirido em cursos ou palestras.

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