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POR UMA CLÍNICA CRÍTICA E SITUADA: UM

RELATO DE EXPERIÊNCIA
Eixo 5: A Clínica Psicológica e suas novas possibilidades
Autor(a): Andressa Teodoro Rosa
Co-autores(as): Analice de Sousa A. V. de Carvalho, Lenise Santana Borges
Introdução a composição de relações interpessoais mais democráticas
O relato a seguir trata-se de um trabalho desenvolvido no (SALDANHA, 2013).
Centro de Estudos, Pesquisa e Prática Psicológica (CEPSI) da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás para fins de conclusão Considerações finais
de Estágio Obrigatório Supervisionado em Psicologia Clínica, Os comportamentos suicidas devem ser considerados em
durante o segundo semestre de 2020. sua complexidade, envolvendo uma teia de fatores e não um único
Enquanto aporte teórico-epistemológico, evento causal. Então, torna-se de extrema importância investigar,
Construcionismo, o Pensamento Feminista e o a Perspectiva junto ao cliente, os sentidos produzidos acerca de tais
Sistêmica desempenharam importante papel para a condução dos comportamentos (ZANA; KOVÁCS, 2013).
atendimentos. Tais perspectivas são isentas de definições únicas e O processo terapêutico desenvolvido proporcionou
estáveis, mas parecem girar em torno de alguns pressupostos grandes conquistas, principalmente no que diz respeito a
básicos: ênfase ao carácter performático da linguagem, crítica a diminuição dos comportamentos suicidas. Entretanto,
objetividade, a universalidade e a neutralidade, inclusão das recomendamos sua continuidade, bem como o apoio de um/uma
relações de poder em quaisquer análises empreendidas, o caráter psiquiatra e a participação em grupos reflexivos de gênero para
político do conhecimento e da ação social, a busca pela mulheres.
transformação e o compromisso social (BORGES, 2014;
RASERA; JAPUR, 2018). Referências
Objetivos
BORGES, Lenise Santana Feminismos, Teoria Queer e Psicologia
Objetivo Geral: Realizar atendimento individual em
Psicologia Clínica tendo como aporte teórico-epistemológico o Social Crítica: (Re)contando histórias... Psicologia & Sociedade, v.
Construcionismo Social, o Pensamento Feminista e a perspectiva 26, n.2, p. 280-289, 2014.
sistêmica.
RASERA, Emerson Fernando; JAPUR, Marisa. Grupo como
Materiais e métodos construção social: aproximações entre construcionismo social e
Ao longo do 2º semestre de 2020, foram realizados 10 terapia de grupo. São Paulo: NOOS, 2018, 253p.
atendimentos de aproximadamente 50 minutos, dos quais
participaram a estagiária (mulher branca, 23 anos e a cliente
SALDANHA, Marilia. Pontos de Interseccção: Psicologia,
(mulher negra, 22 anos). A demanda compunha-se de
comportamentos suicidas recorrentes nos últimos dois anos, Feminismo e Violências. Diálogos, 24, 35-44, 2013.
sobretudo 4 tentativas de suicídio. Após os atendimentos, eram
realizadas intervisões em formato de equipe reflexiva. Como uma WHITE, Michael. Mapas da prática narrativa. Porto Alegre:
das reverberações, no campo das psicoterapias, do aporte teórico- Pacartes, 2012, 334p.
epistemológico adotado, foi utilizada a Terapia Narrativa.
ZANA, Augusta Rodrigues de Oliveira; KOVÁCS, Maria Júlia,
Resultados Psicólogos e o atendimento a pacientes com ideação ou tentativa de
Nos últimos 2 anos, M. tivera uma perda neonatal e uma suicídio. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 13(3), 897-921, 2013.
perda gestacional. Após tais episódios, encontrava dificuldades em
manter relacionais sexuais com o esposo, o que, segundo ela,
desencadeou uma crise conjugal. M. parecia acreditar que seu
sofrimento decorria de um aspecto de sua identidade. Em outras
palavras, ela acreditava ser o problema, o que restringia as
possibilidades de ação, restando apenas a tomada de atitudes
autodestrutivas. A terapia narrativa, diferente de posturas
tradicionais, propõe uma ontologia relacional, de forma que os
comportamentos dependem das condições relacionais nas quais se
está inserido e não de forças internas imutáveis. Assim, as
Conversações de Externalização possibilitaram separar a pessoa do
problema e buscar outras possibilidades para além das
autodestrutivas (RASERA; JAPUR, 2018; WHITE, 2012).
Diante das perdas, M. sentia-se culpada. Dessa forma, a
temática da maternidade foi trabalhada por meio das conversações
de reautoria, em que buscamos explorar histórias alternativas à
dominante (repleta de culpa e sentimentos negativos). Além disso,
o trabalho envolveu as conversas de remembrança que, ligadas a
ideia de polivocalidade, buscaram criar um contexto de
reaproximação da jovem e seus filhos, de modo que a primeira
pudesse se reposicionar em relação a morte dos últimos (WHITE,
2012)
Nos últimos encontros, a construção da linha do tempo,
levou M. a reconhecer que vivia em um relacionamento abusivo e a
nomear vários comportamentos do esposo como “violências”.
Diante disso, M. recebeu orientações acerca das possibilidades de
ação perante o que vivenciara, bem como foi possível iniciar um
trabalho de empoderamento, em que se valorizou o protagonismo e

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