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Olá!

[ 7 de janeiro de 2021 ]
Esta dissertação foi escrita há 20 anos quando eu era aluna do Curso de Pós-graduação da Escola
de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG), e estava muito interessada
em investigar a linguagem do Teatro de Animação, sobretudo os bonecos e objetos. À época, o
Grupo Giramundo Teatro de Bonecos havia sido “convidado a sair do Campus” da UFMG após 20
anos de dedicação1; sendo assim, o professor Álvaro Apocalypse (1937-2003) não pode orientar-
me no Mestrado (além de aluna dele, participei de 2 montagens do Giramundo entre 1991 e
1993). Resolvi, então, migrar para o Departamento de Cinema, visando entender a presença dos
bonecos no Cinema de Animação, quando fui afetuosamente recebida pelo Professor Luiz
Nazário, que me concedeu seu conhecimento, tempo e livros. Fiquei extremamente envolvida
com a historicidade e a influência dos animadores que usavam bonecos em suas obras, pois
acabara de obter minha segunda habilitação em Artes ‒ Cinema de Animação ‒ e um curso de
roteiro, patrocinado pela Prefeitura de Belo Horizonte e realizado na EBA/UFMG. A partir daí,
decidi pesquisar as primeiras imagens em movimento. Esta dissertação, portanto, seria
majoritariamente alterada se fosse reescrita hoje, porque após as experiências relatadas ainda
cursei Licenciatura em Letras e Licenciatura em Artes Visuais, além de concluir o Doutorado em
Literatura e outras Artes. A escrita, conforme conhecimento amplo, é uma matéria em “estado
de latência”: nós mudamos e a nossa escrita também.
Meu Mestrado Cinema de Animação ampliou a paixão pelo Teatro de Animação, conduzindo-me
a inúmeras vivências gratificantes: por meio do convite de Mércia Maldonado, fiz trabalhos
lindos com alunas/os do Ensino Fundamental da Escola Leonardo da Vinci, em Lagoa Santa/MG;
ministrei oficinas de Assombração (título dado por um participante de 10 anos, em Itabira/MG)
nos Festivais de Inverno de Itabira e na Bienal do Livro/BH a convite da produtora cultural Cibele
Teixeira e, atualmente, continuo a disseminar Oficina de Sombras no Curso de Artes Visuais ‒
Licenciatura, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), do qual sou professora efetiva.
Também estive no maior centro de documentação sobre bonecos do ocidente, em 2000: Institut
International de la Marionnette, em Charleville Mézières/França, com o auxílio de minha irmã,
Cláudia Macieira, de minha mãe, Maria Albina Macieira, de Maria Eduar e Gilles Eduar Serrigny,
além do aporte do Governo Brasileiro e do empenho de Conceição Rosière ‒ cofundadora da
Associação de Teatro de Bonecos de Minas Gerais (ATEBEMG) ‒, que escreveu uma carta linda

1
Durante duas décadas (1977-1999), o Grupo Giramundo Teatro de Bonecos manteve um convênio com a UFMG, promovendo
convívios de caráter educacional e estético, ofertando estágios, ministrando matérias irregulares na EBA/UFMG e propondo imersões
aos alunos nas edições anuais do Festival de Inverno da UFMG. “Também sob a forma de convênio, a EBA/UFMG abriga o Giramundo
Teatro de Bonecos, formado por alguns de seus professores, que além de sua atividade normal de criação e apresentação de
espetáculos de forte apelo visual (daí a razão de encontrar-se em uma Escola de Belas Artes) oferece curso de extensão, participa de
trabalho de criação com outros grupos, escolas e entidades e oferece estágio a alunos da Escola e a outros interessados”. O Giramundo
foi criado em 1970, em Belo Horizonte/MG, pelos artistas plásticos Álvaro Apocalypse (1937-2003), Terezinha Veloso (1936-2003) e
Maria do Carmo Vivacqua Martins (Madu). Antes da formação do grupo, as cofundadoras haviam sido alunas de Apocalypse na EBA.
“[...] O grupo montou 36 espetáculos, construindo um acervo de aproximadamente 1.500 bonecos. A atenção plástica e o cuidado
técnico na construção de bonecos e espetáculos, aliados ao interesse pela cultura brasileira, proporcionaram reconhecimento nacional
ao Giramundo, colocando-o na história do Teatro Brasileiro”. (MACIEIRA, Cássia. Sobre experiências interartes e educação: Madu e
Terezinha Veloso, do Grupo Giramundo Teatro de Bonecos. In: PÓS - Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG,
v. 10, n. 20, nov. 2020.). Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistapos/issue/view/1284/221>. Acesso em: 26 dez.
2020.
de recomendação e mediou importante reunião da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos
(ABTB), discursando a meu favor. Sem esses parceiros eu não teria acessado a melhor biblioteca
sobre bonecos do mundo durante um mês.
Atendendo à especificação prática do meu Mestrado, realizei uma animação a partir de silhuetas
e de projeção de sombras ‒ Jonas e a Baleia, obra que originou outros trabalhos: participei com
um mini espetáculo de sombras da exposição sobre Carlos Drummond de Andrade ‒ Carlos em
projeção de sombras, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte/MG, sob curadoria de Mabe
Bethônico e Marconi Drummond; colaborei com Miguel Vellinho, da Cia. PeQuod de Teatro de
Animação, na produção das sombras que aparecem na abertura do filme Copacabana, de Carla
Camurati. Fiz as sombras que aparecem em O pequeno Alquimista, e outras que infelizmente não
foram ao ar durante a exibição de Hoje é dia de Maria, ambas minisséries da Rede Globo; é de
minha autoria a silhueta impressa no CD Paradeiro, de Arnaldo Antunes ‒ apenas para situar
alguns projetos.
Vinte anos passaram. Hoje, por exemplo, as fontes luminosas estão mais acessíveis devido ao
baixo custo e à grande oferta do comércio eletrônico; até a lanterna do celular proporciona
imagens definidas e potentes (aprendi com um aluno). Na atualidade, há muitas/os
pesquisadoras/os de sombras e sombristas brasileiros virtuosos, e tanto o Youtube quanto o
Instagram oferecem espetáculos teatrais com bonecos, nacionais e estrangeiros, dos quais
alguns supostamente não poderíamos ver presencialmente. Produções de qualidade, disponíveis
quase democraticamente caso o acesso à internet não fosse tão caro, no Brasil. Enfim, nessas
últimas duas décadas a tecnologia e a comunicação colaboraram com sombristas e espectadores,
multiplicando conteúdos significativos: peças, grupos no WhatsApp com interesses afins,
oficinas, lives maravilhosas para todos os públicos etc. Sob a perspectiva do Teatro de Animação
e sua democratização, o mundo melhorou. Boa leitura!
Ah! A dedicatória de 20 anos atrás permanece...

Cássia Macieira (macieira.cassia@gmail.com) e (cassia.macieira@uemg.br


Silhueta para o CD Paradeiro Arnaldo Antunes.

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