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O direito penal moderno tomou forma com o surgimento

do Iluminismo. O conceito de Leis e Direitos humanos


nascia para limitar a atuação estatal sobre os indivíduos.
O rei não era mais visto como um escolhido de Deus, Per íodo humanitár io Beccaria dividiu o crime em
portanto somente sua palavra não bastava para regular a Quem foi Beccar ia? duas espécies:
relação com seu povo.

Em fins do século XVII,I com a propagação dos ideais iluministas, ocorreu uma
conscientização quanto às barbaridades que vinham acontecendo, era preciso Crimes horrendos são aquelas que são fruto da violação das convenções
*
romper com os convencionalismos e tradições vigentes. Houve um imperativo sociais e ligados ao bem estar comum como o direito de propriedade e
também os homicídios.
para a proteção da liberdade individual em face do arbítrio judiciário e para o
banimento das torturas, com fundamento em sentimentos de piedade, César de Bonesana, o Marques de Beccaria, saiu em defesa dos
* Crimes menos graves que o homicídio e ainda os delitos, como o adultério.
compaixão e respeito à pessoa humana. desafortunados e dos desfavorecidos em sua obra ?Dos delitos e
Almejava-se uma lei penal que fosse simples, clara, precisa e escrita em das penas?. Opôs-se às técnicas utilizadas até então pela justiça,
língua pátria, deveria ser também severa o mínimo necessário para combater a era contra a prática da tortura como meio de produção de prova e
criminalidade, tornado assim o processo penal rápido e eficaz. por fim combateu o sistema presidiário das masmorras. Foi um
verdadeiro grito contra o individualismo. Também foi um grande
influenciador da Escola Clássica de Direito Penal.

Contr ibuições de Beccar ia par a o direito Autores importantes da Escola Clássica de Direito Penal
penal moder no Entre os pensadores mais relevantes da Escola Penal Clássica, é
possível apontar, no classicismo italiano: Beccaria, Gaetano
os cidadãos, por viverem em sociedade cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por esta razão,
1 não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontecem nos casos da pena de morte e Filangieri, Gian Domenico Romagnosi e Giovanni Carmignani,
Na França, com a Revolução Francesa, surgem a Declaração
das sanções cruéis. representantes do período teórico-filosófico; além de Francesco
dos Direitos do homem e do cidadão, bem como os Códigos Carrara, Pelegrino Rossi e Pessina, representantes do período
Penais de 1791 e 1810. São os seguintes princípios básicos 2 só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrariamente. ético-jurídico. É importante destacar, entretanto, que Beccaria e
pregados pelo filosofo Beccaria, não sendo totalmente original, Carrara são os nomes de maior impacto quando se fala em
firmou em sua obra os postulados básicos do direito penal
as leis devem ser conhecidas pelo povo, redigida com clareza para que possam ser compreendidas e Escola Clássica, sendo o segundo inclusive descrito como ?quem
moderno: 3
obedecidas por todos os cidadãos. simboliza a expressão definitiva da Escola Clássica?.

4 a prisão preventiva só se justifica diante de prova da existência do crime e da sua autoria. não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para interrogatório e aos juízos de Deus,
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que não levam a descoberta da verdade.

5 devem ser admitidas em juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados ( mortos civis ). 8 a pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão mas também
para recuperar o delinqüente.

6 não se justifica as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes,


que recaem sobre toda a família do criminoso.

São chamadas ?escolas penais? as diversas


correntes filosófico-juridico em matéria penal que Escola Moderna
Escola Crítica Escola Positiva
surgiram nos Tempos Modernos. Elas se Alemã Per íodos da Escola Clássica de Direito Penal
Escolas e Tendências Penais
formaram e se distinguiram umas das outras.
Lidam com problemas que abordam o fenômeno
do crime e os fundamentos e objetivos do Filosófico ou teórico: destaca-se como figura de incontestável realce, bastando para isso ter sido o iniciador, Cesare e Beccaria. Beccaria proclama a
sistema penal. Nesta escola podemos distinguir necessidade de se atribuir um novo fundamento à justiça penal, um fundamento essencialmente utilitário, político, que deve, sem embargo, ser
dois grandes períodos: modificado e limitado pela lei moral.
O cont rato social é a posição de sua inspiração: a sociedade é o fruto de um pacto livre estabelecido pelos cidadãos que abdicam de uma parcela da
A Escola Clássica foi de grande importância e de um valor sua liberdade e a depositam na mão do soberano, cedendo este o direito de punir os atos atentatórios ao interesse geral, mas somente na medida em
Também chamada de Escola Clássica extraordinário na elaboração do Direito Penal, dando-lhe a) que as restrições à liberdade sejam necessárias à mantença do pacto. Segundo o pensamento beccariano, a pena é tanto mais justa quanto menos
Idealista, Filosófico-jurídica,
dignidade científica. Por outro lado, menor não foi sua exceda os limites do estritamente necessário e quanto mais se concilie com a máxima liberdade dos cidadãos.
Crítico Forense, nasceu sob
os ideais iluministas. ascendência sobre as legislações, já que a quase totalidade Proclama como princípios limit adores da função de punir do Est ado: só a lei pode fixar legitimamente a pena para cada delito; a lei não deve
dos códigos e das leis penais, elaborados no século considerar nenhum caso especial, mas somente estabelecer as penas para as várias espécies de delitos; as penas excessivas e cruéis devem ser
passado, inspiram-se totalmente em suas diretrizes, a que abolidas, como inumanas e inúteis; ao juiz corresponde unicamente ajustar o caso à letra da lei, sem interromper o espírito da lei que poderá conduzir
também permanecem fiéis códigos de recente promulgação. ao arbítrio e ao personalismo; abolição da tortura aplicada para obter a confissão do indiciado; abolição da pena de morte.
A pena é um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo
Ela foi intrépida defensora de Direito contra o arbítrio e a
por motivo de uma falta considerada crime, cometida voluntária e
prepotência daqueles tempos. Coube à Escola Clássica
conscientemente. Para ela, a finalidade da pena é o Jurídico ou prát ico: seu maior expoente foi Francesco Carrara, autor do monumental Programa Del corso di diretto criminale (1859). É a sua maior obra,
imprimir ao Direito Penal o cunho sistemático da ciência
restabelecimento da ordem social. Esta doutrina possui onde expõe seu pensamento e que remarcada influência logrou, a ponto de, ainda hoje, diversos de seus ensinamentos constituírem ponto de partida
jurídica, cujo objeto, no plano teórico, foi o estudo do delito e
princípios básicos e comuns, de linha filosófica, de cunho obrigatório para o estudo e a compreensão de institutos jurídicos penais.
da pena, do ponto de vista jurídico e, no plano prático, a
humanitário e liberal (defende os direitos individuais e o principio Também temos que lembrar o nome de J. A. Carmignami, antecessor de Carrara na cátedra da Piza, seu professor e que sobre ele exerceu grande
extinção do arbítrio judicial e mitigação geral das penas.
da reserva legal, sendo contra o absolutismo, a tortura e o influência. Para Carrara (mestre de Piza), o delito é um "ente jurídico" impelido por duas forças: a física, que é o movimento corpóreo e o dano do crime,
processo inquisitório). Foi uma escola importantíssima para a b) e a moral, constituída da vontade consciente do criminoso. A essência do delito reside na violação de um direito, cumpre que este se defenda contra o
evolução do direito penal na medida em que defendeu o delito e para isso é necessário que, no seu próprio conteúdo, se encontre a faculdade da sua defesa, pois, ao contrário, não seria um direito, mas sim
individuo contra o arbítrio do Estado. uma irrisão. O criminoso é portador de direitos e, portanto, submetido ao juízo penal, ele só pode ser condenado quando se reconhece a sua culpa e
não pode sofrer um mal maior que o exigido pela necessidade da tutela jurídica, calculada sobre a exata verificação do fato criminoso.
O eixo do sistema carriano é o livre arbítrio como pressuposto de afirmação da responsabilidade da aplicação da pena. Entre suas obras, podemos
As linhas basilares dessa escola, segundo Regis Prado: ainda citar Opuscoli, heminiscenge di catedra e foro.
a) o Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural: O Direito é congênito ao homem porque foi dado por Deus à
humanidade desde o primeiro momento de sua criação, para que ela pudesse cumprir seus deveres na vida terrena. O Direito é a liberdade. Portanto,
a ciência criminal é o supremo código da liberdade, que tem por objeto subtrair o homem da tirania e dos demais, e ajudá-lo a livrar-se da tirania de
si mesmo e de suas próprias paixões. O Direito Penal tem sua gênese e fundamento na lei eterna da harmonia universal.
b) o delito é um ente jurídico, já que constitui a violação de um direito. O delito é definido como infração. Nada mais é que a relação de contradição
entre o fato humano e a lei.
c) a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre-arbítrio humano
d) a pena é vista como meio de tutela jurídica e como retribuição de culpa moral comprovada pelo crime. O fim primeiro da pena é o
restabelecimento da ordem exata na sociedade, alterada pelo delito. Em conseqüência, a sanção penal deve ser aflitiva, exemplar, publica, certa,
proporcional ao crime, célere e justa.
e) o método utilizado é o dedutivo ou lógico-abstrato.
f) o delinqüente é, em regra, um homem normal que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último.
g) os objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o processo.

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