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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO

CURSO: LETRAS -TRADUTOR

CAVALEIRO DAS TREVAS: UMA LEITURA SÓCIO-CULTURAL E


IDEOLÓGICA DE UM MITO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

ANDRÉ AUGUSTO FORTE COSTA

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR


ELABORADO SOB ORIENTAÇÃO DA MS.
ARALYS BORGES DE FREITAS

São Paulo
12/ 2001

I
Dedicatória

Este trabalho é especialmente dedicado a:

Bob Kane, por ter dado início ao mito do Homem-Morcego, personagem que

sempre esteve presente em todos os momentos de minha vida;

Frank Miller, argumentista e desenhista da mini-série "Batman: o cavaleiro das

trevas" pois, se não fosse por ela, eu não teria conseguido retornar à vida acadêmica;

Meu amigo Donizete que, durante meus momentos de intensa angústia e

depressão em Itanhaém, não saiu do meu lado, sendo um verdadeiro Menino-Prodígio;

Minha doce avó Mariana que, mesmo após ter enfrentado duas guerras mundiais,

cuidou de mim e teve de suportar minhas crises nucleares de mau-humor.

Agradecimentos

À minha orientadora, Aralys, pela sua ajuda na elaboração de algo que não é

uma simples monografia, mas a realização de um sonho;

À turma do 8ºC, muito cordial comigo, mesmo eu tendo entrado mais tarde no

curso, especialmente ao kemosabi Vinícius e à elemental Jade, que se tornaram mais do

que colegas de sala-de-aula;

Aos meus amigos, Sílvio, Simone, Júlio, pelas agradáveis horas de conversa;

À Angélica, por nunca ter "largado do meu pé".

Acima de tudo, gostaria de agradecer à minha família, especialmente ao meu

irmão Rodrigo, companheiro na leitura de quadrinhos, à minha mãe, pelo grande amor

que nutre por mim, e ao meu pai, que além de sempre ter me dado apoio nas horas mais

difíceis, me ensinou a caminhar no lado certo da lei.

II
SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................01

Capítulo 1 - Referencial Teórico..........................................................04

1.1 - Semiologia..............................................................................04

1.2 -Século XX...............................................................................04

Capítulo 2 - O Universo de Batman.....................................................09

Capítulo 3 - O Cavaleiro das Trevas ...................................................16

3.1 - A criação..................................................................................16

3.2 - História e ideologia..................................................................18

Conclusão.............................................................................................28

Bibliografia...........................................................................................29

Apêndice

III
TÍTULO DO TRABALHO: Cavaleiro das Trevas: uma análise sócio-cultural e

ideológica de um mito das histórias em quadrinhos

AUTORIA: André Augusto Forte Costa

ORIENTAÇÃO: Prof. MS. Aralys Borges de Freitas

RESUMO

O presente trabalho tem o intuito de demonstrar a importância da personagem

Batman, que vem sendo constantemente reformulada desde a sua criação, atingindo

sempre uma nova geração de leitores, além de estar presente não apenas nas histórias

em quadrinhos, mas em todas as mídias existentes. Para tanto, foi feito um panorama da

trajetória do herói, ressaltando suas fases mais importantes. Além disso, realizou-se uma

análise sócio-cultural e ideológica da mini-série "Batman: o cavaleiro das trevas",

considerada, por muitos especialistas das histórias em quadrinhos, a versão definitiva do

herói, a fim de que fosse demonstrada sua importância, já que produziu grandes

mudanças tanto no herói quanto no público leitor. Em outras palavras, graças a

"Batman: o cavaleiro das trevas", a idéia de que ler histórias em quadrinhos era algo que

se restringia às crianças passou a fazer parte do passado.

IV
EPÍGRAFE

Algumas máscaras escondem quem nós somos. Outras, revelam!

Anjo, intergrante dos X-Men

V
INTRODUÇÃO

O presente trabalho vincula-se a áreas de estudos humanos, envolvendo a

Semiologia, responsável pela interpretação dos signos empregados na Ideologia retirada

das histórias em quadrinhos, bem como da História, na averiguação de fatos que

marcaram as épocas em que os quadrinhos foram produzidos.

Não se pretende, aqui, pesquisar todas as histórias em quadrinhos. O estudo

delimitá-se àquelas em que atua o enigmático herói Batman.

O tema do trabalho, portanto, se contextualiza nas leituras sócio-culturais-

ideológicas do mito das histórias em quadrinhos: Batman.

A ideologia das histórias em quadrinhos de super-heróis já foi fruto de diversos

estudos, principalmente ressaltando seus aspectos negativos, como pode ser verificado

no artigo de Jô Soares que faz parte do livro "Shazam!". Isso ocorre principalmente pelo

fato de ser dito que elas só propagam ideais norte-americanos. Este estudo, seguindo o

exemplo do referido artigo, não levará este pré-conceito em conta.

O tema é polêmico já que, no Brasil, quase não existem estudos acadêmicos a

esse respeito, ainda mais se for considerado a perspectiva que será dada: histórico-

ideológica.

Em se tratando de ideologia, o trabalho será apoiado em livros como O mundo

contemporâneo, de Demétrio Magnoli, A ideologia, de Raymond Boudon, que define

ideologias como 'doutrinas falsas e duvidosas ou indevidamente interpretadas, às quais

se dá uma credibilidade duvidável' e Linguagem e ideologia, de José Luiz Fiorim. É de

se levar em conta, também, o fato de as histórias em quadrinhos serem um importante

veículo de comunicação de massa e não serem tratadas como tal. Isso pode ser

verificado nos artigos "Para entender o mercado de Hqs", de Patrícia Villalba, e

1
"Cavaleiro das Trevas", de João Paulo Liam Martins, ambos publicados na revista

"Showmix", número 1, aumentando a polêmica do trabalho.

No que se refere à evolução histórica do personagem, serão usadas histórias em

quadrinhos e artigos de revistas especializadas que tratam deste assunto como, por

exemplo, a revista "Cinevídeo - Os 50 anos do Homem-Morcego", que traz um

panorama completo do personagem em questão.

O principal problema a ser tratado será a incompatibilidade ideológica existente

entre Batman e o governo norte-americano na mini-série "Batman: O Cavaleiro das

Trevas". São levantadas duas hipóteses. Na primeira, Batman seria uma espécie de

anarquista, lutando contra o sistema (autoridade do Poder) e por isso teria de ser

excluído. Nessa luta, é apoiado pelo povo pois faz justiça com as próprias mãos. Na

segunda, o herói em questão tanto reflete momentos históricos como abarca anseios da

elite americana no tratamento de questões de interação coletiva.

Visa, a atual pesquisa, portanto, traçar um panorama da personagem Batman

desde a sua origem até os dias atuais, ressaltando suas fases mais significativas. Além

disso, intenta-se proceder a uma análise sócio-cultural-ideológica da mini-série

"Batman: O Cavaleiro das Trevas", mostrando por que o herói entra em conflito com o

presidente dos Estados Unidos e com o próprio Super-Homem, ao mesmo tempo em

que é idolatrado pelo povo de Gotham City que o tem como seu maior defensor.

A importância desse estudo é demonstrar a importância da referida revista já que

serve de marco aos quadrinhos de heróis, direcionando-os ao público adulto.

A justificava deste trabalho deriva do fato de que Batman é um mito. Desde a

sua criação, em 1939, vem sendo adaptado a novos leitores. No entanto, em 1986,

surgiu a mini-série "Batman: O Cavaleiro das Trevas", escrita e desenhada por Frank

Miller, que é vista por inúmeros especialistas em quadrinhos como sua versão

2
definitiva. Nesta história, Bruce Wayne, com cinqüenta e cinco anos de idade, deixou de

ser o Batman, devido à morte de Robin, ocorrida já há alguns anos. Entretanto, Gotham

City vive uma era de caos pois, devido à grande proliferação de gangues urbanas, a

violência varre suas ruas e a polícia mostra-se incapaz de deter essa ameaça. Na

tentativa de "ajeitar as coisas", Wayne volta a ativa como Batman. A violência

empregada por ele para combater os malfeitores, contudo, faz com que entre em conflito

com o Presidente dos Estados Unidos e com o próprio Super-Homem, ao mesmo tempo

em que é idolatrado pelo povo.

A escolha do tema deste trabalho justificá-se, portanto, pela importância de se

averiguar, em uma análise sócio-cultural-ideológica, a figura intrigante do herói na

própria história em quadrinhos.

A abordagem do estudo será hipotético-dedutiva com procedimentos histórico-

comparativo.

Para tanto, urge que se aplique à pesquisa bibliográfica à análise dos quadrinhos

para que se verifique a validade das hipóteses aqui levantadas.

3
CAPÍTULO 1 - REFERENCIAL TEÓRICO

Este trabalho tem base nas áreas de Semiologia, História em Quadrinhos e

História Geral.

1.1 - Semiologia

De acordo com Lopes (1995: 15), a semiologia é "a ciência que estuda os

sistemas de signos, quaisquer que eles sejam e quaisquer que sejam as suas esferas de

utilização". A ideologia, que é um dos campos de estudo da semiologia, recebe a

seguinte concepção de Magnoli (1995: 16): "a ideologia constitui uma visão de mundo

coerente, formada por um sistema de conceitos interligados e aceita por uma parcela da

sociedade em um determinado momento histórico". Essa concepção de ideologia pode

ser aplicada na mini-série "Batman: Cavaleiro das Trevas" pois as mudanças

comportamentais que ocorrem no herói em questão, em seu retorno, são consequência

do momento histórico em que vive.

1.2 - Século XX

Neste tópico, demonstram-se os fatos históricos que influenciaram não apenas a

criação do herói, mas também as suas reformulações.

Batman foi criado em 1939 em meio a um clima de muito pessimismo e

incerteza. Na década anterior, no dia 24 de setembro de 1929, ocorreu a quebra da Bolsa

de Nova York, no dia que ficou conhecido como "quinta-feira negra". Muitas pessoas,

principalmente investidores, se suicidaram pois haviam perdido tudo o que possuíam e

temiam viver na pobreza. Aqueles que optaram por enfrentar a realidade tiveram que

conviver com o desemprego em massa ocasionado pela maior crise econômica que os

4
Estados Unidos já tinham enfrentado até então. E, mesmo com o advento do New Deal,

do presidente Franklin Delano Roosvelt, que trouxe uma retomada no crescimento do

país, o crack da Bolsa deixou marcas profundas nos norte-americanos, pois as pessoas

começaram a economizar mais ao invés de gastar desenfreadamente, como faziam no

período pré-crise e, sobretudo, perderam sua fé nas instituições financeiras, passando a

guardar o dinheiro em casa.

De acordo com Magnoli (1995: 39) "o crack da Bolsa de Nova Iorque encerra o

curto período de aparente prosperidade dos anos vinte, precipitando o mundo capitalista

em sua maior depressão". Em outras palavras, a quebra da Bolsa de Nova York acabou

gerando uma crise de proporções mundiais, chegando a atingir a Inglaterra, a Alemanha

e a França, dentre outros países.

No entanto, além da crise econômica, as pessoas do final dos anos 30 temiam

um outro fantasma: a possibilidade de uma II Guerra Mundial. O responsável por esse

temor era Adolf Hitler que, após tornar-se chanceler alemão em 1933, assume a

presidência da Alemanha no ano seguinte, possuindo poderes ditatoriais. Assim, de

acordo com D'Ávila (1996, 11):

"Em 1935, Hitler ignorou as cláusulas militares do tratado de Versalhes e recomeçou a rearmar o
exército alemão, sob a vista grossa dos aliados, que nada fizeram para impedi-lo. No ano seguinte, Hitler
invadiu a região do Reno e recuperou a região industrial de Ruhr que supostamente era uma espécie de
zona neutra entre a Alemanha e a França (...)".

Desse modo, Hitler foi expandido os domínios da Alemanha até que, em 30 de

setembro de 1939, invadiu a Polônia, ato que culminou na II Guerra Mundial.

O fim da II Guerra Mundial é marcado não apenas pela rendição alemã em 7 de

maio de 1945, mas principalmente pela explosão de duas bombas atômicas no Japão,

uma em Hiroshima, outra em Nagasaki, em 6 e 9 de agosto, respectivamente, lançadas

por aviões norte-americanos. Em conseqüência disso, "60 mil pessoas morreram

imediatamente, além das 120 mil que ficaram feridas e morriam diariamente pelos

5
efeitos da explosão" (HISTÓRIA ILUSTRADA DO SÉCULO XX, 1996: 293). Assim,

ao mesmo tempo em que o mundo comemorava o fim de uma guerra, as pessoas

nutriam um grande sentimento de medo devido ao poder devastador da bomba atômica.

Com fim II Guerra Mundial, o mundo é dividido em duas zonas de influência

tendo de um lado os Estados Unidos, defensor do capitalismo, e a União Soviética, a

mais importante potência comunista. Era o início da Guerra Fria. Um marco desse

período foi a divisão da Alemanha em duas partes, Ocidental e Oriental, em 1949, sendo

que a última estava sob julgo da União Soviética que, para evitar a constante migração

da população de Berlim Oriental para Berlim Ocidental, ergueu o Muro de Berlim, em

1961.

A principal vantagem que os Estados Unidos possuíam sobre a União Soviética

era o monopólio da bomba atômica. Em 1949, porém, a União Soviética criou a sua

própria bomba, o que trouxe um certo equilíbrio bélico entre as duas nações. Aliás, a

principal característica da Guerra Fria foi a corrida armamentista. O arsenal produzido

pelas duas nações era capaz de destruir o mundo diversas vezes.

Em 1950, o senador norte-americano Joseph McCarthy fez uma série de

acusações pela televisão, afirmando que havia comunistas infiltrados no governo dos

Estados Unidos, o que gerou uma onda de pânico na população que passou a ver

comunistas em todos os lugares. De acordo com Magnoli (1995: 60), "o pequeno

Partido Comunista Americano é colocado na ilegalidade, intelectuais e artistas tachados

de 'traidores' e 'simpatizantes' da Rússia são processados e perdem seus empregos".

Como pôde ser visto, a cruzada anticomunista de McCarthy, que ficou

conhecida como macartismo, promoveu uma verdadeira "caça às bruxas" em todos os

setores da cultura norte-americana. As histórias em quadrinhos também foram atingidas

graças à publicação do livro The Seduction of Innocentes, do psiquiatra Frederic

6
Wertham, em 1954, que faz uma série de acusações contra os personagens dos comics

sendo que a mais notória delas é a "revelação" da suposta homossexualidade de Batman

e Robin. O livro causou tanta repercussão que, de acordo com Moya (1997, 71-72):

"(...) levantou-se uma onda de protestos dos famigerados representantes dos pais, professôres, da
família unida, do casamento (tão desprestigiado nos quadrinhos), das Filhas da Revolução - Daughters of
Revolution - das Marchadeiras, da religião, dos verdadeiros Capitães e Coronéis, da castidade sexual, da
América, do patriotismo, do conformismo, da escola, da velhice, do reacionarismo, do 'no-meu-tempo-
não-era-assim', do passado, tudo isso e mais alguma coisa, em fúria contra o mundo dos quadrinhos".

Diante de tal campanha, os editores de quadrinhos norte-americanos não tiveram

outra saída a não ser criar um código regulador para os quadrinhos - o Comics Code

Authority - para que pudessem manter suas atividades.

Em 1965, os Estados Unidos envolvem-se oficialmente na Guerra do Vietnã e

começam a enviar tropas para aquele país. Inúmeros jovens norte-americanos são

mortos a cada ano nas florestas do Vietnã do Norte. Em conseqüência disso, ocorrem

inúmeros movimentos pacifistas nos Estados Unidos clamando pelo fim da guerra.

Durante uma convenção hippie no Central Park, em 1967, milhares deles "empinaram

pipas, soltarem balões e bolhas de sabão, fizeram anéis de fumaça com os mais variados

fumos e entoavam 'amor'" (HISTÓRIA ILUSTRADA DO SÉCULO 20, 1996: 420). Em

outras palavras:

"(...) a contra-cultura, o psicodelismo e a revolução dos costumes vieram para balançar os


valores estabelecidos, na década de 60. Era a década das cores vivas e fortes, do paz e amor, da sátira
impiedosa ao 'stabilishment' (sic). Não havia símbolo que não pudesse ser tocado. Jesus Cristo virou
Superstar (Sabadin, 1989: 18)".

A Guerra do Vietnã termina em 27 de janeiro de 1973 com os Estados Unidos

assinando o cessar-fogo, na tentativa de ter uma saída honrosa do conflito. O resultado

mais evidente da guerra foi a morte de 45.997 soldados americanos, além dos mais de

300 mil feridos, de acordo com o Pentágono. Isso sem mencionar o custo da guerra que

7
ultrapassou a cifra dos U$ 100 bilhões (HISTÓRIA ILUSTRADA DO SÉCULO 20,

1996: 463).

Após a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos não desfrutam uma paz muito

duradoura pois, na década de 80, sob o comando do Presidente Ronald Reagan,

envolvem-se direta ou indiretamente em uma série de conflitos armados. Como

exemplo, podem ser citadas as campanhas militares que realizou em alguns países da

América Central, principalmente na Nicarágua e na ilha de Granada, para conter o

avanço do comunismo na região. Contudo, o medo de uma ofensiva nuclear soviética

ainda se fazia presente. Prova disso foi o anúncio, feito pelo presidente Reagan, em

1983, do ambicioso projeto militar denominado Guerra nas Estrelas. De acordo com

D'Ávila (1996: 28) "o objetivo era desenvolver um escudo espacial defensivo que fosse

capaz de destruir um míssil antes que esse atingisse o alvo". E, apesar de muitos terem

considerado esse projeto fantasioso pois "um míssil intercontinental ICBM demorava

apenas trinta minutos para ser lançado da União Soviética e atingir o seu alvo nos

Estados Unidos" (D'Ávila, 1996: 28), os Estados Unidos investiram bilhões de dólares

nele, atacando a União Soviética no seu calcanhar-de-aquiles: o campo econômico.

Convém ressaltar que a União Soviética não dispunha de muito dinheiro pois, além dos

gastos com a corrida armamentista com os Estados Unidos, o país despendia muito

capital para manter as revoluções comunistas no exterior (D'Ávila, 1996: 29). Assim, a

Guerra Fria começava a chegar ao fim.

8
CAPÍTULO 2 - O UNIVERSO DE BATMAN

No final dos anos 30, o mundo vivia em um clima de incerteza devido à ameaça

de uma II Guerra Mundial. As conseqüências da queda da Bolsa de Nova York, em

1929, ainda se mostravam presentes. O medo pairava no ar. No entanto, as histórias em

quadrinhos de super-heróis estavam em alta, contribuindo para que as pessoas

esquecessem as incertezas do mundo real.

Em 1938, foi lançado o Super-Homem, "numa era considerada a 'Era de Ouro'

dos quadrinhos em que foram criados muitos heróis brilhantes e até imortais como Flash

Gordon, Mandrake e tantos outros" (Faerman, 1989: 5). Um desses outros heróis foi

Batman.

A editora do Super-Homem, Detective Comics Inc.(atual DC), encarregou o

jovem desenhista Bob Kane de criar um herói que vendesse tanto quanto o Homem-de-

Aço. Assim, em maio de 1939, o personagem Batman faz a sua estréia na revista

Detective Comics n°27. A maior fonte de inspiração de Kane foram os personagens de

"pulps" (romance policial popular) tais como o Sombra, o vilão "The Bat", do cinema,

baseado no romance homônimo de Mary Robert Richards, e Zorro, dentre outros. Além

disso, a Máquina Voadora, de Leonardo Da Vinci, serviu de inspiração para o visual da

personagem.

A principal diferença entre o Super-Homem e o Batman reside no fato de que o

último é um terráqueo, não dispondo de qualquer tipo de superpoder. Isto fez com que

os leitores se identificassem mais com ele pois, de acordo com o desenhista e editor da

área de quadrinhos Dick Giordano (1988: 7), comentando sobre o seu primeiro contato

com a personagem, na infância:

9
"Eu sabia que podia ter a pretensão de ser o Batman, mas nunca poderia ser o Super-Homem.
Não havia jeito de conseguir poderes iguais (eu precisaria ter nascido em outro planeta para isso), mas
nada me impedia de treinar como o jovem Bruce Wayne havia feito e, talvez algum dia, ser igual ao
Batman".

O comentário de Dick Giordano traz à tona uma dúvida: o que levou o jovem

Bruce Wayne a treinar para se tornar o Batman?

Filho dos milionários Thomas e Martha Wayne, Bruce levava uma vida comum,

em Gotham City. Aos sete de idade, seus pais foram mortos, após uma sessão de cinema

do filme do Zorro, por um bandido no local que ficou conhecido como Beco do Crime,

ficando sob os cuidados de Alfred Pennyworth, mordomo da família. Naquele dia, ele

jurou vingar a morte de seus pais combatendo o crime em todas as suas formas a fim de

que outras pessoas não sentissem a dor da perda de um ente querido. Assim, aos doze

anos de idade 1 , a fim de cumprir seu juramento, Bruce Wayne viajou pelo mundo todo,

não apenas estudando nas melhores universidades, mas também tendo aula com os

grandes mestres das mais variadas artes marciais e com os maiores detetives do mundo.

No entanto, não sabia como vingar a morte de seus pais. De volta à propriedade de sua

família, a Mansão Wayne, Bruce Wayne, certo dia, vê um grande morcego entrando

pela janela de sua biblioteca. Neste momento, a decisão é tomada. "Os criminosos são

medrosos: sem uma arma não são nada. Tenho de fazê-los tremer sendo uma criatura da

noite" 2 . Assim surgiu o Batman e iniciou-se a tão esperada Guerra ao Crime. Duas

regras principais regem seu modus operandi: nunca usar armas de fogo e nunca matar.

Em 1939, ocorreu a estréia do jovem desenhista Jerry Robinson nas histórias do

Batman, trazendo algumas inovações para o personagem. No ano seguinte, Jerry criou o

Robin, fazendo com que os leitores mais jovens tivessem com quem se identificar,

tornando o Homem-Morcego menos violento e soturno.

1
Informações do site www.darknight.ca/heroes/batman/html.
2
Informação do site sites.uol.com.br/mcastro/introdução/htm

10
Bruce adotou Dick Grayson (Robin), como seu pupilo após a morte da família

da personagem, os trapezistas Os Graysons Voadores, em um número de circo sabotado

por Zucco, um chefão do crime.

Além de Robin, Jerry Robinson criou toda uma galeria de vilões memoráveis

tais como o Coringa, o Duas-Caras, e a Mulher-Gato, tendo como principal fonte

criativa os quadrinhos do Dick Tracy e o cinema.

Na década de 40, ocorre a estréia de Batman no cinema em dois seriados: "O

morcego" (Batman), dirigido por Lembert Hillyer, com Leslie Wilson (Batman) e

Douglas Groft (Robin) em 1943 e "A volta do Homem-Morcego" (Batman and Robin),

com Robert Lowery (Batman) e Robin (John Duncan), ambos produzidos pela

Colúmbia.

Nos anos 50, ocorre o declínio dos quadrinhos dos super-heróis, que começam a

ter seu lugar tomado pelos quadrinhos de terror, de faroeste e outros gêneros. A

personagem já dava sinais de estagnação, mas ainda poderia se tentar algo novo, como

as aventuras conjuntas do Batman e do Super-Homem que começaram a surgir na

revista "World Finest", em 1954. Até então, os dois heróis eram publicados em histórias

separadas na revista em questão. Contudo, naquela época, ocorria a famigerada 'caça às

bruxas' do senador Joseph McCarthy, que também queria instaurar a censura em todos

os quadrinhos norte-americanos. Além disso, o psiquiatra Frederic Wertham lança seu

livro The Seduction of the Innocents 3 em que "revela" a suposta homossexualidade de

Batman e Robin:

"Constantemente êles se salvam um ao outro de ataques violentos de um número sem-fim de


inimigos. Transmitem a sensação de que nós, homens, devemos nos manter juntos porque há muitas
criaturas malvadas que têm que ser exterminadas... Às vezes, Batman acaba numa cama, ferido, e mostra-
se o jovem Robin sentado ao seu lado. Em casa, levam uma vida idílica. São Bruce Wayne e Dick

3
WERTHAM, Frederic. The seduction of innocents. New York, Rinehart House, 1954.

11
Grayson. Bruce é descrito como um grã-fino e o relacionamento oficial é que Dick é pupilo de Bruce.
Vivem em aposentos suntuosos como lindas flores em grandes vasos... Batman é, às vezes, mostrado num
robe de chambre... é como um sonho de dois homossexuais vivendo juntos". 4

A conjugação destes dois fatores fez com que Batman fosse enquadrado no

Comics Cods Authority, um código regulador de quadrinhos, algo que colaborou com a

decadência do herói naquele período.

O editor Julius Schawarfs, o escritor Gardner Fox e desenhistas como Joe

Guellam, Carmine Infantino, Sid Grainer, dentre outros, tentaram revitalizar o herói, em

1964, e "visualmente até que houve uma pequena melhora, porém todo o resto parecia

envelhecido, ultrapassado, sem interesse" (Sampaio, 1999: 21). E, em 1966, houve a

estréia da série de tevê "Batman", estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward

(Robin). Contudo:

"O produtor William Dozier não queria (...) rechear as telinhas com um herói amargurado. A
solução foi transformar Batman em comédia, colocando um liquidificador à linguagem das historias em
quadrinhos, os clichês dos antigos cine-seriados da década de 40, e a estética psicodélica daqueles
tempos. Tudo com muito exagero". (Sabadin, 1999: 18)

O resultado foi que a série descaracterizou o Homem-Morcego por fugir

completamente da concepção sombria dado por seu criador, Bob Kane, já que ela seguia

a estética "camp". A série durou dois anos e, apesar do grande sucesso que ela fez,

tornou ainda mais difícil a reconstrução da personagem, pois Batman havia virado

motivo de piada.

O início dos anos 70 mostrou a reformulação do mito de Batman. Denny O'Neil,

Frank Robbins e Bob Hanney (argumentistas) e os desenhistas Neal Adams, Jim Aparo

e a dupla Irk Novik e Dick Giordano fizeram com que o herói se tornasse novamente

uma criatura das trevas. A personagem estava mais violenta, aplicando sua própria

4
Trecho do livro The seduction of the innocents que está disponível no livro "Shazam", de Álvaro de
Moya.

12
justiça, em uma volta às suas origens. Prova disso é que Robin (Dick Grayson),

abandona a Bat-Caverna em 1969 e vai fazer faculdade, aliando-se, mais tarde, a um

grupo de heróis juvenis: Os Novos Titãs. Como resultado, Batman volta a ser um

vigilante solitário, ficando cada vez mais sombrio. Dentre as personagens secundárias

dessa época, destaca-se o famigerado vilão Ra's Al Ghul e sua filha, Tália, namorada

eventual de Batman. Batman torna-se mais humano. Entretanto, no final dos anos 70 e

início dos 80, a constante troca de argumentistas e desenhistas causou uma queda na

qualidade das revistas.

Em 1986, a vida da personagem dá uma virada com o lançamento da mini-série

"Batman: o cavaleiro das trevas", escrita e desenhada por Frank Milller em que "(...)

Bruce Wayne era um senhor de 50 e poucos anos, que havia aposentado a capa e a

máscara há 10, mas que devido à violência em Gotham City julgou que era vital

encarnar de novo o homem-morcego" (Pitombo, 1999: 26). Batman segue sua própria

justiça, combatendo violência com violência. É importante ressaltar que esta história,

que se passa em um futuro alternativo, faz com que Batman volte a ser uma personagem

importante nos quadrinhos. Devido ao sucesso da série, a DC deu a Frank Miller a

tarefa de recontar a origem da personagem, adaptando-o aos eventos da saga "Crise nas

terras infinitas" 5 , uma mini-série que fez com que a cronologia do universo DC partisse

do zero. Essa origem foi recontada, em 1987, na revista, "Batman, Ano Um", escrita por

Frank Miller e desenhada por David Mazzuchelli.

Em 1988, ocorre a morte do segundo Robin (Jason Todd), assassinado pelo

Coringa na história "Morte em Família", escrita por Jim Starlin e desenhada por Jim

5
De acordo com Pitomba (1999: 25) "Crise nas infinitas terras" é uma mini-série que teve o objetivo de
zerar a cronologia do universo DC. Em outras palavras, "Crise nas infinitas terras" gerou uma nova
realidade e o que aconteceu com os heróis antes da saga foi desconsiderado. Assim, os personagens
puderam ser reformulados.

13
Aparo. Dick Grayson, o primeiro Robin, abandonara este uniforme, anos atrás, para se

tornar o Asa Noturna, líder dos Novos Titãs.

No ano seguinte, ocorre o lançamento de "Batman, o filme", dirigido por Tim

Burton e estrelado por Michael Keaton (Batman) e Jack Nicholson (Coringa), que faz

um grande sucesso, provocando a volta da bat-mania. Nos anos noventa, mais três

sequências são lançadas: "Batman, o Retorno", "Batman Eternamente" e "Batman e

Robin".

Nos quadrinhos, entre 1993 e 1994, ocorre a "Queda do Morcego", uma mega-

série em que, acometido por uma crise de estafa e depressão, Batman é derrotado por

Bane, um inimigo novo e perigoso, que lhe quebra a espinha, deixando o Batman

aleijado por mais de um ano. No período de sua recuperação, um outro homem, Jean

Paul Valley, assume o manto do morcego lutando contra o crime ao lado do terceiro

Robin, o hacker Tim Drake. E, como não poderia deixar de ser, "Jean-Paul foi deposto

do cargo pelo próprio detentor do mesmo, quando este se recuperou" (Pitombo, 1999:

29).

Recentemente, além de ser contaminada pelo vírus ebola na série "Contágio",

que dizimou grande parte da população da cidade, Gotham City foi abalada por

terremotos, sendo quase que totalmente destruída. Até mesmo a Mansão Wayne e a Bat-

Caverna foram atingidas. Bruce Wayne foi a Washington angariar fundos para a

reconstrução da cidade. O governo, além de negar a ajuda financeira, destrói o istmo

que liga Gotham City aos Estados Unidos, por considera-la uma cidade condenada

devido à onda de crimes, e ela se torna uma Terra de Ninguém6 , onde o dinheiro não

serve para nada, a alimentação é escassa, não há energia elétrica e a população esta

6
Eventos mostrados na mini-série 'Terra de Ninguém'.

14
dividida em feudos comandados por vilões e pelo o próprio Batman. É a volta da Idade

das Trevas.

Apesar de todas estas mudanças pelas quais a personagem passou, ela continua

atraindo muitos leitores pois "o herói criado por Bob Kane simplesmente não

envelheceu e sua temática 'dark', intimista e circunspeta está tão em evidência hoje

como estava naquele sombrio 1939, quando o mundo começava a entrar na II Guerra

Mundial (Sabadin, 1989: 26)".

Bob Kane morreu no dia 3 de novembro de 1999, aos 83 anos, e seu nome

sempre estará associado a Batman, sua maior criação. E assim, o homem que criou o

Homem-Morcego poderá ficar orgulhoso, pois poucos são os seres-humanos que

criaram personagens que se tornaram imortais e atingiram todas as mídias existentes.

Assim sendo, o próprio Bob Kane experimenta, graças ao seu personagem, um pouco do

cobiçado elixir da imortalidade.

15
CAPÍTULO 3 - O CAVALEIRO DAS TREVAS

3.1 - A criação

No início dos anos 80, havia um artista que começava a se destacar no mundo

dos quadrinhos: Frank Miller. Nascido na cidade de Olney, Md, em 27 de janeiro de

1957, desenhou sua primeira história do Batman em 1979, "Procura-se Papai Noel, Vivo

ou Morto", quando tinha apenas 22 anos de idade. Sua fama começou aproximadamente

neste período quando, aceitando o convite da editora Marvel Comics, assumiu o

comando da revista do Demolidor (o herói cego que se veste de demônio), que estava

em vias de ser cancelada. No entanto, graças a sua competência como argumentista,

além de às vezes também atuar como desenhista, fez com que a revista passasse a ser

disputada pelos fãs. O momento mais marcante de Miller na revista foi a saga

"Demolidor: a queda de Murdock", desenhada por David Mazzucchelli, considerada a

história definitiva do Homem Sem Medo, na qual o vilão Rei do Crime destrói o herói

atingindo sua identidade secreta, o advogado Matt Murdock, fazendo com que ele caia

em desgraça, perdendo inúmeros bens materiais e até mesmo amigos.

De volta a DC Comics, editora de Batman, Frank Miller fora contratado para

fazer alguns projetos especiais. O primeiro deles, em 1983, foi a minissérie "Ronin", na

qual foi responsável por toda a revista. De acordo com Faerman (1989: 4-9), "agora ele

era roteirista, desenhista, colorista, editor, e ainda ia acompanhar tudo na gráfica". Teve

liberdade total de criação e "aproveitou a carta branca para beber em fontes européias,

sul-americanas e japonesas" (Martins, [1997?]: 15). Isto foi um preparativo para o que

16
viria depois: um projeto especial envolvendo o Batman, nos mesmos moldes de

"Ronin", ou seja, total liberdade de criação. E, de acordo com Martins ([1997?]: 14):

"A obra de Miller, antes mesmo de ser lançada, começou a atrair a atenção de gente que nunca
tinha lido gibi. Como um furacão, foi invadindo todas as mídias, ganhando páginas de jornais, sendo
comentada na tevê e no rádio. De uma hora para outra, todo mundo falava no novo Batman".

É possível notar, pelo comentário acima, como era grande a ansiedade pelo

lançamento da revista. Batman, que chegara na década de 80 mergulhado em completo

marasmo criativo, apesar do empenho de artistas como Marshall Rogers, Mike Grell,

Tom Mandrake, Gene Colan, voltou, de uma hora para outra, a ter grande destaque na

mídia. Com o seu lançamento no Brasil, em 1987, verificou-se um outro fenômeno: uma

mudança no perfil do leitor:

"Uma pesquisa realizada na época mostrou que universitários e profissionais liberais - leitores
mais velhos que os habituais fãs de quadrinhos - haviam devorado a publicação. Gente que nunca tinha
lido HQs e outros que abandonaram os gibis aos 14 anos estavam extasiados com aquele material e
queriam mais. Um nicho de mercado, até então ignorado, tornou-se evidente da noite para o dia"
(Martins, 1997?: 17).

Esse nicho de mercado era o quadrinho voltado para o público adulto. Ou seja, a

partir de então, a idéia de que histórias em quadrinhos, principalmente as de super-

heróis, era algo restrito a crianças e adolescentes, começava a fazer parte do passado. E

isso fez com que a editora Abril, responsável pelo lançamento de "Batman: o cavaleiro

das trevas" no Brasil, e outras editoras nacionais lançassem cada vez mais publicações

voltadas para um público adulto com ótima qualidade gráfica. Contudo, ainda resta uma

dúvida: o que fez desta publicação uma obra tão importante capaz não apenas de

produzir mudanças no perfil dos leitores de histórias em quadrinhos, mas também no

próprio herói?

17
3.2 - História e ideologia

A minissérie "Batman: o cavaleiro das trevas", passa-se em um futuro

alternativo, um futuro negro. A Guerra Fria, "expressão que define o período marcado

por permanente tensão política tendo de um lado a liderança da ex-URSS e de outro o

bloco sob influência dos Estados Unidos" (NOVA ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA

FOLHA, 1996: 427), ainda está em vigor, fato este que coincide com o período em que

a revista foi escrita. Na história, Estados Unidos e União Soviética estão em prestes a

entrar em guerra para garantir o domínio de um pequeno país da América Central, Corto

Maltese, que, de acordo com Brito 1 , faz alusão a Cuba. Em conseqüência disso, a

ameaça de uma hecatombe nuclear paira no ar, fazendo com que pessoas mais

pessimistas andem com placas com os dizeres "o fim está próximo", o que leva um

envelhecido Bruce Wayne a pensar:

"Estou caminhando pelas ruas de uma cidade que está se acabando como o resto do mundo"
(Miller, 1989: 6).

Nesse pensamento, não está inserido apenas o perigo da guerra atômica mas,

principalmente, o fato do crime ter tomado conta de Gotham City devido a proliferação

de inúmeras gangues, principalmente uma conhecida como gangue mutante, formada

por jovens impiedosos que matam pelo simples prazer de matar, e a polícia não

consegue dar conta de conter a ameaça.

A imprensa televisiva é outro fator importante da Gotham City do futuro. Ela

cobre os acontecimentos mais importantes, desde crimes bárbaros a pronunciamentos de

autoridades do governo. Esse fenômeno adquire ainda mais relevância se levarmos em

conta que, durante toda a história, não é mostrada uma única manchete de jornal, o que

1
BRITO, Carlos. O morcego voa alto. Pretensão: 1989. Disponível no site
www.geocities.com/Athens/Delphi/3340/batman.htm

18
demonstra a força do jornalismo televisivo que é "o espelho do mundo visto por olhos

nos quais você confia" (Magnoli, 1995: 19). É importante ressaltar que, de certa forma,

a frase de Andy Warhol afirmando que "no futuro, todo mundo vai ser famoso por

quinze minutos", tornou-se verdade pois são inúmeras as pessoas anônimas, das mais

diversas classes sociais, que dão depoimento no decorrer da história.

Como pôde ser visto, Gotham City agoniza e o sangue dos inocentes jorra sobre

suas ruas. Então, surge a pergunta: onde está o Batman?

Bruce Wayne, identidade secreta do herói, abandonara o manto do morcego há

dez anos atrás, devido à morte do segundo Robin, Jason Todd. Agora, com 55 anos, seu

passatempo é arriscar a vida, como na corrida de automóveis que é mostrada logo no

início da história, em que dirige um carro em chamas. De acordo com Cohen e

Krugman, isto ocorre porque "Bruce, who for many years had been indulged in the

crime fighting, now seeks another kind of adventure, death." 2 (Bruce, que por muitos

anos entregara-se à luta contra o crime, agora procura outro tipo de aventura: morte.).

Em outras palavras, Bruce Wayne sente falta dos riscos que corria atuando como

Batman e agora, aposentado, põe sua vida em jogo em coisas menos nobres, como

corridas de automóvel. Tudo para cumprir o juramento que fizera devido à morte de

Jason de nunca mais encarnar o Homem-Morcego. No entanto, Bruce Wayne "é produto

da hybris 3 , mantendo em si essa duplicidade de deus e homem " (Kothe, 1987: 73).

Assim sendo, mesmo tendo abandonado a capa, é constantemente atormentado pelo

Morcego, sua parte divina, para que volte à ativa:

2
Informação disponível no site www.members.aol.com.com/zooberies/bat/htm
3
De acordo com Kothe ( 1987: 73), hybris é a duplicidade de deus e homem que os heróis clássicos
possuem e que acaba se revelando no decorrer de seu percurso. Além disso, ele afirma que essa
característica também está presente nos super-heróis das histórias em quadrinhos.

19
"Ele gargalha de mim, amaldiçoa meu ser. Ele invade meu sonho e zomba de mim, arrastando-
me até aqui (a Bat-Caverna) quando a noite é longa e minha vontade fraca. Ele se debate de maneira
incansável e raivosa para se libertar... Mas eu não permitirei. Eu dei minha palavra. Por Jason. Nunca.
Nunca mais" (Miller, 1989: 13).

Contudo, o próprio Bruce Wayne sente falta da sua contraparte pois, como ele

próprio afirma: "Eu sou um zumbi, um Holandês Voador, um cadáver..., morto há dez

anos" (Miller, 1989: 6). Ou seja, Batman tornou-se uma lenda, devido aos dez anos sem

atuar em Gotham City, uma lenda que vive no coração de Bruce Wayne que,

indubitavelmente, sente falta de seus dias como justiceiro.

Finalmente, o Morcego domina o homem fazendo com que Bat-Man ressurja

das cinzas. Isso ocorre na noite em que Bruce Wayne assistia à televisão e em que o

filme do Zorro iria ser exibido. O mesmo filme que ele havia assistido com seus pais na

noite em que eles foram assassinados. Julgando que o filme não iria lhe causar nenhum

mal, decide vê-lo, sendo atormentado pelas lembranças daquela noite. Além disso, ao

trocar os canais de televisão, é sempre bombardeado pela violência real do jornalismo

policial:

"-As crianças foram vistas pela última vez com dois jovens trajando o uniforme dos mutantes.

-Quatro mortos num assalto brutal em....

-Estupro e morte em..."(Miller, 1989: 18).

É importante notar que, entre essas manchetes, aparece o colar de pérolas da mãe

de Bruce Wayne se despedaçando, numa clara alusão a perda do vínculo familiar

causada pela morte de seus pais. É nesse momento que o Morcego se manifesta,

tomando conta de Bruce:

"O momento chegou! Em seu íntimo, você sabe pois sou sua alma! Não há como escapar de
mim!"(Miller, 1989: 19)

20
E assim, devido à conjugação dos fatores acima expostos, ou seja, a violência

que assola a cidade, a lembrança da morte dos seus pais e o Morcego que o atormenta,

Bruce Wayne volta a ser o Batman, após dez anos afastado da luta contra o crime.

Hook (1962: 12) afirma que "durante um período de guerras e revoluções a sorte

de povos parece estar visivelmente suspensa daquilo que só uma pessoa, talvez algumas

pessoas, decidam". Essas pessoas são os heróis, cujos gestos são capazes de alterar o

destino de toda uma nação. E é principalmente por isso que Batman retorna: para tirar

sua cidade da situação de caos em que ela vive, fazendo justiça com as próprias mãos

por julgar as leis tolerantes demais. Em outras palavras, o herói mudou pois, como

afirma Faerman (1989: 8):

"(...) nessa história, Batman é muito mais o Morcego do que o Homem. Ele luta contra o mal
usando o mal. Ele nem bem distingue o bem do mal. (...) Batman é um herói velho, pesado, histérico,
alucinado, cheio de pesadelos - e o mundo inteiro é um pesadelo onde se desloca o herói que nem parece
um herói... Ele é o Morcego total".

Contudo, o que ocasionou essa mudança?

Em primeiro lugar, é necessário ter em mente que Bruce Wayne, na história em

questão, está com cinqüenta e cinco anos e, conseqüentemente, não possui mais a

mesma agilidade física que costumava ter no auge de sua carreira como combatente do

crime. Por essa razão, passa a fazer uso da força bruta, não poupando os malfeitores,

como pode ser visto na cena em que Batman, tendo uma arma apontada em sua cabeça,

reflete: "Há sete tipos de defesa nesta posição. Três delas desarmam com o mínimo

contato. Outras três matam. A restante aleija" (Miller, 1989: 33). Sua escolha é a

última opção. Além disso, ele age como uma criatura da noite, rugindo para amedrontar

os criminosos, como pode ser visto a seguir, no momento em que está perseguindo

criminosos num prédio abandonado (Miller, 1989, 32):

21
"- Grrrrr!

- Peraí! Que barulho é esse? Ele nunca fazia barulho."

Outro fator que fez Batman alterar seu modo de agir é a mudança que

ocorreu em sua ideologia. De acordo com Magnoli (1995: 16) "a ideologia

constitui uma visão de mundo coerente, formada por um sistema de conceitos

interligados e aceita por uma parcela da sociedade em um determinado momento

histórico". Dessa forma, pode-se afirmar que, no passado, Batman acreditava

que seu papel social se restringia apenas a ajudar a polícia na captura de

malfeitores, cabendo à lei puni-los. Por isso, quando entrava em confronto direto

com facínoras, tentava não fazer uso de uma violência extremada. Agora,

contudo, com Gotham City "totalmente dominada pela violência, com gangues

dominando as ruas e a polícia corrupta" 4 , onde até mesmo o exército fornecia

armas para a gangue mutante (Miller, 1989: 64), Batman passa a aplicar a sua

própria lei, chegando até mesmo a matar os malfeitores, como faz, por exemplo,

com o Coringa (Miller, 1989: 145) e a usar armas de fogo (Miller, 1989: 58),

algo que não fazia parte de seu modus operandi. Outra mudança, também

causada pela alteração em sua ideologia, foi seu critério na escolha do novo

Robin.

Os dois primeiros Robins, Dick Grayson e Jason Todd, eram garotos,

órfãos, que Bruce Wayne acolheu em sua mansão e que, só depois de passarem

por um rigoroso treinamento, começaram a atuar ao lado de Batman na luta

contra o crime. O Robin que atua ao seu lado em "Batman: o cavaleiro das

trevas", no entanto, é uma garota, Carrie Kelley, "uma inocente criança" (Miller,

4
Brito, Carlos. O morcego voa alto. Pretenão. Disponível no site
www.geocities.com/athens/delphi/3340/batman.htm

22
1989: 87) como diz Alfred, mordomo de Bruce Wayne. Apesar de não ser órfã,

decide atuar como Robin inspirada no retorno do Homem-Morcego. E o que é

mais importante: não passa por nenhum tipo de treinamento específico, o que

mostra a urgência que Batman tinha em arrumar um parceiro naquele período

apocalíptico em que é impossível enfrentar o crime sozinho. Como o próprio

Batman reflete, durante sua luta com o líder da gangue mutante (Miller, 1989:

76): "Dick... onde está você... Dick... Você sempre foi minha melhor arma...".

Como é de se esperar, à volta de Batman causa muita repercussão. Na

imprensa, por exemplo, os depoimentos dados pelas pessoas são divergentes.

Alguns afirmam que Batman "... é um vigilante monstruoso e sem piedade que

golpeia as fundações de nossa democracia... opondo-se aos princípios que

fizeram de nossa nação a mais nobre e generosa do mundo!" (Miller, 1989: 59),

enquanto outros afirmam estarem surpresos "de que não ha cem iguais a ele! A

população da cidade está aterrorizada! O Batman só está querendo nos proteger"

(Miller, 1989: 59). Um aspecto importante a ser destacado é que, geralmente, as

pessoas que apóiam as ações do Batman são pessoas de classes populares que

moram nas regiões onde a criminalidade é muito alta, enquanto as pessoas que

criticam suas ações, muitas vezes acusando-o de ser fascista, geralmente fazem

parte da elite, sendo, por essa razão, mais esclarecidas.

O psicólogo e cientista social, representado por Bartholomew Wolper,

julga Batman como anti-social, e culpa a imprensa irresponsável como

causadora de uma programação anti-social, por estar divulgando os feitos de

Batman e, com certeza, influenciando os jovens. Daí Wolper tachar Batman

como uma doença social (Miller, 1989: 60).

23
Já o porta-voz da Casa Branca, Chuck Brick, justifica a omissão do

presidente em comentar a respeito de Batman por acreditar que ser tudo uma

FARSA, julgando um "homem-fantasioso" (Miller, 1989: 60).

A imprensa, representada pela editora-chefe de um jornal falado, Lana

Lang, se mostra favorável ao Batman por ele tentar fazer justiça em uma

sociedade assolada pela violência. De certa forma, há uma defesa do papel da

imprensa já que Lana afirma que o poder está em "nossas mãos", ou seja, está

com aqueles que se mantém informados pela mídia (Miller, 1989: 60).

A religião é mostrada na obra em questão como crítica às aparências,

quando um indivíduo atira um aleijado nos trilhos do metrô e, ao ser perguntado

se tinha uma religião, ele diz que guarda sua fé na Igreja (Miller, 1989: 105).

Com isso, vê-se que a religião não implica, necessariamente, em mudança de

atitude, principalmente naqueles que a usam apenas como rótulo. Sob tal ponto

de vista, a reflexão mostra que a religião tem pouca importância na vida das

pessoas.

O preconceito social com relação ao idoso aparece na fala do líder

mutante que, ao se deparar com Batman, duvida da capacidade do herói em

vencê-lo por ele ser um "velho" e seus músculos estarem decadentes e que,

apesar disso, não faz uso de arma, preferindo o combate corpo a corpo. Apesar

da derrota, Batman faz uso, no segundo confronto, da experiência acumulada em

30 anos de luta. Experiência que vence a juventude e rapidez do líder mutante.

No que concerne a polícia, o comissário de polícia local, James Gordon,

fica contente com o retorno do herói por considerá-lo um antigo aliado na luta

contra o crime. Tanto que, na primeira oportunidade que surge, reativa o Bat-

24
sinal, para que "(...) todo mundo saiba (...)! Todo mundo!" (Miller, 1989: 39). O

termo todo mundo tanto pode ser aplicado para os malfeitores, que irão refletir

muito antes de cometer um crime, sabendo que poderão ser punidos pelo

Cavaleiro das Trevas, quanto para os cidadãos, que poderão se sentir mais

seguros, pois a volta do herói produz uma queda na taxa da criminalidade

(Miller, 1989: 59). No entanto, com a aposentadoria de Gordon, entra em cena a

nova comissária de polícia, Ellen Yindel, a primeira mulher a ocupar o cargo,

mostrando que os "tempos modernos" aceitam a escalada social da mulher. Logo

em seu discurso de posse, ela declara:

"Embora Gotham esteja tomada pelo crime, acredito que nosso único recurso é o
cumprimento da lei! Assim sendo, como nova comissária de polícia, emiti um mandado de
prisão contra Batman... pelas acusações de assalto, agressão, e ameaça ao bem-estar público!"
(Miller, 1989: 110)

Desse modo, Batman passa a ser considerado um criminoso e tem a

polícia em seu encalço. Algo que remonta ao início de sua carreira, como ele

próprio reflete, ao entrar em confronto direto com a polícia no prédio da

emissora em que o Coringa iria participar de um programa de entrevistas:

"Enfrentar a lei. Faz tanto tempo...mais de vinte anos" (Miller, 1989: 117).

É importante ressaltar, porém, que a repercussão causada pela volta do

Homem-Morcego não fica restrita apenas a Gotham City, chegando até a Casa

Branca. De acordo com Hook (1962: 190), "se definirmos o herói como um

homem-época que redetermina o curso da História, segue-se imediatamente que

uma comunidade democrática deve estar sempre em guarda contra ele". Em

outras palavras, um herói pode causar uma revolução sem precedentes,

invertendo toda a estrutura de poder de um país, além de conseguir vários

25
aliados entre o povo. E, durante a conversa do presidente com o Super-Homem,

percebe-se que é isto que ele teme:

"Num rancho, não há problema nenhum que os cavalos tenham tamanho


e cor diferentes! Nenhum contanto que fiquem dentro da cerca! A gente pode
até ter um garanhão meio louco de vez em quando! Domar ajuda a treinar a
mão... Mas, se esse animal dá coice, salta a cerca e ouriça outros cavalos... Bem,
isso não é nada bom!" (Miller, 1989: 78)

Em outras palavras, o presidente está dizendo que no país (rancho), as

pessoas (cavalos) podem até ser diferentes. Contudo, quando algumas pessoas

tomam atitudes muito radicais (garanhão louco, como o Batman) é preciso

colocá-las em seu devido lugar (cerca) afim de evitar que os outros cavalos

também se revoltem. E para efetuar essa tarefa, ou seja, conter Batman, o

presidente convoca o Homem-de-Aço, o super-herói mais poderoso do mundo, e

ele aceita, devido ao seu grande espírito patriótico, como pode ser visto na

seguinte reflexão de Batman (Miller, 1989: 184): "Você sempre soube dizer o

que dizer... diz sim... a qualquer um com um distintivo... ou com uma

bandeira". Ou seja, ele nunca se questiona quanto à validade de uma ordem

dada por uma autoridade, preocupando-se apenas em cumpri-la. Em outras

palavras, "o problema do super-herói é que ele nunca teve dúvidas existenciais e

sempre aceitou a ideologia do meio oeste americano, onde foi criado" (Medeiros,

1998: 1). Por essa razão, o Super-Homem não foi banido como o restante dos

super-heróis, e passou a atuar como arma secreta do governo americano, fato

que pode ser verificado na atuação do herói no conflito em Corto Maltese.

Como pôde ser visto, a principal diferença ideológica entre os dois heróis

reside no fato de que o Super-Homem respeita a autoridade do governo, até

mesmo quando este toma atitudes contrárias no que diz respeito aos heróis, pois

o Homem-de-Aço julga que "eles não devem ser lembrados de que gigantes

26
caminham sobre a Terra!" (Miller, 1989: 124) por reconhecer o perigo da

"inveja daqueles que não são superdotados!" (Miller, 1989: 114). Batman, por

sua vez, age a margem da lei, criando sua própria lei, lutando pelo o que

considera certo, como um verdadeiro herói. Isso faz com que ele não respeite

alguns órgãos do governo, como pode ser visto a seguir:

"Quando os grupos de pais começaram a se queixar e a comissão do congresso nos


convocou pra depor... foi você quem deu a risada... aquela sua gargalhada assustadora! 'Claro
que somos criminosos!', você disse! 'Nós sempre fomos! Nos temos que ser'". (Miller, 1989:
119)

E devido à diferença ideológica envolvendo os dois titãs, o combate se

torna inevitável, um combate realizado no Beco do Crime, local onde os pais de

Bruce Wayne foram mortos.

E, mesmo tendo vencido a batalha, o Cavaleiro das Trevas simula sua

própria morte, seguindo o conselho de Oliver Reed, o Arqueiro Verde, e tem

uma morte grandiosa, já que foi o único homem que derrotou o Homem-de-Aço,

um ser virtualmente indestrutível, ou seja "(...) a vitória do humano sobre o

divino" 4 . Bruce Wayne age assim por ter descoberto que um homem só não

pode operar grandes mudanças no meio em que vive e que a "morte" vai lhe dar

a privacidade de que ele necessita para agir, como ele próprio reflete:

"Nós temos anos. Quantos forem precisos. Anos... pra treinar, estudar e planejar... aqui,
na interminável caverna, longe dos despojos de um justiceiro cujo tempo já passou. Aqui tem
início um exército... pra trazer sentido ao mundo infectado por algo pior do que ladrões e
assassinos". (Miller, 1989: 193)

Em outras palavras tem-se a impressão de que Batman vai se preocupar

menos com marginais para se voltar contra inimigos mais perigosos, como o

governo.

4
PRADO,Caroline,NAOMI,Roberta.Ideologia.Disponível no site: temas/comunicaçao/quadrinhos/htm

27
CONCLUSÃO

Como pôde ser visto, o segredo da longevidade de Batman, nesses mais

de sessenta anos de existência, reside no fato de o herói ter sido constantemente

reformulado desde a sua criação até os dias atuais, sempre de acordo com o

momento histórico vigente, mantendo aceso o interesse de novos leitores. Essas

reformulações, contudo, sempre tentam se manter fiéis à concepção dark e

intimista dada pelo criador da personagem, Bob Kane, que é a principal

característica do herói.

Quanto à mini-série "Batman: o cavaleiro das trevas", a análise

comprovou a hipótese de que Batman, na obra em questão, seria um anarquista

lutando contra o sistema (autoridade do Poder) e teria de ser excluído. Fato que

se deve ao Presidente dos Estados Unidos temer que a revolução provocada pelo

Homem-Morcego em Gotham City se espalhasse por todo o país, invertendo

toda a sua estrutura de poder. Convém lembrar que o temor do Presidente resulta

no combate envolvendo o Super-Homem e Batman, sendo que o primeiro é

dotado de um ferrenho espírito patriótico, cumprindo todas as ordens de seu

governo, enquanto que Batman age a margem da lei, criando sua própria lei, ou

seja, trata-se de um conflito envolvendo ideologias divergentes.

Portanto, ficam evidentes os motivos que fizeram de "Batman: o

cavaleiro das trevas" um marco das histórias em quadrinhos e a razão pela qual,

a partir de então, as histórias em quadrinhos, principalmente as de super-heróis,

deixaram de ser vistas como algo restrito às crianças.

28
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