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Monografia de Conclusão de Curso

em formato de Artigo Científico


como cumprimento parcial dos requisitos
para a obtenção do título de especialista
no Programa de Pós-Graduação em Teologia
da Faculdades EST

NON NOBIS SED NOMINI TUO DA COMICS:


MEDIEVALIDADE NO COMICS DEMOLAY

Lucas Melo de Almeida.*


Amaro X. Braga Jr. **

RESUMO

Este artigo se propõe a analisar a obra em quadrinhos intitulada “Jacques DeMolay – Um mártir
templário”, fruto do projeto Comics DeMolay através do viés da História e, mais precisamente,
da História Pública que pode ser encontrada entre as sarjetas dos quadrinhos, utilizando-se do
conceito de medievalidade. A obra se divide em 12 edições, separadas em quatro arcos distintos,
onde encontra-se o relato da biografia de Jacques DeMolay, o último Grão-Mestre da ordem
monástica militar conhecida como Ordem dos Templários e, através do relato de vida, destila
valores comumente associadas ao período medieval mas que falam muito mais sobre os valores
almejados por seus produtores. Como conclusão, demonstraremos como o medievo é
apropriado para a veiculação de um discurso sócio-político específico e deliberado na obra e a
concepção de História presente nela.

Palavras-chave: História. História Pública. História em Quadrinhos. Cultura Pop.


Medievalidade.

*
Lucas Melo de Almeida. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense.
melo.dml@gmail.com .
**
Amaro Xavier Braga Jr. Professor Doutor. Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais (UFPE), Especialista
em Ensino de História das Artes e das Religiões (UFRPE), Especialista em Artes Visuais (SENAC),
Especialização em Gestão de Educação à Distância (UCB/Escola do Exército) e Mestre e Doutor em Sociologia
(UFPE). Mestre em Antropologia Social (PPGAS - UFAL). Atualmente é Professor Adjunto no Instituto de
Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Tem experiência na área de Sociologia e
Antropologia, com ênfase na Sociologia dos Objetos e atuando principalmente nos seguintes temas: Histórias
em Quadrinhos e Educação; Mangá e Cultura Pop Japonesa; Comportamento e Sociedade; Artesanato e
Religião Comparada. amaro@ics.ufal.br .
2

1 INTRODUÇÃO

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – ou, como é mais
conhecida, Ordem dos Templários – foi criada em 1118 e era uma ordem monástica militar que
tinha como objetivo proteger os peregrinos cristãos a caminho da Terra Santa durante as
cruzadas. Seu nome se deve por terem recebido do rei Balduíno II um prédio vizinho à mesquita
de Al-aqsa, que seriam resquícios do templo do Rei Salomão. Durante o período de por volta
de dois séculos em que a ordem existiu, ela cresceu de nove cavaleiros iniciais a uma força
política, econômica e militar atuante em praticamente todo o mundo conhecido, ajudando a
lapidar a história tal qual a conhecemos1. Muito já se pesquisou e escreveu sobre a ordem, tanto
em trabalhos acadêmicos como também em livros de ficção e todo tipo de obra que – por um
motivo ou outro – pode ser colocado como um intermediário entre esses dois polos
diametralmente opostos.

O objeto de estudo desse artigo se articula exatamente nessa lacuna, entre o fato e a
ficção. Lançada em 2013, a obra analisada nesse artigo é o projeto em quadrinhos intitulado
Comics DeMolay. Fasciculada em 12 volumes, a saga se propõe a apresentar, de forma
romanceada, a biografia do último Grão-Mestre da Ordem dos Templários, Jacques de Molay,
desde sua infância durante a metade do século XIII, até o momento em que ele encontra o
patíbulo, em 1314. Tudo isso sob o título de “Jacques DeMolay – o mártir Templário”.

A morte de Jacques de Molay, também conhecido por vezes como Tiago de Molay ou
Iacobus Burgundus (seu nome em tradução portuguesa e latina, respectivamente), foi um
episódio que capturou a atenção mesmo seus contemporâneos, que especulavam sobre as
circunstâncias que o levaram ao cadafalso armado em uma pequena ilha do rio Sena, próximo
à catedral de Notre Dame; Se mesmo à época a história foi um terreno fértil para lendas,
mistérios e teorias da conspiração, ainda hoje é muito conhecida entre os aficionados pelo
período do medievo2.

1
READ, Piers Paul. Os templários: a história dramática dos cavaleiros templários, a mais poderosa ordem militar
dos cruzados. Imago, 2000.
2
Essas teorias de conspiração foram, inclusive, o tema de um dos painéis da conferência anual nacional da Popular
Culture Association/American Culture Association (SEEMAN, C. CFP - Historical Consiracies and Popular
Culture A Library Writer's Blog, 2020.Disponível em http://librarywriting.blogspot.com/2004/10/cfp-historical-
consiracies-and-popular.html. Acesso em 5 fev. 2020 )
3

Figura 1 - As 12 edições do projeto Comics DeMolay. Fonte: Facebook da Revista3.

O fascínio com o medievo, seu imaginário de cavaleiros, damas, justas e torneios, mas
que também é cenário de injustiças, violência e intolerância, não é também nenhuma novidade
e podemos mesmo dizer que ele começou no mesmo momento em que o período terminou4.

É essa articulação do imaginário medieval, o foco de nosso trabalho com o quadrinho.


De que forma ele se articula e com que finalidade? Quais identidades e discursos são
construídos e reproduzidos através dela? São questões que tentaremos iluminar com este
trabalho.

Dentre os diversos grupos que se referenciam à figura de Jacques de Molay e dos


cavaleiros templários durante os mais de 700 anos desde sua morte até hoje, talvez, o que acabe
alimentando ainda mais esses rumores é a maçonaria. A sociedade iniciática fraternal deu ao
cavaleiro condenado o título de “mártir”, o mesmo que ele recebe no subtítulo do quadrinho
analisado.

O estudo do cinema pela historiografia remonta o início dos anos 70 com os estudos
de Marc Ferro e já há muito tempo que nenhum trabalho que se debruce sobre essas fontes gaste
uma lauda ou mesmo linhas justificando sua escolha ou sua validade e cremos que já é hora que

3
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/598734800323133:0 Acessado em 16 Abr.
2020
4
ECO, Umberto. Viagem na Irrealidade Cotidiana; Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1984
4

os quadrinhos sigam o mesmo caminho. Parafraseando Agulhon, todo objeto datado tem
relação com o tempo e, assim sendo, está no escopo de interesse do historiador. O único ponto
a ser levantado é que a autenticidade dessa fonte do ponto de vista histórico passa
necessariamente pelo presentismo, ou seja, filmes, quadrinhos, obras de ficção em geral,
retomam o passado para questionar o presente e, portanto, devem ser estudados dentro desse
viés. Trocando em miúdos, uma obra de cavalaria escrita no século XXI fala mais sobre o séc.
XXI do que do XIII.

Outrossim, apesar de o estudo das histórias em quadrinhos ter começado dentro da


área de comunicação, já há trabalhos dentro do campo da História que estudaram os quadrinhos
não apenas como fontes, mas também como sujeitos históricos. Na verdade, se analisarmos o
trabalho de Callari e Gentil5 ao fazerem uma análise quantitativa e estatística dos trabalhos
sobre quadrinhos na universidade brasileiras, esse é um campo em exponencial expansão e o
campo de pesquisa de histórias em quadrinhos em História só estava atrás artes visuais,
comunicação social, pedagogia e letras – todos campos que consagraram sua pesquisa no ramo
muitos anos antes. Gomes, Lima e Pedroso são alguns dos nomes que podem ser citados como
consolidadores desse estudo dentro do cenário nacional recente.

Gomes, através da análise de políticas editoriais e conteúdos de títulos de duas editoras


do cone-sul - a brasileira Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre (CETPA) e a
chilena Quimantú - e a discute os sentidos dos quadrinhos na América Latina6; Já Pedroso, volta
seu olhar para os quadrinhos norte-americanos, mais precisamente para o Capitão América,
para poder compreender e explicar sentimentos de medo, insegurança, vingança no pós-11 de
Setembro7. E Lima, além de trabalhar os imaginários e discursos feministas em quadrinhos da
Mulher-Maravilha, mas oferecendo narrativa histórica com criticidade8, também tem artigos
que levantam abordagens epistemológicas das histórias em quadrinhos como objeto fonte9.

5
CALLARI, V.; GENTIL, K. K. As pesquisas sobre quadrinhos nas universidades brasileiras:: uma análise
estatística do panorama geral e entre os historiadores. História, histórias, v. 4, n. 7, p. 09-24, 20 dez. 2016
6
GOMES, Ivan Lima . Os novos homens do amanhã: projetos e disputas em torno dos quadrinhos na
América Latina (Brasil e Chile, anos 1960-1970). 1a. ed. Curitiba: Prismas, 2018
7
PEDROSO, Rodrigo Aparecido de Araújo. Vestindo ainda mais a bandeira dos EUA: o Capitão América
pós-atentados de 11 de setembro. 2014. Dissertação (Mestrado em História Social) - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi:10.11606/D.8.2014.tde-
16012015-183159. Acesso em 10 Mai 2020.
8
LIMA, SÁVIO. Vestígios E Práticas De Discursos Feministas Nos Quadrinhosda Mulher-Maravilha: As
Ocultas Mulheres De Bana-Mighdall. Doutorado, Universidade Salgado de Oliveira, 2017
9
LIMA, SÁVIO. A Abordagem Epistemológica Das Histórias Em Quadrinhos Enquanto Objeto-Fonte.
Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST, v. 2, p. 1814-1828, 2014. Disponível em
http://www.anais.est.edu.br/index.php/congresso/article/view/328/314. Acesso em 6 Abr. 2020.
5

É importante deixar claro que o autor é membro não apenas da maçonaria, como
também da instituição paramaçônica de protagonismo juvenil, denominada Ordem DeMolay,
batizada em homenagem ao personagem que também protagoniza o quadrinho em questão,
mas, de forma alguma, isso se apresenta como conflito de interesse. Na verdade, foi essa a
aproximação que trouxe a questão à pesquisa e a relação entre essa instituição (a Ordem
DeMolay), os valores por ela professados e como membros dela se apropriam do discurso
histórico para referendar e, de certa forma, “panfletáriar” esses valores, foi um ponto de
investigação do presente artigo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Historiador algum opera sob a ilusão do monopólio da História por sua classe
profissional, algo que fica ainda mais claro para os que também atuam como professores de
História no ensino básico, diariamente sendo confrontados com novas apropriações da História
por diferentes gerações de alunos, de diferentes perfis sociais, econômicos e políticos,
provenientes de diferentes cenários. A História é construtora de identidades e é uma das
matérias-primas para o imaginário de nossa sociedade, características inerentes do campo e que
já são utilizados de forma consciente e intencional há séculos. O próprio imaginário, o “museu
mental” de Durand10 é um repositório que vai além da simples memória, abarcando até mesmo
a imaginação de um grupo social. Um conceito que deve ser mantido à mão quando se trata de
imaginário é o de representação, sendo aqui entendida como a forma como um grupo enxerga
e tenta explicar um determinado componente social.

Ambos os estudos – tanto do imaginário quanto da representação – podem ser feitos


através de imagens e iconografias, e também com textos pois, cada discurso é uma
representação do imaginário no qual o autor se encontra inserido. Assim, uma obra de arte que
combine esses dois elementos (o visual e o textual) dentro de um contexto ficcional, como é
essa revista em quadrinhos, está permeada de memória e imaginação, que vem não apenas do
seu autor individual – ou autores no caso dos quadrinhos, como do grupo social ao qual
pertencem, do contexto histórico que estão inseridos; na verdade, podemos dizer que esses
fatores são até mais responsáveis pelo discurso que o próprio autor individualmente.

Essas apropriações da História, dentre outras perspectivas, são agrupadas sob o título
cada vez mais em voga nos corredores do mundo acadêmico de "História Pública". Obras

10
DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Difel, 2004.
6

cinematográficas, literárias, quadrinhos e demais mídias que trazem ou se propõem a retratar


contextos históricos são apropriações do conhecimento e do contexto histórico para educação,
lucro e/ou entretenimento e, portanto, quintessencialmente História Pública.

Dentro deste relativamente novo (em perspectiva historiográfica) e vasto campo da


História Pública, encontramos um espaço que com certeza está entre os mais férteis deste campo
que já cresce vertiginosamente: as apropriações do medievo. Quantas obras de ficção não saem
anualmente sobre esse tema, entre filmes, livros, quadrinhos, séries, etc.? É seguro dizer que o
único período que rivaliza com o medievo quando a questão é representação midiática, é a
Segunda Guerra Mundial, mas, se levarmos em conta os diversos mundos ficcionais que se
apropriam de características do medievo, ainda apenas tangencialmente, então o medievo abre
larga vantagem, aliás, uma vantagem tamanha que a competição se tornaria desleal.

As imagens americanas11 populares da Idade Média são um tipo de Orientalismo


temporal: na ficção, filmes, notícias, propagandas e gritos políticos, o período se torna
um depósito para os males reprimidos (barbarismo, tortura, doença e caos em geral) e
sonhos (aventura exótica, romance, honra, uma vida simples) do mundo moderno
Ocidental. 12

Mas, que medievo é esse que temos representado nas obras na mídia? Estudar essas
obras se mostrou um tema tão profícuo que acabou por gerar um segmento de estudo próprio e
mais específico, localizado na esquina onde se encontram os estudos medievalistas em si e a
História Pública: o medievalismo.

Workman definiu o medievalismo como “o continuo processo de criação da Idade


Média”13, enquanto Simmons foi mais além, sugerindo que que esse processo necessariamente
acontece através de adaptação cultural e que essas adaptações são feitas através de obras
literárias e outras mídias que podem ser qualificados em entre os que se utilizam da narrativa
medieval, os que se utilizam de seus códigos de valores e um último grupo que se constitui da
interseccionalidade dos dois anteriores.14

11
Aqui “americano” se refere aos Estados Unidos da América. Enquanto o autor sente que o melhor termo seria
estadunidense, preferiu manter o termo para manter a integridade do texto original e também por sentir que
mesmo que no original ele seja específico, o dito também se aplica em contexto mais amplo.
12
GUTHRIE, Steve. Time Travel, Pulp Fictions, and Changing Attitudes Toward the Middle Ages: Why
You Can’t Get Renaissance on Somebody’s Ass. In: Medieval Afterlives in Popular Culture. Palgrave
Macmillan, Nova York, 2012. - Tradução livre, no original: American popular images of the Middle Ages
were a kind of temporal Orientalism: in fiction, film, news reporting, advertising, and political cant, the period
became a dumping ground for the modern Western world’s repressed evils (barbarism, torture, disease, and
general chaos) and daydreams (exotic adventure, romance, honor, the simple life)
13
WORKAMN apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009.
14
Simmons apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009
7

Quadrinhos de aventura em geral, com sua construção quase sempre de maniqueísmo,


sacrifício e superação, já se enquadram facilmente no segundo grupo, quando, como este, tratam
de história medieval, se qualificam também no primeiro grupo e, por qualidade de pertencer a
ambos, entram nas fileiras do terceiro. Não apenas os quadrinhos de ambientação e influência
medieval (mas, principalmente estes) como obras em geral com essas características, ainda mais
quando formuladas de maneira idealizada, partem, conscientemente, de um campo afetivo
dentro da memória e do imaginário social dos autores em questão, como nos traz Walker
Vadillo quanto pontualmente frasea:

Quadrinhos que lidam com a Idade Média apresentam uma visão mitológica ou
arquetípica do período. Mesmo que eles não deem uma visão histórica, para sua
criação eles exigem algum conhecimento do período que representam. Vários, se não
todos, os criadores de quadrinhos de temática medieval têm comentado a origem de
suas ideias em sua paixão ou interesse na história da Idade Média.15

A ficção histórica, na maior parte do tempo e especialmente quando quer dar ao seu
discurso um verniz de “educacional” ou qualifica-lo como vetor de uma “verdade histórica”,
tendem a se ater (ou ao menos não alterar) aos fatos e acontecimentos registrados nos anais da
pesquisa historiográfica, deixando a sua parte criativa e autoral, sua liberdade poética, fluir nas
lacunas deixadas pelo desconhecimento do mundo interno dos personagens, seus sentimentos
e diálogos que são inacessíveis pela barreira do tempo. Em realidade, mesmo ficções históricas
e tentativas de biografar pessoas ainda vivas acabam seguindo o mesmo modus operandi pois
como nos mostram os trabalhos de Portelli em história oral16, nós tendemos, ainda que
inconscientemente, a reconfigurar nossas memórias de forma que se alinhem em uma narrativa
mais coesa com o momento em que estamos olhando para trás.

No atual contexto social que estamos inseridos o medievalismo está em voga e tem se
tornado um campo de batalha político-ideológico. Há correntes que articulam essa idealização
do período para servir suas próprias concepções valorativas. Como nos mostra o artigo
publicado por Pachá, no site jornalístico Pacific Standard em março do ano passado, a
ultradireita aloca nesse período as bases dos valores que eles julgam como pilares do Ocidente.

15
WALKER VADILLO, Mónica Ann. Comic Books Featuring the Middle Ages. Itinéraires. Littérature, textes,
cultures, n. 2010-3, p. 153-163, 2010. Disponível em http://journals.openedition.org/itineraires/1877; 2010
Acessado em 03 Jan 2020. - Tradução livre, no original “Comic books dealing with the Middle Ages present a
mythological or archetypical vision of this time period. Even though, they do not give a historical view, for their
creation they demand some knowledge of the history which they depict. Several, if not, all of the creators of the
medieval-themed comics have commented on the origin of their ideas based on their love and interest on the history
of the Middle Ages.”
16
PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.
8

Desse modo, volta-se para o medievo a fim de se resgatar uma origem da civilização
branca, cristã, masculina e ocidental, em oposição a tudo o que consideram ofensivo
a esse estilo de vida: o islã, as mulheres, os gays, lésbicas, transexuais(sic), negros,
indígenas, etc.17

Mesmo quando um historiador, ou qualquer outro indivíduo, aponta o fato de que essas
construções não corresponderem com a realidade, são rapidamente desconsiderados pois o
mito, ao “conferir unidade à infinitude das interações que compõem a sociedade”, torna-se
autorreferencial e descolado da realidade histórica, o que o confere uma “elevadíssima
performance como senso comum”18. Igualmente, podemos encontrar, mesmo na nossa
Histórica política recente, diversos episódios em que pessoas utilizam da adjetivação
“medieval” para desclassificar um discurso e posição.

Outrossim,

as histórias de fantasia, sobretudo as infantis, tendem a apoiar um local de poder do


Ocidente (hierarquia, masculinidade, branquitude, cristianismo, força física,
opulência), olhando para trás nostalgicamente para aqueles que estão se esvaindo em
climas contemporâneos.19

3 APRESENTAÇÃO DE DADOS

3. 1 – O Projeto Comics DeMolay

A ideia inicial do projeto Comics DeMolay veio a público em 2013, quando teve seu
primeiro lançamento e suas primeiras edições chegando ao mercado, mas os envolvidos em sua
confecção declararam que foi uma ideia que estava cozinhando em suas cabeças há muitos
anos20. Para a concretização do projeto foi reunida uma equipe, como é costume no modo de
produção de quadrinhos comerciais, pois o modelo de negócio proposto inicialmente era que
fosse lançado um fascículo a cada mês, no período de 12 meses, completando assim os 12
fascículos propostos para completar a biografia do Jacques de Molay.

17
PEREIRA, Nilton Mullet; GIACOMONI, Marcello Paniz. A Idade Média imaginada: usos do passado
medieval no tempo presente. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em
https://www.cafehistoria.com.br/usos-do-passado-medieval-idade-media/. Publicado em 09 set. 2019.
Acessado em 16 Abr. 2020
18
FIGUEIREDO, Camila Neves; GUERRA, Luiz Felipe Anchieta. Entrevista com Leandro
Rust. Temporalidades, v. 10, n. 2, p. 419-427, 2018.
19
CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's Fantasy
Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009.
20
Entrevista de Fabrício Grellet no spread central da edição 2 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
9

A equipe inicialmente reunida era composta de Fabrício Grellet a frente do roteiro,


Silvio Spotti e Arthur Garcia fizeram os desenhos enquanto a colorização ficou em cargo de
Carolina Pontes, uma separação comum à produção de quadrinhos em grandes editoras como
Marvel, DC, Disney, etc. Inclusive uma das bandeiras de divulgação do projeto já era desde
esse momento inicial de que os artistas envolvidos eram artistas brasileiros, já atuantes no
exterior e que agora finalmente conseguiram um projeto voltado ao mercado nacional. A
pretensão de um produto de qualidade internacional também fica claro quando já na terceira
edição eles apresentam Camila Cunha, tradutora responsável por traduzir para inglês o projeto,
assim preparando-o para um lançamento no mercado exterior. Mas a equipe não termina por aí.

Uma outra bandeira da divulgação do projeto era seu valor educacional, sua
abordagem em Edutainment, como colocado em entrevistas e no próprio site oficial de venda
dos quadrinhos e para isso a pedagoga e educadora Elizabeth dos Santos foi chamada a
participar como Coordenadora Pedagógica do projeto e responsável pelo conteúdo educacional.
Ainda listado como membro da equipe, ainda que não fique muito claro qual sua contribuição
específica ou direta ao projeto está o psicanalista clínico Leandro Mascarenhas.

Nas edições seguinte há diversas mudanças em várias posições dentro dessa equipe,
especialmente na colorização (Carolina Pontes fica apenas nas duas primeiras edições e as
outras são trabalho de Flávio Silva) e na arte (com variação entre os já citados Spotti e Garcia
com Giulliano Pisaneschi e Carlos Rodrigues), coisa que também é comum em produções
internacionais seja por questões de insatisfação quanto ao produto, divergências financeiras ou
problemas com cumprimento de prazos. Todos os créditos de equipe de todas es edições do
projeto podem ser conferidos na Quadro 1.

Quadro 1 – Créditos das revistas do Projeto Comics DeMolay


10

Figuras 1 e 2 – Capas das edições 02 e 10 do projeto, mostrando uma clara diferença em cores e traço.
Fonte: Acervo Pessoal.

O traço escolhido para contar a história tende mais ao realista do que abstrato e estaria
mais próximo da base e ao lado esquerdo da pirâmide proposta por McCloud21, e as mudanças
dentro da equipe significam também uma mudança o traço, sendo as últimas edições apresentam
desenho ainda mais realistas e cores que dão tons de uma seriedade maior ao enredo que as
primeiras.

Já a produção gráfica dos quadrinhos se mantém os mesmos durante todas as doze


edições, sendo sempre papel couchê, gramatura 115, 15,5 cm de largura por 23 cm de altura,
com 36 páginas de miolo, sendo 32 páginas internas mais a capa – uma qualidade acima do
padrão, especialmente para quadrinhos nacionais.

O lançamento inicial, feito em 2013, tinha a pretensão de um lançamento mensal com


modelo de vendas avulsas e também de assinatura que, juntamente com patrocínios de
empresas, serviriam também como capital inicial para o projeto; Com o cenário de crise que o
Brasil se adentrou em 2014 e o alto custo de produzir um material dentro do padrão de qualidade

21
MCCLOUD, Scott. Desvendado Quadrinhos. São Paulo. Editora M. Nooks do Brasil, 2005 p. 52-53
11

que o projeto apresenta, com apenas 4 edições lançadas, ou seja, a um terço do andamento do
projeto, há o primeiro hiato de lançamentos. O lançamento dos outros dois terços levaria anos.

Ainda em 2014, há uma tentativa de enquadrar o projeto em editais de fomento


culturais governamentais para ajudar a aplacar os custos22, porém sem sucesso e em 2016 uma
tentativa de financiamento coletivo pelo site kickante, mas que só conseguiu pouco menos de
11% de sua meta de 30 mil reais23. Claramente, não foi um projeto fácil de ser levado a cabo,
mas, finalmente, em dezembro de 2016, através de sua página no facebook, o projeto foi
anunciado como terminado24.

3.2 – Nas páginas da história

Dentro das páginas dos quadrinhos, a história não era menos empolgante ou épica.
Apesar de pouco se saber sobre os anos iniciais da vida de Jaques de Molay, o quadrinho faz
uma tentativa de traze-los ao leitor durante as três primeiras edições que perfazem o primeiro
arco, chamado “origem”. Aqui, o vemos retratado como um jovem obediente e amoroso com
os pais, esforçado e de “espírito empreendedor e responsável”25.

As três edições seguintes, traçam o arco “formação”, onde Jacques DeMolay cumpre
o sonho de treinar entre os templários. Nele, temos Jacques conhecendo um rival de origem
nobre que faz pouco dele por sua origem humilde e também Hughes de Pairaud – que será no
futuro seu Lugar-tenente, o vemos contemplar a história de Jesus Cristo e ter nela um exemplo
de sacrifício; combatendo bandidos e vencendo as forças naturais representadas por uma
nevasca e um urso.

No arco seguinte, “atuação”, Jacques é iniciado na ordem templária e – após um salto


temporal – atua na Terra Santa contra os que o enredo repetidamente impõe o rótulo de
“bárbaros” e depois é eleito Grão-mestre após a queda de Theobaldo de Gaudin.

“Legado”, o arco final, abrange da edição 10 à 12 e traz os trechos mais conhecidos da


vida de Jacques de Molay: seu aprisionamento, julgamento e morte. Tudo aqui como
consequência de planos nefastos de forças ocultas; Mas, também, para fazer jus ao termo

22
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/261352840727999:0 Acessado em 10 Mar
2020
23
Disponível em https://www.kickante.com.br/campanhas/jacques-demolay-o-martir-templario Acessado em 10
Mar 2020
24
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/566692416860705:0 Acessado em 10 Mar
2020
25
Jacques DeMolay – o mártir Templário, ed.01 p.21.
12

“legado”, vemos o futuro de Jacques através da ordem paramaçônica de protagonismo juvenil


batizada com seu nome.

Por todas as doze edições temos espalhados textos informativos sobre a produção,
como entrevistas e depoimentos de participantes do projeto e também informações sobre o
medievo – em sua maioria tiradas da Wikipédia –, além de diversas propagandas de
patrocinadores e apoiadores do projeto. Notadamente cabe salientar que, dentre esses
apoiadores fulguram o Grande Capítulo da Ordem DeMolay em Minas Gerais e o Supremo
Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, além de haver depoimentos de dois integrantes do
projeto nas páginas da primeira edição onde, nas mesmas páginas que Leandro Mascarenhas e
Elizabeth dos Santos apresentam as qualificações profissionais que trazem ao projeto eles se
identificam como “um sênior DeMolay” e “um maçom”.

A Ordem DeMolay, criada pelo maçom norte-americano Frank Sherman Land é uma
instituição paramaçônica em que só podem adentrar jovens de idade entre 12 e 21 anos, mas
uma vez iniciado você é membro por toda a vida. É uma irmandade iniciática, recentemente
centenária, de protagonismo juvenil e se baseia em “sete virtudes cardeais”: Amor Filial,
Reverência pelas Coisas Sagradas, Companheirismo, Fidelidade, Pureza e Patriotismo. Sua
chegada ao Brasil aconteceu durante a década de 80 e hoje a instituição é maior em território
brasileiro do que em seu berço estadunidense.26.

4 A MEDIEVALIDADE DE “JACQUES DEMOLAY – O MÁRTIR TEMPLÁRIO”

Enquanto assistimos um filme histórico, lemos uma novela histórica, ou estudamos


um livro didático de história(...), nós não podemos evitar um senso de envolvimento
pessoal, não apenas olhando para os jeitos em que o autor ou autores re/construíram
o material histórico, mas também fazendo comparações entre a representação e a
nossa própria experiência. Na medida que tentamos compreender o presente e o
futuro, somos obrigados a compreender o passado.27

26
MELO DE ALMEIDA, L. . Fora Da Idade Média, Além Do Rodapé E Mais Que Memória: Construção de
uma História da Ordem Demolay. Trabalho apresentado no III Encontro Nacional de História dos Estados
Unidos. Rio de Janeiro, 2015.
27
TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation Studies. 2017-
Tradução livre, no original “while watching a historical film, reading a historical novel, or studying a history
textbook, for that matter, we cannot avoid the sense of personal engagement, not only looking at the ways in
which the author or authors re/construct historical material, but also making comparisons between the
representation and our own experience. As we try to come to terms with the present and the future, we are
obliged to come to terms with the past”
13

É mister que se mantenha em mente um ponto muito importante sobre os estudos da


medievalidade, como bem notou Utz28: Eles são amplamente focados nas representações do
medieval no audiovisual – seja cinema ou televisão.

Há também poucos casos de estudos envolvendo a literatura, sobretudo a infanto-


juvenil, mas, tirando uma ou outra incursão minoritária, os quadrinhos de temática medieval
são quase um ponto-cego desse campo de estudo. Uma lacuna que está aguardando por aqueles
que se aventurem em preenche-la29.

Também devemos lembrar do que nos sugere Holdzkom quando diz que “[a]daptar
história é um negócio desconfortável... Muitos historiadores demandam que o tipo de acurácia
dos filmes que só se encontra em um livro didático"30. Pois essa postura de escrutínio é uma
postura comum aos historiadores, um traço marcante da profissão, pois

Vemos o passado através do prisma do presente; cada geração reinterpreta o passado


segundo suas próprias preocupações, e o ângulo de visão muda com o passar do
tempo. Mas o historiador, inevitavelmente, tem que lidar com fontes e tomar decisões
difíceis sobre como selecionar, arrumar e avaliar as evidências disponíveis. Escrever
a história torna-se um diálogo entre o passado e o presente, onde cada um informa e
influencia o outro. Entre outras coisas, essa troca cria problemas embaraçosos para
aqueles que gostariam de colocar o passado a serviço de seus próprios movimentos
políticos ou sociais. Figuras carismáticas podem falar em retorno a uma idade de ouro
de igualdade, harmonia e justiça, que pode ser projetada sobre a Inglaterra pré-
normanda ou o começo da civilização celta, mas sempre há alguns historiadores
irritantes por perto para argumentar que a Inglaterra saxónica foi na verdade um lugar
bastante desagradável ou que os celtas não praticavam o amor livre sob o Visgo do
Povo. Pior ainda, esses historiadores geralmente são capazes de sustentar seus
argumentos com provas31

Essa postura de crítica e julgamento pormenorizado de “filmes medievais” (mas que


pode ser estendida a filmes e mídias de caráter histórico em geral), com análise dentro de
padrões praticamente acadêmicos, apontando inconsistências, anacronismos teóricos e objetos
fora de lugar/tempo, também é levantada como uma questão no trabalho de Bildhauer32, mas,
esta apresenta também uma outra corrente, representada por acadêmicos como Sarah Salih e
William Woods (listados por Bildhauer) que, ao invés de se apegar a esses pormenores,

28
UTZ, Richard. Medievalist Comics and the American Century by Chris Bishop. Arthuriana, v. 27, n. 2, p. 102-
103, 2017
29
É digno que mencione aqui o livro “Medievalist Comics and the American Century” de Chris Bishop e “Le
Moyen Âge en Bande Dessinée” de Tristan Martine, ambos sem tradução para português, assim como o artigo
de Walker Vadillo, Comic Books Featuring the Middle Ages que se encontra na bibliografia deste artigo.
30
HOLDZKOM apud TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation
Studies. 2017
31
WILSON, D. A. A história do futuro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002
32
BILDHAUER, Bettina. Medievalism and cinema. In: The Cambridge companion to medievalism, p. 45-59,
2016.
14

analisam a verossimilhança da obra, sua “autenticidade”. Sobre essa outra ótica, o importante
deixa de ser sua precisão, mas se a ambientação parece ou sente correta.

Filmes como “Coração de Cavaleiro” com sua torcida entoando músicas do Queen e
armaduras “da Nike”, ou “Maria Antonieta” de Sofia Coppola com sua trila sonora que rompe
totalmente com a ambientação deixam de ser visto como aberrações e passam a ser percebidos
por suas propostas de percepção por parte do público. Ambos os filmes querem trazer ao público
a sensação de estar no lugar e não simplesmente informá-lo. Levam a máxima do “mostre, não
conte” ao próximo nível, o do “sinta”.

Se passarmos “Jacques DeMolay – o mártir Templário” pela primeira peneira, pouco


restaria da obra. Há inúmeras incongruências entre as sarjetas do quadrinho, muitas até para
caber em um trabalho desse escopo uma listagem delas. Dentre elas, é digna de nota e pode
servir para exemplificar o argumento, a inconsistência nas cruzes utilizadas pelos templários.
Por vezes temos três tipos de cruzes apresentadas em um mesmo quadro e isso não se dá por
desconhecimento. Há, na segunda edição, página 33, uma sessão “Você Sabia?” sobre a
particularidade da cruz pátea (ver Figura 4), seu uso dentro da ordem do templo e outras
variações de cruzes – com a fonte das informações sendo creditada como Wikipédia. Logo, a
utilização inconsistente se deve a descaso ou mesmo decisão deliberada, mas, de forma alguma,
pode ser creditado a desconhecimento inocente.

Já o segundo filtro, o da verossimilhança, da sensação de real, esse serve melhor à


nossa análise. As opções feitas no quadrinho em representar cavaleiros valorosos e vis
saqueadores, imponentes castelos e fortalezas e pitorescas vilas, um mestre sábio e inimigos
que nem ao menos tem falas de tão desumanizados, são representações arquetípicas do
pensamento contemporâneo sobre o medieval. Para um leitor qualquer, fora do ambiente
acadêmico, são esses pontos que “vendem” a obra. Na verdade todo o conhecimento histórico
veiculado durante as doze edições parte desse senso comum sobre o medievo, que não apenas
é o que o público leitor espera, como é algo que o conforta.

Trazer noções muito diferentes das que o público espera, ainda que numa intenção
educacional, pode acabar fazendo-o perder o interesse ou pior, aliená-lo. Pois “audiências
preferem que suas noções bem-estabelecidas de história permaneçam não desafiadas para que
15

suas crenças permaneçam intactas”33, e isso é especialmente verdade num território tão
amplamente em disputa como o medievo.

Apesar dos “problemas” em se projetar os valores desejados no passado e colocá-lo a


serviço de projetos políticos, tal qual relatou Wilson, isso não é um impeditivo e, dentre todos
os períodos, o medievo acaba sendo o preferido para isso, por ser um dos mais profícuos para
essas representações. “Em muitos casos, o medievalismo seleciona formas de narrativas que
reforçam o que é visto como valores positivos medievais que estão em risco de serem perdidos
no mundo contemporâneo”.34

Esse é exatamente o caso aqui. Fabrício Grellet, em entrevista constante na segunda


edição do quadrinho, diz que o “ponto máximo” do legado dessa obra seria “aproximar ideais,
valores e também a figura de Jacques DeMolay” ao público. Mas, que valores seriam esses?35

Na mesma entrevista, Grellet diz que o projeto realmente iniciou quando levou a ideia
para “Max e Fabiano” do Grupo ArteOfício, pois ele “precisava dialogar com pessoas que
entendessem sobre a Ordem [DeMolay], sobre Jacques DeMolay, sobre quadrinhos(...)”.
Fabiano Lüdke Chedid, é sócio proprietário da agência de Propaganda e Marketing “Grupo
ArteOfício e membro da Loja Maçônica 20 de Agosto. Maxwell Ferreira, além das mesmas
qualificações de Fabiano também é “Sênior DeMolay” – denominação dada aos membros da
Ordem DeMolay que já passaram a idade de 21 anos – e é assim, como maçom e DeMolay,
respectivamente, que eles são identificados primariamente no projeto.36

Os valores expressados pelo quadrinho vêm dos valores expressados por essa Ordem.
A própria grafia do nome “DeMolay” assim, de forma aglutinada e com duas maiúsculas é
característica da Ordem enquanto o nome do personagem já foi escrito com muitas grafias
diferentes ao longo da História. A denominação de “mártir” também vem da Ordem, pois para
a Igreja Católica não o reconhece como tal.

Na primeira edição o futuro grão-mestre dos cavaleiros templários é retratado como


um bom filho, responsável e “empreendedor” – uma expressão que qualquer um pode

33
TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation Studies. 2017 -
Tradução livre, no original “Audiences prefer their well-established notions of history to remain unchallenged
so that their everyday beliefs remain intact”
34
SIMMONS apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009. - Tradução livre, no
original “In many cases, medievalism selects form or narrative to reinforce what are seen as positive medieval
values in danger of being lost in the contemporary world.”
35
Entrevista de Fabrício Grellet no spread central da edição 02 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
36
Depoimentos no spread central da edição 01 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
16

testemunhar sobre o quanto é onipresente na sociedade atual mas, aqui, são apresentados não
apenas como parte do medievo, como “atemporais”. Valores que seriam perenes à humanidade
e que devem ser cultivados através dos tempos.

O presente trabalho não pretende dizer qual a verdadeira natureza da História,


enquanto ciência mas pode sim analisar sua aplicação dentro da trama referida. Grellet, que
podemos colocar como o autor primário da obra – seus roteiros eram extremamente detalhados
e que chegam a especificar os quadros e ângulos representados nas páginas do quadrinho37. Um
modelo de roteiro que chamamos de "roteiro completo".

A posição de Grellet perante o roteiro e ciência aparece em uma cartilha sobre


divulgação científica e quadrinhos:

O roteirista e produtor de quadrinhos Fabrício Grellet, que foi o primeiro brasileiro a


ter suas histórias publicadas nos Estados Unidos, diz que, para se construir um bom
roteiro é necessária familiaridade com as pesquisas científicas e com a história e
avanços da ciência. Quanto maior a base que o criador tiver para montar o
personagem, maior será o crédito que a revista terá. Os roteiristas sempre estão ligados
no que acontece no mundo principalmente no que diz respeito às tendências
tecnológicas e teorias cientificas. Por isso as HQs estão cheias de “conteúdo
cientifico(sic)38

Sua declaração deixa clara a sua posição de como a pesquisa e o conhecimento dão
“crédito” ao enredo mas a sua pesquisa histórica para “Jacques DeMolay – o mártir Templário”,
como evidenciado por exemplos citados, não vai além do típico, do senso comum, sua
abordagem da História não se dá enquanto ciência. A História aqui parece ser mais próxima da
Historia magistra de Cícero que de sua contraparte contemporânea e científica ou mesmo sua
versão Moderna e positivista. Sua qualificação é quase de fábula, um conto de advertência, que
flerta com o próprio mito e os mitos têm coesão interna.

A escolha de colocar esses valores no passado, os coloca como imortais, como


essenciais, algo que é muito mais fácil de se fazer em contextos ficcionais ou míticos do que
utilizando a Historial acadêmica pois

a seleção entre o que é essencial e o que é supérfluo só pode ser feita quando se tem
uma visão de conjunto, ou seja, quando se chega ao final. O escritor só pode tornar
claro, em sua composição, o que é essencial porque a práxis, a história já o fez, a vida
hierarquiza as coisas. “O caráter ‘passado’ da epopeia, portanto, é um meio de

37
Edição 04 da revista, p. 19 onde temos um exemplo de roteiro e também edição 02, onde ele declara “indicar
quantos quadrinhos em cada página, o que acontece em cada quadro, o que cada um diz, como é o cenário,
como deve ser a movimentação de câmeras, e como tudo se conecta antes e depois(...)”
38
OLIVEIRA, Rosilene de. Divulgação científica em HQs: história em quadrinhos. São José dos Campos, SP,
2005. 1 disco laser TCC ( graduação em Jornalismo ) - Universidade do Vale do Paraíba, Faculdade de Ciências
Sociais Aplicadas e Comunicação, São José dos Campos, 2005.Acessado em 03 Jan 2020
17

composição fundamental, prescrito pela própria realidade ao trabalho de articulação e


ordenamento da matéria39

E o caráter mítico da narrativa também vem a calhar quando evidenciam-se


incoerências que desmoronariam o discurso dentro de um contexto acadêmico pois sua
existência não afeta o mito que, na sua coesão simbólica e interna, acaba por “potencializa[r] a
praticabilidade e a acessibilidade da trama.”40

Essa biografia de Jacques de Molay é quase que uma hagiografia laica41 (ainda que
pareça um oximoro). Apesar de ela construir um personagem puro, obediente, responsável e
"empreendedor", não é apenas seu caráter ilibado que eleva Jacques de Molay ao patamar de
quase um santo.

Na sexta edição, ele envereda-se numa nevasca em uma missão de buscar alimentos
para seus companheiros, que estão passando por uma escassez durante um inverno rigoroso. No
processo, ele enfrenta um urso e o derrota, mas sofre perdas de alguns cavaleiros que o
acompanhavam; antes de seguir viagem, prepara covas cristãs – sem nenhuma menção ao fato
de ser uma tarefa hercúlea a de cavar em um chão congelado – e, por fim, quando finalmente
atinge a cidade, objetivo de sua incursão, a encontra em chamas e ajuda a combater incêndio.

Vencendo assim, não uma ou duas, mas por três vezes as forcas da natureza – etapa
muito presente em hagiografias e que reforça a natureza especial do hagiografado.

Depois de toda essa epopeia, não retorna de imediato com o alimento para a fortaleza.
Ele envia seus companheiros mas fica para trás, na intenção de ajudar na reconstrução da cidade
mas, mais especificamente, seu desejo é construir ali uma capela - reforçando sua copiosa fé e
espírito pio.

Em outra passagem, anterior a essa, ainda na edição 05, ele demonstra uma valorização
da vida humana que também não cabe com pensamento medieval e coaduna muito mais com o
antropocentrismo presente séculos depois no Renascimento e Luzes.

Todos esses valores expressos: sua dedicação aos seus pais e ao seu objetivo, sua
reverência pelo sagrado na construção da capela, sua valorização da vida, seu tratamento justo

39
LUKÁCS, György. Ensaios sôbre literatura. Tradução de Leandro Konder. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira S.A., 1965 p. 235
40
FIGUEIREDO, Camila Neves; GUERRA, Luiz Felipe Anchieta. Entrevista com Leandro
Rust. Temporalidades, v. 10, n. 2, p. 419-427, 2018.
41
Hagiografia é o termo utilizado para as biografias de Santos e Mártires católicos, amplamente produzidas durante
a idade Média. Laico é aquilo que que é independente em face do clero e da Igreja, e, em sentido mais amplo,
de toda confissão religiosa. Uma Hagiografia Laica é um oximoro.
18

mesmo com saqueadores42, sua postura de cumprir com seus votos de segredo, mesmo em face
do cadafalso, sua pronta resposta ao chamado do rei da França43, etc; são exemplos e
representações das virtudes as quais se dedicam os membros da Ordem DeMolay.

Bernard bem nos alerta que,

“não se deve ignorar a posição inerentemente política - e ambiguamente humanista -


dos escritores tentando fazer sentido do presente reavaliando nossos modos culturais
de processar o passado e nossa situação dentro de um contínuo histórico e cultural”.44

Toda a divulgação do obra também é feita usando de símbolos, termos e circuitos de


divulgação próprios dos membros da Ordem DeMolay. Há uma miríade de postagens na página
do Facebook do projeto elencando as Sete Virtudes Cardeais de um DeMolay e mostrando a
participação dos autores dentro de eventos da Ordem. Na página 33 da edição 11, o próprio
Jacques faz uma previsão pouco antes de sua morte: “vejo a juventude do mundo instruída ara
ser sua mais nobre Força”, num meneio não tão sutil em direção a organização.

E, por toda a edição 12, aquela que encerra não apenas a obra mas também o arco
“legado”, são apresentadas diversas teorias sobre o destino dos templários remanescentes e os
bens da ordem que não foram encontrados. Mostram as Grandes Navegações como
consequência direta dos templários de Portugal, agora reunidos na Ordem de Cristo; Templários
lutando em Bannockburn ao lado dos revoltosos escoceses ; Como a fonte da criação da Guarda
Suíça do Vaticano e dos mais diversos sistemas bancários, além de força de vingança de um
de Molay que teria sido salvo em um elaborado plano de salvação.

Teorias essas de variados valores científicos, baseando em interpretação “livre” de


fontes e nos mais variados rumores que correram e correm. Exatamente o tipo de teorias que
foram o foco de estudo do de um dos painéis da conferência anual nacional da Popular Culture
Association/American Culture Association – aquele dedicado a Teorias da Conspiração e
alegações do Paranormal45.

Mas, como legado final, da vida de Jacques de Molay, eles mostram um jovem olhando
para um quadro do “mártir” e perguntando ao seu pai sobre quem teria sido a imponente figura.
Um jovem, exatamente como aqueles primeiros 9, que ajoelharam em Kansas City, no

42
Vide: Edição 05
43
Vide: Edição 11
44
BERNARD apud TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation
Studies. 2017
45
Disponível em http://librarywriting.blogspot.com/2004/10/cfp-historical-consiracies-and-popular.html
Acessado em 05 Fev. 2020
19

momento de fundação da Ordem DeMolay, e que seguem ajoelhando e fazendo os mesmos


votos até hoje, por todo o mundo.46

Um último ponto que podemos elencar para reforçar o argumento da apropriação da


História em um contexto muito diferente do científico e acadêmico é a seção “Você Sabia?”
que está presente em todas as edições, trazendo informações sobre diferentes aspectos do
medievo, como heráldica, biografia de personagens secundários ou iconografia das cruzes. É
seguro dizer que essas inserções ajudam a dar o caráter de Edu ao Edutainment prometido. Mas,
o conteúdo dessas inserções não vem de artigos, livros acadêmicos ou depoimentos de
historiadores, mas vem da Wikipédia (na maioria das vezes, 9 edições), do site Guia do
Estudante (edição 05), de um blog de um Capítulo da Ordem DeMolay (edição 06) e texto de
autoria do próprio Maxwell (edição 12).

Figuras 3 e 4 – Seções “Você Sabia?” das edições 01 e 02 , ambas creditando as informações à Wikipédia.
Fonte: Acervo Pessoal

46
MELO DE ALMEIDA, L. . FORA DA IDADE MÉDIA, ALÉM DO RODAPÉ E MAIS QUE MEMÓRIA:
Construção de uma História da Ordem DeMolay. Trabalho apresentado no III Encontro Nacional de
História dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, 2015.
20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de quadrinização, ao possuir uma pedagoga na equipe, demonstra abertamente


um caráter educacional. Entretanto, a ampla maioria do conteúdo diretamente educacional vem
da Wikipédia, sem sofrer nem mesmo um tratamento especial que o adeque para sua utilização
pedagógica, logo ou o caráter educacional foi falho, ou ele não se encontra em seções
delimitadas.

A equipe também conta com até mesmo um psicanalista clínico como consultor, mas,
mesmo se tratando de um tema altamente histórico, nenhum historiador é nominado em
nenhuma das edições, apenas o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil é creditado
como “suporte institucional e amparo no que tange os conteúdos históricos”47 ao mesmo tempo
que declaram que a independência financeira do projeto garante não hajam “interferências no
conteúdo, preservando a figura de Jacques DeMolay.”48.

Obras de fundo histórico e caráter educacional tendem a se ater aos fatos, mas o
quadrinho dá espaço a especulações e nos mostra uma apropriação livre da historia apenas para
servir ao mito, tornando a Historia Magistra em uma fábula ou parábola quase panfletária.

Concluímos que o projeto Comics DeMolay traz, em cada página das doze edições de
“Jacques DeMolay – o mártir Templário”, um medievo idealizado, algo que não é de forma
alguma incomum em obras de ficção histórica – especialmente obras de ficção histórica em
quadrinhos, mas em “Jacques DeMolay – o mártir Templário”, o medievo não é uma “Era de
Ouro de Valores” ou um período totalmente perfeito. Tem bandidos e saqueadores à espreita
nos bosques, barbarismo e sanguinolência dominando a Terra Santa e, talvez o maior perigo de
todos, ambição e traição fluindo como mananciais entre as cortes e nobreza europeia, mas tudo
isso acabam tem o seu papel dentro da ordem das coisas. Acabam por servir a um propósito
maior: de ser um limpador de palato, um fundo de contraste para os heroicos atos dos indivíduos
valorosos como o de Jacques DeMolay, elevado a “mártir Templário” nessa “hagiografia laica”
feita por aqueles que revenciam seu nome.

47
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/131614730368478:0
Acessado em 03 Mar 2020
48
Disponivel em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/236489873214296:0
Acessado em 03 Mar 2020
21

6 FONTES

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Grupo ArteOfício, n.01, 2013

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Grupo ArteOfício, n.02, 2013

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Grupo ArteOfício, n.03, 2013

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Grupo ArteOfício, n.04, 2013

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Grupo ArteOfício, n.05, 2013

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.06, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.07, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.08, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.09, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.10, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.11, 2016

Jacques DeMolay - o mártir Templário. Cidade: Bock Editora, n.12, 2016

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