Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este artigo se propõe a analisar a obra em quadrinhos intitulada “Jacques DeMolay – Um mártir
templário”, fruto do projeto Comics DeMolay através do viés da História e, mais precisamente,
da História Pública que pode ser encontrada entre as sarjetas dos quadrinhos, utilizando-se do
conceito de medievalidade. A obra se divide em 12 edições, separadas em quatro arcos distintos,
onde encontra-se o relato da biografia de Jacques DeMolay, o último Grão-Mestre da ordem
monástica militar conhecida como Ordem dos Templários e, através do relato de vida, destila
valores comumente associadas ao período medieval mas que falam muito mais sobre os valores
almejados por seus produtores. Como conclusão, demonstraremos como o medievo é
apropriado para a veiculação de um discurso sócio-político específico e deliberado na obra e a
concepção de História presente nela.
*
Lucas Melo de Almeida. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense.
melo.dml@gmail.com .
**
Amaro Xavier Braga Jr. Professor Doutor. Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais (UFPE), Especialista
em Ensino de História das Artes e das Religiões (UFRPE), Especialista em Artes Visuais (SENAC),
Especialização em Gestão de Educação à Distância (UCB/Escola do Exército) e Mestre e Doutor em Sociologia
(UFPE). Mestre em Antropologia Social (PPGAS - UFAL). Atualmente é Professor Adjunto no Instituto de
Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Tem experiência na área de Sociologia e
Antropologia, com ênfase na Sociologia dos Objetos e atuando principalmente nos seguintes temas: Histórias
em Quadrinhos e Educação; Mangá e Cultura Pop Japonesa; Comportamento e Sociedade; Artesanato e
Religião Comparada. amaro@ics.ufal.br .
2
1 INTRODUÇÃO
A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – ou, como é mais
conhecida, Ordem dos Templários – foi criada em 1118 e era uma ordem monástica militar que
tinha como objetivo proteger os peregrinos cristãos a caminho da Terra Santa durante as
cruzadas. Seu nome se deve por terem recebido do rei Balduíno II um prédio vizinho à mesquita
de Al-aqsa, que seriam resquícios do templo do Rei Salomão. Durante o período de por volta
de dois séculos em que a ordem existiu, ela cresceu de nove cavaleiros iniciais a uma força
política, econômica e militar atuante em praticamente todo o mundo conhecido, ajudando a
lapidar a história tal qual a conhecemos1. Muito já se pesquisou e escreveu sobre a ordem, tanto
em trabalhos acadêmicos como também em livros de ficção e todo tipo de obra que – por um
motivo ou outro – pode ser colocado como um intermediário entre esses dois polos
diametralmente opostos.
O objeto de estudo desse artigo se articula exatamente nessa lacuna, entre o fato e a
ficção. Lançada em 2013, a obra analisada nesse artigo é o projeto em quadrinhos intitulado
Comics DeMolay. Fasciculada em 12 volumes, a saga se propõe a apresentar, de forma
romanceada, a biografia do último Grão-Mestre da Ordem dos Templários, Jacques de Molay,
desde sua infância durante a metade do século XIII, até o momento em que ele encontra o
patíbulo, em 1314. Tudo isso sob o título de “Jacques DeMolay – o mártir Templário”.
A morte de Jacques de Molay, também conhecido por vezes como Tiago de Molay ou
Iacobus Burgundus (seu nome em tradução portuguesa e latina, respectivamente), foi um
episódio que capturou a atenção mesmo seus contemporâneos, que especulavam sobre as
circunstâncias que o levaram ao cadafalso armado em uma pequena ilha do rio Sena, próximo
à catedral de Notre Dame; Se mesmo à época a história foi um terreno fértil para lendas,
mistérios e teorias da conspiração, ainda hoje é muito conhecida entre os aficionados pelo
período do medievo2.
1
READ, Piers Paul. Os templários: a história dramática dos cavaleiros templários, a mais poderosa ordem militar
dos cruzados. Imago, 2000.
2
Essas teorias de conspiração foram, inclusive, o tema de um dos painéis da conferência anual nacional da Popular
Culture Association/American Culture Association (SEEMAN, C. CFP - Historical Consiracies and Popular
Culture A Library Writer's Blog, 2020.Disponível em http://librarywriting.blogspot.com/2004/10/cfp-historical-
consiracies-and-popular.html. Acesso em 5 fev. 2020 )
3
O fascínio com o medievo, seu imaginário de cavaleiros, damas, justas e torneios, mas
que também é cenário de injustiças, violência e intolerância, não é também nenhuma novidade
e podemos mesmo dizer que ele começou no mesmo momento em que o período terminou4.
O estudo do cinema pela historiografia remonta o início dos anos 70 com os estudos
de Marc Ferro e já há muito tempo que nenhum trabalho que se debruce sobre essas fontes gaste
uma lauda ou mesmo linhas justificando sua escolha ou sua validade e cremos que já é hora que
3
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/598734800323133:0 Acessado em 16 Abr.
2020
4
ECO, Umberto. Viagem na Irrealidade Cotidiana; Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1984
4
os quadrinhos sigam o mesmo caminho. Parafraseando Agulhon, todo objeto datado tem
relação com o tempo e, assim sendo, está no escopo de interesse do historiador. O único ponto
a ser levantado é que a autenticidade dessa fonte do ponto de vista histórico passa
necessariamente pelo presentismo, ou seja, filmes, quadrinhos, obras de ficção em geral,
retomam o passado para questionar o presente e, portanto, devem ser estudados dentro desse
viés. Trocando em miúdos, uma obra de cavalaria escrita no século XXI fala mais sobre o séc.
XXI do que do XIII.
5
CALLARI, V.; GENTIL, K. K. As pesquisas sobre quadrinhos nas universidades brasileiras:: uma análise
estatística do panorama geral e entre os historiadores. História, histórias, v. 4, n. 7, p. 09-24, 20 dez. 2016
6
GOMES, Ivan Lima . Os novos homens do amanhã: projetos e disputas em torno dos quadrinhos na
América Latina (Brasil e Chile, anos 1960-1970). 1a. ed. Curitiba: Prismas, 2018
7
PEDROSO, Rodrigo Aparecido de Araújo. Vestindo ainda mais a bandeira dos EUA: o Capitão América
pós-atentados de 11 de setembro. 2014. Dissertação (Mestrado em História Social) - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi:10.11606/D.8.2014.tde-
16012015-183159. Acesso em 10 Mai 2020.
8
LIMA, SÁVIO. Vestígios E Práticas De Discursos Feministas Nos Quadrinhosda Mulher-Maravilha: As
Ocultas Mulheres De Bana-Mighdall. Doutorado, Universidade Salgado de Oliveira, 2017
9
LIMA, SÁVIO. A Abordagem Epistemológica Das Histórias Em Quadrinhos Enquanto Objeto-Fonte.
Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST, v. 2, p. 1814-1828, 2014. Disponível em
http://www.anais.est.edu.br/index.php/congresso/article/view/328/314. Acesso em 6 Abr. 2020.
5
É importante deixar claro que o autor é membro não apenas da maçonaria, como
também da instituição paramaçônica de protagonismo juvenil, denominada Ordem DeMolay,
batizada em homenagem ao personagem que também protagoniza o quadrinho em questão,
mas, de forma alguma, isso se apresenta como conflito de interesse. Na verdade, foi essa a
aproximação que trouxe a questão à pesquisa e a relação entre essa instituição (a Ordem
DeMolay), os valores por ela professados e como membros dela se apropriam do discurso
histórico para referendar e, de certa forma, “panfletáriar” esses valores, foi um ponto de
investigação do presente artigo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Historiador algum opera sob a ilusão do monopólio da História por sua classe
profissional, algo que fica ainda mais claro para os que também atuam como professores de
História no ensino básico, diariamente sendo confrontados com novas apropriações da História
por diferentes gerações de alunos, de diferentes perfis sociais, econômicos e políticos,
provenientes de diferentes cenários. A História é construtora de identidades e é uma das
matérias-primas para o imaginário de nossa sociedade, características inerentes do campo e que
já são utilizados de forma consciente e intencional há séculos. O próprio imaginário, o “museu
mental” de Durand10 é um repositório que vai além da simples memória, abarcando até mesmo
a imaginação de um grupo social. Um conceito que deve ser mantido à mão quando se trata de
imaginário é o de representação, sendo aqui entendida como a forma como um grupo enxerga
e tenta explicar um determinado componente social.
Essas apropriações da História, dentre outras perspectivas, são agrupadas sob o título
cada vez mais em voga nos corredores do mundo acadêmico de "História Pública". Obras
10
DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Difel, 2004.
6
Mas, que medievo é esse que temos representado nas obras na mídia? Estudar essas
obras se mostrou um tema tão profícuo que acabou por gerar um segmento de estudo próprio e
mais específico, localizado na esquina onde se encontram os estudos medievalistas em si e a
História Pública: o medievalismo.
11
Aqui “americano” se refere aos Estados Unidos da América. Enquanto o autor sente que o melhor termo seria
estadunidense, preferiu manter o termo para manter a integridade do texto original e também por sentir que
mesmo que no original ele seja específico, o dito também se aplica em contexto mais amplo.
12
GUTHRIE, Steve. Time Travel, Pulp Fictions, and Changing Attitudes Toward the Middle Ages: Why
You Can’t Get Renaissance on Somebody’s Ass. In: Medieval Afterlives in Popular Culture. Palgrave
Macmillan, Nova York, 2012. - Tradução livre, no original: American popular images of the Middle Ages
were a kind of temporal Orientalism: in fiction, film, news reporting, advertising, and political cant, the period
became a dumping ground for the modern Western world’s repressed evils (barbarism, torture, disease, and
general chaos) and daydreams (exotic adventure, romance, honor, the simple life)
13
WORKAMN apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009.
14
Simmons apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009
7
Quadrinhos que lidam com a Idade Média apresentam uma visão mitológica ou
arquetípica do período. Mesmo que eles não deem uma visão histórica, para sua
criação eles exigem algum conhecimento do período que representam. Vários, se não
todos, os criadores de quadrinhos de temática medieval têm comentado a origem de
suas ideias em sua paixão ou interesse na história da Idade Média.15
A ficção histórica, na maior parte do tempo e especialmente quando quer dar ao seu
discurso um verniz de “educacional” ou qualifica-lo como vetor de uma “verdade histórica”,
tendem a se ater (ou ao menos não alterar) aos fatos e acontecimentos registrados nos anais da
pesquisa historiográfica, deixando a sua parte criativa e autoral, sua liberdade poética, fluir nas
lacunas deixadas pelo desconhecimento do mundo interno dos personagens, seus sentimentos
e diálogos que são inacessíveis pela barreira do tempo. Em realidade, mesmo ficções históricas
e tentativas de biografar pessoas ainda vivas acabam seguindo o mesmo modus operandi pois
como nos mostram os trabalhos de Portelli em história oral16, nós tendemos, ainda que
inconscientemente, a reconfigurar nossas memórias de forma que se alinhem em uma narrativa
mais coesa com o momento em que estamos olhando para trás.
No atual contexto social que estamos inseridos o medievalismo está em voga e tem se
tornado um campo de batalha político-ideológico. Há correntes que articulam essa idealização
do período para servir suas próprias concepções valorativas. Como nos mostra o artigo
publicado por Pachá, no site jornalístico Pacific Standard em março do ano passado, a
ultradireita aloca nesse período as bases dos valores que eles julgam como pilares do Ocidente.
15
WALKER VADILLO, Mónica Ann. Comic Books Featuring the Middle Ages. Itinéraires. Littérature, textes,
cultures, n. 2010-3, p. 153-163, 2010. Disponível em http://journals.openedition.org/itineraires/1877; 2010
Acessado em 03 Jan 2020. - Tradução livre, no original “Comic books dealing with the Middle Ages present a
mythological or archetypical vision of this time period. Even though, they do not give a historical view, for their
creation they demand some knowledge of the history which they depict. Several, if not, all of the creators of the
medieval-themed comics have commented on the origin of their ideas based on their love and interest on the history
of the Middle Ages.”
16
PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.
8
Desse modo, volta-se para o medievo a fim de se resgatar uma origem da civilização
branca, cristã, masculina e ocidental, em oposição a tudo o que consideram ofensivo
a esse estilo de vida: o islã, as mulheres, os gays, lésbicas, transexuais(sic), negros,
indígenas, etc.17
Mesmo quando um historiador, ou qualquer outro indivíduo, aponta o fato de que essas
construções não corresponderem com a realidade, são rapidamente desconsiderados pois o
mito, ao “conferir unidade à infinitude das interações que compõem a sociedade”, torna-se
autorreferencial e descolado da realidade histórica, o que o confere uma “elevadíssima
performance como senso comum”18. Igualmente, podemos encontrar, mesmo na nossa
Histórica política recente, diversos episódios em que pessoas utilizam da adjetivação
“medieval” para desclassificar um discurso e posição.
Outrossim,
3 APRESENTAÇÃO DE DADOS
A ideia inicial do projeto Comics DeMolay veio a público em 2013, quando teve seu
primeiro lançamento e suas primeiras edições chegando ao mercado, mas os envolvidos em sua
confecção declararam que foi uma ideia que estava cozinhando em suas cabeças há muitos
anos20. Para a concretização do projeto foi reunida uma equipe, como é costume no modo de
produção de quadrinhos comerciais, pois o modelo de negócio proposto inicialmente era que
fosse lançado um fascículo a cada mês, no período de 12 meses, completando assim os 12
fascículos propostos para completar a biografia do Jacques de Molay.
17
PEREIRA, Nilton Mullet; GIACOMONI, Marcello Paniz. A Idade Média imaginada: usos do passado
medieval no tempo presente. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em
https://www.cafehistoria.com.br/usos-do-passado-medieval-idade-media/. Publicado em 09 set. 2019.
Acessado em 16 Abr. 2020
18
FIGUEIREDO, Camila Neves; GUERRA, Luiz Felipe Anchieta. Entrevista com Leandro
Rust. Temporalidades, v. 10, n. 2, p. 419-427, 2018.
19
CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's Fantasy
Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009.
20
Entrevista de Fabrício Grellet no spread central da edição 2 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
9
Uma outra bandeira da divulgação do projeto era seu valor educacional, sua
abordagem em Edutainment, como colocado em entrevistas e no próprio site oficial de venda
dos quadrinhos e para isso a pedagoga e educadora Elizabeth dos Santos foi chamada a
participar como Coordenadora Pedagógica do projeto e responsável pelo conteúdo educacional.
Ainda listado como membro da equipe, ainda que não fique muito claro qual sua contribuição
específica ou direta ao projeto está o psicanalista clínico Leandro Mascarenhas.
Nas edições seguinte há diversas mudanças em várias posições dentro dessa equipe,
especialmente na colorização (Carolina Pontes fica apenas nas duas primeiras edições e as
outras são trabalho de Flávio Silva) e na arte (com variação entre os já citados Spotti e Garcia
com Giulliano Pisaneschi e Carlos Rodrigues), coisa que também é comum em produções
internacionais seja por questões de insatisfação quanto ao produto, divergências financeiras ou
problemas com cumprimento de prazos. Todos os créditos de equipe de todas es edições do
projeto podem ser conferidos na Quadro 1.
Figuras 1 e 2 – Capas das edições 02 e 10 do projeto, mostrando uma clara diferença em cores e traço.
Fonte: Acervo Pessoal.
O traço escolhido para contar a história tende mais ao realista do que abstrato e estaria
mais próximo da base e ao lado esquerdo da pirâmide proposta por McCloud21, e as mudanças
dentro da equipe significam também uma mudança o traço, sendo as últimas edições apresentam
desenho ainda mais realistas e cores que dão tons de uma seriedade maior ao enredo que as
primeiras.
21
MCCLOUD, Scott. Desvendado Quadrinhos. São Paulo. Editora M. Nooks do Brasil, 2005 p. 52-53
11
que o projeto apresenta, com apenas 4 edições lançadas, ou seja, a um terço do andamento do
projeto, há o primeiro hiato de lançamentos. O lançamento dos outros dois terços levaria anos.
Dentro das páginas dos quadrinhos, a história não era menos empolgante ou épica.
Apesar de pouco se saber sobre os anos iniciais da vida de Jaques de Molay, o quadrinho faz
uma tentativa de traze-los ao leitor durante as três primeiras edições que perfazem o primeiro
arco, chamado “origem”. Aqui, o vemos retratado como um jovem obediente e amoroso com
os pais, esforçado e de “espírito empreendedor e responsável”25.
As três edições seguintes, traçam o arco “formação”, onde Jacques DeMolay cumpre
o sonho de treinar entre os templários. Nele, temos Jacques conhecendo um rival de origem
nobre que faz pouco dele por sua origem humilde e também Hughes de Pairaud – que será no
futuro seu Lugar-tenente, o vemos contemplar a história de Jesus Cristo e ter nela um exemplo
de sacrifício; combatendo bandidos e vencendo as forças naturais representadas por uma
nevasca e um urso.
22
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/261352840727999:0 Acessado em 10 Mar
2020
23
Disponível em https://www.kickante.com.br/campanhas/jacques-demolay-o-martir-templario Acessado em 10
Mar 2020
24
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/566692416860705:0 Acessado em 10 Mar
2020
25
Jacques DeMolay – o mártir Templário, ed.01 p.21.
12
Por todas as doze edições temos espalhados textos informativos sobre a produção,
como entrevistas e depoimentos de participantes do projeto e também informações sobre o
medievo – em sua maioria tiradas da Wikipédia –, além de diversas propagandas de
patrocinadores e apoiadores do projeto. Notadamente cabe salientar que, dentre esses
apoiadores fulguram o Grande Capítulo da Ordem DeMolay em Minas Gerais e o Supremo
Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, além de haver depoimentos de dois integrantes do
projeto nas páginas da primeira edição onde, nas mesmas páginas que Leandro Mascarenhas e
Elizabeth dos Santos apresentam as qualificações profissionais que trazem ao projeto eles se
identificam como “um sênior DeMolay” e “um maçom”.
A Ordem DeMolay, criada pelo maçom norte-americano Frank Sherman Land é uma
instituição paramaçônica em que só podem adentrar jovens de idade entre 12 e 21 anos, mas
uma vez iniciado você é membro por toda a vida. É uma irmandade iniciática, recentemente
centenária, de protagonismo juvenil e se baseia em “sete virtudes cardeais”: Amor Filial,
Reverência pelas Coisas Sagradas, Companheirismo, Fidelidade, Pureza e Patriotismo. Sua
chegada ao Brasil aconteceu durante a década de 80 e hoje a instituição é maior em território
brasileiro do que em seu berço estadunidense.26.
26
MELO DE ALMEIDA, L. . Fora Da Idade Média, Além Do Rodapé E Mais Que Memória: Construção de
uma História da Ordem Demolay. Trabalho apresentado no III Encontro Nacional de História dos Estados
Unidos. Rio de Janeiro, 2015.
27
TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation Studies. 2017-
Tradução livre, no original “while watching a historical film, reading a historical novel, or studying a history
textbook, for that matter, we cannot avoid the sense of personal engagement, not only looking at the ways in
which the author or authors re/construct historical material, but also making comparisons between the
representation and our own experience. As we try to come to terms with the present and the future, we are
obliged to come to terms with the past”
13
Também devemos lembrar do que nos sugere Holdzkom quando diz que “[a]daptar
história é um negócio desconfortável... Muitos historiadores demandam que o tipo de acurácia
dos filmes que só se encontra em um livro didático"30. Pois essa postura de escrutínio é uma
postura comum aos historiadores, um traço marcante da profissão, pois
28
UTZ, Richard. Medievalist Comics and the American Century by Chris Bishop. Arthuriana, v. 27, n. 2, p. 102-
103, 2017
29
É digno que mencione aqui o livro “Medievalist Comics and the American Century” de Chris Bishop e “Le
Moyen Âge en Bande Dessinée” de Tristan Martine, ambos sem tradução para português, assim como o artigo
de Walker Vadillo, Comic Books Featuring the Middle Ages que se encontra na bibliografia deste artigo.
30
HOLDZKOM apud TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation
Studies. 2017
31
WILSON, D. A. A história do futuro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002
32
BILDHAUER, Bettina. Medievalism and cinema. In: The Cambridge companion to medievalism, p. 45-59,
2016.
14
analisam a verossimilhança da obra, sua “autenticidade”. Sobre essa outra ótica, o importante
deixa de ser sua precisão, mas se a ambientação parece ou sente correta.
Filmes como “Coração de Cavaleiro” com sua torcida entoando músicas do Queen e
armaduras “da Nike”, ou “Maria Antonieta” de Sofia Coppola com sua trila sonora que rompe
totalmente com a ambientação deixam de ser visto como aberrações e passam a ser percebidos
por suas propostas de percepção por parte do público. Ambos os filmes querem trazer ao público
a sensação de estar no lugar e não simplesmente informá-lo. Levam a máxima do “mostre, não
conte” ao próximo nível, o do “sinta”.
Trazer noções muito diferentes das que o público espera, ainda que numa intenção
educacional, pode acabar fazendo-o perder o interesse ou pior, aliená-lo. Pois “audiências
preferem que suas noções bem-estabelecidas de história permaneçam não desafiadas para que
15
suas crenças permaneçam intactas”33, e isso é especialmente verdade num território tão
amplamente em disputa como o medievo.
Na mesma entrevista, Grellet diz que o projeto realmente iniciou quando levou a ideia
para “Max e Fabiano” do Grupo ArteOfício, pois ele “precisava dialogar com pessoas que
entendessem sobre a Ordem [DeMolay], sobre Jacques DeMolay, sobre quadrinhos(...)”.
Fabiano Lüdke Chedid, é sócio proprietário da agência de Propaganda e Marketing “Grupo
ArteOfício e membro da Loja Maçônica 20 de Agosto. Maxwell Ferreira, além das mesmas
qualificações de Fabiano também é “Sênior DeMolay” – denominação dada aos membros da
Ordem DeMolay que já passaram a idade de 21 anos – e é assim, como maçom e DeMolay,
respectivamente, que eles são identificados primariamente no projeto.36
Os valores expressados pelo quadrinho vêm dos valores expressados por essa Ordem.
A própria grafia do nome “DeMolay” assim, de forma aglutinada e com duas maiúsculas é
característica da Ordem enquanto o nome do personagem já foi escrito com muitas grafias
diferentes ao longo da História. A denominação de “mártir” também vem da Ordem, pois para
a Igreja Católica não o reconhece como tal.
33
TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation Studies. 2017 -
Tradução livre, no original “Audiences prefer their well-established notions of history to remain unchallenged
so that their everyday beliefs remain intact”
34
SIMMONS apud CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009. - Tradução livre, no
original “In many cases, medievalism selects form or narrative to reinforce what are seen as positive medieval
values in danger of being lost in the contemporary world.”
35
Entrevista de Fabrício Grellet no spread central da edição 02 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
36
Depoimentos no spread central da edição 01 da revista Jacques DeMolay – o mártir Templário
16
testemunhar sobre o quanto é onipresente na sociedade atual mas, aqui, são apresentados não
apenas como parte do medievo, como “atemporais”. Valores que seriam perenes à humanidade
e que devem ser cultivados através dos tempos.
Sua declaração deixa clara a sua posição de como a pesquisa e o conhecimento dão
“crédito” ao enredo mas a sua pesquisa histórica para “Jacques DeMolay – o mártir Templário”,
como evidenciado por exemplos citados, não vai além do típico, do senso comum, sua
abordagem da História não se dá enquanto ciência. A História aqui parece ser mais próxima da
Historia magistra de Cícero que de sua contraparte contemporânea e científica ou mesmo sua
versão Moderna e positivista. Sua qualificação é quase de fábula, um conto de advertência, que
flerta com o próprio mito e os mitos têm coesão interna.
a seleção entre o que é essencial e o que é supérfluo só pode ser feita quando se tem
uma visão de conjunto, ou seja, quando se chega ao final. O escritor só pode tornar
claro, em sua composição, o que é essencial porque a práxis, a história já o fez, a vida
hierarquiza as coisas. “O caráter ‘passado’ da epopeia, portanto, é um meio de
37
Edição 04 da revista, p. 19 onde temos um exemplo de roteiro e também edição 02, onde ele declara “indicar
quantos quadrinhos em cada página, o que acontece em cada quadro, o que cada um diz, como é o cenário,
como deve ser a movimentação de câmeras, e como tudo se conecta antes e depois(...)”
38
OLIVEIRA, Rosilene de. Divulgação científica em HQs: história em quadrinhos. São José dos Campos, SP,
2005. 1 disco laser TCC ( graduação em Jornalismo ) - Universidade do Vale do Paraíba, Faculdade de Ciências
Sociais Aplicadas e Comunicação, São José dos Campos, 2005.Acessado em 03 Jan 2020
17
Essa biografia de Jacques de Molay é quase que uma hagiografia laica41 (ainda que
pareça um oximoro). Apesar de ela construir um personagem puro, obediente, responsável e
"empreendedor", não é apenas seu caráter ilibado que eleva Jacques de Molay ao patamar de
quase um santo.
Na sexta edição, ele envereda-se numa nevasca em uma missão de buscar alimentos
para seus companheiros, que estão passando por uma escassez durante um inverno rigoroso. No
processo, ele enfrenta um urso e o derrota, mas sofre perdas de alguns cavaleiros que o
acompanhavam; antes de seguir viagem, prepara covas cristãs – sem nenhuma menção ao fato
de ser uma tarefa hercúlea a de cavar em um chão congelado – e, por fim, quando finalmente
atinge a cidade, objetivo de sua incursão, a encontra em chamas e ajuda a combater incêndio.
Vencendo assim, não uma ou duas, mas por três vezes as forcas da natureza – etapa
muito presente em hagiografias e que reforça a natureza especial do hagiografado.
Depois de toda essa epopeia, não retorna de imediato com o alimento para a fortaleza.
Ele envia seus companheiros mas fica para trás, na intenção de ajudar na reconstrução da cidade
mas, mais especificamente, seu desejo é construir ali uma capela - reforçando sua copiosa fé e
espírito pio.
Em outra passagem, anterior a essa, ainda na edição 05, ele demonstra uma valorização
da vida humana que também não cabe com pensamento medieval e coaduna muito mais com o
antropocentrismo presente séculos depois no Renascimento e Luzes.
Todos esses valores expressos: sua dedicação aos seus pais e ao seu objetivo, sua
reverência pelo sagrado na construção da capela, sua valorização da vida, seu tratamento justo
39
LUKÁCS, György. Ensaios sôbre literatura. Tradução de Leandro Konder. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira S.A., 1965 p. 235
40
FIGUEIREDO, Camila Neves; GUERRA, Luiz Felipe Anchieta. Entrevista com Leandro
Rust. Temporalidades, v. 10, n. 2, p. 419-427, 2018.
41
Hagiografia é o termo utilizado para as biografias de Santos e Mártires católicos, amplamente produzidas durante
a idade Média. Laico é aquilo que que é independente em face do clero e da Igreja, e, em sentido mais amplo,
de toda confissão religiosa. Uma Hagiografia Laica é um oximoro.
18
mesmo com saqueadores42, sua postura de cumprir com seus votos de segredo, mesmo em face
do cadafalso, sua pronta resposta ao chamado do rei da França43, etc; são exemplos e
representações das virtudes as quais se dedicam os membros da Ordem DeMolay.
E, por toda a edição 12, aquela que encerra não apenas a obra mas também o arco
“legado”, são apresentadas diversas teorias sobre o destino dos templários remanescentes e os
bens da ordem que não foram encontrados. Mostram as Grandes Navegações como
consequência direta dos templários de Portugal, agora reunidos na Ordem de Cristo; Templários
lutando em Bannockburn ao lado dos revoltosos escoceses ; Como a fonte da criação da Guarda
Suíça do Vaticano e dos mais diversos sistemas bancários, além de força de vingança de um
de Molay que teria sido salvo em um elaborado plano de salvação.
Mas, como legado final, da vida de Jacques de Molay, eles mostram um jovem olhando
para um quadro do “mártir” e perguntando ao seu pai sobre quem teria sido a imponente figura.
Um jovem, exatamente como aqueles primeiros 9, que ajoelharam em Kansas City, no
42
Vide: Edição 05
43
Vide: Edição 11
44
BERNARD apud TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation
Studies. 2017
45
Disponível em http://librarywriting.blogspot.com/2004/10/cfp-historical-consiracies-and-popular.html
Acessado em 05 Fev. 2020
19
Figuras 3 e 4 – Seções “Você Sabia?” das edições 01 e 02 , ambas creditando as informações à Wikipédia.
Fonte: Acervo Pessoal
46
MELO DE ALMEIDA, L. . FORA DA IDADE MÉDIA, ALÉM DO RODAPÉ E MAIS QUE MEMÓRIA:
Construção de uma História da Ordem DeMolay. Trabalho apresentado no III Encontro Nacional de
História dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, 2015.
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equipe também conta com até mesmo um psicanalista clínico como consultor, mas,
mesmo se tratando de um tema altamente histórico, nenhum historiador é nominado em
nenhuma das edições, apenas o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil é creditado
como “suporte institucional e amparo no que tange os conteúdos históricos”47 ao mesmo tempo
que declaram que a independência financeira do projeto garante não hajam “interferências no
conteúdo, preservando a figura de Jacques DeMolay.”48.
Obras de fundo histórico e caráter educacional tendem a se ater aos fatos, mas o
quadrinho dá espaço a especulações e nos mostra uma apropriação livre da historia apenas para
servir ao mito, tornando a Historia Magistra em uma fábula ou parábola quase panfletária.
Concluímos que o projeto Comics DeMolay traz, em cada página das doze edições de
“Jacques DeMolay – o mártir Templário”, um medievo idealizado, algo que não é de forma
alguma incomum em obras de ficção histórica – especialmente obras de ficção histórica em
quadrinhos, mas em “Jacques DeMolay – o mártir Templário”, o medievo não é uma “Era de
Ouro de Valores” ou um período totalmente perfeito. Tem bandidos e saqueadores à espreita
nos bosques, barbarismo e sanguinolência dominando a Terra Santa e, talvez o maior perigo de
todos, ambição e traição fluindo como mananciais entre as cortes e nobreza europeia, mas tudo
isso acabam tem o seu papel dentro da ordem das coisas. Acabam por servir a um propósito
maior: de ser um limpador de palato, um fundo de contraste para os heroicos atos dos indivíduos
valorosos como o de Jacques DeMolay, elevado a “mártir Templário” nessa “hagiografia laica”
feita por aqueles que revenciam seu nome.
47
Disponível em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/131614730368478:0
Acessado em 03 Mar 2020
48
Disponivel em https://www.facebook.com/gibijacquesdemolay/posts/236489873214296:0
Acessado em 03 Mar 2020
21
6 FONTES
REFERÊNCIAS
ASHTON, Gail; KLINE, D. (Ed.). Medieval afterlives in popular culture. Springer, 2012.
CECIRE, Maria Sachiko. Medievalism, Popular Culture and National Identity in Children's
Fantasy Literature. Studies in Ethnicity and Nationalism, v. 9, n. 3, p. 395-409, 2009.
CHARBEL, Felipe; MELLO, Luiza Laranjeira da Silva (Org.); GUSMAO, Henrique Buarque
(Org.). As formas do romance. Estudos sobre a historicidade da literatura. 1. ed. Rio de
Janeiro: Ponteio, 2016.
ECO, Umberto. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial: princípios e práticas do lendário cartunista. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
FIGUEIREDO, Camila Neves; GUERRA, Luiz Felipe Anchieta. Entrevista com Leandro
Rust. Temporalidades, v. 10, n. 2, p. 419-427, 2018.
GIRARDET. Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
GOMES, Ivan Lima . Os novos homens do amanhã: projetos e disputas em torno dos
quadrinhos na América Latina (Brasil e Chile, anos 1960-1970). 1a. ed. Curitiba: Prismas,
2018
GUTHRIE, Steve. Time Travel, Pulp Fictions, and Changing Attitudes Toward the Middle
Ages: Why You Can’t Get Renaissance on Somebody’s Ass. In: Medieval Afterlives in
Popular Culture. Palgrave Macmillan, Nova York, 2012. p. 99-111
LUKÁCS, György. Ensaios sôbre literatura. Tradução de Leandro Konder. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira S.A., 1965.
23
MCCLOUD, Scott. Desvendado Quadrinhos. São Paulo. Editora M. Nooks do Brasil, 2005
MOYA, Álvaro de. História da História em Quadrinhos. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense,
1994.
OLIVEIRA, Rosilene de. Divulgação científica em HQs: história em quadrinhos. São José
dos Campos, SP, 2005. 1 disco laser TCC ( graduação em Jornalismo ) - Universidade do Vale
do Paraíba, Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, São José dos Campos,
2005. Disponível em https://biblioteca.univap.br/dados/00002b/00002b73.pdf 2005, São José
dos Campos Acessado em 05 Fev. 2020
PEREIRA, Karla Raphaella Costa; COSTA, Frederico Jorge Ferreira. Utilização das categorias
literárias de Lukács na práxis do professor de literatura. Dialektiké, v. 1, n. 3, p. 98-119, 2016.
Disponível em http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/dialektike/article/view/5553/1640.
Acesso em 23 Abr. 2020.
PEREIRA, Nilton Mullet; GIACOMONI, Marcello Paniz. A Idade Média imaginada: usos do
passado medieval no tempo presente. In: Café História – história feita com
cliques. Disponível em https://www.cafehistoria.com.br/usos-do-passado-medieval-idade-
media/. Publicado em 09 set. 2019. Acessado em 16 Abr. 2020
READ, Piers Paul. Os templários: a história dramática dos cavaleiros templários, a mais
poderosa ordem militar dos cruzados. Rio de Janeiro: Imago, 2000.
PEDROSO, Rodrigo Aparecido de Araujo. Vestindo ainda mais a bandeira dos EUA: o
Capitão América pós-atentados de 11 de setembro. 2014. Dissertação (Mestrado em História
Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2014. doi:10.11606/D.8.2014.tde-16012015-183159. Acesso em 10 Mai. 2020.
PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010.
SIMMONS, Clare A. Introduction to Medievalism and the Quest for the “Real” Middle Ages,
ed. Clare Simmons. London: Frank Cass, v. 200, 2001.
SEEMAN, C. CFP - Historical Consiracies and Popular Culture A Library Writer's Blog,
2020. Disponível em http://librarywriting.blogspot.com/2004/10/cfp-historical-consiracies-
and-popular.html. Acesso em 5 Fev. 2020
24
TUTAN, Defne Ursin. Adaptation and History. In: The Oxford Handbook of Adaptation
Studies. 2017.
UTZ, Richard. Coming to terms with medievalism. European Journal of English Studies, v.
15, n. 2, p. 101-113, 2011.
UTZ, Richard. Medievalist Comics and the American Century by Chris Bishop. Arthuriana,
v. 27, n. 2, p. 102-103, 2017.
WALKER VADILLO, Mónica Ann. Comic Books Featuring the Middle Ages. Itinéraires.
Littérature, textes, cultures, n. 2010-3, p. 153-163, 2010. Disponível em
http://journals.openedition.org/itineraires/1877; 2010 Acessado em 03 Jan. 2020