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Capítulo 15Realismo no Brasil e o teatro brasileiro do século XIX

 A Nouvelle vague francesa é o movimento cinematográfico surgido em 1958 como reação às superproduções
cinematográficas da época. Os cineastas, então, propuseram o rompimento da linearidade tradicional da narrativa,
utilizando-se de temas cotidianos e da realidade imediata e documental. Para atingir tal efeito, filmavam nas ruas,
opondo-se aos estúdios de cinema, e tinham a cidade de Paris como cenário. A respeito dessas considerações e do
texto da página anterior, responda às questões a seguir.

A seguir, leia um trecho de “Conto de escola”, texto do escritor brasileiro Machado de Assis, em sua fase
realista.
Conto de escola
A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia – uma
segunda-feira, do mês de maio – deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a
manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era então esse parque atual,
construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros
soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a
escola. Aqui vai a razão.
Na semana anterior tinha feito dois suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que
me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado
do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me
ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de
capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã
para o colégio. Não era um menino de virtudes.
Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro
minutos depois. Entrou com o andar manso do costume [...]. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinquenta
anos ou mais. Uma vez sentado, [...] relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante
a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos. [...]
Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. [...] Na lição de
escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na
tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. [...]
Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o
campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina
flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do
céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que
bojava no ar, uma coisa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos
joelhos.
ASSIS, Machado de. Conto de escola. In: ______. A cartomante e outros contos. São Paulo: Moderna, 2004. (Coleção
Travessias).
gentleman: homem de boa educação. tábua: mesa escolar de madeira.
sueto: folga, ócio. vadio: aquele que trabalha ou estuda pouco.
sova: ato de espancar, bater. papagaio de papel: pipa, raia.
marmeleiro: árvore de pequeno porte. bojar: inflar.
arsenal de guerra: local onde se guardam soberbo: magnífico, esplêndido.
equipamentos militares.
1. O trecho de “Conto de escola”, lido anteriormente, apresenta um narrador em primeira pessoa que relembra
sua infância e seu tempo de escola. Retire do texto o fragmento que comprova essa passagem de tempo.
2. No filme Os incompreendidos, Antoine possui uma educação rígida, tanto em casa como na escola, faltando às
aulas para escapar dos castigos. Ao ler o texto de Machado de Assis, é possível relacioná-lo com o longa-
metragem de François Truffaut, ainda que sejam ambientados em lugares e épocas diferentes? Destaque os
elementos que se assemelham.
3. Ao analisar o conto de Machado de Assis e o enredo de Os incompreendidos, que elementos você considera
realistas e que se diferem do idealismo romântico?

No final da década de 1950, a Nouvelle vague marcou a história do cinema por romper com o modelo
tradicional dos filmes. A narrativa deixa de ser linear e se volta para o psicológico das personagens, apresentando
cenas cotidianas, muitas vezes inesperadas e originais. Além disso, esse movimento ficou conhecido como
“cinema de autor”, já que os roteiros ganharam destaque e também eram escritos pelos diretores. A câmera que os
cineastas usavam para filmar nas ruas passou a ser chamada camera-stylo (ou “câmera-caneta”, em português),
em referência à maneira mais intimista e autoral de filmar.

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Essa liberdade estética da Nouvelle vague pode ser comparada à proposta realista, que surgiu no final do
século XIX, de romper com o idealismo romântico, como foi visto. O Realismo brasileiro, mais especificamente,
será influenciado também pelas diversas mudanças sociais ocorridas no século XIX, repercutindo na maneira com
que a sociedade é retratada na literatura brasileira. A idealização romântica dá, então, espaço ao pessimismo
crítico do Realismo.
Assim, o filme Os incompreendidos, clássico do cinema francês da Nouvelle vague, dialoga com o “Conto de
escola”, de Machado de Assis, não somente por ambos retratarem temáticas semelhantes, mas por exporem, cada
um a seu modo, a organização, os valores da sociedade de suas respectivas épocas por meio de uma narrativa de
cunho objetivo e pessimista.
O que ocorreu na passagem do Romantismo para o Realismo no Brasil e o contexto brasileiro durante o
período e de que maneira ele influenciou a literatura. Uma das formas de compreender a transição do Romantismo
para o Realismo é por meio do teatro brasileiro do século XIX, assunto que também será analisado.

 Observe as imagens a seguir e responda às questões de 1 a 3.

DELACROIX, Eugène. A morte de Ofélia. 1838. 1 original de arte, óleo sobre tela, 38 cm × 46 cm. Neue Pinakothek,
Alemanha.

MILLET, Jean-François. Angelus. [entre 1857 e 1859]. 1 original de arte, óleo sobre tela, 55,5 cm × 66 cm. Museu de Orsay,
França.
1. Comparando as pinturas de Delacroix e Millet, qual delas está associada aos dramas sociais da época do
Realismo? Justifique utilizando elementos visuais da imagem.
2. Por que a outra tela não se enquadra na estética realista? A qual escola literária ela pode ser associada?
3. Uma característica do Realismo é a sua aproximação com o olhar fotográfico. Como você considera que isso
está representado na tela realista?

Contexto histórico
O Brasil do final do século XIX vivia um período de crise. A economia do país sofria os impactos da
decadência da indústria do açúcar e do rompimento definitivo com o regime escravista, em 1888. Dava-se início a
um processo de industrialização ainda sutil no país, que buscava acompanhar os avanços sociais e, sobretudo,
econômicos da Europa. A própria abolição da escravatura também está relacionada ao desejo e à necessidade de
se aproximar do estilo de vida europeu. Neste momento, o capitalismo estabelecia-se como sistema econômico
vigente e impunha uma relação comercial mais ativa entre os países.
Estabeleceu-se, então, uma nova ordem social que conferia força à ala progressista, que defendia as liberdades
individuais e desejava a proclamação da República, abalando as instituições públicas. O lema “ordem e
progresso” inserido na bandeira nacional – apresentado em 19 de novembro de 1889 – começava a se firmar em
um momento marcado pelas mudanças do modelo político – da monarquia para a república, proclamada em 1889.
Foi desse modo que o pensamento conservador começou a perder espaço diante dos anseios de uma classe
média em ascensão. Veja, no esquema a seguir, os principais acontecimentos históricos do Brasil durante o final
do século XIX.

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Fotografia do Largo de São Francisco de Paula, em 1895, um dos logradouros mais antigos do Rio de Janeiro e palco de
várias manifestações populares. Ao centro, encontra-se o monumento em homenagem ao conselheiro José Bonifácio,
patriarca da Independência do Brasil.
Realismo brasileiro
Na literatura, o panorama histórico apresentado anteriormente refletiu-se de maneira intensa por meio do
escritor Machado de Assis, principal intérprete dessa nova realidade durante o fim do Segundo Império, que
pautou sua produção na crítica à sociedade e às instituições e ressaltou a hipocrisia burguesa. O Brasil que se
apropriava de valores e costumes europeus é um dos grandes temas da obra desse autor, que é considerado um dos
maiores representantes da literatura brasileira.
Nesse período, a prosa predominava, tendo no romance a sua principal forma de expressão e instrumento de
crítica. Os romances realistas e naturalistas, estes que ainda serão estudados neste livro, são predominantemente
urbanos, mas alguns, entretanto, possuem temas ligados ao regionalismo, como Dona Guidinha do poço (1892),
de Manuel de Oliveira Paiva.
Panorama histórico brasileiro

Os autores desse período são denominados realistas. No entanto, alguns utilizaram em maior escala as teorias
científicas da época, sendo, por isso, chamados naturalistas. Estes valorizavam, em seus romances, o avanço da
ciência; daí suas obras serem denominadas romances de tese, experimentais ou laboratoriais.
Os principais temas abordados pelo Realismo brasileiro também eram similares aos que eram discutidos no
Realismo europeu: o adultério, o parasitismo social, o egoísmo, a vaidade, a ambição, a sordidez e a
mediocridade do ser humano. A obra considerada inauguradora do Realismo no Brasil é Memórias póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis, publicada originalmente em 1881 e que será analisada no próximo capítulo.
Além das inovações formais e da forte presença do pessimismo, a produção desse período retrata criticamente o
Brasil, revelando suas contradições internas.

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Veja o esquema a seguir com as principais características de uma obra realista.

Do Romantismo ao Realismo
Como visto em capítulos anteriores, o Romantismo foi fundamental para a busca de uma literatura
legitimamente nacional, cujo grande tema é o Brasil, representado nas figuras do indígena e da natureza. No
entanto, diferentemente do Realismo, a literatura romântica abusava de idealizações, em que poucas vezes
abordava uma visão crítica dos reais problemas da sociedade da época. O Realismo, nesse sentido, realizou um
movimento que a escola romântica não pôde fazer, voltando-se também para as questões nacionais, mas
encarando-as de um modo crítico e pessimista.
Leia o seguinte texto, que apresenta as percepções distintas, de românticos e realistas, sobre a maneira de
enxergar a realidade.
O liame que se estabelecia entre o autor romântico e o mundo estava afetado de uma série de mitos
idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amor-fatalidade, a mulher-diva, o herói-prometeu, sem falar na
aura que cingia alguns ídolos como a “Nação”, a “Pátria”, a “Tradição” etc. O romântico não teme as demasias do
sentimento nem os riscos da ênfase patriótica; nem falseia de propósito a realidade [...]: é a sua forma mental que
está saturada de projeções e identificações violentas, resultando-lhe natural a mitização dos temas que escolhe.
Ora, é esse complexo ideo-afetivo que vai cedendo a um processo de crítica na literatura dita “realista”. Há um
esforço, por parte do escritor antirromântico, de acercar-se impessoalmente dos objetos, das pessoas. E uma sede
de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas do século.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015. p. 177.
A vida burguesa, anteriormente valorizada nos romances românticos, torna-se o grande alvo das críticas. Por
meio de sua análise, tornou-se possível compreender a hipocrisia e ganância de parte da elite da época.
Para compreender a proposta realista, quanto à forma e ao conteúdo, leia o trecho a seguir do conto “Missa do
galo”, de Machado de Assis, no qual o escritor aborda e aponta criticamente os costumes burgueses. Sr. Nogueira,
um jovem que mora na casa do escrivão Meneses, decide esperar pela missa do galo. À noite, enquanto espera, a
esposa do escrivão vai fazer-lhe companhia. Conceição vive confinada dentro de casa, enquanto o marido sai com
a amante. Narrado em primeira pessoa, o jovem conta que a casa possui três chaves: uma fica na porta, as outras
duas com os homens da casa.
Missa do galo
[...] Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na
cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o
livro; ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a
havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza:
— Não! qual! Acordei por acordar.

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Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não
ter ainda pegado no sono.
Observe que Conceição tem o estereótipo da mulher romântica, magra, vestida de branco, assemelhando-se a
uma santa. Essa aproximação realizada pelo narrador pode ser compreendida como uma crítica implícita por parte
do autor aos efeitos ocasionados pelas leituras românticas.
Essa observação, porém, que valeria alguma coisa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que
talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era
boa, muito boa.
— Mas a hora já há de estar próxima, disse eu.
— Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de
almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando me viu.
— Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora apareceu logo.
— Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos mosqueteiros.
— Justamente: é muito bonito.
— Gosta de romances?
— Gosto.
— Já leu A Moreninha?
— Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.
— Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo. Que romances é que você tem lido?
Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os
olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços,
para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a
endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo
sem desviar de mim os grandes olhos espertos.
Note que, em vez de a mulher ser seduzida pelo homem, como sugere o imaginário romântico, é Conceição –
mulher experiente – que seduz o jovem inocente e deslumbrado com a corte. A ambiguidade, uma das principais
características machadianas, mostra-se no conto por meio do comportamento de Conceição e das hesitações do
narrador, o Sr. Nogueira.
[...] Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por um
instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas
vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada
ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me,
atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda,
ficou lindíssima.
ASSIS, Machado de. Missa do galo. In: ______. A cartomante e outros contos. São Paulo: Moderna, 2004. (Coleção
Travessias).
missa do galo: missa celebrada na noite de Natal. espaldar: parte da cadeira em que se apoiam as
alcova: quarto. Ortoépia: /ô/. costas.
disparatado: descombinado. truncado: incompleto.
canapé: sofá.

O menino e o bruxo
Machado de Assis foi o principal escritor da estética realista no Brasil, tornando-se, mais tarde, um dos principais
autores da literatura brasileira. Ainda assim, pouco se sabe sobre a infância e adolescência do romancista. Em O
menino e o bruxo, Moacyr Scliar reuniu as informações conhecidas sobre a vida do escritor e as inseriu em uma
narrativa de ficção fantástica, que conta como o menino Joaquim Maria, que vendia doces nas ruas, se
transformou no escritor Machado de Assis.
Teatro no Brasil
Teatro romântico
O primeiro passo importante do teatro brasileiro foi o encontro, em 1838, entre o ator João Caetano e os
escritores Gonçalves de Magalhães e Martins Pena. O primeiro foi responsável pela tragédia Antonio José ou O
poeta e a Inquisição, que chegou aos palcos em 1837, com João Caetano interpretando o protagonista.
Até esse momento, o repertório das companhias dramáticas era constituído por tragédias neoclássicas, dramas
românticos e melodramas, geralmente vindos da França e de Portugal. Martins Pena, um dos nomes mais
representativos do teatro nacional no século XIX, foge a essa regra, notabilizando-se por comédias acessíveis ao
público. O dramaturgo produziu 17 comédias em apenas dois anos e era bastante popular. Suas comédias de
costumes faziam uso do absurdo e provocavam o riso ao explorar a relação de tipos roceiros em contato com a
Corte. O efeito cômico era alcançado graças à utilização da linguagem coloquial, das vestes provincianas e das
situações peculiares.

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Criada pelo dramaturgo francês Molière, a comédia de costumes é um gênero teatral que retrata de maneira
satírica os costumes de determinada classe social, época ou profissão.
Entre as razões pelas quais as peças de Martins Pena tornaram-se populares, estão a linguagem fácil, as
situações cotidianas retratadas e a estrutura simples dos espetáculos, que contam geralmente com apenas um ato.
Além disso, o teatro, diferente da literatura, era acessível a todos os públicos, abrangendo, inclusive, a parcela
analfabeta da população e funcionava como entretenimento em cidades cuja vida social não era intensa.
A seguir, leia um trecho de O juiz de paz da roça (1838), a primeira peça de Martins Pena. Nele, as
personagens Tomás e Sampaio, ambos roceiros, brigam por um leitão, cada uma afirmando ser o dono do animal.
Observe a resolução dada pelo juiz de paz.

O juiz de paz da roça


CENA XI
[...]
JUIZ — É verdade, Sr. Tomás, o que o Sr. Sampaio diz?
TOMÁS — É verdade que o leitão era dele, porém agora é meu.
SAMPAIO — Mas se era meu, e o senhor nem mo comprou, nem eu lho dei, como pode ser seu?
TOMÁS — É meu, tenho dito.
SAMPAIO — Pois não é, não senhor. (Agarram ambos no leitão e puxam, cada um para sua banda.)
JUIZ — Larguem o pobre animal, não o matem!
(levantando-se)
TOMÁS — Deixe-me, senhor!
JUIZ — Sr. Escrivão, chame o meirinho. (Os dous apartam-se.) Espere, Sr. Escrivão, não é preciso. (Assenta-se.)
Meus senhores, só vejo um modo de conciliar esta contenda, que é darem os senhores este leitão de presente a
alguma pessoa. Não digo com isso que mo deem.
Percebe-se uma crítica ao procedimento do juiz, que manipula a negociação para lucrar sobre os mais
ingênuos. Essa postura satírica é uma característica importante da peça, ainda que o humor atenue a força da
crítica.
TOMÁS — Lembra Vossa Senhoria bem. Peço licença a Vossa Senhoria para lhe oferecer.
JUIZ — Muito obrigado. É o senhor um homem de bem, que não gosta de demandas. E que diz o Sr. Sampaio?
SAMPAIO — Vou a respeito de dizer que se Vossa Senhoria aceita, fico contente.
JUIZ — Muito obrigado, muito obrigado! Faça o favor de deixar ver. Ó homem, está gordo, tem toucinho de
quatro dedos! Com efeito! Ora, Sr. Tomás, eu que gosto tanto de porco com ervilha!
TOMÁS — Se Vossa Senhoria quer, posso mandar algumas.
JUIZ — Faz-me muito favor. Tome o leitão e bote no chiqueiro quando passar. Sabe aonde é?
TOMÁS — Sim, senhor.
(tomando o leitão)
JUIZ — Podem se retirar, estão conciliados.
Uma das personagens-tipo mais recorrentes da comédia nacional é o roceiro (ou caipira). O humor da peça se
constrói com base na ingenuidade desses tipos diante da esperteza do homem da cidade, ou ainda devido à sua
linguagem e às suas vestimentas.
PENA, Martins. Teatro de Martins Pena: o juiz de paz da roça; Quem casa, quer casa; O noviço. 3. ed. São Paulo: Martin
Claret, 2014. (Coleção a Obra-Prima de Cada Autor).
meirinho: empregado judicial. contenda: discussão, rixa. demanda: processo judicial.

Além de Martins Pena, outro nome que merece registro é o de Álvares de Azevedo. Ele produziu apenas uma
peça, Macário, obra de vertente ultrarromântica influenciada pelo poeta britânico Byron. O tédio existencial, a
investigação interna e o tom sombrio são características dessa produção.
José de Alencar também é um dos nomes da literatura romântica que produziram peças. Ele escreveu, entre
outras, uma comédia intitulada O demônio familiar, em 1857, de cunho essencialmente romântico por considerar
idealizada a relação do escravizado Pedro com seus senhores, que o tratam como um membro da família, algo
muito distante da realidade da sociedade escravocrata da época.
De origem humilde, Luís Carlos Martins Pena (1815-1848) começou a escrever comédias ainda jovem, contando
com o apoio e o estímulo do ator João Caetano. Foi diplomata e dramaturgo, chegando a estudar diversas artes,
como pintura, literatura, arquitetura, estatuária, entre outras. Escreveu aproximadamente 30 peças e trabalhou
com maestria as temáticas do teatro de costumes. Entre suas peças mais conhecidas estão O juiz de paz da
roça (1838), Quem casa, quer casa (1845) e O noviço (1845). Foi escolhido por Artur Azevedo como patrono da
cadeira número 29 da Academia Brasileira de Letras. Morreu aos 33 anos em decorrência de tuberculose.

 A peça O juiz de paz da roça, vista anteriormente, possui como enredo a história de Aninha e José, amantes
que planejam se casar em segredo. Porém, José é capturado para se tornar um soldado contra a Revolução

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Farroupilha. O juiz ordena que o pai de Aninha leve José e o mantenha em sua casa por um dia, para depois levá-
lo ao quartel.
Leia, a seguir, o trecho em que o escrivão chega à casa de Manuel João para informar sobre a ordem do
juiz de paz. Depois, responda às questões de 1 a 5.
ESCRIVÃO — Dá licença. Senhor Manuel João?
(dentro)
MANUEL JOÃO — Entre, quem é?
ESCRIVÃO — Deus esteja nesta casa.
(entrando)
MARIA ROSA — Amém.
e MANUEL JOÃO
ESCRIVÃO — Um criado da Senhora Dona e da Senhora Doninha.
MARIA ROSA — Uma sua criada. (Cumprimentam)
e ANINHA
MANUEL JOÃO — O senhor por aqui a estas horas é novidade.
ESCRIVÃO — Venho da parte do senhor Juiz de Paz intimá-lo para levar um recruta à cidade.
MANUEL JOÃO — Ó homem, não há mais ninguém que sirva para isto?
ESCRIVÃO — Todos se recusam do mesmo modo, e o serviço no entanto há de se fazer.
MANUEL JOÃO — Sim, os pobres é que o pagam.
ESCRIVÃO — Meu amigo, isto é falta de patriotismo. Vós bem sabeis que é preciso mandar gente para o Rio
Grande; quando não, perdemos esta província.
MANUEL JOÃO — E que me importa eu com isso? Quem as armou que as desarme.
ESCRIVÃO — Mas, meu amigo, os rebeldes têm feito por lá horrores!
MANUEL JOÃO — E que quer o senhor que se lhe faça? Ora é boa!
ESCRIVÃO — Não diga isto, senhor Manuel João, a rebelião...
MANUEL JOÃO — E que me importa eu com isso?... E o senhor a dar-lhe...
(gritando)
ESCRIVÃO — O senhor juiz manda dizer-lhe que se não for, irá preso.
(zangado)
MANUEL JOÃO — Pois diga com todos os diabos ao senhor juiz que lá irei.
ESCRIVÃO — Em boa hora o digas. Apre! custou-me achar um guarda...
(à parte) Às vossas ordens.
MANUEL JOÃO — Um seu criado.
PENA, Martins. Teatro de Martins Pena: o juiz de paz da roça; Quem casa, quer casa; O noviço. 3. ed. São Paulo:
Martin Claret, 2014. (Coleção a Obra-Prima de Cada Autor).
apre: interjeição que expressa aborrecimento.

1. As peças de Martins Pena se aproximam muito da linguagem do cotidiano. Transcreva um trecho que mostre
essa característica.
2. Existe uma relação de poder estabelecida entre as personagens Manuel João e o escrivão. Explique como se dá
essa relação e se ela obedece aos preceitos da sociedade da época.
3. Durante o diálogo da peça, o escrivão argumenta com Manuel João sobre sua decisão de desobedecer às
ordens do juiz: “Meu amigo, isto é falta de patriotismo. Vós bem sabeis que é preciso mandar gente para o Rio
Grande; quando não, perdemos esta província”. Seu argumento se refere ao conflito que ficou conhecido como
Revolução Farroupilha. Qual a posição de cada uma das personagens a respeito do fato?
4. Maria Rosa e Aninha saem de cena pouco após o início do diálogo das personagens masculinas. O que isso
revela para a sociedade da época?
5. O que as duas últimas falas da peça revelam sobre o pedido do escrivão para Manuel João? Justifique sua
resposta.

Teatro realista
Assim como o teatro romântico no Brasil, o realista também utiliza a comédia, porém tem como cenário o
retrato da burguesia da época com cenas e diálogos mais fiéis à realidade. Além disso, a comédia realista tem
certa feição moralizadora, retratando valores éticos.
Machado de Assis também escreveu comédias, embora suas produções teatrais tivessem menos prestígio que
seus contos e romances. A comédia machadiana apresenta cunho político, como é o caso de Quase
ministro (1862). Essa peça tem como enredo a história de um deputado, Luciano Martins, que se torna alvo de um
boato de que seria ministro. Os rumores se espalham pela cidade, fazendo com que interesseiros o perseguissem
em busca de alianças.

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Ressalta-se também o trabalho das comédias de Artur Azevedo. Para ele, a decadência do gênero teatral se deu
pela imprensa, que não sabia avaliar as peças; pelos atores, que não tinham talento e não respondiam às críticas
injustas; pelos autores, que não se preocupavam com a qualidade do texto; pelo público, que exigia peças mesmo
sem qualidade; e pela falta de incentivo do governo. Leia, a seguir, o trecho de um artigo publicado pelo
comediógrafo no jornal A Notícia, em 1898, acerca do teatro no Brasil.
Orgulho-me de dizer que os meus folhetins foram a origem, não só de todo esse movimento de simpatia que se
formou em volta da ideia do Theatro Municipal, mas do próprio Theatro Municipal, movimento
considerabilíssimo se o compararmos à inércia, à indiferença, à esmagadora apatia dos outros tempos. O grande
caso é que o Theatro Municipal está criado por lei, existe oficialmente; se ainda não funciona, se não é ainda uma
realidade palpável, é porque infelizmente os Drs. Furquim Werneck e Ubaldino do Amaral [ex-prefeitos do Rio
de Janeiro, capital federal da República] não o tomaram a sério. [...] Eu tinha muita razão quando dizia a Manoel
da Rocha [diretor fundador de A Notícia] que a poucos leitores interessariam os meus folhetins, e ele tinha mais
razão ainda quando insistia comigo para que eu os escrevesse. [...] Quando eu morrer, não deixarei meu pobre
nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso nem uma frase que me saísse do cérebro; mas com certeza
hão de dizer: “Ele amava o teatro”, e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna.
AZEVEDO, Artur. A Notícia. 22 de setembro de 1898. In: SICILIANO, Tatiana Oliveira. O Rio de Janeiro de Artur Azevedo:
cenas de um teatro urbano. Rio de Janeiro: Mauad X, 2014.
Azevedo dedicou-se às letras, mas foi no teatro que o escritor ganhou notoriedade. Seu interesse pela
dramaturgia o fez escrever, entre outras, a peça A capital federal, que apresenta a visão crítica do dramaturgo
sobre o crescimento urbano no Rio de Janeiro do fim do século XIX, combinando cenas burlescas com
personagens-tipo.
A seguir, leia o trecho da peça A capital federal, em que a cortesã Lola sai à procura de Gouveia, um jogador de
dúzias.
Ato I
Cena IV
LOLA — Bom dia! (Ao gerente.) Sabe me dizer se o Gouveia está?
(Entrando arrebatadamente da esquerda.)
O GERENTE — O Gouveia?
LOLA — Sim, o Gouveia — um cavalheiro que está aqui morando desde a semana passada.
O GERENTE — Ah! O jogador... (Tapando a boca.) Oh!... Desculpe!...
(Indiscretamente.)
Observe que a reação do gerente ao tapar a boca rapidamente demonstra sua preocupação em manter o bom
tratamento e evitar seu julgamento particular.
LOLA — O jogador, sim, pode dizer! Por ventura o jogo é hoje um vício inconfessável?
O GERENTE — Creio que esse cavalheiro está no seu quarto; pelo menos ainda o não vi descer.
LOLA — Sim, o Gouveia é jogador, e essa é a única razão que me faz gostar dele.
Nota-se que o entusiasmo amoroso de Lola sobre Gouveia se resume ao interesse financeiro.
O GERENTE — Ah! A senhora gosta dele?
LOLA — Se gosto dele? Gosto, sim, senhor! Gosto, e hei de gostar, pelo menos enquanto der a primeira dúzia!
O GERENTE — Enquanto der...
(Sem entender.)
LOLA — Ele só aponta nas dúzias — ora na primeira, ora na segunda, ora na terceira, conforme o palpite. Há
perto de um mês que está apontando na primeira.
FIGUEIREDO — É um jogador das dúzias!
(À parte.)
LOLA — Enquanto der a primeira, amá-lo-ei até o delírio!
FIGUEIREDO — A senhora é franca!
LOLA — Fin de siècle, meu caro senhor, fin de siècle.
No fim da cena, a personagem demonstra naturalidade com a situação, justificando sua atitude com o “fim do
século”, dito em francês, representando a influência da cultura francesa sobre a brasileira.
AZEVEDO, Artur. A Capital Federal. São Paulo: Martin Claret, 2002. (Coleção A Obra-prima de Cada Autor).
fin de siècle: em francês, “fim do século”.

A ascensão do teatro no Brasil


O Real Teatro de São João, o primeiro teatro da cidade do Rio de Janeiro, foi oficialmente inaugurado em 12
de outubro de 1813, com a presença do príncipe regente D. João VI e de sua esposa Carlota Joaquina, sendo
encenado o drama lírico O juramento dos Numes, de inspiração mitológica. Desde então, o teatro passou a ser
uma instituição nacional, mas não nacionalista, pois o Brasil era um território de Portugal. Quando assumiu o
trono, D. Pedro I deu bastante importância às atividades teatrais, e sua presença era constante nas apresentações.

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Real Teatro de São João, em pintura de Debret. Esse teatro foi palco de importantes acontecimentos históricos
e passou por três incêndios. Atualmente, é conhecido como Teatro João Caetano, em memória ao primeiro ator
brasileiro, o qual foi homenageado com a construção de um monumento em frente à fachada do prédio.
DEBRET, Jean-Baptiste. Teatro de São João. 1834. 1 original de arte.
No final do Primeiro Reinado, graças ao aparecimento do primeiro ator brasileiro, João Caetano dos Santos, o
teatro passou a desvincular-se da preponderância lusitana. Mesmo assim, pode-se dizer que a transferência da
Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, trouxe inegável progresso para o teatro e para o próprio país
naquela época, algo que se consolidaria com a independência. Dessa forma, pode-se afirmar que o teatro
brasileiro passou a se constituir apenas a partir do período romântico..

ESTE CAPÍTULO ABORDOU


 O Realismo brasileiro representou a mudança dos costumes da sociedade local, influenciada pela ascensão do
objetivismo científico.
 Machado de Assis é o maior representante do Realismo brasileiro, empreendendo mudanças significativas
tanto do ponto de vista formal quanto conteudístico, sendo a sua obra Memórias póstumas de Brás
Cubas considerada a inauguradora da escola realista no Brasil.
 O teatro propriamente nacional, concebido por brasileiros e abordando questões locais, tem início durante o
Romantismo.
 Martins Pena é o grande nome do teatro romântico brasileiro, tendo produzido grandes comédias, o que
desvirtuava do repertório das companhias dramáticas do país, que encenavam tragédias de origem europeia.
 O teatro realista é representado por Artur Azevedo, que trouxe as comédias para o contexto da burguesia
carioca.

Questões de Estudo I

Questão 01 O Realismo, escola literária cujo principal representante brasileiro foi Machado de Assis, tem como
característica principal a retratação da realidade tal qual ela é, fugindo dos estereótipos e da visão romanceada
que vigorava até aquele momento. Sobre o contexto histórico no qual o Realismo está situado, considere as
seguintes proposições:
I. O Brasil vivia tempos de calmaria política e social, havia um clima de conformidade,
configurando o contentamento da colônia com sua metrópole, Portugal.
II. Em virtude das intensas transformações sociais e políticas, o Brasil é retratado com
fidedignidade, reagindo às propostas românticas de idealização do homem e da sociedade.
III. O país vivia o declínio da produção açucareira e o deslocamento do eixo econômico para o Rio
de Janeiro em razão do crescimento do comércio.
IV. O Realismo possui influência das teorias positivistas originárias na França, onde também havia
um movimento de intensa observação da realidade e descontentamento com os rumos políticos e sociais do país.
V. A escola realista surgiu na segunda metade do século XX, quando no mundo eclodiam as teorias
de expansões territoriais que culminaram nas duas grandes guerras. O Realismo teve como propósito denunciar
esse panorama de instabilidade mundial.
É correto afirmar que
a. apenas I é falsa. d. II, III e IV são verdadeiras.
b. apenas I e II são verdadeiras. e. I, IV e V são falsas.
c. apenas II e III são verdadeiras.

Questão 02 (FUVEST) Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas,
chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas,
que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o
estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e
vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
É possível considerar o texto como uma apologia ao Realismo? Justifique sua resposta.

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Textos para a questão 3.
Texto 1
[...] no Realismo exterior, o romance e o conto procuravam a ação que espelhasse os conflitos íntimos; no outro
tipo de realismo [o interior], o desenrolar dos acontecimentos pouco interessa ao escritor, atraído que está pela
análise do drama em si mesmo.
MOISÉS, Massaud. Machado de Assis: ficção e utopia. São Paulo: Cultrix, 2001. p. 27.
Texto 2
Era noite entrada. Rubião vinha por ali abaixo, recordando o pobre diabo que enterrara, quando, na rua de S.
Cristóvão, cruzou com outro coupé, que levava duas ordenanças atrás. Era um ministro que ia para o despacho
imperial. Rubião pôs a cabeça de fora, recolheu-a e ficou a ouvir os cavalos das ordenanças, tão iguaizinhos, tão
distintos, apesar do estrépito dos outros animais. Era tal a tensão do espírito do nosso amigo, que ainda os ouvia,
quando já a distância não permitia audiência. Catrapus... catrapus... catrapus...
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 159-160.

Questão 03 (UFMG) O texto 2 é um bom exemplo do “realismo interior” de que fala o crítico Massaud Moisés, no
texto 1. Com base na leitura feita, redija um texto justificando esta afirmativa.

Questão 04
Sobre o teatro brasileiro, é correto afirmar que
a. adota, desde os jesuítas, a farsa como manifestação primordial, com o objetivo de criticar os poderes
dominantes.
b. encontra no Romantismo uma faceta nacional, representando, por meio da comédia, as contradições sociais
brasileiras.
c. teve como grande destaque a produção de José de Alencar, o que o consagrou como grande nome da literatura
brasileira no período.
d. as peças em geral encenavam o amor romântico, que luta para superar os diversos obstáculos ao casal de
amantes protagonista.
e. no Modernismo, não encontrou ressonância, pois era um momento de rebeldia poética, e não de tradições
antigas como o teatro.

Questão 05 O teatro brasileiro tem Martins Pena como um dos seus mais significativos representantes. Suas obras
caracterizam-se por
a. reproduzir os autos religiosos do século XVI.
b. usar como modelo as tragédias clássicas.
c. realizar uma comédia de costumes.
d. demonstrar forte influência do teatro romântico francês.
e. construir suas peças em versos livres.

Questões de Estudo II

Questão 01 (CESGRANRIO) Sobre o Realismo, assinale a afirmativa correta.


a. O romance é visto como distração e não como meio de crítica às instituições sociais decadentes.
b. Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos.
c. O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo.
d. O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico.
e. O Realismo vê o homem somente como um produto biológico.

Tirei a 2

Questão 03 (FATEC)
Notícia da atual literatura brasileira instinto de nacionalidade
Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de
nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país,
e não há quem negue que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de
Gonçalves Dias, Porto-Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora
madruga, como aqueles que continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a
vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas
acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional.
Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas
pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitos trabalharão para ela até

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perfazê-la de todo. [...] ASSIS, Machado. Instinto de nacionalidade. Disponível em: http://machado.mec.gov.br. Acesso
em: 20 dez. 2017.
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.
a. O texto afirma uma literatura nacionalista que tem suas raízes na Proclamação da Independência, episódio
inspirador de obras de muitas gerações.
b. Com a metáfora presente em “As tradições [...] são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda
agora madruga”, Machado critica a tradição de valorizar o passado, presente em escritores brasileiros.
c. Há, no texto, uma concepção de literatura que privilegia a escolha de temas da história pátria, como é o caso
de obras que exaltam o Sete de Setembro.
d. Para o autor, as raízes do Realismo remontam às obras dos autores que ele menciona e cujos textos trazem as
teses realistas mais importantes.
e. Machado de Assis entende o instinto de nacionalidade na literatura brasileira como autonomia de ideias em
relação a temas importados, a qual se constrói paulatinamente.

Questão 04 (ESPM) No meio disso, a que vinha agora uma criança deformá-la por meses, obrigá-la a recolher-se,
pedir-lhe as noites, adoecer dos dentes e o resto? Tal foi a primeira sensação da mãe, e o primeiro ímpeto foi
esmagar o gérmen. Criou raiva ao marido. A segunda sensação foi melhor. A maternidade, chegando ao meio-dia,
era como uma autora nova e fresca. Natividade viu a figura do filho ou filha brincando na relva da chácara ou no
regaço da aia, com os três anos de idade, e este quadro daria aos trinta e quatro anos que teria então um aspecto
de vinte e poucos...
Foi o que a reconciliou com o marido.
Esaú e Jacó, de Machado de Assis.
Considerando os aspectos histórico-literários, pode-se afirmar que o texto
a. apresenta aspectos do Barroco por mostrar os conflitos existenciais da personagem influenciada pela
religiosidade (daí o título da obra Esaú e Jacó).
b. é coerente com o padrão do Realismo ao enfocar uma crítica social à questão da rejeição da maternidade e o
consequente abandono dos filhos.
c. está contra o padrão do Romantismo, imediatamente anterior à obra, uma vez que não idealiza o instinto
maternal e a mulher.
d. tem afinidade com o Naturalismo ao enfatizar o determinismo biológico e as personagens patológicas.
e. faz sintonia com a poesia do Parnasianismo, pois apresenta a obsessão pela forma no vocabulário e o tema
clássico greco-latino.

Tirei a 5

Questão 06 (ITA) O conto “Missa do galo”, de Machado de Assis, relata uma conversa do narrador, Sr. Nogueira,
um jovem de 17 anos, com Conceição, de 30 anos, mulher do escrivão Meneses, um distante parente seu. O
narrador, de Mangaratiba (RJ), hospedou-se durante alguns meses na casa de Meneses e Conceição, no Rio de
Janeiro, a fim de estudar na capital. O foco do conto é a incompreensão do narrador sobre tal conversa com
Conceição, momentos antes da missa do galo. O fragmento a seguir expressa um dos aspectos que contribuiu para
a incompreensão do narrador.
De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou
para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o
desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no
andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava
algumas vezes, examinando um trecho da cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal
deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas ideias; tornou ao espanto de me ver
esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria
perdê-la.
“Missa do galo”, de Machado de Assis.
Esse aspecto, recorrente no conto, refere-se
a. à movimentação de Conceição na sala. d. à conversa repetitiva de Conceição.
b. às razões da insônia de Conceição. e. aos sobressaltos de Conceição.
c. ao acanhamento de Conceição.

Questão 07 (UFRGS) A obra de Martins Pena, um dos mais autênticos e originais escritores românticos,
a. apresenta, sobretudo no drama, recursos cênicos sofisticados e inovadores, adequados às exigências do público
do século XIX.
b. traduz-se, em alguns casos, como sátira aos costumes rurais, utilizando-se de tipos rústicos, oriundos do
interior paulista.

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c. traduz, nas comédias urbanas, toda a complexidade social e humana das elites republicanas.
d. tem como tema dominante, tanto na comédia urbana quanto na rural, o amor contrariado.
e. imprime à comédia nacional assuntos, tipos, expressão e caráter herdados da comédia francesa.

Texto para as questões 8 e 9.


CENA I
(Sala com uma porta no fundo. No meio, uma mesa, junto à qual estarão cosendo MARIA ROSA e ANINHA .)
MARIA ROSA — Teu pai hoje tarda muito.
ANINHA — Ele disse que tinha hoje muito que fazer.
MARIA ROSA — Pobre homem! Mata-se com tanto trabalho! É quase meio-dia e ainda não voltou. Desde as
quatro horas da manhã que saiu; está só com uma xícara de café.
ANINHA — Meu pai, quando principia um trabalho, não gosta de o largar; e minha mãe sabe bem que ele tem só
a Agostinho.
MARIA ROSA — É verdade. Os meias-caras agora estão tão caros! Quando havia valongo, eram mais baratos.
ANINHA — Meu pai disse que, quando desmanchar o mandiocal grande, há-de comprar uma negrinha para mim.
MARIA ROSA — Também já me disse.
ANINHA — Minha mãe, já preparou a jacuba para meu pai?
MARIA ROSA — É verdade! De que me ia esquecendo! Vai aí fora e traz dous limões. (Aninha sai.) Se o
Manuel João viesse e não achasse a jacuba pronta, tínhamos campanha velha. Do que me tinha esquecido! ( Entra
Aninha.)
ANINHA — Aqui estão os limões.
MARIA ROSA — Fica tomando conta aqui, enquanto eu vou lá dentro. (Sai.)
ANINHA (Só.) — Minha mãe já se ia demorando muito. Pensava que já não poderia falar com senhor José, que
está esperando-me debaixo dos cafezeiros. Mas como minha mãe está lá dentro, e meu pai não entra nesta meia
hora, posso fazê-lo entrar aqui. (Chega à porta e acena com o lenço.) Ele aí vem.
O juiz de paz da roça, de Martins Pena.

Questão 08 De acordo com a cena apresentada no texto, analise as seguintes proposições.


I. Aninha é protagonista da peça e possui aspecto shakespeariano.
II. Termos como jacuba e valongo estão, atualmente, fora do contexto e trazem dificuldades para o leitor de
hoje.
III. A cena indica que a escravidão ainda era uma realidade no país.
Assim, pode-se dizer que
a. apenas a II é verdadeira. d. todas são falsas.
b. I e II são falsas. e. todas são verdadeiras.
c. II e III são verdadeiras.

Questão 09 É correto dizer que o trecho da peça teatral O juiz de paz da roça:
a. ambienta-se em local degradante.
b. tem como base o desgaste das relações familiares.
c. revela particularidades sobre a cidade do Rio de Janeiro.
d. destaca mais os costumes do que as pessoas.
e. subentende uma perfeita relação familiar.

Questão 10 (UFRN) O elemento cômico, no teatro de Martins Pena, desenvolve-se por meio da exploração das
distorções sociais do início do Império. Em O juiz de paz da roça, os efeitos de comicidade se revelam,
fundamentalmente, por meio do(a)
a. comportamento informal do juiz como autoridade representante da sociedade escravocrata.
b. contradição entre os valores tradicionais e a realidade das personagens.
c. diferença entre os costumes refinados da Corte e a simplicidade das famílias do meio rural.
d. julgamento moral das atitudes das personagens na luta pela sobrevivência.

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