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1ª Edição
Quipá Editora
2021
© 2021 por Thiago Barbosa Soares. Todos os direitos reservados.
O conteúdo deste livro, bem como seus dados, forma, correção e confiabilidade são de
exclusiva responsabilidade do autor, que permite o download, assim como o
compartilhamento, mas sem a possibilidade de promover alterações, de nenhuma forma, ou,
ainda, a utilização do conteúdo para fins comerciais. Devem ser atribuídos os devidos créditos
autorais.
Conselho Editorial:
Me. Adriano Monteiro de Oliveira, Quipá Editora, Editor-chefe.
Dra. Keyle Sâmara Ferreira de Souza, Docente na Secretaria de Educação do Ceará, SEDUC.
Dra. Mônica Maria Siqueira Damasceno, Docente no Instituto Federal do Ceará, IFCE,
Campus Juazeiro do Norte.
72 p.
ISBN 978-65-89091-44-8
doi.org/10.36599/qped-ed1.028
DOI http://doi.org/10.36599/qped-ed1.028
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CDD 612.78
Elaborada por Rosana de Vasconcelos Sousa ― CRB-3/1409
A voz
A voz é quase como uma marca pessoal de cada indivíduo. Podemos ter vozes
parecidas, mas ao analisarmos de perto com equipamentos e softwares de análise acústica, por
exemplo, veremos que são diferentes. Há, ainda, as variações intraindividuais, pois o próprio
indivíduo varia no uso da sua voz, mudando o tom em diferentes situações comunicativas,
normalmente associadas a estados emocionais distintos. Algumas vozes são tidas como
únicas, excepcionais, como a de alguns cantores, outras podem até ser irritantes. Mas o certo é
de que ela acompanha cada indivíduo desde o nascimento e compõe um dos primeiros
contatos do bebê com o mundo, no momento do choro. Aprimoramos o uso dela à medida que
temos contato com o mundo e todo o input linguístico, aprendendo a falar. Mas afinal, como
produzimos voz? A resposta para essa pergunta, a princípio, parece simples, no entanto, a voz
não é nada banal.
Os resultados desses eventos são as ondas sonoras. É assim que os nossos ouvidos
reconhecem os sons da fala. Analisar os sons da fala no nível físico/acústico tem trazido
descobertas interessantes a respeito da voz. Ela não é apenas a matéria prima a partir da qual
articulamos os sons da fala que organizamos no nível cognitivo para produzir significados.
Ela mesma, a voz, carrega significações. Em campos de estudos específicos da Fonética,
como a Prosódia e a Entoação, já se demonstrou o papel de diferentes parâmetros acústicos na
fala. Como diferenciamos uma sentença afirmativa de uma interrogativa no português
brasileiro quando não há nenhum elemento lexical, como um pronome interrogativo? São as
curvas de pitch (sensação auditiva da altura do som, se grave ou agudo) que nos permitem
diferenciar uma da outra. Outras áreas, como, por exemplo, a Sociofonética, exploram
nuances na voz para demonstrar que variações no nível subsegmental, como pitch, duração,
frequência fundamental (aquela que resulta da vibração das pregas vocais e, basicamente,
define a altura de cada voz), revelam significações sociais, ou, em última instância,
evidenciam que variações na voz estariam indexadas a uma ou outra categoria social. Isso
significaria dizer que aprendemos essa variação e ela poderia ser cognitivamente armazenada.
Os eventos de fala fazem parte da nossa vida e são tão corriqueiros que não nos damos
conta da complexidade dos mecanismos envolvidos. Somos capazes de produzir e perceber
uma vasta gama de sons, tons, ritmos e outras sutilezas na voz que carregam diversos
significados, desde aqueles voltados para distinções dentro do próprio sistema linguístico,
quanto extralinguísticos, relacionados a fatores sociais, como mencionado acima. Então, a voz
não é a emissão aleatória de um som resultante da fonação, e tão pouco coadjuvante na cadeia
na fala. Ela desempenha importantes funções, que aprendemos a produzir e perceber desde o
processo de aquisição da fala.
Da voz muito foi dito e continuará a ser, contudo os dizeres sobre a voz ainda podem e
devem ser refletidos para deles se extrair conhecimentos acerca do sujeito em sociedade, dos
sentidos que pesam sobre a voz e, sobretudo de como o que se diz de um determinado
elemento tem a capacidade de modificar a percepção que dele se faz. É nessa perspectiva que
compreendemos a voz como não isolada dos muitos discursos que a tomaram e ainda tomam
ora como um objeto do qual se pode detalhar o uso, ora como um mero operador de sentidos
vocalizados, ou mesmo sem tais pretensões existem discursos capazes de vender sentidos e
significados para vozes mais conhecidas.
A voz como capital simbólico, e até mesmo como aspecto cultural a partir de seus
usos, pode ser meio de comunicação, forma de acesso ao mundo, aparato subjetivo de
operações internas, porém, para além de tantas propriedades características da voz humana, a
voz, como não podia deixar de ser, é também expressão metafórica e conceitual para alguns
campos do conhecimento. A Teoria Literária e também as teorias enunciativas, entre outras,
tomam a voz em uma acepção metaenunciativa para observar as “vozes” presente nos mais
variados textos de seus estudos. Assim, a voz ganha mais significado por usos particularizados
por determinados campos, entretanto é importante salientarmos o fato de que, quando se diz
algo sobre a voz parece haver algo de existencial aí implicado, a voz invariavelmente volta-se
para o estágio das relações.
Mais dia, menos dia, as vozes fantasmagóricas deixarão os porões das galerias,
deixarão os sombrios escuros cômodos do abuso e deixaram o histórico isolamento para
serem gritos de liberdade, entretanto, o caminho da voz passa por vários meandros que nem
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
sempre são evidentes. Os discursos que carregam sentidos e significados à voz compõem um
largo espectro de textos, que em sua extensão é ilimitado, demasiado vasto se considerarmos
tanto o que se produz de material específico quanto tudo que toma a voz em outras acepções
menos rigorosas. Portanto, analisar e compreender os sentidos da voz em dizeres de um
determinado campo, como é nosso objetivo com este livro, é por si só uma tarefa
absolutamente significativa, porquanto enseja mais pesquisas e, por conseguinte, mais
esclarecimentos acerca dos sentidos que pesam sobre a voz.
Ao levantarmos alguns pontos relacionados ao que se diz da voz ou como ela ganha
significado nas produções discursivas, compreendemos que aproximamos a voz de uma das
propriedades da linguagem, a representatividade, de modo a trazermos a própria ambivalência
dos traços discursivos do uso e emprego da voz para um patamar semiótico que lhe valida a
condição de ícone-índice-símbolo. Nesse sentido, a voz reúne, para tornar-se posteriormente
objeto do dizer, percepção, experiência e representação tanto àquele responsável por lhe
colocar a seu serviço quanto àquele que lhe ouve e interpreta sentidos através de seus
elementos constituintes.
Conforme a apropriação conceitual utilizada para investigar a voz, é possível dizer que
ela é uma composição semiótica quase fechada e independente de outras semioses, contudo a
voz não é a língua, tampouco é apenas um veículo de emissão de mensagens a um ou mais
receptores, já que sua capacidade representacional ultrapassa o mero instrumento do canal de
envio de significados e passa, então, a ser simultaneamente ícone-índice-símbolo do
complexo ato comunicativo. Portanto, a voz e o que se diz dela trazem em si um potencial de
compreensão de uma multiplicidade de sentidos circulantes no espaço social e, além disso,
apontam para determinados funcionamentos discursivos ainda não tão bem conhecidos,
porque ainda não tão bem investigados.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
triagem sobre dizeres acerca da voz e para extrair sentidos as produções discursivas emprega
a noção de unidades de discurso advinda da Arqueologia do saber, de Michel Foucault.
É por essa via que “A voz na oratória: uma análise das unidades de discurso presentes
no campo da oratória” visa compreender os sentidos da voz e como esses são construídos e
disseminados no campo da oratória. Entre o que se diz da voz nessa área do saber e em outras
searas pode existir diferenças, mas os (efeitos de) sentidos da voz criados a partir da
mobilização da instância do discurso sempre se remetem ao sujeito da/para voz. Portanto,
investigar os mecanismos de produção dos sentidos da voz enseja uma via de acesso analítico
para a não transparência da materialidade da voz e para sua virtualidade não evidente. Com o
objetivo de traçar esse caminho, analisaremos como e o que se diz da voz no campo da
oratória. Para tanto, empregaremos o aparato teórico metodológico da Análise do Discurso
francesa, norteado pela noção de unidades de discurso de Michel Foucault, em variadas
produções textuais sobre os usos recomendativos da voz, desde tratados canônicos até obras
da literatura de autoajuda que versem sobre oratória.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Assim, “A voz na mídia: o sucesso nos dizeres sobre a unidade do discurso vocal”
carrega o objetivo de compreender os sentidos da voz e como esses são construídos e
disseminados no campo da mídia. Entre o que se diz da voz nesse veículo informativo e em
outros campos pode existir diferenças, e interessa-nos saber quais sempre se remetem ao
sujeito da/para voz ao investigar os mecanismos de produção dos sentidos da voz numa via de
acesso analítico para a não transparência da materialidade da voz e para sua virtualidade não
evidente. Com essa perspectiva delineada, analisaremos o como e o que se diz da voz na
mídia através de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo. Para tanto, empregaremos o
aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso, norteado pela noção de unidades de
discurso oriunda da arqueologia foucaultiana, em três matérias midiáticas, Adeus voz
(Estadão, 2012), Voz da Alma (RollingStone, 2012) e A voz de Cássia (Folha de S. Paulo,
2015), que apontam para a voz.
Portanto, trata-se, como se verifica na breve exposição dos capítulos desta obra, de
uma investigação dos sentidos acerca da voz em diferentes campos do saber humano
viabilizada pela Análise do Discurso, prioritariamente pela noção-conceito de unidades de
discurso, pois em todos os capítulos o fio conduzido pelo exame dos sentidos e significados
adquiridos por voz é tecido pelas unidades de discurso que aqui tomam a voz como um núcleo
discursivo. Diante dessa possibilidade de interpretar os múltiplos sentidos de voz nos diversos
espaços de saber, como Oratória, Filosofia, Psicanálise e mídia, arcamos com o ônus de
entregar ao leitor um conjunto organizado de projetos de pesquisa ainda em andamento e, com
isso, deixamos o bônus das melhores extrações de sentidos para os empregos da voz ou
mesmo continuidade desses projetos que carecem de mais verticalidade. Em vista disso, cabe
ao leitor fazer o melhor uso possível do bônus que lhe é ofertado.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Considerações iniciais
Aqui não nos imporemos uma busca minuciosa nessa esfera de saber que se concentra
nos efetivos dizeres acerca da voz. Não obstante, as inferências, as implicações e as
pressuposições podem também ser mobilizadas para colhermos informações menos explícitas
sobre a voz, porquanto no não-dito reside muitas vezes o já-lá das relações de sentido. Em
vista disso, antecipamo-nos a uma fundamental reflexão com relação à voz: “Voz é metáfora
da expressão. Quer ser aqui um pensamento que adquira sua expressão (não concordância,
nem mero acordo), pela sensibilização das palavras pela voz” (TIBURI, 2016, p. 47- 48). Por
ser algo concebido e não dado, a voz, é produzida e se constitui como expressão no campo
político devido à interrelação que ela permite estabelecer entre sujeitos.
A voz como metáfora viva, apontada acima, é um dos contundentes indícios de que o
dizer sobre a voz pode ultrapassar fronteiras estabelecidas, permanecendo ou sendo refutado,
seja em áreas legitimadas do saber, seja no discurso sobre as vozes de celebridades midiáticas
(SOARES, 2018). Em decorrência disso, ter sentidos vinculados à voz, em certa medida,
manifestos na oratória não redunda no fato de serem explicitamente os mesmos fora dessa
esfera. Resta-nos, portanto, descrever, compreender e interpretar quais são os virtuais efeitos
de sentido de voz presentes como regularidades e ausentes como diferenças, ou mesmo
1Este capítulo resulta de uma série de modificações no artigo “Sentidos da voz: uma análise das unidades de
discurso presentes no campo da oratória” publicado na Revista Humanidades e Inovação v.6, n.8, 2019.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Diante do exposto, deparamo-nos com a voz, ou melhor, com os dizeres acerca da voz
em um campo, agora nosso objeto de estudo, segundo o qual é passível de compor unidades
do discurso. Ora, isso se refere, entre outras coisas, aos nossos objetivos de verificar a
existência de conservação e/ou de apagamento de unidades do discurso nos enunciados a
respeito da voz na oratória, porquanto pouco se investigou acerca do modo como o sujeito é
visto/projetado pela voz e como os dizeres dessa podem instaurar um projeto mais ou menos
flexível na relação de forças sociais. Por serem concebidas como não lineares e sim dispersas,
não dadas a priori em conformidade com rótulos institucionais ou campos disciplinares do
saber, as unidades do discurso têm plasticidade o suficiente para serem investigadas de acordo
com critérios não apenas de semelhanças e de afinidades.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Pombo (2016, p. 25-27), diante dos múltiplos segmentos do mercado atual para o qual
se vende a arte da eloquência, apresenta a oratória como subdividida em gêneros: “a sacra, a
política, a jurídica, a militar, a acadêmica, a empresarial, a panegírica, a artística, a esportiva,
a jornalística, a comercial, a didática, a parlamentar e a festiva”. No entanto, quando recuamos
no tempo e no espaço, observamos a oratória como um conjunto de técnicas vocais
empregadas na persuasão e no convencimento do público por parte do orador. Para Isócrates,
a oratória “é a arte da persuasão” (QUINTILIANO, 2015, p. 325) e para Areu “consiste em
emitir o discurso com a excelência da expressão” (QUINTILIANO, 2015, p. 341). Quer dizer,
então, que a persuasão não está distante de outros métodos a partir dos quais é possível
convencer. Deste ponto de vista, é necessário perceber a articulação possível da oratória com
outras áreas. Já a excelência de expressão pode ser tomada em diversas acepções como, por
exemplo, a clareza da pronúncia de unidades lexicais, bem como pode ser tomada como a
exteriorização de um raciocínio límpido cujos objetivos sejam também trazer o interlocutor
para próximo de determinadas ideias. Por esse motivo, Piovezani (2015, p. 290) ressalta o
valor da vocalização do sujeito retratada nos mitos espalhados ao longo do espaço e do tempo,
reafirmando a fala como criadora da existência e da finitude; geradora da própria humanidade
do homem.
Eis a oratória apresentada como tendo sempre sido usada pelo homem e tendo, com
isso, justificado seu caráter atemporal. Sua suposta frequentação pelos oradores remonta aos
tempos helênicos nos quais os debates, as tribunas e as exposições eram realizadas em praças
públicas. Seu dito aprimoramento como um método e seu alastramento através dos tempos
reforça sua eficácia no imaginário coletivo, o que abre, no interdiscurso, margens para
interpretações. O desenvolvimento de noções de uso da voz na persuasão fundamenta os
processos oratórios sobre os quais parece pesar a distinção entre voz e fala, já que “Por voz
entende-se os sons que produzimos através da laringe. Por fala compreende-se a articulação, a
emissão dos fonemas” (SOARES; PICCOLOTTO, 1986, p. 7) que faz uso daquela como
único e exclusivo meio de expressão. É fundamental observarmos como certos traços vocais
são julgados pela oratória como essenciais para a criação de efeitos (de sentido) no
interlocutor.
− físicos: o tamanho e a forma da caixa torácica, o comprimento, grossura e textura
dos ressonadores, comprimento, grossura e densidade das cordas vocais [...].
− psicoemocionais: a voz reflete o dinamismo emocional e intelectual de um
indivíduo. Estados de tensão, medo, ansiedade, insegurança, excitação são muitas
vezes traduzidos pela voz. [...].
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
− culturais: a voz ainda reflete as normas culturais e um grupo social, assim como
sua vestimenta ou conduta. [...] (SOARES; PICCOLOTTO, 1986p. 46; aspas das
autoras).
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Tais recomendações não representam mais do que certas “verdades” de que a todos
devam/deveriam saber. Todavia, é importante destacar o fato de que independentemente das
características oratórias do sujeito o lugar de sua fala é fundamentalmente relevante para sua
recepção; o posicionamento discursivo e a formação discursiva na qual o sujeito se encontra
são determinantes para que os efeitos de sentidos produzidos a partir destes lugares sejam
compreendidos sob uma dada perspectiva discursiva. Em vista disso, as novidades
recomendativas que, em última instância, nada dizem são como estratégias de preenchimento
(PÉCORA, 1999), isto é, mecanismos de complementaridade de texto vazio. Na materialidade
do texto incide, como sabemos, a virtualidade do discurso; nesse caso os procedimentos para
uma boa emissão vocal ancoram-se no discurso social no qual habita a argumentação
aprovado pelo interlocutor. “O discurso social, nas coletivas coerência e unidade de sua
hegemonia, abarca um princípio de comunhão e de convivialidade. Ele representa a sociedade
como um conjunto inteligível e como um convivium dóxico” (ANGENOT, 2015, p. 57).
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Cabe-nos ressalvar que a voz na fala não está desvinculada da escrita. O que
pretendemos explicitar, neste ponto, é que o discurso sobre a escrita, por mais que possa ser
deixado de lado quando se trabalha a voz, jamais deixa de repercutir seus efeitos no discurso
da oratória, ou seja, treina-se aquilo que é inato, a voz na fala, e por conta de tal naturalidade é
possível concebê-la como de caráter universal. A escrita, por sua vez, é adquirida e depende
do processo de alfabetização e de certo grau de letramento para poder gerar alguma eficácia
persuasiva em um dado público; comparada à escrita, a oratória não só é muito mais potente
do que ela mesma diz sobre si, como também traz em seu interdiscurso o preconceito acerca
do registro escrito da língua e, em alguma medida, o reforça − “escrever é difícil, falar é
fácil”; “sei falar, mas não sei escrever”; “falar é fácil, difícil é escrever”.
A respeito disso, Piovezani (2016, p. 85) ratifica que “a oralidade precede a escrita e se
inscreve no espaço da natureza, ao passo que a escrita sucede a oralidade e se localiza
exclusivamente no plano da cultura. À sobreposição da cultura diante da natureza, soma-se
uma sucessão que é ascendência”. Isso implica dizer que provavelmente haja, nessas
considerações, uma cisão ainda mais profunda no seio da democracia grega e da república
romana: “uma aristocracia ilustrada e uma plebe analfabeta” (PIOVEZANI, 2016, p. 85).
A oratória, então, não seria apenas uma “boa” mediadora de espíritos, mas, ainda, uma
mediadora de desigualdades historicamente construídas. E por seu intermédio, para conseguir
alguma adesão do outro, é possível partir da doxa, mesmo que ela seja ponto de chegada: “O
homem é o animal que modula sua voz, modula o sentimento. As vozes mais moduladas, com
maior plasticidade, revelam muito de quem as emite. Vivemos numa época em que no caso da
voz, não podemos dissociar a arte da ciência” (PIOVEZANI, 2016, p. 80, negrito do autor).
Aparentemente sentimento e voz se cruzam, não sem motivo, já que a voz também se depara
com a razão e, até onde se pode observar, com tudo; a performatividade oral da emoção, tal
como a da razão, é realizada pela voz, como se fosse possível ser de outro modo. Chamar a
empiria para demonstrar aquilo que tanto busca exprimir a oratória nada mais seria do que
confirmar asserções que todos fazem ao longo da vida: na voz se encontra tanto o pathos
quanto o logos. Ainda que na oratória houvesse separações estritas dos empregos da razão e
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Assim como a retórica, a oratória se preocupa com os efeitos gerados ou, nas palavras
de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), visa “aproximar os espíritos” ou “negociar as
diferenças”. Talvez produzir um consenso, talvez fortalecer as motivações, porém, há a
certeza de que a estratégia do convencimento é posta em funcionamento tanto na retórica
quanto na oratória. A oratória, como uma prática sofística, é democratizada por meio dos
inúmeros manuais que trazem para os leitores os meios com os quais é possível atingir a
persuasão. Não sem razão, as designações características de cada espécie oratória se voltarem
para um melhor enquadramento do orador e de seus traços vocais peculiares. Segundo Santos
(1961), os tipos de oratória são:
A conductivista, que cabe aos possuidores de voz arrebatadora e forte, e que são
aptos a se tornarem líderes, condutores políticos.[...].
A romântica exige voz meiga, quase declamada. Uma capacidade de expressar com
beleza e recursos vocais afetivo se quentes. [...].
A ardente é a oratória apaixonada, cheia de calor e vibração, que é uma síntese das
duas primeiras, sem os exageros que aquelas podem ter. [...] Esta, quando pode
alcançar, sem exageros, as duas primeiras, é apanágio dos grandes oradores. [...].
A especulativa é a oratória dos que investigam teoricamente, no sentido filosófico
do termo, a dos que se dedicam à análise mais fria dos factos e das idéias. É a
oratória do conferencista, daquele que confere, daquele que examina
especulativamente alguma coisa. [...].
A poética é a oratória do declamador. É das mais difíceis, embora tão comum, pois
recitar versos ou declamá-los exige grandes dotes e muito trabalho e esforço. [...]
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Também o discurso fúnebre tem um grau de sublimidade e de poesia (p. 46-47 grifos
do autor).
Sobre essas “imperfeições linguísticas”, Santos (SANTOS, 1962, p. 72) assevera que
“um dos cuidados que se deve ter, inicialmente, na linguagem, é o de não ferir a concordância
do gênero e do número. É frequente na linguagem comum empregarem-se frases como esta:
“me dá dois café” ou: “a casa foi destruído pelo fogo”.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Há, ainda, conforme o discurso da oratória, outros desvios a partir dos quais os
oradores devem se policiar para não cometer: “O acento tônico deve ser cuidado e bem
empregado. Ex.: Caráter e caracteres têm o acento na penúltima sílaba. Alguns pronunciam
carácteres. Imaginem um orador que empregue uma tônica errada. Que efeito desagradável
pode causar!” (SANTOS, 1962, p. 72, negrito do autor). Diante disso, desenha-se o efeito que
se deve querer evitar nos interlocutores, qual seja, a imagem estereotipada do orador.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
subestimação entre os que julgam não a dominar”. (PIOVEZANI, 2016, p. 86). Disso
compreende-se porque o preconceito linguístico frequentemente escapa aos leitores e ao
público da grande mídia, que tenta encontrar um dialeto sem marcas cujas características
possam denunciar uma determinada região do país. Grosso modo, os dialetos usualmente
empregados pela mídia são o paulistano e o fluminense, ainda que lhes sejam dados um ar de
neutralidade regional. Através do “discurso da oratória”, a historicidade constitutiva desses
falares é apagada de sua espessura no imaginário coletivo, produzindo, com isso, o efeito de
uma pronúncia perfeita sem qualquer valoração negativa socialmente. Portanto, reconhecemos
a gravidade dada à voz como um bem simbólico cuja oratória é capaz de transformar quando
o objetivo é submeter e assujeitar. Corrigir é, então, necessário para se adequar. Porém, isso
ressoa unidades de discurso cujos núcleos são o estereótipo e, sua contrapartida, o
preconceito.
Nessa perspectiva, ao analisar as descrições de Santos (1962, p. 73) que afirma: "A
voz fanhosa, a voz arrastada, a voz metálica, a raspante, vozes finas, graves demais, são
sempre desagradáveis”, é possível verificarmos o índice discursivo sobre o qual repousa o
mérito (fajuto). Em outros termos, quando se assevera que, a despeito das diversas desordens
que a voz pode sofrer, sendo fanhosa, arrastada, metálica ou raspante, é possível por meio do
trabalho chegar a bons resultados em nível oratório, em última instância, trata-se dos efeitos
do discurso meritocrático servindo de ancoragem textual-argumentativa sobre a qual o
discurso da oratória emerge. A pré-construção do discurso meritocrático está instalada na
afirmação “Tais defeitos são corrigíveis pela boa vontade do leitor e pelo exercício”
(SANTOS, 1962, p. 73), a partir da qual podemos apontar para aquilo que é, portanto, uma
unidade do discurso que será alvo de exame quando das análises dos objetos midiáticos no
capítulo seguinte.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
chegar ao sucesso se tiver uma voz que desagrade, boas vozes têm maior chance de alcançar
o sucesso.
Diante disso, em conjunção ao que o discurso da oratória manifestou até então, falar
aos outros de maneira a atrair e convencer requer uma série de procedimentos, como os já
vistos, entre outros; também demanda do orador um cuidado com o ritmo de elocução das
palavras. “Em todo discurso, há um certo número de palavras que têm maior valor que outras.
Essas palavras, palavras-chaves, assinalam a ideia principal ou o sentimento, pontos de
referência em torno dos quais giram os outros termos que pretendem traduzir as ideias”
(SANTOS,1962, p. 76).
[...] Quem dissesse, em tom professoral: “No verão os dias são quentes”, provocaria
riso. Dito, porém, em tom normal, não o provocaria. [...] (SANTOS,1962, p. 76).
A cadência é importante. [...].Um discurso sempre no mesmo tom é um discurso
monótono, portanto cansativo. [...] (SANTOS,1962, p. 76-77).
Segundo o assunto, deve cuidar-se da cadência. Quem descreve uma cena rápida,
tem de aumentar o ritmo da voz, e a cadência é ascendente. Quem descreve uma
cena normal, usa a cadência direta (SANTOS,1962, p. 77).
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
agem as forças de segregação social. Ora, por mais democrática que possa se apresentar, a
instituição oratória não é alcançada por todos, talvez nem pela maioria, tornando-se, assim,
um instrumento de amplificação de poder e de ascensão social.
Considerações preliminares
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Referências
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
POMBO, Ruthe Rocha. Adeus ao medo de falar em público. São Paulo: Ideias & Letras,
2016.
POMBO, Ruthe Rocha. Arte de se expressar bem em público. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2010.
SOARES, Thiago Barbosa. Discursos do sucesso: a produção de sujeitos e sentidos do
sucesso no Brasil contemporâneo. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2017.
SOARES, Thiago Barbosa. Vozes do sucesso: uma análise dos discursos sobre os vícios e
virtudes da voz na mídia brasileira contemporânea. Tese de Doutorado (Doutorado em
Linguística). São Carlos, SP: Universidade Federal de São Carlos, 2018.
SOARES, Regina Maria Freire; PCICCOLOTTO, Léslie. Técnicas de impostação e
comunicação oral. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1986.
TIBURI, Márcia. Filosofia em comum: para ler-junto. 7 ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.
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Considerações iniciais
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Dada à complexidade com que funcionam, tais unidades só podem ser percebidas no
discurso que também é uma noção que tomamos de empréstimo de Foucault. Ele, na mesma
obra, define o discurso, a formação discursiva e as unidades de discurso, como entrelaçados
na cadeia de acontecimentos históricos. Para Foucault, o discurso é, antes de tudo, uma
prática fundada no sentido em que lhe é orientanda uma direção em conformidade ou em
desconformidade com práticas paradigmáticas em um dado período. Em vista disso, o
discurso é “um conjunto de enunciados, na medida em que se apoiem na mesma formação
discursiva” (FOUCAULT, 2012, p. 131); logo, o discurso e suas unidades encontram-se
vinculadas à organização que lhes é disposta pela formação discursiva. Para compreendermos
como as formações discursivas regulam os sentidos e colocam-nos em perspectiva dentro de
um domínio, lemos o seguinte:
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
A passagem acima, se não fosse a certeza de que pertence à própria lavra do filósofo
grego, poderia ser relacionada ao paraíso bíblico. Nela a voz atravessa o campo da física para
ser um meio de comunicação metafísico com os deuses; portanto, a efetiva noção de voz é
contemplada no mundo ideal. Em outros termos, a voz de onde habitamos não possui sua real
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Segundo a formação discursiva na qual os dizeres de Platão sobre a voz estão inseridos, o
sentido de voz é o de veículo tanto metafísico, de comunicação com as deidades, quanto sútil,
de disseminação de energia ou sentimentos. Próximo a essa concepção de voz promovedora
de sentidos em seus interlocutores, mas ao contrário de uma voz metafísica apta ao convívio
com os deuses, temos a compreensão do discípulo de Platão, Aristóteles (384-322 a. C.) em a
“Política”:
Agora é evidente que o homem, muito mais que a abelha ou outro animal gregário, é
um animal social. Como costumamos dizer, a natureza nada faz sem um propósito, e
o homem é o único entre os animais que tem o dom da fala. Na verdade, a simples
voz pode indicar a dor e o prazer, e os outros animais a possuem (sua natureza foi
desenvolvida até o ponto de ter sensações do que é doloroso ou agradável e
externalizá-las entre si), mas a fala tem finalidade de indicar o conveniente e o
nocivo, e portanto também o justo e o injusto; a característica específica do homem
em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e
do mal, do justo e do injustos e das outras qualidades morais e é a comunidade de
seres com tal sentimento que constitui a família e a cidade (ARISTÓTELES, 1985,
p. 15, grifo nosso).
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articulação das diversas modulações que essa pode adquirir segundo dadas circunstâncias.
“Eis o que quero dizer: se, por exemplo, as palavras empregadas são duras, não se deve
comunicar a mesma dureza à voz, ao rosto e às demais coisas que podem harmonizar-se”
(ARISTÓTELES, s/d, p. 187). Com isso, Aristóteles permite-nos compreender que se fala do
papel da voz como orientação para que o sujeito seja bem-sucedido em diferentes campos de
sua atuação: na expressão de emoções, no convencimento, na sedução (SOARES, 2019). Mais
explicitamente, o mundo político, jurídico, teatral, e as artes jornalísticas e religiosas, entre
outros, necessitaram e necessitam estar atentos aos usos da voz para alcançarem sucesso, pois
no interior desses universos ela tem natureza fundamentalmente performante.
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Com efeito, aquela voz ecoou e sumiu-se. Começou e findou. Ressoaram as sílabas e
passaram, a segunda após a primeira, a terceira após a segunda, e todas pela mesma
ordem, até à última, e, depois da última, o silêncio... Donde claramente ressalta que
uma criatura as pronunciou, mediante uma vibração temporal, a serviço da vossa
eterna vontade. Essas palavras transitórias anunciou-as ela, por intermédio dos
ouvidos externos, à inteligência que as compreende e cujos órgãos interiores da
audição estão dispostos para escutarem o vosso Verbo Eterno (AGOSTINHO, 1980,
p. 29, grifo nosso).
Assim, uma voz universal implica vozes particulares. Em outros termos, a voz pode
ser entendida como “Nossa pessoa é nossa consciência, que é nossa alma dotada de vontade,
imaginação, memória e inteligência” (CHAUÍ, 2009, p. 143). No interior da formação
discursiva religiosa correligionária em grande medida do pensamento antigo, então, já se
pode, em germe, identificar o início do estatuto do indivíduo, acarretando à voz um
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E é útil aqui lembrar que, como já foi dito mais acima, embora cada movimento da
glândula pareça ter sido unido pela natureza a cada um de nossos pensamentos desde
o começo de nossa vida, é possível todavia juntá-los a outros por hábito, assim como
a experiência mostra nas palavras que excitam movimentos na glândula, os quais,
segundo a instituição da natureza, representam à alma apenas os seus sons, quando
proferidas pela voz (DESCARTES, 1973, p. 247, grifo nosso).
A glândula a qual se refere o criador da dúvida metódica é a pineal que, entre outras
coisas, é, conforme a formação discursiva na qual Descartes está inscrito, responsável por
auxiliar na decodificação das experiências, como um tipo de captação da consciência. A partir
de uma estrutura simplificada da fisiologia humana, Descartes acredita ter encontrado o centro
segundo o qual a mente é instituída. Desse modo, a voz, por fazer vibrar tal glândula, exerce
poder sobre a convergência de pensamentos e seus respectivos padrões de significação. Em
outros termos, a voz, de acordo com cada situação e cada parâmetro modulatório, estabelece
as condições para a produção de sentidos. Portanto, a voz, como unidade discursiva no
interior da formação discursiva racionalista, é presumida como um veículo transmissor cuja
ação é materialmente “encontrada” na glândula pineal, centro das atividades mentais; no
entanto, Descartes, quando apresenta uma reflexão acerca do riso, demonstra a voz como
essência de uma expressão do espírito, qual seja: rir.
O riso consiste em que o sangue que procede da cavidade direita do coração pela
veia arteriosa, inflando de súbito e repetidas vezes os pulmões, faz com que o ar
neles contido seja obrigado a sair daí com impetuosidade pelo gasnete, onde forma
uma voz inarticulada e estrepitosa; e tanto os pulmões, ao se inflarem, quanto este
ar, ao sair, impelem todos os músculos do diafragma, do peito e da garganta,
mediante o que movem os do rosto que têm com eles qualquer conexão; e não é
mais que essa ação do rosto, com essa voz inarticulada e estrepitosa, que chamamos
riso (DESCARTES, 1973, p. 271, grifo nosso).
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avanços nesse direcionamento. “Como o título do livro sugere, Bacon se preocupa em ampliar
a abrangência do conhecimento e da capacidade do homem de dominar o ambiente que o
cerca” (RUSSELL, 2013, p. 293) e, com isso, a voz como unidade discursiva é recoberta
pelos sentidos de variedade, em suas possibilidades de produção, e de individualidade,
correspondente à distinção que sua singularidade faz quando do uso pelo indivíduo.
Ouço neste instante, por exemplo, a voz de uma pessoa que me é conhecida, e o som
vem como se fosse do cômodo vizinho. Essa impressão de meus sentidos conduz de
imediato meu pensamento para essa pessoa, bem como para todos os objetos que a
circundam, e eu os represento para mim como existindo neste momento com as
mesmas qualidades e relações que eu sabia possuírem anteriormente (HUME, 2004,
p. 83, grifo nosso).
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Aqui a voz serve para fabricar o cenário no qual o senso comum está totalmente à
vontade com a apreensão dos fenômenos por parte dos sentidos para constituição do sistema
cognitivo. Entretanto, Hume quer dizer com sua argumentação que “como todo conhecimento
real e certo supõe concatenação interna entre causa e efeito, segue-se que não pode existir
conhecimento dessa natureza” (ROHDEN, 2008, p. 97). Em outras palavras, “Todo nosso
saber é essencialmente indutivo, e não dedutivo, porque começa invariavelmente com fatos
individuais e concretos, e termina também com fatos dessa natureza” (ROHDEN, 2008, p. 97,
grifos do autor). Portanto, na formação discursiva empirista, o entendimento que depende das
conexões subjetivas de um indivíduo é, mesmo que aparentemente lógico, via de regra,
individual e, portanto, sujeito às vicissitudes da percepção e da consciência dessa
individualidade. Assim, a voz como unidade discursiva encontra-se, nessa formação
discursiva, voltada para sua capacidade demonstrativa dos fenômenos a ela associados,
recebendo o sentido de materialidade empírica de experiência passível de ser vivenciada por
qualquer um. Diante disso, a voz não apenas desempenha papel argumentativo de validação
de raciocínio como também enseja reflexões que lhe conduzem a outros caminhos, como, por
exemplo, ao da comunicação no estilo rousseauniano.
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realidade própria da interação humana na qual é possível um sujeito agir sobre o outro.
Todavia, ao afiançar que a voz não estando articulada pode operar quaisquer tipos de relação
ou mesmo algum efeito em seu ouvinte, extrapola-se sua potencialidade. Ainda que a voz seja
acompanhada de gestos, não há a certeza de que o processo comunicativo efetive-se, então,
entra em cena a necessidade da língua como uma instituição social (SAUSSURE, 1972).
Portanto, há na produção discursiva de Rousseau o germe dos estudos semióticos da
linguagem, nos quais a voz é considerada uma portadora de significados, porém, ao mesmo
tempo, a voz carece de outros meios para a produção de mensagens mais significativas entre
interlocutores, como, por exemplo, a gestualidade e, implicitamente, a fala.
Desse modo, assim como do tom é inseparável um certo grau de altura, da matéria é
inseparável um certo grau de exteriorização da Vontade. O baixo contínuo é,
portanto, na harmonia, o que no mundo é a natureza inorgânica, a massa mais bruta,
sobre a qual tudo se assenta e a partir da qual tudo se eleva e desenvolve. Ademais,
no conjunto das vozes intermediárias que produzem a harmonia e se situam entre o
baixo contínuo e a voz condutora que canta a melodia, reconheço a sequência
integral das Idéias nas quais a Vontade se objetiva. As vozes mais próximas do baixo
correspondem aos graus mais baixos, ou seja, os corpos ainda inorgânicos, porém já
se exteriorizando de diversas formas. Já as vozes mais elevadas representam os
reinos vegetal e animal (SCHOPENHAUER, 2005, 339-340, grifo nosso).
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Não é sem razão que a voz ganha uma posição inusitada na produção discursiva de
Schopenhauer, pois para ele a vontade consegue abarcar a voz de tal maneira que fica nela
implícita a ideia de essência transcendental, isto é, a vontade que se manifesta na voz de cada
um é, entre outras coisas, a vontade cósmica exteriorizando-se. Portanto, a questão da “coisa
em si”, para o autor de “O mundo como Vontade e Representação”, está resolvida, porque diz
respeito fundamentalmente à vontade da qual derivam todos os fenômenos.
Consequentemente, a voz como uma unidade de discurso é revestida do sentido de vontade –
“A Vontade (com inicial maiúscula) é despropositada ou, como ele costuma dizer
“cega”’(WARBURTON, 2012, p. 15, aspas do autor) – que se relaciona com uma força
desejante por manter-se existindo e cujos contrastes podem ser percebidos como sendo a
origem da própria estética.
No excerto acima, a voz não se perde nos objetos nomeados por ela, tampouco nos
seus recortes, os fonemas e, ao mesmo tempo, guarda o sujeito como presença de si para si e
de si para o outro. A voz é a consciência que, de acordo a esta formação discursiva
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Considerações preliminares
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reflexão. Desse modo, a unidade discursiva voz recebeu em praticamente todas as obras
recenseadas o sentido de veículo de comunicação.
Referências
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Abril Cultural, 1980.
AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Trad. J. Dias Pereira. 2 ed. Lisboa: Serviço de Educação
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ARISTÓTELES. Retórica. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
BACON, Francis. O progresso do conhecimento. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Editora
UNESP, 2007.
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FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad.
Salma Tannus Muchail. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 8 edição, Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
HUME, David. Investigações sabre o entendimento humano e sabre os princípios da
moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
MEYER, Michel. A articulação fundamental do logos proposicional e a gênese do pathos. In:
ARISTÓTELES. Retórica das paixões. Trad. lsis Borges B. da Fonseca. São Paulo: Martins
Fontes, 2010.
PLATÃO. Fédon. Trad. José Cavalcante de Souza; Jorge Paleikat e João Cruz Costa. 5 ed.
São Paulo: Nova Cultural, 1991.
PLATÃO. Político. Trad. José Cavalcante de Souza; Jorge Paleikat e João Cruz Costa. 5 ed.
São Paulo: Nova Cultural, 1991.
PRADO JUNIOR, Bento. A força da voz e a violência das coisas. In: ROUSSEAU, J-J.
Ensaio sobre a origem das línguas. Trad. Fulvia M. L. Moretto. 3 ed. Campinas, SP: Editora
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ROHDEN, Humberto. Filosofia contemporânea: o drama do homem em busca da verdade
integral. São Paulo: Martin Claret, 2008.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. Trad. Fulvia M. L. Moretto.
3 ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2008.
RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-socráticos a
Wittgenstein. Trad. Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. Trad. A. Chelini, J. P. Paes e I.
Blikstein. 4 ed. São Paulo: Cultrix, 1972.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como Vontade e Representação (Tomo I). Trad. Jair
Barboza. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
SOARES, Thiago Barbosa. Sentido da voz: uma análise das unidades do discurso presentes
no campo da oratória. Revista Humanidades e Inovação v.6, n.8 - 2019. p. 269-280.
SWEETMAN, David. Religião: conceitos-chave em filosofia. Trad. Roberto Cataldo Costa.
Porto Alegre: Penso, 2013.
WARBURTON, Nigel. Uma breve história da filosofia. Trad. Rogério Bettoni. Porto Alegre:
L&PM, 2012.
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Considerações iniciais
A voz das sereias foi alvo do interesse de Ulisses, porque nela havia algo de
enlouquecedor. A voz é um dos caminhos através do quais se chega ao outro e nele se faz
engendrar sentidos; a voz carrega grande parte da potencialidade comunicativa da espécie
humana por externar estados de espírito, sentimentos e sentidos; a voz, como Ulisses
possivelmente a percebera a ponto de querer ouvir as sereias, encontra um eco ao ser ouvida,
podendo ser esse interiorizado como uma imagem de seu produtor. Portanto, com a segurança
de estar amarrado ao mastro do navio, justifica-se a pretensão do herói da Odisseia em ouvir a
voz de seres cujo efeito pode levar à sandice. Assim, ao observamos a razão do
comportamento de Ulisses, encontramos, entre outras coisas, um desejo por compreender a
repercussão da voz e como essa pode exercer tamanho poder sobre os sujeitos.
Por serem concebidas como não lineares e sim dispersas, não dadas a priori em
conformidade com rótulos institucionais ou campos disciplinares do saber, as
unidades do discurso têm plasticidade o suficiente para serem investigadas de
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trazida à tona quando certos fenômenos de origem inconsciente são descritos, assim, faz-se o
caminho mais viável para a realização de nosso intento.
As partes das lembranças que retornam sofrem uma distorção ao serem substituídas
por imagens análogas, extraídas do momento presente - isto é, são simplesmente
distorcidas por uma substituição cronológica, e não pela formação de um substituto.
As vozes, igualmente, lembram a autocensura, como sintoma de compromisso, e o
fazem, em primeiro lugar, distorcidas em seu enunciado a ponto de se tornarem
indefinidas e de se transformarem em ameaças; e, em segundo lugar, relacionadas
não com a experiência primária, mas justamente com a desconfiança - isto é, com o
sintoma primário (FREUD, 1996, Vol. I, p. 274, grifo nosso).
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
(...) o pai entra em jogo, isso é certo, como portador da lei, como proibidor do objeto
que é a mãe. Isso, como sabemos, é fundamental, mas está totalmente fora da
questão, tal como esta é efetivamente introduzida para a criança. Sabemos que a
função do pai, o Nome-do-Pai, está ligada à proibição do incesto, mas ninguém
jamais pensou em colocar no primeiro plano do complexo de castração o fato de o
pai promulgar efetivamente a lei da proibição do incesto (LACAN, 1999, p. 193-
194).
2Em tradução livre: “A voz da mãe é, então, a primeira voz que a criança ouve. O principal para ele é a voz da
mãe e a sonorização musical de seu encorajamento, a que permanece ligado a partir de sua chegada ao mundo”.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Ainsi la voix est ce qui fait obstacle à la réalisation de l'image étouffante de la mère
dans le corps; c'est la voix en tant qu'elle est quelque part porteuse de la loi et agent
du nom du père. Por elle, se crée l'espace symbolique de la parole où vient se
précipiter le désir du sujet (VASSE, 2010, p. 69)3.
Como é possível depreender do trecho acima, a voz da mãe distingue-se da voz do pai
por ser um tipo de continuidade na qual a fala e seus elementos significantes não têm espaço
de produção contrastiva. Assim, reconhecemos que a voz como unidade de discurso no
interior da produção da Psicanálise recebe contornos diferentes conforme a formação
discursiva a qual está vinculada, porém sempre ancorada no núcleo discurso traduzido pelo
inconsciente. Tal manifestação da voz como unidade discursiva encontra-se em: “De la voz de
la madre, el niño sólo aprende a ser con, a unirse, a fusionarse e a significar la continuidad
natural. De la voz del padre, aprende a ser él mismo, a respetar la distancia e la diferencia”
(ABÉCASSIS, 2005, p. 106).4 Com isso, a unidade discursiva da voz recebe um traço
semântico peculiar, porquanto diz respeito ao seu funcionamento contrastivo na discrição dos
limites do sujeito com o mundo.
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5Em tradução livre: "A voz, a do Superego, isto é, a do pai e de todos aqueles que cumpriram essa função na
história da criança, está ligada, então, por si mesma, com a pulsão e com a proibição".
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Nisso consiste a identificação da criança com a imagem do espelho, que chega a não
poder distinguir-se dela até que seu eu consiga se desprender; nessa circunstância, a
imagem reforça a experiência da intrusão, acrescentando-lhe uma tendência estranha
que Lacan chama de a "intrusão narcísica": "a unidade que ela introduz nas
tendências contribuirá no entanto para a formação do eu. Mas, antes de afirmar sua
identidade, o eu se confunde com essa imagem que o forma, mas o aliena
primordialmente (KAUFMANN, 1996, p. 158, grifos do autor).
6É interessante tocarmos no ponto em que o registro imaginário dialoga com um dos conceitos muito criticados
em Análise do Discurso, formações imaginárias (cf. "Análise automática do discurso" de Michel Pêcheux). Diz-
se acerca dele que existe um psicologismo interpretacionista na projeção dos sujeitos no discurso, porém, ignora-
se que o psicologismo está justamente em sua descrição conceitual, não em sua aplicação metodológica, pois as
formações imaginárias estão subordinadas, em última instância, às formações discursivas, isto é, ao complexo
com dominante.
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7Em tradução livre: "A voz do pai é aquela que carrega o significante da lei mediante a qual o pai incita a
criança a conquistar seu status como sujeito".
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Na fala, portanto, parece ocorrer uma sequência ordenada de atos implicados à voz; a
sua direcionalidade é o “Outro”, índice de falta; ao ser lançada no espaço enunciativo, como
uma extensão do sujeito, sinaliza uma perda; a despeito das marcas de falta e de perda,
originárias da castração, a voz realiza uma verdadeira prática heroica, seu próprio sacrifício.
“On peut donc véritablement parler, en l'occurrence, de sacrifice: le sacrifice de la voix qu'il
convient d'accomplir pour prendre la parole” (POIZAT, 2001, p. 132)8. Diante dessa
conjuntura engendrada pelo discurso psicanalítico, é difícil negar que haja o sacrifício da voz,
pois ela está sob empenho a todo o momento e simultaneamente submete-se aos registros do
real, do simbólico e do imaginário como objeto a.
8Em tradução livre: "Podemos, portanto, realmente falar na ocorrência de sacrifício, o sacrifício de voz que deve
ser feito para tomar a fala".
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vozes materna e paterna. Sendo a partir dessa plurivocalidade que se constitui tanto o sujeito
quanto o “Outro”, a sua conservação, em maior ou menor grau, mantém-se na própria
disposição da interpretação das vozes cujo eco faz sentir no funcionamento da estrutura do
inconsciente. Por conseguinte, a voz como unidade de discurso no interior do discurso
psicanalítico significa não apenas falta, mas também um elo a partir do qual os sujeitos
conseguem produzir ecos nos outros.
"La voz es invocación, es decir, se dirige a otro, se direge a outro: implica una
alteridade, un sujeto o un individuo llamado a serlo al responder a ese llamado"
(ABÉCASSIS, 2005, p. 162)9. Com base nesta visão, a voz, participando dos três registros
psíquicos, invoca, chama e assombra o sujeito em seu funcionamento inconsciente. Para a
Psicanálise, no imaginário, a voz é o elemento da sedução e do encantamento, é o que provoca
o gozo. É a voz em suas idiossincrasias representadas no imaginário que cria traços de
identificação de mulher, de homem ou de criança. Um tanto diferente do aspecto simbólico no
qual age a interdição da voz do pai para a produção da cadeia significante; observa-se aí a
dialética segundo a qual o imaginário e o simbólico constituem a voz, de tal maneira que haja
uma indissociabilidade entre ambos para o sujeito do inconsciente.
E, no real, a voz está desprendida dos significantes, é o puro som, é o grito. Algo que
conduz a um sem sentido, uma vez que não se veicula significantes, nem mesmo
signos, é um puro som, um grito que desconcerta, sem sentido. A voz, articulada
com o real, não é o especular e imaginário campo da identificação vocal, nem
mesmo o significante campo simbólico em que a voz se empresta à fala para
veicular significantes. A voz, no real, é o que está fora da cadeia, é o grito, que
coloca a dimensão do impossível, do puro som, do canto estridente da soprano que
foge da transmissão da palavra e da fala. É o gozo do objeto pulsional que engendra
a pulsão invocante, da qual a voz é o seu objeto. A voz real é também aquela do
delírio psicótico, em que, uma vez não simbolizada, retorna no real alucinatório da
voz do pai (MALISKA, 2008, p. 163).
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lembramo-nos da Odisseia quando Ulisses faz um enorme esforço para ouvir a voz das
sereias.
Considerações preliminares
Por meio das noções de discurso, formação discursiva e unidade de discurso, oriundas
da arqueologia foucaultiana, conseguimos aferir alguns dos sentidos que a voz como unidade
do discurso psicanalítico adquiriu em sua constituição significativa. A voz como uma unidade
de discurso foi percebida como condutora externa e interna, pois é responsável por transmitir
algo a alguém e também comunicar conteúdos inconscientes à consciência. A voz como
unidade de discurso também foi tomada como cuidado (inicial) advindo da relação da mãe
para com seu filho ou filha. A voz foi empregada como um tipo de metáfora para explicar um
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
projeto de lei segundo o qual o inconsciente precisa modelar-se, de maneira que a voz passe a
ser um tipo de eco de uma organização tanto social quanto psicológica do sujeito.
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Referências
ABÉCASSIS, Janine. La voz del padre. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2005.
FREUD, Sigmund. Histeria. In: FREUD, S. Obras Completas de Sigmund Freud: Edição
Standart brasileira (Vol. I). Trad. José Octávio de A. Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Observações adicionais sobre neuropsicoses de defesa. In: FREUD, S.
Obras Completas de Sigmund Freud: Edição Standart brasileira (Vol. III). Trad. José
Octávio de A. Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. (β) Sonho sobre a morte de pessoas queridas. In: FREUD, S. Obras
Completas de Sigmund Freud: Edição Standart brasileira (Vol. IV). Trad. José Octávio de A.
Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 8 ed. Rio de
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JORGE, Marco Antonio Coutinho. Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan (Vol. I).
5ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
KAUFMANN, Pierre. Dicionário enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud e Lacan.
Trad. Vera Ribeiro e Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.
MALISKA, Maurício Eugênio. A voz e o ritmo nas suas relações com o inconsciente. (Tese
Doutorado), de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis-SC, Fevereiro de 2008.
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Considerações iniciais
A voz excita o ouvido e traz o auditório para próximo de quem fala ou canta. Era
assim nos tempos da Grécia Antiga na qual a ágora era usada para tratar dos assuntos públicos
ou mesmo para a encenação de peças teatrais. É assim nos tempos hodiernos quando a voz é
empregada para dizer a um número expressivo de pessoas ou mesmo para entreter a quem
deseja esse tipo de passatempo. Nesse contexto atual, a mídia é um amplificador não apenas
do entretenimento, como também dos viabilizadores de muitos discursos que tanto trazem a
voz para lhe dar algum destaque quanto para ratificar os sentidos do discurso do sucesso
midiático. “Em vista disso, temos, então, um discurso do sucesso midiático e um discurso do
sucesso de autoajuda, ambos regulados por seus respectivos mercados, por formações
discursivas e pela formação social e ideológica as quais estão vinculados” (SOARES, 2018, p.
169).
Como nosso objetivo é compreender os sentidos da voz e como esses são produzidos e
disseminados no campo da mídia, verificaremos, a partir de como a voz é tratada, usada e
representada em três matérias midiáticas, Adeus voz (Estadão, 2012), Voz da Alma
(RollingStone, 2012) e A voz de Cássia (Folha de S. Paulo, 2015), que apontam para a voz,
tracejando, assim, um possível caminho acerca da voz como unidade de discurso. Para
alcançarmos nosso objetivo, faremos o emprego do aparato teórico-metodológico da Análise
do Discurso, sobretudo da noção de unidades de discurso oriunda da arqueologia foucaultiana.
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A partir dessa ótica segundo a qual o funcionamento do discurso dá-se por uma
dispersão no interior dos meios de produção de sentidos no circuito social, então, as unidades
de discurso consistem em núcleos arregimentadores de significados localizados em
determinadas formações discursivas. Assim, para investigação dessas unidades discursivas é
necessária a não linearização dos enunciados e, consequentemente, a extração de sua
dispersão em conformidade a uma estrutura ou campos disciplinares do saber, “as unidades do
discurso têm plasticidade o suficiente para serem investigadas de acordo com critérios não
apenas de semelhanças e de afinidades” (SOARES, 2019, p. 270). Portanto, o uso
interpretativo das unidades de discurso alinha-se ao escopo presente no trajeto investigativo
deste artigo.
É, então, dentro do enfoque dado pela produtiva relação qualitativa entre discurso,
formação discursiva e unidade de discurso que procedemos ao rastreamento da voz como
unidade do discurso midiático. Em outros termos, empregamos tanto a compreensão de
discurso, como uma prática engendrada de seu sentido pelas relações dos enunciados
veiculados no circuito social, quanto a de formação discursiva, a consolidação de
regularidades em meio a dispersão dos discursos, bem como a de unidade de discurso,
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Adeus voz
Whitney Houston, a mulher que mudou o canto na música pop, morre aos 48 anos
O recorte acima descreve a voz como uma forma de acesso aos outros e,
consequentemente, uma forma de entretenimento, pois a voz cujo alvo midiático tem em sua
mira é uma personalidade construída pela própria indústria de entretenimento musical,
Whitney Houston. Apontar para esse fato não é desconsiderar as qualidades vocais da cantora
ou mesmo obliterar seu talento, antes, é descrever um processo por meio do qual as
celebridades são produzidas no interior do discurso midiático para serem vendidas como
objetos. Pois, nesse sentido, “O sucesso midiático recobre a voz de sua aura, enaltecendo-a e,
ao mesmo tempo, elevando-a a uma altura superior em relação às vozes comuns” (SOARES,
2020, p. 61). Ao trazermos essa constituição do discurso midiático no qual a voz recebe suas
“características”, como em “vozes de sua geração”, “backing vocal de Aretha Franklin” e “O
vozeirão impecável”, é possível asseverar que a voz como unidade de sentido é traduzida por
uma distinção das demais vozes. Cabe também ressaltar, mesmo que de forma superficial, que
essas estruturas enunciativas, difundidas pelo discurso midiático produz “marcas de sentidos
as quais estabelecem também o padrão estético da escuta”. (SOARES; BOUCHER, 2020, p.
105).
59
Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
No seguinte trecho “Ela lapidou sua voz desde cedo, cantando em corais da igreja e
ocasionalmente subindo ao palco com sua mãe”, a prova do mérito das características da
ferramenta de trabalho é apresentada. A voz como unidade de discurso do sucesso recebe da
formação discursiva meritocrática a fundamentação para que siga, persista e dissemine-se o
sucesso da voz de Whitney Houston. Portanto, as forças que compõem a voz como unidade do
discurso do sucesso, sobretudo na matéria focalizada ensejam o apagamento das vozes sem
sucesso midiático. “Por ser tomada pela mídia, como um objeto sutil, sobretudo no âmbito
musical, não é possível ver-lhe tal dimensão” (SOARES, 2020, p. 57). A voz da qual se fala
na mídia é a voz de sucesso e sua antípoda é a voz de não-sucesso, ou seja, a voz da maioria.
Como se verifica também na matéria a seguir.
Voz da Alma
Art Garfunkel tem um dos melhores instrumentos do rock – a voz. O que ele faria se
a perdesse?
Art Garfunkel inclina a cabeça levemente para trás e inspira rapidamente. Então,
canta o refrão de sua gravação mais famosa e bem-sucedida, o single número 1 da
dupla Simon and Garfunkel, “Bridge Over Troubled Water”. A voz é inconfundível:
quente e elegante em sua fluidez lenta, etérea, assim como as pequenas e notáveis
imperfeições – bordas ásperas, um tom momentaneamente oscilante –, enquanto
Garfunkel pronuncia a palavra “bridge” e rola pela queda suave de “troubled water”.
“Ouviu esses estalos?”, ele pergunta, sentado no minúsculo escritório na cobertura
de seu apartamento no Upper East Side, Nova York. “A extensão média perdeu a
finesse, e não consigo segurar meus tons de forma tão verdadeira e habilidosa.” Os
altos e baixos do alcance vocal de Garfunkel – um contratenor, agudo e brilhante,
com um alcance de barítono anormalmente rico – não importam, ele acrescenta, e
promete: “Com muito aquecimento, posso ter essa finesse de volta, mas não é fácil”.
(...)
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
“Nunca tive problema algum”, Garfunkel conta. “Minha voz é confiável. Sabe as
inseguranças que você tem quando entra em uma sala cheia de desconhecidos?
Nesse momento, eu canto.” No entanto, com a paresia, pela primeira vez na vida ele
foi forçado a confrontar “aquela praga de ideia – ‘será que ela desapareceu para
sempre?’”
Cinco dias depois desta entrevista, Garfunkel faria seu primeiro show completo em
dois anos e meio em Williamstown, Massachusetts – o prelúdio para uma nova turnê
solo. Em agosto, lançou The Singer, uma antologia com dois CDs que combina
alguns momentos de sua história com Simon and Garfunkel e seu melhor material
solo das últimas quatro décadas. The Singer também inclui as primeiras gravações
de Garfunkel em estúdio desde seu diagnóstico – as baladas românticas “Lena” e
“Long Way Home”, gravadas este ano em Los Angeles. “Ele claramente tinha um ar
de gratidão, de que sua voz realmente estava voltando”, conta a cantora e
compositora Maia Sharp, que produziu as novas faixas. “Sua extensão média
definitivamente é a parte mais lenta a voltar. Se a melodia ficasse nessa região, ele
precisava de mais tentativas.” Maia observa que Garfunkel ficou “agradavelmente
surpreso” enquanto ouvia seu desempenho em uma das músicas, “porque se
lembrava de como a experiência tinha sido difícil”.
A “Voz da Alma” é a matéria de toda a nossa investigação cuja voz é mais citada: onze
vezes o sintagma voz é mencionado no texto integral. Razão pela qual se encontra com
poucos recortes os parágrafos do artigo acima. Portanto, aqui não enveredemos em uma
análise exaustiva de cada trecho no qual aparece a voz, mas, antes, analisamos os dizeres
acerca da voz que constituem a unidade de discurso da voz e como certas formações
discursivas integram tal unidade e, sobretudo, levando em consideração a produção de
tamanha referência textual à voz de um sujeito do sucesso midiático. Uma questão se impõe
às onzes menções da voz: quais as circunstâncias responsáveis pelo avivamento da questão
vocal no interior do discurso do sucesso? Tal indagação tem sua resposta na “Voz da Alma”, a
qual, por sua vez, vai ao encontro da hipótese de Piovezani (2011; 2014) segundo a qual os
discursos sobre a e em defesa da voz surgem mais frequente e intensamente quando ela se
encontra real ou imaginariamente ameaçada.
Pela voz, sabemos ou intuímos a idade, o sexo, o estrato social, a pertença regional,
o investimento volitivo, a caracterização do enunciador e certa orientação
argumentativa em seu enunciado. Ora a ordem do discurso, que controla o dito e as
formas do dizer, certamente há de controlar as modulações vocais mediante as quais
esse dito/dizer ganha corpo e faz sentido (PIOVEZANI, 2011, p. 172).
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
A voz (da alma) de Art Garfunkel tem em suas aparições apreciativas a retomada do
fio do discurso conservador e meritocrático (SOARES; BOUCHER, 2020), da forja
discursiva do sucesso midiático e, sobretudo, do discurso sobre os perigos da voz “mais ou
menos extraordinária”. O filtro da voz do cantor é impresso no discurso para seus ouvintes a
captarem tal como na descrição; o congelamento das estruturas de poder incidentes nesses
dizeres arregimenta seu caráter “mais ou menos extraordinário”, isto é, a fama, o prestígio e o
sucesso de que a voz goza no espaço midiático. Em a “voz da alma”, a voz como unidade do
discurso midiático do sucesso recebe as condições favoráveis para a materialização do
discurso sobre a voz de sucesso, de modo a (auto)promover-lhe, ancorado nos riscos da perda
da voz. Portanto, assim como os sentidos e os sujeitos são erigidos simultaneamente
(ORLANDI, 2012), a voz de Art Garfunkel é discursivizada, dados seus atributos “quase”
corrompidos, como “a voz do sucesso”.
Disso é possível depreender que a voz como unidade de discurso sofre o impacto das
forças presentes na sociedade, de maneira a não estar isenta tanto de ser objeto de consumo
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
quanto de ser índice de distinção. Assim, a voz como unidade do discurso do sucesso
midiático engendra significados que ratificam o sucesso veiculado pelos mais variados meios
de comunicação e, ao mesmo tempo, constroem-se sob a formação discursiva meritocrática.
“Em outros termos, faz-se dos sujeitos do sucesso representantes legítimos das inclinações do
povo, ao mesmo tempo em que esse é manipulado direta e indiretamente pela influência
daqueles” (SOARES, 2020, p. 58). Entretanto, a voz como unidade de sentido pode adquirir
mais densidade, como é possível verificar adiante.
A voz de Cássia
Gravação simples é retrato de grande artista quando jovem
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Considerações preliminares
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
Em razão disso, foi possível depreender tanto de Adeus voz (Estadão, 2012) quanto de
Voz da Alma (RollingStone, 2012) a produção de predicados ratificadores do sucesso
adquirido pelos cantores, de maneira a expressar uma configuração discursiva segundo a qual
o discurso do sucesso midiático tem de, para além de expor seus sujeitos, chancelar seus
fazeres e, com isso, legitimar o sucesso alcançado. Nessa perspectiva discursiva, a voz como
unidade do discurso midiático de sucesso é empregada como uma ferramenta de trabalho a
partir da qual se pode atingir um grau máximo de produtividade quando se chega ao maior
destaque social, isto é, quando os holofotes e os microfones, para não dizer das matérias de
jornais e revistas, são um meio de visibilidade constante e contínua.
Referências
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 8 edição, Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
FRICKE, David. Voz da Alma. Rolling Stone, [S. l.], 12 Nov. 2012. Disponível
em: https://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-74/voz-da-alma/.Acesso em: 07 Fev. 2021.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
MONTEIRO, Karla. A voz de Cássia. Folha de São Paulo, E1. Ilustrada, domingo, 18 jan.
2015. Disponível em: http://feeds.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/204463-a-voz-de-
cassia.shtml. Acesso em: 07 Fev. 2021.
NASCIMENTO, Roberto. Adeus Voz. Estadão, Caderno 2 pág. 34, 13 Fev. 2012. Disponível
em: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20120213-43217-nac-34-cd2-d1-not. Acesso em:
07 Fev. 2021.
ORLANDI, Eni. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. 4 ed. Campinas, SP:
Pontes Editores, 2012.
PIOVEZANI, Carlos. Usos e sentidos da voz no discurso político eleitoral brasileiro. Alfa.
2011; 55(1):163-176. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4172.
Acesso em: 07 Fev. 2021.
PIOVEZANI, Carlos. Discursos da imprensa brasileira sobre a voz de Lula. In: Filologia e
Linguística Portuguesa, Brasil, v. 16, n. 2, p. 311-329, dec. 2014. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/flp/article/view/80830 Acesso em: 07 Fev. 2021.
SOARES, Thiago Barbosa. Sucesso: discursos contemporâneos de capitalização dos sujeitos.
In: SOARES, Thiago Barbosa. (org.). Múltiplas perspectivas em Análise do Discurso:
objetos variados. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2018.
SOARES, Thiago Barbosa. Sentido da voz: uma análise das unidades do discurso presentes
no campo da oratória. Revista Humanidades e Inovação. v.6, n.8 - 2019. p. 269-280.
Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/929.
Acesso em: 07 Fev. 2021.
SOARES, Thiago Barbosa; BOUCHER, Damião Francisco. A estética do sucesso vocal:
discursos engendrados na construção de vozes de sucesso midiático. Anuário de Literatura,
Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 101-118, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/2175-7917.2020v25n2p101. Acesso
em: 07 Fev. 2021.
SOARES, Thiago Barbosa. Composição discursiva do sucesso: efeitos materiais no uso da
língua. Brasília: EDUFT, 2020.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
O artigo “Uma análise dos dizeres sobre a voz de sucesso midiático” (SOARES,
2020)10, que recomendamos fortemente a quem se interessa por questões de mídia e discurso,
10SOARES, T. B. Uma análise dos dizeres sobre a voz de sucesso midiático. Cadernos de Estudos
Linguísticos, Campinas, SP, v. 62, n. 00, p. e020016, 2020. DOI: 10.20396/cel.v62i0.8654477. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8654477. Acesso em: 15 fev. 2021.
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Sentidos da voz: usos na oratória, na filosofia, na psicanálise e na mídia
trata diretamente da ligação entre a voz e seu sucesso nos meios de comunicação midiáticos
contemporâneos. Nele se verifica que “a voz, a música e o sujeito do sucesso constituem as
bases de mecanismos de propagação do comércio de artefatos culturais, as vozes do sucesso”.
Isso quer dizer, entre outras coisas, que os usos e empregos da voz na mídia são ainda mais
amplos e possuem muito mais significados do que pudemos extrair com nossa investigação, e
que os estudos sobre os dizeres sobre as vozes circulantes na mídia continuam em andamento,
de modo a termos com isso mais fontes para cruzarmos nossos resultados aqui obtidos.
Em vista do que foi dito anteriormente e do que não conseguiremos ainda dizer,
tentamos costurar os múltiplos tecidos que atravessam os textos que abordam a voz na
Oratória, na Filosofia, na Psicanálise e na mídia por meio da noção de unidades de discurso
voltada para o rastreamento dos sentidos e significados dos usos da voz nesses campos de
conhecimento de forma um tanto quanto inicial. Tanto por isso quanto pelo método do qual
fizemos emprego, acreditamos que existam algumas imperfeições para serem sanadas em
outros estudos mais profundos e mais rigorosos. Portanto, não nos cabe pedidos de desculpa
pelas irregularidades do percurso aqui trilhado, antes, ajusta-se à oportunidade do momento os
mais sinceros agradecimentos aos que contribuíram para a realização deste empreendimento
e, sobretudo, à generosidade do leitor que chega ao término desta obra com condições de
sobrepujá-la em seus meandros de pesquisa: Oratória, Filosofia, Psicanálise e mídia.
69
SOBRE O AUTOR
70
ÍNDICE REMISSIVO
comunicação........................................................7, 20, 22, 24, 25, 28, 29, 30, 31, 36, 39, 41, 64, 68, 70
Discurso...6, 7, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 33, 34,
35, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62,
63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71
discursos..........................................................7, 8, 12, 24, 25, 26, 27, 40, 45, 57, 58, 59, 62, 63, 66, 67
Filosofia...............................................1, 2, 6, 8, 9, 10, 25, 26, 27, 28, 29, 39, 40, 41, 42, 68, 69, 70, 71
FOUCAULT.............................................9, 10, 13, 23, 24, 26, 27, 40, 42, 43, 44, 54, 56, 57, 58, 65, 66
ícone-índice-símbolo..............................................................................................................................8
Mídia........................................................1, 2, 6, 8, 10, 15, 21, 24, 25, 57, 59, 61, 65, 66, 68, 69, 70, 71
narrativa..........................................................................................................................................46, 54
oralidade.........................................................................................................................................17, 20
Oratória 1, 2, 6, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 30, 31, 42, 43, 56, 57, 67,
68, 69, 70
Psicanálise......................................1, 2, 6, 7, 8, 10, 43, 44, 45, 48, 49, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 68, 69, 70
sentidos 1, 2, 7, 8, 9, 10, 12, 13, 16, 18, 22, 25, 26, 27, 29, 30, 33, 35, 36, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 49, 51,
54, 55, 57, 58, 59, 60, 63, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71
social 5, 7, 8, 12, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 23, 24, 27, 29, 30, 31, 34, 37, 41, 44, 48, 55, 57, 58, 59, 60, 62,
63, 65, 66, 68, 69
Teoria Literária.......................................................................................................................................7
voz..1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31,
32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58,
59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71
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