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PentagramA

2004 número 5
Revista bimestral do
Lectorium Rosicrucianum

PARA QUE LADO?

O MUNDO EM QUE VIVEMOS – o microcosmo em que vivemos

PERGUNTAS

A GNOSIS É A PRÓPRIA SIMPLICIDADE

A DOR OU A ALEGRIA DAS EXPERIÊNCIAS

A MISSÃO E A MAGIA DA ARTE

SOMOS LIVRES?
PENTAGRAMA

TEMA DESTE NÚMERO: ÍNDICE

2 INTRODUÇÃO

Somos livres? 3 PARA QUE LADO?

6 O MUNDO EM QUE
VIVEMOS – O MICROCOSMO
EM QUE VIVEMOS
Cada ser humano depende de radiações
12 PERGUNTAS
e forças eletromagnéticas que formam sua
16 A GNOSIS É A PRÓPRIA
personalidade, sua sociedade, seu mundo SIMPLICIDADE

e até mesmo todo o cosmo. 26 A DOR OU A ALEGRIA


DAS EXPERIÊNCIAS

32 A MISSÃO E A MAGIA
DA ARTE

38 SOMOS LIVRES?

ANO 26
NÚMERO 5
Introdução

Em maio de 2004, no Lar Catharose ao mesmo tempo, sermos bem suce-


de Petri, em Caux, Suíça, foi realiza- didos no mundo e na sociedade?
da uma conferência destinada ao Resumindo: como deve um jovem
grupo internacional de jovens alunos conciliar todas essas mudanças, ine-
do Lectorium Rosicrucianum. Mais rentes a essa fase da vida, com o disci-
de quatrocentos jovens, vindos de pulado de uma Escola Espiritual
toda Europa (dezessete nacionalida- gnóstica?
des estavam ali representadas), en- A Redação alegra-se muito pelo fa-
contraram-se naquele local de confe- to de poder reproduzir na revista
rências acima do lago de Genebra. Pentagrama as quatro alocuções reali-
Formando um grupo atento, cada zadas nessa conferência pela Direção
qual pôde, individualmente, refletir Espiritual Internacional, de modo que
sobre como projetar o futuro, a fim de um círculo mais amplo de pessoas
colocá-lo na luz e na força da vida possa delas tomar conhecimento. A
universal. presente edição também traz algumas
perguntas e respostas, surgidas duran-
te as reuniões, escolhidas em função
I sso é possível? Que resultados deve- de seu interesse universal. Elas se diri-
mos esperar? É possível voltarmo-nos gem àqueles que buscam o caminho
para a senda de libertação da alma e, da vida superior da nova alma.

Lar Catharose
de Petri em Caux,
Suíça. Foto © Pen-
tagrama.

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Para que lado?

Encostado à parede rochosa, o jovem senão uma alma afligida, entravada em


diz a seu amigo: “Apesar de todo o seu suas engrenagens, tendências, gostos
entusiasmo, ao atravessarmos esta re- pessoais, temores, preocupações, a
gião, acabamos perturbando seu silên- violência dos instintos e tudo mais;
cio”. O amigo, um pouco mais velho, isso, sem falar do inconsciente coleti-
lança um olhar hesitante sobre o abis- vo. Penso também nessas assim cha-
mo que se abre a seus pés, olhando madas “almas livres” que estão
depois para a impressionante massa sujeitas às influências das manchas
rochosa que se ergue para o céu, a per- solares e das fases da lua, caindo, por
der de vista: “Que grandiosas, que vezes, na loucura.
esplêndidas são estas montanhas! Elas – É verdade. A alma está aprisiona-
são como um símbolo da eternidade!” da. Mas ela pode se desligar de tudo. A
consciência pode se reerguer e explo-
rar o horizonte sem fim, tudo sondar
O jovem retrucou ao colocar a com um olhar de águia, elevar-se em
mochila no chão: compreensão. Assim, ela se liberta.
– Pessoalmente, eu acho que elas O jovem concorda:
representam muito mais o sofrimento – Isso também me parece certo,
da terra, responde o jovem, colocando mas, ao mesmo tempo, inacessível.
sua mochila às costas. Pode a consciência transpor os limites
– Ó, não! replica o amigo. Elas são do espaço e do tempo, transpor os
a morada dos deuses. Tudo que vive limites do bem e do mal? É possível
aspira a elevar-se. Elas são mais um atravessar a vida sem criar ligações e
símbolo de esperança, de promessa. sem cair nas ciladas?
– Não podemos ver nisso um enor- – Mas é justamente então que a
me obstáculo a esse desejo de elevação? alma pode se libertar. É aí que ela deve
– Sim, certamente, a matéria adere se decidir. Sim, ela deverá procurar o
fortemente à alma. Mas olhe lá em único bem, o divino, servi-lo, protegê-
cima, o cume. Ali termina a matéria e lo, ofertar-se a ele totalmente.
começa a liberdade da alma. Não é – Mas, como pode uma consciência
isso o que prometem todas as reli- entregue ao jogo das oposições chegar
giões? Essa não é a mais elevada espe- a isso? Uma consciência que pertence
rança, senão a única? a um mundo onde as formas nascem e
O jovem esfrega a testa: morrem, onde nada é eterno?
– Para mim, isso não é tão simples, – Você vê apenas o exterior das coi-
diz vagarosamente. Uma alma livre – sas. A eternidade está no homem; e
o que poderia ser isso? Poderíamos somente ele pode dar ao instante uma
dizer que é uma fórmula tirada de um duração, um sentido, uma história. Ele
dicionário filosófico. Eu não conheço possui uma memória. Ele pode ver

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distante no passado e fazer projetos vencer meu egocentrismo mediante a
para o futuro. Ele criou as obras de aspiração ao bem, ou seja, querendo o
arte que resistem ao tempo. Ele revela bem dos outros.
o espírito na matéria. Estas montanhas O jovem se levanta de um salto
são o símbolo da perenidade do espí- enérgico e em seguida se volta para seu
rito divino no homem. amigo; e recomeça:
Em silêncio, os dois contemplam os – Compreendo perfeitamente. Eu
cimos inundados de luz. mesmo tenho seguidamente refletido
O jovem recomeça: sobre essas questões, mas isso não me
– A consciência tem o poder de es- satisfaz. De certa maneira, o pensa-
tabelecer ligações magnéticas. Ela tem mento de viver eternamente me assus-
a capacidade de reter os acontecimen- ta. Mesmo que eu fosse, por assim
tos passados e de anular a imperma- dizer, tão puro quanto o diamante,
nência das coisas. É mesmo provável mesmo que meu eu se reduzisse a um
que a alma possa desenvolver-se a pon- ponto minúsculo, ele não deixaria de
to de sobreviver à morte... de elevar-se ser uma anomalia perturbando o livre
acima do espaço e tempo, e dispor de curso da natureza e, a partir daí, o
uma compreensão livre da matéria. equilíbrio universal. Não continua
Novamente faz-se silêncio. O sol sempre em nós uma tendência a
atinge o zênite e recobre as florestas, adquirir, conservar, reter? E não ape-
os prados, as casas, numa confusão de nas os bens materiais, mas também o
sombra e de luz. saber, os conhecimentos, os métodos,
– A humanidade sonha em possuir as técnicas, em suma, tudo o que nos
uma consciência que consiga elevar-se séculos passados elevou o homem à
acima dos picos da vida terrestre, que condição de semi-deus. Certamente,
possa penetrar na oficina da natureza ele pode chegar a possuir um poder
para aí aprender as leis da vida e da incrível. Talvez tornar-se eterno,
morte, que possa, enfim, penetrar o mesmo. Mas, então, ele será apenas
domínio das causas e elevar-se até a um pico isolado projetando-se sobre a
fonte do comportamento humano… vida que palpita no sopé da montanha.
Uma consciência livre poderia intervir Ele será como uma pedra comemora-
no curso dos acontecimentos e provo- tiva do instinto de autoconservação,
car outros encadeamentos dos fatos. um troféu impressionante, porém
– Ah, se estas montanhas não exis- desesperado, com as conquistas da
tissem!, diz o jovem. força-eu.
– Não compreendo você. – Não. Eu não vejo as coisas desse
– Mesmo que você estivesse no to- modo. Um eu como esse irradiaria
po, sua visão permaneceria limitada. sobre o mundo. Sua consciência abar-
O que nos impede de ver a verdade? É caria tudo. Seus pensamentos tudo
a confusão de nossos pensamentos, penetrariam e tudo iluminariam, ob-
devido a nossas inclinações e outras servando as leis eternas.
tendências bem ocultas. É o dragão, – Sim, você está muito seguro de si!,
no fundo da caverna, que vigia seu te- diz o jovem, rindo. Um titã! Isso é o
souro! que você é. Eu, porém, não pertenço à
– Oh! Essas são imagens caducas. A mesma raça. Tenho sempre a impres-
humanidade evoluiu. Nós desenvol- são de que alguma coisa se oculta em
vemos uma autoconsciência. Posso mim. Eu espero algo como um mila-

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gre, ser atingido por um clarão que me um ponto de apoio e uma alavan-
fará brotar impiedosamente a luz em ca e levantarei o mundo”. Também foi
minha noite interior, revelando o que dito que “a fé remove montanhas”.
sempre se subtrai à minha vista. Talvez, até mesmo as faça desaparecer.
Balançando a cabeça, ele olha para Isso não é grandioso? Onde se encon-
seu amigo e recomeça: tra esse lugar de Arquimedes? Fora do
– Isso pode parecer absurdo, mas já mundo? Onde existe semelhante fé?
há muito tempo sinto o desejo de per- Finalmente, chega o momento de os
der a mim mesmo. Isso não é contrá- dois jovens se separarem. O mais
rio a toda lógica? Demolir a casa e velho recoloca sua mochila nas costas
substituí-la por algo totalmente no- e se afasta. Ele vai escalar os cimos, em
vo… claro, puro, sutil. Como posso direção à plenitude de seu encontro
me expressar? Uma obra que nenhum com o Universo. O mais jovem senta-
artista realizou ainda, que palavra se e contempla o vale sombrio. Ele
alguma pode descrever, tão intensa pensa que, sem dúvida, existem outros
como o silêncio destas montanhas. que meditam sobre montanhas, eter-
Como o brilho destes cimos nevados nidade e fé; que querem perder-se a si
que você contempla agora. Mesmo mesmos. Em conjunto… quem sabe?
Paisagem com
isso ainda não é tudo. É muito mais, Esse ponto, de onde se pode “levantar
arco-íris,
sim… algo que não é deste mundo. o mundo” não se encontra talvez lá, Caspar David
Em pé, com um gesto, ele mostra as nos homens que ele irá encontrar? Friedrick, 1810.
montanhas circundantes, e continua: Pouco a pouco, as vozes da natureza Foto © Penta-
– Certa vez, Arquimedes disse: “Dê- se calam. Por fim, o silêncio o envolve. grama.

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O mundo em que vivemos –
o microcosmo em que vivemos

O que é, pois, este mundo onde va- balho da Mo-


Pr i m ei r a alocu ção

gueamos e nos admiramos com seus cidade que ainda


contrastes violentos: vida e morte, saú- se encontram
de e doença, riqueza e pobreza, bem e diante de uma
mal? E, contudo, devemos, em meio a escolha: tornar-se
tudo isso, abrir um caminho. Apesar ou não aluno.
do entusiasmo transbordante, pode- Alegramo-nos
mos ver, de tempos em tempos, alguns muito com sua
de vós se retirarem, com a finalidade presença entre
de refletir sobre o sentido de todas nós nesta confe-
essas aparentes contradições. Por que rência, pois ela
os seres humanos se ocupam tanto pode representar
assim? O que significa toda essa agita- uma experiência
ção, esse frenesi? decisiva quanto à
sua vida e ao seu
futuro.
Não encontrareis nem harmonia O grupo de Jo-
nem paz se vós mesmos não solucio- vens Alunos é
nardes esse conflito incessante entre constituído por
os opostos. Hoje estais eufóricos; pessoas ao mesmo
amanhã podereis cair em depressão. tempo jovens e
Não se trata apenas de um sintoma de alunos. A juven-
um período de grande turbulência, tude é um fato.
nem de uma puberdade atrasada. Ser aluno é uma escolha que fazeis.
Num determinado momento, vivenci- Todos os jovens alunos fizeram uma
ais intensamente tudo a vossa volta, escolha consciente. Se continuardes
em outros, senti-vos como que estran- com essa escolha, não ficareis desa-
geiros sobre a terra. pontados.
Sem esse sentimento de “ser É necessário fazer uma escolha
estrangeiro” o discipulado é inútil e a consciente para dar uma direção à
Escola Espiritual nada tem a vos dizer. vida. Dentre todas as possibilidades
Por que? Porque é precisamente a par- que vos são oferecidas na vida, dentre
tir desse sentimento de incompletude todos os caminhos que se abrem dian-
que a Escola estabelece sua ligação te de vós, tornar-se aluno pode ser
com o buscador. E as questões que experimentado como sendo o Ca-
surgem trazem respostas claras e minho. Cada qual busca uma saída do
entendimento sobre o objetivo da labirinto dos sofrimentos e das triste-
existência. Temos aqui jovens do Tra- zas, do labirinto enganador, que agar-

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ra muitos pela garganta. De outra probabilidade”. O princípio de incer-
maneira, por que estariam os hospitais teza de Heisenberg1 pressupõe uma
psiquiátricos tão lotados? Por que dúvida fundamental. E a teoria da re-
tantos jovens cometeriam suicídio? latividade de Einstein pressupõe uma
Outrora, o tempo parecia passar relatividade fundamental: não há
lentamente (uma foto antiga nos dá a movimento absoluto, nem imobilida-
impressão de que o tempo assim como de absoluta. Os sistemas de coordena-
as pessoas e os carrinhos de mão estão das se movimentam uns em relação
paralisados). Hoje, temos a sensação aos outros. As galáxias se deslocam a
de que tudo é rápido e fugidio como o velocidades inconcebíveis no espaço
mercúrio. Antigamente, pensava-se interestelar, definido como um vazio
que a matéria era constituída de partí- em contínua expansão. Mas, o que de
Jovens discutindo
culas. Hoje, há evidências de que se fato se encontra em expansão? As es- em Osnabrück, Ale-
trata de “ondas”, de uma dança sem trelas nascem, implodem e se transfor- manha. Foto © Pen-
dançarinos. São apenas “ondas de mam em buracos negros, absorvendo tagrama.

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tudo. A física quântica faz alusão a Hoje, a Igreja já não dá respostas às
“partículas” em rotação. “Partículas”? suas perguntas, e então eles se voltam
Não, não são partículas, porém, ínfi- para todo tipo de movimentos espiri-
mas porções de energia. Poderíamos, tuais. A palavra da moda agora é
nesse caso, falar de consciência, de “espiritualidade”. Ela é ouvida por
vibrações carregadas de lembranças? toda parte e pouco importa o que se
Seriam todos os microcosmos do entende por ela. Ela tem a aprovação
mesmo tipo? Os saltos quânticos para geral, pois é uma noção vaga. O movi-
outra dimensão, outro universo ou mento da Nova Era faz numerosos
outra consciência seriam possíveis? adeptos, pois corresponde à necessi-
Que são consciência, partícula e ener- dade inconsciente de nos libertarmos
gia? Que são onda eletromagnética, de conceitos, ideologias e esquemas
memória e consciência coletiva? Exis- caducos.
te uma consciência superior?
Tempo de partir
Quem é o ser humano?
Esse é o chamado de Aquário para
Quem sois vós? Quem sou eu? Ain- despertar o homem que permaneceu
da ontem tudo parecia imóvel, tínha- por tanto tempo na matéria e incitá-lo
mos tempo. Hoje, tudo é dinâmico, já a seguir novos caminhos: É hora de par-
não há tempo. Ontem era possível tir, de abandonar a matéria e ingressar
apoiar-nos numa moral baseada em no novo campo de vida. A partir de
normas, na religião e na ciência. Os agora a matéria perde seu poder sobre
fenômenos eram previsíveis. O Uni- vós: um mistério vos chama.
verso era representado como uma Infelizmente, esse impulso, esse
máquina, um relógio gigantesco acio- chamado, é, sob todos os pontos de
nado por Deus, relógio esse que, uma vista, incompreendido. Por isso ele foi
vez posto em movimento, continuaria traduzido por um amontoado de teo-
a funcionar. Segundo a lei da gravita- rias extravagantes. Pensamos, aqui, no
ção universal de Newton, poderíamos sonho de Cristiano Rosacruz, quando
deduzir quais seriam os desenvolvi- a tampa do poço é retirada: no fundo
mentos ulteriores, o que nos levava à do buraco, todos se agitam e se agar-
noção de determinismo. Mais tarde ram freneticamente às paredes. Que
descobrimos que existiam muito mais balbúrdia! O próprio Cristiano Rosa-
incerteza, imprevistos e probabilida- cruz sobe por cima dos outros a fim
des do que a ciência oficial desejava. de alçar-se e escapar da confusão.
Algo que Einstein não pôde aceitar Podemos mesmo dizer que o início
apesar de seu gênio inovador. Deus do discipulado não é nada brilhante, e
não joga com dados, dizia ele. muitas vezes provoca confusão.
A reencarnação, outro grande con- Quando um raio de luz penetra o mi-
ceito muito antigo, e no entanto muito crocosmo, o homem é posto a desco-
lógico, é ainda em nossos dias negada berto e revelado a si mesmo. O que
pela Igreja e pela Ciência. Deus, ou rasteja assim nos recantos de seu ser?
inteligência superior? Não tenho ne- A descoberta não é das mais agradá-
cessidade dessa hipótese, disse um filó- veis. É necessário ter muita coragem
sofo. Por muito tempo a religião regu- para defrontar a realidade e seguir adi-
lou as atividades dos seres humanos. ante serenamente.

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Pensamentos intelectuais, em perfeita concordância
com a matéria, que procuram a matéria, certamente
A humanidade inteira começa a não têm condições de iniciar sequer o trabalho de
mostrar sinais de um despertar. O so- construção do corpo-alma, pois não produzirão o
no na matéria torna-se mais leve. Mui- mínimo resultado. O desejo do homem deve estar
tas pessoas agitam-se em seu sono inteiramente voltado para o crescimento da alma, e
agora que o dia se anuncia. Falamos deve possuir a necessária maturidade para esse fim,
do despertar do sonho enganador, da o que, por sua vez, depende do estado de sangue da
ilusão da matéria, da religião, da ciên- pessoa, da alma-sangue há pouco citada.
cia e da tecnologia, nos quais o Se um homem, em virtude de seu passado cármico,
homem se encontra mergulhado há atingiu o ponto de se entregar à busca e esforçar-se
tanto tempo. Esse despertar parcial é por alcançar o estado de alma-vivente, se nele existe
causado pela atividade eletromagnéti- o impulso do passado cármico, então, tanto o
ca dos novos tempos, de Aquário que coração como a cabeça terão alcançado um estado
verte seu cântaro de Água Viva sobre de receptividade. Então, o "coração e a cabeça" se
a humanidade. inclinam um para o outro, em sintonia mútua.
Em todo lugar ele é experimentado Na matéria, todavia, é comum existir a discórdia
como uma “nova era”. O movimento entre os diversos aspectos e atividades do coração e
de mesmo nome é uma tentativa de da cabeça.
harmonização com esse novo período. Quando, porém, o coração e a cabeça demonstram
Por conseguinte, o conhecimento, a certo equilíbrio, certo ajustamento em relação às
Gnosis, é indispensável para o avanço coisas da alma, então existe atrás de ambos o desejo
no caminho da libertação. De outro de um glorioso prosseguir! O desejo de se tornar
modo, Aquário permanecerá vago e perfeito. Julgamos – e é esta a nossa ilusão – já ser-
incompreendido. mos seres humanos. No entanto, somos apenas seres
humanos em formação.
Pensar por si mesmo E somente se pode cogitar no prosseguimento dessa
formação quando, de fato, estivermos focalizados
Antigamente, o homem era qualifi- na construção do corpo-alma.2
cado de “religioso”; hoje, de “espiri-
tual”. O conceito de Deus e os dog- uma orientação clara. E aí, cada um
mas eram bem definidos: era desse faz aquilo que lhe parece certo, e em
modo e não de outro; caso contrário, cada lugar é diferente. Não é maravi-
seria a prisão ou a fogueira. O clero lhoso viver sem regras, sem compro-
detinha o poder do conhecimento e, missos e sem exigências?
por conseguinte, encarregava-se de Na Escola Espiritual da Rosacruz
pensar por todos. Isso já não é mais Áurea é totalmente diferente: aqui
aceito. O ser humano tornou-se mais existem certamente exigências, que
autônomo e faz uso de sua faculdade resultam de um conhecimento muito
de pensar. Ele determina por si mesmo específico do caminho e de seus ris-
o que convém à sua busca espiritual. cos, do conhecimento das causas do
Por um lado, isso representa uma malogro de muitas iniciativas de esco-
emancipação da autoridade clerical e a las espirituais do passado. Entre as
aquisição de um certo nível de auto- principais causas está a falta de enga-
consciência, liberdade essa absoluta- jamento, de compromisso, de respon-
mente necessária para poder percorrer sabilidade de uns para com os outros
um caminho transfigurístico. Por e para com o grupo, assim como a
outro lado, constatamos que essa falta de concórdia.
autoconsciência ainda não recebeu Um ensinamento puro é necessário

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e é também necessário um comporta- criar e manter um vácuo, um campo
mento que se ajuste a esse ensinamen- magnético, onde se encontre suficien-
to. É preciso haver uma clara com- te pureza para nele oferecer proteção
preensão daquilo que serve ao objeti- para aqueles que lutam com as forças
vo e daquilo que afasta dele. Um navio cármicas. Por essa razão, temos neces-
não pode navegar sem que a tripulação sidade de um grupo. Aderimos ao
respeite as regras. Os grão-mestres da grupo de alunos que formam a Escola
Rosacruz moderna sempre nos adver- Espiritual a fim de receber o conheci-
tiram sobre as conseqüências de um mento que se transformará, no micro-
grande descomprometimento, de cosmo, em verdade e luz.
recusar as regras e da idéia de “liberda-
de acima de tudo”. Imitação: o método do mundo

O grupo é indispensável Dissemos que o campo de existên-


e fortalece cia que nos mantém prisioneiros
tende sempre a se manter e reforçar
Todas as escolas iniciáticas sempre seu domínio. Isso é realizado, dentre
fazem exigências específicas que os outros métodos, pela força da imita-
candidatos devem satisfazer para um ção. No Evangelho da Pistis Sophia,
despertar espiritual. Uma escola ini- essa força é chamada de força com
ciática como a Rosacruz Áurea depen- cabeça de leão. Não se trata da verda-
de, para o trabalho de libertação, de deira força do leão, a força solar da
diretrizes estritas que lhe são dadas em Gnosis. Trata-se de uma força que
prol dos alunos a ela confiados. Isso imita a luz da Gnosis; ela é represen-
sem falar da obra de salvação mundial. tada por uma cabeça de leão que sim-
As exigências do discipulado, seja boliza o engano.
ele preparatório, probatório ou pro- Assim, há o chamado à liberdade, à
fesso, não foram inventadas com a libertação da roda do nascimento e da
finalidade de dominar os alunos nem morte. É a liberdade do reino da luz.
de suprimir sua liberdade. Elas foram Porém, esse chamado é desviado para
estabelecidas para servir de base a seu um chamado horizontal à liberdade,
trabalho e para que eles mesmos e a igualdade, fraternidade, com os fortes
Escola vejam seus esforços coroados acentos que soaram durante a Revolu-
de êxito. Sem isso, não há qualquer ção Francesa, e que exigiu milhares de
chance de libertação. vítimas. A liberdade é também reivin-
Jamais esqueçamos que nosso dicada por todos os homens no senti-
campo de existência é o antagonista do de “fazermos aquilo que nos
natural do aluno que se esforça para apraz”, em reação à sujeição imposta
percorrer o caminho da verdadeira pela Igreja, pelo Estado e pela socieda-
vida. Não que este campo seja mau em de. Primeiro, é preciso que os homens
si mesmo, mas porque não pode ser de se emancipem. Mas, mesmo tendo
outro modo! Tentemos cavar um transposto essa fase, estamos ainda
buraco na água. No mesmo instante longe da liberdade que os filhos de
ele se enche. O campo da dialética Deus conhecem. A principal força do
reage da mesma maneira: toda influên- Universo é a força do amor. No plano
cia contrária à sua natureza é logo horizontal, mal podemos concebê-lo.
neutralizada. Portanto, é necessário Ele é comumente associado à sexuali-

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Ainda somos todos insignificantes criaturas mortais.
Compreendemos algo do nosso primitivismo, mas a
dade em todas as suas formas. A pu- nossa existência tem por base uma poderosa e divina
blicidade, os filmes, os espetáculos, os finalidade. Esse fato nos obriga a pesquisar essa
jornais, predicam o amor animal até finalidade, sua causa, e a ela nos sujeitar. O micro-
ao absurdo. Como tudo isto está lon- cosmo e a chama monádica constituem a causa e o
ge do amor divino! objetivo para a tarefa diante da qual somos coloca-
O conhecimento da salvação – da dos por nosso Pai celestial. A personalidade terrena é
cura – permite-nos compreender, ain- o aparelho com a ajuda do qual a idéia criadora, na
da que pouco, o plano divino e a senda qual nossa existência está alicerçada, deverá ser exe-
de retorno. Contudo, em nosso cam- cutada. E como se trata de um plano divino e uma
po de existência, o conhecimento é centelha divina forma seu fundamento – pois a
confundido com o saber escolar, com mônada é uma centelha divina –, a obrigação única
as aquisições intelectuais e a atividade e absoluta para a sua realização é a livre auto-
do cérebro, que sabemos ser limitado. maçonaria.
O despertar e a natureza divina con- A realização não ocorre sem mais nem menos. Nós
duzem ao restabelecimento dos senti- mesmos temos de executar o plano divino passo a
dos perdidos, tais como o da audição e passo. Eis por que a marcha da humanidade é uma
o da visão interiores, a percepção à marcha de desenvolvimento. A marcha evolutiva
distância, assim como a ligação inte- de um instrumentário que, em dado momento, é
rior com todos os irmãos e irmãs na coroado com uma faculdade mental e com um
nova vida. Invenções como o rádio, a corpo-alma, no qual a experiência de um período de
televisão, as telecomunicações, os tele- eões pode ser acolhida como patrimônio imperecível
fones celulares e a Internet não passam e permitir que, nessa base, a chama espiritual da
de imitações dos poderes que deve- mônada faça aí morada; então, o homem que se
riam ter sido desenvolvidos no ho- torna novamente perfeito poderá prosseguir, susten-
mem. A introdução de tais arremedos tado pela chama monádica, como um ser eterno, de
sufoca toda aspiração à aquisição de força em força e de glória em glória.
poderes superiores. A Escola Espiri-
tual estende seu campo de força sobre
o mundo como uma rede de pesca, tência, libertai-vos das ilusões e rompei
com a finalidade de conduzir numero- os grilhões que vos mantêm prisionei-
sos buscadores às margens da nova ros. O que isto implica e exige de nós
vida. A isso os poderes da esfera refle- consideraremos juntos durante esta
tora respondem com a invenção da conferência.
Internet, entre outras coisas, oferecen-
do-nos uma rede mundial de comuni-
cações como um substituto da verda-
deira unidade. Encerrada nessa rede
de informações múltiplas, a humani- 1. O princípio da incerteza de Heisenberg
dade vê adiado seu acesso ao conheci- (HUP Heisenberg Uncertainty Principle) é uma
mento e à sabedoria universais que os lei que estabelece que não é possível medir
simultaneamente a posição e a freqüência de um
homens renascidos recebem. Escravos
objeto quântico, pois as duas são instáveis em
de seu computador, os homens já não relação uma à outra: quando se mede a freqüên-
pensam em elevar-se à Gnosis e à cia, a posição já não é a mesma, e vice-versa.
liberdade. 2. Os textos dos boxes neste número foram reti-
Por todas essas razões, aos alunos é rados de Reveille!, 2.ed., de J. van Rijckenborgh
dada a recomendação: vede através e C. de Petri, São Paulo: Lectorium Rosicru-
das armadilhas deste campo de exis- cianum, 1983.

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Perguntas

O que significa o símbolo da pomba No caminho da libertação, a nova


em alabastro que está em segundo alma ocupa um lugar cada vez
plano no templo do Lar Catharose de maior no microcosmo. Como pode-
Petri, em Caux? mos conciliar essa expansão com as
incessantes mudanças internas que
perturbam um adolescente?
A pomba tem sido considerada, em
todos os tempos, um símbolo da Uma célebre sentença hermética
pureza e da alma inocente. O frágil diz: “O homem, ó Asclépio, é uma
pássaro tornou-se também o símbolo grande maravilha”. O corpo, consti-
da esperança. A pomba voltou à arca tuído de milhares de células diversa-
de Noé com um ramo de oliveira, mente associadas, é um maravilhoso
pressagiando um final feliz (terra!) instrumento, o que é também ampla-
para todos os seus passageiros. mente atestado pelos biólogos. Todo
Ela é não apenas o símbolo da ino- o sistema está sempre submetido a mu-
cência, mas também da humildade, danças. Você começa como um bebê,
virtudes estas requeridas para o in- em seguida vêm os anos do seu jovem
gresso no novo país, após o dilúvio. A reinado, antes de entrar na adolescên-
pomba é ainda comparada à alma, cia, quando o carma começa a se im-
pois bem sabemos que ela voa sempre por. Depois, chegando à idade adulta,
em direção ao sol (entendam o Espí- você faz suas experiências na ativida-
rito), obrigando seus predadores, ce- de pela qual é responsável. Durante
gados pelo sol, a abandonar sua perse- todo esse tempo, as células morrem e
guição. são substituídas por outras novas. Se
Na Escola Espiritual, a pomba é o considerarmos as incessantes trans-
símbolo da grã-mestra, Catharose de formações que se efetuam no corpo,
Petri, enquanto que a águia que reguladas em grande parte pelas ener-
estende suas asas de bronze nas pro- gias externas, poderemos ter uma idéia
ximidades do templo de Renova é o do gigantesco processo no qual o in-
símbolo do grão-mestre, J. van Rijck- divíduo está engajado. Na Escola atua
enborgh. A pomba e a águia não uma força que ultrapassa e aniquila
representam pessoas, porém estrutu- qualquer outra influência e permite
ras de linhas de força: doçura e firme- que cheguemos a uma nova vida, mais
za para um, força e altitude de vôo elevada, mais plena, sem, contudo, ne-
para o outro. Esses pássaros ilustram gligenciarmos os imperativos da exis-
as qualidades que se complementam, tência comum. Essa mesma força en-
permitindo tudo superar. Esses anti- gendra mudanças em todo o sistema
gos símbolos são comuns a inúmeras vital, e é bastante importante identifi-
civilizações. cá-las. Para tanto, existe apenas uma

12
solução: mergulhar nessa força, de co- guração. Atualmente, essa força é par-
ração e alma, colaborar, deixar-se guiar ticularmente intensa nos templos. Daí
por ela. De início, produzem-se no a importância de participar dos servi- Jovens surpresos.
ser diferentes mudanças, porém, fi- ços templários e das conferências de Camarões, África.
nalmente, é o ser inteiro que se trans- renovação, de ler o ensinamento e Foto © Pentagra-
forma. Esse é o princípio da transfi- falar sobre ele com os demais. ma.

13
Que é o silêncio interior? dos consumidores, mas também, cer-
tamente, para escapar à sua responsa-
Sim, que é o silêncio interior? Ele bilidade em caso de problema. Não
nada tem a ver com mãos postas e se pode negar que os celulares são
olhos devotamente cerrados. Isso é tremendamente práticos. Diariamen-
uma simples atitude que nada signifi- te, centenas de milhões de ligações
ca. O silêncio interior é criado quan- são feitas, saturando de radiações a
do, na consciência, os ecos da percep- atmosfera em diferentes freqüências
ção sensorial enfraquecem. Cons- de onda. Esse fenômeno não conse-
ciência intelectual e percepção senso- gue ameaçar diretamente o campo da
rial são os instrumentos monopoliza- Escola Espiritual, pois sua freqüên-
dos pelo eu, pois procedem exclusi- cia vibratória é totalmente diferente,
vamente da corporalidade. Quando o porém ameaça-o de forma indireta.
eu renuncia a ocupar o primeiro Nossos celulares monopolizam nos-
plano, ele se retira e, graças a uma sa atenção e interrompem incessan-
compreensão estimulada pela aspira- temente nossos esforços de concen-
ção, passa a conceder um maior espa- tração. Uma certa agitação pode per-
ço à alma. Amplitude, espaço e silên- turbar a atmosfera de uma conferên-
cio são próprios da nova alma. Toda cia e afetar os participantes.
atividade “projetada” a agita, à seme- Não somente devido a isso deve-
lhança de uma pedra atirada na água. mos abster-nos de usá-los durante as
A alma tranqüila reflete o sol espiri- conferências, mas também por res-
tual; ela oferece espaço para uma liga- peito ao campo magnético particular
ção com o espírito divino. Podemos da Escola Espiritual que nos acolhe.
dizer que, quando o eu se retrai, a O objetivo de uma conferência é per-
alma, tal como um lago sereno, pode mitir uma ligação com os valores da
receber os impulsos do Espírito e vida da alma graças à permanência no
transmiti-los sem qualquer alteração. campo de força da Escola, isto é, no
Então, o silêncio interior não é tão- espaço livre que se subtrai ao tumul-
somente uma aquisição individual, to do mundo. A consciência da alma
mas torna-se um instrumento a servi- não pode se desenvolver senão numa
ço da humanidade. atmosfera pura. Em 1962, nossos
grão-mestres escreviam no livro Re-
Os telefones celulares veille: “…em um lugar sereno, im-
representam algum perigo? pregnado de éteres puros”. Somente
esses éteres puros nos permitem per-
Muitas coisas já foram ditas e ceber o “outro-em-nós”. Os centros
escritas sobre os perigos dos telefo- de conferências, e em particular os
nes celulares. Os fabricantes dos apa- templos, oferecem essa pureza etéri-
relhos são unânimes em afirmar que ca. Esperamos que esses pontos
não há prova alguma de perigo. Eles sejam compreendidos e que cada par-
não cessam de diversificar os mode- ticipante de uma conferência confor-
los, em parte para atender a demanda me-se a isso de coração. Por essa

14
razão, avisos desagradáveis como “É Como se manifestará a noite
proibido fumar” são evitados. cósmica e quando ela terá início?

O aspecto social na vida da Escola Podemos comparar uma noite cós-


não seria um obstáculo? mica a um período de repouso e de
restauração. Durante o sono, sucede a
Este não é necessariamente o caso. mesma coisa: nosso corpo é submeti-
Basta que cada um, nesse sentido, do a um processo de revitalização.
vigie a si mesmo. O objetivo da Esco- Uma nova energia lhe é insuflada, os
la Espiritual é aclarar os contornos pensamentos e as emoções residuais
do novo homem que se aproxima. são lançados fora. Descansados e dis-
Todos os aspectos de sua atividade (e postos, começamos um novo dia. O
são muitos) tendem a esse único mesmo princípio prevalece no ciclo
objetivo. Mas a Escola Espiritual tem da vida e da morte. Quando morre-
um grande interesse em que os jovens mos, todo o sistema microcósmico
de todos os países se conheçam numa repousa e entra numa fase de reestru-
atmosfera gnóstica nova. A alegria de turação, preparando-se para uma pró-
um tal encontro e as perspectivas de xima existência.
vida espiritual que disso resultam A criação inteira conhece períodos
reforçam a dinâmica e favorecem a de manifestação e períodos de repou-
espontaneidade da nova atitude de so. Durante o período de repouso,
vida. É uma Escola Espiritual convi- tudo desaparece na ressurreição ou na
dando à alegria de uma nova vida da queda, enquanto que novas potencia-
alma e ao desenvolvimento interior. lidades entram em jogo. Podemos
Certamente, a personalidade ter- comparar isso a uma respiração. A
restre colocará muitos obstáculos, criação se assemelha a uma expiração,
mas, com o ensinamento da Escola e em seguida, durante a inspiração,
Espiritual, o interessado poderá en- tudo o que se manifestou retorna a
frentá-los sem temor. Sem a vontade sua origem. Helena Petrovna Blavat-
de vencer os obstáculos, a perma- sky, em A doutrina secreta, descreve
nência no campo de força da Escola esses períodos atribuindo-lhes uma
não faz muito sentido, e pode até duração. Mas esses períodos são
mesmo demonstrar-se prejudicial. números que nem mesmo podemos
Porém, se cada participante se man- conceber.
tém orientado para a vida da alma e
aumenta sua lucidez em relação à
existência, ao eu e à sociedade, a
Escola Espiritual, como corpo vivo,
continuará ainda por muito tempo
sendo uma ponte para a nova vida da
alma que participa do campo da res-
surreição.

15
A Gnosis é a própria simplicidade

Quando se é jovem, é muito impor- vezes, é melhor nada


Segunda alocu ção

tante olhar a vida de frente e situar- encontrar, pois com is-


se no mundo. Determinar o próprio so criamos obrigações.
lugar já é um grande passo para a Encontrar respostas
cura e a libertação. torna-nos responsáveis.
E quem quer ser res-
ponsável?
Q uem consegue, por pouco que Recentemente, numa
seja, introduzir luz nas trevas, deci- rádio suíça, um filósofo
dido a enfrentar, sem temor, aquilo renomado lastimava,
que se revela, dá prova de ter a cora- com certa resignação:
gem necessária para encarar a vida tal “Infelizmente, temos
como ela se apresenta, sem interpre- de reconhecer que nada
tá-la a seu próprio gosto, nem de sabemos... Sim, a filoso-
acordo com suas tendências. Volte- fia simplesmente nau-
mos às questões candentes feitas fragou”. Há muito tem-
pelos pesquisadores e examinemos po a nata dos cientistas
nossa situação existencial sem aque- tenta penetrar o misté-
las lentes cor-de-rosa com as quais o rio da vida e resolver os
eu gosta de olhar a vida. enigmas do homem e
do Universo e irromper
Abrir-se sem reservas para o plano subjacente.
Nossa época poderia
Atualmente o ser humano é con- ser definida como a era
frontado com as questões que há das questões abertas, pois as respos-
muito tempo o ocupam e o impelem tas dadas pelos cientistas dão ensejo a
à pesquisa. Diante disso, e mais do novas interrogações. A fim de pôr
que nunca, uma hiperatividade marca um pouco de ordem nesta barafunda
este momento, junto com muita con- de investigações, nós reagrupamos os
fusão. Respostas lhe são dadas sobre assuntos: Que é a consciência? Co-
tudo como numa feira livre. Como é mo funciona nosso cérebro? Que é a
estimulante responder a mil e uma força de gravitação? Quando teve
perguntas e tirar o coelho da cartola. início a vida sobre a terra? Como
É excitante e diferente se podeis nasceu o Universo? Existem extra-
dizer tudo o que vos vem à cabeça, terrestres? A evolução seria fruto do
sem reservas. E, da mesma forma, acaso? Algum dia viveremos eterna-
tudo também deixar de lado. Alguém mente? Quão difícil é dar respostas
pode então dizer: “Foi bom falar corretas a essas questões! Por onde
sobre tudo isso, procurar, mas, às devemos começar? Em que nos

16
apoiar? Em qual faculdade de discer- circuitos eletrônicos: “Se podemos,
nimento devemos confiar? O que po- através do computador, conversar
de servir de exemplo? com outras pessoas a respeito de
tudo, de Kant aos campeões esporti-
Uma máquina consciente? vos, o que tem de diferente a cons-
ciência humana?” Um exame do
Diante de tudo isso, não é de admi- cérebro feito em laboratório mostra-
rar que o eminente pesquisador, Pro- nos cem bilhões de células que se
fessor David Chalmers, diretor do comunicam entre si por meio de cem
Centro de Pesquisa da Consciência trilhões de conexões em 90.000 qui-
da Universidade do Arizona, não fa- lômetros de cabos. Por outro lado,
Jovens atentos.
ça qualquer distinção, em seus traba- como encontrar os extraterrestres Ilha de Lord
lhos sobre computadores, entre um num Universo que, segundo estima- Kitchener, Egito.
ser de carne e sangue e uma entidade tivas, compreenderia 70 sextilhões de Foto © Pentagra-
constituída de metal, de plástico e de sóis (um 7 seguido de 22 zeros)? No ma.

17
Portanto, existem realmente dois estados de vida
que, em dado momento, se fundem: uma vida da
terra e uma vida do corpo solar. Se perguntássemos De todas essas pesquisas, torna-se
"Qual dessas duas vidas é a mais importante?", a evidente a urgência de encontrar res-
resposta lógica seria: "Naturalmente a vida solar". postas às questões fundamentais,
É evidente, porém, que, quando essas duas se demonstrando, ao mesmo tempo, a
unem para o mesmo e poderoso objetivo, também complexidade e a estreiteza do
não devemos dizer: "Nossa vida terrena absoluta- campo de investigação da ciência, de
mente nada significa, não tem o mínimo valor", seus princípios e métodos. Ora,
pois nossa vida terrestre tem uma tarefa importan- atualmente, a atividade eletromagné-
tíssima a cumprir, tarefa que consiste no processo tica da era de Aquário enfatiza a
dos dois que deverão se converter em "um". Por- necessidade de encontrar respostas.
tanto, é óbvio que o homem terreno, desde a moci- O ano de 2004 tem como peculiari-
dade, deve refletir sobre sua tarefa em relação ao dade o fato de apresentar a mesma
"outro" que nele está, o homem-solar. […] E isso configuração estelar de 500 anos
somente é possível mediante a transfiguração do atrás, na Renascença italiana. Como
homem terrestre, processo sobre o qual a escritura se sabe, esse foi um período de reno-
sagrada afirma que, em realidade, deixa de ser vação em muitas áreas e de intenso
necessário existir a morte para o homem terreno. questionamento, como sucede hoje
Como sabeis, isto é realmente o que com tanto afã em dia. O ano de 2004 oferece todas
se busca nos círculos científicos: protelar a morte as condições necessárias para gran-
tanto quanto possível, e então… quem sabe… des mudanças. Mas, primeiramente,
algum dia, poder neutralizar a morte. perguntamo-nos: que força é essa
No entanto, desde tempos imemoriais, só existe um que nos leva a buscar e ultrapassar
caminho para neutralizar completamente a morte nossas limitações? De que instru-
do homem terreno: a transfiguração. O processo da mentos dispomos em nosso esforço
transfiguração faz a vida solar (isto é, a eternidade) de libertação? Acaso conhecemos o
e a vida terrestre (isto é, o tempo) se tornarem plano de libertação? Quais são as
unas. Tudo o que é temporário poderá ser absorvi- modalidades de uma tal realização?
do pelo eterno.
A busca inteligente

Se a decisão de pesquisar for ver-


que diz respeito ao surgimento da dadeira começa, então, a busca e dela
vida sobre a terra, admite-se que ela recebemos força para investigar.
remontaria de três a quatro bilhões Escolhemos a compreensão intelec-
de anos. Do mesmo modo, o nasci- tual ou a do núcleo espiritual em
mento do Universo dataria de 13,7 nosso coração? O poder mental é
bilhões de anos. circunscrito pelos limites do pensa-
Sobre a questão da gravitação, os mento intelectual e ele não poderia
astrofísicos concordam com a idéia ultrapassar as fronteiras do espaço e
de que a matéria forma apenas qua- tempo, enquanto que a centelha-do-
tro por cento da massa do Universo, espírito, de onde deriva toda a filoso-
sendo que o restante é qualificado de fia da Escola Espiritual, é parte da
“matéria escura”, sobre a qual, na ver- eternidade e pode, portanto, abrir-
dade, nada se sabe. Esta única consta- nos as portas da eternidade. Simples
tação nos leva a perguntar: qual o assim. O homem, porém, geralmente
valor de uma teoria que exclui 96% fundamenta sua pesquisa sobre o
do Universo? mistério da vida na compreensão

18
intelectual, sem levar em conta que, importância, a fim de podermos
assim fazendo, limita seu campo de aspirar e abrir-nos a um campo de
ação, e conseqüentemente naufraga. vida desembaraçado de todo esse
Essa atitude não é insensata? Entre- tipo de influência. Com relação a
tanto, esse não é o caminho. A liber- isso, a Escola da Rosacruz Áurea
tação e o plano em que ela se funda- estabelece neste mundo uma realida-
menta são autênticos, evidentes e de que ultrapassa a razão humana e o
diretos; eles não correspondem a quadro do espaço-tempo. A Escola
nenhum sistema de pensamento, Espiritual se inscreve na corrente da
nem a imagens virtuais, porém a uma Gnosis, corrente essa que, desde a
outra dimensão da vida, que traz um “queda”, é vertida sobre a humani-
caminho que pode ser trilhado. Se dade. Incansavelmente, ela transmite
vós, jovens alunos, compreenderdes a mensagem universal de libertação.
como a libertação se inicia, como ela A Escola não é apenas uma comuni-
progride e ao que ela leva, então, dade de pessoas religiosas e não
como grupo, sereis uma grande pro- transmite apenas uma filosofia. Ela
messa para o futuro. representa tudo o que encerra a Gno-
Não chegamos à libertação por sis – o conhecimento verdadeiro. E o
meio de análise filosófica, nem por conhecimento é simples.
meio de discussões intermináveis, Podereis perguntar se isso não
por explicações eruditas, nem pela seria uma afirmação exagerada.
eloqüência. Não existe nenhuma Como pode uma coisa tão importan-
palavra, nenhum ambiente, nenhuma te e tão grandiosa ser tão simples,
imagem, nenhum gesto que a faça quando o mundo e a humanidade,
penetrar em nós ou que nos faça nela como acabamos de ver, são tão com-
penetrar. No entanto, é justamente plicados? E por que, então, os grão-
isso que tentamos fazer! Pensemos mestres da Escola teriam escrito tan-
tão-somente no universo musical tos livros? E qual a razão para tantas
agressivo, provocante e ensurdece- conferências públicas e de renovação
dor dos jovens. e tantos serviços templários? No
A música age sobre nosso sistema, entanto, repetimos: o conhecimento,
sobre os centros auditivos e motores, a Gnosis, é a própria simplicidade.
sobre as faculdades de aprendiza- Ela é tão simples que até uma criança
gem, como a memória e a concentra- pode compreendê-la.
ção, sobre as emoções e a criativida- E a causa de tudo parecer tão com-
de. Os trabalhos científicos compro- plexo e tão pouco compreendido é
varam que ela pode até modificar o porque utilizamos o instrumento
cérebro; disso pode-se deduzir que o errado. A percepção sensorial e o
cérebro é um órgão plástico, moldá- mental comum fornecem-nos apenas
vel. Imaginai, por pouco que seja, as o conhecimento exterior. Eles só
implicações contidas nisso! percebem e abarcam a superfície das
coisas; mesmo quando se trata de
O instrumento apropriado centros energéticos. O princípio de
unidade, a idéia, o plano lhes são
É necessidade imperiosa tomar- ocultos.
mos consciência, tão logo quanto De uma árvore vemos, por exem-
possível, de tais fenômenos e de sua plo, os galhos e as inúmeras folhas,

20
mas não as raízes. Façamos uma cela da eternidade, a simplicidade
comparação: os sentidos e o entendi- por excelência, pois é nascida de
mento funcionam como um frag- Deus, que é Unidade.
mentador de papel. Eles reduzem a Vosso núcleo espiritual contém
pedaços um documento cujo teor uma força potencial que, em deter-
permanecerá ignorado para sempre. minadas condições, pode ser libera-
Enquanto, de cabeça baixa, conti- da. Essa força, a kundalini do cora-
nuarmos investindo contra o muro ção, primeiro desperta um novo
do eu, com nossa sede de informa- entendimento e uma nova percepção:
ções, seremos sufocados pelo pó que pensar e ver com o coração, discer-
levantamos. nir, conhecer todas as coisas a partir
do núcleo central. E aquele que desse
“Simplificai e minimizai” modo pensa e vê, vê “simplesmente”,
pois vê a complexidade englobada na
Na complexidade do mundo, não idéia da Unidade divina. E, então, ele
é possível encontrar um método real- encontra a pulsação da verdadeira
mente eficaz. Assim, não há razão de vida, onde a verdadeira vida se
nos admirarmos ao ver muitas pes- encontra, onde é escrita a história de
soas aguardarem que um novo um novo mundo, de uma nova hu-
Moisés desça da montanha, com seus manidade. Ele se aproxima do divi-
mandamentos, a fim de esclarecer a no, que está nele.
situação. Nossa pretensa autonomia
e liberdade na multiplicidade tor- O sentido da verdade
nou-se um exercício extenuante. A
vida é, para o homem, um gigantesco Isso nada tem a ver com a aborda-
quebra-cabeças de incontáveis peças gem forçada da realidade fabricada e
do qual nos falta o esquema de refe- sugerida, bastante apreciada nas
rência. O mundo onde devemos novelas sensacionalistas, nas trans-
atuar tornou-se incrivelmente instá- missões ao vivo e nos assim chama-
vel e mais opressivo que nunca, pois dos reality shows. A abordagem sen-
não sabemos em que nos agarrar, a sorial dos fenômenos é uma coisa, a
que princípio aderir. Costuma-se abordagem da verdade é outra: esta
dizer: Segui vosso próprio caminho, depende exclusivamente do desper-
sois livres. Todavia, para onde ir, que tar da rosa. Nesse despertar nasce o
direção tomar? Quando, na vida, sentido da verdade, e o olho que a
estamos implicados em assuntos percebe abre-se. O poder sensorial e
confusos, é dito: “simplificai e mini- o poder mental nos fazem penetrar
mizai”. (KISS, Keep It Simple and na multiplicidade do que é visível,
Small). E nós dizemos: “busquemos porém nos distanciam da verdade
a simplicidade”, a qual reside no una e invisível. Eles criam uma dis-
cerne de todas as coisas, como em tância, um afastamento. E é justa-
nós reside a rosa-do-coração. Nela se mente com esses poderes que deseja-
encontra a força da libertação. A mos nos aproximar da verdade!
rosa-do-coração pode conduzir o No processo de libertação, o fator
homem pesquisador à unidade, uma decisivo é, portanto, a vitória sobre o
vez que ela não faz parte da multipli- eu, sobre o poder sensorial, sobre o
cidade deste mundo. Ela é uma par- intelecto e sobre tudo o que se rela-

21
Viagem sem fim.1998, composição em quinze quadros, acrílico sobre tela. Maria Silva, 330x200 cm. O quadro é um
exemplo da arte que forma uma ponte entre dois mundos.As plumas representam a liberdade; as flores são a imagem
da beleza; as molduras brancas remetem ao mundo imutável, de onde tudo se origina; as cores representam as formas
e os movimentos no mundo da manifestação e da mudança. Coleção particular. Foto Inge Ybema/BTH.

23
ciona a eles, inclusive o plano etérico. Não palavras, mas força
Denominamos endura o método de
neutralização do eu. Esse método Meu reino não consiste em pala-
tende a abolir, pouco a pouco, a dis- vras, mas em força, diz a Bíblia. Essa
tância que nos separa da verdade, e força reside em vosso coração. Este é
inclui a multiplicidade na unidade. A o segredo: aqueles que possuem em
neutralização do eu não significa o seu coração uma rosa ativa possuem
aniquilamento de vossa existência. um “órgão” muito especial; ela está
Pelo contrário, liberta-a de uma apa- neles, mas não pertence a este mun-
rência de vida, gerada e mantida pelos do; ela lhes permite submeter-se à
sentidos e pelo intelecto. E o meio pa- luz da Gnosis e experimentar o ver-
ra isso é a força-luz. dadeiro conhecimento. A Escola Es-
Uma particularidade da Escola piritual possibilita que nos aproxi-
Espiritual é a de ter desenvolvido um memos dessa luz libertadora. A cada
campo de luz mediante a liberação de batida de nosso coração, ela nasce em
uma tremenda força, graças ao traba- nós. Ela se oferta a nós; ela penetra o
lho intenso orientado para a nature- grupo até o coração de cada um.
za superior ao longo de dezenas de Percebê-la, recebê-la, nela crer e a ela
anos. Ela estabeleceu sobre a terra se entregar faz sua força trabalhar em
um novo cosmo, um mundo protegi- nós e nos tornar conscientes. É uma
do, uma morada de luz com todo o aurora, uma ressurreição. Esse é o
equipamento necessário à renovação plano! Essa é a idéia central da cria-
do mundo e da humanidade. Essa ção, a intenção da perpétua força
morada, dizemos, está totalmente impulsionadora no Universo. Quan-
“mobiliada”. do reagimos corretamente a esse
Por que falamos assim? Para dar a impulso, recebemos o poder de ate-
entender que o candidato à liberta- nuar, ou mesmo de pôr um fim aos
ção não pode se instalar com seus sofrimentos da humanidade.
velhos móveis na morada de Deus, Trilhai o caminho da Luz, executai
quando ele ali for acolhido. Deixan- o Plano, realizai aquilo em que acre-
do para trás as posses do eu, ele é ditais e realizai tudo por amor.
bem-vindo como morador, e nada
lhe faltará. Ele recebe tudo o que é
necessário para sua libertação. Ali,
nenhum aluguel lhe é cobrado. O
único valor a ser pago, impossível de
pechinchar, é o abandono do egocen-
Eva colhe a maçã trismo. Por isso é dito que um busca-
da árvore do
dor da verdade deve estar “nu e
conhecimento do
bem e do mal.
pobre, livre de toda posse”, pois a
Escultura na Igreja nova morada existe na e da força ori-
Santa Maria de ginal.
Souillac, ca. 1130.

24
O jardim do Éden
O professor David J. Chalmers é um erudito notável devido a suas penetrantes e ponderadas formu-
lações sobre a consciência, tão freqüentemente chocantes, mas que têm como objetivo estimular as pes-
soas e levá-las à reflexão.
A questão é a seguinte: “o ser humano sem uma alma nova e sublime pode ser considerado homem?”
Sua visão é surpreendente. Por exemplo, em Freiburg, em novembro de 2003, ele disse o seguinte:
“No Jardim do Éden, estávamos em contato direto com o mundo. Estávamos familiarizados com os
objetos e suas propriedades. Eles nos eram apresentados diretamente, sem nenhuma mediação causal,
e as propriedades se revelavam a nós em sua glória intrínseca.
No Éden, uma maçã vermelha era vermelha para nós, perfeita, gloriosa e simplesmente vermelha.
Não havia necessidade de uma cadeia causal da microfísica a partir da superfície da maçã através do
ar até o cérebro para vê-la. Apenas o vermelho perfeito da maçã nos era revelado.
A cor vermelha em nossa experiência originava do reflexo do vermelho perfeito no mundo edênico.
O Éden era um mundo de cor vivente, perfeita. Então, aconteceu a queda.
Primeiro, comemos da árvore da ilusão. Em conseqüência disso, os objetos pareciam às vezes possuir
cores e formas diferentes, em ocasiões diferentes, muito embora houvesse razão para se acreditar que o
objeto em si não havia sofrido nenhuma transformação. A ligação entre a experiência visual e o mundo
tornou-se variável, dependente de fatores desconhecidos: já não podíamos aceitar que a experiência
visual nos apresentava o mundo sempre como ele era.
Depois, comemos da árvore do conhecimento. Aí, descobrimos que, quando vemos um objeto, há sem-
pre uma complexa cadeia causal que envolve a transmissão da luz do objeto para a retina e, com a
transmissão da atividade elétrica, da retina para o cérebro. Essa reação em cadeia foi disparada pelas
propriedades microfísicas, cuja ligação com as qualidades de nossa experiência parecia inteiramente
arbitrária. Já não havia razão para crer na existência de um conhecimento direto entre nós e as glo-
riosas propriedades primitivas do Éden, nem mesmo que os objetos possuíam essas propriedades.
Não vivemos mais no Éden. Talvez o Éden nunca tenha existido; talvez ele não pudesse ter existido.
Porém, o Éden ainda representa um poderoso papel no modo como percebemos o mundo. Às vezes,
nossa percepção representa o mundo como um mundo edênico, cheio de cores e formas perfeitas, com
objetos e propriedades que, sem qualquer intermediação, nos são revelados diretamente.
E ainda que tenhamos sido expulsos do Éden, ele sempre determina, como um tipo de ideal, o conteú-
do de nossa percepção”.
A dor ou a alegria das experiências
Dois tipos de alunos na Rosacruz moderna
Ter c ei r a alocu ção

Há algum tempo foi realizada, em um desenvolvimento espiritual har-


Barcelona, uma conferência pública monioso e um desabrochar regular da
tendo como tema o pensamento her- alma, até alcançarmos a iluminação e
mético, à qual assistiram numerosos o verdadeiro despertar? Estas são per-
alunos da universidade. Um dos con- guntas importantes que nos remetem
ferencistas alegou que uma crise exis- a um problema fundamental.
tencial seria a condição necessária Aqueles que já passaram por uma
para fazer de qualquer pessoa um crise existencial em sua busca pela
buscador da verdade, um sedento de verdade estão convencidos de que não
pensamentos, de sentimentos e de ins- poderiam libertar-se das cadeias de
pirações mais elevadas. Então, uma seu condicionamento de outro modo.
jovem perguntou: “É realmente
indispensável ter de passar por uma Um choque, uma graça
crise interior para nos tornarmos um
buscador? Não existe uma outra Muitos dentre nós, através da edu-
maneira de chegar a esse estágio?” cação recebida, formaram uma ima-
gem do mundo, imagem essa que
condicionou seus conceitos filosófi-
Esta pergunta mostrava uma profun- cos e religiosos e que engendrou seus
da experiência. Percebia-se nela clara- preconceitos. Eles foram confronta-
mente a atitude de um buscador e dos com a vida no estado de passivi-
uma nova abordagem da vida muito dade natural de criança, lançados
embora ela não tivesse manifestado se como locomotivas nos trilhos do con-
conhecera uma crise existencial. formismo... e, por isso, cedo ou tarde,
Com efeito, numerosos são aqueles foram descarrilados. Que choque, ao
que, após sua passagem pelo Trabalho descobrir, de repente, que o mundo
da Mocidade, tornam-se alunos por não era assim como tinham descrito.
razões outras que uma crise pessoal. Porém, esse choque atuou como uma
Portanto, com justa razão, surge a graça.
questão sobre a necessidade de uma Essa “saída dos trilhos” aconteceu
crise. Por que essa exigência? Será que a cada um em função de seu passado.
o ser humano somente sairia em Todavia, é uma grande graça escapar
busca da verdade devido ao sofrimen- dos condicionamentos da juventude.
to e à aflição? Não pode acontecer de Somos forçados a constatar que, em
ele ser conduzido, desde a mais tenra nossa época, esse tem sido o privilé-
idade, de modo progressivo, à expe- gio de muitos jovens, e não somente
riência gnóstica, sem qualquer tipo de nas fileiras do Trabalho da Mocidade
tensão? do Lectorium Rosicrucianum, como
Por que não poderíamos conhecer é o caso da jovem questionadora.

26
A comunicação entre
jovens em Norwich,
Grã-Bretanha. Foto
© Pentagrama.
Dois tipos de alunos na
Portanto, é com razão que se poderá também Rosacruz moderna
dizer que a verdadeira vida humana somente
começa quando a vida em preparação e em Todo ser humano recebe sua parce-
desenvolvimento se desprende da terra. Desse la de sofrimento e dor, que deve ser
modo torna-se compreensível que se denomine aceita. Ninguém escapa disso, pois a
Cristo um Ser solar e que nos seja dito que deve- vida é assim mesmo. O mundo está
mos nos tornar como ele. Muitos milhões de seres submetido à impermanência. Sofre-
se intitulam cristãos, do que dever-se-ia concluir mos quando não aceitamos que as
que, se compreendessem perfeitamente o que coisas passam e não podemos retê-las.
Cristo disse, qual o seu propósito e o que ele fez, A personalidade terrestre é vulnerá-
deveriam querer segui-lo onde quer que ele vel; ela experimenta a mudança e o
estivesse. Mas somente poder-se-á compreendê-lo envelhecimento. Ela também adoece
e segui-lo completamente quando se possuir um de vez em quando, e o sofrimento não
corpo-alma e se estiver, portanto, estruturalmente a poupa, pois atinge a todos. Na
em condição de seguir esse caminho através de sociedade, todos os homens estão
toda a essência solar. Clamar-se-á, então, espon- expostos às mesmas dificuldades, às
taneamente, pelo reino de Deus. mesmas fraquezas: todos são con-
Podemos agora indagar: quais são as caracterís- frontados com a fugacidade das coi-
ticas da vida solar? Assemelha-se de algum modo sas, todos passam por doenças, todos
à vida terrestre? A esta pergunta deve-se respon- sofrem. Mas a coisa é totalmente dife-
der enfaticamente que a vida solar de maneira rente para os que se libertam, desde a
alguma tem algo em comum com a vida ter- mais tenra idade, das idéias estereoti-
restre. Todo esforço, todo aborrecimento, todas as padas da massa.
tensões e misérias, com as quais temos de lutar É uma alegria constatar que atual-
aqui na terra, lá são absolutamente desconheci- mente determinadas circunstâncias
dos. O envelhecer e a tragédia do fim não são ali cármicas permitem que os jovens se
conhecidos. As tensões entre os povos, com todas engajem no caminho da verdade em
as suas conseqüências, lá também são desconheci- condições mais tranqüilas.
das. Encontramos, portanto, na Escola,
As condições de vida e o estado de ser no mundo dois tipos de alunos: os que se torna-
solar são inteiramente consagrados à grande ram buscadores em conseqüência de
meta de nossa existência, para a qual a alma- duras provas e os que se tornaram
vivente nos enobrece. buscadores devido ao único pressen-
timento de uma vida nova, perfeita, e
do desejo de elevar-se numa realidade
Sua busca não é o resultado de uma infinitamente maior. Seja como for,
crise, de uma experiência dolorosa, todos são atraídos pela Gnosis, pela
de uma amarga decepção. Ela decor- esperança de se libertarem.
re logicamente de um livre desenvol- Aqueles que, de modo brutal, tive-
vimento da consciência, de um tipo ram de “sair dos trilhos” adquiriram
de curiosidade motivada por uma experiência e conhecimento do
sede de conhecimento, de conheci- mundo em primeira mão. Eles perce-
mento original. Foi essa sede, beram os aspectos negativos deste
conhecida por muitos dentre nós, campo de vida e desvendaram a natu-
que a conduziu para a Escola da reza humana. Essa é a razão de esta-
Rosacruz Áurea. rem todos dispostos a nortear-se pelo

28
novo campo de vida. Eles desenvolve- respiração se desenvolve segundo o
ram uma certa aversão por este mesmo princípio: da vida atômica à
mundo, sim, até mesmo uma certa vida etérica, desta à vida astral, e final-
hostilidade. Já os outros são, antes de mente à vida mental, que precede a
tudo, animados por um reconheci- manifestação da autoconsciência.
mento espontâneo da Gnosis mani- O avanço da flama divina faz-se em
festada e por um desejo de servir sem, sentido inverso: primeiramente ela é
contudo, rejeitar o mundo. Acontece um impulso divino, um amor divino,
que muitos não compreendem uma uma vontade divina cuja manifestação
tal rejeição, e dizem: Sim, certamente sutil se realiza do abstrato ao concre-
este mundo nem sempre é um lugar to, por meio de um instrumento: o ser
agradável de se viver, porém isso não microcósmico, com sua terra e seu
é nenhuma novidade. Devemos con- céu, tendo a consciência humana
viver com isso, portanto deixemos de como elo intermediário.
dramas! Estes últimos tendem menos A grande dificuldade sempre surge
que os primeiros a tomar decisões na fase da união do divino e do huma-
drásticas. Eles são claramente menos no, pois a consciência humana deve
radicais. dispor de bastante compreensão para
Esses dois tipos de alunos cami- poder reconhecer a manifestação sutil
nham juntos na Escola, onde apren- da flama divina. Se este for o caso,
dem uns com os outros, enriquecem- esse reconhecimento conduz a uma
se mutuamente e se completam. cooperação e a uma fusão, de onde
nasce uma consciência universal. Esse
O inverso caminhar da flama é o resultado dessa cooperação. A
consciência “céu-terra” é absorvida
Segundo o ensinamento universal, numa supraconsciência, na consciên-
a entidade humana é única em seu cia “alma-espírito”.
gênero porque seu núcleo central é
uma centelha de origem divina. Para Um novo nascimento para
se manifestar, essa centelha deve ter à a humanidade
sua disposição um corpo e uma
atmosfera energética, ou melhor: um A fusão alquímica não significa
céu e uma terra. Do mesmo modo, a “perder-se”, embora às vezes recorra-
flama divina, emanada do Logos pla- mos a essa expressão. A água se trans-
netário que irradia no coração de forma em vapor, porém é sempre
nossa terra, tem necessidade de um água, mas num estado diferente.
planeta com uma atmosfera para Para um ser humano, esse estágio
poder realizar sua tarefa no corpo corresponde ao renascimento. À
solar. O desenvolvimento do planeta semelhança do nascimento humano,
e de seu céu efetua-se de baixo para ele é sempre acompanhado de contra-
cima: do reino mineral ao reino vege- ções, de tensões e dificuldades. Todo
tal, em seguida ao reino animal, e recém-nascido encontra resistências.
deste ao reino hominal. Neste último Ele chega a um mundo desconhecido,
estágio aparece a autoconsciência. sem saber o que o espera.
Denominamos “campo de respira- Do mesmo modo, os obstáculos se
ção microcósmico” o sistema terra-céu erguem diante do homem que ingres-
de um microcosmo. Esse campo de sa no novo estado de alma-espírito.

29
Ele entra num mundo totalmente des- que possamos compreender e supor-
conhecido e encontra-se exposto a tar o tumulto, as tensões e os sofri-
diversos tipos de tensão. Em geral, mentos dos tempos atuais. A Escola
quanto mais afinidade existe entre a Espiritual tem o mérito de ajudar-
personalidade e a matéria, mais inten- nos neste sentido. Ela nos auxilia em
sa é a crise existencial que o leva à nosso esforço para enxergar por trás
busca. das aparências e compreender o
A peculiaridade de nossa época plano que se encontra em atividade,
reside no fato de que a humanidade do qual falamos há pouco. Nela não
está sendo coletivamente levada a um recebemos lições sobre moral e bons
processo de renascimento, e não costumes. Esta é uma escola da alma-
como acontecia em tempos passados. espírito, que nos instrui sobre o nas-
Estamos diante da alvorada de uma cimento do novo homem, do ho-
nova era em que a humanidade expe- mem-alma-espírito, para os novos
rimenta as dores do nascimento. Devi- tempos.
do à sua forte cristalização causada Esse homem alma-espírito nasce
pelo materialismo, seu novo nasci- tão logo o “velho homem terra-céu”
mento é preparado em meio a dores tenha percebido e assimilado a trípli-
que nenhum narcótico pode atenuar. ce flama da idéia-amor-vontade nas-
Não se deixem paralisar pelo sofri- cida do fogo divino. A flama desce e
mento. Sejam como uma mãe amoro- assenta sobre sua cabeça: então, ele
sa que está à espera de um filho, espe- tem a mesma visão que João, no
ra essa que torna as dificuldades e os Apocalipse. E vi um novo céu e uma
esforços insignificantes. nova terra, e o antigo céu e a antiga
terra haviam desaparecido.
Uma escola para a alma-espírito Façamos uma comparação simples:
quando fervemos um pouco de água,
Vivemos, portanto, numa época um momento depois temos um
extraordinária. É um grande privilé- pouco de vapor. A vitória sobre o
gio podermos testemunhar o nasci- antigo e o ingresso na nova vida é
mento de um novo dia espiritual e igualmente simples. Nosso conserva-
dele participar. É da maior importân- dorismo, nosso apego à realidade
cia que não encaremos as coisas exterior e nosso medo do desconheci-
superficialmente, que não nos deixe- do é que podem dificultar a passagem.
mos desorientar pelas aparências, Quanto mais a alma tiver adquirido
mas que penetremos a verdadeira maturidade devido a seu passado cár-
natureza dos acontecimentos para mico, mais a transmutação é facilita-
da. É assim que se explica o fato de
tantos jovens, hoje em dia, abordarem
O que é necessário, o que se a busca da verdade sem ter de atraves-
torna imprescindível, é uma ori- sar fases críticas. Aquilo que neles
entação inteiramente nova de parece ser uma tendência espontânea
todos. E dizemos enfaticamente: é, na realidade, o resultado de existên-
de todos os que são jovens ou cias precedentes, no decorrer das
que ainda se sentem jovens. quais já terá havido uma aproximação
da Gnosis.

30
Alegria, amizade e realização Agora conheceis o caminho, o método para o
renascimento da alma. Pois bem, nossa pro-
Vamos imaginar que perguntemos posta é que todos vós, sem exceção, trilheis o
às pessoas: Gostaríeis de transpor as caminho, que aceiteis as conseqüências dessa
fronteiras do espaço-tempo? Ter aces- decisão e que, de conformidade com o espíri-
so a uma vida sem limitações? Ver-vos to e a prática de nosso trabalho, vos auxilieis
livres do vosso egocentrismo? Ingres- internacionalmente. Propomos que vos
sar na vida divina regida pela lei do esforceis ao máximo, a fim de tornar reali-
amor, onde a morte não existe? dade a senda da auto-realização e, dentro
Muito poucos responderiam de do prazo estipulado, a leveis a bom termo.
forma negativa, não é mesmo? Por Quanto a isto, a Escola vos faz a promessa
que, então, entre todos que responde- de que deseja ajudar-vos e vos ajudará em
riam sim, um tão pequeno número se todos os sentidos no desenvolvimento desse
aplica à tarefa? É porque a Gnosis não processo, pois para isso ela foi trazida à
pode penetrar sua consciência; a luz existência. A quem a Escola deveria dirigir-
da verdade não pode iluminar seu se senão aos jovens? E a todos aqueles que
universo mental. Esta é a razão da ainda se sentem jovens? Jovens em tenaci-
exortação de todos os grandes em dade, jovens em perseverança, jovens em
espírito: Despertai! Erguei-vos! Abri- todas as possibilidades realizadoras internas
vos à Luz! Por sua vez, a Escola e em energia!
Espiritual da Rosacruz Áurea convida
insistentemente seus alunos a exami-
nar se aquilo que crêem ser luz em si a mente e obrigam o intelecto a espe-
mesmos é a verdadeira luz da Gnosis, cular indefinidamente. A verdadeira
e não trevas. realização não requer nenhum em-
Por fim, fica ainda a pergunta: co- preendimento especial, mas apenas
mo alcançar a iluminação? Que méto- um determinado estado de espírito,
dos os alunos empregam para esse uma base de comportamento, pleno
fim? de alegria irradiante que tudo ilumina
Emprestamos nossa resposta da à nossa volta e que apresenta tudo em
antiga sabedoria chinesa: Nosso méto- uma nova dimensão.
do consiste na ausência de método. Nossa existência torna-se uma
Nosso método é desprovido de exercí- sucessão de experiências renovadoras,
cios práticos ou de técnicas. Por fim, rica em descobertas, plenificada pelos
nosso método não requer nenhum toques luminosos da Gnosis. Na luz
procedimento particular. de uma nova manhã mundial, nossas
Contudo, é preciso adquirir, de obras irradiam. O discipulado não é
modo planejado, certo conhecimento um caminho de dor, e mesmo nos
concreto e compreensão dos aconteci- momentos mais difíceis é um cami-
mentos. Apenas na medida em que nho de alegria, de amizade e de reali-
nosso comportamento for algo refle- zação.
tido, pensado, poder-se-á eventual-
mente qualificá-lo de método. De
modo geral, os métodos utilizados
para fins de realização espiritual
reforçam o eu, constrangem o corpo e

31
A missão e a magia da arte

Nos anos que se seguiram à segunda guer- vens se encontravam diante de uma nova
ra mundial, J. van Rijckenborgh era o abordagem do ensinamento, porém certa-
redator-chefe da revista Nieuw Religieuse mente faltavam, no domínio da arte em
Oriëntering, publicada pela Escola Espiri- particular, bases teóricas e práticas. O texto
tual. Aqueles foram anos em que se torna- que segue reproduz uma alocução que J.
ra bastante claro que um grande número van Rijckenborgh dirigiu aos jovens, abor-
de princípios, valores e normas anteriores à dando o tema arte, ciência e religião na
guerra já não tinham valor algum. Os jo- sociedade.

32
Com relação à arte referimo-nos, as- seus sentidos, seu intelecto e sua vida
sim escrevia J. van Rijckenborgh, às determinam como sua natureza se
normas esotéricas, científicas e religio- exterioriza. Esses aspectos culturais
sas cujas origens a sociedade esqueceu. podem tornar-se refinados com o pas-
A arte representa um dos aspectos da sar dos séculos, porém são imutáveis.
realidade, o aspecto plástico na vida. Cada região demonstra uma identi-
Ela não existe por si mesma. Nós a dade cultural. Desse modo, cada um
vemos como um dos três elos da cor- possui algo como um passatempo,
rente constituída pela ciência, religião uma atividade de sua predileção. Sabe-
e arte. A ciência é a idéia: a idealidade. mos tudo isso, pois também fazemos
A religião é a força que se liga à idéia e o mesmo, e por isso também somos
se torna vitalidade. A arte que se ma- responsáveis por esta situação. Por
terializa na vida torna-se realidade. outro lado, não podemos fazer outra
Todo ser humano dispõe de uma coisa, pois trata-se de herança sanguí-
certa idéia das coisas e de uma certa for- nea. Nascemos neste campo de exis-
ça. Em certo sentido, todo ser huma- tência e devemos pagar por isso. Po-
no pode ser considerado um artista. O rém, essa forma de cultura com sua
que nele vive como força abstrata ex- arte é uma ilusão total, ela não torna
terioriza-se como arte. Mediante a ninguém feliz. Por mais belas que
arte, o abstrato se torna concreto. sejam, as obras de arte jamais serão
Entretanto, hoje em dia, a dissensão libertadoras. Mesmo quando senta-
entre os indivíduos é tal, que uma mos em nossa casa em total conformi-
apreciação unânime da arte é impossí- dade com nossa cultura mental, ainda
vel. E se acontecer de as opiniões con- assim nos tornamos, em determinado
cordarem, será apenas por razões de momento, conscientes de nosso apri-
cultura: cultura dialética ou religiosa. sionamento, e surge o desejo de ver até
os mais belos objetos desaparecerem.
A cultura: educação
ou treinamento? O critério: teoria ou prática?

No plano cultural, o indivíduo se Chega um momento em que, suspi-


encontra totalmente sujeito ao conjun- rando, pensais: Ah! Se tão-somente
to de idéias estereotipadas que são pudesse me livrar disso! Tomais cons-
transmitidas a cada geração. Elas inspi- ciência do quanto sois cativados pela
ram aos jovens muitas de suas atitudes. ciência, pela força, e pela arte do reino
Eles vêem as coisas conforme a educa- dos céus. Até o presente, essa força
ção ou o “treino” recebido. As idéias, ainda era pura abstração, ainda não a
ancoradas no treino intelectual, con- conhecíeis de forma consciente. Mas é
trolam o pensar e o querer, impelindo bom saber que ela é uma das três ra-
a maioria das pessoas a um comporta- diações que emanam da tríade em
mento gregário. A percepção sensorial questão: idealidade, vitalidade, reali-
depende do estado sanguíneo, que é dade; e que estes três influxos incitam Bleus mouvants
(Azuis movediços).
influenciado pela educação e pelo ata- a uma realização superior. Mas, pelo
Frantisek Kupka,
vismo. Portanto, a educação e todos fato de se manifestarem, de início, de 1924. Óleo sobre
os antepassados exercem seu poder. O forma abstrata, não podeis responder tela, 110x108 cm,
ser humano é estimulado e dirigido a eles de imediato, pois vosso estado Musée des Beaux
por instintos primitivos. Sua natureza, natural inspira um sentimento de insa- Arts, Rennes.

33
tisfação. A conseqüência disso é: as ve- diante das conseqüências desse toque,
lhas coisas já não vos dizem mais nada, pois falta-lhes a coragem necessária.
elas causam náusea e, então, estais ma- Quando uma pessoa é profundamente
duros para a revolução. Chega, por- tocada pela pré-memória, ela se vê in-
tanto, o momento, com a condição de vadida por uma idealidade e uma vita-
que sejais buscadores espirituais, em lidade extraordinárias, sendo, assim,
que vos encontrais num impasse. Al- conduzida a uma nova realidade. Ela
gumas pessoas conhecem esta situa- seguirá, então, por caminhos diferen-
ção, porém apenas de modo teórico. tes dos da massa. Através de duras ex-
Seu primeiro impulso é completar sua periências, perceberá que a nova reali-
cultura, segundo os critérios deste mun- dade não se encontra na esfera deste
do. O espírito do reino dos céus ainda mundo, mas, sim, na do longínquo
não as pode tocar. Muitas pessoas sen- reino dos céus. Não podeis instaurar
tem-se satisfeitas consigo mesmas. Para uma nova realidade neste mundo, pois
elas, os discursos da Rosacruz são pura isso é impossível; ambos se destroem e
teoria. A Rosacruz não se dirige a elas se incendeiam mutuamente. Lembrai-
– e nem poderia. Ela se dirige apenas vos da tentativa de Judas. Ele tem sido
ao ser humano em quem se verifica sempre descrito como um malfeitor.
uma certa reminiscência. Surpreendi- Nada, porém, é menos verdadeiro. Na
dos por essa memória – essa pré-me- realidade, Judas foi um homem extre-
mória – não podeis vos sentir senão es- mamente culto e simpático. No círcu-
tranhos neste mundo. Porém, compre- lo dos discípulos, ele foi o mais inte-
endei bem: quando descobrirdes que a lectual e, devido a seu estado de ser,
cultura não traz nenhuma felicidade, encontrava-se muito acima de seus con-
isto não significa que devais negá-la. discípulos. Ele compreendia perfeita-
Felizmente, ainda existem muitas mente o que Jesus desejava. Enquanto
coisas belas aos olhos, das quais deveis os outros discípulos duvidavam e se
gozar, até onde puderdes. Mas, com perguntavam o que iria acontecer,
relação à arte, deveis compreender Judas tinha o controle da situação.
sempre que o poder evocador e a ma- E quando Jesus disse: “Meu reino
gia da arte dialética tendem sempre a não é deste mundo”, Judas concebeu
manter-vos sob o jugo desta dialética. um plano para estabelecer o Reino dos
Somente após serdes tocados pelas céus sobre a terra. Mas, ao perceber
forças do reino longínquo é que pode- claramente que não era isso a que Je-
reis apreciá-las de maneira correta, e sus aspirava, tentou desencaminhá-lo,
rejeitá-las, pois então estareis penetra- provocando uma crise. Ele pensou:
dos pela idéia de que existem coisas “Se eu deixar que o meu Senhor seja
mais belas, que se elevam muito acima capturado, ele será obrigado a resistir,
da vida dialética. e tão logo as garras tenebrosas o
envolvam, ele estabelecerá o reino de
A força do reino longínquo Israel. Então, será forçado a liderar
uma revolução.” Por isso, vós, jovens,
A Rosacruz moderna afirma que deveis atentar bem, se a reminiscência
não podemos romper com a cultura vos chama, para não fazerdes como
antes que as forças do reino longínquo Judas.
nos tenham tocado e surja a reminis- A maioria das Igrejas sempre se
cência. Há muitas pessoas que recuam esforçou para instaurar uma teocracia

34
terrestre. O verdadeiro aluno nada faz submerja inteiramente, espontanea-
nesse sentido, pois sabe que através da mente. Enquanto ele não participar
edificação de seu corpo celeste partici- totalmente nessa fusão, não estará em
pa de um novo campo de vida, um sintonia.
mundo onde religião, ciência e arte são Na qualidade de jovens, sois um eu,
unos. Não é verdade, por exemplo, e com essa consciência-eu abris um
que a beleza seja revelada através de caminho. Mas, em dado momento,
uma pintura, como um belo objeto devereis colaborar com outras pessoas
que, ao ser visualizado, poderia ser a fim de realizar em conjunto um
fixado. Não. A sublime beleza perten- grande trabalho. É então que o eu se
ce somente ao reino dos céus, onde vê em apuros! Porém, se considerar-
tudo se funde inteiramente. Mas, ain- des que o trabalho é comunitário e
da não estamos lá. começardes a participar do esforço
Contudo, a história está repleta de comum, isso será uma grande aquisi-
exemplos de pessoas que acreditavam ção no plano espiritual.
já terem lá chegado e se retiravam em Enquanto existirem pessoas que
claustros e mosteiros para melhor ainda não encontraram o caminho da
apreciar a vida eterna. Em realidade, vida superior e que não tenham sido
eles enveredaram por uma rota falsa: o “conduzidas ao lar”, a fraternidade do
grande processo de libertação e de reino longínquo permanecerá ao nos-
redenção é algo que se realiza em tra- so lado.
balho grupal. Enquanto o último A onda de vida humana conta com
homem não for libertado, o reino dos um grande número de microcosmos,
céus permanecerá uma utopia para desde o primeiro de sua manifesta-
nós. Deveis renunciar à idéia de que ção. Uma parte deles encontra-se
podeis redimir o eu, iniciá-lo, libertá- aqui e uma outra no além, uma outra
lo. Um eu liberto é algo que não exis- ainda encontra-se no que a Bíblia
te. Se existir algum desenvolvimento denomina “trevas exteriores”, e a
na senda, este só poderá ser o resulta- última se encontra no reino dos céus.
do de um esforço comum. Na Europa O número de microcosmos é fixo e
ocidental, tudo está centrado no indi- nenhum, nem mesmo o mais insigni-
víduo, enquanto que cada microcos- ficante, fica sem ser chamado. Por
mo pertence a um conjunto. isso a fraternidade da vida sempre
A esfera terrestre é um organismo colabora com aqueles que são dignos,
complexo. O total campo de vida é a fim de conduzi-los de volta ao lar, e
um único organismo complexo; ten- a Eternidade atua, no mundo tempo-
tai, portanto, imaginar que uma multi- ral, por meio de três raios: ciência,
dão de seres forma, em conjunto, um religião e arte. A ciência, a idéia, é
único e mesmo ser. A terra, como uma irradiada continuamente sobre a
parte de nosso planeta, compreende humanidade. A religião, a vitalidade,
todo tipo de formas de vida. Quando é também ligada à massa, e a realida-
um único elemento se retira do jogo, o de deve, de um modo ou de outro,
inteiro campo de vida é perturbado. tomar forma. O ensinamento univer-
Tudo deve colaborar para que, sal, a força universal e a maçonaria
mediante a pluralidade, a Unidade se universal são liberados e concorrem,
demonstre. Subordinai, pois, tudo à pelo menos em parte, para a revelação
comunidade. Que o vosso eu nela da grande Luz.

35
A fraternidade da vida xão penetrante que tocará a humani-
dade como um julgamento mediante
Algumas pessoas são, desde o nasci- um raio da beleza, uma onda de con-
mento, na juventude, ou em qualquer solação ou uma incitação à libertação.
outro momento de sua existência, to- Tal tipo de literatura sempre oferece
cadas pelo reino longínquo, ao qual, a também o quarto aspecto: a redenção.
partir desse momento, passam a viver
em auto-rendição. Cada um reage a A arte é uma ponte entre
esses três raios de acordo com seu dois mundos
temperamento. Esses três raios tam-
bém são designados como: a realeza, o Tudo, mas tudo mesmo, deve ainda
sacerdócio e a arte real da construção. ser feito no domínio da arte. Um pin-
Todo aluno da Escola Espiritual tor ou um escultor deve aplicar-se fir-
tem em si alguma afinidade com essas memente em trabalhar em um desses
radiações, cada um segundo sua quatro aspectos. O músico, isto é, o
natureza. Todos, contudo, desejam compositor, também deve levar isso
servir seus semelhantes, seja por meio em conta. Com efeito, há uma enorme
de suas tendências filosóficas, sacerdo- quantidade de trabalho em perspecti-
tais ou artísticas! Tomemos como va. É preciso que apareça uma arte que
exemplo aquele em quem se manifesta sirva de ponte. Assim que a radiação
basicamente o aspecto artístico. Ele do reino da luz vos toca, reagis a ela e,
também deseja auxiliar o seu próximo. sob a pressão dessa realidade, desco-
Sua arte, porém, não se origina na bris a amplitude de vossa tarefa. Não
dialética, embora ele faça uso dos podeis simplesmente subtrair-vos a
meios dialéticos de expressão, pois, de ela. Outra coisa não podeis fazer,
outro modo, ninguém o compreende- senão obedecer ao que a voz interior
ria. Quando um obreiro revela desse diz. Nisso se manifesta a maior cora-
modo algo do reino da luz, seja pela gem possível e, então, tereis êxito.
forma, cor ou som, ele o faz com a Podeis começar com meios simples.
intenção de tocar aqueles que deseja Tudo aquilo que movimentou o
ajudar. Ele pode testemunhar da mundo teve sempre um início muito
ordem divina no mundo em diferentes simples. Não recuseis a oportunidade
matizes, seja por fulgores de inteligên- que se apresenta agora, pois não mais
cia, de beleza, de consolo ou de liber- a tereis. Agarrai-a, pois tudo é possí-
tação. Às vezes podemos ver esses vel. Socialmente podereis seguir vosso
quatro aspectos reunidos numa caminho de desenvolvimento, se é isto
mesma obra. Aquele que se sente o que vos indica a voz interior!
impulsionado a evocar algo do reino Se desejais trazer algo à humanida-
longínquo não recorre à pura estética, de, deveis caminhar com ela, cooperar
a fim de não desencorajar o homem da com ela. Nenhuma reforma, no futu-
massa. De certo modo, ele se encontra ro, será possível sem a unidade de
entre a arte e a mensagem, assumindo grupo. Podeis, em conjunto, lançar
a imperfeição de sua obra. Na literatu- uma ponte entre o homem das massas
ra também podemos encontrar esses e o reino da luz. Servindo de ponte
quatro aspectos reunidos. Tomada entre as duas esferas de vida, a dialética
pelo impulso interior do reino da luz, e a estática, provocareis muitas resis-
uma pessoa escreve um livro de refle- tências.

36
Livrai-vos de toda autoridade –
experimentai a arte no que ela tem a
vos dizer pessoalmente. Suponhamos
que estivésseis diante da obra A ronda
da noite, de Rembrandt, e que a ten-
dência geral fosse achar essa obra ad-
mirável, muito embora não pensásseis
desse modo. Não vos deixeis seduzir
pela mentira e não vos curveis diante
da autoridade em vigor. Evitai respon-
der, se for preciso mentir; ou então
expressai francamente a vossa opinião.
Sede muito honestos convosco. Não
digais que algo é belo, quando assim
não pensardes. Julgai por vós mes-
mos, recusando toda autoridade. Se
ainda não estiverdes interiormente
enobrecidos para reconhecer a obra de
arte que, como uma ponte, liga os
mundos, tampouco qualquer autori-
dade exterior poderá conferir-vos essa
aptidão. E, certamente, quando o
momento chegar, vós a reconhecereis
espontaneamente. os dois mundos. Mas o artista que é
chamado é um mago. Por conseguinte,
A magia da nova arte uma grande força emana de sua obra.
Há obras de arte sobre as quais se
Então, a magia da arte se revelará. diz: “É tão simples, e contudo tão po-
Segundo meu entendimento, essa derosa”. Neste caso, seu criador era
magia somente pode se manifestar um mago.
quando forma o vértice do triângulo, Quando um músico autêntico está
cuja base é formada pela idealidade e a ao piano, quando um verdadeiro au-
vitalidade, ou seja, a ciência e a força tor pega sua caneta, uma força mágica
universais. A magia surge no vértice irradia da obra. Mais que a forma, o
do triângulo quando, graças à reminis- som ou a cor, é essa força que se apo-
cência, a ligação é restabelecida entre dera da assistência e gera a unanimida-
os três aspectos. Então, existe um de entre os que compreendem a obra.
saber interior seguido do impulso para Eles reconhecem a arte de estender
irradiar sob todas as formas possíveis. uma ponte entre os mundos a título de
Não se aprende a magia libertadora cultura espiritual. E dirão uns aos
da arte – toda tentativa nesse sentido outros: “Vocês viram isto? Ouviram
resulta na magia negra –; ela é um aquilo? Perceberam como isso e aqui- Pintura
suprematista.
poder que nasce em nós quando nos lo irradiam luz?” Tal é o poder contido
Kasimir Melevich,
tornamos dignos. na arte de ligar os mundos, a arte do
1916. Óleo sobre
Quando um artista não possui os futuro. Mãos à obra; o mundo espera tela, 88x70 cm.
três vértices do triângulo, não pode que vos decidais a entrar em ação. En- Museu Municipal,
exercer a arte que forma a ponte entre tão, grandes coisas acontecerão. Amsterdã.

37
Somos livres?

Cada ser humano depende de radi-


Q uar t a al oc ação

dade é chamado a seguir


ações e forças eletromagnéticas que um caminho de libertação.
formam suapersonalidade, sua socie- O caminho de libertação
dade, seu mundo e até mesmo todo o pelo renascimento da alma
cosmo. É em vão que pretendemos ser é traçado, e cada um, de
livres e trocamos, com nossos seme- modo individual e ao
lhantes, opiniões a respeito da liber- mesmo tempo em grupo,
dade. tem a oportunidade de
segui-lo e de responder ao
chamado da eternidade.
Encontramo-nos numa imensa pri-
são, tanto como indivíduos quanto O que é a eternidade?
como microcosmos. Alguns orna-
mentam os muros de sua prisão com Não é fora, mas em
a cultura, com ideais, com perspecti- nosso interior que pode-
vas para o futuro, com o humanismo, mos entrar em contato
com a religiosidade e com todo tipo com a eternidade. Isso
de magia. Os poderes deste mundo que aqui dizemos nada
nos controlam e nos prendem à nossa tem a ver com qualquer
condição por meio de forças, radia- filosofia ou abordagem
ções planetárias e das influências do dogmática, tal como o
ser aural, também denominado por mundo o propõe. Em-
alguns de “eu superior”. Em muitas bora expressas com pala-
pessoas, contudo, fazem-se valer uma vras, as verdades das quais
aspiração e uma profunda nostalgia falamos são como ondas de luz áurea
que caracterizam especialmente os que se infiltram na obscuridade deste
membros do Grupo de Jovens Alu- mundo. Essas forças luminosas per-
nos e explicam o motivo de estardes mitem-nos, como grupo, comparti-
hoje aqui reunidos no templo Catha- lhar nossa nostalgia. Elas oferecem
rose de Petri. uma realidade à qual damos o nome
Os grão-mestres, dois obreiros e de alma vivente, corpo vivo, campo
servidores da Fraternidade da Luz, astral da ressurreição. É a essência
testemunharam dessa Luz e, com o que se encontra em nosso coração,
auxílio de numerosos pioneiros, tendo como ponto central o átomo
edificaram um corpo vivo. Esse cor- centelha do espírito, o qual está liga-
po vivo pode ser comparado a um es- do ao corpo vivo, o campo da ressur-
paço livre, um vácuo de Luz, median- reição. Os impulsos emitidos por
te o qual cada microcosmo que se esse campo energético devem abrir-
manifesta através de nossa personali- nos de modo totalmente novo para a

38
realidade. Cada um de nós encontra- neste momento serão sempre leva-
se na senda da Rosacruz. Tornamo- dos conosco, em nossa vida cotidia-
nos alunos da Escola Espiritual há na, estejamos sós ou em companhia
pouco, ou há muitos anos. de nossos condiscípulos, de nossos
Hoje à tarde esta conferência che- colegas, de nossos amigos ou de
gará ao fim. Em breve, iremos nos membros de nossa família. Por um
separar. Agora, trata-se de saber o lado, somos personalidades, mas por
que faremos de nossa vida a partir de outro lado, somos portadores da
amanhã. Sabemos que tudo depende eternidade cuja luz começa a se reve-
de nós, que o futuro repousa em lar. Permitam-nos servir-nos de
nossas mãos, particularmente o algumas imagens. Uma gravação
futuro do microcosmo por meio do musical, um livro que nos agrada Jovens refletem.
qual estamos ligados ao macrocos- particularmente, são cuidadosamen- San Pellegrino,
mo. O conhecimento, a pré-memó- te guardados num lugar seguro. Itália. Foto:
ria e a alegria de que participamos Temos o cuidado de molhar regular- © Pentagrama

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Imaginai que milhares de jovens mos, mas do outro em nós que deve
decidam adotar esse novo con- ser protegido, nutrido e respeitado.
ceito como sendo o fator mais Ele deve ser sustentado e fortalecido
importante de suas vidas. Daí num mundo de sofrimentos, no
resolvem, com todo seu ser, mundo do eu, do conflito perpétuo
responsabilizar-se pela execução entre “egos”! Do mesmo modo
dessas normas. Ao mesmo tempo, como damos à planta a água necessá-
cumprem inteiramente suas tare- ria para seu crescimento e sustento,
fas profissionais, suas funções assim também devemos dar o neces-
sociais. Sentem profunda com- sário à eternidade da qual somos
paixão por todos aqueles que se portadores. Ela tem necessidade da
esqueceram de sua verdadeira água da vida, de éteres nutridores
vocação e natureza. […] puros. Mas onde encontrá-los?
Com sua presença, eles sustentam
o trabalho da Escola Espiritual, A construção de um
de modo que aqueles que buscam templo interior
vêem e sentem a vibração, a vida
e o dinamismo de nossos grupos O templo Catharose de Petri é um
de jovens. Esta descoberta é sem- dos sete principais templos da
pre inspiradora e incita, principal- Rosacruz atual. Nós que aqui esta-
mente em nossos tempos, à refle- mos reunidos sabemos que temos de
xão. […] Para eles prevalece o se- construir um outro templo, feito
guinte: tudo no mundo e na exis- sem pedras e sem cimento. Temos de
tência vem em segundo plano – erigir um templo interior, uma nova
depois da formação da alma! […] construção não destinada ao nosso
Se agirdes desse modo, se vos uso pessoal, mas à Luz, um foco
submeterdes a esses conceitos, decente e apropriado onde ela possa
todos aqueles que entrarem em irradiar. Falamos da pré-memória,
contato convosco terão o máximo da nostalgia da eternidade, que nos
proveito. Estamos juntos em meio impeliu para a Rosacruz. Ora, não
à agitação dos tempos, em presta- podemos encontrar a eternidade
bilidade, vivendo dos novos va- senão em nosso interior. Não existe
lores e concepções. Testificaremos nenhum Eldorado, nenhuma viagem
o único caminho de salvação pela que nos leve até ele, nenhuma espe-
atitude e atividade de vida. rança de encontrar uma praia onde
possamos passar dias felizes pelo
resto de nossas vidas, entre banhos
mente uma planta no jardim ou den- de sol e o prazer das ondas, nenhum
tro de casa. Tratando-se de um lugar sobre a terra do qual podería-
amigo, tudo fazemos para conservar mos dizer: “Aqui é o paraíso”.
sua amizade. E o que faremos, então, Jamais o descobriremos fora de nós
em face da eternidade? Nós a leva- mesmos. Entretanto, o paraíso exis-
mos em nosso coração, como uma te, e o caminho que nos leva até ele
semente que pode germinar e crescer passa pelo coração. Isso todos pode-
até tornar-se a árvore da vida. Ela é mos compreender e admitir. Portan-
o melhor e o mais precioso amigo to, não é tão difícil levar à Luz, à
que temos. Não se trata de nós mes- fonte que dessedenta, ao templo,

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esse novo ser em germinação. espiral se eleva, esses seres recebem
Até agora falamos apenas de nós mais e mais Luz. Cada um de nós se
mesmos, na qualidade de buscadores encontra em algum ponto dessa
individuais que entraram em contato grande espiral, permanecendo, con-
com a Escola Espiritual da Rosacruz tudo, sempre ligado a um grupo de
Áurea. Mas, atualmente, existem amigos, de irmãs e irmãos. É uma
centenas, milhares de pessoas que fonte de alegria, de alegria interior
partilham conosco a mesma aspira- que se propaga em nossa vida coti-
ção. A Escola criou as condições diana, mesmo quando, nos momen-
favoráveis à serenidade, ao repouso e tos difíceis, como a perda de um
à paz. Durante uma conferência de amigo muito querido, as tensões do
renovação, deixamos nossas preocu- trabalho, os estudos, a assimilação
pações habituais e nos concentramos de grandes quantidades de cursos e
no essencial: a eternidade em nós. leituras e a execução de muitas tare-
Liberamos em nós um espaço para o fas, permanecemos, não obstante,
Outro, para o verdadeiro amigo de ligados ao processo no qual fomos
toda vida. Fazemos isso no interior admitidos por nossa reação ao cha-
de um grupo, unidos pela mesma ta- mado para o renascimento da alma.
refa e pelo mesmo objetivo. Grande
é o número dos que nos precederam Transfiguração
nesse caminho. São centenas de
irmãs e irmãos que, como novas Transfiguração. Ouvimos falar
almas, deixaram para trás o mundo sobre ela. Estamos no âmago da
do espaço e tempo. Essa comunida- questão. Saberemos melhor o que
de-alma, livre da matéria, forma um ela representa à medida que percor-
canal pelo qual aflui a Água Viva no rermos o caminho traçado pela
corpo vivo da jovem Gnosis. Essa Escola. Fomos tocados pelo primei-
Água Viva está à disposição de todos ro raio da Gnosis, que chama cada
que se encontram no templo duran- um nós e nos soergue. Essa marcha
te os serviços e conferências de reno- de desenvolvimento exige de nós
vação, nos países e cidades em que seriedade e aplicação. Portanto, não
habitamos. seguimos o caminho de cabeça
Sabemos por que estamos aqui baixa, abatidos por sentimentos de
reunidos: fazemos parte de um tristeza, de autopiedade e de culpa
grupo de alunos aspirantes da Esco- descabidos. Todas as indicações
la da Rosacruz Áurea. Aqui não há necessárias ao bom desenvolvimento
autoridades, mestres a serem venera- do trabalho são dadas pela Escola.
dos, ou alguém a quem devamos ele- Nossa evolução individual e grupal
var nossos olhos. Aqui existe não significa uma busca de liberda-
somente um grupo admitido num des exteriores. A liberdade é interior,
processo de transmutação, que rece- sua fonte está no coração. Um dia,
be a Água Viva que sustenta a eterni- do coração nascerá uma alma viven-
dade em nós. É uma graça poder te. Em virtude da consciência-eu,
participar desse desenvolvimento. somos todos almas naturais. Somos
Imaginemos uma espiral ascendente o que somos. A dualidade está em
composta de milhões de seres que nós. Somos seres duplos: de um lado
aspiram à Luz. À medida que essa temos o eu e a personalidade, de

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outro lado temos o portador da lugar em nosso coração, melhor
Vida. O fato de perseverarmos jun- compreendemos o que devemos
tos torna-nos mais e mais conscien- fazer em nossa vida, qual é nossa
tes e sensíveis ao impulso interior e tarefa, e o que ainda é mais impor-
ao calor da Vida. O nascimento da tante: qual a missão do grupo.
nova alma impõe exigências, para Graças a uma visão cada vez mais
cuja observância a sabedoria univer- clara, avançamos em perfeita unida-
sal sempre recomendou: Busca o de e fraternidade. A divisa do traba-
reino de Deus. Bate à porta da eter- lho futuro da Escola resume-se
nidade e ela se abrirá. O reino de numa palavra: fraternidade. Nossa
Deus está mais próximo que pés e tarefa é formar um grupo, uma
mãos; ele está dentro de ti. No cen- comunidade de homens e mulheres
tro do microcosmo que nos envolve, libertos das limitações e dos entraves
a centelha divina inflama-se median- devidos ao nosso estado sanguíneo,
te sua ligação com a eternidade. às fronteiras nacionais e lingüísticas
Então, carregamos em nós o reino e aos conceitos tacanhos. A lingua-
original! Quanto mais nos conscien- gem da eternidade e da alma poderá,
tizamos disso e lhe concedemos um então, ser ouvida.

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As portas de Saturno O amor é uma força que provém
da sexta região cósmica. Ele desper-
Neste ano de 2004, celebramos os ta, ele desmascara. Ele penetra o
oitenta anos da fundação da Escola campo da Escola e vem ao encontro
Espiritual. Ingressamos numa nova da corrente que aspira à unidade
fase de desenvolvimento. Atraves- através da alma.
samos as portas de Saturno. Segundo O amor é uma radiação. Ele une e
os ensinamentos da Escola, os plane- realiza uma colheita de novas almas.
tas dos mistérios exercem sobre nós A fraternidade universal dos ho-
uma influência sempre crescente. mens está trabalhando hoje, e conti-
Possuímos um tesouro interior e nuará a trabalhar até que a última
sabemos que estamos engajados alma esteja liberta. Busca e acharás,
num processo extraordinário. Abra- bate e se te abrirá, pois o reino de
mo-nos mutuamente e escutemos Deus está mais próximo que mãos e
uns aos outros. Encontramo-nos pés. O reino de Deus está em cada
num campo magnético muito espe- um de nós.
cial mediante o qual somos ligados a
uma corrente de luz e amor.

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A arte não existe por si mesma. Nós a vemos como
um dos três elos da corrente constituída pela ciência,
religião e arte. A ciência é a idéia: a idealidade.
A religião é a força que se liga à idéia e se torna vitalidade.
A arte que se materializa na vida torna-se a realidade.

(A missão e a magia da arte,


de J.van Rijckenborgh, p.32)

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