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Relaçoes Sociais Virtuais Uma Leitura Psicanalitica
Relaçoes Sociais Virtuais Uma Leitura Psicanalitica
Resumo
A presente pesquisa bibliográfica tem como objetivo entender as relações sociais via Internet
na atualidade, a partir dos autores que discutem o tema e a partir de uma leitura psicanalítica.
A pesquisa abordou o que se nomeou como modernidade, pós-modernidade e
hipermodernidade; caracterizou o contexto da Internet; definiu as relações virtuais;
identificou os impactos das relações virtuais na realidade das relações sociais e realizou uma
leitura psicanalítica da dinâmica das relações virtuais. A segunda metade do século XX foi
marcada pelo surgimento dos meios de comunicação rápidos, entre eles a Internet, que
viabilizaram a globalização. O aumento do fluxo da comunicação e o acesso a pessoas ou
grupos em espaços até então inalcançáveis por outros meios, tem permitido às pessoas
explorarem facetas de sua personalidade. Como relação virtual entende-se aquela que só tem
lugar no ciberespaço, não funcionando como um meio para que os participantes se encontrem
no mundo real. As relações sociais até a modernidade eram organizadas por um eixo vertical
de identificações. As crianças se identificavam com o pai, os adultos com os superiores no
trabalho ou numa instituição social. Em tempos hipermodernos a globalização comprimiu o
espaço-tempo horizontalizando o mundo e levou ao excesso as formas que orientam o mundo.
Quando a forma em que se dá o laço social muda, o homem muda. Novas doenças surgem e
novas soluções são propostas. Com a globalização alguns sintomas sociais passaram a se
expressar de forma diferente como a drogadição, o fracasso escolar, a violência e a depressão.
O homem ficou desbussolado. O espaço virtual tem se mostrado como um local de
reprodução de discursos já existentes no real. A Internet acrescenta uma dimensão nova aos
prazeres pela velocidade, liquidez e anonimato. Houve um afrouxamento na expressão da vida
sexual anormal e também nas relações sociais e amorosas. Foi Jacques Lacan quem apontou
para uma psicanálise além do Édipo, capaz de acolher um homem cujo problema é não saber
o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis. O amor tornou-se
múltiplo e arbitrário. O sujeito hipermoderno precisa de um novo pacto social.
Graduando em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Caixa Postal 11, Centro,
Governador Valadares, MG, 35.001-970. juliocesarpsi@msn.com.
Psicóloga. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de
Havana. Professora no curso de Psicologia e Coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Saúde
Mental e Intervenção Psicossocial da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora de Trabalhos
de Conclusão de Curso. Rua Lincoln Byrro, 490, Vila Bretas, Governador Valadares, MG, 35.032-610.
Solangecoelho7@hotmail.com.
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1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
Charlies (2004) definiu a pós-modernidade como uma época marcada pela ampliação
da autonomia subjetiva, pela multiplicação das diferenças individuais e pelo dissolver dos
princípios sociais reguladores em unidades de opiniões e modos de vida. O individualismo e a
desagregação das estruturas tradicionais de normatização produziram fenômenos paradoxais
como o autocontrole e a abulia, tomada de responsabilidade e desregramento. A essência do
individualismo tornou-se o paradoxo.
A pós-modernidade desejava se libertar de toda interferência coletiva no destino
individual. De sorte, o que propulsionou a passagem da modernidade à pós-modernidade foi o
consumo de massa e os valores hedonistas que ele veicula. Segundo Bauman (1998), os
homens e as mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de
segurança por um quinhão de felicidade.
A pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os freios
institucionais que se opunham à emancipação individual desaparecem e dão lugar à
manifestação dos desejos subjetivos, da realização individual e do amor-próprio. A pós-
modernidade é uma era de tribos que enaltece a comunidade e o fazer parte. As comunidades
são organismos não planejados que crescem naturalmente.
Lipovetsky (2005) definiu a pós-modernidade como uma sociedade de serviços que
pulveriza a antiga disposição disciplinar através da sedução.
Observa-se que as últimas décadas do século XX, conforme analisa Kehl (2002),
ocorreu um declínio da era industrial e de toda ética do trabalho, do sacrifício e do adiamento
do prazer. A nova economia gerou grande parte de seus lucros a partir da informática, da
indústria virtual das comunicações e também do consumo de bens supérfluos, serviços e lazer.
Essa economia produziu grandes e rápidas concentrações de riqueza.
Bauman (1998) avalia que a pós-modernidade é o tempo da fluidez, do líquido. Estar
em movimento significa não fazer parte de nenhum lugar e a conseqüência disso é não contar
com a proteção de ninguém. Quanto mais depressa se corre, mais rápido se permanece no
lugar. A estratégia da vida pós-moderna é evitar o fixo. O estranho é odioso e temido da
maneira como o é o viscoso. Ao contrário da água a substância viscosa gruda e não flui com
liberdade. A viscosidade implica a perda ou a ameaça da liberdade.
A partir deste conceito de fluidez, Bauman (2007) desenvolveu o conceito de vida
líquida como sendo a forma de vida numa sociedade líquido-moderna.
A vida líquida não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.
O envelhecimento e a obsolescência das coisas ocorrem rapidamente e antes de serem
apreendidas efetivamente. É uma sucessão de reinícios e o livrar-se das coisas tem prioridade
sobre a aquisição. Percebe-se essa característica facilmente observando-se a produção de lixo
na sociedade.
As relações amorosas na vida líquida também seguem essa característica, portanto, são
relações vividas em condições de incerteza constante. Tendo o passado e o futuro sido
desacreditados, existe a tendência a pensar que o presente se tornou a referência essencial.
Para Bauman (2007), o mundo pós-moderno está se preparando para a vida sob uma condição
de incerteza que é permanente e irredutível.
Segundo Gilles Lipovetsky (2004) o termo pós-modernidade tinha o mérito de
salientar uma mudança de direção, uma reorganização na dinâmica social e cultural, uma
expansão do consumo e da comunicação em massa, pontuar o enfraquecimento das normas
disciplinares e a consagração do hedonismo. Na década de 1980 o conceito dava oxigênio e
sugeria o novo, entretanto, ainda focava o passado que se decretara morto. Considerando a
liquidez da modernidade, o ciclo de vida da pós-modernidade já se esgotou. Ao mesmo tempo
em que se anunciava o nascimento da pós-modernidade também se desenhava a
hipermodernização do mundo.
Nasce toda uma cultura hedonista e psicologista que incita à satisfação imediata das
necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o florescimento pessoal,
coloca no pedestal o paraíso do bem-estar, do conforto e do lazer. Consumir sem
esperar; viajar; divertir-se; não renunciar a nada: as políticas do futuro radiante
foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico
(LIPOVETSKY, 2004, p.61).
conhecido, será apenas criação da própria fantasia. Até mesmo a não-existência de riscos dá-
se justamente pela inexistência do outro, do limite da corporeidade.
Segundo Bauman (1998, 2004), um lado da transformação dos nossos dias é o
desemaranhamento do sexo do denso tecido de direitos adquiridos e deveres assumidos. Nada
resulta do encontro sexual, salvo o próprio sexo e as sensações que acompanham o encontro.
Os motivos para associar a satisfação das necessidades sexuais com o casamento se tornam
cada vez menos evidentes ou convincentes. O compromisso com outra pessoa ou com outras
pessoas parece cada vez mais uma armadilha a ser evitada a todo custo. As relações sexuais
costumavam proporcionar o tijolo e a argamassa essenciais para a construção da estrutura na
vida familiar. Hoje elas têm sido instrumento de desagregação dessa estrutura.
Outra perspectiva interessante a ser observada é a imposição de um desempenho
sexual perfeito para homens e mulheres. Cada um exerce intenso controle de desempenho
sobre o outro, com a exigência mútua do prazer absoluto. A relação passa a ser mantida sob
uma perspectiva de necessidade e temor. Uma das saídas possíveis passa a ser a busca do
prazer virtual que exige, a princípio, apenas uma predisposição ao exercício da imaginação
(SEMERENE, 1999).
Gonçalves (2008) pontua que o amor com as máquinas e as aventuras nos mundos
virtuais são uma alternativa bastante sedutora na era da Aids, da gravidez indesejada e das
doenças sexualmente transmissíveis. No mundo virtual o desejo geral de um amor sem risco
deu vazão aos jogos sexuais em linha de texto, aos programas pornográficos interativos, e ao
sexo em realidade virtual.
Se a tela protege nos primeiros momentos do encontro, e enquanto durar a relação,
protege igualmente no momento da separação: de modo algum a reação do outro abandonado
pode afetar o eu que o abandonou, e isso porque o outro abandonado é radicalmente excluído
do mundo virtual do abandonante.
Pode-se admitir a existência de uma situação paradoxal dos humanos na
contemporaneidade, situação que se caracteriza por um desejo de relações sem a disposição
de se pagar o preço necessário e admitir igualmente que disso decorreria em parte da força de
atração das relações virtuais.
A relação entre o mundo virtual e o real pode parecer redundante e óbvia, já que o
usuário da Internet é o homem contemporâneo e só poderíamos encontrar nele as
características que esse sujeito possui na vida real.
Segundo Giugliano,
Freud (1905) utiliza o exemplo de uma fotografia, não digital, para afirmar que as
neuroses são o negativo da perversão. Uma imagem fotográfica começa como negativo e só se
torna fotografia após haver transformado em positivo. Nem todo negativo transforma-se
necessariamente em positivo. Dessa forma, Freud salienta que a vida sexual de cada sujeito se
estende ligeiramente além das estreitas linhas impostas como padrão de normalidade e que o
instinto sexual dos psiconeuróticos exibe todas as aberrações estudadas como variações da
vida sexual normal e como manifestações da vida sexual anormal.
Bloch (1902, apud FREUD, 1917b) já apontava que os desvios e variações da vida
sexual normal não são sinais de degeneração, mas ocorrências que marcaram diversas épocas,
desde os povos mais primitivos até os mais civilizados, que foram tolerados e difusamente
reconhecidos.
Os sintomas neuróticos são substitutos da satisfação sexual, substituto daquilo que não
aconteceu normalmente até seu objetivo normal. Dessa forma, os sintomas também são
substitutos da satisfação daquilo que se chama necessidades sexuais pervertidas e que os
sujeitos se privam em suas vidas. Os sintomas servem de satisfação sexual do sujeito
substituindo a satisfação sexual da qual o mesmo se privou, portanto, o sintoma é a realização
de um desejo, e ademais disso, a realização de um desejo erótico (FREUD, 1917a).
Nas palavras de Dor (1994), o sintoma neurótico resulta sempre de um recalcamento
dos componentes pulsionais da sexualidade. Já Freud (1930) havia postulado que o mal-estar
na cultura estava ligado à falta que atingiu o gozo.
Segundo Chemama (1993), o gozo refere-se ao desejo inconsciente, noção que
ultrapassa qualquer consideração sobre os afetos, os sentimentos e as emoções, e colocando a
questão de uma relação com o objeto que passa pelos significantes inconscientes. A ênfase é
colocada na questão complexa da satisfação em seu vínculo com a sexualidade. O gozo se
opõe ao prazer, que reduziria as tensões do aparelho psíquico ao mais baixo nível possível. O
gozo é um prazer postergado, que causa uma dor, e pode permitir o acesso a um prazer maior
e mais duradouro.
Quinet (2009) afirma que o que está sempre promovendo a satisfação da pulsão, ao
simbolizar o Real do gozo é o sintoma. Ele afirma que o sintoma é definido por Lacan, nos
anos 1950 a partir do Simbólico e nos anos 1970 a partir do real. É do Real que se trata no
Sinthoma, grafia utilizada por Lacan para caracterizar sua distinção com o sintoma.
O sintoma é a expressão de uma realização de desejo e a realização de um fantasma
inconsciente que serve para realizar tal desejo. Segundo este autor, para Lacan o sintoma é o
efeito do Simbólico no Real. O sintoma é aquilo que as pessoas têm de mais real. Lacan criou
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o termo Sinthoma para designar o quarto círculo do nó borromeano e para significar que o
sintoma deve cair e que o Sinthoma é aquilo que não cai, mas transforma-se para que continue
sendo possível o gozo, o desejo (CHEMAMA, 1993).
Lacan (2007) ao apresentar os três anéis separados que representam o Real, o
Simbólico e o Imaginário, ligados por um quarto anel que representa o Sinthoma afirma que o
pai e o Complexo de Édipo também são Sinthomas.
O homem ficou desbussolado sem o norte da mão do pai que, por ter o saber, lhe
assegurava o caminho a seguir. Para ele foi Jacques Lacan quem apontou para uma
psicanálise além do Édipo. Uma psicanálise capaz de acolher um homem cujo problema é não
saber o que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis. Hoje o problema
do sujeito não está mais nas amarras de seu passado, mas na escolha entre várias
possibilidades de futuro (FORBES, 2004).
Para Cabas (2009) o excesso se tornou norma e o gozo virou regra. O sexo passou a
ser considerado como uma necessidade, o que equivale a uma perda do lugar que o desejo
ocupava na obra de Freud. Para a psicanálise de hoje, ainda segundo Cabas (2009), a causa
dessa nova economia está relacionada com a queda da função paterna. Sendo assim, o que há,
de fato, é a emergência de um novo sintoma.
A depressão é uma das grandes formas patológicas predominantes na atualidade. Para
o autor, a depressão aparece quando o sujeito tem o sentimento de não ter mais valor aos
olhos do Outro. Menciona ainda que para Lacan a depressão é uma covardia no sentido de que
a covardia remete a uma autoridade imaginária que definiria o grau do próprio humor. Lacan
pensava que cada um deveria autorizar-se quanto a seu humor (MELMAN, 2003).
O excesso de intensidade faz com que o sujeito se sinta estranho em relação a si
mesmo e apresente perturbações psíquicas como a depressão, perturbação caracterizada pelo
vazio. (BIRMAN, 1905 apud PEREIRA, 2008).
Kehl (2009) analisando o aumento dos diagnósticos de depressão nos países do
ocidente desde a década de 1970 citou que a Organização Mundial da Saúde estima que a
depressão, no início dos anos 2000, acometia 6% da população mundial e prevê que até 2020
terá se tornado a segunda causa de morbidade no mundo, precedida apenas pelas doenças
cardíacas. A partir dessa análise a autora aponta uma hipótese de que as depressões na
contemporaneidade ocupam o lugar de sinalizador do mal-estar na civilização. Analisar as
depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os
depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão incômodo e
ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX.
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Forbes (2005) aponta para a necessidade de um novo pacto social, de um novo amor
que substitua o amor que prevaleceu até hoje e que foi fundado em nome do pai. Se o mundo
moderno caminhava da impotência para a potência, a diferença de nosso tempo é que o
mundo hipermoderno caminha de uma posição de impotência em direção ao impossível. Para
apreender esse novo amor o autor enfatiza a necessidade de se pensar em uma terceira
dimensão, além do Imaginário e do Simbólico. A terceira dimensão, além da realidade
simbólica ou da virtualidade imaginária, é o Real incapturável e incompreensível, o Real
impossível, um limite que pode ser descoberto quando o sujeito pára de se orientar pela
realidade.
O Imaginário é descrito por Checchinato (1988) como sendo tudo o que, como a
sombra, não tem nenhuma existência própria. Chemama (1993), por sua vez, afirma que o
Imaginário deve ser entendido a partir da imagem. Na relação intersubjetiva, o Imaginário é a
introdução de alguma coisa fictícia que é a projeção imaginária de um sobre a tela simples em
que o outro se transforma. Lacan (2005) afirma que toda relação a dois é sempre mais ou
menos marcada pelo estilo do Imaginário.
O Simbólico é descrito por Checchinato (1988) como sendo tudo o que só tem em si o
valor de indicar a ligação. Chemama (1993) afirma que o Simbólico é uma função complexa e
latente que envolve toda a atividade humana, comportando uma parte consciente e outra
inconsciente, ligadas à função da linguagem. Lacan (2005) postula que o inconsciente e o
sintoma são estruturados como a linguagem. Para Jorge (2008) o Simbólico tem a ver com o
saber em jogo e é responsável pelas transformações tão profundas para o sujeito. Melman
(2003) afirma que o Simbólico quer dizer que o significante é sempre o símbolo de uma falta
que é o motor do desejo.
O Real é descrito por Checchinato (1988) como sendo o resto que sobra de sua
simbolização e que continuará sendo sempre o mesmo e irrepresentável. O Real está fora do
que é simbolizado, portanto, fora do universo das significações. Para Forbes (2005) o Real é a
pedra no caminho. O inapreensível retorna, repete-se, somos afetados por seu constante
renascimento, sem podermos capturá-lo. Cabas (2009) define o Real como um obstáculo à
simbolização, um entrave ao Simbólico, um Real avesso às articulações do significante.
O Real pode ser percebido como algo duro, impossível de ser captado por qualquer
instrumento da realidade ou da virtualidade – palavra ou imagem – o que faz com
que todos estejamos um pouco fora do caminho. Há uma pedra que nos devia. A
ninguém é dado o direito à certeza de sua percepção (FORBES, 2005, p. 101).
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A autora avalia que a psicanálise tem sido questionada como um método terapêutico
pelos defensores das neurociências e das técnicas comportamentais que visam diminuir
rapidamente os sintomas do sofrimento psíquico. A sociedade contemporânea pensa a cura
desse sofrimento como eliminação de todo mal-estar, de toda angústia de viver. Não é por
acaso que a depressão seja o sintoma predominante do sofrimento psíquico no final do século
XX e início do XXI, como fora a histeria anteriormente. A sociedade moderna tem na
liberdade, na autonomia e na valorização narcísica individual seus pilares de novos modos de
alienação orientados para o gozo e para o consumo.
A psicanálise ainda é chamada para oferecer justificativas para o mal-estar, contudo, a
psicanálise deve convocar a palavra a trabalhar tentando escutar e acolher os efeitos que ela
produz, inclusive no campo social. Para ela, o psicanalista não interfere como explicador, mas
como questionador expondo a fragilidade que existe sob a aparência das certezas
estabelecidas (KEL, 2002).
Uma psicanálise pode dar aos analisandos hoje a possibilidade de serem homens e
mulheres prontos a todas as circunstâncias, implicando não temer nem recuar diante do
encontro, mas suportar e se responsabilizar singularmente pelo acaso que toda circunstância
traz, e ainda, ser a sua conseqüência (FORBES, 2005).
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3 CONCLUSÃO
que fazer, nem escolher entre os vários futuros que lhe são possíveis, porém, sem pai, sem
norte, sem bússola.
Considerando a avaliação de Forbes (2005), no mundo vertical a maneira de
experimentar a mudança envolvia um avanço do saber, como já havia proposto Freud,
simplesmente porque o homem tinha o objetivo marcado, um futuro planejado, e seu
sofrimento era a dificuldade de alcançar tal objetivo. Este não é mais o mundo do terceiro
milênio. Nosso tempo, horizontal, necessita de um novo programa que supere as bases do
Complexo de Édipo. Mas o que podemos propor para substituir as estruturas tradicionais?
O fundamental hoje não é fazer que o sujeito busque uma nova palavra quanto ao seu
mal-estar, mas, fazê-lo buscar a conseqüência da sua palavra. O sujeito hipermoderno precisa
de um novo pacto social, um novo amor. O amor até hoje foi fundado na metáfora paterna, em
nome do pai. O amor na hipermodernidade tem características múltiplas, sendo, portanto, um
novo tipo de amor sem nenhum padrão, um amor arbitrário.
A psicanálise pode oferecer, hoje, a possibilidade de fazer o sujeito enfrentar o
impossível e desvelar a criatividade humana que pode forçar a criação de novos espaços e
limites. Nesse sentido a psicanálise deve implicar o sujeito a inventar o seu futuro e a
sustentar a sua invenção no mundo.
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Abstract
Bibliographic this research aims to understand the relations social Internet today, from
authors who discuss the topic and from a reading psychoanalyses. This research focuses on
what is named as modernity, post-modernity and hypermodernity; characterized the context of
the Internet, the relations defined virtual; identified concerning the impact of the virtual
reality of relating social and held a reading of the dynamics of psychoanalyses concerning
virtual relations. The second half of the twentieth century was marked by the emergence of
media rapid comunicacion, including the Internet, which enabled the globalizacion. The
increased flow of comunicacion access to people or groups in space unreachable aware by
other means, has allowed people to explore facets of his personality. Interface as virtual
means that stem rise in Cyberspace, in functioning as a means for participants to meet in the
real world. The modernity concerning social ties were organized by a vertical pivot
identifications. The Children identified with the father, adults with superiors at work or a
social Institution. In the hypermodern times globalizacion compressed space-time more
horizontal the world and led to excessive forms that guide the world. When the form in which
tied social changes, man changes. New illnesses arise and new solutions so tender. Some of
the symptoms present themselves as globalizacion drogadicion, school failure, and violence
not to fast. The man was without north. The virtual space has been recommended as a place of
Reproduction alives speeches in the real. The Internet adds a new dimension to the pleasures
by speed, liquidity and anonymity. There was a relaxation in the express abnormal sexual life
and also in relating social and loving. It was Jacques Lacan who pointed to a psychoanalyses
above of Oedipus, able to accommodate a man whose problem in knowing what to do, or
choose among the various futures that you only possible. Love became multiple and
Arbitrary. The subject hypermodern need a new social pact.
Graduando em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Caixa Postal 11, Centro,
Governador Valadares, MG, 35.001-970. juliocesarpsi@msn.com.
Psicóloga. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de
Havana. Professora no curso de Psicologia e Coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu em Saúde
Mental e Intervenção Psicossocial da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora de Trabalhos
de Conclusão de Curso. Rua Lincoln Byrro, 490, Vila Bretas, Governador Valadares, MG, 35.032-610.
Solangecoelho7@hotmail.com.
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