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CEARÁ

Seminários Linguísticos do 
Departamento de Letras 
Vernáculas

A passiva nas abordagens 
gerativas transformacionais e 
 na LFG

Jessé Mourão
Fco Gleiberson Nogueira 
Análises transformacionais

Se S1 é uma sentença gramatical da form


NP1 – Aux – V – NP2,

Então a string correspondente da forma


 NP – Aux + be + en – V – by + NP1
2
também é uma sentença gramatical.

CHOMSKY, N. Syntactic Structures. Paris: Mouton, 1957, p. 43.


Análises transformacionais
Teoria da Regência e da Ligação (GB theory)

Chomsky (1981, p. 124) propõe a derivação da passiva por


meio da interação entre regras gerais e duas propriedades:

(i) [NP, S] não recebe papel temático (absorção de papel


temático)

(ii) [NP, VP] não recebe Caso dentro da VP, para


alguma escolha da NP na VP. (absorção de caso)

a. John was killed.


b. [NP e] was killed John.

CHOMSKY, N. Lectures on Government and Binding. Dordrecht: Foris, 1981..


Análises transformacionais
Teoria da Regência e da Ligação (GB theory)

Análise de Jaeggli (1986)

NP VP

Jason
V NP
Killed
Estrutura sintática do
John
particípio passivo

JAEGGLI, O. Passive, Linguistic Inquiry, 17, 1986, p. 587-622.


Análises transformacionais
Teoria da Regência e da Ligação (GB theory)
Baker, Johnson and Roberts (1989)
O morfema da passiva é um argumento.


Estrutura-D

Estrutura-S
BAKER, M., JOHNSON, K. Roberts, I. Passive arguments raised.
Linguistic Inquiry, 20, 1989, p. 219-51.
Análises transformacionais
Programa Miminalista

Arquitetura geral do sistema de geração da estrutura sintática (ADGER, 2003, p. 117)

ADGER, David. Core syntax: A Minimalist approach (Oxford Core Linguistics


1).
Oxford: Oxford University Press Oxford, 2003.
Análises transformacionais
Programa Miminalista


A chegagem de traços
letters to Peter

MÜLLER, Stefan. Grammatical theory: From transformational grammar to


constraint-based approaches (Textbooks in Language Sciences 1). Berlin: Language
Science Press, 2016.
Análises transformacionais
Programa Miminalista
a. Medea killed Jason.
b. Jason was killed.

(ADGER, D., 2003)


Análises transformacionais
Programa Miminalista

“De certo modo, nós ‘desconstruímos’ a passiva; ela não é


uma construção especial, mas apenas outro núcleo funcional
na Hierarquia das Projeções: quando esse núcleo funcional
está presente, ele desencadeia diversos comportamentos
sintáticos independentes. Isso significa que não existe uma
construçao passiva especial, mas apenas um único núcleo
com sua especificação de traços.” (ADGER, p. 190)
Cap 3

Passivas, aplicativas e “alternância dativa

(KROEGER, 2004)
3. Passivas, aplicativas e “alternância dativa”

(1) a Sensei=ga Taroo=o sikat-ta


teacher=NOM Taroo=ACC scold-PAST
‘The teacher scolded Taroo.’

b Taroo=ga sensei=ni sikar-are-ta


Taroo=NOM teacher=OBL1 scold-PASSIVE-PAST
‘Taroo was scolded by the teacher.’

(TSUJIMURA, 1996 apud. KROEGER, 2004, p.53.)


3. Passivas, aplicativas e “mudança pro dativo”

(2) a A snake bit John’s dog.


b Ali bought this bicycle for his son.
c The allies quickly forgot Churchill’s advice.
d Jill hit Jack on the head with an umbrella.

(3) A John’s dog was bitten by a snake.


B This bicycle was bought by Ali for his son.
C Churchill’s advice was quickly forgotten (by the allies).
D Jack was hit on the head with an umbrella (by Jill).

(KROEGER, 2004, p.53.)


3. Passivas, aplicativas e “mudança pro dativo”

A oposição ou alternância entre ativa e passiva é o tipo


mais comum de sistema de VOZ entre as línguas do
mundo. O termo VOZ refere-se a um sistema de oposições
envolvendo uma mudança no papel semântico que está
relacionado com a função de sujeito. (KROEGER, 2004,
p.54)
3.1 Alguns traços tipológicos da passiva

1) Passivas são normalmente formadas a partir de verbos


transitivos (ou ditransitivos);

2) Em algumas línguas, a passivização pode ser restrita


(ou mesmo impossível) para certos tipos de verbos, p. ex.
para verbos “experienciadores” não-volitivos (see, hear, e
know) ou estativos (own, resemble, contain etc.)
3.1 Alguns traços tipológicos da passiva

Mudanças na atribuição das relações gramaticais:

1) A “promoção” do paciente de objeto direto para sujeito;

2) A “demoção” do agente de sujeito para oblíquo.

Se o paciente não é promovido, a sentença passiva resultante


não possuirá um sujeito gramatical. Trata-se das chamadas
PASSIVAS IMPESSOAIS.
3.1 Passivas Impessoais

(4) a Finnish (Comrie, 1977; Ida Toivonen)


Äiti jätti hänet kotiin..
mother left him (ACC) to.home
‘Mothe left him at home.’

b Hänet jätettiin kottiin.


him(ACC) was.left to.home
‘He was left at home.’

(KROEGER, 2004, p.54s)


3.1 Passivas Impessoais

(6) German
a Die Frauen tantzen gestern
the.FEM.NOM.PL women dance-PAST.PL yesterday
‘The women danced yesterday.’

b Es wurde gestern (von den Frauen) getanzt

(KROEGER, 2004, p.55)


3.1 Passivas adversativas

(7) Quang bi Bao ghet.


Quang suffer Bao hate
‘Quang is hated by Bao.’

(KROEGER, 2004, p.56)


3.1 Passivas adversativas

(KROEGER, 2004, p.56)


3.2 Passiva como regra lexical

A passivização é, primariamente, um
realinhamento das relações gramaticais, sempre
envolvendo uma mudança do agente de sujeito
ativo para um oblíquo passivo, e normalmente
envolvendo a promoção do paciente de objeto
ativo a sujeito passivo (KROEGER, 2004)
3.2 Passiva como regra lexical
Passiva como uma regra lexical

A gramática do inglês tem de incluir regras de estruturas


sintagmáticas (como as mostradas em (12)) para dar conta
tanto de sentenças ativas, como também, ao mesmo
tempo, as mesmas regras devem permitir gerar as
sentenças passivas correspondentes. (KROEGER, 2014,
p.58)
Passiva como uma regra lexical
Passiva como uma regra lexical
Esse tipo especial de verbo presente em orações passivas difere de seu
correspondente ativo em dois pontos principais: i) por sua forma
morfológica; ii) pelas relações gramaticais que são por ele atribuídas, ou
seja, por sua subcategorização (KROEGER, 2004, p.58). A despeito do
ponto (i), ou seja, da forma do verbo em si, e da presença de um verbo
auxiliar (tanto em inglês quanto em português), a estrutura sintática de
uma sentença passiva é bastante similar à sua correspondente ativa. No
que concerne à estrutura sintagmática e ao padrão na ordem das palavras,
verifica-se que não há grandes diferenças em pares de sentenças ativa e
passiva.
Entradas lexicais e regras lexicais (p. 60-62)

“O léxico não é uma simples lista de palavras, mas é, na verdade,


parte do sistema de regras da gramática, uma vez que inclui não
apenas as palavras (entradas lexicais) da língua mas também um
conjunto de regras lexicais.” (p. 61)

Ex.: as regras lexicais de formação de palavras (black + ness =
blackness)
Embora o falante insira no seu léxico palavras “básicas” (não
derivadas) e um conjunto de regras de formação de palavras, ele
também precisa inserir palavras “básicas” e as palavras derivadas
correspondentes como entradas separadas.
3.4 A regra da passiva

Um regra lexical é aquela que deriva uma entrada lexical


de outra, expressando um padrão regular de relações
entre as palavras. Ao analisarmos a passiva como uma
regra lexical, estamos afirmando que ambos os verbos
ativo e sua contraparte passiva estão listados como
entradas lexicais distintas. A regra da passiva representa a
relação sistemática entre essas entradas. (KROEGER,
2004, p.62)
Exceções à regra da passiva

KROEGER, 2004, p.63


Evidências para a análise lexical da passiva

(KROEGER, 2004, p.80.)


Topicalização vs. Passivização

Diferenças relevantes:

1) As sentenças com topicalização (57b-d) apresentam


formas verbais (ativas) normais, enquanto a sentença
passiva (56a) apresenta uma forma especial de verbo,
juntamente com um verbo auxiliar;
2) A sentença passiva exibe uma estrutura sintagmática
básica e um padrão de ordem de palavras normais;
3)A sentença passiva pode ser topicalizada:

(KROEGER, 2004, p.80)


(59)  a The President was invited to a Polish wedding in Chicago.
        b  In Chicago the President was invited to a Polish wedding
        c  As for Chicago, the President was invited to a Polish wedding there.
        d  As for Polish weddings, the President was invited to one in Chicago.
Construções Aplicativas (p. 63-73)
Língua Chichewa
Construções Aplicativas (p. 63-73)

“Um afixo aplicativo é aquele aumenta a valência (transitividade)


do verbo transformando um argumento oblíquo em objeto direto.
Esse objeto gerado dessa forma é geralmente referido como
OBJETO APLICADO.” (p. 65)
Testes:

A ordem de palavras

Sistema de concordância

A passiva
Construções Aplicativas (p. 63-73)

Testes:

A ordem de palavras

Quando há dois objetos NP em uma única oração o objeto
aplicado vem primeiro, imediatamente após o verbo. Na maioria
das línguas com construçoes com objeto duplo (dois objetos NP
em uma mesma oração), o objeto primário vem adjacente ao
verbo e o objeto secundário vem mais distante. (p. 66)
Construções Aplicativas (p. 63-73)

Testes:

O sistema de concordância

Na língua Chichewa, o verbo sempre concorda com o sujeito. E o
verbo pode ou não concordar com o objeto. Com um verbo
transitivo básico, o objeto direto deve seguir imediatamente o
verbo se o verbo não tiver uma marca de concordância com o
objeto. Se o verbo tiver uma marca de concordância com objeto,
ele pode ocorrer longe do verbo (fora da VP) e até ser apagado.
Construções Aplicativas (p. 63-73)
Testes:

O sistema de concordância (verbo -pats-, ‘dar’)

Aplicativa
Construções Aplicativas (p. 63-73)
Testes:

A passiva

Ex.: This bed has obviously been slept in. (Passiva preposicional)


Construções Aplicativas (p. 63-73)
A estrutura de argumentos de construções aplicativas (p. 69)
Língua Chichewa
a. tumiz < agente, tema, recipiente > Forma preposicional

| | |
 SUBJ OBJ OBLrec

b. tumiz-ir < agente, tema, recipiente > Objeto aplicado


| | |
 SUBJ OBJ2 OBJ

Regra aplicativa

[X] → [X-ir]v
OBL → OBJ
OBJ → OBJ2
Interação da passiva com a aplicativa (p. 70)
Alternância do dativo (Dative shift, p. 73)

Exercício

(A1) a. King John gave a beautiful palace to the princess.


b. King John gave the princess a beautiful palace.

(A2) a. A beautiful palace was given to the princess.


b. The princess was given a beautiful palace.
c. *A beautiful palace was given the princess.

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