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FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUIBA

Carina Gotardelo Ferro da Costa

A EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL E SUA INFLUÊNCIA NA


APRENDIZAGEM

Polo Belenzinho – São Paulo


2017
FACULDADE ALDEIA DE CARAPICUIBA
Carina Gotardelo Ferro da Costa

A Educação Socioemocional e sua Influência na


Aprendizagem

Monografia apresentada como exigência do curso


de Aproveitamento em Pedagogia para obtenção
do título Pedagogo, sob orientação do Professor
Orientador João Tomaz de Oliveira.

Polo Belenzinho – São Paulo


2017
Costa, Carina Gotardelo Ferro da.
A Educação Socioemocional e sua Influência na Aprendizagem. 58 páginas

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Faculdade Aldeia de Carapicuíba.


 Educação;
 Educação Emocional;
 Competências socioemocionais.
A Educação Socioemocional e sua Influência na Aprendizagem

Carina Gotardelo Ferro da Costa

APROVADA EM ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

__________________________
ORIENTADOR

__________________________
PROFESSOR

__________________________
PROFESSOR
Dedico esse trabalho àqueles educadores
que, mesmo passando por percalços,
buscam a constante reflexão para a
melhoria de suas práticas educacionais.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que participaram desse processo de formação de alguma


maneira, incentivando-me para que pudesse concluí-lo. Em especial aos meus pais
Rita e Petrucio, que sempre apoiam minhas escolhas e estudos; ao meu
companheiro e amigo Éder Gil, pela paciência e parceria e por me ouvir durante os
momentos de dificuldade; às amigas: Joice, Arlete e Lisete, pela parceria; à Carla
Neves e Aline Ferreira, por dividirem comigo seus conhecimentos pedagógicos;
parceiros de trabalho que dividem comigo os momentos de angústias e felicidades
trazidos pela profissão e aos alunos que me dão a oportunidade de aperfeiçoar os
conhecimentos obtidos e que tanto me ensinam a ser uma pessoa e educadora
melhor.
Quando as pessoas conseguem se
aprofundar nos seus próprios sentimentos
e aumentar sua empatia, isso é algo que
fica com eles para sempre e que pode ser
mais importante do que aprender mais
rapidamente algum conteúdo.
Mike Rothemberg
LISTA DE TABELAS E/OU FIGURAS

Figura 1 - gráfico de compreensão de assunto ........................................................ 33


Figura 2 - Gráfico de opinião sobre desenvolvimento .............................................. 34
Figura 3 - Gráfico de reconhecimento de atividades socioemocionais ..................... 36
Figura 4 - Gráfico de melhoria .................................................................................. 37
Figura 5 - Gráfico de influência ................................................................................ 38
Figura 6 - Gráfico de habilidades e competências socioemocionais......................... 40
Figura 7 - Gráfico de observação de aprendizagem ................................................. 41
SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................................... 9
ABSTRACT .............................................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11
CAPÍTULO I – OS PILARES DA EDUCAÇÃO ....................................................................... 14
1.1 APRENDER A CONHECER ....................................................................... 15
1.2 APRENDER A FAZER................................................................................ 17
1.3 APRENDER A CONVIVER ......................................................................... 18
1.4 APRENDER A SER .................................................................................... 20
CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL E SUAS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS ............................................................................................................... 23
2.1 EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL ............................................................. 24
2.2 PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS .. 26
2.3 A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL NA
APRENDIZAGEM ................................................................................................. 29
CAPÍTULO III – A UTILIZAÇÃO DA COMPETÊNCIA SOCIOEMOCIONAL EM SALA DE
AULA ........................................................................................................................................ 32
3.1 ANÁLISE DE RESULTADOS ..................................................................... 33
CAPÍTULO IV – PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA EDUCAÇÃO
SOCIOEMOCIONAL ................................................................................................................ 44
4.1 REFLEXÃO PARA O DESENVOVIMENTO DA CONSCIÊNCIA
EMOCIONAL ........................................................................................................ 45
4.2 PRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA SOCIAL 48
4.3 O USO DE PROJETOS .............................................................................. 51
4.3.1 EXEMPLOS DE PROJETOS SOCIOEMOCIONAIS ........................................ 52
CONCLUSÃO........................................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 58
RESUMO

Apesar de os Parâmetros Curriculares Nacionais terem como seu principal objetivo o


desenvolvimento integral dos estudantes, a maior parte das Instituições Escolares
mantém seu foco na expansão de competências cognitivas, desconsiderando, em
diversos momentos, as socioemocionais. Mesmo identificando a importância dos
relacionamentos interpessoais no aprimoramento de relações saudáveis que
favorecem a aprendizagem e a instrução integral dos alunos, as habilidades
emocionais como objeto de estudo e aprendizado são constantemente
negligenciadas. Pensando na importância do desenvolvimento integral dos alunos e
nas competências socioemocionais, o presente trabalho visa compreender o
conceito de Educação Socioemocional e sua influência na aprendizagem,
verificando a viabilidade e propondo estratégias de ensino para que a educação
emocional se faça presente em todas as áreas do conhecimento.

Palavras – chave: educação; pilares da educação; educação socioemocional.

9
ABSTRACT

Despite National Curricular Parameters’ having full development as their main


objective, the biggest part the School Institutions keeps their focus on the expansion
of cognitive competence, ignoring, at many times, the social-emotional. Even
identifying the importance of interpersonal relationship in the development of healthy
relationships that provides learning and the full instruction of students, the emotional
abilities as studying and learning objects are constantly neglected. Thinking about
the importance of the integral development of the students and the social-emotional
competences, this project aims at comprehending the concept of social-emotional
education and its influence in the learning, verifying its ability and offering teaching
strategies so that this ability is used in all fields of knowledge.

Key - words: education; pillars of education; social-emotional education

10
INTRODUÇÃO

Estimular as habilidades cognitivas dos educandos é extremamente


importante, contudo, não é somente a capacidade lógica ou linguística, ou o
aumento das notas por meio da repetição e aplicação de testes quantitativos e/ou
qualitativos, que definem a maneira como o aluno torna-se capaz de desenvolver
integralmente suas habilidades e competências ou aprender a viver em sociedade.
Jennifer Adams (2015), diretora de Educação da rede escolar de Ottawa, no
Canadá, durante palestra no evento “Transformar 2015”, promovido pelo Instituto
Inspirare/Porvir, Fundação Lemann e Instituto Península, visando à discussão de
novos parâmetros para a educação mundial; ressalta que: “O papel da escola não
pode se limitar a competências acadêmicas, mas a uma gama de habilidades
sociais.”.
Partindo desse pressuposto, ao pensar em Educação, deve-se considerar a
complexidade dos seres humanos, incorporando ao ensino estratégias de
aprendizagem mais flexíveis e abrangentes, visando o desenvolvimento integral e
não fragmentado dos discentes.
Deste modo, a compreensão das competências socioemocionais torna-se
uma importante ferramenta para reconectar os sujeitos ao meio em que se inserem,
na medida em que se amplia a capacidade dos indivíduos de se relacionarem uns
com os outros e com o mundo que os cercam.
Assim, a educação socioemocional deve estar presente em todas as etapas
do ensino, pois, a partir dela, tanto crianças quanto adultos passam a compreender
melhor suas próprias atitudes e habilidades, aprendendo a controlar suas emoções,
alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar
decisões de maneira responsável, tornando-se assim conscientes de sua
importância e dos outros no meio social.
A preocupação com essas características sempre se fez presente no ideal de
educação que não se restringe à transmissão de conteúdos. Contudo, para
compreender como as habilidades socioemocionais influenciam na aprendizagem e
no desenvolvimento dos educandos é necessário, primeiramente entender como
incluir na educação, de maneira intencional, as competências que dizem respeito a
essa área do conhecimento.

11
Anita Abed, consultora da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação e Cultura), em palestra durante o encontro da Série Diálogos – O Futuro
se Aprende, realizado em setembro de 2014, fala sobre a questão socioemocional
na educação quando diz que:

A gente está falando de uma mudança de cultura, de compreensão


de vida, do que a gente acredita que é o ser humano, o conhecimento
e a aprendizagem e de qual é o papel da escola. O conhecimento em
si deve ser amplamente significativo e prazeroso, algo da ordem
socioemocional. (ABED, 2014)

Deste modo, para que haja a integralidade no desenvolvimento do aluno;


estimulando o pensamento crítico e a consciência cidadã; é imprescindível repensar
a maneira como a educação é vista e realizada, tornando o processo de
aprendizagem mais significativo e prazeroso, considerando a totalidade e a
complexidade de cada aprendiz.
Partindo do pressuposto de que o aperfeiçoamento de competências
socioemocionais cria espaço para um aprendizado mais completo e complexo,
impactando no bem-estar do indivíduo pessoal e interpessoalmente, o presente
trabalho busca compreender o conceito de educação socioemocional e sua
influência no processo de ensino, verificando sua viabilidade e propondo uma
reflexão para que esta ferramenta seja utilizada nas diversas áreas do
conhecimento.
Para atingir tais objetivos realizar-se-á pesquisa bibliográfica, analisando as
obras de filósofos, psicólogos, estudiosos e educadores que tratam sobre o assunto,
como: Jacques Delors, Humberto Maturana, Edgar Morin, Wallon, Paulo Freire,
Celso Antunes, Emília Ferreiro, Espinosa, Daniel Batson, Mario Sérgio Cortela, entre
outros; e de documentos como o Parâmetro Curricular Nacional e a Lei de Diretrizes
e Bases (LDB) 1; pesquisa de campo com a aplicação de questionário à educadores
atuantes no Ensino Fundamental I e II, e observação de aulas no Ensino
Fundamental, verificando a existência de atividades que, conscientemente, auxiliem
no aprimoramento de habilidades e competências socioemocionais.
Visando a melhor compreensão do tema proposto, o trabalho divide-se em
quatro capítulos:

1
Lei nº 9394/96

12
O primeiro capítulo discorre sobre os “Pilares da Educação”, compreendendo
quais são e como se relacionam com a aprendizagem;
No segundo capítulo analisa-se o conceito de educação socioemocional e a
influência do desenvolvimento dessas competências para a aprendizagem,
verificando as habilidades desenvolvidas nos discentes, bem como as vantagens
obtidas na realização de trabalhos plenos e que tenham como foco a conjunção dos
processos cognitivos e emocionais;
No capítulo 3, realiza-se uma análise dos resultados obtidos através de
questionários, pretendendo compreender o alcance da competência socioemocional
nas Instituições de Ensino e verificando sua aplicabilidade, com base nas pesquisas,
observações e opiniões dos educadores;
No quarto e último capítulo discorre-se sobre a viabilidade da educação
emocional em sala de aula, considerando sua utilização em todas as disciplinas
curriculares e propondo uma reflexão que sirva como base para o seu
desenvolvimento nas instituições de ensino.

13
CAPÍTULO I – OS PILARES DA EDUCAÇÃO

Fundada em Paris no dia 4 de novembro de 1946, a UNESCO (Organização


das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) tem como principal
objetivo a contribuição para a paz e a segurança no mundo mediante o
aperfeiçoamento da educação, ciência, cultura e comunicações.
Para cumprir com esse objetivo, anualmente a Organização realiza uma série
de ações que visam à reflexão sobre temas pertinentes relacionados aos seus
ramos de estudo, pretendendo reduzir a pobreza, promovendo o desenvolvimento
sustentável e o diálogo intercultural.
Na área de Educação, preza pela qualidade da educação, de maneira
continuada e integral, buscando novos desafios éticos e sociais, promovendo a
diversidade cultural, construindo comunidades de conhecimento inclusivo e
estimulando a informação e a comunicação.
E é dentro desse contexto que entre os anos de 1992 e 1996, Jacques
Delors, economista e político francês; preside a Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, que tem como principal objetivo repensar e apoiar a
educação para todos, assegurando o fortalecimento dos sistemas de ensino em todo
o mundo, desde a infância até a idade adulta, respondendo aos desafios da
contemporaneidade através do ensino.
Nesse período, Delors produz um relatório, posteriormente editado na forma
do livro “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, servindo como base para o
pensamento educativo do século XXI.
A discussão sobre os Pilares da Educação ocupa todo o quarto capítulo do
livro, propondo um direcionamento para o processo de ensino-aprendizagem,
dividindo-o em quatro tipos fundamentais de conhecimentos, são eles: Aprender a
conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser.
Nesse Capítulo, busca-se a compreensão sobre os quatro Pilares da
Educação, quais as contribuições trazidas por essa reflexão para a educação do
século XXI; e como esse conceito relaciona-se com o ideal de aprendizagem. Para
isso veremos os conceitos apresentados propondo uma análise detalhada de cada
componente, buscando compreender cada elemento dentro do âmbito escolar
contemporâneo.

14
1.1 APRENDER A CONHECER

O primeiro conceito abordado por Delors em seu relatório é Aprender a


Conhecer. Esse paradigma diz respeito à busca pelo conhecimento, pela
aprendizagem, e a possibilidade de estudar com profundidade determinado assunto.
Para isso, é necessário que as práticas sejam prazerosas e significativas,
levando os alunos a refletirem sobre o ato de compreender, descobrir, construir e
reconstruir seus conhecimentos.
Segundo Delors:

Aprender a conhecer, combinando com uma cultura geral,


suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em
profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a
aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela
educação ao longo da vida. (DELORS, 2012, pp. 31)

Essa aprendizagem deve desenvolver o domínio dos instrumentos do


conhecimento, aumentando a compreensão do mundo. Assim, para que o docente
realize atividades que desenvolvam as competências relacionadas a “aprender a
conhecer” é necessário que compreenda que o paradigma trabalha com a abertura
do conhecimento, valorizando a curiosidade, a autonomia e a atenção dos alunos,
na medida em que estimulam a construção e reconstrução de seus próprios
conhecimentos.
Desta maneira, essa capacidade é exercitada durante toda a vida, evoluindo
infinitamente, tornando-se cada vez mais útil ao longo no tempo.
Para Delors:

A tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre deveria


levar os adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias do
conhecimento e da pesquisa individual. O aumento dos saberes, que
permitem compreender melhor o ambiente sob os seus diversos
aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o
sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de
autonomia a capacidade de discernir. (DELORS, 2012, pp. 74)

Aprender a conhecer, portanto, pressupõe a aquisição de ferramentas


necessárias para que cada indivíduo consiga compreender o mundo e utilizar seus
conhecimentos de acordo com a necessidade pessoal e coletiva; estimulando, em
sua excelência, os processos cognitivos como: raciocínio lógico, compreensão,

15
dedução e memória, podendo-se definir como um processo de “Aprender a
Aprender”.
O pensamento acima apresentado vem de encontro com as teorias de
Libâneo (1997), quando diz que um dos objetivos da educação é:

(...) auxiliar os alunos nas competências do pensar autônomo, crítico


e criativo, para que estes possam desenvolver a capacidade de
aprender, de desenvolver os próprios meios de pensamento, de
buscar informações. (LIBÂNEO, 1997, em entrevista concedida ao
Prof. Nivaldo A. N. Davis, em Goiânia).2

Desta maneira, a educação serviria para o desenvolvimento pessoal do aluno,


que aprende a construir seu próprio conhecimento, partindo de vivências,
experiências e experimentações diversas, chegando à suas próprias conclusões.
Para que isso ocorra, contudo, é preciso que as instituições possuam
educadores reflexivos e sensíveis ao aprendizado e às necessidades de seus
alunos, capazes de lhes apresentarem metodologias adequadas, que funcionem
como facilitadoras da compreensão dos temas propostos, estimulando aos
indivíduos o desenvolvimento de seu próprio senso crítico, tornando-os capazes de
chegar às conclusões próprias, por meio da análise intuitiva, dedutiva e da pesquisa
do desconhecido.
Esse conceito, amplamente trabalhado nas instituições de ensino é, muitas
vezes, difundido de maneira errônea; visto que, a maioria das escolas interpreta
essa teoria como se ela se realizasse por meio da obtenção de conhecimento pela
transmissão de conteúdos diversificados. Contudo, para que o professor realmente
ensine ao discente a aprender a conhecer, essa visão arcaica deve ser deixada de
lado, assim, o professor deixa de ser o detentor do saber, tornando-se mediador do
processo de aprendizagem, auxiliando ao aluno para que ele consiga ter a base
necessária para a confecção de seus próprios saberes.

2
Disponível no site: https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/8/2613

16
1.2 APRENDER A FAZER

O segundo pilar da educação, proposto por Delors, refere-se a aprender a


fazer. Essa concepção traz para a educação a discussão da qualificação e a noção
de competência.
A globalização, a modernização e as modificações sociais fazem com que a
qualificação, exigida pelos novos processos de produção, se modifique. O advento
da tecnologia, transformadora das relações interpessoais, vem transformando as
tarefas de meramente físicas para intelectuais ou mentais. Desta maneira,
habilidades como comunicação, trabalhar em equipe, liderança, gerenciamento e
resolução de conflitos; vêm ganhando maior destaque na sociedade.
Desta maneira, aprender a fazer refere-se essencialmente à capacidade do
educando em aplicar na prática seus conhecimentos teóricos. Para isso é primordial
que o discente seja capaz de interpretar e selecionar informações, analisar pontos
de vistas diversos e criar seu pensamento crítico a partir dos fatos e conhecimentos
adquiridos.
Segundo Delors (2012), aprender a fazer é necessário a fim de “adquirir não
só uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais abrangente, a
competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e trabalhar
em equipe”.
Deve-se ressaltar que aprender a fazer não está ligado apenas a preparar
alguém para produção de algo material, antes disso, pressupõe ter coragem para o
enfrentamento de desafios diversos nas mais amplas áreas do conhecimento; o
desenvolvimento de ações e iniciativas; a flexibilidade, cooperação e comunicação
para a resolução de conflitos que possam surgir ao longo do processo de
aprendizagem; gerando assim diversas experiências sociais e/ou de trabalho, seja
espontânea ou formalmente, que auxiliam no crescimento pessoal e interpessoal
dos estudantes.
Desta maneira, ao aprender a fazer, o discente adquire não só a qualificação
e a competência necessária para o trabalho e para a resolução de problemas, como
também a capacidade de trabalhar em equipe e aplicar na prática os conhecimentos
teóricos adquiridos.
Cabe aos professores estimular a curiosidade e as experimentações diversas
para auxiliar os alunos a desenvolverem essa competência de maneira contundente.

17
Dentro dessa aprendizagem é imprescindível que o educador tenha em mente
as diversas maneiras de aprender, considerando as diferenças entre os educandos
e as múltiplas ferramentas que podem vir a utilizar em seus pensamentos e práticas
cotidianas, como ressalta Emília Ferreiro (1985): “por trás da mão que pega o lápis,
dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa”.

1.3 APRENDER A CONVIVER

Conviver, segundo dicionário Aurélio da língua portuguesa, significa: “1. Viver


em proximidade; ter convivência. 2. Ter relações cordiais; dar-se bem; 3. Adaptar-se,
habituar-se às condições extrínsecas; 4. Compartilhar do mesmo espaço; coexistir.”
Desta maneira, ao analisar-se atentamente o significado da palavra, pode-se
concluir que aprender a conviver consiste na aprendizagem de habilidades e
competências necessárias para o bom convívio, seja ele entre alunos, professores,
gestores ou comunidade.
Segundo Delors (2012):

A Educação tem por missão, por um lado, transmitir conhecimento


sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as
pessoas a tomar a consciência das semelhanças e da
interdependência entre todos os seres humanos do planeta.
(DELORS, 2012, p. 97)

Assim, é necessário que a escola tenha em mente seu papel quanto


socializadora, seguindo o terceiro pilar proposto por Delors no relatório elaborado
para a UNESCO.
Aprender a conviver pressupõe a prática de competências que estimulam o
relacionamento interpessoal, incitando “a compreensão do outro e a percepção das
interdependências”. (DELORS, 2012, p. 31)
Assim, é possível preparar os discentes para o gerenciamento de conflitos, na
medida em que praticam o respeito pelos valores, pelo pluralismo de ideias e a
compreensão mútua na realização de projetos em comum.
Para que isso ocorra, contudo, é necessário que o docente tenha uma prática
que permita aos alunos que se conheçam e se respeitem, aprendendo a lidar e a
formular críticas construtivas, que possam melhorar a qualidade do ensino recebido
em sala de aula.

18
Delors (2012) diz que:

É de se louvar a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo


que apenas constitua um instrumento, ente outros, para se combater os
preconceitos geradores de conflitos. A tarefa é árdua porque,
naturalmente, os seres humanos têm a tendência de supervalorizar as suas
qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos em
relação aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que
atualmente caracteriza a atividade econômica no interior de cada país e,
sobretudo no nível internacional, tende a dar prioridade ao espirito de
composição e ao sucesso individual. De fato, essa competição resulta, na
atualidade, em uma guerra econômica implacável e em uma tensão entre
os mais e os menos favorecidos, que divide os países do mundo e
exacerba as rivalidades históricas. É de se lamentar que a educação
contribua, por vezes, para alimentar esse clima, devido a uma má
interpretação da ideia de emulação. (DELORS, 2012, p. 79)

Para que a aprendizagem da convivência seja estimulada, é necessária então


modificar-se a maneira como a educação acontece. Nesse processo, o professor
tem uma importância extrema, devendo compreender o seu papel na educação, não
se limitando a uma prática que preze apenas pela transmissão do conhecimento,
mas ampliando sua relação interpessoal com os alunos na medida em que cultiva
neles qualidades humanas, que favoreçam um ambiente de aprendizagem saudável.
Paulo Freire (1970) fala sobre a questão do aprendizado a partir das relações
sociais quando ressalta que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”
Vygotsky (apud Davis e Oliveira, 1993, p.56) também fala sobre a
aprendizagem por meio da interação dos seres humanos quando cita que “o ser
humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial
para o seu desenvolvimento”.
Quando o aluno insere-se em um grupo específico, constrói o seu
conhecimento com base nos conteúdos previamente desenvolvidos por ele, em
conjunto com os conhecimentos precedentes de seus professores e companheiros.
Dessa maneira, por meio da convivência com o outro, o discente conscientiza-se da
relação de interdependência existente no mundo, ampliando sua visão sobre a
própria sociedade e cultura que o cerca.
Esse campo de estudo, constitui um grande desafio para os educadores, que
deve atuar no aprimoramento de atitudes e valores já trazidos pelos alunos. Assim, é
necessário que o educador tenha em mente o fato de que o ser humano age e

19
interage de maneira autônoma no mundo, construindo seus conhecimentos a partir
das interações que realiza individualmente e em grupo. A convivência com outras
pessoas e com o meio é capaz de transformar o ser humano, e ao mesmo tempo,
cada ser humano é capaz de interferir e transformar outros seres humanos e o meio
em que se inserem.
Para estimular a aprendizagem da convivência, o relatório da UNESCO
propõe que, na educação, seja reforçada a descoberta de si mesmo e do outro, por
meio da prática da confraternização e do desenvolvimento de projetos que
necessitem de colaboração mútua; elucidando o respeito, a fraternidade, a
interdependência, a convivência saudável, a empatia, e o prazer do trabalho em
equipe.
Segundo Delors (2012):

Uma vez que a descoberta do outro passa, necessariamente, pela


descoberta de si mesmo, e pelo fato de que deve dar à criança e ao
adolescente uma visão ajustada do mundo, a educação, seja ela
fornecida pela família, pela comunidade ou pela escola, deve, antes
de mais nada, ajuda-los a descobrir-se a si mesmos. (DELORS,
2012,p.80)

Assim, ao aprender a conviver, os estudantes são conscientizados das suas


diferenças e semelhanças, reduzindo conflitos e valorizando a coletividade em
detrimento da individualidade, na medida em que compreendem que são capazes de
interagirem e modificar positivamente sua realidade; combatendo questões como
preconceito e rivalidades, lidando com o outro e consigo mesmo de maneira
respeitosa; tolerante e compreensiva.

1.4 APRENDER A SER

Aprender a ser pressupõe o conhecimento da vida em sociedade e da prática


da cidadania, elucidando o pensamento autônomo, crítico e construtivo, e a noção
de responsabilidade social. Ao aprender a ser, o indivíduo evolui harmoniosamente,
lidando com suas questões emocionais e psicológicas.
Considerando que a educação deve prezar pelo desenvolvimento integral do
discente, fundamentada na evolução corporal, psicológica, emocional e social,
aprimorando o sentido estético e reconhecendo sua responsabilidade pessoal; esse

20
tipo de aprendizagem liga-se diretamente às outras três anteriormente
apresentadas.
Para que o aluno desenvolva sua potencialidade, é necessário que as escolas
não negligenciem nenhuma das capacidades de cada indivíduo, considerando cada
elemento como importante. A memória e o raciocínio devem ter o mesmo peso que
o sentido estético, as capacidades físicas, emocionais e a aptidão para comunicar-
se.
A aprendizagem do “ser” vem de encontro com a teoria da afetividade
defendida por Wallon (1986). Segundo o autor: “as emoções tem um papel
predominante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno
exterioriza seus desejos e suas vontades”.
Assim, ao estimular esse tipo de aprendizagem, o professor auxilia o aluno no
aperfeiçoamento de suas relações, na medida em que desenvolve a capacidade de
compreensão de seus próprios sentimentos e sua expressividade.
Rossini (2001) fala da importância de compreender os sentimentos, para o
crescimento pessoal e social do indivíduo quando diz que: “Quando o ser humano
não está bem afetivamente, toda a sua ação como ser social é comprometida
independente da idade, sexo, ou da cultura”.
Delors (2012) nos fala sobre a importância de aprender a ser quando diz que:

O desenvolvimento do ser humano, que se realiza desde o


nascimento até a morte, é um processo dialético que começa pelo
conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com
o outro. Nesse sentido, a educação é, antes de mais nada, uma
viagem interior, cujas etapas correspondem à da maturação contínua
da personalidade. (DELORS, 2012, p. 82)

Desta maneira, é necessário que os alunos assimilem, além do saber e das


práticas, a lidar com seus próprios sentimentos e com a maneira como afetam a sua
pessoalidade e as relações com os outros.
Para que isso ocorra, contudo, é necessário modificar a concepção de
educação como um todo, considerando que fenômenos cognitivos e emocionais são
determinantes do conhecimento humano, não podendo, portanto, se dissociarem.
Por conseguinte, a educação deveria trabalhar com ambas as qualidades,
deixando de se concentrar apenas nos processos cognitivos, determinados pela

21
ciência do século passado, mas considerar o desenvolvimento integral dos
indivíduos e suas peculiaridades.
Infelizmente, não é isso que ocorre na educação brasileira. Apesar de
diversas pesquisas demonstrarem a importância das habilidades emocionais, as
instituições ainda privilegiam o acesso ao conhecimento, desconsiderando a
inteligência emocional no ensino.
Sendo assim, no momento em que os sistemas educacionais pararem de
privilegiar o acesso ao conhecimento e passarem a conceber a educação como um
todo será possível realizar uma reforma educativa, por meio da elaboração de
programas e projetos, que desenvolvam as múltiplas aprendizagens, e da definição
de novas políticas pedagógicas.
Pensando na necessidade de se trabalhar as diversas maneiras de aprender
apresentadas até o presente momento, entendendo o ser humano como ser
complexo e que deve ser desenvolvido e estimulado integralmente em sua evolução,
e considerando a negligência cometida pelas instituições de ensino quanto à
aprendizagem socioemocional (aprender a conviver e aprender a ser), o próximo
capítulo visa analisar profundamente o conceito de educação socioemocional e suas
principais características, compreendendo sua influência na aprendizagem.

22
CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL E SUAS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Como vimos anteriormente, apesar de teóricos renomados reconhecerem os


diversos tipos de aprendizagem, a prática do saber através da transmissão de
conhecimentos e recursos lógicos continua sendo a mais utilizada pela maioria das
instituições.
A educação socioemocional é constantemente negligenciada, muitas vezes
sendo vista com maus olhos inclusive por educadores.
Regis de Morais (1992) em seu livro “A Educação do Sentimento” fala sobre
essa problemática quando ressalta que:

A prática e o pensamento pedagógicos desenvolveram um terrível


medo ao que não seja dominável por recursos lógicos já bem
conhecidos. E para esta visão, a vida do sentimento é caracterizada
por sua irracionalidade (uma irracionalidade suposta). As escolas,
assim como muitas famílias, entendem que desenvolver o educando
é ensinar-lhe as vias da organização ordenada da sociedade, das
conquistas econômicas que produzem os ‘vencedores’ da vida; que é
ensinar-lhe os recursos de expansão do pensamento racional-
científico que logre conhecimento concreto da natureza e resulte em
alguma forma de domínio sobre esta, expurgando as remanescências
do pensamento mágico ou supersticioso. (MORAIS, 1992, p. 81)

O autor ainda completa que é possível observar uma necessidade das


instituições de fugir dos sentimentos, justamente por sua suposta característica
irracional, criando assim a necessidade de “circunscrever objetivos e temas
milimetráveis e domináveis por uma visão de mundo na verdade fóbica”. (MORAIS,
1992, p.81)
A maior problemática quando se trata da educação socioemocional é que as
escolas parecem não compreender ainda como desenvolver as competências
necessárias para esse tipo de aprendizagem, seja por não entenderem o conceito
ou por não saberem como aplica-lo em suas atividades cotidianas.
Pensando nessa dificuldade, esse capítulo busca discorrer sobre a
educação socioemocional, compreendendo seu conceito, elucidando suas principais
características e sua influência na aprendizagem, verificando as vantagens obtidas
na realização de trabalhos plenos e que tenham como foco a conjunção dos
processos cognitivos e emocionais.

23
2.1 EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL

A discussão sobre o papel e a importância das competências


socioemocionais ganha corpo principalmente com o surgimento do “Paradigma do
Desenvolvimento Humano”, proposto pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e a publicação do relatório de Jacques Delors, organizado
pela UNESCO, como vimos anteriormente.
A partir dai, começa-se a pensar nos indivíduos como principais
responsáveis pelos seus processos de desenvolvimento, vendo na educação uma
oportunidade para que as pessoas possam se preparar para suas escolhas,
transformando seu potencial em competências.
Após a publicação do relatório de Delors, especialistas de diversas áreas
(economia, educação, neurociência, psicologia) passam a refletir sobre as
competências necessárias para se atingir os objetivos propostos por meio das
aprendizagens elucidadas pela UNESCO. Dessa maneira, passa-se a investigar
com maior afinco as relações socioemocionais e seus elos com o desenvolvimento
cognitivo nos mais diversos contextos (trabalho, escola, família, comunidade, etc.).
Assim, tornou-se imprescindível compreender o que é a educação
socioemocional e como as escolas poderiam disseminar o desenvolvimento das
competências advindas dessa aprendizagem, produzindo conhecimento criar
políticas e práticas intencionalmente voltadas para a promoção dessas
competências, utilizando metodologias próprias para lidar com o assunto.
Dessa maneira, ao refletir sobre educação socioemocional, o primeiro
elemento a ser considerado é o fato de que educar pessoas não se trata apenas do
ensino de técnicas e conteúdos. É necessário ponderar que todos os seres humanos
desenvolvem-se por meio de interações e sentimentos, que influenciam a maneira
como se comportam e se desenvolvem. Nesse sentido, é possível considerar os
seres humanos, indivíduos socioemocionais.
A competência socioemocional está diretamente ligada ao desenvolvimento
integral das pessoas. Infelizmente algumas instituições ainda não compreendem a
maneira como trabalhar tais conteúdos, mesmo que, em alguns momentos,
desenvolvam atividades que estimulem a sociabilização, negligenciam os
sentimentos e a emoção dos alunos, o que pode ser considerado um grande

24
equívoco, visto que os sentimentos são fundamentais para que o aluno identifique-
se com a aprendizagem.
Cesar Coll (1996), em relação aos diversos meios de aprendizagem, diz que:

Os alunos formam seu próprio conhecimento por diferentes meios:


por sua participação em experiências diversas, por exploração
sistemática do meio físico ou social, ao escutar atentamente um
relato ou uma exposição feita por alguém sobre um determinado
tema, ao assistir um programa de televisão, ao ler um livro, ao
observar os objetos com certa curiosidade e ao aprender conteúdos
escolares propostos por seu professor na escola. (COLL, 1996, p.95)

Seguindo a visão do autor, ao se pensar a educação, não se pode deixar de


considerar os aspectos socioemocionais, pois a emoção e as relações sociais e
afetivas interferem diretamente no aprendizado dos alunos. Dessa maneira, há a
necessidade de começar a compreender os sujeitos de maneira completa.
Dessa maneira, o ensino consideraria o aluno em seu desenvolvimento
integral, dando importância para as competências e habilidades necessárias para
estimular sua condição inerente de “ser humano”, integrando todos os elementos
que foram sendo cindidos ao longo dos séculos, por um pensamento tecnicista.
Segundo ABED (1996):

Integrar é “tornar inteiro, completar”, é re-unir (unir de novo) o que na


realidade nunca foi separado, foi apenas pensado em separado.
Tornar inteiro é resgatar a unicidade, recompor as células, restituir o
ser. (ABED, 1996, p. 06)

Pensar a educação socioemocional torna-se, portanto, essencial para a


integração de aspectos cognitivos, emocionais e sociais; requalificando a educação
e os processos de ensino, necessárias para a vivência na modernidade. Como
ressalta Abed (2014):

Não é possível conceber que apenas a cognição comparece à sala


de aula: os estudantes têm emoções, estabelecem vínculos com os
objetos do conhecimento, com os colegas, com os professores, com
a família, com os amigos, com o mundo. Os professores também.
Todos nós rimos, choramos, sofremos, nos encantamos, desejamos,
fantasiamos, teorizamos... somos seres de relação, repletos de vida,
há infinitos universos dentro e fora de nós – não há como fugir disso.
(ABED, 2014, p. 8)

25
Ao aproximar o ambiente escolar da educação socioemocional, cria-se
espaço para o desenvolvimento mais complexo dos estudantes, o que irá impactar
em toda a sua vida.

2.2 PRINCIPAIS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS

Para compreender quais as principais competências e habilidades


desenvolvidas pela educação socioemocional, primeiramente é necessário que se
compreenda que processos cognitivos e emocionais são intrínsecos, sendo
determinantes para a evolução do comportamento e do pensamento humano.
Para Wallon (1954):

A afetividade é um domínio funcional, cujo desenvolvimento


dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre
esses dois fatores, existe uma relação recíproca que impede qualquer
tipo de determinação no envolvimento humano, tanto que a
constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do
seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente
transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, onde a
escolha individual não está ausente. (WALLON, 1954, p. 288)

Dessa maneira, é impossível desligar o pensar do sentir, o que deveria ser


motivo suficiente para que as instituições de ensino considerassem não apenas os
processos cognitivos, mas sim o pensamento como cognitivo-afetivo.
Mahoney (2008) trata sobre o assunto ao dizer que:

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses


aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciadas,
estarão integrados, cada um é parte constitutiva dos outros. Sua
separação faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma
das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade
humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade humana
sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem
ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem
ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem
ressonâncias afetivas e motoras. E tidas as ressonâncias tem um
impacto no quarto conjunto: a pessoa, que ao mesmo tempo em que
garante essa integração é resultado dela. (MAHONEY, 2008, p. 15)

Ao pensar-se em processos cognitivos, fala-se em aquisição de


conhecimento, considerando processos mentais envolvidos na capacidade de

26
armazenar, transformar e utilizar o conhecimento, envolvendo processos como o
raciocínio, a atenção e a memória, na função de solucionar problemas cotidianos.
Contudo, a habilidade de se relacionar, argumentar, conhecer e explorar o
mundo, e a capacidade de solucionar problemas individuais e coletivos, presentes
nas indagações da educação socioemocional, também são habilidades cognitivas de
extrema importância.
As habilidades supracitadas são estimuladas por uma educação integral,
com foco em todas as habilidades e competências que possam ser desenvolvidas
pelos indivíduos.
Dentro da psicopedagogia, encontramos diversas pesquisas que discorrem
sobre a importância da integralização entre o cognitivo, o social e o emocional,
mostrando que a junção de todos os processos abarca a complexidade do
desenvolvimento dos sujeitos dentro dos processos de ensino-aprendizagem.
Fernandez (1990) questiona a divisão dos conhecimentos e o privilegio cedido aos
processos cognitivos, quando diz que:

Tradicionalmente, de acordo com uma visão racionalista e dualista do


ser humano, considerou-se a aprendizagem exclusivamente como um
processo consciente e produto da inteligência, deixando o corpo e os
afetos fora; mas se houve humanos que aprenderam e porque não
fizeram caso de tal teoria e “fugiram” dos métodos educativos
sistematizados. (FERNANDEZ, 1990, p. 47)

Abreu (1996) indaga sobre a relação entre o pensar e o sentir quando diz
que:

Sentir e fazer são linguagem da educação, do conhecimento


transdisciplinar: aquele conhecimento ativo que possibilita
estabelecer contato com o mundo sem precisar de passaporte para
navegar entre Ciência, Filosofia e a Arte. É através da ação cognitiva
que chegamos a nós mesmos, aos outros e ao mundo. O sentido da
educação é a perspectiva do encontro do homem consigo mesmo,
com a Natureza e com a Sociedade: um ato de afeto e ternura (...).
Promover o encontro verdadeiro entre homem, Sociedade e Natureza
é o desafio da complexidade do conhecimento. (ABREU Jr., 1996, p.
187)

Assim, ao desenvolver a educação socioemocional é possível estimular nos


alunos mentes mais sadias, valores humanos e um mundo mais sustentável, a partir
do estímulo de relações mais positivas, por meio das interações interpessoais.

27
Entre as diversas competências e habilidades desenvolvidas quando se
pensa em educação socioemocional, pode-se citar como as principais:

● Autoconhecimento: definida pela capacidade de conhecer a si mesmo de


forma profunda e significativa. Assim é possível identificar sentimentos, emoções e
comportamentos e suas causas, conseguindo agir direto no foco dos problemas e
solucioná-los de maneira mais eficiente;
● Autogestão: capacidade de manter ou retomar o equilíbrio emocional em
situações de extremo estresse ou diante de dificuldades, praticando a resiliência, o
otimismo e os pensamentos voltados na resolução de problemas. Habilidade de gerir
pensamentos, sentimentos, emoções e articulá-los com as ações. Essa competência
é altamente necessária no desenvolvimento de lideranças;
● Sociabilidade: habilidade ligada intrinsecamente ao relacionamento
interpessoal, com diferentes pessoas de diversas nacionalidades, culturas, pontos
de vista, etc. A capacidade de sociabilizar, respeitando as diferenças de maneira
genuína e empática, além de gerar a sensação de bem estar e harmonia, torna o
indivíduo mais centrado e respeitoso, fazendo com que evolua intrinsicamente;
● Competências de relacionamento: Essa competência está diretamente
ligada à maneira como o indivíduo obtém e mantém relacionamentos com pessoas e
equipes. Altamente necessária para que o indivíduo aprenda a resolver
positivamente os conflitos, agindo de maneira cooperativa, buscando auxílio quando
necessário e a compartilhar pensamentos, ideias e ideais;
● Tomada de decisão com responsabilidade: o desenvolvimento da
consciência para comportamentos éticos e valorosos, facilitando a ampliação dos
processos cognitivos que estimulam o pensamento, na medida em que relaciona
múltiplos fatores que auxiliam na tomada de decisões de maneira responsável e
ponderada.

Todas as competências apresentadas são de suma importância para o


desenvolvimento integral do indivíduo no que tange às relações intrapessoais e
interpessoais.
Meier & Garcia (2007) citam a emoção como um processo metacognitivo,
explicitando a importância da relação entre o pensar, o relacionar-se e o agir.
Segundo os autores:

28
Todos os processos metacognitivos ajudam o indivíduo a inteirar-se
de seus próprios conhecimentos, uma vez que lhe possibilita chegar à
transcendência e ao significado da aprendizagem. Ao mesmo tempo,
é importante que o indivíduo entenda também a necessidade de
controlar suas emoções perante as diversas situações que enfrenta
no dia a dia. (MEIER & GARCIA, 2007, p. 148)

Assim, pode-se dizer que os seres humanos tornam-se mais conscientes


quando utilizam os processos educacionais pautados nas interações
socioemocionais, a partir do momento em que envolve tanto os processos emotivos
quanto os cognitivos, estimulando o desenvolvimento de capacidades e habilidades
que serão necessárias para o crescimento pessoal e coletivo dos indivíduos. Além
disso, a educação socioemocional é pautada na valorização do ser humano,
considerando seus relacionamentos e sentimentos, estimulando a evolução dos
processos cognitivos intrapessoais e interpessoais, o que possibilita o
desenvolvimento da identidade, autoestima e empatia das pessoas.
A educação socioemocional interfere, portanto, diretamente no processo de
ensino-aprendizagem, como veremos a seguir.

2.3 A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL NA


APRENDIZAGEM

Como vimos anteriormente, a educação socioemocional age no


conhecimento geral do educando, estimulando o domínio intrapessoal e
interpessoal, visto que ao perceber a emoção do outro, o indivíduo torna-se capaz
de interagir positivamente com ele, agindo de maneira empática. Essa empatia
auxilia no desenvolvimento de sua expressividade, tornando-o mais seguro em seus
relacionamentos sociais.
Segundo Rubem Alves (2001):

O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança:


tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser
depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho.
Por isso, os educadores, antes de serem especialistas em
ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor:
intérpretes de sonhos. (ALVES, 2001, descrição escrita na capa do
livro “A Alegria de Ensinar”)

29
A visão do autor condiz com o ideal de outros pesquisadores da área, que
comprovam que a relação de ensino-aprendizagem é mais efetiva quando o aluno é
respeitado em suas limitações, diferenças e de acordo com suas motivações e
sentimentos.
A educação socioemocional, para além do desenvolvimento de relações
cognitivas importantes para o saber, desenvolve a capacidade humana do indivíduo,
a partir do momento que estimula a capacidade de compreender-se e relacionar-se
consigo mesmo e com os outros.
Contudo, para que a educação socioemocional seja realmente aplicada
dentro das instituições, é necessário que os educadores compreendam tal conceito
e percebam que não é preciso a aplicação de atividades ou conteúdos
programáticos específicos, mas sim uma mudança de pensamento e atitude.
Para Carl Rogers (1980) “os educadores precisam compreender que ajudar
as pessoas a se tornarem pessoas, é muito mais importante do que ajuda-las a
tornarem-se matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha”.
A escola, para além de ensinar os conteúdos, auxiliaria os indivíduos a
tornarem-se mais humanos, na medida em que estimularia a aquisição de
competências sociais e emocionais necessárias para o crescimento integral.
A aprendizagem dessa maneira tornar-se-ia mais significativa, a partir do
momento em que os alunos passassem a compreender a importância dos conteúdos
aprendidos para suas vivências e experiências, e começassem a relacionar esses
conteúdos como algo importante para seu crescimento pessoal.
Fernandez (2001) fala sobre a significação da aprendizagem quando diz
que:

A modalidade de aprendizagem marcará uma forma particular de


relacionar-se, buscar e construir conhecimentos, um posicionamento
de sujeito diante de si mesmo como autor de seu pensamento, um
modo de descobrir-construir o novo e um modo de fazer próprio o
alheio. (FERNÀNDEZ, 2001, p. 88)

Garcia et al., (2013) fala sobre a questão do desenvolvimento humano e de


uma educação pautada na motivação e na autoestima, elementos que se relacionam
diretamente com a aprendizagem dos indivíduos. Segundo o autor:

(...) a consciência clara dos caminhos que levam ao sucesso


possibilita o desenvolvimento do sentimento de competência, que por

30
sua vez está diretamente relacionado à motivação e autoestima, ou
seja, aos aspectos emocionais essenciais à aprendizagem. (GARCIA,
2013, p. 34)

Para Ricoeur (1992):

Sentir, no sentido emocional da palavra, é tornar nosso o que foi


colocado à distância pelo pensamento em sua fase de objetivação
(...) a sua função é de apagar a distância entre o “conhecedor” e o
“conhecido” sem cancelar a estrutura cognitiva do pensamento e a
distância intencional que isso implica. O sentimento não é contrário
ao pensamento. É o pensamento que é legitimado como nosso.
(RICOEUR, 1992, p. 157)

Dessa forma, compreender suas próprias emoções e relacionar-se


socialmente influenciaria diretamente a aprendizagem dos indivíduos, na medida em
que se desenvolve a sensibilidade necessária para experimentar as práticas
educativas de maneiras diversificadas e intensas.
A educação emocional e social deve estar presente em todos os momentos
de aprendizagem, reforçando o processo de formação de identidade pessoal e
social; facilitando o processo de ensino. Para isso é necessário que os docentes
tenham em mente que a sensibilidade não precisa ser aprendida como um conteúdo
programático e que pequenas mudanças nas atitudes podem auxiliar no
desenvolvimento integral de seus alunos. Como ressalta César Coll (1996): “tão
importante quanto o que se ensina e se aprende é como se ensina e como se
aprende”.
Portanto, ao considerar em sua didática e metodologia a educação
socioemocional, os professores estarão adequando a educação ao seu tempo, ao
seu aluno, humanizando o processo de ensino, ressignificando a aprendizagem.
Considerando a premissa de Paulo Freire (1996, p. 22), no livro “Pedagogia
da Autonomia”, de que a educação é formada pela junção de complexos elementos,
tais como: afetividade, alegria, capacidade cientifica, domínio técnico e que esses
elementos devem estar a serviço das mudanças sociais e humanas, o próximo
capítulo visa analisar, através do levantamento de informações realizadas por meio
de questionário aplicado, como os profissionais enxergam a educação
socioemocional e sua aplicabilidade no ensino de disciplinas curriculares diversas,
visando compreender o alcance da competência socioemocional nas instituições de
ensino pesquisadas.

31
CAPÍTULO III – A UTILIZAÇÃO DA COMPETÊNCIA
SOCIOEMOCIONAL EM SALA DE AULA

Vimos anteriormente como a educação socioemocional influencia


diretamente no processo de ensino-aprendizagem, na medida em que os indivíduos
passam a perceber a si mesmo e aos outros, relacionando-se de maneira mais
saudável e dinâmica.
Segundo Friedrich Froebel (1826) “a educação é o processo pelo qual o
indivíduo desenvolve a condição humana, com todos os seus poderes funcionando
com harmonia e completa, em relação à natureza e à sociedade”.
Assim, a educação socioemocional é componente essencial para a
aprendizagem integral do indivíduo.
Contudo, apesar dos esforços para se pensar a educação de maneira
integral, ainda há muita resistência quanto ao uso de técnicas ou atividades que
estimulem a compreensão dos sentimentos e relações humanas. Muitos educadores
não compreendem que não são necessárias modificações complexas para que os
alunos desenvolvam as competências e habilidades ligadas à tal aprendizagem.
Segundo Abed (2014):

A questão que se coloca não é mudar drasticamente a realidade da


sala de aula, mas sim ampliar a ação pedagógica para além da mera
transmissão de conteúdos. A postura, a escuta, o olhar, a qualidade
do vínculo que o professor estabelece com a situação de ensino-
aprendizagem precisam impregnar-se das âncoras do paradigma da
Pós-modernidade, de modo a considerar e contemplar as diferentes
dimensões do ser humano e os múltiplos aspectos do aprender.
(ABED, 2014, p. 10)

Dessa maneira, para que a educação socioemocional se torne integrante


das práticas educacionais, é necessária a mudança na postura dos profissionais da
educação. Pensando nessa premissa, este capítulo visa compreender a maneira
como os profissionais entendem a educação socioemocional, por meio de
questionário aplicado a diversos educadores do ensino fundamental. Partindo das
respostas, propõe-se uma reflexão sobre a educação socioemocional, sua
funcionalidade e a formação dos professores com foco na educação integral,
considerando as competências e habilidades socioemocionais.

32
3.1 ANÁLISE DE RESULTADOS

A compilação a seguir foi escrita a partir da análise dos questionários


respondidos por diversos profissionais da educação. Distribuiu-se ao todo 100
questionários para gestores, coordenadores e professores de diversas disciplinas
em 5 escolas de ensino integral diferentes (totalizando 20 questionários por escola).
Junto do questionário, os educadores receberam uma breve explanação sobre o
assunto, visando esclarecer possíveis dúvidas que surgissem ao responder às
questões. A análise abaixo é referente a essa amostragem.
Para facilitar a compreensão da análise, os gráficos e conclusões
encontram-se descritos á baixo da pergunta realizada.
Visando manter a integridade das escolas e dos professores, os nomes das
instituições não serão divulgados, e o nome dos professores serão substituídos por
nomes fantasias, visando manter a identidade, atendendo à pedido dos
colaboradores.

a. O que você entende por educação socioemocional?


O seguinte questionamento teve como objetivo perceber o conhecimento
prévio que os educadores apresentaram da questão. O gráfico a seguir demonstra a
relação entre os professores que desconhecem totalmente, compreendem
parcialmente e aqueles que não compreendem totalmente ou nunca ouviram falar
sobre o assunto.

80%
70%
escola 1
60%
escola 2
50%
escola 3
40%
escola 4
30%
escola 5
20%
10%
0%
compreendem bem compreendem desconhecem o assunto
parcialmente

Figura 1 - gráfico de compreensão de assunto

33
O compilado acima demonstra um dado alarmante. Das cinco escolas
pesquisadas, apenas uma apresenta um grau considerável de profissionais que já
estudaram ou compreendem o que é a educação socioemocional. A maior parte dos
profissionais que responderam as pesquisas declarou não ter total conhecimento do
assunto e/ou que precisariam estudar mais para entendê-lo. Desses educadores,
apenas 30% demonstraram real interesse em aprofundar-se sobre o tema. Tal
relação demonstra possível ineficácia nos cursos de formação de professores e até
mesmo nas gestões das instituições quando o tema relaciona-se à educação
socioemocional.

b. Você acredita que a educação socioemocional é desenvolvida em sua


instituição?
O objetivo dessa questão é compreender a visão dos profissionais de sua
instituição de ensino. Abaixo é apresentado um gráfico, contendo as respostas dos
profissionais e uma análise própria, realizada por meio da observação das
instituições por um curto período de tempo, visando comparar o real ambiente
escolar com a visão dos educadores.

60%

50%

40% Escola 1
Escola 2
30%
Escola 3
Escola 4
20%
Escola 5
10%

0%
Sim Não Parcialmente Não souberam opnar

Figura 2 - Gráfico de opinião sobre desenvolvimento

O gráfico à cima demonstra que a maior parte dos educadores, que


responderam a questão, não acredita que em suas escolas se desenvolva
completamente as competências e habilidades relacionadas à educação

34
socioemocional. Dos professores que compreendem sobre o tema, poucos
defendem suas instituições no que diz respeito ao desenvolvimento integral pautado
na emoção, capacidade de conviver em sociedade e cognitivo. A maior parte dos
professores considera que suas instituições tem foco maior no cognitivo, por meio da
explanação de componentes curriculares.

Durante a observação das instituições foi possível constatar que a análise dos
profissionais tem fundamento, visto que na prática, nenhuma das instituições
pesquisadas parece priorizar realmente o ensino integral, enfatizando o ensino de
algumas disciplinas em detrimento à outras, e considerando mais os resultados de
provas e testes à real aprendizagem dos discentes.

Apesar de a maior parte dos gestores, declararem conhecer as teorias da


educação socioemocional e que elas são aplicadas no dia a dia da escola, por meio
da observação da instituição e dos planos realizados por elas, é possível constatar
que a prática, muitas vezes, é contrária à fala. As práticas relacionadas às
competências e habilidades socioemocionais, quando utilizadas, dependem mais da
vontade e vivência de alguns profissionais do que da orientação das equipes
gestoras ou da filosofia das instituições propriamente ditas.

c. Em algum momento você já presenciou o desenvolvimento da educação


socioemocional? Comente sobre.
O objetivo dessa questão é verificar se após algum entendimento sobre o
assunto os profissionais conseguem identificar em seus trabalhos ou de seus
colegas atividades que desenvolvam as competências e habilidades
socioemocionais. O comentário feito pelos profissionais sobre o assunto foi utilizado
para verificação das atividades realizadas e posteriormente para a compilação de
algumas das atividades propostas no capítulo IV.

35
70%

60%

50%

Escola 1
40%
Escola 2

30% Escola 3
Escola 4
20% Escola 5

10%

0%
Sim Não Não responderam ou não
souberam opinar

Figura 3 - Gráfico de reconhecimento de atividades socioemocionais

O gráfico acima demonstra que grande parte dos educadores consegue


identificar em algum momento de sua vivência educativa ao menos uma atividade
que desenvolva as competências e habilidades socioemocionais. Contudo, mesmo
compreendendo o tema, muitos dos educadores entrevistados ainda não
conseguem identificar em suas práticas ou de suas instituições atividades que se
relacionem com o tema, o que pode reiterar a questão de que as instituições
negligenciam tal aprendizagem.
Esse dado torna-se preocupante quando pensamos que as instituições
pesquisadas são escolas de período integral, o que nos mostra que em alguns
casos, as práticas docentes e a visão das próprias instituições não privilegiam
verdadeiramente a formação integral do indivíduo, em seus aspectos intelectual,
físico, emocional, social e cultural, como deveria ser feito de acordo com a
Constituição Federal que ressalta que:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL,
Constituição Federal, 1988)

36
d. Você acredita que haveria mudanças nas instituições caso todos os
professores desenvolvessem as habilidades e competências
socioemocionais?
O objetivo desse questionamento é compreender a visão dos educadores
quanto às mudanças positivas que poderiam ocorrer com a aplicação da educação
socioemocional nas instituições de ensino.
Partindo dos depoimentos dos entrevistados, elaborou-se o gráfico abaixo
apresentado e a análise subsequente.

80%

70%

60%

50% Escola 1
Escola 2
40%
Escola 3
30%
Escola 4
20% Escola 5

10%

0%
Sim Não Parcialmente Não souberam ou
não opnaram

Figura 4 - Gráfico de melhoria

47% do número total de profissionais entrevistados, mesmo que não apliquem


ainda diretamente em sua didática a prática socioemocional, após compreender o
conceito; declararam acreditar que essa aprendizagem possa auxiliar na melhoria da
comunidade escolar.
A maior parte dos entrevistados relatou que a educação socioemocional
auxiliaria na formação de um ambiente mais harmonioso e propício para a
aprendizagem contínua dos educandos, a partir do momento que os alunos seriam
estimulados à convivência saudável em sociedade.
Uma pequena parcela dos educadores (em torno de 20%) disse não acreditar
em mudanças acarretadas por meio da educação socioemocional, um desses

37
educadores afirmou que “esse tipo de coisa deveria ser aprendida em casa”3
(professor (a) fundamental II – Geografia). Outro disse ainda que: “A escola só
deveria reforçar esses ensinamentos, não pensar nisso, afinal, já temos muito
conteúdo para ser trabalhado em tão pouco tempo”. (professor (a) fundamental I).
As falas desses professores são preocupantes, principalmente ao se
considerar que o educador deve refletir sobre suas práticas e métodos de ensino, de
acordo com as necessidades de cada indivíduo pertencente à comunidade escolar.
Dessa maneira, seu dever, sua didática, não deve limitar-se apenas à transmissão
de conteúdos ou práticas tecnicistas, mas auxiliar seus aprendizes no
desenvolvimento de sua identidade e autonomia, por meio de práticas que
estimulem a ética, a compreensão e a comunicação, tornando-os assim, cidadãos
críticos e capazes de relacionarem-se consigo mesmos e com o mundo que os
rodeiam, como ressalta Friedrich Froebel (1826) ao descrever o real significado dos
processos educativos, dizendo que a educação “implica tanto a evolução individual
quanto a universal”.

e. Você acha que a educação socioemocional pode influenciar positiva ou


negativamente os alunos?

O objetivo desse questionamento é analisar quais as vantagens ou


desvantagens, segundo observação dos educadores, da aplicação da educação
socioemocional na obtenção de competências e habilidades específicas para a
cidadania. O gráfico e a análise abaixo buscam refletir sobre essa indagação.
90%
80%
70%
60% Escola 1
50%
Escola 2
40%
30% Escola 3
20% Escola 4
10% Escola 5
0%
Positivamente Negativamente Não souberam ou não
opnaram

Figura 5 - Gráfico de influência

3
O nome e a escola do educador citado foram preservados de acordo com os princípios éticos apresentados
pela pesquisa.

38
Analisando o gráfico acima é possível perceber que em sua maioria os
profissionais da educação, apesar de muitas vezes não compreenderem ou não
aplicarem a educação socioemocional como foco de seu trabalho didático-
pedagógico, acredita que o estímulo às habilidades e competências advindas dessa
aprendizagem é capaz de influenciar positivamente aos alunos.

Por meio do estudo das respostas dadas pelos educadores foi possível
verificar ainda que a educação socioemocional contribuiria para que os discentes
aprendessem a lidar com suas frustrações e sucessos, aumentando sua autoestima
e melhorando sua relação com os outros indivíduos, tornando-os mais seguros; na
medida em que aprendem a debater ideia e a lidar com suas emoções e com a dos
outros colegas, de maneira empática.

Dos profissionais que declararam que o desenvolvimento socioemocional


influenciaria negativamente seus alunos, em sua maioria, citou ao responder a
questão que não acreditam na mudança positiva porque isso “dependeria da
família”. Além disso, segundo um dos educadores, é impossível realizar-se a
proposta da educação socioemocional por ela ser “extremamente utópica” (professor
(a) fundamental I). Esse é outro dado preocupante, principalmente quando se pensa
sobre o papel do professor dentro do processo educativo. Segundo Leo Buscaglia
(1994), em sua obra Vivendo, amando e aprendendo: “como professores temos que
acreditar que é possível, do contrário não estaríamos ensinando, pois a educação é
um constante processo de modificação”. Portanto, é necessária uma reflexão diária
sobre a prática pedagógica e as vivências, para que o educador possa estimular
seus alunos aos diversos aspectos do saber.

f. Você já utilizou habilidades e competências socioemocionais no


desenvolvimento de seu trabalho docente?
O objetivo dessa questão é verificar a utilização da educação socioemocional
dentro das instituições de ensino, de maneira consciente, percebendo como ela é
aplicada e em quais disciplinas.
O gráfico abaixo demonstra o número de professores que declaram já ter
utilizado conscientemente em sua prática a educação emocional como metodologia
de ensino.

39
60%

50%

40%
Escola 1
Escola 2
30%
Escola 3

20% Escola 4
Escola 5
10%

0%
Sim Sim mas não Não Não Souberam ou
conscientemente não opinaram

Figura 6 - Gráfico de habilidades e competências socioemocionais

O gráfico acima demonstra que uma parcela considerável dos professores


utiliza sem perceber a educação socioemocional, o que demonstra novamente a
importância de se discutir o assunto, seja nos cursos de formação de professores ou
nas reuniões cotidianas. A reflexão sobre o tema traria aos profissionais maior
consciência de sua prática educativa, ampliando sua metodologia e didática para um
ensino de maior qualidade.
Um dado curioso observado por meio das respostas dos profissionais é que
90% dos profissionais que declararam utilizar conscientemente a educação
socioemocional para o desenvolvimento de habilidades e competências específicas
são das disciplinas ligadas ao ensino de linguagens artísticas (artes plásticas, teatro,
música, dança) ou físicas (esportes e educação física), disciplinas essas que, em
sua própria essência, buscam o desenvolvimento humano de maneira mais integral.
Tal perspectiva leva à reflexão apresentada no próximo capítulo, visando auxiliar no
desenvolvimento de atividades e comportamentos que ampliem a educação
socioemocional nas salas de aula.
Porém, antes de partirmos para essa análise, observaremos qual a percepção
dos educadores em relação ao processo de aprendizagem de seus alunos, de
acordo com a pesquisa de campo realizada.

40
g. Houve diferença no processo de aprendizagem dos alunos?
O principal objetivo dessa questão foi verificar o processo reflexivo dos
profissionais entrevistados, percebendo a maneira como eles desenvolvem, ou não,
o conteúdo programático dentro de um modelo de educação socioemocional e
integral.
A análise a baixo, além do gráfico apresentará algumas citações de
profissionais que participaram da pesquisa. Por questão de ética e seguindo os
princípios pré-determinados na pesquisa de campo, manter-se-á em sigilo o nome
dos educadores e suas instituições de ensino, sendo colocada em pauta apenas a
disciplina em que lecionam.

90%

80%

70%

60%
Escola 1
50%
Escola 2
40% Escola 3

30% Escola 4
Escola 5
20%

10%

0%
Sim Não Não souberam ou não
opnaram

Figura 7 - Gráfico de observação de aprendizagem

O gráfico acima, quando comparado ao anterior, demonstra que 100% dos


profissionais que declararam ter aplicado, consciente ou inconscientemente,
atividades com cunho socioemocional em suas turmas, perceberam uma mudança
significativa na aprendizagem, considerando como aprendizagem o processo global
(social, emocional e cognitivo).
Esse dado é de extrema importância, pois demonstra a funcionalidade do
ensino com foco na formação integral do indivíduo.
As mudanças notadas pelos profissionais variam desde a melhoria na leitura
e interpretação de textos e conteúdos, até à mudanças comportamentais e de
relacionamentos.

41
Segundo professor (a) X, atuante no ensino fundamental I:

Qualquer indivíduo emocionalmente equilibrado aprende melhor,


trabalha melhor e se diverte melhor. Penso que incentivar a troca de
ideias pode nos ajudar a formar adultos mais equilibrados, mais
felizes, mais bem sucedidos. Não falar dos problemas que nos
afligem não faz com que eles desapareçam, portanto, trabalhar com
as questões socioemocionais, ensinar aos alunos desde cedo a lidar
com as dificuldades e buscar soluções para resolvê-las, a respeitar o
outro, talvez seja a única saída que temos para formar cidadãos mais
equilibrados e consequentemente uma sociedade mais equilibrada
também. (Entrevista com professor da escola 1, durante pesquisa de
campo)

Outros professores relataram a melhora do processo cognitivo, na medida em


que os alunos passam a ter mais autoestima, consciência de seus relacionamentos
interpessoais e de sua influência na comunidade em que se insere, o que o tornaria
mais humano.
O profissional de dança, atuante na Escola 5, fala sobre a importância da
educação socioemocional, de acordo com sua visão, segundo o educador:

Uma criança que sabe lidar com seus problemas e dificuldades; sabe
se expressar melhor e falar com clareza suas dificuldades, facilitando
para o professor também a forma de olhar para aquela criança. É
preciso lembrar que somos seres humanos, com sentimentos
contraditórios e falhas em nossos olhares para com os demais. E
isso, todas as pessoas deveriam aprender, e nós como professores
deveríamos compreender e tentar ensinar. (Professor (a) de dança,
em questionário aplicado durante pesquisa de campo).

Segundo professor (a) de artes da Escola 4:

A educação emocional, além de auxiliar a formar alunos mais


humanos, traria um engrandecimento para o currículo das
instituições. Todos os professores deviam entender como ela
funciona e utilizá-la em suas aulas, porque a educação emocional é
importante para a formação do indivíduo: caráter, respeito... Isso não
é algo que tem que ficar apenas na mão da família. A escola tem que
mostrar para seus alunos que eles são importantes e que são
responsáveis pela construção de uma sociedade melhor. Os
professores também deveriam entender isso. Nós somos os
responsáveis por instruir os alunos para a vida, junto com a família.
Não apenas passar conteúdos sem significado nenhum. Estamos
lidando com pessoas e não com máquinas, por isso temos que
considerar como e o que sentem e ajuda-los a aprender a lidar com
essas questões. Eu ficaria muito feliz se houvessem mais
profissionais na minha escola desenvolvendo as competências e
habilidades sociais e emocionais. (professor (a) de artes, em
questionário realizado durante pesquisa de campo)

42
A fala de ambos os profissionais citados, demonstra certa inquietação
referente à formação integral do indivíduo, preocupação essa que deveria estar
presente em todas as instituições e profissionais do ensino, dessa maneira, seria
possível construir um sistema de ensino pautado na educação para a identidade,
que considera a sociedade como um todo e as necessidades individuais e coletivas,
viabilizando a construção de um conhecimento coletivo e multiplicador.
Pensando nessa questão, considerando a dificuldade apresentada por
diversos profissionais na área de compreender e aplicar a educação pautada no
conhecimento emocional e social e a partir de experiências próprias e da
observação de outros profissionais que desenvolvem diariamente atividades que
objetivam a aquisição de habilidades e competências cognitivas, sociais e
emocionais; o próximo capítulo apresenta algumas reflexões, que podem ser
utilizadas como base, em todas as disciplinas; para formulação de atividades e
conteúdos que possam estimular o crescimento socioemocional e,
consequentemente, cognitivo de seus alunos, promovendo o autoconhecimento e o
discernimento a respeito dos outros indivíduos que compõem a comunidade em que
se inserem.

43
CAPÍTULO IV – PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE
UMA EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL

Celso Antunes (2000) fala sobre a questão da autoestima e do


desenvolvimento de competências socioemocionais em suas obras. O autor reflete
sobre a importância do profissional da educação na condução do aluno, auxiliando
na formação de estudantes confiantes, seguros, conscientes de seus potenciais e
limites.
Segundo o professor é necessário que os professores desenvolvam em si
mesmos determinadas competências, “no sentido de perceber a individualidade do
aluno”.
Para Paulo Freire (1996) “não há educação fora das sociedades humanas e
não há homens isolados”.
O autor ainda cita que:

É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como


a amorosidade, o respeito pelos outros, o gosto pela vida, abertura do
novo, disponibilidade à mudança, recusa aos fatalismos, identificação
com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática
pedagógico-progressista, que não se faz apenas com ciência e
técnica. (FREIRE, 1996, p. 120)

Dessa maneira, a construção do ser social e do ser emocional é


imprescindível para chegarmos a uma educação de qualidade e, consequentemente,
a uma melhoria da comunidade em que nos inserimos.
Partindo dessa premissa e das pesquisas levantadas e anteriormente
apresentadas, formulou-se um pequeno compilado de ações que podem servir de
norteadoras para o desenvolvimento de uma metodologia e uma didática pautadas
na evolução integral dos indivíduos.
As propostas a seguir são apenas sugestões e reflexões para iniciar-se um
trabalho diferenciado. Contudo, o educador deverá considerar a realidade da
instituição escolar, as vivências dos alunos e as suas experiências próprias, para
criar em seu cotidiano uma prática adequada à realidade própria de sua comunidade
escolar.

44
4.1 REFLEXÃO PARA O DESENVOVIMENTO DA CONSCIÊNCIA
EMOCIONAL

“A palavra <<emoção>> vem do latim emovere, que significa fazer movimento


a partir de, estar excitado, sair do seu presente estado por meio de qualquer coisa
que agita, move, abala” (HOUZEL Emmanuelli & Moggio, 2004, p. 317).
Seguindo o pensamento acima, é possível definir a emoção como tudo aquilo
que nos mantém em movimento. Dessa forma, a educação deve considerar a
emoção em sua realização, pois é por meio dela que o indivíduo desenvolve as
motivações necessárias ao desenvolvimento dos processos de aprendizagem.
Alzina (2000), em sua obra, ressalta a importância da emoção para o
desenvolvimento do indivíduo. Segundo o autor, durante a adolescência o ser
humano desenvolve a consciência das emoções pessoais, percebendo o que isso
implica em sua vida e na relação com os outros, compreendendo as diversas
emoções de maneiras diferentes de acordo com determinados momentos de sua
vida. Essa compreensão influenciará diretamente na maneira como o indivíduo
comporta-se e relaciona-se com as pessoas e o mundo a seu redor. Dessa maneira,
o autor acredita que, se houver um bom trabalho, uma educação para as emoções,
é possível evitar-se as mais diversas problemáticas surgidas ao longo da vida do
indivíduo.
A grande dificuldade encontrada pelos profissionais da educação é que eles
não compreendem como desenvolver a educação emocional com seus alunos.
Alguns por acreditarem ser essa uma responsabilidade inerente da família, outros
por estarem engessados no sistema curricular e encararem a educação emocional
como algo divergente e separado dos conteúdos que deve ensinar.
A grande problemática do pensamento “conteudista” é que os profissionais
passam a encarar seus alunos de maneira fragmentada, esquecendo-se de
considerar as emoções como algo intrínseco e, portanto, integrante do processo de
ensino. Os professores esquecem até mesmo suas relações com os alunos, suas
emoções em relação à sala de aula e suas perspectivas de aprendizagem, tornando-
se, muitas vezes, uma máquina de produção de conhecimento em massa e,
cobrando de seus estudantes o mesmo engessamento de emoções, em detrimento
a aprendizagem cognitiva.

45
Por esse motivo, é complicado para os profissionais compreenderem que “a
educação emocional é um processo contínuo de aprendizagem ao longo da vida,
podendo ser encarada como uma forma de prevenção, visto que previne ou
minimiza a vulnerabilidade face a contextos diversos” (ALZINA, 2000).
O que os educadores precisam entender é que a educação emocional não
deve ser vista como uma disciplina curricular a ser estudada, mas deve estar
presente em todas as aulas em todas as disciplinas, em todos os momentos.
A educação emocional refere-se muito mais a maneira como os alunos
aprendem a partir das relações e das reflexões de si mesmo e dos outros do que o
desenvolvimento de um conteúdo específico.
Então, como desenvolver a educação emocional? Que atividade desenvolver
para estimular o conhecimento? Em que disciplinas curriculares podemos ressaltar a
importância das emoções?
Pois as respostas são mais simples do que a grande parte dos profissionais
da educação acredita. Não é necessário o desenvolvimento de um conteúdo
específico para a educação emocional. Ao contrário, o ideal é que se desenvolvam
atitudes e pensamentos que estimulem os alunos a repensarem suas emoções e
sentimentos a partir das experiências tidas em sala de aula.
Contudo, para que isso realmente se torne viável, é necessário que os
professores estejam abertos também a receber as críticas de seus alunos, pois por
meio da reflexão da classe em conjunto, poderá nortear seu trabalho para uma
melhoria.
A partir da relação de confiança depositada na fala do aluno, ele passa a
desenvolver sua autoestima e autoconfiança e, aos poucos, tornar-se-á um indivíduo
mais crítico e aceitar suas falhas, aprendendo a lidar com elas e resolver suas
problemáticas.
Levando isso em conta, fica mais simples desenvolver a educação emocional
de maneira mais consciente. As atividades podem ser realizadas em conjunto com
toda a comunidade, por meio de projetos ou mesmo no cotidiano da sala de aula,
basta uma mudança de postura dos educadores e gestores, um novo olhar para as
emoções e para os indivíduos que educam para que se desenvolvam as
competências e habilidades emocionais.

46
Antes de iniciar o trabalho com a educação sentimental é necessário que o
educador compreenda quais os objetivos que deve ter em mente para pensar nas
atividades. Para Alzina (2000) os objetivos gerais da formação emocional são:

 Conhecer mais profundamente as próprias emoções;


 Desenvolver a habilidade para controlar suas próprias emoções;
 Identificar as emoções alheias;
 Prevenir efeitos desfavoráveis associados a emoções negativas;
 Fortalecer a capacidade para originar emoções positivas;
 Desenvolver competência ao nível emocional;
 Promover a automotivação;
 Ter uma atitude positiva perante a vida;
 Aprender a deixar fluir.

Como objetivos específicos o autor cita:


 A capacidade de controlar a ansiedade e estados depressivos e de tolerar a
frustração;
 Aumentar o sentido de humor;
 Desenvolver a capacidade para se sentir feliz;
 Ser capaz de adiar recompensas imediatas por outras mais prazerosas a
obter a médio ou longo prazo;
 Reconhecer os fatores que potencializam o bem-estar pessoal.

Dessa maneira, uma simples roda de conversa ao final da aula, ressaltando


pontos positivos e buscando a correção dos pontos negativos, já é capaz de auxiliar
os alunos na abertura para críticas construtivas, a aprendizagem da fala consciente
e do respeito mútuo.
Nas aulas de literatura, perguntar como o aluno se sentiu ao ler determinado
conteúdo ou como ele acha que o personagem se sentiu em relação aos
acontecimentos, solicitar que ele se coloque no lugar do personagem; pode auxiliar
no desenvolvimento da consciência para a resolução própria de problemas e para o
olhar atento às emoções dos outros.

47
Em ciência, é possível realizar a observação do mundo ao redor através de
contatos sinestésicos e da reflexão sobre essas sensações.
Perguntar o porquê dos alunos identificarem-se ou não com algo ou por que
acreditam que tais sensações tenham se manifestado, comparar as sensações para
demonstrar as diversas reações a um mesmo assunto, estimular a expressividade, o
respeito mútuo, o ouvir e o falar, a aceitação de críticas construtivas e o aprender a
criticar, são atividades simples e que podem ser inseridas no cotidiano de qualquer
uma das disciplinas curriculares; basta que se tenha um pouco de boa vontade e
uma visão reflexiva da prática pedagógica.

4.2 PRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA SOCIAL

Segundo Paulo Freire, a sociedade é um importante fator de influencia para a


aprendizagem. Para o autor, por meio da convivência e da consciência crítica é que
o ser humano toma consciência da sua realidade, tornando-se capaz de transformá-
la.
Freire (1980) ainda fala sobre a importância do desenvolvimento de uma
consciência social quando defende que:

(...) ultrapassemos a esfera espontânea da apreensão da realidade,


para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como
objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição
epistemológica. (...) começamos a atuar de maneira mais e mais
crítica para alcançar o possível não experimentado contido nessa
percepção. (FREIRE, 1980, p. 26 e 30)

Dessa maneira, não se trata apenas de ter conhecimentos sobre o mundo, ou


as leis que o regem, mas aprender a lê-lo de diferentes maneiras e modifica-lo de
acordo com as necessidades sociais que surgem ao longo da evolução humana.
Segundo o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), “aprender sobre a realidade socioeconômica do
País e combater preconceitos já é função da educação.” (ALAVARSE, 2017,
entrevista para o site www.ubes.org.br.). O educador ressalta que o conceito de
educação socioemocional tem aparecido muito nas reuniões e encontros sobre
ensino e também na Nova Base Nacional Comum Curricular. A maior problemática
da educação socioemocional segundo Alavarse, é que as competências sejam

48
trabalhadas de maneira e a “juventude se cale e aceite o mundo como ele é”, o que
iria contra o ideal da educação social.
Para que os educadores aprendam a lidar com a consciência social, devem
compreender a importância do conceito na aprendizagem, entenderem quem são
seus alunos e identifica-los como indivíduos diversificados e que fazem parte de
uma mesma comunidade.
O educador, ao trabalhar com o conceito de sociabilização deve ter em mãos
recursos necessários para levar o aluno a atentar-se para seu papel e do outro na
comunidade em que se inserem, assumindo seu papel como participador e
modificador do mundo em que vive.
A importância da prática social se dá pelo fato de que o indivíduo socialmente
consciente passa a valorizar as interações sociais harmoniosas e conscientizar-se
para os direitos humanos, desenvolvendo habilidades sociais e compreendendo seu
papel e do outro no mundo que o habita.
Para que os professores possam realizar em sua prática uma educação social
é necessário que siga os seguintes passos:

 Considerar as necessidades de grupos e indivíduos – por meio da escuta


e do diálogo, do respeito mútuo e da utilização dos aspectos emocionais da
educação (supracitados). Dessa maneira os alunos sentem-se valorizados,
desenvolvendo a sensibilidade às necessidades sociais, aprendendo a
compartilhar, a conviver harmoniosamente, a trabalhar coletivamente e ainda
a praticar a caridade;
 Examinar o seu papel em conflitos – Cabe ao educador auxiliar os alunos a
compreenderem as melhores maneiras de resolverem seus conflitos, sem o
uso de força excessiva, intimidação ou usando agressividade (práticas
comuns utilizadas tanto por alunos quanto por educadores). É preciso utilizar
e demonstrar aos alunos que há outras maneiras de resolução de conflitos,
que não necessitem de práticas violentas e que o conflito em si, não
necessariamente, precisa ser visto como algo ruim, visto que ele move os
seres humanos para mudanças, que podem se tornar positivas; de acordo
com a resolução dada aos problemas. Dessa maneira cabe ao professor
auxiliar seus alunos na interpretação dos conflitos e na resolução dos
mesmos de maneira socialmente mais harmoniosa. Estimular a atenção para

49
os pontos de concordância e o comprometimento com o diálogo, demonstrar
modelos de líderes mundiais reconhecidos por sua natureza harmoniosa e o
estímulo ao pensamento para a resolução de conflitos pode estimular
positivamente a aprendizagem social dos educandos;
 Aumentar a sua sensibilidade e estimular aos alunos a noção de justiça
e harmonia social – Trate aos estudantes e estimule-os a tratar aos outros
com equidade; independente dos códigos sociais ou pré-conceitos que
possam existir no grupo. Desta maneira é possível que os alunos
reconheçam-se, aumentando a sensibilidade à justiça social, percebendo e
resolvendo as problemáticas ocorridas em sua classe e tomando consciência
do que ocorre em sua comunidade e no mundo a seu redor;
 Sair da zona de conforto – Estimule os alunos a aventurar-se no
desconhecido. A troca de ideias sobre outros povos ou culturas expandirá a
visão deles do mundo. Ser exposto a sistemas culturais diversos possibilita
aos alunos a expansão de seu círculo social e a construção da tolerância a
partir de pontos de vistas divergentes. É possível ao educador iniciar essa
ação com os alunos da própria classe, sugerindo que conheçam a ciência, a
história, a cultura de seus antepassados e percebam como isso influencia na
maneira como vivem;
 Praticar a compaixão – Como as práticas sociais requerem o respeito por
pontos de vista divergentes e o entendimento de diversas visões de mundo, é
necessário trabalhar com os alunos conceitos como empatia e compaixão.
Ambos os conceitos podem ser trabalhados ativamente também na educação
emocional, por isso ligamos um tipo de aprendizagem ao outro, definindo a
educação como socioemocional;
 Comprometer-se com um plano de consciência social – Mantenha-se a si
mesmo e aos alunos conscientes socialmente. Acompanhe os
acontecimentos sociais de sua comunidade e do mundo, mostre a eles como
funciona o sistema político de seu país, compare-o com o de outros lugares,
proponha atividades que explorem a participação da família e comunidade;
analise e reflita com eles sobre grupos menos favorecidos ou marginalizados
que tenham seus direitos humanos extirpados. Dessa maneira, estará
desenvolvendo em seus alunos a consciência política necessária para tornar-
se um cidadão crítico e reflexivo;

50
 Educar a si mesmo para depois auxiliar os alunos na sua própria
educação social – Racismo, sexismo, pobreza... Esses são apenas alguns
problemas que podem afligir a sociedade em que nos inserimos. É possível
ao educador desenvolver trabalhos que estimulem o pensamento dessas
questões sociais, discutindo o assunto e refletindo soluções para essas
problemáticas;
 Solicitar aos outros professores e aos pais que apoiem seus esforços na
consciência social dos estudantes – Convide os pais e outros educadores
da sua instituição para apoiarem sua causa. Uma boa maneira de propor a
participação de todos é por meio da prática de projetos.

Como é possível se notar, o desenvolvimento de uma prática socioemocional;


está muito mais relacionada à maneira como o educador lida com sua turma, com
uma pequena modificação de seu pensamento e comportamento, com uma prática
reflexiva, com o estímulo ao diálogo, do que com o desenvolvimento de conteúdos
propriamente ditos. Contudo, além das práticas propostas nesse capítulo, que
podem ser trabalhadas diariamente, é possível ainda realizar-se uma ampliação dos
temas que envolvem as práticas socioemocionais, ampliando seu alcance por meio
de projetos específicos, que podem ser trabalhados ao longo do ano letivo ou em
aulas específicas, como veremos a seguir.

4.3 O USO DE PROJETOS

É muito comum nas instituições escolares a utilização de projetos pautados


em determinados temas ou para a resolução de problemas.
Pode-se definir projeto como toda ação ou estratégia que promovam a
aprendizagem, demandando um planejamento de duração finita, com objetivos
claramente definidos na solução de problemas; oportunidades, necessidades,
desafios ou interesses mútuos dos participantes, com a finalidade de executar os
processos educativos necessários para a formação humana em seus diferentes
níveis e contextos, como nos define Baker (1998), projeto é:

Uma sequência de tarefas com um início e um fim que são limitadas


pelo tempo, pelos recursos e resultados desejados. Um projeto
possui resultado desejável específico; um prazo para execução; e um

51
orçamento que limita a quantidade de pessoas, insumos e dinheiro
que podem ser usados para completar o projeto (BAKER & Baker ,
1998, p.5)

Para Brito:

Pela execução de um projeto, todos os envolvidos se enriquecem


com as experiências vividas, obtendo novos conhecimentos e novas
habilidades. Essa característica faz dos projetos uma alternativa
importante a ser considerada em sistemas educacionais, seja como
solução para vários problemas, seja como forma de introdução de
inovações pedagógicas, como é o caso de projetos de educação a
distância (BRITO, 2011, p.9)

Isso explica porque o modelo de ensino por meio de projetos educacionais


tem sido tão utilizado. Por sua característica colaborativa é um importante aliado no
desenvolvimento da educação pautada no desenvolvimento integral. Dessa maneira,
nesse tópico, citamos alguns exemplos utilizados pelos educadores entrevistados
em sua prática cotidiana para o desenvolvimento das competências e habilidades
socioemocionais.
Espera-se que os dados contidos nesse trabalho sirvam como inspiração para
que futuros profissionais possam aplicar a educação socioemocional em sua prática
cotidiana e pensa-la no desenvolvimento de seus próprios projetos, de acordo com a
peculiaridade de sua instituição de ensino e da individualidade de seus grupos de
alunos.

4.3.1 EXEMPLOS DE PROJETOS SOCIOEMOCIONAIS

Colocamos aqui pequenos fragmentos, resumindo projetos desenvolvidos


pelos profissionais entrevistados para o desenvolvimento dessa pesquisa. Espera-se
que eles possam servir de base para que os profissionais possam criar seus
próprios trabalhos de acordo com sua própria realidade. De acordo com acordo
firmado junto aos profissionais que responderam ao questionário, o nome dos
educadores e das escolas em que trabalham será mantido em segredo, sendo
referidos pela disciplina que lecionam.

a. Roda de ideias – A professora de fundamental I “L” promove em todas as


suas aulas a troca de ideias. Segundo a profissional esse é um projeto de longa

52
duração em que ela conversa com os alunos ao final de cada aula, estimulando o
pensamento crítico e a discussão dos temas tratados (de matemática à história). A
mesma atividade é proposta quando os alunos precisam solucionar problemas que
apareçam.
b. Leitura de imagens por meio de sentimentos – Para a professora “C” de
Artes, a conversa sobre os sentimentos dos artistas influencia a leitura e a
interpretação de sentimentos nos alunos. Os alunos são estimulados a dizerem o
que sentem com a obra, analisar a história e depois, em grupo, chegarem a
conclusões que definam o que acreditam. A professora desenvolve atividades de
interpretação por meio do teatro. Outra maneira de se trabalhar com os sentimentos
e a sociabilização citado pela professora é criar em grupo desenhos que
representem seus sentimentos com as imagens.
c. Pensar a história e sua influência na sociedade – A professora “A” de
História utiliza filmes para trabalhar com os alunos temas referentes ao currículo e
questões sociais. A educadora utiliza a obra “A vida é bela” e depois questiona aos
alunos sobre as relações sociais da época, comparando com as relações atuais. Os
alunos são estimulados a colocarem suas opiniões para o restante da sala e
conversarem sobre as questões sociais levantadas e como evitar que a história se
repita na atualidade.
d. Trabalhando a higiene e os preconceitos – A professora “T” de dança,
ao trabalhar com o tema higiene, ressalta com os alunos questões sobre bulling e
preconceitos de uns com os outros, solicitando que se respeitem mesmo com suas
diferenças físicas e de opiniões. Os alunos são convidados a olharem de maneira
diferente e mais respeitosa uns para os outros e se reconhecerem através das
movimentações criadas coletivamente. Ao final, os alunos são convidados a
exporem suas opiniões em relação ao assunto tratado.
e. Reflexões sociais – Os alunos da professora “C” são convidados a
trazerem temas que desejam discutir durante as aulas. Uma vez por mês a
educadora uma semana dedicada a reflexões sociais e políticas. Os alunos são
convidados a refletir sobre o assunto de maneiras diversas. O tema é escolhido em
conjunto com a classe no inicio do mês e eles propõem atividades que possam ser
desenvolvidas na semana dedicada ao projeto. Segundo a educadora, os alunos já
trabalharam temas como: diferenças de gêneros, violência, diversidade cultural,
intolerância religiosa, bulling, preconceito, abuso infantil e democracia. Os temas

53
muitas vezes são discutidos a partir de noticias de jornal ou de vivências e
experiências dos próprios alunos. Para a docente, o projeto auxiliou no
desenvolvimento do senso crítico dos alunos e na convivência deles, ela diz que:
“Muitas vezes eles não conseguiam resolver seus conflitos sem brigas ou agressões
físicas e verbais. Agora, percebo que estão mais sociáveis, se ouvindo mais,
compreendendo mais e propondo soluções melhores para seus problemas”.
f. Auxílio da Sociedade – A professora “V” propôs aos seus alunos um
trabalho social que envolvesse a comunidade em torno de sua instituição. Os
discentes arrecadaram junto aos familiares, comerciantes e conhecidos,
mantimentos que foram doados em asilos locais.
Esses tipos de trabalhos desenvolvidos demonstram a capacidade de
aprendizagem que a educação socioemocional é capaz de trazer, educando não
apenas para a cognição ou para que os alunos estejam aptos à aplicação de
conteúdos e conceitos, mas também para a vida em sociedade, tornando-os
cidadãos ativos e criticamente pensantes.
Ao estimular o trabalho socioemocional, as instituições e educadores estariam
cumprindo com seu papel na formação integral dos indivíduos e entrariam em
concordância com a Lei nº 9.394/ 96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) que diz em seu artigo 26, parágrafo 1º que: “Os currículos devem abranger
o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
especialmente do Brasil”.

54
CONCLUSÃO

Por meio do desenvolvimento de habilidades e competências


socioemocionais é possível perceber melhoras significativas no processo de ensino-
aprendizagem, visto que a educação socioemocional proporciona aos educadores,
além de se autoconhecer e aos alunos; estimular a livre expressão, a autoestima e o
conhecimento dos outros e da sociedade em que se inserem.
Além disso, a educação socioemocional valoriza cada ser humano no mundo
como original e valioso. Isso leva os alunos ao desenvolvimento de competências e
habilidades que auxiliam na compreensão de si mesmo e do outro, possibilitando o
surgimento e a conservação de pensamentos e atitudes éticas.
Isso ocorre porque por meio da observação do outro e do mundo ao redor os
alunos passam a perceber o que está em seu entorno (crenças locais, culturas, etc)
e a considerar a forma como são vistos e aceitos em sua legitimidade, como seres
humanos.
Assim, os discentes passam a enfrentar suas incertezas de maneira mais
natural, expondo suas ações, ideias e desejos; aprendendo a discutir de maneira
ética e exercitando o diálogo e o entendimento do outro.
É possível ressaltar ainda que a educação socioemocional auxilia, no
aumento da consciência de cada um para a percepção de si e das relações
interpessoais, na medida em que se aperfeiçoa a autoconsciência, o discente
consegue autogerir seus sentimentos e pensamentos, seus comportamentos e
promover o bem-estar, o que auxilia diretamente não apenas em sua aprendizagem,
mas também em sua formação como cidadão.
O desenvolvimento das competências socioemocionais mostra ser possível
reconhecer que uma relação de tensão entre opostos, quando se fala de
comunicação, não deve ser encarada necessariamente como nociva, mas que
havendo respeito mútuo e compreensão, os problemas são resolvidos de maneiras
mais harmônicas.
Contudo, para que a educação socioemocional seja empregada de maneira
contundente e funcional; é necessário que o professor considere seus alunos
integralmente, se importando com cada indivíduo, incentivando a aprendizagem

55
colaborativa e oferecendo atividades prazerosas, que valorizem a diversidade
humana e estimulem o processo colaborativo.
Desta maneira, os educadores devem trabalhar com as atividades que sirvam
como facilitadoras para que os discentes consigam gerir seus sentimentos e
emoções.
Para que isso ocorra, no entanto, é de extrema importância que haja uma
preocupação com a formação do professor para o ensino das habilidades
socioemocionais, para que ele saiba como orientar aos alunos no desenvolvimento
de negociações e mediações, gerindo e moderando emoções positivas e negativas,
encorajando a tomada de consciência (de seus sentimentos e dos outros), criando
novas perspectivas para a convivência social, em busca da melhoria do ambiente a
sua volta.
Segundo Ferreira (2011) essa autopercepção:

É importante para o sucesso e a realização pessoal da criança, uma


vez que no início da escolarização as experiências vividas
influenciarão em grande parte a vida futura da criança. Do mesmo
modo que a autopercepção negativa a respeito de seu desempenho
pode reforçar sentimentos de inadequação, baixa estima e
experiências de fracasso em sua vida escolar. (FERREIRA, 2011, p.
03)

Essa maneira de ver o mundo e conviver com ele traz uma melhoria relativa
no desempenho acadêmico, como pudemos constatar a partir dos relatos
apresentados nesse trabalho, e, consequentemente; maior realização pessoal, o que
faz com que o aluno se volte verdadeiramente para a aprendizagem.
A maior parte dos professores que utilizam a educação socioemocional
percebe a diminuição no número de agressões físicas e verbais e a diminuição de
dificuldades comportamentais, o que demonstra claramente que ao permitir a
autoexpressão e ao desenvolver a empatia dos discentes, estimulando a
cooperação, a sociabilidade e o companheirismo; o educador age como um
facilitador do processo de ensino-aprendizagem.
Pode-se considerar, por conseguinte, a educação socioemocional como um
importante meio para a evolução dos alunos para a cooperação, a sociabilidade e o
companheirismo; pois na medida em que estimula a criatividade e a empatia; facilita
o processo de ensino-aprendizagem e a educação integral e para a cidadania;
favorecendo o ganho, por parte dos estudantes, de um coeficiente emocional e

56
intelectual que será refletido em diversos momentos da sua vida, sendo, portanto, de
extrema importância para que os discentes encontrem um equilíbrio emocional e
social.

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABED, Anita Lilian Zuppo. Artigo sobre educação socioemocional.


Disponível em: http://porvir.org/especiais/socioemocionais/ Acesso em 30 out. 2016
às 11h20

______________________. O jogo de regras na psicopedagogia clínica:


explorando suas possibilidades de uso. São Paulo: PUC-SP. Pós-graduação em
psicopedagogia. Monografia. 1996. Disponível em: www.recrar-se.com.br Acesso
em: 05 jan. 2017

___________________________. O desenvolvimento das habilidades


socioemocionais como caminho para a aprendizagem e o sucesso escolar de
alunos da educação básica. São Paulo: 2014. Disponível em:
http://docplayer.com.br/392628-O-desenvolvimento-das-habilidades-
socioemocionais-como-caminho-para-a-aprendizagem-e-o-sucesso-escolar-de-
alunos-da-educacao-basica.html Acesso em: 27 fev. 2017

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