Você está na página 1de 2

Era verão nas terras altas ao norte de <reino>, e eu vagava sobre a GrossStein, a muralha que

separava os dominios de meu pai dos demais senhores do norte. Chamo-me Basarah, que em nosso
antigo idioma significa aquele que luta por seus ideais. Naqueles dias eu sequer imaginava como era
o mundo fora dos grandes portões, mas tudo já estava planejado para mim.
As tres fiandeiras que sentam-se sob Yggdrasil, o grande freixo do mundo, tecem o destino de
homens e deuses. Já dizia meu pai que o destino é inexoravel e dele nem os deuses podem escapar.
Porém, a partir daquele dia fatidico, a roda que simbolizava minha vida iria começar a girar, e
giraria cada vez mais rápido até alcançar um ritmo insano.
Nós não nos incomodávamos quando navios atracavam em nossa costa. Até aquele momento eu
conhecera apenas marinheiros comerciantes, senhores gordos, de densas barbas vermelhas, de riso
fácil e hálito de cerveja. Mas aqueles navios era diferentes: tinham cabeças de monstros nas proas, e
os tripulantes vestiam pesadas cotas de malha, elmos brilhantes e escudos de madeira pintados.
Piratas!!! Foi o urro que ouvi dos sentinelas do castelo. Ao virar-me novamente em direção contei
cerca de 20 navios, com cerca de 30 tripulantes cada. Os guerreiros de meu pai preparam os arcos e
posicionaram-se nas muralhas, enquanto outros fecharam o grande portão com pesadas cancelas de
madeira.
As flechas de nada valiam contra aquele parede de escudos e armaduras. Os invasores chegaram
proximos do portão e o golpearam com um pesado ariete. Em pouco tempo não restou nada mais do
que meras lascas de madeira. Nossos guerreiros lançaram pedras e toda sorte de objetos da muralha,
mas nada abalou o avanço dos invasores. Vi meu pai vestindo sua glória guerreira: O elmo com a
cabeça de lobo, a cota de malha, e sua grande e reluzente espada. Ao ver-me, ele disse algumas de
suas ultimas palavras:
– Basarah, somos guerreiros na vida e seremos guerreiros na morte. Não protegemos nossas
casas gemendo em altares, e sim esmagando nossos inimigos com o punho e o aço. Se eu
cair, não se preocupe. Eu estarei entre os grandes, no vasto salão dos mortos. Lá eu esperarei
até o momento em que iremos nos reunir novamente, amigos e inimigos, e juntos lutaremos
uma última vez.
– Sim, pai – E eu sabia que ele estava preparado para morrer. Ele sabia que não tinhamos
chances, mas iria lutar até o final.
Os invasores passaram pelo portão e montaram sua parede de escudos. Nossos guerreiros
posicionaram-se da mesma forma, mas não tinhamos nem metade da força deles. O medo instalou-
se em nossos homens, e ele é uma arma terrível. Enfraquece suas pernas, revira suas tripas e rouba a
energia de seus braços.
Eu estava atrás da nossa parede de escudos, quando vi meu pai passando através dos nossos
guerreiros. Adiantou-se a eles, e gritou:
– Quem lidera essa turba de porcos filhos de uma cadela? Eu o desafio para um duelo.
Os invasores ficaram em silêncio por um breve momento. E então começaram a bater as espadas
nos escudos, até que o clangor tornou-se ensurdecedor. Eles gritavam algo, que achei ser o nome de
seu líder:
– RAGNAR, RAGNAR
Um homem avançou dentre os invasores. Ele cerca de uma cabeça e meia mais alto que os demais.
Seu elmo possuía asas como de uma águia, e sua armadura brilhava como o sol da manhã. Ele
carregava um pesado machado de batalha, e matar era seu ofício.
A luta durou muitos minutos. O escudo de meu pai já havia sido estraçalhado pelo machado de
Ragnar, junto com seu braço esquerdo. Não lhe sobravam muitos recursos, e já não havia mais
energia em seu velho e cansado corpo.
Numa última investida ele visou uma estocada no rosto de Ragnar, mas ele esquivou-se como uma
corça e acertou um golpe certeiro na nuca do velho. Eu estava imóvel até aquele momento, mas
corri sobre Ragnar armado com meu pequeno sax.
Ao me ver ele ficou espantado, mas aparou com a mão nua meu golpe e me jogou sobre os ombros.
Anos mais tarde ele me contou que nunca havia visto tamanha fúria vinda de uma pequena criança.
A partir daquele momento como um filho por Ragnar. Nos primeiros tempos senti grande ódio por
ele, mas depois sentia-me muito bem entre os de sua gente. No grande castelo eu era um prisioneiro,
mas agora era livre.
Aprendi que meu pai havia tomado nosso castelo do povo de Ragnar, e que agora ele apenas estava
tomando de volta. Mas não moramos lá. O mar era a morada de Ragnar, e seu castelo era o Víbora
do Vento, o navio que eu aprendi a amar, e de cuja manutenção eu era o responsável.
Com Ragnar aprendi a lutar, matar e comemorar a matança. Este era o jubilo do guerreiro. Um
mundo simples, de força e resistência.
Com o pai de Ragnar, o velho Raun, aprendi sobre um outro mundo: a antiga arte das runas e a
feitiçaria de seu povo. Aprendi a ler o futuro nas pequenas varetas, e entendi seu significado para
nossa cultura. Aprendi as artes secretas da cura e da lida com os espíritos mal-intencionados.
Tornei-me,além de um guerreiro, também um curandeiro e exorcista.
Naquelas varetas estava escrito meu destino, e a partir daquele momento minha jornada começaria.
Iria fazer minha própria reputação.

Você também pode gostar