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CAMPIM ELEFANTE CARAJÁS (Ex.

Paraíso)
I - Introdução

O Capim Elefante híbrido (Pennisetum hybridum) é o resultado do cruzamento do capim


elefante comum (Pennisetum purpureum Schum) com o milheto (Pennisetum americanum).
(HANNA et al.,1984). Este capim foi obtido na Estação Experimental da Universidade da
Geórgia, Município de Tifton, em 1980 e em 1995 foi introduzido no Brasil, pelo Engenheiro
Agrônomo Herbert Vilela, em São Sebastião do Paraíso (MG) através da MATSUDA Genética,
com o nome de Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso). Daquela introdução, até a presente data,
têm sido feitos muitos trabalhos de pesquisa em parceria com a U. Florida, UFMG, UFU e
outras Instituições Oficiais de Pesquisa. Este cruzamento possibilitou a obtenção de uma planta
com alto potencial de produção de matéria seca, palatável e com alto teor de proteína bruta.
Esta maior apetecibilidade proporciona maior consumo de forragem principalmente pelos
bovinos e eqüídeos.

II.1 - Produção de Biomassa do Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso)

Características, produção e vantagens

QUESADA (2004) comenta que a produção de material energético alternativo através de


biomassa vegetal representa hoje um desafio para a ciência, e para os países de um modo
geral, principalmente os em desenvolvimento. A utilização de combustíveis fósseis e seus
derivados ocasionam graves conseqüências, pois são fontes finitas de energia, e contribuem
para o efeito estufa que ameaça o equilíbrio do clima da terra. Como a queima de biomassa no
máximo recicla CO2 que foi retirado da atmosfera pela fotossíntese, tudo indica que, em longo
prazo, esta será a alternativa energética para contornar a crise ambiental e a dependência ao
petróleo que vive o planeta . Soma-se a isso, o fato de que, entrando em vigor o Protocolo de
Kyoto, os países que obtiverem energia através de mecanismos de desenvolvimento limpo
(MDL), obterão créditos através da “venda” do carbono não emitido.

VILELA, et al. (1997, 2001, 2002, 2003 e 2004) e PAULINO, DE LUCENAS, & POSSENTI,
(2007), obtiveram inúmeras produções de biomassa em função de vários tratamentos em seus
trabalhos de pesquisa. Fazendo um arranjo nos dados obtidos, podem-se sumariar os dados
apresentados no Quadro I. Estes dados sugerem que se façam corte das plantas, quando
maduras com cerca de 150 dias de idade, para se obter12, 115 t e da rebrota com cerca de
180 dias de idade, para se obter 22, 500 t de “biomassa 85” por hectare por ano. A produção
total biomassa com 85% de matéria seca é de 34, 615 t e pode ser armazenada por um
período de tempo indefinido.

QUADRO I - Variações de Produção de Biomassa e sua Composição em Matéria Seca


e Mineral

Produção Produção
Matéria seca Altura da planta Matéria Mineral
Ciclo vegetativo Matéria Biomassa 85*
(%) (m) (%)
Seca (kg/ha) 85% MS (kg/ha)

Inicial - 70 dias 13,85 1,20 (4.800) --------- 11,80

Intermediário – 100
17,40 2,50 (8.100) ---------- 10,24
dias

Maduro ≈ 150 dias 30,73 >3,00 9.535 10.965 6,56

Rebrota > 210 dias 32,75 >3,00 14.565 16.749 6,15

TOTAL     24.100 27.714  

 Estes dados sugerem que se façam corte das plantas, quando maduras com cerca de
150 dias de idade, para se obter 10.965 t e da rebrota com cerca de 180 dias de idade, para
se obter 16.749t de “biomassa 85” por hectare por ano. A produção total biomassa com 85%
de matéria seca é de 27.714t e pode ser armazenada por um período de tempo indefinido.

Segundo MAZZARELLA (2007), as vantagens comparativa do Capim Elefante como


produtor de biomassa em relação às demais fontes são:

 Maior produtividade (45 t MS/ha/ano);


 Menor extensão de áreas para uma dada produção;
 Menor ciclo produtivo (dois cortes por ano);
 Melhor fluxo de caixa;
 Possibilidade de mecanização total;
 Energia renovável;
 Maior assimilação de Carbono.

II.2 - Mercado de Carbono

O conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela Conferência de Kyoto, em 1997,


com a finalidade de conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando a diminuição do
efeito estufa. A conservação de estoques de carbono nos solos, florestas e outros tipos de
vegetação, a preservação de florestas nativas, a implantação de florestas e sistemas
agroflorestais e a recuperação de áreas degradadas são algumas ações que contribuem para a
redução da concentração do CO2 na atmosfera. Os resultados do efeito seqüestro de carbono
podem ser quantificados através da estimativa da biomassa da planta acima e abaixo do solo,
do cálculo de carbono estocado nos produtos madeireiros e pela quantidade de CO2 absorvido
no processo de fotossíntese. Para se proceder à avaliação dos teores de carbono dos
diferentes componentes da vegetação (parte aérea, raízes, camadas decompostas sobre o
solo, entre outros) e, por conseqüência, contribuir para estudos de balanço energético e do
ciclo de carbono na atmosfera, é necessário, inicialmente, quantificar a biomassa vegetal de
cada componente da vegetação (Revista Eco Spy, Ano 2, n. 07. novembro/2006).

A tributação foi a primeira idéia para a formalização do controle econômico sobre a poluição,
mas isto afetaria a relação do custo/benefício no setor de produção ou elevaria o custo final ao
consumidor. Assim, para que fossem alcançados os parâmetros globais de poluição, surgiu
outro conceito, ou seja, os países poderiam negociar direitos de poluição entre si. Um país com
altos níveis de emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país que estivesse com
os níveis de poluição abaixo do limite comprometido. A partir de então, além da idéia global da
comercialização dos limites de poluição, muitas empresas começaram a sondar tal mercancia.
Nos EUA, já se encontra legislação específica sobre a emissão de poluentes. O órgão
ambiental americano - Environment Protection Agency - emite direitos para a emissão de
volumes de poluição, títulos que simbolizam os limites de poluição que determinada empresa
deve cumprir no ano. A cada ano tais limites sofrem reduções. Caso esta empresa obtenha
sucesso na redução anual, poluindo menos do que o limite estabelecido, ela terá um saldo que
poderá ser comercializado no mercado com outras empresas que não conseguiram cumprir o
limite ''materializado'' pelos títulos adquiridos. Com a valorização econômica, a fiscalização e
todos os demais custos operacionais para a redução da poluição acabam sendo arcados pelo
mercado de commoditties, não repassando o impacto financeiro para a relação custo/benefício
ou para o custo final. Esta é a maneira mais econômica e eficaz para a fiscalização e a
diminuição da poluição. EI KHALILI (2003) comenta que dentro deste contexto econômico, o
Brasil se encontra em uma posição extremamente valorizada, já que possui um amplo espaço
ambiental. Desta forma, as empresas e os países altamente industrializados, seriam obrigados
a frearem o aquecimento do planeta, reduzindo a emissão de gases e que poderiam participar
de projetos de reflorestamento, adoção de tecnologias limpas, etc. A preservação ambiental
pode ser a origem da entrada de divisas no País. O Brasil receberia pela sua baixa emissão de
gases, pela enorme capacidade ambiental de absorção e regeneração atmosférica.

Os créditos de carbono já estão sendo comercializados com antecedência no mercado


mesmo que ainda não haja uma regulamentação de preços. Cada tonelada de carbono vale
US$3.00 – US$5.00 segundo o oficial do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), (www. imoveisvirtuais.com.br). Em geral, o teor de carbono nos tecidos
vegetais apresenta mínima variação. Na biomassa vegetal do capim elefante o teor de carbono
é aproximadamente 42%, na base de matéria seca. Assim, uma produção média de biomassa
seca de capim elefante de 40 t/ha/ano, como conseguida na UFMG, acumularia um total de
16,8 toneladas de carbono/ha/ano. Neste contexto, o mercado de comodity ambiental de
empresas Européias considera um preço de US$ 2,50 dólares por tonelada de CO2
seqüestrado. Assim, baseado nos dados disponíveis, pode-se estimar que uma empresa com
100 ha de capim elefante seqüestraria o equivalente a 1.680 toneladas de CO2/ano e poderia
captar cerca de US$ 4.200,00 a cada ano somente por este mecanismo.

III.1 - Características energéticas e químicas da biomassa do Capim Elefante

Pelas suas próprias características físicas, o capim elefante "solto" é um material de baixa
densidade energética, quando comparado com a lenha, sendo muito baixa a sua densidade a
granel aproximadamente 50-60 kg/m3. A pressão que a massa é submetida por uma
enfardadeira deve ser de mais 150 kg/m3. Esta pressão que se aplica faz com que a sua
densidade passe de 50-60 kg/m3 para 212,70 kg/m3.

Algumas características do capim elefante estão listadas no Quadro II.

III.2 - Formas de uso da energia do Capim Elefante (MAZZARELLA, 2007)

 Combustão direta
 Gaseificação
 Carvoejamento
 Hidrólise do bagaço → Álcool

III.3 - Manejo da biomassa do Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso) na geração de


energia em combustão direta (VILELA, 2007)

Na prática, valendo do emurchecimento da biomassa do capim elefante ceifada e


condicionada (exposta ao sol pleno) faz-se a sua pré-secagem. Quando a planta se encontra
com cerca de 3,00m de altura, faz-se o corte e condicionamento da biomassa (condicionador
acoplado a ceifadeira), predispondo-a ao sol, para se apresentar mais solta nas linhas, o que
favorece o seu emurcheci mento, suas posteriores movimentações (viragens) com ancinho e
sua coleta pela enfardadeira.

Em meses sem chuvas (tem-se planta com maior teor de matéria seca (35%), solo com
menor teor de umidade e umidade relativa do ar baixa (≈ 40%), mediante estas circunstancias
obtem-se com cerca de quatro dias de exposição ao sol pleno, após corte com condicionador e
viragens com ancinho, uma biomassa com 85% de matéria seca.

Contudo em meses com chuvas (planta com menor teor de matéria seca (20%), solo com
maior teor de umidade e umidade relativa do ar maior (≈ 60%) esses fatores condicionantes
podem levar a um período de exposição ao sol pleno maior (5 - 6dias) e com maior número de
viragens com ancinho, para se obter uma biomassa com 85% de matéria seca.

A coleta da biomassa deverá ser feita por uma enfardadeira adequada, para posteriormente
conduzir estes fardos à queima em fornalha ou armazenar a biomassa em galpões
apropriados.

IV - Resultados

IV.1 - Custos e fotos da ceifadeira, enfardadeira e ancinho


Quanto aos preços destes equipamentos eles são relativamente elevados (Quadro III), mas
apresentam um retorno rápido do capital investido.

FIGURA I - Fotos da ceifadeira e da enfardadeira (São Sebastião Paraíso-09/20007).

IV.2 – Composição química do Capim Elefante

Um parâmetro importante a ser analisado para saber a viabilidade de se produzir energia a


partir de capim elefante é o seu teor de fibra, e dentro desta, mensurar os teores dos
componentes ricos em carbono e com elevado poder calorífico, como lignina e celulose. Outra
característica do capim elefante é a que nos colmos, o teor de fibra é frequentemente maior
que nas folhas, assim como lignina e celulose, tal como mostrado no QUADRO IV.

QUADRO IV - Percentual de fibra em detergente ácido (FDA), lignina, celulose e cinzas,


nas folhas e colmos de dois genótipos avaliados em condições de campo, em colheita
realizada aos 6 meses de cultivo (1ª colheita)***.

FOLHAS COLMOS
Genótipo
FDA Lignina Celulose Cinzas FDA Lignina Celulose Cinza

Paraíso 45,9 8,7 29,4 5,8 53,2 10,9 40,7 1,6

Cameroon 45,3 8,6 30,2 3,2 52,9 10,7 40,0 0,8

V - Conclusões

 É importante salientar que ao desfazer os fardos para introduzi-los na caldeira, ocorre


uma grande perda na compactação, ponto altamente negativo ao processo, pois a queima do
fardo se torna muito mais rápida, ressaltando que uma queima mais lenta há uma redução no
consumo de matéria biomassa seca e um melhor aproveitamento da energia, fato constatado
neste trabalho.
 Para o manejo da biomassa com as dimensões acima citadas, sem desfazer a
compactação, é necessária a utilização de empilhadeiras para tornar o processo mais viável,
com ganho considerável de energia calorífica, pois mantém o bloco de biomassa mais
compactado.
 Observou-se durante o trabalho, quando a caldeira era abastecida com a biomassa do
Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso) a fumaça escurecia imediatamente, um fator que com
certeza pode ser explicado pela queima de um volume excessivo de capim descompactado,
ocorrendo assim à falta de oxigênio para uma perfeita combustão.
 Pode-se também concluir que entre os três tratamentos, o tratamento com utilização
da biomassa do Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso), o custo por tonelada de ração
produzida reduziu, em até mais de 100%, fato que pode ser comprovado pelo Quadro VI.
Portanto a utilização de 100% de biomassa de Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso) trará
uma redução de custo significativa para a EMPRESA quando em substituição da lenha de
eucalipto.

VI - Aspecto da cultura do Capim Elefante Carajás (Ex. Paraíso)


FIGURA II – CAMPIM ELEFANTE CARAJÁS COM 96 DIAS APÓS PLANTIO

VII - Referências bibliográficas

EI KHALILI, AMYRA. 2003. O que são Créditos de Carbono? Publicado na Revista Eco 21, ano XII, No 74.

FERNANDES, MARCELO CÔRTES, SÁNCHEZ, CAIO GLAUCO E ANGULO, MARIO BARRIGA

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