Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
William Timóteo
Especialista em Direito do Trabalho (PUC Minas). Bacharel em Direito (bolsista
MEC, UNIT/SE). Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP.
Membro do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas de Proteção aos Direitos
Humanos – UNIT/CNPq.Advogado.
1
Movimento com caráter político que visa a união de países de língua e civilização árabe.
2
Onda libertária iniciada ao final da primeira década do século XXI, marcada porleva de protestos e ma-
nifestaçõescontra os governosautoritários doOriente Médio e no Norte da África.
Por sua vez, o Alcorão, ao discorrer acerca dos ideais de justiça pre-
tendidos pela guerra santa, dá aos seus seguidores uma orientação moral
universal, na qual estão consagradas “[...]a ajuda aos necessitados, a pro-
teção dos órfãos, a regulamentação dos direitos das mulheres, a luta em
defesa própria, a busca de ajuda e de amizade etc.” (ISHAY, 2006, p. 21).
Os ideais iluministas também foram de grande valia à luta pelo re-
conhecimento dos direitos humanos, ao asseverar que o Estado-Nação
deveria ser utilizado contra a autoridade papal, contestando o direito di-
vino, com respaldo na lei natural. Nesse sentido, Thomas Hobbes preco-
nizava ser do Estado a responsabilidade pela proteção do direito à vida
e à segurança.John Locke e Jean-Jacques Rousseau defendiam o dever
de garantir a igualdade. Immanuel Kant e outros sustentavam a ideia de
internacionalização dos direitos humanos (ISHAY, 2006, p. 23).
Influenciada pelas ideias da Magna Carta de 1215, a Habeas Corpus
Act, promulgada em 1679, na Inglaterra, tinha como objetivo proteger a
liberdade pessoal contra os ditames transgressores do Estado. Posterior-
mente, em 1689, promulgou-se a Declaração de Direitos da Inglaterra,
cuja redação primava pela libertação do povo inglês das arbitrariedades
do governo, instituindo normas para a sucessão da monarquia britânica e
prevendo liberdades para os súditos.
Com efeito, a obra “Dos Delitos e das Penas”, de autoria de Cesare
Beccaria (1738 – 1794), foi a primeira a discorrer acerca dos direitos alu-
sivos à justiça criminal, contribuindo sobremaneira ao reconhecimento
dos direitos humanos, considerando o seu pleito pela abolição da pena
de morte. Para Beccaria, “a pena de morte não é [...] um direito,[...]mas
um ato de guerra de uma sociedade contra o cidadão que ela julga útil ou
necessário destruir” (ISHAY, 2006, p. 26).
Ao se tornarem independentes da Inglaterra, as treze colônias ameri-
canas promulgaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos,
em 1776. Seu texto, de cunho libertador, pontificava que “[...] todos os
homens são criados iguais, de que são dotados pelo seu Criador de certos
direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da feli-
cidade”, influenciando o imperialismo espanhol, a luta contra a natureza
absolutista do feudalismo francês e contribuindo consideravelmente à
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
Apoiada pelos ideais do liberalismo, a Era da Industrialização mar-
cou-se pela crescente miséria urbana, o que provocou, por conseguinte,
uma raça, cultura, religião ou classe social sobre as demais, põe em risco
a sobrevivência de toda a humanidade (COMPARATO, 2005).
laços estreitos com o governo. Durante todo este tempo, tão somente
uma resolução, que previa envio de observadores ao território sírio, fora
aprovada, tornando o mecanismo da Responsabilidade de Proteger um
sonho utópico.
Duarte (2013, p. 39) aponta o mencionado princípio como frágil,
especialmente por estar sujeito “às disposições e orientações políticas
de alguns Estados que influenciam de modo decisivo as questões mais
importantes da política internacional”.Em decorrência disso, diz-se que
o mecanismo consiste num instrumento de ampliação de poder das re-
lações internacionais, considerando que, em vez de ser utilizado com
o fim único de proteger os direitos humanos, serve como um fator de
propulsão de um determinado sistema global. Neste contexto, a dispu-
ta pelo poder sobrepuja ao real valor da dignidade da pessoa humana.
De fato, as ações do Conselho de Segurança estão vinculadas aos interes-
ses políticos das nações que o compõem.
No caso da Síria, como os interesses políticos dessas nações são anta-
gônicos, a possibilidade de se utilizar o mecanismo da Responsabilidade
de Proteger torna-se, praticamente, nula, o que nos influencia a cogitar
outros meios pacíficos de solução de conflitos. A hermenêutica diatópica
de Boaventura, deste modo, consiste numa das alternativas – talvez a
mais viável – à solução do conflito sírio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o final da Primeira Guerra Mundial, o território sírio transmu-
dou-se bastante, sobretudo no decorrer das últimas cinco décadas, quando
a França, uma das nações vencedoras do conflito, passou a administrar
o território, respaldada pelo mandatooutorgado pela recém-criada Socie-
dade das Nações.
Para obstar violações aos direitos humanos, a Organização das Na-
ções Unidas, desde o início do conflito, condenou o regime e as ações
repressoras desenvolvidas por Assad. Contudo, apenas em 2012,colocou
em prática a observação e monitoramento do cessar fogo, após o início
da retirada de armas do território civil sírio.Desde então, outras ações
foram tentadas; todavia, nenhuma delas foi suficiente para impedir as
violações aos direitos humanos, oriundas das ações do governo e dos
grupos rebeldes.
Ainda em 2012, a ONU instituiu uma missão de supervisão, cujo
objetivo consistia em(i) retirar as armas pesadas e as tropas de onde a
população está concentrada; (ii) impedir toda violência supervisionada
por integrantes das Nações Unidas; (iii) permitir o acesso à assistência
humanitária; (iv) libertar as pessoas que haviam sido detidas de modo
arbitrário e(v) permitir a livre circulação de jornalistas.
O trabalho incessante dos jornalistas rendeu diversos relatos e denún-
cias cujos textos descreviam torturas, assassinatos e vários outros tipos de
violação aos direitos humanos. As ações de violência advinham dos dois
lados – tanto dos rebeldes, quanto do governo.O número de vítimas fatais
crescia exponencialmente, forçando a ONU a adotar medidas mais drásti-
cas por meio de sanções direcionadas à Síria, sem sucesso, contudo.
Diversos fatores contribuem diretamente ao adiamento da solução do
conflito, dentre eles destaca-se o equilíbrio do poderio militar de ambos
os lados, o apoio externo direcionado tanto a rebeldes quanto ao governo
REFERÊNCIAS
AGUILAR, Sergio L. C.; FURTADO, Gabriela; RODER, Henrique. A guerra civil síria, o
oriente médio e o sistema internacional. Revista Série Conflitos Internacionais. Marília, v. 1,
n. 6., p. 01 – 05, dezembro/2014.
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo.
São Paulo: Companhia das Letras, 1973.
BEÇAK, Rubens. (2016). Estado de Direito, formas de Estado e Constituição. Revista Para-
digma, Ribeirão Preto/SP, a. XX, v. 24,n. 2, p.119-134. Jul./Dez. 2015
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. – 4. ed. rev. e
atual. – São Paulo: Saraiva, 2005.
DUARTE, João Paulo Gusmão Pinheiro. Problematizando a responsabilidade de proteger:
guerra civil na Síria e o novo dispositivo jurídico-militar de segurança internacional. Bole-
tim Meridiano 47, v. 14, n. 137, p. 35 – 40, maio/junho de 2013.
FERREIRA JÚNIOR, Yokanaã. Declaração Pluricultural dos Direitos Humanos. Trabalho
de Conclusão de Curso – Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, 2014.
ISHAY, Micheline R (org.). Direitos Humanos: Uma Antologia. Principais escritos políticos,
ensaios, discursos e documentos desde a Bíblia até o presente. São Paulo: Editora da Univer-
sidade de São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência (NEV), 2006.
ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. [1948].
Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 02 de setembro
de 2019.
RODRIGUES, Thiago. Guerra e política nas relações internacionais. São Paulo: Educ, 2010.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo
multicultural. São Paulo: Difel, 2003.
SWINARSKI, Christophe; CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto. Introdução ao Direi-
to Internacional Humanitário. Brasília: CICV, Instituto Interamericano de Direitos Humanos,
1996.