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AULA 03 - SINOPSE
cas nas quais ainda hoje nos referenciamos não foi uma questão de aca-
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: o que precisamos saber
escritor; por que não podemos usar a História para as reflexões; qual
BONS ESTUDOS!
INTRODUÇÃO
2. LIMITAÇÕES
Antes de prosseguir, quero explicar por que não segui uma ordem
Não fiz isso justamente porque “Os Lusíadas” é a obra que pertence
à tradição literária que é mais acessível a nós, por ter sido escrita em portu-
guês. Assim, os nomes dos personagens são fáceis de pronunciar e não nos
Além disso, Camões é uma grande régua pela qual podemos moldar a
de nossos estudos em geral, conseguimos ler as obras sem ter que parar
cesa e o início mesmo desta. Se preciso parar para pensar quem são esses
do céu. Saber isso depende de uma vida inteira olhando para o céu e con-
mecânica toda.
Nós precisamos saber onde fica o sul da África. Precisamos enxergar o mapa
porque um poema não faz isso. Um poema exige uma cultura maior. De
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Essa cultura dos romanos e dos gregos sempre é um espelho para o qual
precisamos nos voltar para Grécia ou Roma. Essas duas culturas sempre são
uma referência.
mas estas, que são muito mais antigas do que as culturas grega e romana,
chegaram até nós através destas últimas, para quem Egito e Mesopo-
sociedade, olhamos para uma canção dos anos 1980 e a classificamos como
velha. Nós não conseguimos ir além dos anos 1950. O ápice da cultura é a
pessoa que consegue traçar na sua própria mente o que aconteceu com a
música brasileira dos anos 1950 até aqui, como se antes disso não existisse
se tornou possível gravar. O que veio antes, é muito antigo. Também não
iedade de comidas, até mesmo estrangeiras. Então, seu paladar está acos-
tumado e consegue apreciar o que essas opções têm de bom. Por outro
lado, há aqueles que crescem com uma dieta restrita em termos de diver-
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e gostam de ler, mas se restringem a um estilo ou gênero específico. Isso é
como só conseguir ler o que foi escrito de trinta anos para cá. Para essa
vez, é do século XIX. Ele escreve nomes de ruas do Rio de Janeiro que ainda
mento. A Rua do Ouvidor ainda está lá, com o mesmo calçamento, e existem
Imagine agora Homero falando de Troia, uma cidade que foi desc-
foram cidades construídas umas por cima das outras ao longo de séculos,
talvez, milênios. Até hoje, não temos certeza absoluta se Troia estava local-
estava.
Digo isso porque tanto “Ilíada” quanto “Odisseia” foram textos pas-
sados por tradição oral e que foram postos no papel cerca de 800 a.C., até
um pouco depois disso. Foi na época de Péricles, por volta de 500 ou 600
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Há um debate se a moral deve ser ensinada às crianças por seus pais
ou pela escola, mas ninguém duvida que moral e língua são imprescindíveis.
citado para decidir questões no tribunal. Embora não seja um texto sacro,
para esse texto para saber quem somos nós e para ter uma medida. Mesmo
nessa época, já era uma língua morta. Para vocês terem uma noção, era
mais difícil para um grego de 500 a.C. entender Homero do que é para nós
viva.
apresentam verso decassílabos, ou seja, são versos de dez sílabas, como por
estiver na quinta sílaba, por exemplo, o verso fica meio torto. Deve-se acen-
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tuar ou a segunda ou a terceira. A quinta nunca deve ser acentuada. A sexta,
quase sempre.
Tudo isso é arte poética, é tratado de versificação. Essas coisas vão mudando
verso são átonas. Isso pode ou não pode? Camões usava, mas não sempre.
Ele evitava ao máximo fazer isso. Enfim, são questões técnicas da poesia. E
o Carlos Alberto Nunes tem muita técnica, tanto que conseguiu transpor
Em grego e em latim, por outro lado, há sílabas longas e breves. Uma coisa
é quando essas palavras são latinizadas e a cultura cristã afirma que existe
do bem e da maçã.
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Pelo contexto, sabemos se a sílaba é longa e qual das palavras está
ali, porque não há como confundir as palavras “mal” e “maçã”. E é por isso
Idade Média, havia uma etimologia poética. Esta não trata da origem
Por exemplo, a palavra “pão”. Hugo de São Vítor afirma que pão se
chama assim porque em grego pan significa tudo, por isso palavras como
mou-se assim. Em latim, era panis. Na verdade, não tem qualquer relação. A
origem da palavra latina panis e da palavra grega pan não tem ligação, mas
é bem mais bonito contar essa história. Faz todo sentido e há uma questão
mal. Pelo contrário, a maçã sempre foi um dos frutos mais divulgados e
muito consumido. A aparência da maçã, sua cor, tudo tem relação com o
relato de Gênesis, que diz que o fruto era bom, belo e verdadeiro. Tratava-se
maçã, mas é por acaso, porque os romanos não conheciam o Gênesis, não
de utilizar versos datílicos, tal como o texto original, usa versos hexâmetros.
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dedo. Portanto, um verso datílico é composto por uma sílaba longa e duas
sílabas curtas ou por duas longas. É mais ou menos a medida do dedo indi-
cador. Carlos Alberto Nunes faz uma sílaba tônica, duas átonas, uma tônica,
um, dois, três; um, dois, três; e vou batendo o pé. Se é dois, tipo uma marcha,
- um, dois; um, dois - e dentro de cada um desses dois, eu tenho três: Um,
dois, três, um, dois, três. Sempre três, mas dividido em dois. Isso acontece na
4. ILÍADA
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Implora aos Aquivos presentes,
rei de Melinde não só a sua viagem, mas a história inteira de Portugal. Vasco
fosse uma mulher, em que a Itália é um braço. Por fim, chega em Portugal,
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que é a cabeça da Europa. Vasco da Gama faz essa narração e conta, desde
o episódio em que esse velho sacerdote de Apolo vem pedir sua filha de
volta. Como esses homens faziam para se manterem em guerra? Não havia
para juntar comida e itens para poder sobreviver. Esses homens não sabiam
quanto tempo a guerra iria durar e esta não consistia somente em atacar o
arquizado. Agamemnon tinha uma bela escrava, que fora saqueada, a qual
lhe servia de concubina nesse tempo de guerra. Em casa, Agamemnon é
nagens de acordo com a sua época. Isso já é dado pelo próprio texto. No
Abraão tinha mais de uma mulher. Jacó, também. Isso são aspectos que vão
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sendo desenvolvidos aos poucos. Nós chegamos numa conclusão moral a
ição que tem que ser respeitada. Pode ser um homem e uma mulher, ou
própria cultura. Não digo uma reflexão boba como “eu preferia viver nessa
época”. Muita gente diz que queria viver na Idade Média, que queria viver
nos anos 1960 e ir no show dos Beatles. Não, ninguém queria isso. Não é
bom viver no passado. Se nós estamos aqui e fazemos uma reflexão bem
séria, vemos que essa é a época em que temos mesmo que viver. E a litera-
vem pedi-la de volta. Em troca da filha, dentre outras coisas, oferece ouro.
corajoso!”.
desse sacerdote. Todo mundo concordou que ele merecia receber a filha
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sozinho. Os guerreiros esperavam que Agamemnon fosse devolvê-la. No
que a levaria consigo para casa a fim de que lhe servisse para sempre. O
velho sacerdote, de nome Crises, vai embora e faz uma oração a Apolo.
possas vingar dos Aqueus, com teus dardos, o pranto que verto.”
que hoje chamamos de verso branco. Todos os versos são brancos. Carlos
Alberto Nunes, quando põe na boca de Crises essa oração, consegue fazer
Crises pede a Apolo que o vingue, pois já havia feito tudo que estava
ao seu alcance. Primeiro, apesar de ser sacerdote, não havia orado para
Apolo fazer nada por ele. Antes, cumpriu com todos os protocolos. Naquela
época, não era considerado um insulto moral saquear uma cidade por
isso era inerente à guerra. De toda forma, por amor à sua filha, Crises tentou
resolver a questão. Antes, não estava tirando a razão deles. Agora, entende
é sacerdote.
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Crises diz a Apolo que faz muitas oferendas, que construe templos
e que agora precisa da ajuda dele, pois já fez tudo que era humanamente
gregos. Apolo também é o frecheiro infalível. Por nove dias, Apolo lança
de Troia não acabou com uma peste. Então, o que acontece agora? Os
tionam sobre o que está acontecendo. Ele diz a Aquiles, o mais forte de
lhe oferecer proteção, pois o que tem a revelar envolve pessoas poderosas.
Até esse momento, os gregos não sabiam que Apolo estava cum-
Agamemnon não quis devolver Criseida para o pai dela. Ele informa que a
peste dizimará a todos, a menos que Crises faça uma outra oração pedindo
emnon devolva Criseida para o pai dela. Todos os gregos se voltam para
duta dele, mas que, até aquele momento, os efeitos da decisão era restritos
responsável direto pela peste que abatia o acampamento grego. Não adi-
ariam do sacerdote para fazer uma nova oração para Apolo, a fim parar com
a peste.
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Ao perceber que precisaria devolvê-la, Agamemnon sente-se ultra-
jado. Afinal, teria que abrir mão de sua escrava enquanto eles, subalternos,
porque não tinha nada a ver com a história e agora ficaria sem escrava.
4.3. PÁRIS
está Tétis2, a mãe de Aquiles, que no futuro se casará com Vasco da Gama.
Aliás, foi no casamento desta com Peleu3 que surgiu a discórdia. Nessas
histórias, sempre há uma vaticínio ou algo similar, do tipo “isso não pode
ser feito pois terá um fim terrível”. Neste caso, havia uma profecia de que,
quem se casasse com Tétis, essa ninfa do mar, seria superado pelo próprio
filho. Por isso, nenhum dos deuses quis casar com ela. Como nenhum deus
queria ser superado por seu próprio filho, Tétis ficou solteira. Porque vai
viver para sempre, um imortal não quer ser superado pelo próprio filho. Por
outro lado, para um homem, isso não tem problema nenhum. Ao contrário,
empresa e trabalha avidamente. Este homem sonha que seu filho continue
aquilo que começou, que não acabe com tudo, como geralmente acontece.
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casamento que Éris4, a discórdia, que não foi convidada, joga uma maçã
para a mais bela no meio da festa, e três deusas ficam muito indignadas:
até Júpiter para que decida quem é a mais bela. Hera é a esposa oficial de
Júpiter e Afrodite e Atenas são filhas dele, mas não de Hera. Júpiter diz
que não resolverá essa questão, a qual será respondida pelo mais belo dos
mortais, Páris, um homem que vive como pastor no monte Ida, na Ásia, e
nasceu, uma profecia foi feita a respeito dele. De acordo com esta, ele seria
Páris. Páris cresce como pastor, enquanto Troia continua com sua beleza.
Na “Ilíada”, todo mundo fala grego, mas é para ser um povo de cul-
tura diferente. Enquanto os gregos são formados por vários reinos, Troia é
separada. Troia é a cidade mais forte e poderosa da época. Não seria possível
para nenhum rei enfrentar Troia sozinho. Seria ridículo. Todos os gregos
4.4. HELENA
Corta e voltamos para Grécia. Um dia, Zeus viu, entre os gregos, uma
antiga. Zeus se apaixona muito facilmente. Não bastasse isso, ele se trans-
formou em cisne para seduzi-la. Seu ardil funciona e Leda engravida dele,
4 Deusa da Discórdia.
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de gêmeos, Helena e Castor. Ela volta para casa e engravida do marido
mais poderoso dos deuses, Zeus, é a mais bela das mulheres. Sua irmã,
Clitemnestra, que nasceu primeiro, também é muito bela. Por hora, deix-
mais poderoso dos reis. E Helena? Todos os demais reis da Grécia se oferecem
como seus pretendentes. Como não sabem o que fazer, decidem sortear a
mão dela. Mas, para que ninguém tente roubá-la ou algo do gênero, Ulisses
irmã de Helena. Por ter feito a sugestão do pacto, Ulisses conseguiu se dar
bem.
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4.5. UMA PROMESSA
Enquanto isso, Páris está lá, cuidando das ovelhas. Ele, que era para
ser um príncipe, cresce e se torna o mais belo dos homens. Um dia, três
maçã e que Zeus, o mais poderoso dos deuses, incumbiu-o de julgar à quem
tentado pelas deusas. Sobre o primeiro, uma breve explicação. Jesus estava
jejuando quando o demônio apareceu para lhe tentar. Ele diz a Jesus “Está
com fome? Por que não faz pão daquelas pedras?”. Jesus lhe responde que
está jejuando e que irá cumprir seu propósito. O demônio, então, leva Jesus
tudo isso aqui. Todos os reinos do mundo serão teus”. Jesus mais uma vez
recusa sua oferta. O demônio vai além, leva-o para cima de um templo e
diz: “Agora, te atira, porque está escrito que os Anjos te agarrarão e não
deixarão com que tu caias”. Jesus lhe diz que “Não tentarás o Senhor teu
Para ser escolhida por Páris, cada deusa resolve tentá-lo com uma
Atenas e promete que vai lhe dar a maior sabedoria, a maior inteligência.
templo para que os Anjos lhe agarrem, pois está relacionada com esse
poder espiritual. Afrodite lhe oferece o amor da mais bela das mulheres de
todo mundo.
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Qual Páris escolhe? Qual qualquer pessoa escolheria? Páris não
escolhe poder político, nem inteligência, nem sabedoria. Ele escolhe ter o
amor da mulher mais bela de todo o mundo. Afrodite diz que lhe dará um
aviso quando chegar a hora de ele ter a mais bela de todas as mulheres. E
chega em Troia, sua verdadeira casa, Páris é reconhecido por seus pais, que
ficam com pena dele e colocam-no para dentro do palácio. Os pais veem
Páris está no palácio e Afrodite aparece. Ela conta que ele irá fazer
uma viagem para visitar os aliados gregos e que, nessa viagem, recon-
hecerá quem é a mulher mais bela. Neste momento, basta trazê-la para
5. O PODER DA LITERATURA
Neste ponto, há uma questão que moveu toda literatura: Helena foi
curso que farão com que surja a própria filosofia na Grécia. Evidente-
mente, não só por causa dessa história, mas por causa de todas essas
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Em breve, continuaremos a história. No entanto, quero fazer uma
pausa nesta para tratar do principal aspecto da nossa aula que é o seguinte:
possam refletir sobre qualquer coisa. Sem isso, não é possível existir
para convencer os demais do seu ponto de vista, para que suas ideias sejam
partir daí, consigo ter algo com que fazer essa digestão de ideias.
gogo de meia tigela chega no parlamento, diz algo e convence. Pior que
isso, pode ser que este vereador só esteja lá porque antes um deputado o
visitou no interior do país, de terno e gravata, e lhe convidou para ser candi-
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datar. O sujeito vê aquela imagem e pensa “esse cara deve ser bom mesmo,
fada, Esopo e tantas outras obras. A Grécia só foi o que foi, e o Ocidente só é o
que contou a seguinte história: “Crises queria ter sua filha de volta. Para isso,
uma punição vinda dos céus”. Nesta situação, Agamemnon está certo ou
não? Aí, a pessoa para, pensa e percebe que, por um lado, Agamemnon está
certo e que, por outro, está errado. Qual a conclusão à que chego? Qualquer
Não lemos Homero para citá-lo. Eu posso até citá-lo, mas eu leio
Homero para aprender a usar a própria linguagem, sem a qual não é pos-
a linguagem e que isso seja continuado em uma tradição. Se toda vez nós
e essas pessoas querendo que eu leia Homero. Esses homens tinham que
buscar água na fonte. Não tinham nem água encanada e acham que eles
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Sim, eles vão. Essa pessoa não sabe de nada. Água encanada não te
ajuda em nada. O fato de ter água encanada não faz com que a pessoa
de que estas são as melhores. Sem essa tradição literária, não há debate,
que tenhamos uma boa impressão a respeito dele. Poderia ser diferente.
dicionário de política e ver a definição que nele consta, mas isso não basta.
É preciso ter uma narrativa inteira por trás, assim como, para o amor, pre-
cisa ter a história dos cupidos jogando flechas. Se o trabalhismo não tiver
uma narrativa inteira, não sabemos o que é. Se a democracia não tiver uma
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“como assim cristão? Como assim trabalhista?”. Se alguém dissesse “Eu sou
pró-Agamemnon e é por isso que eu acho que nós devemos devolver Cri-
seida”, você pode dizer “Mas o Agamemnon não queria devolver Criseida.
coisa em troca desse esforço que você está fazendo”. Por quê? Porque todo
Agora, quando o sujeito vem dizer qualquer outra coisa, como, por
exemplo, que é democrata, nós aceitamos. Nós não temos uma narrativa
Nós estamos muito aquém disso. Nós não temos noção real do que as
toda essa parte do casamento de Peleu e Tétis. Isso não estava em Homero.
que estou contando para vocês, na verdade, é a minha versão. Eu acho que
faz mais sentido e é a mais interessante. Por que isso acontece? Porque
Homero só deixa quicando. Ele fala de um episódio x, mas não conta como
foi. Com isso, um outro sujeito cria uma peça de teatro só sobre aquele verso
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que Homero deixou quicando, mas não explicou como era.
Ulisses, Agamemnon, Édipo. Édipo é uma história muito mais antiga do que
essas e se passa num tempo mais remoto do que esse. Os deuses também
Por cerca de 1500 anos, a literatura falava sempre das mesmas coisas,
mentiroso. Embora tenha alcançado seus objetivos e grandes feitos, fez isso
caso. Eu até acho interessante, pois se cria uma empresa com nome, orça-
menos isso. De qualquer forma, é uma atividade muito feia e sem graça.
É algo muito hipotético. Não é algo bem escrito e com forma. Pergunte a
ponto de pensar “Eu vou fazer como era lá na faculdade”. Você não faz isso,
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você esquece. Esses exercícios são bons porque a pessoa internaliza todo o
mecanismo.
pode objetar que essa história de Ulisses é mentira, não aconteceu. Mas e
Platão pensa que Ulisses criou o cavalo de Troia. Isso é uma grande
trapaça, mas fez com que os gregos realmente vencessem a guerra. Por
outro lado, eles disseram que era um presente para Minerva e que o tinham
mentiram que aquele presente era para Atenas, ou Minerva, para que
abençoasse a sua volta para casa. Os troianos, por sua vez, pensaram: “Então
foi isso, os gregos não querem que levemos a homenagem para dentro de
Troia? Não tem problema, vamos quebrar o muro, alargar a entrada e levá-la
assim mesmo, para verem que nós realmente somos os vencedores dessa
guerra. Vamos retirar daí a oferenda que deram à Minerva e pegá-la para
nós, como troféu da nossa vitória”. Essa história de oferenda é uma mentira,
mas podemos pensar que há situações e situações. Disso surge toda uma
análise da moralidade.
matado o Hitler no início da guerra, não seria melhor? No entanto, ele ainda
seria melhor matar o Hitler quando ainda era criança, porque assim nada
disso teria acontecido? Mas é preciso ponderar que, embora isso pudesse
formados pela literatura, não há outro jeito. Podemos pegar uma história
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Hitler para tratar da questão se os fins justificam os meios, ou seja lá qual
versões e enfoques, e é normal que seja assim, mas, por isso, a História
há dúvidas, é Homero, e todos nós lemos, todos nós concordamos com ele.
E agora vamos debater. A história está lá, escrita. A pessoa pode dizer
argumentar que, na obra, “Não está dizendo que Helena estava vestida
objetamos que: “Isso aí não está escrito. De onde advém essa dedução?
escolas cristãs, primeiro debatia-se literatura pagão, para não ter risco de
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6. ILÍADA
“Odisseia”.
somente porque tinham feito o pacto. Aquiles, por exemplo, não estava
precisava fazer algo com sua vida. Aquiles era invulnerável, mas era mortal.
banho no sangue de dragão. Acontece que, enquanto faz isso, uma folha
cai em suas coisas e ele fica vulnerável. Siegfried é morto com uma lança
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referirmos a algo grande. Estamos o tempo todo fazendo isso, essa é a nossa
cultura. Um chinês e um japonês não usam essas palavras. Eles não falam
e não leem isso. Ao menos não liam há vinte anos, quando começaram a se
interessar mais por cultura ocidental. Mas a nossa cultura é assim. A gente
sequer fazia parte do pacto, mas pensou que a guerra era uma oportuni-
dade para realizar feitos memoráveis que o tornassem imortal. E o jeito que
acontecem muitas viagens às terras dos mortos e estes dizem que não
pessoas. Os gregos tinham consciência de que a alma era imortal, pois não
há como uma coisa perecer junto com a carne. Eles sabiam que existia
um aspecto deles que não tinha relação com a carne. Então, tem que ser
Os animais não têm isso. Os animais não têm nem memória, nem
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6.2. OS PAIS FUNDADORES
por hospedes. Este é tanto aquele que recebe quanto o que é recebido. Os
virtude. Viajar era algo que ninguém fazia, porque era muito perigoso. Não
longo do percurso, ele bate em várias portas tentando ser recebido. Por uns,
sob certos aspectos, é bem recebido, por outros, não. “Eneida” é a mesma
coisa. Depois que Troia cai, Eneias consegue fugir para continuar com a
cultura. Ele leva consigo tudo aquilo para fundar uma outra cidade e Troia
nunca morrer. O espírito de Troia, que é essa cidade, vai ser Roma. Isso não
que os romanos contam para ligá-los à Guerra de Troia, que é o mito fun-
Páris causa toda a Guerra de Troia não por ter roubado Helena, a
povo antigo e mesmo moderno. Qual é a arte mais bela? Quais são as mel-
uma ninfa, uma deusa, uma musa ou um deus grego. Estão vendo quantos
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exemplos? Ficamos o tempo todo falando de Homero no nosso dia a dia.
da cultura.
tionam sobre quem é, para mim, o pai fundador do Brasil. A história pode
nos dar diferentes personagens, mas, para mim, o pai fundador é Homero.
Homero é o homem sem o qual não tem, não só Brasil, mas não tem
Ocidente, não tem nada. Do lado de Homero, está Moisés, que escreveu
contato entre si, mas influenciaram, porque, quando não são homéricas,
travessia do mar vermelho. Isso é muito presente para nós, é uma imagem
presente para todos nós. Essa é uma história que todo mundo ouviu e que faz
e como tudo aconteceu exatamente, mas você sabe que um homem abriu
6.3. A XENIA
passando pela cidade. Ele foi recebido por Menelau na casa deste e não
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Quando Menelau descobre que sua esposa havia sido levada, vai até
participado do pacto do sorteio, para que marchem para Troia. Eles con-
vocam todo mundo. Nessa época, o filho de Ulisses a recém tinha nascido.
Então, ele mais uma vez usa sua inteligência e se finge de louco para não
ser forçado a lutar. Ele começa a semear sal no campo porque não queria
momento, ele trava e admite que não está louco, que só estava tentando
escapar da guerra. Ulisses sempre tem uma ideia para fazer o que quer, não
o que os outros querem. E o pior é que tudo acaba sendo do jeito dele. No
Com isso, vemos que a xenia, que está muito presente em “Odisseia”,
a mais alta lei existente, uma lei natural, da qual todos se viam necessitados.
toda sociedade. O homem que viola isso não quer viver em sociedade, pois
assim: se um homem bater à sua porta pedindo pouso, você lhe concede.
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Somente duas ou três pessoas leram a obra. Como os demais não leram,
7. ODISSEIA
ele volta para casa. Nessa época, Aquiles já havia sido morto por Páris. O
restante da história, vou deixar que vocês leiam. Odisseu está em sua jor-
nada de volta para casa e, para chegar, precisa passar por aquelas ilhas do
Mar Egeu. Troia ficava na Ásia, no que hoje é a Turquia. Entre esta e a Grécia,
existem muitas ilhas. Odisseu precisa ir de uma para outra até chegar em
costear tudo aquilo e ir parando nas ilhas. “Odisseia” narra justamente essas
tantes só viviam comendo folha de lótus, não trabalhavam nem nada. Essa
era a vida. Ali, Odisseu já perdeu alguns companheiros, que logo se vici-
aram também. Ele decide ir embora rapidamente, antes que todos acabem
viciados.
são pastores que não tem arte, não tem literatura e que não adoram os
deuses, por mais que sejam filhos de Poseidon. Poseidon é o deus Netuno.
templos, não fazem nada. Eles vivem em buracos no chão, são homens prim-
itivos. Vejam que, mesmo na Grécia, já havia essa ideia de que os homens
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primitivos vivem em cavernas. Os ciclopes vivem nessas cavernas com suas
só.
do trabalho, chega Polifemo com seu rebanho. Ele rola uma pedra enorme
Muito bem, Polifemo devora aqueles homens e, ao ver que todos serão
mortos, Ulisses tem uma ideia. Depois de comer aqueles homens, Polifemo
pergunta: “Quem são vocês?”. Ulisses explica que eles estão voltando da
Guerra de Troia para casa e que só foram ali pedir abrigo. Ele pede que Poli-
civilizado. Ele não tem arte, não tem inteligência, não tem nem linguagem
direito. O negócio dele é violência. Polifemo diz que não vai respeitar nada.
Ulisses diz que, mesmo assim, trouxe-lhe um presente, porque quem visita
Polifemo não conhecia aquilo. Ele toma e gosta. Vira-se para Ulisses e diz:
“Eu gostei de ti. Você será o último que vou devorar, o último a morrer. Qual
é o seu nome?”
De acordo com a lei da xenia, essa também é uma pergunta que não
se faz, porque se deve fazer o bem sem olhar a quem. Essa é a lei da xenia
antiga.
ciclope lhe devolve: “Prazer ninguém, eu gostei de ti, você será o último a
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Polifemo bebe todo o barril de vinho e, bêbado, dorme. Ulisses e seus
homens querem ir embora, mas sabem que, sozinhos, não são capazes de
mover a pedra que está trancando a saída. Ulisses, sempre muito inteli-
gente, faz uma lança enorme, aquece-a na brasa para ficar com a ponta
A lança em brasa, fervendo, faz com que saía sangue dos olhos de
Polifemo e ele começa a gritar “Meu olho, meu olho, irmãos, ajudem-me
irmãos, ajudem-me irmãos, eu estou cego. Meu olho, irmãos, socorro, por
erna e perguntam o que está acontecendo. Polifemo explica que está cego
femo fala mais uma vez: “Ninguém me feriu. Estou cego e ninguém me
feriu”. Diante disso, os ciclopes resolvem não ajudá-lo porque, para eles, se
Polifemo está cego e ninguém o feriu, com certeza foram os deuses. Eles
resolvem que não vão ajudá-lo porque estariam indo contra a ideia dos
Quando isso acontecia com os homens, por outro lado, eles regiam
assim: “Ah, os deuses fizeram isso? Então agora vão ver, vamos fazer outra
coisa aqui” ou “Ah, o deus fez isso? Então vou fazer oferenda para o outro”.
na caverna. Polifemo, cego, sabe que há pessoas na caverna e que foi ferido
por ninguém. No outro dia, ele precisa abrir a porta para que as ovelhas
Polifemo está cego, cuidando das suas ovelhas. São e salvo, Ulisses
grita-lhe do barco: “Polifemo, não foi ninguém que te feriu, sou eu, Ulisses,
rei de Ítaca”. Ulisses lhe dá nome, cpf, cep, todas informações, afinal, pre-
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Polifemo se volta para Poseidon: “Pai, Poseidon, acabe com ele. Não deixe
que volte para casa ou, se conseguir voltar, que todos os seus dias sejam tão
terríveis quanto os meus serão a partir de agora que estou cego”. E é isso
que Poseidon vai fazer. Poseidon vai infernizar a vida de Ulisses. Ulisses vai
a mão de sua esposa. Todos diziam a ela que Ulisses já havia morrido, que
estava demorando muito para voltar e que todos os outros heróis de Troia já
haviam chegado. Quem eram esses pretendentes que estavam ali depau-
perando todo o reino? Eram aquelas pessoas criadas sem pai, pois todos os
homens haviam ido para guerra. Estes ficaram velhos e as crianças. Depois
calma. Ela lhes dizia: “Eu vou escolher um de vocês, assim que terminar de
tecer essa tapeçaria com o barco de Odisseu para os funerais em honra dele,
enquanto estou vivendo o luto”. Ela acreditava que Odisseu ainda estava
quais tinham sido criados sem exemplos masculinos. Odisseu volta soz-
chega lá pobre, sem nada. Odisseu mata um por um. Apesar de todos esses
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acontece. Até a metade da história, estamos com raiva do Ciclope e torcendo
agem do mal, como vemos nos filmes de Batman. Às vezes, damos razão
casa com a própria mãe. Ficamos chocados, mas, ao mesmo tempo, argu-
mentamos que ele não estava ciente de várias coisas. Ficamos nessas.
burros do jeito que são, sem ajudá-lo. E o próprio Polifemo, burro também,
não explica que está falando de um sujeito chamado ninguém. Nós ficamos
com pena dele por ter essa inteligência inferior, assim como temos pena de
um animal que está sofrendo. Nós não queremos ver os bichos sofrerem.
Por mais que seja a natureza e que os seres vivos morram e sofram antes da
É o que sentimos quando vemos o ciclope, por mais que tenha certa
racionalidade. Não existe meio termo, não existe elo perdido entre o homem
dos animais, existe uma hierarquia absolutamente certa. Não há elo per-
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dido como há no darwinismo. Ficamos com pena do ciclope nessa situação.
Quando está falando com Poseidon, que estava quieto em casa e aqueles
homens vieram importuná-lo, você chega a pensar que ele comeu vivos os
tamente mau. Por mais que o personagem do bem faça algo que não dê
certo, ele sempre tem a reta intenção. Nenhum personagem da grande lit-
Zeus fica com a mulher dos outros, faz horrores. Os deuses são vingativos,
são bem humanizados. Não existe um deus bom e um deus ruim. Todos os
Às vezes, você está do lado de um deus, faz uma oferenda para ele,
mas, como não te atende no seu pedido, não te escuta, você resolve fazer
para outro. E assim vai. A religião animista é muito assim. E não existe um
Zeus não é onipotente, não pode fazer tudo. Em muitas ocasiões, Zeus diz
que algo está escrito no destino e que, o que está escrito, não pode mais
posso fazer teologia. “Olha só, aqui não é racional”. Claro que não, isso é
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é algo, é nada, só é duas palavras ditas juntas, mas elas não têm nenhuma
referência na realidade. “Ele pode fazer uma pedra que ele mesmo não possa
carregar?” Não. “Então ele não é onipotente”. Ele não pode fazer isso porque
isso não é uma coisa, é impossível a existência de uma pedra que Deus não
não tem esse fim e essa capacidade. Agora, tem essa força enorme de nos
e, depois, pensaremos “Po, daí não, para que furar o olho? O olho não”. Fica
PERGUNTAS
bem e mal?
mas não conseguimos ver isso nos clássicos, mesmo nos mais modernos. Se
bert, não conseguimos dizer: “Meu deus, que mulherzinha tinhosa”. Não,
pensamos “Meu Deus, imagina ter que conviver com alguém assim”. Em
outro, “Mas também, ela tem os seus motivos. Olha só, isso que ela fez foi
legal. Na situação dela, eu não faria. Eu que me acho tão bom e ela, a quem
eu acho tão má, fez uma coisa dessas”. No Dostoiévski, vemos aqueles rev-
de usar esse exemplo porque todo mundo conhece, é algo que já está no
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imaginário de todo mundo. No filme “A Queda”, tem uma cena em que
ele se abaixa e vai fazer carinho em um cachorro. Teve muita gente que
disse: “Eu duvido que ele fosse querido com os animais”. Não quer dizer que
Hitler era bom por causa disso. Temos que generalizar. Só que não existe
que quando um cara é mau, ele é mau em tudo. Mesmo os seus aliados,
ele trata mal, com desprezo. Eu não ainda não assiste ao último filme do
Coringa, mas dizem que foi bem feito porque o personagem é violento ao
extremo, mas, ao mesmo tempo, você tem pena dele. E a literatura tem
tuição de personagens 100% ruins e 100% bons é muito útil como uma
forma de orientação. Como devo agir. Vou agir como o herói. Como não
devo agir? Não devo agir como a personalidade ruim na história agiu.
Branca de Neve não está ali, não está incomodando-a, ninguém sabe da
existência dela, mas a bruxa quer matá-la porque é mais bela. Esse é um
problema muito sério. Nesses casos, não conseguimos ver nada de bom no
personagem, porque o autor não aborda mais da vida da bruxa, ele desfoca
e, sempre que se referir à madrasta, será falando mal. Ali realmente há isso.
No entanto, isso faz com que essa literatura seja mais simples e não seja a
porque ali o que acontece é justamente isso. Todos os arquétipos estão pre-
muito dual e muito específico, sendo que, o tema do “Senhor dos Anéis” é
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o mesmo que dos “As Crônicas de Nárnia”. “Senhor dos Anéis” também fala
graça. A graça divina. Ele está falando a mesma coisa, mas quem é Deus
no “Senhor dos Anéis”? Nem tem Deus no “Senhor dos Anéis”, ao mesmo
privação do bem, é decadência, não é algo “aqui é mal e sempre foi mal”. O
amigo do sábio Gandalf, Saruman, não foi mal desde sempre. Saruman foi
Ele não surge do nada. “As Crônicas de Nárnia” é uma obra muito boa, mas
é uma literatura inferior, porque nós temos que ficar com pena dos orcs.
Assim como no Harry Potter ficamos com pena daquela cena em que Harry
Mas quando o porrete dele cai na sua própria cabeça e ele desmaia e fica
afeto mais movido, mas ele existe. Se tu não tiveres, se tu pensas “Tem que
Tem uma hierarquia nos afetos, nos valores, na justiça. Ali até que fui
justo, mas não chega a dar uma pena. Imagina se ela tivesse escrito “eles
aos poucos para que aprendesse a não fazer mais isso de assustar as pes-
soas”. Não, pera um pouco. A tortura é uma coisa que nos choca justamente
por isso. Certos métodos. É sempre nessa hierarquia de valores morais e dos
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