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Introdução ..................................................................................................................................... 3
Fontes do Direito das Obrigações ............................................................................................... 3
Sistematização Legal em 2 títulos ............................................................................................... 5
Direito Comparado das Obrigações ............................................................................................ 5
Princípios Gerais dos Direitos Obrigações................................................................................... 6
Conceito de Obrigação ................................................................................................................. 10
Distingue-se de outras situações ............................................................................................. 10
O Direito de Crédito................................................................................................................. 10
Características e Elementos das Obrigações ........................................................................... 11
Requisitos sobre o devido na prestação .................................................................................. 13
Modalidades ............................................................................................................................ 14
Fontes das Obrigações ............................................................................................................. 18
CONTRATOS ................................................................................................................................. 20
Noção, fontes normativas e fundamentos da sua eficácia ...................................................... 20
Modalidades dos Contratos: .................................................................................................... 21
Culpa na formação dos contratos (culpa in contrahendo) ...................................................... 23
Contratos de Adesão ............................................................................................................... 25
Contratos Preliminares ............................................................................................................ 28
CONTRATO-PROMESSA ........................................................................................................ 28
PACTO DE PREFERÊNCIA....................................................................................................... 32
Pacto de Opção .................................................................................................................... 34
Contratos a Favor de Terceiro ................................................................................................. 34
1. Contratos a Favor de Terceiro stricto sensu ..................................................................... 34
2. Contrato em Favor de Pessoa a Nomear .......................................................................... 36
3. Contrato com Eficácia de Proteção de Terceiros .............................................................. 36
RESPONSABILIDADE CIVIL............................................................................................................. 37
1. Facto Voluntário .................................................................................................................. 38
2. Ilicitude do facto .................................................................................................................. 39
3. Culpa .................................................................................................................................... 40
4. Dano .................................................................................................................................... 42
5. Nexo de Causalidade ........................................................................................................... 43
Responsabilidade Civil Objetiva/pelo Risco............................................................................... 44
Responsabilidade do Comitente – art. 500º ........................................................................ 44
Responsabilidade do Estado e outras pessoas coletivas públicas – art. 501º...................... 45
Responsabilidade por Danos causados por Animais – art. 502º .......................................... 45
Responsabilidade por Acidentes causados por Veículos – art. 503º ................................... 45
Responsabilidade por danos na condução de instalação de energia ou gás– art. 509º ...... 47
Responsabilidade do Produtor ............................................................................................ 47
Responsabilidade pelo Sacrifício/Factos Lícitos ........................................................................ 48
Obrigação de Indemnizar ......................................................................................................... 48
Concurso de Matéria Contratual e Extracontratual .................................................................. 50
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Introdução
Direito das Obrigações assumiu-se como um eco jurídico do sistema de ordenação, produção e distribuição
dos bens na sociedade económica de mercado
1
Lima Pinheiro: Ramo do Direito é um subsistema normativo formado por normas, princípios e nexos
intrassistemáticos sendo delimitado e ordenado.
2
Direito Civil = direito privado comum; regula as relações entre as pessoas ou das pessoas com outras
entidades, mas estas sem poder de autoridade
3
Conceito milenar com origem no Direito Romano, surgindo nas Institutiones de Justiniano como: vínculo
jurídico pela força do qual estamos obrigados a pagar algo a outrem de acordo com as leis da cidade
• Romanos eram mais restritos; CC é mais amplo e rigoroso
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
• Princípios Jurídicos – não estão nas normas, mas inferem-se delas e tornam-se muito
importantes no entendimento das normas legais e no preenchimento de lacunas5. Para
resolver um caso não se subsume uma norma apenas.
2. Fontes Internacionais
• Convenções internacionais – que o Estado Português ratifica – ex: contratos,
responsabilidade civil, convenção de Montreal (1999) sobre transportes, compra e
venda de mercadorias (ONU, 1980)
3. Fontes Europeias
• Diretivas – ato jurídico da UE que não é diretamente aplicável e tem de ser adaptado e
integrado na ordem jurídica interna portuguesa por Lei ou Decreto-Lei; fazem surgir as
leis avulsas
o Tribunal aplica a fonte mais próxima (interna) mas a diretiva tem papel
importante na interpretação da transposição
4
Nosso código do consumo não está codificado sendo um exemplo negativo desta descodificação
5
Art. 9º + 10º (em que o espírito do sistema são os princípios); princípios como a boa fé, autonomia
privada e etc.
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
A comparação jurídica vai evidenciar uma enorme diferença em figuras-chave do Direito dos
Obrigações.
1. Contrato
Romano-Germânica:
a) É necessário acordo de vontades, troca de consentimentos (mútuo consentimento)
tendo um objeto (à luz do art. 280º) – é todo o negócio bilateral: muito vasto e com
matérias de várias naturezas
b) Não gera apenas obrigações, há também deveres jurídicos acessórios de conduta – o
conteúdo obrigacional é mais vasto
c) Exige-se uma certa equivalência das prestações para que o contrato vincule – nível de
justiça comutativa, ex: proibição do negócio usurário, alteração de circunstâncias
Common Law:
a) Realidade com alcance mais restrito e de visão utilitarista – não basta só o acordo de
vontades, tem que haver a consideração (contrapartida negociada da prestação a que
uma pessoa se vincula): não há contratos gratuitos
b) Não aceitam a boa fé como princípio geral das Obrigações pelo que não há deveres
acessórios; sujeição apenas à obrigação e ao estipulado
c) Os contratos são “sacro-santos” e nada pode fazer rever os contratos originais
(influência do liberalismo)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
2. Responsabilidade Civil
França: muito ampla – qualquer dano causado por falta deve ser indemnizado (1804). Uma
aplicação sem limitações seria catastrófica, ex: concorrência, desvio de clientela causa falta, mas
não pode gerar responsabilidade civil
Common Law: princípio da tipicidade – só os “torts” ilícitos é que dão origem a responsabilidade
civil; estão elencados nos precedentes dos tribunais. Hipóteses restritas da jurisprudência.
Alemanha: não tem uma cláusula geral mas também não tem tipicidade – há 3 cláusulas com os
bens jurídicos indemnizáveis ao serem afetados por atos danosos.
Portugal: art. 483º - cláusula geral mas que indica os caracteres da ilicitude para que seja
indemnizável.
“direito de outrem” – direitos absolutos de tutela erga omnes
“normas de proteção de interesses” – normas de concorrência desleal
+ casos de exercício abusivo do direito (art. 334º)
3. Responsabilidade Pré-Contratual
Portugal: art. 227º
Common Law: não aceitam a boa fé; a Câmara dos Lordes julgou o caso Walford vs. Miles em
que diz que não responsabilidade pré-contratual
1. Autonomia Privada
Instituto Jurídico6 que é uma faculdade dos particulares, dentro dos limites da lei e limitado
pelos outros princípios.
• Espaço de liberdade reconhecido a cada pessoa para agir como entende –
"Permissão genérica de atuação jurígena". Possibilidade de alguém estabelecer os
efeitos jurídicos que se irão repercutir na sua esfera jurídica.
o Permite encontros de vontade
o Manifestações ao nível da decisão – “fazemos a nossa própria lei”
• Num sentido estrito, a autonomia privada é a área na qual as pessoas podem
desenvolver as atividades jurídicas que entenderem. Na ocorrência de factos
voluntários – originários da vontade7. É limitada pela lei, ordem pública, moral e bons
costumes.
o Liberdade de Celebração: permite fazer determinados atos – liberdade de
dizer sim ou não a atos jurídicos.
o Liberdade de Estipulação: permite estabelecer os efeitos desse acordo – que
cláusulas é que fazem o contrato ser realizado com o conteúdo que
queremos.
6
Instrumento técnico-jurídico que sintetiza um conjunto de normas de caráter juscultural e
compreensivo, fornecendo quadros gerais para orientação geral
7
Contemplação do princípio constitucional do art. 26º/1 do livre desenvolvimento da personalidade (que
projeta a dignidade da pessoa humana)
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4. Boa fé
No vínculo obrigacional há regras de comportamento que, adequadamente respeitada,
proporcionarão a satisfação do direito de crédito mediante prestação do devedor, sem que
resultem danos para as partes.
Abrange toda a vida da obrigação e postula uma conduta leal, honesta e atenta à outra parte
– donde decorrem deveres acessórios de conduta.
Conceito indeterminado mas que sustenta as decisões e as normas – cerne de vários regimes
jurídicos em que a resolução das questões é com um sentido de ética e de regras de atuação.
• Objetiva: Apela a uma regra exterior e que as pessoas devem observar – modos de
atuação (conforme os valores dominantes da ordem jurídica). Quando diz como se tem
que comportar. Tem várias projeções (responsabilidade pré-contratual, art. 227º; integração
de negócios, art. 239º; abuso do direito, art. 334º; alteração de circunstâncias, art. 437º;
complexidade das obrigações, art. 762º/2)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 483º - cláusula geral mas que indica os caracteres da ilicitude para que seja indemnizável.
• Nem todo o dano é indemnizável (não vigora o que se extrai do “memirem laedere”), só
quando a lei o manda (“causum sentit dominus”)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Conceito de Obrigação
Essencialmente há um direito de uma das partes a que a outra lhe preste algo – é sempre em
relação
➢ Alguém pode exigir e alguém tem que prestar
➢ Há direito de crédito e outro tem dever de débito
➢ Direitos de crédito são direitos a uma prestação
OBRIGAÇÃO – art. 397º – vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para
com a outra à realização de uma prestação8
➢ Doutrina alemã desenvolveu o conceito e tornou-o mais amplo: a relação obrigacional
é complexa e não tem só obrigações stricto sensu – em que alguém tem o direito de
crédito e outro o dever de prestar algo; há uma série de deveres jurídicos acessórios
que têm de acompanhar e integrar a relação (ex: boa fé)
≠ Ónus: “dever” que proporciona vantagens, mas cujo cumprimento não pode ser exigido
(situação jurídica que quando o “dever” é violado não é ilícito)
➢ Situações absolutas – não estão numa relação jurídica.
➢ Para se ter uma vantagem tem que se sujeitar a uma desvantagem
➢ Ónus jurídicos – não há um dever (se houvesse, como nas obrigações, ao não ser
cumprido agir-se-ia ilicitamente e poderia haver sanções) mas ao se desincumbir de
cumprir, não há sanções, mas não há vantagens – assenta numa permissão. Ex: ónus da
prova, não é um dever provarem-se os factos, mas ao fazê-lo ganha-se o caso.
o Menezes Cordeiro: é um regime particular que se distingue dos deveres e das
obrigações e é reservado para o direito processual
≠ Estado de Sujeição: alguém pode ver a sua esfera jurídica alterada unilateralmente por outra
pessoa (sujeito ao direito potestativo de outrem – Lado passivo dos direitos potestativos).
➢ Não tem dever jurídico e não tem que fazer em prol da outra, apenas tem que se sujeitar
aos efeitos imediatos do direito potestativo alheio
O Direito de Crédito
Engloba:
➢ A prestação (conduta do devedor)
➢ O património (bens do devedor
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David Festas: Prestação é comportamento devido pelo devedor
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Debate e querela entre as teorias personalistas (crédito como direito sobre a pessoa do devedor;
crédito como direito à prestação do devedor) vs. teorias realistas (crédito como direito sobre os
bens do devedor; crédito como relação de patrimónios; crédito como direito à transmissão dos
bens do devedor; crédito como expetativa da prestação, acrescida dum direito real de garantia
sobre o património do devedor) vs. teorias mistas vs. teorias da complexidade do vínculo
obrigacional
➢ Menezes Leitão: obrigação não é direito incidente sobre os bens do devedor, é antes um
vínculo pessoal entre dois sujeitos, através do qual um deles pode exigir que o outro
adote determinado comportamento em seu benefício. Há o direito subjetivo à
prestação (pois o devedor estava vinculado ao seu cumprimento) - o Estado só intervém
pelo património do devedor para satisfazer o direito de crédito.
Distinguem-se dos:
• Direitos Reais – sobre coisas, absolutos (oponibilidade erga omnes - o direito real persegue a
coisa onde quer que ela se encontre e pode sempre ser exercido), imediatos, plenamente
hierarquizáveis, inerentes a uma coisa, dotados de sequela e hierarquizáveis entre si, na medida
que a constituição de um direito implica a perda de legitimidade para posteriormente constituir
outro.
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A autonomia deste tamo de direito não é uma característica pois é natural que surjam situações estruturalmente
obrigacionais noutros ramos do Direito, mas que não perdem a sua natureza de obrigações por lá estarem inseridas
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
2. Objeto
• Imediato – conteúdo da obrigação (direitos e deveres; crédito e débito)
o Não se cinge apenas aos deveres de prestação e engloba os outros
deveres da relação obrigacional mais complexa
➢ Dever de efetuar a prestação principal (elemento determinante
que lhes atribui individualidade própria) + deveres secundário
(com o fim de complementar a prestação principal, sujeitos a
ação de cumprimento. Ex: entrega de documentos relativos à
coisa, art. 882º/2) + deveres acessórios (através da boa fé,
permite que a execução corresponda à plena satisfação de
interesses)10
➢ Também pode acarretar sujeições, poderes ou faculdades (art.
777º/1, 813º, 539º, 543º) e exceções (art. 303º, 428º, 754º)
10
A violação da prestação principal leva à resolução do contrato e a violação da prestação acessória pode
levar a responsabilidade pelos danos causados (mas uma violação sistemática pode levar a perda de
confiança pelo que se pode resolver o contrato). Incumprimento – art. 1817º - pede-se ao tribunal que
obrigue a cumprir: título executivo que pode ser específico ou geral (por exemplo para o contrato-
promessa)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
o Art. 772º exige que na execução as partes ajam de acordo com a boa fé
– só assim se cumpre o contrato – boa fé diz como a prestação deve ser
efetuada.
• Mediato – a prestação em si
o Art. 398º: A prestação fixa-se pela autonomia privada
4. Garantia – para que haja obrigação civil tem que estar dotada de garantia
• Geral: credor em caso de incumprimento pode atacar património do devedor –
garantia que existe por força da lei (ex: penhora)
• Especiais: existe por vontade das partes
o Pessoais: alguém assume cumprir a obrigação por outro e para tal afeta
o seu património (ex: fiança)
o Reais: há certos bens que são dados como garantia para que se o
devedor não cumprir, o credor satisfaça a prestação (ex: hipoteca)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Modalidades
Em função do TIPO DE PRESTAÇÃO:
1. Prestações de Coisas – objeto é a entrega de uma coisa. Sendo possível distinguir
entre a prestação do devedor e a coisa a prestar, o direito de crédito só incide sobre a
prestação do devedor (não tem direito sobre a coisa, isso só nos Direitos Reais, mas o
direito a uma prestação que consiste na entrega de uma coisa)
• Divide-se em: de dare, praestare ou restituere
• Prestação principal + Prestação secundária (complementa a prestação principal)
Ex: contrato para criar um site (prestação principal), fornece ao empregado um
computador (prestação secundária).
2. Prestações de Factos – objeto é a realização de uma conduta (o seu interesse não
corresponde a nenhuma realidade independente dessa prestação). Pode ser uma
prestação de facto material ou de facto jurídico.
• Divide-se em: de facere, non facere ou de pati
• Pode ser de facto positivo (obrigação de fazer), de facto negativo (obrigação de
não fazer) ou de suportação
3. Prestação Fungível – prestação que pode ser realizada por outrem que não o devedor,
que se pode fazer substituir no cumprimento (art. 767º/1).
• Regra geral que pode admitir execução específica (art. 827º, 828º, 829º, 830º)
4. Prestação Infungível – só o devedor pode realizar a prestação (art. 767º/2 -
infungibilidade natural ou infungibilidade convencional).
• Pode admitir sanção pecuniária compulsória mas pode acarretar a extinção (art.
791º)
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Meios de defesa: compensação e direito de regresso. Podem ser meios de defesa comum (qualquer
condevedor pode invocar – ex: obrigação nula) ou meios de devesa pessoal (apenas 1 pode invocar de
forma interna e externa podendo até prejudicar outros). A prescrição só vale face ao credor e não afeta
os condevedores.
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
5. Obrigações Plurais Indivisíveis Conjuntas – art. 535º – prestação tem que ser
exigida de todos os devedores simultaneamente. Se se extinguir obrigação a um dos
devedores, a parte desse devedor onerado será redistribuída pelos restantes devedores
(art. 536º)
Em relação ao OBJETO
1. Obrigações Naturais – art. 402º e ss. – característica da não exigência judicial da
prestação12, resumindo a tutela jurídica à possibilidade do credor conservar a prestação
espontaneamente realizada (soluti retentio). Exclui-se a repetição do indevido (são
exceção ao art. 476º)
• Situações de obrigações proscritas (art. 304º/2)
• Jogo e aposta (art. 1245º)
• Pagamento ao filho de uma compensação por obter bens para os pais (art.
1895º/2)
i. Guilherme Moreira: defende como relações de facto
ii. Galvão Telles + Antunes Varela: constitui um dever oriundo de outras
ordens normativas, cujo cumprimento a lei atribuiria efeitos jurídicos
iii. Manuel de Andrade + Almeida e Costa + Vaz Serra + Menezes Cordeiro:
obrigações jurídicas imperfeitas, sendo o regime diferente dos outros
porque não permite a execução
iv. Menezes Leitão: não constitui verdadeira obrigação jurídica na medida
que não há vínculo jurídico. É a lei que recusa o credor natural a tutela
jurídica desse direito ao negar-lhe a faculdade de exigir judicialmente o
cumprimento. Não existe um direito primário à prestação, como direito
de crédito. O cumprimento da obrigação natural é juridicamente não
devido. A lei limita-se a reconhecer causa jurídica à prestação realizada
espontaneamente, tutelando a aquisição pelo credor.
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Cumprimento é um dever ético e de justiça não sendo assistidas pela garantia geral e em juízo não se
pode exigir a realização coativa – à partida sujeitas ao mesmo regime que as outras e se cumprir
espontaneamente tem que atender à boa fé; o devedor depois de prestar não pode exigir que a prestação
lhe seja devolvida
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
v. Dário Moura Vicente: o credor tem alguma tutela portanto pode dizer-
se que em aceção muito ampla estamos perante obrigação, se bem que
não no sentido do CC
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Não há correção monetária nos pagamentos acordados (podia propiciar o aumento da inflação)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
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CONTRATOS
Noção, fontes normativas e fundamentos da sua eficácia
Contrato é modalidade essencial do negócio jurídico – definido no art. 405º: princípio orientador
do negócio está definido na parte das obrigações, mas devia de estar na parte geral pois há
contratos não obrigacionais (ex: Casamento).
14
Interesse – tenho interesse num bem quando tenho necessidades que esse bem está apto a satisfazer
15
Menezes Cordeiro: parte = efeitos do negócio
➢ Menezes Leitão discorda e o ênfase é no modo de formação - contrato assume-se como resultado
de duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente concordantes entre si,
de onde resulta uma unitária estipulação de efeitos jurídicos.
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Bilateral ou Unilateral
Sendo que também se chamam (Dário):
Contratos Sinalagmáticos e Não-Sinalagmáticos
Sinalagma liga as prestações e as contraprestações que, no mesmo negócio, são a causa
jurídica e o fundamento um do outro – sem uma não se pode exigir a outra.
o Sinalagmáticos – nexo de reciprocidade entre as obrigações dos contraentes:
partes assumem obrigações recíprocas em que uma está na interdependência
da outra. Situações de “só se… se” – simultaneamente credor e devedor.
▪ Com o contrato cria-se um nexo entre as prestações (sinalagma genético)
que se mantém no sentido de que uma prestação não pode ser executada
sem a outra (sinalagma funcional)
o Não-Sinalagmáticos – posição/deveres das partes não são correspectivos: não
dependem uma da outra e uma parte tem situação passiva e outra ativa. Ex:
doação de uma casa, mas ao doar dou o encargo de lá ficar com a avozinha –
apenas uma das partes assume uma obrigação e a contraparte não tem deveres,
apenas o encargo
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Que acompanha toda a contratação
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Várias posições da doutrina
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Obrigacionais e Reais
Quanto aos efeitos - eficácia jurídica que pode ser constitutiva, transmissiva, modificativa ou extintiva.
Geralmente, em coisa determinada, a propriedade transfere-se no momento do acordo de ambas as partes
- exceção nas obrigações genéricas em que a propriedade só se transfere no momento da concentração da obrigação,
art. 540º
➢ Transferência da propriedade é sempre por efeito do contrato - tornou-se comum para maior
proteção a celebração de uma cláusula de reserva de propriedade (art. 409º) em que o alienante
reserva para si a propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra
parte. Protege o vendedor dos credores do comprador e ainda pode resolver o contrato pelo art.
801º/1. O risco é dividido de acordo com o proveito que cada um tirava da situação jurídica de que
era titular.
Comutativos e Aleatórios
Ambas as atribuições patrimoniais são certas vs. pelo menos uma das atribuições patrimoniais
é incerta (quanto existência ou conteúdo)
Onerosos e Gratuitos
Atribuições patrimoniais para ambas as partes vs. atribuições patrimoniais para uma só parte
Nominados e Inomidados
Nominados – aqueles que a lei designa por um nomen iuris
Inominados – a lei não designa e são sempre atípicos
Típicos e Atípicos
Critério de estar ou não regulado.
Típicos – aqueles previstos na lei, com o regime regulado:
Atípicos – não previstos na lei, mas que as partes podem estabelecer segundo a sua
autonomia privada
Cada vez vão surgindo mais contratos atípicos – há novos contratos que são úteis ao consumidor
e a lei não os contempla; muitos surgem pelos usos
Ex: leasing (alocação financeira); crédito documentário; concessionário financeiro; garantias
bancárias autónomas
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o Dário: há casos sem elemento preponderante, outros com e outros que não se
pode reconduzir a um só
União de Contratos
Celebração conjunta de vários contratos, unidos entre si (possibilita a individualização face
ao conjunto embora com um nexo que os une)
• União externa - sem qualquer laço de dependência e apenas celebrados ao mesmo
tempo. Ex: ir a café e pedir bolo, café e cigarros.
• União interna - relação de dependência em que só se aceita um em função do outro. Ex:
só compro este pc se venderem também impressora
• União alternativa - partes pretendem um ou outro contrato ocorrendo ou não certa
condição. Ex: arrendo casa em Lisboa e Porto mas só vigora o arrendamento quando
souber onde fui colocado
Contraentes celebram contratos diferentes e autónomos mas com a mesma finalidade. Ex:
project finance (com celebração de muitos contratos)
Menezes Cordeiro: dois ou mais negócios são colocados numa situação de
interdependência originando diversos efeitos jurídicos.
É fonte de obrigações pois dos deveres jurídicos na fase preliminar pode surgir a obrigação de
indemnizar.
Jhering: na formação e cumprimento do contrato, as partes devem de agir de forma leal.
Categoria de interesses tutelados: os injustamente prejudicados pela não realização do
contrato, expectativa protegida.
Art. 227º18 - são os ditames da boa fé19 que vinculam as partes na relação jurídica pré-
contratual (em que não há deveres primários de prestação, há apenas deveres acessórios de
conduta
Sanções: apenas indemnização, não há execução específica pois isso limitaria muito a
liberdade contratual (oposição princípio da liberdade contratual vs. tutela da confiança)
nº2: exige que o afetado aja rapidamente e não protele
18
Embora esta figura surja em outros regimes jurídicos: LCCG (art. 5º e 6º) com obrigações de informação
e etc.; defesa do consumidor; contratação à distância; contratação eletrónica
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Avaliada casuisticamente pelo intérprete
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Contratos de Adesão
Contratos com Cláusulas Contratuais Gerais
Contratação através de modelos uniformes e de larga escala. Conjunto de condições
contratuais previstas de antemão e que não estão abertas à discussão pela contraparte (não
é possível a negociação individual dos contratos)
Predisponente estabelece um conjunto de cláusulas a que o Aderente aceita ou não –
destinatário indeterminado que aceita ou não (liberdade de celebração e não de estipulação).
➢ Menezes Cordeiro: Proposições impessoais, pré-elaboradas, que os contratantes
podem adotar, para efeitos de conclusão de um negócio20.
Fenómeno ligado à massificação dos contratos e muitas vezes dizem respeito a uma agilização
das necessidades básicas.
Características frequentes:
1. Desnível na informação de uma das partes – as partes não têm o mesmo poder
económico e uma delas pode não ter capacidade para avaliar plenamente.
Superioridade económica e/ou científica em relação ao aderente
2. Apresentação formulária – dispostas usualmente em formulários pré-formatados
3. Complexidade do clausulado – cláusulas muito complexas que preveem a maior parte
das situações. São cobertos, com minúcia, todos os aspetos contratuais; alarga-se a um
grande número de pontos.
Art. 1º/2 – estende as CCG a contratos cujo conteúdo seja previamente estabelecido sem
discussão. Não só àqueles que têm as características e ingredientes de CCG mas também aos
Contratos de Adesão.
➢ CCG ficam abrangidas independentemente da forma da sua comunicação ao público, da
extensão que assumam, do conteúdo que regulam, elaboradas pelo proponente,
destinatário ou por terceiros.
20
Somos livres de negociar todos os pontos mas tal não é viável e desde a maternidade com CCG
hospitalares, até à cova com CCG funerárias, toda a vida humana está imersa nas cláusulas.
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Revisto em 95 e 99
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 7º Cláusulas Prevalentes - cláusulas negociadas prevalecem sobre as CCG: vontade das
partes manifestou-se ao acordar lateralmente cláusulas específicas – devem ser invocadas e
provadas para quem delas se queira prevalecer.
Art. 10º - estabelece as regras gerais para a interpretação das CCG (remetendo para o art. 236º
e 239º CC)
➢ Subsistindo dúvidas aplica-se o art. 11º
o Art. 11º/2: in dúbio contra stipulatione
Consequências: cláusulas nulas para efeitos do contrato singular (art. 12º) – embora o contrato
possa manter-se por vontade do aderente (art. 13º que remete para o art. 292º CC)
A nulidade (art. 24º) pode ser insuficiente – mecanismo a posteriori
22
A inclusão em contratos singulares tem os encargos de efetiva comunicação (art. 5º), efetiva informação
(art. 6º), inexistência de cláusulas prevalentes (art. 7º)
Contrato individual feito com CCG – há milhares de contratos singulares com as mesmas CCG (ex: todos
os clientes MEO)
23
Proibições absolutas: art. 18º - a) b) c) d), nulidade das cláusulas de exclusão ou da limitação da responsabilidade
(autonomia para empresários mas com responsabilidades); e), visa evitar que se consiga por via interpretativa aquilo
que as partes não podem diretamente alcançar; f) g) h) i), institutos da exceção do não cumprimento do contrato; j),
visa evitar obrigações perpétuas; l), evitar que esquemas de transmissão do contrato limitem a responsabilidade.
Proibições relativas, art. 19º - relações entre empresários e apenas é um juízo de valor, feito dentro da lógica de cada
tipo negocial em jogo permitindo restabelecer a justiça dentro do contrato.
26
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
➢ Pode propor-se ação inibitória (art. 25º) – erradica as CCG para o futuro, as cláusulas
desaparecerão do formulário e já não constam no futuro – mecanismo ex-ante
o Feito por instituições como sindicatos, Ministério Público, associações de defesa
do consumidor e etc. autorizados pelo art. 26º
27
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Contratos Preliminares
Aqueles cuja execução pressupõe a celebração de outros contratos.
Relevantes: o contrato-promessa (art. 410º e ss.) e o pacto de preferência (art. 414º).
CONTRATO-PROMESSA
Art. 410º/1: convenção pela qual alguém se obriga a celebrar novo contrato (definitivo). O seu
objeto é a obrigação de contratar (relativa a qualquer contrato). Promitentes vinculam-se a uma
prestação de facto jurídico.24
Normalmente tem eficácia obrigacional mesmo que o contrato prometido tenha eficácia
real.
24
Contrato preliminar com força vinculativa plena. A prestação é um facto jurídico. As partes obrigam-se
a celebrar um negocio jurídico. Porque não fazem logo contrato final? Motivo financeiro, vendedor não
tem a coisa e etc.
Entre as datas muita coisa pode acontecer e pode-se prometer bens alheios com vista a que sejam
adquiridos. O art. 892º, pela razão de ser, não deve ser extensível ao contrato-promessa.
25
Já o art. 410º/3 não diz respeito à forma mas sim a formalidades. Exige que contrato-promessa
de transmissão de direito real sobre edifício ou fração autónoma seja acompanhado por
reconhecimento presencial de assunaturas e certificação da licença de utilização ou construção.
Formalidades para a validade plena do negócio – necessidade de controlo notarial.
Não cumpridos dão origem à invalidade do contrato-promessa. Invalidade mista.
26
Remuneração pela promessa de venda
28
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 412º: não reconhece ao contrato-promessa um cariz intuitu personae e nada impede que,
mesmo por morte de uma das partes, o cumprimento da obrigação respetiva seja exigido ou
requerido dos herdeiros. Isto só não acontece caso tenham celebrado o contrato
especificamente tendo em consideração a pessoa do outro contraente (art. 2025º).
Para que receba o contrato definitivo o tribunal impõe que o autor consigne em depósito toda
a sua prestação (art. 830º/5)
27
Vontade conjetural positiva (tem que demonstrar que as partes queriam conteúdo diverso)
29
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 440º: se as partes quiserem que tenha o caráter de sinal devem atribuir-lhe especificamente
essa natureza.
No contrato de promessa é diferente – presume-se sempre o caráter de sinal (art.
441º); presunção ilidível (art. 350º/2) mas de prova difícil de efetuar (caso se prove, a
quantia deve ser imputada como antecipação do cumprimento da obrigação)
Lei estabelece distinção no regime do Sinal caso ele seja aplicado genericamente a todos os
contratos ou especificamente ao contrato-promessa
• Art. 442º/1 – contratos genéricos
• Art. 442º/2/1ª parte – regime geral explica funcionamento em caso de incumprimento28
• Art. 442º/2/2ª parte – funcionamento do sinal em específico no contrato-promessa (se
houver tradição da coisa a que se refere o contrato prometido, o adquirente pode optar,
em lugar da restituição do sinal em dobro, por receber o valor atual da coisa, ao tempo
do incumprimento (direito à valorização da coisa), com dedução do preço
convencionado, acrescido do sinal e da parte do preço que tenha sido paga).
• Art. 442º/3/1ª parte – o contraente não faltoso pode requerer execução específica.
o Execução específica é possível, haja ou não haja tradição da coisa a que se refere
o contrato-prometido.
• Art. 442º/3/2ª parte - a atribuição do aumento do valor da coisa ou do direito destina-
se a evitar que o promitente faltoso venha a obter um enriquecimento injustificado, em
virtude do facto ilícito que é o incumprimento da obrigação de contratar.
o Gerou discussão na doutrina de se saber se uma posterior oferta de
comprimento paralisa o direito ao aumento do valor da coisa.
▪ Menezes Leitão: é norma específica do contrato-promessa donde não
se extrai conclusões sobre o funcionamento do sinal. No regime geral a
lei exige o cumprimento definitivo e não o atraso. Em especial para os
contratos-promessa transforma-se a mora em incumprimento
definitivo por objetiva perda de interesse na prestação ou pela fixação
de prazo suplementar de cumprimento (art. 808º) – mas só em caso de
incumprimento definitivo. A opção pelo aumento do valor da coisa
pode ocorrer antes, em simples mora, valendo esta como a renúncia do
28
E se for imputável a ambas as partes, as obrigações extinguem-se por compensação (art. 847º)
30
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Funções do Sinal
A. Galvão Telles – não tem natureza penitencial, mas sim confirmatória-penal – sanção
para ato ilícito (do incumprimento da obrigação)
B. António Pinto Monteiro – natureza penitencial
C. Menezes Cordeiro – tem natureza confirmatório-penal na medida em que dá
consistência ao contrato e funciona como indemnização (quando coexiste com a
execução específica) e natureza penitencial quando funcione como preço de
arrependimento, permitindo resolver o contrato mediante o pagamento que resulte do
próprio sinal (quando há convenção contrária à execução específica)
D. Menezes Leitão – só pode ser exigido em caso de incumprimento definitivo da
obrigação pela outra parte, funcionando como pré-determinação das consequências
desse arrependimento – natureza confirmatório-penal.
Ao adquirir eficácia real, o direito à celebração do contrato prevalecerá sobre todos os direitos
reais que não tenham registo anterior ao registo da promessa com eficácia real.
A. Menezes Cordeiro, Oliveira Ascensão: verdadeiro direito real de aquisição
B. Antunes Varela, Almeida Costa: direito de crédito sujeito a regime especial de
oponibilidade a terceiros
29
Garantia no quadro dos direitos reais é forte e pode servir para garantir o crédito. A partir da satisfação
do crédito deixa de haver direito de retenção
31
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
O que acontece no caso do contrato-promessa é que a pessoa costuma querer sanar a mora e tem
interesse na mora.
Já só se quer a indemnização e não se prevê a execução específica (é característica de mora do devedor e
sinal é questão de incumprimento definitivo – art. 442º)
Art. 804º/1 por danos moratórios e execução específica
Sempre que há sinal recorre-se à presunção do art. 830º/2
PACTO DE PREFERÊNCIA
É o contrato preliminar em que o obrigado à preferência, se decidir contratar, tem que
comunicar ao beneficiário da preferência as mesmas condições da contratação com terceiro –
definido pelo art. 414º mas com entendimento mais amplo, extensível a todos os contratos
onerosos sem cariz intuitu personae
Forma – sujeito ao mesmo regime do contrato-promessa sem forma especial mas com as
mesmas exceções (art. 410º/2).
Não se aplica o art. 410º/3. Tem que estar apenas assinado pelo obrigado à preferência.
32
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Caso em que têm eficácia real – beneficiário possui direito de crédito à preferência e direito real
de aquisição, oponível erga omnes mesmo a posteriores adquirentes da propriedade (art. 1410º
extensível a qualquer direito real de preferência)
Menezes Leitão e Antunes Varela: obrigado à preferência tem que ser demandado para
a ação de preferência, existindo litisconsórcio necessário passivo entre ele o terceiro
adquirente
30
Não há execução específica
33
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Simulação
• Preço declarado é superior – titular da preferência deve exercê-la pelo preço real
(negócio simulado é nulo, art. 240º e vale o dissimulado, art. 241º) preferência exercida
pelo negócio válido;
• Preço declarado é inferior – Antunes Varela e Castro Mendes: a lei veda aos simuladores
exigir que a preferência seja exigida com base no base no preço real (Menezes Leitão: o
titular da preferência pode exercê-la pelo preço simulado), Menezes Cordeiro e Mota
Pinto: tal equivaleria a autorizar enriquecimento ilícito
Pacto de Opção
Convenção em que uma das partes emite a favor de outra uma declaração negocial, sendo
uma proposta negocial que faz surgir direitos potestativos na esfera jurídica da contraparte.
Já está fixado o conteúdo do contrato e a única coisa que não está decidia é se a outra parte o
aceita ou não – tendo o direito potestativo de aceitar ou não.
34
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 443º/1 – noção – desvio do princípio da relatividade: Uma das partes (promitente)
compromete-se perante outra (promissário) a efetuar atribuição patrimonial em
beneficio de outrem, estranho ao negócio (beneficiário)
Art. 444º/3 – Falso Contrato a Favor de Terceiro: promitente apenas se obriga a conseguir obter
a liberação da dívida do promissário (para com terceiro) – só o beneficiário tem interesse
portanto só o promissário pode exigir do promitente o cumprimento da promessa (não é
verdadeiro contrato)
Exceção ao art. 444º/1: promessa a cumprir depois da morte do promissário. Terceiro não pode
exigir a prestação antes da verificação da morte do promissário.
➢ O direito de terceiro apenas se constitui após a morte do promissário (até lá o terceiro
beneficia apenas de expetativa jurídica) e não pode transmitir aos herdeiros (pois não
era titular de direito). OU. O direito de crédito é logo atribuído ao terceiro e só cessa
quando este morre (aí os seus herdeiros sucedem no seu direito sobre o promitente)
o Solução da Lei: o terceiro só adquire o direito depois da morte do promissário
(art. 451º/1), mas, se aquele falecer antes deste, os seus herdeiros são
chamados no lugar dele à titularidade da promessa (art. 451º/2).
▪ Resulta do próprio contrato a favor de terceiro (promissário designa
subsidiariamente como beneficiários os herdeiros do terceiro) –
presunções ilidíveis e afastáveis através de estipulação.
35
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Feito sem ser nos trâmites legais, o contrato pode produzir efeitos em relação ao contraente
originário (art. 455º/2) mas as partes podem estipular que tal nunca aconteça (e aí a má
nomeação acarreta ineficácia do contrato).
36
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
RESPONSABILIDADE CIVIL
Conjunto de factos que dão origem à obrigação de indemnizar os danos sofridos por outrem.
Fonte de obrigações baseada no princípio de ressarcimento dos danos.
Surge como a consequência da violação de direitos absolutos, que aparecem assim desligados
de qualquer relação intersubjetiva previamente existente entre lesante e lesado.
• A obrigacional pressupõe a existência duma relação intersubjetiva que atribuía ao
lesado um direito à prestação, surgindo como consequência da violação de um dever
dessa relação específica.
31
Há uma terceira via de responsabilidade civil em que se incluem situações da violação dos deveres de boa fé,
geradores da responsabilidades civil pré-contratual e pós-contratual.
37
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
ii. Valorização da segurança jurídica e bens da vítima – França – Sistema de Cláusula Geral:
qualquer dano pode ser indemnizado32, dando um grande poder de discricionariedade
ao juiz
iii. Valorização de ambos – Alemanha – Sistema Intermédio sem cláusula geral nem
tipicidade: adota 3 pequenas cláusulas (dano pela vida e integridade, dano por violação
de norma de proteção legal e dano por atentado aos bons costumes), identificando de
forma mais precisa os bens jurídicos a proteger
Portugal – sem tipicidade nem cláusula geral, mas em que se identifica os caracteres da
ilicitude que geram obrigação de indemnização33.
➢ Dário: nítida preocupação com os interesses em jogo e norma tecnicamente superior à
de outros ordenamentos jurídicos.
1. Facto Voluntário
Tem que existir comportamento dominável pela vontade do lesante – basta que exista uma
conduta que lhe possa ser imputada por estar sob controlo da sua vontade.
➢ Não é imputável sempre que falte consciência ao agente.
➢ Exclui factos da natureza
32
Havendo “faute” ou “dano injusto” (no dizer da doutrina italiana)
33
Nem todo o dano é indemnizável (não vigora o que se extrai do “memirem laedere”), só quando a lei o
manda (“causum sentit dominus”)
38
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
• Dário: jurisprudência já decidiu por deveres que não estão previstos, concebendo uma
cláusula geral para as omissões – o que é má ideia (embora se conceba com anologia e
interpretação extensiva) porque não se pode extravasar o que diz no artigo,
desequilibrando os interesses em jogo.
2. Ilicitude do facto
Juízo de desvalor atribuído pela ordem jurídica, face ao comportamento do agente (teoria do
desvalor do facto – avalia-se a ilicitude através da prossecução de um fim não permitido pelo
Direito), e não face ao próprio resultado (teoria do desvalor do resultado – ex: suicida na linha
do comboio morto por maquinista invalida).
34
ML: não pode ser dirigida a proteger o interesse público e só reflexamente atingir particular.
35
Dário: leia-se “ilicitamente”
39
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
3. Culpa
Juízo de censura normativo37 acerca da conduta ativa ou omissiva de alguém.
Desvalor atribuído pela ordem jurídica ao facto voluntário do agente, que é visto como
axiologicamente reprovável.
2 modalidades:
• Dolo – ato voluntário dirigido à provocação dum dano
o Direto: tem um objetivo lesivo e age em conformidade
o Necessário: não quer o resultado, mas sabe que é consequência da sua atuação
o Eventual: não quer o resultado, não tem como consequência da sua atuação,
mas não quer
• Negligência – não se queria provocar dano, mas não se acautela o seu não
acontecimento, num padrão do homem médio – agente omitiu a diligência a que estava
legalmente obrigado
o Consciente: não toma cuidados mas sabe que pode ocorrer algo
36
Se não, a exceptio veritas é irrelevante
37
Só quando a lei o previr é que se pode dispensar a culpa na apuração de responsabilidade civil.
40
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
o Inconsciente: não toma cuidados mas não sabe que pode ocorrer algo
Imputabilidade do Agente
Pessoa tem que ser capaz de decidir e avaliar a sua conduta para ser responsabilizada (art.
488º)38 – tem de conhecer, ou poder conhecer, o desvalor do seu comportamento – pressuposto
da culpa é a imputabilidade
➢ Há inimputabilidade quando o agente não tem a necessária capacidade para entender
a valorização negativa do seu comportamento ou lhe falte a possibilidade de o
determinar livremente
➢ Apenas pode ser chamada a responder subsidiariamente à responsabilidade dos
vigilantes e por motivos de equidade (art. 489º)
Apreciação da Culpa
Art. 487º/2 – critério geral de apreciação da culpa em abstrato segundo diligência do homem
médio, mas, mesmo assim não se deixa de exigir a análise das circunstâncias do caso concreto e
do tipo de atividade em causa.
➢ Importante para perceber a graduação da culpa
o Graduação da culpa releva para casos de pluralidade de responsáveis (art.
490º), obrigação de indemnização solidária (art. 497º), concurso com a culpa do
lesado (art. 570º).
o Ex: cometendo um crime, licenciado terá mais culpa que analfabeto.
Distingue-se culpa grave (negligência grosseira de alguém muito irresponsável pois a maioria das pessoas
não agiria assim) e culpa leve (conduta não seria suscetível de ser praticada por homem médio havendo
uma omissão de diligência do bonus pater familias)
Prova da culpa
Ónus da prova da culpa cabe à vítima (art. 487º/1)
Há casos em que a leu estabelece Presunções de Culpa39 – correspondem a situações em que
se verifica uma fonte específica de perigo, cuja custódia se encontra atribuída a determinado
sujeito, tendo ele deveres de segurança no tráfego jurídico.
• Art. 491º - danos causados por incapazes: responsabilização pode ser por lei ou por
negócio jurídico. Se o vigiado for considerado imputável continua a haver
responsabilidade do vigilante, respondendo solidariamente (art. 497º).
• Art. 492º - danos causados por edifícios ou outras obras: é o responsável pela
construção ou conservação que deve genericamente demonstrar que não foi por culpa
sua que ocorreu a ruína - é responsabilidade subjetiva fundada na violação de deveres
de segurança no tráfego.
• Art. 493º - danos causados por coisas ou animais; danos resultantes de atividades
perigosas (não se dispensa a prova do nexo de causalidade)
38
Se for inimputável, pode ser chamado a responder quem tinha dever de vigilância.
39
Aí o lesado não tem o ónus de provar a culpa pois presume-se
41
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
4. Dano
Conceito fáctico e normativo com um mecanismo de imputação - frustração de uma utilidade
(alheia) de que era objeto de tutela jurídica.
Tem muitas modalidades:
• Sentido real: avaliação em abstrato das utilidades que eram objeto de tutela jurídica em
que implica indemnização através da reparação do objeto lesado,
• Sentido patrimonial: avaliação concreta dos efeitos da lesão no âmbito do património
do lesado, compensação da diminuição verificada no património 40
Ex: acidente de carro - real é automóvel com estragos, patrimonial é consequências
desses estragos no património
40
Pela teoria da diferença (entre condição em que estava e em que ficou – art. 562º
41
É a gravidade dos danos que determina se há tutela ou não.
42
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
• Dano Morte – art. 496º/2 e ss.42 – ML: perda da vida é dano autónomo, cujo direito à
indemnização se transmite aos herdeiros da vítima com fundamento no 2024º; Dário:
não concorda com o dano morte, mas, a jurisprudência tem dito que sim
o Art. 496º/2 e 3 referem-se a danos não patrimoniais sofridos por outras pessoas
em consequência da morte de alguém; n°4 refere-se à atribuição da
indemnização por danos não patrimoniais ocorridos antes da morte
5. Nexo de Causalidade
Várias teorias na doutrina: equivalência das condições, última condição, condição eficiente,
causalidade adequada, fim da norma violada.
• Teoria da equivalência das condições - o que caracteriza o conceito de causa é a
imprescindibilidade de uma condição para a sua verificação (sem a qual não, sine qua
non). Relevariam todas as condições para o processo causal.
• Teoria da causalidade adequada - para que exista nexo de causalidade não basta que
o facto tenha sido em concreto causa do dano e é também necessário que, em abstrato,
seja também adequado a produzi-lo segundo o curso normal das coisas. Remete para
uma questão de imputação subjetiva. Subjacente ao art. 563º em que não está em causa
apenas a imprescindibilidade da condição mas também se exige que essa condição, de
acordo com juízo de probabilidade, seja idónea a produzir um dano.43
o Verificada condição sine qua non, faz-se juízos de prognose póstuma se o agente
via como provável que tal condição acontecesse – reconhece-se que o agente
podia ter conhecimentos especiais.
Caso prático
1. Facto Voluntário Ação // Omissão (art. 486º) -> Casos do art. 491º a 493º
Violação do direito de outrem // Violação de disposição legal
2. Ilicitude
// Abuso do direito // Outras
Causa de Exclusão da
Art. 335º a 340º
Ilicitude
Dolo (direto, necessário, Ónus do lesado (art. 487º/1)
3. Culpa eventual) // Negligência Presunções de culpa (art.
(consciente, inconsciente) 291º a 493º)
Erro desculpável // Medo
Causa de Exclusão da
invencível // Culpa do lesado (art. 570º)
Culpa
Desculpabilidade
Imputável Art. 488º e 489º
Danos emergentes / Lucros cessantes // Patrimoniais / Não
4. Dano
patrimoniais // Outros
5. Nexo de Causalidade Teoria da causalidade adequada
Responsabilidade Subjetiva (art. 483º) vs. Responsabilidade Objetiva (art. 500º e ss.)
42
Não é o dano que resulta em morte do art. 495º (danos imediatamente antes da morte)
43
Questão doutrinária dos processos causais virtuais – ML: relevância negativa da causalidade virtual em que o autor
da causa virtual não seria responsabilizado pelo dano, nos mesmos termos que o autor da causa real. A lei só dá
relevância em situações específicas (art. 491º, 492º, 493º/1, 616º/2, 807º/2) como causa complementar da exclusão
da responsabilidade, que concede em situações restritas de responsabilidade agravada.
43
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
44
ideia de ilicitude imperfeita (não há ilicitude mas há incentivo a que não se adote condutas que possam
causar responsabilidade civil objetiva)
44
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Essa responsabilidade é apenas na relação externa com o lesado, na relação interna comissário-
comitente, o comitente tem direito a exigir restituição de tudo quanto pagou ao lesado, salvo
se ele próprio tiver culpa – aí há pluralidade de responsáveis pelo dano (art. 500º/3)
Função de garantia do pagamento de indemnização ao lesado.
Articula-se com o art. 493º - que já é uma questão de responsabilidade subjetiva e culpa
presumida – é sobre quem vigia, não sobre quem tira vantagens.
• Nada impede a cumulação das responsabilidades dos art. 493º/1 e 502º, caso em que
ambos responderão solidariamente perante o lesado
Pressupostos:
• Direção efetiva (poder de facto de controlo)
o Exige-se a imputabilidade do agente pois os inimputáveis não estão em
condições de exercer poderes de facto sobre os veículos (art. 503º/2).
45
Os outros têm legislação especial.
45
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Art. 504º - responsabilidade pelo risco abrange tanto os que estavam fora do veículo como os
que estavam dentro dele.
➢ Transporte em caso de contrato abrange os danos que atinjam a própria pessoa e as
coisas por ela transportada (art. 504º/3).
Limitações dos danos indemnizáveis – art. 508º em que se deve consultar regime da
responsabilidade civil obrigatória
Questão da Culpa
Previsão de responsabilidade pelo risco não dispensa a necessidade de averiguar se existe ou não
culpa do condutor do veículo e aí a sua responsabilidade rege-se pelas regras gerais (art. 483º)
pelo que não está sujeita a limite máximo.
• Essa culpa tem é de ser provada pelo lesado (art. 487º)
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Colisão de Veículos
Lei resolve conflito de imputações com base no risco (pois cada condutor podia ser imputado
pelo acidente – art. 503º/1).
• Se apenas um condutor tiver culpa no acidente – responde exclusivamente pelos danos
causados.
• Se nenhum tiver culpa – responsabilidade pelo risco é repartida na proporção em que
o risco de cada um dos veículos tiver contribuído para os danos (verifica-se também se
um dos veículos causou mais danos que o outro).
o Regra geral é a ideia de repartição igualitária dos danos no art. 506º/2.
• Se independentemente da apreciação da culpa dos condutores um dos veículos causou
danos, a responsabilidade pelo risco só surge em relação ao causador de danos.
Presunção de culpa do art. 503º/3 faz sentido quando se trata de dispensar o lesado de provar
a culpa do comissário, mas, faz pouco sentido quando se trata de discutir os critérios de
repartição da responsabilidade entre dois condutores causadores de danos. No entanto, a
maioria da doutrina e a jurisprudência do STJ entende que se na colisão de veículos um conduzir
o veículo por conta de outrem, então não se aplica a solução do art. 506º/2 e presume-se culpa
do comissário no âmbito do art. 503º/3.
➢ Se ambos forem comissários há concorrência de presunção de culpa e pode ser culpa
em igual medida.
Responsabilidade do Produtor
Pelos danos causados por produtos defeituosos.
Seria muito complicado para o consumidor preencher todos os requisitos para haver
responsabilidade civil extracontratual.
➢ As soluções vindas da common law decidiam que, verificado o dano, caberia ao produtor
demonstrar não ter agido com culpa.
➢ Tendência moderna admite uma responsabilidade objetiva do produtor, independente
da demonstração da culpa pelo lesante.
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Quanto à responsabilidade do Estado, há diploma que regula os factos lícitos e o sacrifício. Ex:
expropriações.
Caso art. 81º/2 – situações de responsabilidade obrigacional por factos lícitos – direito geral de
personalidade tem valor superior ao direito de crédito, o que torna lícito o sacrifício deste
último, que deve ser compensado com indemnização sob pena de por em causa a eficácia
vinculativa desses negócios.
Obrigação de Indemnizar
Responsabilidade civil traduz-se numa Obrigação de Indemnizar.
Tipo de obrigação que o CC regula especificamente – art. 562º - aplicando-se não só à
responsabilidade civil extracontratual como também à contratual e pré-contratual.
➢ Constitui modalidade das obrigações em virtude de possuir fonte específica (imputação
de danos a outrem), ter conteúdo próprio (prestação de equivalente ao dano sofrido) e
um particular interesse do credor (eliminação do dano que sofreu).
Se não houver especificação da lei, a obrigação de indemnizar é a destes artigos.
Legislador regula, em termos gerais, aquilo que é aplicável a várias situações.
Princípio geral do art. 562º é a restauração natural – deve repor-se o statuos quo anterior ao
dano.
• Lesante deveria repor a situação (o status quo) que existia antes – pois é o que melhor
defende a vítima, pois uma indemnização em dinheiro pode não fazer face ao valor
venal, já que pode não repor a situação que existia. Ex: carro velho.
Quando a restauração natural não for possível, ou seja excessivamente gravosa para o agente,
pode haver compensação em dinheiro (art. 566º)
46
Há permissão de atuação mas mesmo assim pode ter que indemnizar – pode é não ser ele
exclusivamente e pode ter que ser o que contribuiu para ele agir
48
Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Cálculo da Indemnização
Podem ser indemnizáveis os danos emergentes e os lucros cessantes.
Podem também ser indemnizáveis os danos futuros (que têm de ser previsíveis na altura da
indemnização) – art. 564º
Muitas vezes, a vítima quando interpõe a ação não sabe ainda a quantidade exata de danos –
art. 569º permite haver um pedido genérico.
Pode também indemnizar-se os danos não patrimoniais (art. 496/1). Ex: férias estragadas.
Se a prestação cumprida defeituosamente for para situações pessoais não patrimoniais, então
também há tutela desses danos não patrimoniais.
Difícil de avaliar pecuniariamente – art. 496º remete para a equidade
Deve ter-se em conta o lucro do lesante face à violação dum direito e que gerou
responsabilidade civil? No cômputo da indemnização deve ter-se em conta a propriedade
industrial e o direito de autor – mas, noutros casos, é dano e obrigação de indemnizar, mas sim
enriquecimento sem causa (Dário)
ML: Lesante pode deduzir à indemnização os lucros que a lesão proporcionou ao lesado,
mas tem de verificar um nexo de causalidade entre a obtenção de lucro pelo lesado e o
facto que lhe causou o prejuízo.
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Sebenta Obrigações I – 2016/2017 DNB
Lei não pode ir além do tempo estabelecido porque a durabilidade da prova é menor (assenta
na memória do lesado e etc.) do que na responsabilidade contratual, onde a durabilidade da
prova é superior (socorre-se a documentos e etc.).
Regimes diferentes em aspetos fundamentais – quando ao ónus da prova da culpa, prescrição e etc.
As categorias diferem (porque versam sobre situações jurídicas diferentes) e a lei dá 3 soluções:
1. Teoria da consunção – Almeida e Costa – regras de responsabilidade contratual
consomem as da extracontratual
a. 2005, Relação de Lisboa – mamografia mal feita e ano depois tem cancro –
responsabilidade do comitente, pluralidade de responsáveis e decidiu-se pela
contratual
b. 2006, Relação de Coimbra – cliente estaciona no hotel, há inundação e estraga
carro – aplicou art. 799º/1
c. 2011, STJ – foi tirar dente do ciso e saiu com maxilar estragado
2. Teoria da opção – ao lesado assiste o direito de opção sobre que regime aplicar
a. 1998, STJ – criança em infantário, vigilante afasta-se, há curto circuito que gera
incêndio, criança sofre queimaduras graves – pais pediam também por danos
não patrimoniais (extracontratual) embora havia contrato com infantário;
deixou os pais escolherem aquele regime que lhes fosse mais favorável
3. Teoria do cúmulo/concurso real – lesado pode conjugar e escolher o regime em função
de cada questão concreta
a. 2009, Relação de Lisboa – lições de mota em sítio com areia e más condições,
pessoa cai e pede indemnização à escola de condução – decidiu aplicar art. 503º
e imputou escola de condução
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Gestão de Negócios
Situação em que alguém assume um negócio alheio, no interesse e por conta desse
outrem, no entanto, sem estar autorizado para tal.
Conflito entre:
• Interesses sociais em jogo – intromissão não autorizada na esfera jurídica alheia e na
medida que gerem danos podem ser ressarcidos, solidariedade, atos socialmente úteis
e no plano da moral também
• Interesses individuais do gestor – reembolso ou remuneração; dano no negócio (que
deve ressarcir no caso do lesado)
O gestor tem direito a ser reembolsado (das despesas que fez no âmbito da gestão)?
Tem direito a remuneração?
O que foi gerido pode ser ressarcido?
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b. O animus do gestor deve ser entendido como a atribuição dos resultados da sua
atuação ao dono do negócio.
c. A determinação da utilidade da gestão é pressuposto inicial da gestão (nos
termos do art. 340º/2 que só considera lícitas as intervenções que se dão no
interesse do lesado e de acordo com a sua vontade presumível)
4. Tem que haver ausência de relação jurídica própria
a. Há uma falta de autorização – não se aplica o instituto sempre que exista uma
relação específica entre o dominus e o gestor, que legitime tal intervenção.
b. Gestor não pode recorrer à gestão de negócios se estiver autorizado ou
vinculado por negócio jurídico ou a lei especificar o exercer dessa gestão
5. Não advém da lei essa incumbência de gerir (ex: não é gestão no caso de pais para
filhos; casados para ausente)
6. Não se exige que gestão seja útil ou necessária
Art. 466º: quando se constitui o gestor em responsabilidade para com o dono do negócio
Nasce uma discussão doutrinária de saber se a partir do momento em que se inicia a gestão,
se o gestor tem ou não obrigação de dar continuidade à gestão desse negócio.
➢ Vaz Serra e Menezes Cordeiro: não (gestor é livre de abandonar o negócio quando
entender, não podendo, com tal, causar dano ao dominus);
➢ Antunes Varela: sim (devem continuar a gerir até que o negócio chegue a bom termo
ou até que o dominus possa prover por si mesmo)
➢ Menezes Leitão: não. A lei apenas consagra a responsabilidade do gestor pelos danos
causados pela interrupção injustificada da gestão
➢ Dário: dever de continuidade pois pode-se ter criado no dono a expetativa que o Gestor
iria continuar a assegurar o negócio
Art. 467º: casos em que na gestão houve 2 ou mais gestores; responsabilidade solidária
Art. 468º/1 – retira-se que a Gestão de Negócios é fonte de obrigações que não pressupõe a
aprovação da gestão.
Art. 469º - com a aprovação renuncia-se a qualquer indemnização por danos devidos a culpa do
gestor, valendo como reconhecimento dos direitos que lhe competem.
➢ Galvão Telles – reconhecimento que a gestão foi regular e, por isso, insuscetível de
constituir o gestor em responsabilidade
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• Gestão irregular (sem o respeito pelo art. 465º/a) – dominus responde apenas de
acordo com as regras do enriquecimento sem causa (art. 468º/2)47
O gestor deve ficar sempre sujeito à diligência do bom pai de família, prevista no art. 487º/2. O
exercício da gestão é a realização de uma prestação ao dominus daí que se exige a diligência do
regime geral das obrigações.
Todas as pessoas estão sujeitas a esta intromissão, havendo um estímulo da ordem jurídica a
que as pessoas sejam solidárias.
Regime fortemente protetor do gestor, embora ele esteja sujeito a deveres (art. 465º)
➢ 3 fundamentos: fidelidade, informação e entrega/distribuição
➢ O princípio da boa fé acrescenta mais 2 fundamentos: proteção (para não causar danos
alheios), custódia (gestor assume negócio e bens do dono ficam a seu cuidado)
o Critério fundamental é interesse do dono do negócio ser protegido
Art. 472º: gestão de negócios alheios julgados próprios – apenas se aplica o regime se houver
aprovação da gestão. Se não, aplicam-se as regras do enriquecimento sem causa.
➢ Resulta que a intenção da gestão é um dos elementos essenciais para a gestão de
negócios – há ingerência na esfera jurídica alheia, mas, o gestor desconhece essa
alienidade objetiva, portanto atua por conta própria, faltando o requisito da intenção
de gestão, o que determina a exclusão do regime da gestão de negócios.
➢ Só se sujeita ao regime da gestão de negócios se se proceder à aprovação da gestão.
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há restituição do dono ao gestor, para não haver enriquecimento sem causa do dono.
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Aprovação ≠ Ratificação
• Aprovação – relação interna; juízo global sobre toda a atuação do gestor destinando-se
a reconhecer os direitos ao reembolso
• Ratificação – relação externa (com 3º); torna eficaz, em relação ao dominus, os negócios
celebrados com o gestor
o São atos diferentes e sujeitos a formas diferentes.
Pode também haver gestão de negócios não representativa em que o gestor atua em nome
próprio (art. 471º manda aplicar o mandato sem representação, art. 1180º e ss.).
➢ Cabe depois ao dominus entregar as quantias necessárias para a satisfação do assumido
pelo gestor.
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Enriquecimento sem causa tem vindo a ser questão controvertida na doutrina e há várias
teorias:
• Teoria unitária da deslocação patrimonial: enriquecimento sem causa é quando o
património desloca-se, sem causa, do empobrecido para o enriquecido. Aquilo que
produz o enriquecimento de um, teria que pertencer ao património do outro. Não se
poderia criar uma tipologia de pretensões de enriquecimento
• Teoria da ilicitude: enriquecimento sem causa é quando há uma ação contrária ao
direito, em relação ao princípio de que ninguém deveria obter um ganho através da
intervenção ilícita num direito alheio. Aproxima este instituto à responsabilidade civil
• Doutrina (alemã) da divisão do instituto: divide-se o instituto com base em prestações
do empobrecido e outra com base em enriquecimento sem ser por prestação.
o Menezes Leitão: defende a doutrina da divisão do instituto e distinguem-se
conforme várias situações (enriquecimento por prestação, por intervenção, por
despesas realizadas em benefício doutrem, por desconsideração dum
património intermédio)
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art. 476º, 477º e 478º) ou 2c) não deva ser realizada naquele momento (art.
476º/3)
• Recebimento de prestação por algo que já deixou de existir – causa de pagamento
deixou de existir; art. 473º/2, art. 442º/1, art. 788º, art. 795º/1
• Recebimento tendo em vista efeito que não se verificou (art. 475º exclui em 2
situações) – art. 473º/2; prestação visa determinado resultado que corresponde a uma
contraprestação cuja realização se esperava quando se verificou a prestação;
contraprestação é negócio jurídico; esse resultado não se verifica
Enriquecimento sem Causa não se refere a uma única prestação e comporta várias relações de
atribuição - atribuições patrimoniais indiretas que ocorrem em contratos a favor de terceiro
Por Intervenção
Ingerência ilícita em bens jurídicos alheios (ex: disfruta da casa de outro, publica obra de outro);
➢ Interferem em direitos absolutos mas em que propriamente não há dano indemnizável
pelo art. 483º
Levanta-se a questão de que se pode haver Enriquecimento sem Causa quando o enriquecimento
se opera sem o curso da vontade do enriquecido - o art. 1214º/2 e 3 afirma que a vontade do
enriquecido é relevante.
Sujeitar o enriquecido a uma obrigação de restituição contra a sua vontade, em virtude
de um comportamento do empobrecido, implica reconhecer a possibilidade de
alguém constituir obrigações noutra esfera jurídica, contra a vontade do seu titular, o
que é contraditório com a autonomia privada.
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2. À custa de outrem: não tem significado unitário e configura-se nas várias categorias das
modalidades do Enriquecimento sem Causa
3. Sem causa justificativa: conceito mais indeterminado destes pressupostos. Não tem
causa justificativa quando, de acordo com os princípios legais, não haja razão de ser
desse enriquecimento e, de acordo com o sistema jurídico, deve pertencer a outrem e
não ao efetivo enriquecido.
a. Fácil de discernir no enriquecimento por prestação, nas outras modalidades
recorre-se à teoria do conteúdo da destinação.
Regime benéfico para o enriquecido pois este geralmente desconhece a inexistência de causa
do seu enriquecimento.
A. Enriquecimento por prestação: restitui-se a própria coisa prestada. Não podendo haver
restituição em espécie, deve restituir-se o valor correspondente a preço comum de
mercado.
Obrigação de restituir não pode exceder o valor do bem – limite da aplicação do Enriquecimento
sem Causa é o Enriquecimento por Prestação.
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