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LUCIANO FERRADÁS

ESTUDO DAS ALTERAÇÕES NA FLEXIBILIDADE COM O ENVELHECIMENTO

CURITIBA
2005
LUCIANO FERRADÁS

ESTUDO DAS ALTERAÇÕES NA FLEXIBILIDADE COM O ENVELHECIMENTO

Monografia apresentada como requisito


parcial para a conclusão do Curso de
Bacharelado em Educação Física, do
Departamento de Educação Física, Setor
de Ciências Biológicas, Universidade
Federal do Paraná.

Orientadora: Maressa Priscila Krause, Msd.

CURITIBA
2005
RESUMO

A flexibilidade, componente importante da aptidão física, declina com o passar dos


anos, sendo que vários fatores estão relacionados a esse efeito deletério do
envelhecimento. Por isso, elaborou-se um estudo para demonstrar o comportamento
da flexibilidade em indivíduos com idade superior a 60 anos. O objetivo desse
trabalho é analisar as alterações da flexibilidade que ocorrem com o processo de
envelhecimento. Foram avaliadas 807 pessoas, sendo que esses indivíduos foram
divididos em quatro grupos que encontram nas faixas etárias de 60 – 64 anos; 65 –
69 anos; 70 – 74 anos; 75 – 79 anos. As avaliações consistiram a partir de um teste
utilizando o aparelho inclinômetro no movimento de flexão de quadril, abdução de
quadril e abdução do ombro segundo a metodologia proposta por Achour Jr (2004).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na abdução de ombro
na faixa etária de 60 -64 anos, comparando essa com as demais faixas etárias
apresentadas nesse estudo. No movimento de flexão de quadril foi verificada
diferença significativa apenas entre as faixas etárias de 60 – 64 anos e 75 – 79
anos. No movimento de abdução de quadril foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre as faixas etárias de 60 – 64 anos e 70 – 74
anos; de 60 – 64 anos e 75 – 79 anos; de 64 – 69 anos e 75 – 79 anos. Portanto,
com base nos resultados desse estudo, nota-se que as amplitudes de movimento
articular de abdução de ombro e de quadril sofreram alterações significativas entre
uma faixa etária e outra dos avaliados, e, portanto, esses movimentos merecem uma
atenção especial no treinamento de flexibilidade para os idosos. Exercícios
específicos de alongamento, que trabalhassem a abdução de quadril e de ombro,
poderiam minimizar as perdas dessas flexibilidades específicas ocasionadas pelo
envelhecimento.

Palavras chaves: Flexibilidade, envelhecimento e faixa-etária.


SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1

1.1 Apresentação do problema....................................................................... 1

1.2 Problema................................................................................................... 2

1.3 Justificativa............................................................................................... 2

1.4 Objetivo Geral........................................................................................... 2

1.4.1 Objetivos Específicos ............................................................................ 2

2.0 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 3

2.1 Flexibilidade e suas Alterações com o Envelhecimento........................... 3

2.2 Componentes Músculo-Articulares Alterados com o Envelhecimento..... 4

2.3 Comportamentos dos Tecidos Moles Alterados com o Envelhecimento.. 8

2.4 Componente Proprioceptivo Alterado com o Envelhecimento................. 10

2.5 Alterações do Músculo com o Envelhecimento........................................ 11

3.0 METODOLOGIA……………………………………………………………… 13

3.1 População e Amostra………………………………………………………… 13


3.2 Instrumentos e Procedimentos……………………………………………… 13

3.3 Planejamento do Estudo e Estatística……………………………………... 14

4.0 RESULTADOS……..…………………………………………………………. 16

5.0 DISCUSSÃO…………………………………………………………………... 18

6.0 CONCLUSÃO…………………………………………………………………. 22

REFERÊNCIAS……………………………………………………………………. 24
1.0 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do Problema

A flexibilidade é reconhecida como um importante componente de aptidão


física relacionada com a saúde e o desempenho atlético. De acordo com Hall (1993)
e Norkin e White (1997), a flexibilidade é entendida como sendo a liberdade de
movimento de uma articulação, sendo designada com amplitude de movimento.
Segundo Araújo e Haddad (1985) há uma relação discreta e inversa entre a
flexibilidade e a idade, sendo a magnitude diretamente proporcional à variabilidade
da idade. A flexibilidade aumenta na infância até o princípio da adolescência e
diminui ao longo da vida (ACHOUR JUNIOR, 1996). Vários fatores estão
diretamente relacionados com a redução da flexibilidade durante o envelhecimento,
como por exemplo, a combinada redução da água e do colágeno, que pode resultar
no decréscimo do tamanho dos discos vertebrais e consequentemente na
diminuição da flexibilidade da coluna (LEWIS, 1984). Outra redução relevante seria
da elastina no componente do tecido conectivo, podendo também reduzir a
mobilidade e estabilidade articular (BERMAN, 1988). SCHULTZ (1992) demonstrou
em seu estudo que a estatura e a amplitude de movimento nas articulações
declinam com a idade.
O processo natural de envelhecimento gera a diminuição das funções neuro-
musculares, alterando sua força, resistência e flexibilidade. O inicio dessas
degenerações varia e depende do músculo envolvido, juntamente com seu grau de
utilização. Essas alterações quando acompanhadas pelo sedentarismo, doenças ou
lesões declinam rapidamente (MATSUDO, 2005). De acordo com Hurley, citado por
Matsudo (2005), a perda da flexibilidade pode ser observada pela dificuldade em
subir escadas, levantar da cadeira ou da cama e precisar de ajuda para caminhar.
As modificações de ordem biológica verificáveis no declínio do organismo
humano decorrem, fundamentalmente, pelo processo de senescência, responsável
por perdas orgânicas e funcionais. Tais modificações são caracterizadas por uma
tendência geral à atrofia e por uma diminuição da eficiência funcional. Entretanto,
um organismo pode também decair, em sua força e função, devido a patologias, por
uma utilização inadequada de sua capacidade, ou mesmo por má nutrição.
A redução da prática de atividade física é observada com o avanço da idade
(VOORRIPS et al., 1993; SAUVAGE et al., 1992). A redução dos níveis de atividade
física podem ser considerados como um fator para a diminuição da flexibilidade em
idosos saudáveis.

1.2 Problema

Verificar como se comporta a flexibilidade em uma população com idade superior


a 60 anos.

1.3 Justificativa

Portanto, o propósito deste estudo é apresentar as alterações na flexibilidade


decorrentes do processo de envelhecimento e como esta capacidade se comporta
nos quatro subgrupos da terceira idade, como também se há diferenciação entre os
hemicorpos, servindo de base para prescrições futuras de treinamento para esta
população.

1.4 Objetivo Geral

Verificar quais as principais alterações da flexibilidade que ocorrem durante


o processo de envelhecimento.

1.4.1 Objetivos Específicos

1.4.1.1 Demonstrar o comportamento da flexibilidade nos movimentos de abdução


de ombro, abdução e flexão de quadril;
1.4.1.2 Demonstrar o comportamento desses parâmetros nos quatro subgrupos de
idosos;
1.4.1.3 Comparar os parâmetros entre o hemicorpo direito e esquerdo;
1.4.1.4 Verificar qual hemicorpo é mais prejudicado nesses parâmetros.
2.0 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Flexibilidade e suas Alterações com o Envelhecimento

A flexibilidade pode ser definida pela máxima amplitude de movimento


voluntário em uma ou mais articulações sem lesioná-las, de acordo com Achour
Junior (1996, p. 13).
A amplitude do movimento de uma determinada articulação depende
primariamente da estrutura e função do osso, músculo, tecido conectivo e de outros
fatores como dor e habilidade para gerar força muscular suficiente. Toda a estrutura
destes tecidos, assim como suas funções, é alterada devido ao envelhecimento.
Alguns efeitos fisiológicos decorrem do envelhecimento. Com o aumento da
idade, o fornecimento sanguíneo e a capacidade de reter água diminuem,
aumentando assim o tempo para recuperação do tecido conjuntivo após a lesão
(MYNARK & KOCEJA, citados por ACHOUR JUNIOR, 2004, p. 40).
A diminuição progressiva na amplitude do movimento articular e o aumento do
enrijecimento articular caracterizam com o avançar da idade.
Segundo Hollmann & Hettinger (1983), citado por Dantas (1995, p. 36),
quanto mais velha a pessoa, menor a sua flexibilidade, “sendo a flexibilidade natural
maior que a observada posteriormente”.
A redução da flexibilidade parece caracterizada pelo envelhecimento e, mais
fortemente, pela falta de exercícios de alongamento. Uma vez instalado, um
encurtamento muscular limita a habilidade da fibra muscular em transmitir energia
mecânica com eficiência (ACHOUR JUNIOR, 2004, p. 44).
Segundo Cotta (1978), citado por Weineck (2000, p. 224), os tendões,
ligamentos e fáscias mostram com o aumento da idade, uma diminuição do número
de células, uma perda de mucopolissacarídeos e de água e uma redução das fibras
elásticas.
Segundo Hayem (2000), citado por Achour Junior (2004, p. 41), surgem
algumas alterações primárias na qualidade estrutural do tecido conjuntivo com o
envelhecimento: rigidez com perda significativa da elasticidade, conduzindo a uma
diminuição na amplitude do movimento; diminuição da quantidade de
glicosaminoglicanas e aumento do colágeno tipo I; e envelhecimento do fuso
muscular, comprometendo à informação sobre a quantidade e velocidade do
alongamento.
Com o passar dos anos, o tecido conjuntivo torna-se mais rígido e as
articulações menos móveis. Há formação de ligações cruzadas entre fibrilas de
colágeno adjacente, reduzindo a elasticidade e favorecendo a lesão mecânica do
tecido afetado. A massa óssea diminui aproximadamente em 10% do pico de massa
óssea até os 65 anos, e cerca de 20% em torno dos 80 anos (ACHOUR JUNIOR,
2004; NIELMAN, 1999; ROBERGS, 2002).
De acordo com Alter (1999, p. 227) ligamentos, tendões e músculos são
menos elásticos e flexíveis nos idosos. Geralmente, essa mudança se deve ao
conteúdo de água diminuído (desidratação), orientação cristalina aumentada,
calcificação e substituição de fibras elásticas por fibras colágenas. Dessa forma,
esses tecidos menos elásticos estão potencialmente sujeitos as lesões, tais como
torções ou alongamentos.
Portanto, todas essas alterações, ocorridas por causa do envelhecimento, da
estrutura anatômica e da elasticidade de músculos, tendões e ligamentos vão
ocasionar um decréscimo na flexibilidade geral de pessoas mais idosas.

2.2 Componentes Músculo-Articulares Alterados com o Envelhecimento

2.2.1 Colágeno

Uma parte considerável da resistência a um movimento no extremo de sua


amplitude é causada pelo tecido conjuntivo e mais particularmente pela proteína
denominada de colágeno (GHORAYEB e BARROS NETO, 1999, p. 27).
De acordo com Alter (1999, p. 57) enquanto o colágeno envelhece,
mudanças físicas e bioquímicas específicas ocorrem. Posteriormente, essas
mudanças refletem uma redução da extensibilidade mínima que existia inicialmente
e uma rigidez aumentada. Por exemplo, o envelhecimento aumenta o diâmetro das
fibras colágenas em vários tecidos.
Segundo Komi (1992), citado por Achour Junior (2002, p. 278), o processo de
envelhecimento tem como aliada a redução da capacidade de reter água e
glicosaminoglicanas, o que provoca a aproximação das fibras. Eventualmente, isso
favorece a formação de ligações cruzadas, aumentando a viscosidade e reduzindo a
elasticidade do colágeno.
O colágeno, componente principal no tecido conjuntivo, tem uma
complacência extremamente baixa. Essa complacência baixa significa que
pequenos aumentos na quantidade de colágeno em um músculo aumentava
consideravelmente a rigidez do tecido (ALTER, 1999).
Com o avançar do tempo, o colágeno aumenta em solubilidade, tornando-se
mais espesso, sem omitir o seu acréscimo em conteúdo no músculo; em
contrapartida, leva a uma diminuição na amplitude de movimento.
O conteúdo de colágeno de alguns tecidos (tais como, ligamentos e tendões)
diminui com o envelhecimento (HAULT, LAMCASTER e DECAMP citados por
SHEPHARD, 1992), porém em outros tecidos, as fibras aumentam de tamanho
(KENNEY citado por SHEPHARD, 1982).
O colágeno, um dos primordiais componentes do tecido conectivo, torna-se
mais denso com o passar dos anos, revelando-se, concomitantemente, um
decréscimo da elastina.
O colágeno, o qual provê a estrutura básica dos tendões, sofre
degeneração progressiva com o avançar da idade (ACSM, 1997).
Para Douglas (2002), citado por Achour Junior (2004, p. 40), no idoso a maior
formação de colágeno insolúvel, de baixa digestibilidade, determina a menor
elasticidade das estruturas do tecido conjuntivo. Isso aumenta a degradação de
glicosaminoglicanas e diminui a retenção de água. A relação hexosamina/proteína é
reduzida na estrutura menos elástica do tecido conjuntivo dos idosos, conferindo
menor elasticidade.
A limitação do tecido mole que pode afetar a flexibilidade inclui
alterações no colágeno, que é o componente primário do tecido conectivo fibroso
que forma os ligamentos e os tendões. O envelhecimento causa um incremento na
cristanilidade das fibras colágenas e aumenta o diâmetro da fibra, deste modo
reduzindo a capacidade de extensão.
Com o envelhecimento, as fibras colágenas tornam-se mais orientadas
reforçando o número de ligações intra e intermolecular, dificultando o “deslizamento”
das proteínas (ACHOUR JUNIOR, 1996).
2.2.2 O Tecido Elástico e a Elastina

O tecido elástico é um componente estrutural principal do tecido vivo e é


encontrado em várias quantidades por todo o corpo. Há uma grande quantidade de
tecido elástico no sarcolema de uma fibra muscular (o tecido conjuntivo que circunda
o sarcômero). Dessa forma, o tecido elástico desempenha um papel importante na
determinação da amplitude possível da extensibilidade das células musculares
(ALTER, 1999, p. 57).
O componente principal das fibras elásticas é a proteína elastina. Trata-se de
uma proteína estrutural muito mais resistente aos processos extrativos do que o
colágeno (JUNQUIRA e CARNEIRO, 1995, p. 69).
A elastina refere-se ao caráter bioquímico das fibras elásticas (ALTER, 1999).
A elastina é cerca de 15 vezes mais flexível que o colágeno. Ela confere
elasticidade a um tecido, enquanto o colágeno protege contra o excesso de
elasticidade.
As fibras elásticas exibem mudanças físicas e bioquímicas específicas como
resultado do envelhecimento. Elas perdem sua elasticidade e sofrem várias outras
alterações, incluindo fragmentação, desgaste, calcificação e outras mineralizações e
um número aumentado de ligações cruzadas (ALTER, 1999, p. 59).
Segundo Bick (1961), Gosline (1976), Shubert e Hammerman (1986), Yu e
Blumenthal, citados por Alter (1999), bioquimicamente, com o envelhecimento, há
um aumento nos aminoácidos que contém grupos polares da mesma forma. Essas
alterações parecem ser um dos responsáveis pela perda de elasticidade relacionada
com a idade avançada e a rigidez aumentada.
As concentrações plasmáticas de elastase caem ao longo da vida adulta e a
crescente ruptura de elastina em uma pessoa idosa parece atribuível a um
decréscimo simultâneo nos níveis do inibidor de elastase plasmática (HALL e
colaboradores citado por SHEPHARD, 1980, p. 50).

2.2.3 Substância Fundamental e Polissacarídeos


A substância fundamental é basicamente composta de glicosaminoglicanas e
de proteoglicanas (anteriormente denominadas de polissacarídeos). Elas estão
ligadas entre si com a água, formando um gel flexível, que lubrifica os espaços entre
as fibras de colágenos, diminuindo o atrito entre as moléculas de colágenos e
deslizando com a fluidez (REID, 1992, citado por ACHOUR JUNIOR, 2002).
Complexos de proteínas e polissacarídeo (proteoglicanos) desempenham um
papel importante nas cartilagens, fluido sinovial e pele (ROBERT, citado por
SHEPARD, 1982, p. 51). Eles têm uma forte carga negativa que exclui grandes
moléculas e fornece elasticidade em razão de uma extrema hidrofilia. Lacunas em
uma rede de cadeias conectadas de colágeno são preenchidas com polissacarídeos,
sendo que as fibras menores são “coladas” a elementos maiores por um contínuo de
cemento com a substância pulverizada.
A substância fundamental amorfa permite que o tecido elástico, o colágeno e
as fibras musculares deslizem uns sobre os outros com um atrito mínimo. O
envelhecimento leva a uma perda de água da substância fundamental, com um
aumento na densidade do gel e um decréscimo em seu volume (KENNEY, citado
por SHEPARD, 1982).
Apesar de o envelhecimento aumentar o conteúdo de colágeno dos tecidos, a
quantidade e o grau de polimeração da substância fundamental de proteoglicanos
diminui, reduzindo a estabilidade de tecidos, tais como as cartilagens (ROBERT,
citado por SHEPHARD, 1982).
A perda de polissacarídeos pode refletir uma formação diminuída pelas
células do tecido conjuntivo, uma alteração crescente da substância fundamental, ou
ambos. Uma perda progressiva da função de elasticidade da substância
fundamental também pode tornar o tecido mais rígido e menos permeável aos
nutrientes.

2.2.4 A Fáscia

O sistema conectivo que une os ossos aos elementos contráteis, os quais


permitem ao sistema fibroelástico tencionar, é conhecido como fáscia dos músculos,
uma estrutura do tecido conectivo em forma de camada membranosa
(TERMINOLOGIA ANATÔMICA, 2001, citada por ACHOUR JUNIOR, 2002, p. 281).
É o tecido conjuntivo que faz com que o músculo mude de comprimento.
Durante o movimento passivo, a soma da fáscia muscular é responsável por 41% da
resistência total ao movimento (JOHNS e WRIGHT, 1962, citados por ALTER, 1999).
Segundo Achour Junior (2002) a fáscia pode encurtar-se com o
envelhecimento e com a falta de exercícios de alongamento, com posturas
impróprias no lazer e no trabalho. Estes encurtamentos podem pressionar a
condução nervosa, resultando em dor.

2.3 Comportamentos dos Tecidos Moles Alterados com o Envelhecimento

2.3.1 Cápsula Articular

A maioria das articulações do corpo, são do tipo diartroses (sinoviais), em que


as superfícies ósseas são cobertas por cartilagem articular e separadas por uma
fenda articular. Os tecidos moles da articulação incluem a cápsula fibrosa que
envolve a articulação, a membrana sinovial que secreta o líquido sinovial, os
ligamentos de sustentação e a cartilagem hialina importantes para absorção de
impactos (ACHOUR JUNIOR, 1996, p. 32).
Devido ao seu maior grau de mobilidade, são as articulações sinoviais as
normalmente responsáveis pela manifestação da flexibilidade.
Estas articulações, dependendo de sua natureza possibilitam a realização de
movimentos angulares de deslizamento (flexão – extensão – abdução – adução), de
rotação e de circundação (DANTAS, 1995, p. 15).
A cápsula articular e os tecidos conjuntivos associados, assim como o próprio
músculo, geram a maior parte da resistência à flexibilidade (FOSS e KETEYIAN,
2000).
Segundo Tabary et al., citado por Achour Junior, 2004, p. 42, cápsula articular
oferece resistência ao alongamento e adapta-se com o treinamento. Na articulação
imobilizada, a cápsula é invadida por uma proliferação de tecido fibroso e gorduroso,
e todo sistema musculoarticular se retrai, impedindo a liberdade de movimentos dos
ligamentos.
Quando uma determinada articulação é imobilizada em encurtamento e com
atividades sem sustentação de peso, diminui a síntese de proteína e degrada-se
proteína mais rapidamente, o que reduz a amplitude do movimento e a atividade
contrátil (WILLIAM & GOLDSPINK, citado por ACHOUR JUNIOR, 2004).

2.3.2 O Tendão

O tendão realiza a interação entre músculos e ossos, possibilitando a


transferência de força do músculo para o osso e vice-versa, com a menor perda
possível, estando, assim, em série com a fibra muscular (DANTAS, 1995).
De acordo com Alter (1999, p. 60) os tendões são extremamente importantes
para determinar a qualidade de movimento de uma pessoa.
O tendão tem a função de estocar energia e amortecer os impactos. Por isso,
apresenta característica de força pela estrutura do colágeno e é um pouco
extensível devido à presença de elastina das fibras elásticas (ACHOUR JUNIOR,
1996, p. 30).
A quantidade de água (hidratação) associada a tecidos conjuntivos, tal como
o tendão, declina com o envelhecimento (ALTER, 1999).
Quando o tendão é inutilizado pela falta de exercícios, ele torna-se muito
rígido, perdendo todas suas características elásticas. Porém se o músculo é
conectado com um tendão muito alongado, ou seja, um tendão muito maleável, esse
acaba deformando excessivamente os componentes plásticos (ACHOUR JUNIOR,
1996).
Segundo Arendt, citado por Achour Junior (2002, p. 316), com o
avanço da idade o tendão aumenta sua quantidade de colágeno insolúvel, aumenta
as ligações cruzadas, aumenta o diâmetro das fibrilas, diminui a renovação de
colágeno, reduz a capacidade de reter água e proteoglicana e reduz a
vascularização. Com isso, aumenta a propensão de lesão e dificulta o processo de
cura.

2.3.3 O Ligamento

Os ligamentos são responsáveis pela junção de dois ossos, assumindo


características mecânicas de plasticidade, e conferem à articulação adaptabilidade
às novas situações sem perda de estabilidade (DANTAS, 1995, p. 19).
Os ligamentos são maleáveis e flexíveis a fim de dar liberdade de movimento,
mas fortes, rígidos e inextensíveis a fim de não ceder facilmente às forças aplicadas
(ALTER, 1999, p. 61).
Segundo Achour Junior (1996, p. 30) a função do ligamento consiste em
manter a pressão fisiológica na superfície articular, limitar o excesso de movimento e
promover o feed back sobre a posição articular.
Com o envelhecimento, ao nível das articulações, o desgaste progressivo das
cartilagens, que faz surgir camadas profundas mais rugosas, e a redução das
superfícies articulares, compromete e limita a mobilidade dos segmentos. Esse fato
é agravado pela alteração dos ligamentos, que perdem seus elementos elásticos em
benefício de estruturas fibrosas, e pela menor lubrificação das superfícies articulares
(NADEAU e PÉRONNET, 1985, p. 45).
O ligamento, tornando-se excessivamente rígido, aliando o envelhecimento
com a falta de exercícios de alongamento, altera a biomecânica normal do corpo e
pode provocar lesão intrínseca, correlacionado com o mau alinhamento (BEYNNON,
1991, citado por ACHOUR JUNIOR, 1996).

2.4 Componente Proprioceptivo Alterado com o Envelhecimento

2.4.1 Fuso Muscular

Fuso muscular é um órgão sensitivo composto de fibras musculares envolvido


por uma cápsula localizada entre e em paralelo às fibras musculares (ACHOUR
JUNIOR, 1996, p. 37).
Existem mais fusos nos músculos que exercem ação antigravitacional, onde
predominam as fibras oxidativas, do que nos músculos com preponderância de
fibras glicolíticas, ou seja, os fusos musculares são encontrados em maior número
nas fibras de contração lenta do que nas de contração rápida (DANTAS, 1995).
Segundo Mynark & Koceja (2001), citado por Achour Junior (2004), em
razão do envelhecimento, a cápsula do fuso muscular pode ter sua densidade
laminar do colágeno aumentada, o que diminui assim a capacidade de deformar-se
e sensibilidade de transmitir a alteração no comprimento da fibra muscular, bem
como o número de fibras intrafusais, a velocidade e a sensibilidade para responder
ao sistema gama e gerar a contração muscular, podendo, por sua vez, aumentar o
tempo para responder ao alongamento.

2.5 Alterações do Músculo com o Envelhecimento

Os músculos constituem num componente fundamental da flexibilidade. Os


músculos esqueléticos constituem-se de milhares de fibras contráteis individuais
cilíndricas chamadas fibras musculares. Estas fibras são células longas, finas e
multinucleadas, possuindo uma membrana chamada sarcolema (DANTAS, 1995, p.
20).
O processo normal de envelhecimento traz uma diminuição quase
imperceptível nas funções normais do músculo, incluindo força muscular, endurance,
agilidade e flexibilidade. Fisiologicamente, uma das mudanças mais notáveis
associada com o envelhecimento é a atrofia ou perda de massa muscular. Essa
perda é devido à redução em tamanho e número das fibras musculares (GROB;
1983; E. GUTMANN, 1977; HOOPER, 1981; ROCKSTEIN e SUSSMAN, 1979;
citados por ACHOUR JUNIOR, 2002, p. 46).
Segundo Wilmore, 1991, citado por Achour Junior (2002), a diminuição do
número de sarcômero pode contribuir para a reduzida flexibilidade comumente
associada com a idade.
A área das fibras do tipo II tem sido encontrada significativamente menor nos
membros inferiores do que nos superiores, particularmente nas mulheres, o que
indicaria diferenças no processo de envelhecimento e / ou diferenças no padrão de
atividade nos membros (MATSUDO, 2001, p. 38).
As mudanças ocorridas com o avanço da idade variam em grau dependendo
dos músculos envolvidos e seus graus de uso durante o envelhecimento. O músculo
de células nervosas no sistema musculoesquelético também diminui com a idade (E.
GUTMANN, 1977, citado por ACHOUR JUNIOR, 2002).
Com o envelhecimento as fibras musculares atrofiam-se, fazendo com que
haja uma reposição pelos tecidos gordurosos e fibrosos (colágeno), aumentando,
assim, a rigidez do tecido muscular, consequentemente, diminuindo a flexibilidade.
De acordo com Booth et all (1994), citado por Matsudo (2001), a hipotrofia
muscular acontece em duas fases: na primeira, dos 24 aos 50 anos, perde-se dez
por cento da área total transversa do músculo; na segunda, dos 50 aos 80 anos,
perde-se outros trinta por cento da área original.
3.0 METODOLOGIA

3.1 População e Amostra

Esta pesquisa possui a parceria da Secretaria do Esporte e Lazer da Cidade


de Curitiba/Paraná - SMEL, Fundação de Ação Social – FAS e Drogarias Nissei.
Estas instituições forneceram o cadastro de idosos, sendo então mapeada a cidade
em suas oito regionais com os devidos grupos de idosos (grupos da SMEL e FAS,
principalmente), e o número total estimado de idosos residentes em cada regional,
através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Avaliou-se avaliar 807 indivíduos. A população idosa é classificada em quatro
grupos, sendo indivíduos que encontram na faixa etária de 60 – 64 anos; indivíduos
que encontram na faixa etária de 65 – 69 anos; indivíduos que encontram na faixa
etária de 70 – 74 anos; indivíduos que encontram na faixa etária de 75 – 79 anos.
Procurou-se dividir proporcionalmente a amostra total a partir dessas quatro
categorias. Depois de realizada a estratificação foi estabelecido o cronograma para
a coleta de dados. A amostra foi constituída de indivíduos pertencentes ao grupo
idoso sendo definido como os sujeitos que estivessem, na data da coleta, com idade
cronológica superior ou igual a 60 anos (OMS, 2001).
Os sujeitos foram convidados a participar voluntariamente da coleta de dados,
após breve explicação e aprovação através do Termo de Consentimento (vide
anexo).

3.2 Instrumentos e Procedimentos

Para a coleta de dados foi utilizado o seguinte instrumento já validado,


relacionado a seguir:
Aptidão Física - Função Neuromotora:
• Flexibilidade foi determinada a partir de um teste, sendo que foi utilizado o
aparelho inclinômetro no movimento de flexão de quadril, abdução de quadril
e abdução do ombro segundo a metodologia proposta por Achour Jr (2004).
i. Flexão do Quadril: o indivíduo estará na posição decúbito dorsal
e o avaliador colocará o inclinômetro acima da articulação do
tornozelo, estendendo uma perna de cada vez. O auxiliar não
permitirá que o joelho da outra perna (que esta no chão) eleve-
se, ou que haja rotação do quadril. O aparelho deve estar
zerado para no plano horizontal, para então ser apoiado no
segmento corporal e realizada a medida;
ii. Abdução do Quadril: o indivíduo estará na posição decúbito
lateral e o avaliador colocará o inclinômetro acima da articulação
do tornozelo, abduzindo a perna e anotando o resultado. O
auxiliar estará apoiando o quadril do avaliado para que este não
se movimente. O aparelho deve estar zerado para no plano
horizontal, para então ser apoiado no segmento corporal e
realizada a medida;
iii. Abdução do Ombro: o indivíduo estará na posição ereta e o
avaliador colocará o inclinômetro acima da articulação do punho,
flexionando o ombro o máximo possível, anotando o resultado.
O auxiliar estará apoiando o lado contrário do avaliado para que
este não se movimente. O aparelho deve estar zerado para no
plano horizontal, para então ser apoiado no segmento corporal e
realizada a medida;

3.3 Planejamento do Estudo e Estatística

3.3.1 Tipo de pesquisa é de caráter direto, descritivo correlacional e experimental.

3.3.2 Este estudo tem como variável dependente a flexibilidade.

3.3.3 Análise dos dados - as informações desta pesquisa foram armazenadas em


um banco de dados do programa Access 2003 com o objetivo de ser realizado o
melhor controle possível na entrada das informações, sendo digitadas e conferidas
por indivíduos distintos, minimizando a possibilidade de erros de digitação.
Posteriormente, o banco de dados foi transferido para o pacote estatístico SPSS
11,1.
3.3.4 Para o tratamento estatístico foi utilizada a correlação.
4.0 RESULTADOS

Foram avaliados 807 indivíduos, com idade cronológica superior ou igual a 60


anos, procurando dividir essas pessoas em quatro grupos distintos, conforme a
idade das mesmas.
A flexibilidade dos avaliados foi obtida através do aparelho inclinômetro no
movimento de flexão de quadril, abdução de quadril e abdução do ombro segundo a
metodologia proposta por Achour Jr. (2004).
A tabela 1 apresenta os resultados da flexibilidade dos avaliados, com o
número de avaliados em cada grupo (n), mostrando os valores máximos e mínimos
tanto do hemicorpo direito quanto do hemicorpo esquerdo, medidos em graus, das
pessoas de cada faixa etária. Contém também a média dos valores de cada grupo
avaliado, juntamente com o desvio padrão correspondente. Nessa mesma tabela,
ainda é colocado os resultados que apresentaram diferenças estatisticamente
significativas, que são identificados pelas legendas: “a” e “b”.

Tabela 1. Resultados da flexibilidade de cada faixa etária, contendo valores


máximos e mínimos, e valores médios com desvio padrão.
60 – 64 65 – 69 70 – 74 75 – 79
Faixa Etária
(n=264) (n=261) (n=181) (n=101)
Abdução de Ombro
Direito (graus) 108 – 222 64 – 244 72 – 210 92 – 200
178,4 ± 16,6 173,9 ± 19,5a 173,4 ± 19,3a 168,1 ± 19,3a
Esquerdo (graus) 86 – 222 58 – 206 64 – 206 98 – 200
178,0 ± 16,7 174,3 ± 20,5 172,4 ± 20,3a 169,6 ± 19,8a
Flexão de Quadril
Direito (graus) 42 – 128 40 – 188 20 – 180 24 – 116
90,7 ± 14,9 87,9 ± 16,6 89,0 ± 16,9 83,9 ± 15,8a
Esquerdo (graus) 50 – 130 24 – 188 34 – 194 50 -118
89,8 ± 13,6 87,6 ± 16,9 87,5 ± 18,4 85,5 ± 13,8
Abdução de Quadril
14 – 94 18 – 102 16 – 90 16 – 78
Direito (graus)
49,0 ± 13,6 46,3 ± 14,8 43,6 ± 14,4a 39,7 ± 12,2ab
16 – 100 16 – 94 12 – 94 2 – 76
Esquerdo (graus)
48,0 ± 13,5 45,9 ± 14,4 43,6 ± 14,1a 40,1 ± 12,3ab
a. diferente da faixa etária 60 – 64, p < 0.05
b. diferente da faixa etária 65 – 69, p < 0.05

A média dos valores de abdução de ombro do hemicorpo direito declinou


estatisticamente (p < 0,05) da faixa etária 60 – 64 anos quando comparado com as
demais. Diferenças estatisticamente significativas também podem ser observadas,
nos resultados obtidos nesse mesmo movimento no hemicorpo direito, porém essa
redução foi apresentada apenas da 60 – 64 anos quando comparadas com os
indivíduos acima de 70 anos.
O movimento de flexão de quadril declinou apenas no hemicorpo direito entre
os indivíduos mais jovens (60 – 64 anos) para os mais velhos (75 – 79 anos)
As reduções dos valores médios do movimento de abdução de quadril foram
similares entre hemicorpos, declinando da faixa 60 – 64 para as duas últimas faixas
etárias (acima de 70 anos), como também da faixa 65 – 69 para a faixa 75 – 79
anos.
A tabela 2 apresenta a análise onde não evidenciou diferenças significativas
entre o hemicorpo direito e esquerdo, nos resultados de abdução de ombro, flexão
de quadril e abdução de quadril em todas as faixas etárias avaliadas.

Tabela 2. Teste “t” de Student comparando os dois hemicorpos.


60 – 64 65 – 69 70 – 74 75 – 79
Faixa Etária
( n=264 ) ( n=261 ) ( n=181 ) ( n=101 )

Ab Ombro D x E 0,699 0,769 0,742 0,580

Flx Quadril D x E 0,834 0,827 0,495 0,815

Ab Quadril D x E 0,711 0,702 0,705 0,608


5.0 DISCUSSÃO

Sobre os grupos de idosos avaliados percebe-se uma grande variabilidade de


características sócio econômicas, físicas e biológicas, por se tratar de uma pesquisa
em que 807 pessoas participaram. O procedimento de estratificação e sorteio
aleatório utilizado para convidar os indivíduos a participarem desta pesquisa, confere
um ótimo grau de confiabilidade ao estudo, por se tratar de um grande número de
indivíduos com várias características distintas que significam os resultados mais
próximos possíveis dos números absolutos da população de Curitiba.
A análise utilizando demonstrou não existirem diferenças significativas entre o
hemicorpo direito e esquerdo, nos resultados de abdução de ombro, flexão de
quadril e abdução de quadril em todas as faixas etárias avaliadas. Este fato revela
uma possível simetria de amplitude entre os dois lados, direito e esquerdo, nos
movimentos avaliados no estudo, que pode ser explicado pelo fato de que quando
um hemicorpo é usado, o outro também é utilizado na mesma intensidade, assim
eles acabam sofrendo praticamente as mesmas alterações com o envelhecimento.
Abdução do quadril é o movimento do membro inferior lateralmente para fora
da linha média do corpo (ALTER, 1999). Conforme apresenta o gráfico 1, os
resultados do movimento de abdução de ombro demonstram que depois dos 60 – 64
anos houveram reduções com diferenças estatisticamente significativas,
relacionando esse grupo aos demais, com exceção do resultado do hemicorpo
esquerdo da faixa etária 65 – 69. Nota-se que a partir dos 60 – 64 anos há uma
redução progressiva na flexibilidade, observando a abdução de ombro. Como
demonstra o gráfico 1, os resultados durante os 65 a 69 anos continuam reduzindo,
porém com uma intensidade menor que o grupo etário anterior.
Um dos fatores que podem explicar os declínios encontrados no gráfico 1, é
que a abdução na articulação glenoumeral e escapulotorácica, definida como o
movimento do braço para cima do plano coronal a partir da posição anatômica, não
é muito utilizada no dia-a-dia das pessoas avaliadas. Exercícios específicos de
alongamento, que exercitem tal movimento do braço, poderiam ter efeitos benéficos
para os indivíduos, principalmente após os 60 anos em que há uma grande perda
significativa, a fim de manter a amplitude de abdução de ombro, reduzindo os efeitos
deletérios do envelhecimento.
Gráfico 1. Resultados do movimento de abdução de ombro dos hemicorpos direito e
esquerdo

179
177
s

175
173 Ab OD
graus

Ab OE
171
169
167
165
60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79
Faixa Etária

A flexão do quadril é definida como uma diminuição no ângulo entre a coxa e


o abdômen (ALTER, 1999). O gráfico 2 mostra que os resultados de movimento de
flexão de quadril se mantiveram em um padrão estável com o passar dos anos, sem
haver diferenças estatisticamente significativas, com exceção do resultado do
hemicorpo direito na faixa etária de 75 – 79 anos relacionando com o grupo de 60 –
64 anos.
Os resultados encontrados no gráfico 2, diferentemente das variações
mostradas no gráfico 1, podem ser explicados pelo fato de que a flexão de quadril é
realizada pelos idosos nos seus afazeres básicos diários, como uma atividade física
comum que pode ser uma simples caminhada, e até mesmo em exercícios de
alongamento praticados pela maior parte dos avaliados.
A diferença estatisticamente significativa, encontrada no gráfico 2, entre a
faixa de 75 – 79 anos e a faixa de 60 – 64 anos, pode ser causada por uma redução
acentuada no nível de atividade física a partir dos 75 anos, que dessa maneira, o
organismo não consegue contrabalancear os efeitos deletérios da flexibilidade com o
envelhecimento, ocorrendo uma perda significativa de amplitude no movimento de
flexão do quadril.

Gráfico 2. Resultados do movimento de flexão de quadril dos hemicorpos


direito e esquerdo
94

92
s

90
Flx QD
graus

88
Flx DE
86

84

82
60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79
Faixa Etária

Abdução do quadril é o movimento do membro inferior lateralmente para fora


da linha média do corpo (ALTER, 1999). A partir dos resultados de abdução de
quadril apresentados pelo gráfico 3, percebe-se que esse movimento é aquele que
demonstrou maiores alterações deletérias com o passar dos anos, em comparação
com as alterações sofridas pelos demais movimentos avaliados nesse estudo.
Os resultados, presentes no gráfico 2, apresentam diferenças
estatisticamente significativas entre as faixas etárias 60 – 64 anos e 70 – 74 anos,
entre 60 – 64 anos e 75 – 79 anos, entre as idades de 65 – 69 anos e 75 – 79 anos.
Nota-se que a amplitude de movimento de abdução de quadril começa a reduzir
significativamente a partir dos 70 anos, atingindo um declínio intenso em torno dos
75 anos dos idosos. Essas evidências deixam claro que, ao contrário do movimento
de flexão de quadril, a falta de movimentos de abdução de quadril nas atividades
básicas da vida diária e em exercícios de alongamento básicos traz como
conseqüência, em função de senilidade em conjunto com a inatividade desse
movimento, uma flexibilidade reduzida.
Portanto, para manutenção da amplitude de abdução de quadril, com o
passar dos anos, é necessária a prática de atividades físicas que exijam a
movimentação específica desse movimento, até mesmo antes dos 60 anos, para
que os efeitos do envelhecimento possam ser atenuados.
Gráfico 3. Resultados do movimento de abdução de quadril dos hemicorpos direito
e esquerdo

50

48
graus

46
Ab QD
44
Ab QE
42

40

38
60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79
Faixa Etária

O processo natural de envelhecimento gera a diminuição das funções


musculares, alterando sua força, resistência e flexibilidade. O início dessas
degenerações varia e depende do músculo envolvido, juntamente com seu grau de
utilização. Essas alterações quando acompanhadas pelo sedentarismo, doenças ou
lesões declinam rapidamente (MATSUDO, 2005).
Segundo Holland (1998), citado por Alter (1999), uma amplitude de
movimento adequada no quadril não assegura uma amplitude no ombro. De maneira
semelhante, suficiente amplitude em um quadril pode não indicar amplitude
adequada no outro quadril. Em resumo, a medida de uma ou de várias articulações
do corpo não pode ser usada, efetivamente, para prognosticar a amplitude de
movimento em outras partes do corpo.
Portanto, a falta de uso em uma determinada articulação pode explicar,
possivelmente, porque o grau de movimento de abdução de quadril é alterado de
maneira mais significativa, sofrendo decréscimos mais intensos, com o passar dos
anos, que os demais movimentos de flexibilidade avaliados nesse estudo.
6.0 CONCLUSÃO

A senilidade, ou envelhecimento, é geralmente acompanhada pelo


decréscimo das funções musculares, alterando sua força, resistência e flexibilidade.
Com o passar dos anos, a amplitude de movimento é reduzida
progressivamente. Os efeitos deletérios da idade biológica avançada fazem com que
os limites estruturais da flexibilidade (músculo, tendões, ligamentos e outros tecidos
conjuntivos) sejam prejudicados, gerando uma maior resistência a flexibilidade.
A literatura apresenta que a flexibilidade pode ser modificada por meio do
exercício, ocorrendo que as mesmas alterações podem ser realizadas a favor da
manutenção da amplitude de movimento com o envelhecimento, ou seja, a atividade
física pode contrabalancear as perdas orgânicas e funcionais ocasionadas pelo
processo de senescência.
Entretanto, não foram encontrados estudos que consigam diferenciar os
efeitos do envelhecimento dos da inatividade, apesar de estar comprovado que
pessoas pouco ativas e com idade avançada são, em geral, menos flexíveis; quer
dizer, têm menos mobilidade articular e elasticidade muscular (NAHAS, 2001).
Após a análise dos resultados obtidos na pesquisa de campo, verificou-se que
o movimento de abdução de quadril é aquele que mais sofre reduções na amplitude
articular com o envelhecimento, em comparação com os movimentos de flexão de
quadril e abdução de ombro. Essa análise pressupõe que a abdução de quadril é o
movimento menos usado nas atividades físicas gerais praticadas por pessoas a
partir dos 60 anos de idade, comparando com os demais movimentos avaliados no
estudo.
Com base nos resultados desse estudo, nota-se que as amplitudes de
movimento articular de abdução de ombro e de quadril sofreram alterações
significativas entre uma faixa etária e outra dos avaliados, e, portanto, esses
movimentos merecem uma atenção especial no treinamento de flexibilidade para os
idosos. Exercícios específicos de alongamento, que trabalhassem a abdução de
quadril e de ombro, poderiam minimizar as perdas dessas flexibilidades específicas
ocasionadas pelo envelhecimento.
Como a flexibilidade está envolvida nas atividades da vida diária, as pessoas
devem fazer alongamentos musculares para manterem uma amplitude articular
aceitável, afim, dessa maneira, de moverem-se com mais facilidade com uma
probabilidade menor de sofrerem problemas de dores e lesões musculares e
articulares. Assim, os indivíduos estarão aptos para contrabalancear os efeitos do
envelhecimento, sem exageradas amplitudes de movimento, e obter uma boa
postura e um relaxamento muscular adequado – condições fundamentais para a boa
saúde e bem-estar (ACHOUR JUNIOR, 2004).
REFERÊNCIAS

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a Saúde e no Desempenho Atlético. 2ª ed. Londrina: Phorte Editora, 1996.

ACHOUR JUNIOR, A. Exercícios de Alongamento: Anatomia e Fisiologia. 1ª ed.


São Paulo: Manole, 2002.

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Paulo: Manole, 2004.

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1999.

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Rio de Janeiro: Revinter, 1994.

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avaliação médica – aspectos especiais e preventivos. São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte: Editora Atheneu, 1999.

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MATSUDO M., Sandra M. Avaliação do Idoso – Física & Funcional. 2ª ed. São
Caetano do Sul: Midiograf, 2005.

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Goniometria. 2ª Edição, Ed. Artes Médicas, 1997.

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