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Resenha Do Livro Retratos de Família
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Andrea Cardarello
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All content following this page was uploaded by Andrea Cardarello on 25 April 2018.
Andrea Cardarello
Universidade Federal do Rio Grande do Sul* – Brasil
*
Mestranda em Antropologia Social.
o fotógrafo quiseram que ela fosse” (p. 143-144). Portanto, recomenda-se que,
da mesma forma como se avaliam os documentos verbais, as fotos sejam com-
preendidas através da apreciação crítica de suas mensagens.
Embora as imagens sejam excelentes recursos para a descrição de deter-
minadas coisas (por exemplo, formas geométricas, gestos e expressões faciais
e corporais), as idéias, teorias, sentimentos e deduções não são transponíveis
para a imagem fixa e isolada. A natureza polissêmica da imagem suscita leitu-
ras diferentes de acordo com a variabilidade da recepção e interpretação do
leitor. Essas leituras diferenciadas são introduzidas por aspectos como a idade,
sexo e nível social. É por isso que “[…] não olhamos apenas para uma foto,
sempre olhamos para a relação entre nós e ela” (p. 145). itando Arnheim: “o
que se vê, depende de quem olha […]” (p. 130).
Dessa forma, raramente a imagem prescinde do código escrito. As legen-
das são geralmente indispensáveis, podendo, inclusive, transformar o conteúdo
observado. A autora nos lembra que foi nos trabalhos de antropologia visual,
particularmente com as contribuições de Margaret Mead, que se tomou cons-
ciência de que as imagens precisam ser descritas por palavras para serem
incorporadas ao trabalho científico. “Não é possível utilizar apenas o texto não-
verbal, cuja ambigüidade de um lado e mutismo de outro abrem demais as
questões apresentadas, deixando-as indefinidas e inadequadas a uma sistema-
tização científica.” (p. 152-153).
No entanto, essa transposição verbal nem sempre dá conta de todas as
contribuições da fotografia: a transposição da imagem para palavras dificil-
mente se completa, sendo freqüentemente empobrecedora. Com isso Leite
observa que cada uma das diferentes fontes tem vieses específicos e exprime,
na maior parte das vezes, um aspecto limitado da questão focalizada pelo pes-
quisador.
Para fazer todos estes comentários, a autora se baseia, fundamentalmen-
te, em uma coleção de retratos de família de álbuns cedidos por descendentes
de imigrantes de várias origens. São famílias italianas, alemãs, portuguesas,
judias russas, espanholas, marroquinas, suecas, libanesas e japonesas que aca-
baram por se reunir na cidade de São Paulo no início do século. Abrangendo o
período de 1890 a 1930, esta coleção de fotografias compreende três gerações.
A esses retratos foram acrescentadas fotografias de família de acervos públi-
cos e os publicados em revistas ou almanaques. Por fim, a autora incluiu na sua
coleção fotos de famílias tradicionais brasileiras, das camadas dominantes e de
camadas médias. Um dos capítulos do livro também aborda a família do século
não pode ser atribuída inteiramente à imagem que a família queria transmitir de si
mesma, se quando foi produzida a imagem fotográfica exigia um longo tempo de
exposição e a atenção dos retratados precisava ser atraída por um “vai sair um
passarinho” do fotógrafo. (p. 75-76).