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Atualização

Gramatical

Aula 8

Pontuação

Amélia Lopes Dias de Araújo


Compreender o emprego dos sinais de
Meta pontuação na Língua Portuguesa.

Ao final da aula, o aluno será capaz de:

1. Empregar o ponto e vírgula de acordo


Objetivos com as regras da norma culta;

2. Empregar os sinais de pontuação


(colchetes, travessão e aspas) de acordo
com as regras da norma culta.
sUMÁRIO
Introdução..................................................................................................................................4
8.1 Ponto e vírgula...................................................................................................................4
8.2 Dois pontos........................................................................................................................7
8.3 Reticências.........................................................................................................................8
8.4 Colchetes............................................................................................................................9
8.5 Aspas.....................................................................................................................................10
8.5.1 Aspas e ponto final......................................................................................................11
8.6 Travessão............................................................................................................................12
Conclusão...................................................................................................................................13
Referências................................................................................................................................14
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Introdução

Jamais usei ponto e vírgula. Já usei ‘outrossim’, acho que já usei até ‘deveras’

e vivo cometendo advérbios, mas nunca me animei a usar ponto e vírgula. Tenho

um respeito reverencial por quem sabe usar ponto e vírgula e uma admiração

ainda maior por quem não sabe e usa assim mesmo, sabendo que poucos terão

autoridade suficiente para desafiá-lo.

[VERÍSSIMO, Luis Fernando. Zero Hora, 18-4-1999.]

Talvez nos traga algum conforto saber que o ponto e vírgula é capaz de intimidar
escritores do porte de Luis Fernando Veríssimo. Mas logo nosso alívio se esvai quando
lembramos que a licença dada a ele não nos contempla. Então mãos à obra, vamos voltar
aos nossos estudos de pontuação.
Como vimos na aula 7, os sinais de pontuação surgiram inicialmente como recursos
para representar na linguagem escrita pausas, entonações, interrupções bruscas. Em razão
disso, valemo-nos de vários outros sinais, além da vírgula, para criar relações de sentido e
tornar mais eficiente e expressivo o ato de comunicação.
Nesta aula 8, veremos os demais sinais de pontuação e como eles devem ser
empregados de acordo com a norma culta.

8.1 Ponto e vírgula

O uso do ponto e vírgula, além de obedecer a critérios sintáticos, está relacionado


também ao estilo de quem escreve. Destacamos os casos em que o emprego do ponto e
vírgula é de regra:

a) Entre orações coordenadas que já apresentam vírgulas:

“Se o homem peca nos maus passos, paguem os pés; se peca nas más obras,
paguem as mãos; se peca nas más palavras, pague a língua; se peca nos maus
pensamentos, pague a memória; (...)” [Pe. Vieira.]

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b) Entre orações coordenadas longas

“Os velhos cronistas são unânimes em dizer que a certeza de que o marido ia
colocar-se nobremente ao lado do alienista consolou grandemente a esposa do
boticário; e nem notam com muita perspicácia o imenso poder moral de uma
ilusão (...).” [ASSIS, Machado de. O alienista.]

OBSERVAÇÃO

Orações coordenadas separam-se por vírgula. Coordenadas adversativas e


conclusivas podem ser separadas também por ponto e vírgula, mesmo quando de curta
extensão. Essa opção acentua a ideia de oposição ou conclusão. Como podemos ver
abaixo:
“Os sacrifícios serão enormes; porém não desistiremos.”

Nós poderíamos usar a vírgula na frase acima, mas repare que a ideia de oposição
não teria a mesma intensidade dada pelo ponto e vírgula à primeira frase.

“Os sacrifícios serão enormes, porém não desistiremos.”

c) Separando orações introduzidas por conjunções pospositivas

As conjunções adversativas (exceto mas) – porém, todavia, contudo, entretanto, no


entanto, não obstante – e todas as conjunções conclusivas (pois, portanto, etc.) podem se
deslocar ao longo da oração em que se encontram. Quando essas conjunções estiverem
ligando duas orações, a primeira poderá ser separada da segunda por ponto e vírgula:

Ele falava muito bem; contudo, não conseguiu realizar a palestra.


Ele falava muito bem. Contudo, não conseguiu realizar a palestra.

As conjunções pospositivas podem deslocar-se para o interior do segundo período:

Ele falava muito bem; não conseguiu, contudo, realizar a palestra.


Ele falava muito bem; não conseguiu realizar a palestra, contudo.

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Repare nas frases acima que:

I – O ponto e vírgula não muda de posição, ele assinala o fim da primeira parte do
período.

II – No lugar do ponto e vírgula, seria correto o uso do ponto, mas haveria a perda da
coesão entre os períodos.

III – A conjunção, uma vez deslocada, passa a ser tratada como uma intercalação
comum, ficando obrigatoriamente separada por vírgulas.

d) Entre enumerações complexas

Quando estamos pontuando uma enumeração cujos elementos já contenham vírgulas,


é indispensável o uso do ponto e vírgula. Se usarmos apenas vírgulas na separação dos itens
(como na enumeração simples), a pontuação deixará de estabelecer um limite entre um item
e outro. Nesse caso, pode ocorrer ambiguidade. Com o uso do ponto e vírgula, deixamos
evidente para o leitor quando um bloco de informação termina e quando o outro começa.

Exemplo:

HC 45.111, rel. min. Sydney Sanches, Segunda Turma, DJE de 23-11- 1986; HC 32.115,
rel. min. Sepúlveda Pertence, Plenário, DJE de 11-3- 1990; HC 425.110, rel. min. Sydney
Sanches, Segunda Turma, DJE de 2- 11-1986.

No período abaixo, você poderá constatar a necessidade do ponto e vírgula em


enumerações complexas. Compare:

No mesmo avião, vinham William Kennedy, o presidente, Bill Sweze, o senador, Bob
Shepard e Will Derley, senadores do Kentucky, Mary Busch, a senadora e John Delwey,
presidente da Suprema Corte.

No exemplo acima, o uso da vírgula deixou o texto confuso. Podemos interpretar que
há seis ou nove pessoas no avião, algumas apresentadas pelo nome próprio; outras, pelo
cargo. Com o ponto e vírgula, temos, com certeza, seis pessoas:

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No mesmo avião, vinham William Kennedy, o presidente; Bill Sweze, o senador; Bob
Shepard e Will Derley, senadores do Kentucky; Mary Busch, a senadora; e John Delwey,
presidente da Suprema Corte.

e) Entre itens de leis, decretos, regulamentos, exposição de motivos etc.

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, (...) constitui-se em Estado Democrático de


Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;
II – cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV– os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.”

8.2 Dois pontos

Os dois pontos indicam que a frase não está concluída. São empregados sobretudo
para:

a) Introduzir enumeração:

As atividades físicas ajudam a: renovar a circulação sanguínea, tonificar a musculação,


liberar endorfinas, etc.

b) Introduzir fala de alguém ou citação:

“Groucho Marx, comediante americano disse: ‘Para mim, a televisão é muito instrutiva.
Quando alguém a liga, corro à estante e pego um bom livro’."

c) Introduzir esclarecimento ou síntese do que foi dito anteriormente:

“Vamos ter uma nova geografia na Alemanha: no Ocidente, o capital, e no Leste, se


tivermos sorte, o trabalho”. [Revista Veja.]

Observação: a oração subordinada substantiva apositiva poderá ser introduzida por


dois pontos:

Eles defendiam a mesma ideia: que a liberdade fosse preservada.

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8.3 Reticências

Vejamos agora os famosos três pontinhos. Apesar da aparente simplicidade


das reticências, este sinal de pontuação é capaz de produzir nuances semânticas bem
interessantes. Se mal empregadas, elas podem produzir alteração de sentido ou até mesmo
ambiguidade. Mas não se preocupe, o uso delas não é nada difícil, basta apenas atenção.
As reticências indicam, normalmente, suspensão da fala, seja por hesitação de quem
fala, seja por interrupção na sequência normal da frase. Servem para representar, na escrita,
o estado de espírito de quem se interrompe ou é interrompido quando diz algo.
Empregam-se reticências para:

a) Indicar, num diálogo, a interrupção de fala:

— Mas por que você não o escolhe?


— Não o escolho porque não o conheço intimamente, de perto, e ele me parece tão...
— Tão o quê? Tão certinho?

b) Sugerir ao leitor que complete um raciocínio:

Eis o que temos que fazer: quem não tem cão...

c) Indicar a supressão de trechos de um texto:

“Groucho Marx, pseudônimo de Julius Henry Marx foi um comediante e ator


estadunidense, célebre como um dos mestres do humor. [...] Groucho também teve
uma carreira solo bem-sucedida, especialmente como apresentador dos game shows
de rádio e televisão You Bet Your Life e Tell it to Groucho.” [Wikipédia.]

OBSERVAÇÃO

O emprego das reticências em textos dissertativos é muito restrito. Em geral, seu


uso é aceitável apenas para indicar a supressão de trechos de uma citação. Nesse caso,
o ideal é colocá-las entre parênteses ou colchetes para que fique evidente tratar-se de
omissão de texto. Assim o leitor não poderá atribuir a elas outro sentido que não foi o
pretendido por você.

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8.4 Colchetes

Colchetes prestam-se a indicar que houve algum tipo de interferência em uma citação:
supressão de trechos, acréscimos, comentários ou explicações. Também é comum empregar
colchetes com a expressão “sic” (= assim mesmo), para indicar que houve erro no texto
original. Veja no trecho a seguir os diversos usos dos colchetes:

Indica alteração Indica comentário


de texto. externo ao texto

Carl Sagan ressaltou que “[a] história está repleta de pessoas que,
como resultado do medo, ou por ignorância [situação lamentavelmente
frequente], ou por cobiça de poder, destruíram conhecimentos de
imensurável valor que [...] perteciam [sic] a todos nós. Nós não devemos
deixar que isso aconteça novamente”.

Indica omissão/supressão Indica erro de grafia


de texto. do texto original.

Antes de prosseguir com nossos estudos da pontuação, vamos fazer uma pequena
pausa?

Hora do café!
Entre um sinal de pontuação e outro, que tal ler
textos de Luís Fernando Veríssimo?

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8.5 Aspas

Entre outros empregos, aspas duplas servem para enfatizar palavra ou expressão do
texto e para indicar citação. Aspas simples são empregadas quando, dentro de um texto já
destacado por aspas duplas, houver necessidade de novas aspas.
Empregam-se aspas duplas para:

a) indicar o início e o fim de uma citação, de modo a diferenciá-la do resto do texto:

Aparício Torelli, o Barão de Itararé, foi um jornalista brasileiro conhecido por seu humor
e por máximas como “[o] banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a
gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro”.

b) salientar palavras estrangeiras ou gírias:

Dizer que uma roupa é “in” quando está na moda e “out” quando já não é mais usada
é totalmente “out”. Agora se diz “fashion”.

Se você preferir, poderá substituir as aspas por grifo (ou itálico) no caso do emprego
de palavras estrangeiras, como no exemplo:

O habeas corpus foi denegado.

c) ressaltar o valor significativo ou irônico de palavra:

Fonte:http://www.enjoy.com.br/blog/conspiracao

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8.5.1 Aspas e ponto final

Há duas possibilidades para o emprego de aspas e ponto final no encerramento de


uma frase:

a) aspas seguidas de ponto (” .)


As aspas antecedem o ponto final quando a citação é continuação do texto que integra.
Nesse caso, o ponto final encerra o período todo, e não apenas a citação. Veja o exemplo:

Para Luiz Antônio Sacconi, "o ponto vem após as aspas", se "não foram estas que
deram início ao período".

Quando as aspas iniciam uma citação após dois pontos, devemos considerar que a
citação faz parte de um período maior. O limite inicial desse período é demarcado pela
primeira palavra com inicial maiúscula e o limite final o é pelo ponto. Sendo assim, as aspas
ficarão antes do ponto final, pois este estará encerrado todo o trecho. Veja:

início do período

Lembro neste passo da afirmação de José Afonso da Silva: “Além da


exploração e execução de serviços públicos decorrentes de sua
natureza de entidade estatal, a Constituição conferiu à União, em
caráter exclusivo, a competência para explorar determinados serviços
que reputou públicos”.

fim do período

b) ponto seguido de aspas (. ”)


O ponto final vem antes das aspas quando encerra todo o período, sentença ou frase,
ou quando a citação foi transcrita na íntegra. Nesse caso, o ponto final faz parte do trecho
citado. Como no exemplo a seguir:

“A questão é matemática. A gramática, acredite, é lógica. Se o sinal de pontuação (ponto


final, de interrogação, vírgula, dois pontos) pertence ao trecho entre aspas, o ponto fica
dentro das aspas. Se não pertence, fica fora. Analisando seu texto com cuidado, você
saberá onde as aspas terminam.”
[https://cadeorevisor.wordpress.com.]

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8.6 Travessão

Este sinal de pontuação é usado para indicar o discurso direto (fala de personagem).
Indica ainda a mudança de interlocutor em diálogos. Em textos dissertativos, o travessão
destina-se a pôr em evidência palavras, expressões e frases:

A Constituição — nossa Carta Magna — foi promulgada em 1988.

Repare que também poderiam ser usadas vírgulas no lugar do travessão:

A Constituição, nossa Carta Magna, foi promulgada em 1988.

Quando a intercalação introduzida pelo travessão coincidir com uma vírgula, os dois
sinais deverão ser usados:

“Cumpre destacar, ademais — até para demonstrar que o Congresso Nacional não está
alheio à problemática —, que se encontram sob o crivo dos parlamentares pelo menos
dois projetos de lei objetivando normatizar o assunto.” [ADPF 54.]

Este conteúdo também está disponível na videoaula 8. Que tal assistir a ela?
Videoaula 8: pontuação parte I
Videoaula 8: pontuação parte II

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Conclusão

Nesta aula, vimos o emprego dos sinais de pontuação na Língua Portuguesa. Vimos
que o ponto e vírgula, além das regras determinadas pela norma culta, apresenta um uso
estilístico, ou seja, pode ser empregado em razão da intenção comunicativa do escritor, do
seu estilo ou da ênfase que ele pretende dar ao seu texto. Revisamos também o emprego dos
colchetes, do travessão e das aspas.
Agora só falta um pequeno detalhe: os exercícios de fixação. Vamos lá? Aceite nosso
convite, faça os exercícios e depois confira o gabarito. Se você tiver alguma dúvida, mande
uma mensagem no fórum de dúvidas.

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Referências

ALMEIDA, Napoleão M. Dicionário de questões vernáculas. 4 ed. São Paulo: Ática,1998.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Lucerna, 1999.

BRASIL, Imprensa Nacional. Manual de redação da Presidência da República. 2. ed. 2002.

BRASIL, Academia Brasileira de Letras. Vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa.


5. ed. São Paulo: Global. 2009.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley L. F. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar: Gramática. São Paulo: FTD, 2003.

FIORIN, L.J. & PLATÃO, F. Savioli. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
1990.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV: 1986.

LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 1. ed. São Paulo: Ática. 2008.

MORENO, Cláudio. Guia prático do Português: sintaxe. Porto Alegre: LPM. 2011.

NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP,
2000.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Atual. 1994.

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