Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desenho Infantil
https://bit.ly/3dD5OKD
1
Sumário
1.0 BREVE HISTÓRIA DO DESENHO ............................................................................. 4
2.0 DESENHO NA PESQUISA COM CRIANÇAS: ANÁLISE NA PERSPECTIVA
HISTÓRICO-CULTURAL .......................................................................................................... 9
2.1Considerações sobre o desenho e o processo de desenhar................................... 10
3.0 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA PELA CRIANÇA: DIALOGANDO
COM ALEXANDER ROMANOVICH LURIA ......................................................................... 16
3.1 A criança e o desenvolvimento da escrita, segundo Luria ...................................... 17
3.2 O papel da escola e do professor no processo do ensino e da aprendizagem da
escrita pela criança .............................................................................................................. 28
4.0 O DESENHO NA AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA E PSICOPEDAGÓGICA ................ 31
4.1 Estímulo e métodos de inserção à arte ...................................................................... 33
4.2 O desenho é espontâneo ou é fruto da cultura? ...................................................... 37
4.3 O desenho infantil .......................................................................................................... 38
4.4 Fases/ etapas do desenho infantil .............................................................................. 43
4.5 A importância do Psicopedagogo................................................................................ 49
4.6 O desenho como instrumento de diagnóstico ........................................................... 53
5.0 O OLHAR DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO DA CRIANÇA PEQUENA..... 56
5.1 Educação Infantil no Brasil: breve histórico ............................................................... 58
5.3 DESENHO: riscando, rabiscando, das garatujas ao desenho ............................... 61
6.0 O DESENHO DA CRIANÇA: VALORIZAÇÕES DA EXPRESSÃO GRÁFICA ........ 66
6.1 A voz infantil: ultrapassando os muros da cultura imposta ..................................... 67
6.2 A criança desenha, se expressa e se constitui pelo desenho ................................ 76
6.3 O desenho como manifestação da voz infantil ......................................................... 84
7.0 O ESTUDO DO DESENHO ............................................................................................. 95
7.1 A desenho da criança: .................................................................................................. 95
7.2 O estudo do espaço ...................................................................................................... 95
7.3 Elementos do desenho ................................................................................................. 96
7.4 Os sinais da sexualidade .............................................................................................. 96
7.5 O desenho da família .................................................................................................... 96
7.6 O significado das cores................................................................................................. 97
7.7 Os elementos do desenho............................................................................................ 97
7.8 Etapas gráficas do desenho....................................................................................... 101
8.0 O DESENHO COMO INSTRUMENTO DE MEDIDA DE PROCESSOS
PSICOLÓGICOS EM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS .................................................... 103
8.1 O desenho infantil ........................................................................................................ 105
8.2 O desenho como instrumento de medida de processos psicológicos ................ 107
2
8.3 O desenho no contexto hospitalar ............................................................................ 112
8.4 O desenho como medida de dificuldades emocionais em crianças com doenças
crônicas ................................................................................................................................ 116
8.5 O desenho como medida dos conceitos de saúde e doença para crianças ...... 118
9.0 DESENHOS E ABUSO SEXUAL .................................................................................. 120
9.1 Desenho 1 ..................................................................................................................... 121
9.2 Desenho 2 ..................................................................................................................... 122
9.3 Desenho 3 ..................................................................................................................... 123
9.4 Desenho 4 ..................................................................................................................... 124
9.5 Desenho 5 ..................................................................................................................... 124
9.6 Desenho 6 ..................................................................................................................... 125
9.7 Desenho 7 ..................................................................................................................... 126
9.8 Desenho 8 ..................................................................................................................... 126
9.9 Desenho 9 ..................................................................................................................... 127
9.10 Desenho 10 ................................................................................................................ 128
9.11 Desenho 11 ................................................................................................................ 128
10.0 O DESENHO DA FIGURA HUMANA NA AVALIAÇÃO DA AGRESSIVIDADE
INFANTIL ................................................................................................................................. 129
REFERÊNCIA: ........................................................................................................................ 134
3
1.0 BREVE HISTÓRIA DO DESENHO
Ao longo dos séculos o desenho passou a ser utilizado cada vez de formas
mais diferentes. Sendo até mesmo, um precursor da linguagem escrita, da
fotografia e assim, do cinema, e até mesmo das representações cartográficas.
7
Em 1890, outro marco para o desenho: surge a primeira revista em
quadrinhos semanal da história. No dia 17 de maio de 1890 foi lançada a Comic
Cuts pelo magnata londrino Alfred Harmsworth, mais tarde Lord Northcliffe. Mas,
outras fontes atribuem o feito a obras anteriores: uma destas obras seria o
desenho chamado “Yellow Kid” publicada em 1897 por Richard Outcalt. No
Brasil, as precursoras foram as tiras do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini,
publicadas em 1869, no jornal “Vida Fluminense” com o título de “As Aventuras
de Nhô Quim”.
8
2.0 DESENHO NA PESQUISA COM CRIANÇAS: ANÁLISE NA PERSPECTIVA
HISTÓRICO-CULTURAL
12
os objetos reais mediadas pela palavra e pela interação com o 'outro'" (2001, p.
35).
13
Na primeira e segunda etapa, há a presença do desenho radiografado,
onde a criança desenha também o que não vê no objeto, mas sabe que existe
(Vygotski, 1998). Esta característica demonstra que, nas fases iniciais do
desenho, a memória se destaca, pois, a criança desenha o que lembra e
conhece do objeto (Ferreira, 2001). Desenhar a partir de um modelo presente,
isto é, copiar, é característica de um grau maior de desenvolvimento do desenho
infantil, ao qual, de acordo com Vygotski (1998), poucas crianças chegam.
14
flagram esta zona de incerteza: o território entre o visível e o invisível" (Derdyk,
1989, p. 115).
15
3.0 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA PELA CRIANÇA:
DIALOGANDO COM ALEXANDER ROMANOVICH LURIA
17
estudo foi realizado em 1929, influenciado por Vygotsky, e teve por objetivo
pesquisar e analisar, juntamente com as funções de atenção e memória, o
desenvolvimento da escrita em crianças russas e camponeses iletrados
(GONTIJO, 2002).
18
objetos, suas qualidades, ação ou relações. Os sons, que
começavam a indicar determinados objetos, ainda não
tinham existência autônoma. Estavam entrelaçados na
atividade prática, eram acompanhados de gestos e
entonações expressivas, razão por que só era possível
interpretar o seu significado conhecendo a situação evidente
em que eles surgiam. Além do mais, nesse complexo de
meios de expressão parece que, a princípio, coube posição
determinante aos atos e gestos; estes, segundo muitos
autores, constituíram os fundamentos de uma original
linguagem ativa ou “linear” e só bem mais tarde o papel
determinante passou a ser desempenhado pelos sons, que
propiciaram a base para a evolução paulatina de uma
linguagem de sons independente. Durante muito tempo,
porém, essa linguagem manteve a mais estreita ligação com
o gesto e o ato e por isto o mesmo complexo de sons (ou
“protovocábulo”) podia designar o objeto para o qual a mão
apontava, a própria mão e ação produzida com esse objeto.
Só depois de muitos milênios a linguagem dos sons
começou a separar-se da ação prática e a adquirir
independência. É a essa época que pertence o surgimento
das primeiras palavras autônomas, que designavam objetos
e bem mais tarde passaram a servir para distinguir as ações
e qualidades dos objetos. Surgiu a língua como um sistema
de códigos independentes, que durante um longo período
histórico posterior de desenvolvimento assumiu a forma que
distingue as línguas atuais (Luria, 1979, p. 79).
A linguagem foi considerada por Luria como um dos fatores “decisivo que
determina a passagem da conduta animal à atividade consciente do homem”
(Luria, 1986, p.22).
19
tornando “um sistema de códigos suficientes para transmitir qualquer
informação, inclusive fora do contexto de uma ação prática” (Luria, 1986, p.25).
20
já aprendeu e assimilou um certo número de técnicas que
prepara o caminho para a escrita, técnicas que a capacitam
e que tornam incomensuravelmente mais fácil de aprender
o conceito e a técnica da escrita.
22
Durante as investigações acerca da escrita das crianças Luria observou
que por volta dos três a cinco anos de idade as crianças rabiscam como se fosse
uma brincadeira. Ou seja, “nesse estágio de desenvolvimento, na realidade
ainda não constituem uma escrita ou mesmo um auxílio gráfico, mas apenas
desenhos no papel” (LURIA, 1988, p.156). Assim, as crianças quando rabiscam
organizam de tal maneira os rabiscos para que possam lembrar com facilidade
o significado do que estaria representado pelos rabiscos (GONTIJO, 2002, p.
17).
24
A criança desde que nasce estabelece relação com o mundo que a
circunda seja ele de natureza física ou humana. É nas relações e interações com
os sujeitos humanos que a criança desde que nasce vai se comunicando,
primeiramente por meio de uma linguagem rudimentar (choro, resmungos,
gestos, entre outros) que vai ganhando significado cultural e, nestes contextos,
se apropria de aprendizagens e desenvolve a fala. Também, nestes espaços vai
interagindo com signos e os significados destes na e pela cultura.
25
experiência dos desenhos infantis, os quais, em si mesmos, não precisam
desempenhar a função de signos mediadores em qualquer processo intelectual”
(DEMENECH, 2012, p. 88).
27
3.2 O papel da escola e do professor no processo do ensino e da aprendizagem
da escrita pela criança
28
desenvolvimento da escrita, tanto na história da civilização
como no desenvolvimento da criança (LURIA, 1986, p. 161).
29
Com base nos autores abordados, identifica-se que a escrita enquanto
produção cultural do sujeito humano é construída a partir de necessidades
destes de se comunicar com seus pares. “A escrita não é algo natural no
desenvolvimento do ser humano, mas algo que se aprende dentro da cultura e,
por isso, necessita do esforço de quem aprende e de quem ensina” (DUARTE,
2014, p. 4).
31
tamanhos, símbolos, entre outros, exprimindo assim seus medos, anseios,
descontentamentos e demonstrando amor, amizade, ingenuidade.
32
Com o passar do tempo, esses rabiscos e desenhos passam a ser feitos
intencionalmente e a criança começa a usar o desenho para comunicar seus
pensamentos, desejos, emoções, exteriorizar seus sentimentos e brincar com a
realidade, seu desenho ganha simbologia e significação potencializando sua
capacidade de criar. O primeiro desenho simbólico em sua maioria é o da figura
humana. Com isso, desenvolveram-se as fases do desenho que são: Garatuja
desordenada; Garatuja ordenada (longitudinal); Garatuja ordenada (circular);
Garatuja nominada (mescla); Pré esquema (1º fase); Pré esquema (2º fase); Pré
esquema (3º fase); Esquema; Início do Realismo. (LUQUET, 1969)
33
A criança ao desenhar desenvolve a auto expressão e atua de forma
afetiva com o mundo, opinando, criticando, sugerindo, através da utilização das
cores, formas, tamanhos, símbolos, entre outros.
São de ressaltar que o professor deve oferecer para seu aluno a maior
diversificação possível de materiais, fornecendo suportes, técnicas, bem como
desafios que venham favorecer o crescimento de seu aluno, além de ter
consciência de que um ambiente estimulante depende desses fatores colocados,
permitindo a exploração de novos conhecimentos. “O ensino de arte constituirá
componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de
forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.” (MACHADO, 2008,
p.30).
34
A história da arte no Brasil teve início na primeira metade do século XX
com a disciplina de desenho, trabalhos manuais, música e conto orfeônico,
fazendo parte do currículo das escolas primárias e secundárias. Entre os anos
20 e 70 o ensino de arte volta-se para o desenvolvimento natural da criança, no
período que vai dos anos 20 aos dias de hoje vive-se um crescimento cultural
tanto dentro quanto fora das escolas (BRASIL, 1998).
35
O que demonstrou que falar sobre o desenho infantil é falar em
desenvolvimento, aquisição de conhecimentos, construção de conceitos,
organização de ideias, formulação de opiniões, capacidade intelectual e de
comunicação. A riqueza do grafismo infantil possibilita à criança não só o prazer
em desenhar, mas também todos esses aspectos da educação infantil.
36
4.2 O desenho é espontâneo ou é fruto da cultura?
37
4.3 O desenho infantil
38
O desenho é uma representação gráfica de um objeto real ou de uma ideia
abstrata. O desenho é uma das formas de expressão mais antigas da
humanidade. Utiliza-se o desenho como uma forma de comunicação desde a
pré-história, quando os primeiros homens, através de pequenas figuras
desenhadas nas rochas e nas paredes das cavernas, manifestavam suas ideias
e pensamentos entre si. (DESENHO INFANTIL. GUIA DA CRIANÇA, 2010)
39
A etapa do rabisco (garatujas) - dos 3 aos 6 anos de idade; a etapa do
realismo fortuito - dos 6 aos 9 anos de idade; a etapa do realismo falhado - dos
9 aos 12 anos de idade; a etapa do realismo intelectual - dos 12 aos 14 anos de
idade; a etapa do realismo virtual - a partir dos 14 anos de idade. (DESENHO
INFANTIL. GUIA DA CRIANÇA, 2010)
A evolução dos seus desenhos se faz por etapas e pode variar conforme
o estado da criança. Uma criança com raiva, por exemplo, irá rabiscar com
energia e ininterruptamente; a triste ou angustiada expressará seus desenhos
com traços negros ou barras riscando o que acabou de produzir, com tons fortes
e riscos grosseiros e contínuos.
40
O papel do educador deve ser o de orientar, levar, mediar, encaminhar o
aluno às descobertas que o mundo lhe oferece, ampliando suas capacidades e
potencialidades e estabelecendo princípios que nortearão estas conquistas.
Respeitar suas individualidades e seu processo de desenvolvimento, incentivar
a estética e motivar são meios de auxiliar as relações que a criança vai
estabelecer entre as suas conquistas e descobertas. Enfim o desenho dever ser
visualizado como possibilidade de brincar, o de falar de registrar, marca o
desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um
caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante
similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de
temperamento e sensibilidade.
41
que esta ainda não tem uma consciência clara da escolha das cores, ao invés
de uma criança mais velha, com 4 ou 5 anos.
43
Deixar que o desenho fluísse normalmente é deixar que ela se
desenvolvesse harmoniosamente com o seu meio. Na medida em que a criança
cresce, seu desenho sofre modificações. Muitas vezes o educador não tem
compreensão das fases do grafismo por que passa a criança, e são dados
desenhos para colorir, perdendo o prazer de desenhar para o dever de fazer o
que é imposto. Mas, as personalidades são distintas, distintos estilos, as
motivações e o valor das coisas (BRAGA, 1974, p. 99).
44
Tendo a escola a função de fazer com que a criança melhore a cada dia
sua forma de lidar com nosso meio e entender que esse não é só físico, mas
constantemente influenciado pela emoção, sentimentos e pensamentos,
integramos um trabalho de reflexão e ação.
46
47
48
4.5 A importância do Psicopedagogo
51
construção do pensamento da criança não dispensando a ele a sua devida
importância em sala de aula.
Mas o que foi observado durante o estudo sobre o desenho infantil e suas
contribuições no processo da aprendizagem é que o conhecimento das etapas
evolutivas do desenho infantil fornece ao professor mais um instrumento para
compreender as crianças, somando esse conhecimento à análise constante dos
seus trabalhos e considerando sempre o significado mais profundo do ato de
desenhar como expressão de ideias e sentimentos, o professor poderá orientar
suas ações pedagógicas.
Isso nada tem a ver com o fato de ela não estar enxergando direito, de
estar com problemas de motricidade fina, ou ainda, de não estar apta a desenhar
com destreza. Desenhar figuras humanas possibilita à criança estruturar suas
ideias sobre elas.
52
as propostas devem ser diferentes: desenhar em vários tempos e ritmos, fazer
passeios e expressar o que observou no papel, incentivar o desenho coletivo,
desenhar as etapas percorridas após uma brincadeira ou jogo e muitas outras
podem ser feitas com a criança para ajudá-la a aprimorar suas capacidades de
desenhar.
53
personagens que desenhou. Nesta situação é possível observar aspectos de
que como a criança se vê na situação de “aprendente”, como se coloca na
relação “aprendente-ensinante” na escola, como vê a figura do professor, etc.
54
empobrecidas.” Estaria, assim, representado o seu desequilíbrio ao desenhar
uma perna mais comprida que a outra. (Paim, 1985 p.63)
Sobre este aspecto, Fernández (1990, p. 225) nos diz: “Nos gráficos
vamos dar atenção, também, mais ao processo de execução do que ao produto
[...] Observaremos o método que a criança utiliza, os comentários que faz
enquanto desenha, a atitude corporal”.
55
5.0 O OLHAR DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO DA CRIANÇA
PEQUENA
Para que isso aconteça é preciso algo a mais para o professor entender
certos conflitos que surgem durante o desenvolvimento do processo de
aprendizagem ou nas dificuldades em aprender. Neste sentido, através do
56
desenho a criança apresenta um novo caminho de descobertas reais e irreais,
buscando encontrar soluções diferenciadas para a construção e expressão de
novos conhecimentos. Deste modo é importante que o psicopedagogo a partir
de observações e acompanhamentos em sua ação auxilie professores,
coordenadores e pais a perceberem que através do desenho a criança
demonstra sua forma de pensa, de agir, de interagir em grupo e idealizar seus
desejos.
57
Segundo Loque (1979) a criança deposita seus sentimentos, desejos e
idealizações, emoções positivas ou negativas a partir do momento que faz o
primeiro traçado no papel trazendo esse turbilhão de sensações do interior
psíquico para o exterior.
58
o desmame a criança pequena era vista como um pequeno adulto
e, quando atravessava o período de dependência de outros para
ter atendidas suas necessidades físicas, passavam a ajudar aos
adultos nas atividades cotidianas, em que aprendia o básico para
sua integração no meio social.
Lembrando que nesse período a mulher era tida como objeto sexual,
criança não tinha vez, era como se não tivesse existência, ou melhor, um objetivo
em está ali. A família só era família se houvesse um homem inserido em um lar.
Era uma forma grosseira de pensar que a mulher não tinha capacidade física e
mental para construir ou reconstruir uma família.
É evidente que a Educação Infantil ainda tem muito que avançar para
romper as barreiras do assistencialismo que caracterizou sua implantação no
período citado por Oliveira (2002) e cumprir seu papel na dupla função de cuidar
e educar. Para tanto. é necessária muita atenção, principalmente do poder
público, já que é dever do Estado manter esse direito para todas as crianças.
60
5.3 DESENHO: riscando, rabiscando, das garatujas ao desenho
62
Desta forma é preciso que o desenho das crianças sejam respeitados e
livres pelas pessoas adultas que muitas vezes reprimi e diminui a autonomia de
criação dos pequenos, já os professores passam a maior parte do tempo com as
crianças, dessa forma começam a perceber e registrar o início da história social,
familiar e educacional dos pequenos a partir dos rabiscos com pouca
desenvoltura. Neste sentido os professores refletem uma comunicação informal
dessas crianças de forma não verbal, ao dar liberdade para desenhar
proporcionando-lhes ambientes agradáveis para suas criações únicas e
anônimas.
Vale salientar que o professor não pode pedir para a criança desenhar
apenas para o tempo passar, mas com objetivos para as atividades
educacionais. Pois o professor não deve reformular o 8 desenho da criança
corrigindo seus traçados e formas para fica mais apresentável, pois desta
maneira deixa de ser uma produção individual, inata e única da criança para ser
algo reinventado sem autonomia, o professor ainda deve evitar críticas e
comparações com outros desenhos de crianças da mesma sala de aula,
deixando ao alcance das crianças materiais que ativem sua curiosidade e
estimulem outras partes do corpo se desenvolver também.
63
Segundo Lowenfeld (1977), a arte de desenhar traz o equilíbrio entre o
pensar e o sentir sensações, emoções, desejos e conflitos que de maneira
inconsciente, mas de forma natural projeta sobre o papel algo que lhe possa
aborrecer.
64
sua realidade a partir do lugar que a criança está inserida representando sua
realidade em muitas vezes de forma intencional.
65
Segundo Ferreira (1998), para que o professor tenha uma visão
enriquecedora na construção do desenho é preciso estudar a elaboração do
desenho que sugere desenhar para elaborar o conceito dos objetos, que ajudará
o mesmo a perceber o desenvolvimento da criança em sala de aula.
Neste sentido, o professor por sua vez deverá dar uma atenção maior
para essa atividade artística, nas práticas pedagógicas atuais, professores que
usam desenhos pré-prontos, xerocados, e não deixam com que as crianças
utilizem se de sua autonomia imaginaria nas criações que permitem a análise
individual de cada um. O desenho apresenta como a criança se desenvolve e
constrói sua aprendizagem.
66
Ao desenhar, a criança reage de diferentes maneiras, estabelece novas
compreensões e revela seus desejos, medos, interpretações e expectativas.
Apresenta sua capacidade de reflexão e de participação nas elaborações de
culturas, estruturas físicas, organizacionais, e tantas outras ações normalmente
estipuladas como pertencente ao “mundo” adulto.
67
realizar uma análise do que é ou não significativo, assim como, aparentemente
verdadeiro. Estas análises contam com experiências já ocorridas e observadas,
facilitando a compreensão e/ou reformulação de ideias.
68
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e
práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e
coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa,
experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010, p.12)
É visível nas falas das crianças, que estas entendem o lugar do adulto
como trabalhador, estando as respostas pautadas nas realidades das mesmas,
sendo inclusive, citado o local de trabalho de um de seus pais (supermercado
Cotrijuí). Quanto ao conceito de criança, aponto a colocação de espaços, ações
e materiais que para elas parecem apropriados para uma infância feliz. Deste
modo, é viável destacar ambientes de brincadeiras e ludicidade como foco para
a construção e organização de locais destinados às crianças.
70
que gostaria de tomar para si ou não, assim como, divulgar as suas experiências
e reconstruir conceitos antigos.
71
Mencionadas as tecnologias, já é possível pensar na nova estrutura em
que o mundo contemporâneo se encontra e nas diferentes relações que o
mesmo apresenta em comparação ao passado, sendo que em função dessa
nova realidade, a criança ao nascer já está inserida em um universo de novas
tecnologias, moderno, munido de exigências e novidades. E é de acordo com
essas mudanças que Haetinger comenta:
O entendimento sobre o que é ser criança (tanto por parte delas, quanto
pela dos adultos) se modifica de acordo com a cultura, contexto histórico e social,
assim como, através de estudos que se destinam a esse sujeito que
culturalmente faz parte de um período chamado infância.
73
Tal afirmação não significa ignorar a importância, ou necessidade da
criança aprender a conviver com as normativas estabelecidas para uma boa
articulação social, até por que é na primeira infância que o sujeito tem contato
com aquilo que o torna pertencente ao grupo humano, diferenciando-o dos
animais que se organizam de forma distinta do homem. O que está em defesa,
neste contexto, é a capacidade da criança lidar com aquilo que aprendeu e
deseja até o momento e, poder participar na organização das estratégias e
espaços para aprender mais.
74
Essa diferenciação ocorre devido a singularidade, na organização e
intencionalidade das escolas, ou seja, por mais que sejam oferecidos meios de
imitar os processos educacionais fora desta instituição, isso não será possível
em função de que não haverá as mesmas mesclas culturais, as socializações
entre os sujeitos infantis e outros fatores que potencializam a escola como
espaço privilegiado de aprendizagens e interações. Entre as atividades
normalmente aí desenvolvidas, está a elaboração do grafismo, o qual está
estreitamente interligado a expressão do sujeito e é o foco deste estudo.
75
expressão, que por sua vez é importante para a constituição da criança e permite
sua interação de forma a romper com culturas impostas pelo adulto, estando o
próximo capitulo pautado neste viés de reflexões, o qual apresenta o desenho
como uma manifestação artística e busca através desta a compreensão de
teorias e falas infantis que permeiam o assunto.
76
A experiência artística imprime singularidades do sujeito criador e estas,
envolvem referências constitutivas deste, que possui experiências próprias e
está inserido em um contexto repleto de informações, historicidade e cultura,
sendo que tais, mesmo que implicitamente aparecem em sua criação.
78
Ao desenhar, a criança utiliza seu corpo, conhecimentos, sentimentos,
vivências, reflexões, comparações e outros elementos que a constituem e que
se sobressaem no ato de desenhar. Ela interage com o material de forma
subjetiva e momentânea, revela o que pretende para aquele momento e mesmo
quando não há pretensões, realiza ações que naquele instante foram possíveis.
79
Seguindo o raciocínio de Derdyk (1989,p.20) o desenho se manifesta de
diversas formas, podendo ser representado também através de sinais como
impressões de membros humanos em superfícies.
80
sendo que “... o desenho é para a criança uma linguagem como o gesto ou a
fala” (MOREIRA,2002, p.20).
A interação entre a dupla pode ter uma significância muito maior do que
inicialmente apresenta, já que é considerável a idade das crianças e a ideia de
que ainda estão construindo seus saberes quanto ao esquema corporal. Ou seja,
a análise realizada pelos dois ao conversarem possivelmente terá repercussões
em seus próximos desenhos e até mesmo na constituição subjetiva e intelectual
de ambos
82
O desenho quando criado pelo próprio sujeito divulga revelações, as quais
nem sempre são percebidas no cotidiano. Isso ocorre principalmente quando seu
processo é acompanhado de diálogo, o qual incita reflexões reveladas ao sujeito
que observa a criança desenhando, sendo que, estas observações podem gerar
resultados significativos para o processo de inclusão da criança na sociedade.
Contudo, não basta a criança ter direitos limitados ao papel, é preciso que
a sociedade abra espaços para estes direitos se materializem, respeitando a
criança em sua integralidade e não a prive de opinar e criticar os espaços,
decisões e estruturas das quais ela também faz parte.
83
Diante de todas as afirmações apresentadas até o momento, é possível
afirmar que o desenho é também constituidor, apoderando-se de elementos
fundamentais na formação dos sujeitos: expressão, relações, socialização,
reflexão, apropriação, imaginação, noção espacial, motricidade, oralidade,
observação etc.
A ideia de Derdyk revela o desenho em sua forma mais pura, isso porque,
visualizar as artes gráficas como algo relativo de conhecimento e apropriação,
representa colocar-lhe em um patamar de singularidade. Não há pessoa que
conheça exatamente as mesmas coisas que 24 outro sujeito, nem mesmo que
interaja com esse conhecimento sempre da mesma maneira, sendo assim, o
desenho é algo único revelado por um sujeito único.
84
Tendo como base as reflexões realizadas até este instante e
compreendendo o desenho como articulador de relações infantis, apresento a
seguir observações provenientes de algumas interações com crianças
pertencentes a faixa etária compatível a Educação Infantil.
85
Outro participante desta pesquisa será denominado por Francisco
(2anos), o qual assim como os demais é frequentador de uma escola de
Educação Infantil e reside com seus pais. Bruno (4anos), o mais velho do grupo,
é integrante de uma turma de pré-escola, e contribuiu não com desenhos, mas
com a definição referente ao que é desenhar em sua concepção: “Desenhar é
fazer bichos, dinossauros, eu e um monte de coisas.” Por fim, as outras três
crianças serão apresentadas como Mônica (3anos), Augusto (3anos) e Kaio (3
anos), colegas da mesma turma, os quais convivem diariamente em sala de aula
e passam por processos de mediações semelhantes neste espaço
87
Estas falas estão repletas de informações que permitem conhecer a
criança, tendo como exemplo: o conhecimento de que a Amanda gosta de comer
doce de leite (Mumu), aparentemente relaciona a escrita à lapiseira e um homem
(pela sequência de sua fala). Reconhece que o nome e os números podem ser
grafados, assim como, utiliza o verbo riscar e borrar para desenvolver seus
desenhos, representando não ser a primeira vez que se envolve com o grafismo,
envolvimento este que pode estar vinculado tanto no ato de observação quanto
de interação.
88
Emilia Ferreiro, respeitável especialista em alfabetização, a convite da
Revista Nova Escola se reúne a Telma Weisz (doutora em psicologia) para um
debate sobre o ensino da leitura e da escrita. Apresento a seguir um pequeno
trecho deste diálogo, acreditando ser este importante para a reflexão das
relações de desenho e escrita que Amanda traz, assim como muitas outras
crianças também apresentam.
89
não exigimos perfeição desde o início, mas fazemos isso com a
escrita (FERREIRO, 2013, p.29).
Esta escrita inicial pode não ser compreendida pelo sujeito que visualiza
a grafia, porém para a criança, esta possui significado e carrega consigo um
sentido de representação, mesmo que momentâneo. A própria fala da Amanda
comprova essa ideia: “Eu vou fazer o nominho”.
90
a frequenta, isso porque a escola existe em prol da sociedade e por ela é
formada.
91
Retornando mais uma vez as intervenções realizadas com Amanda, sua
última opção de escolha de material para o desenvolvimento do desenho foi a
tinta. Sendo que ao perceber seu estranhamento com relação a este material,
questionei se já havia desenhado com ele, recebendo a seguinte resposta:
Sua afirmação, além do “Não. Ainda não”, era complementada com olhar
de surpresa e curiosidade, linguagem que tornava visível que até aquele
momento este contato ainda não tivera sido possível, mas que esta experiência
naquele instante iria acontecer. Durante o processo, Amanda colocou seu rosto
bem próximo da folha, diminuiu a quantidade de comentários, aparentemente se
preocupou mais com os efeitos do pincel e da tinta no papel do que com o
resultado do desenho em si. Pintava em cima do mesmo espaço várias vezes e
todas as vezes que pretendia colocar mais tinta no pincel, passava-o em todas
as cores. Suas pinceladas eram realizadas através de batidas na folha, sendo
que somente após terem se passado alguns minutos ela resolveu arrastar o
material no papel formando linhas
A experiência foi tão importante para Amanda, que ela resolveu convidar
todos que estavam no local para que visualizassem seus “pisentinhos” (forma
como tratava seus desenhos). Ao denominar suas produções de “pisentinhos”,
imagino a significância que estes tiveram para ela, já que toda criança adora
receber presentes e estes são sempre alvos de alegria.
92
suas mãos lambuzadas pela tinta, e as esfregava na folha, repetindo este
processo por várias vezes.
Kaio por sua vez, recebeu como material canetões e folha branca, assim
como os outros que desenhavam com ele. Este em seu processo de desenhar
quase não interagiu com seus colegas que estavam ao lado. Permaneceu
concentrado em sua produção utilizando-se da oralidade apenas para nomear
seu grafismo e para pedir emprestados outros canetões.
93
raciocínios vão se tornando mais complexos de acordo com o seu
desenvolvimento e o envolvimento com a ação de representar, o que torna estas
representações cada vez mais detalhadas e identificáveis pelo outro que
visualiza o desenho.
94
A imagem foi constituída inicialmente por círculos, os quais foram se
sobrepondo à medida que ficavam maiores. A colocação de Mônica evidencia
sua diferenciação entre o menor e o maior, o que tem grande significância para
sua compreensão matemática e de inúmeros outros conhecimentos que
amparam a intervenção do sujeito em seu meio de convívio. As reflexões e
mediações realizadas a partir deste conhecimento vão se tornando mais
complexas na medida em que as compreensões ocorrem, possibilitando, por
exemplo, que o raciocínio realizado por Mônica ao fazer seu desenho faça parte
da formação de novos conhecimentos que se ampliam ou se desconstroem
diante de novas informações e vivências, mas que são fundamentais para aquilo
que se conhece.
95
7.3 Elementos do desenho
Traço firme: Exprime vitalidade, audácia e a raiva.
Traço leve: Traduz sensibilidade, delicadeza e timidez.
Traço pontilhado: Demonstra uma certa inibição.
O ângulo: Exprime força, combatividade e virilidade.
As curvas: Lembram gentileza e feminilidade.
Formas redondas e angulares: Reflete o equilíbrio da criança que se
adapta e se afirma.
Traços bem definidos e contornos sombreados: Sinal de grande
ansiedade.
96
Um homem vestido de modo ridículo, usando uma bengala, um chapéu
ou carregando um cachimbo (atributos de virilidade – o pai);
Uma mulher usando um vestido, bijuterias ou um penteado com coroa
(ornamentos da feminilidade – a mãe);
Um irmão mais jovem e inoportuno pode ser eliminado do desenho porque
“não tinha mais lugar”, ou então ser colocado no verso da folha.
97
CASA
ÁGUA
AVIÃO
98
Reflete desejo de posse e de conquista do mundo, exatamente como o
desenho de um barco.
A criança tem pressa de crescer, de ter êxito.
Quando o avião é bombardeado, a criança está querendo exprimir um
conflito interior ou o medo de assistir a uma cena de violência em casa,
como uma briga entre o pai e a mãe.
CAMINHO
ASTROS
BARCO
99
Se o barco está no centro da página, como o elemento principal, simboliza
a criança.
A vela traduz desejo de partir, a evasão pelo sonho.
Os canhões e chaminés permitem ao menino revelar a agressividade
ligada à virilidade.
MONTANHAS
ANIMAIS
ÁRVORE
Extremamente forte, esse tema contém tantos ou mais símbolos que uma
paisagem rica em detalhes.
O comprimento das raízes, a força do tronco, a direção dos galhos
compor.... (falta uma frase)
100
7.8 Etapas gráficas do desenho
GARATUJAS: 2 a 4 anos
101
Captação maior do mundo real.
Rigidez no desenho.
Busca do pormenor.
Não utiliza mais os exageros, omissões, raio-x, dobragem e outros
desvios por conta da emoção.
Há uma relação rígida entre a cor e o objeto.
Espaço: Ainda não há profundidade. Percebe a sobreposição. Várias
linhas de base e espaço preenchido entre elas;
102
8.0 O DESENHO COMO INSTRUMENTO DE MEDIDA DE PROCESSOS
PSICOLÓGICOS EM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS
103
O desenho como representação gráfica de pensamentos e sentimentos é
uma das formas de comunicação humana mais primitiva (Klepsch & Logie, 1984;
Di Leo, 1985; Fávero & Salim, 1995; Weschsler & Schelini, 2002; Weschsler,
2003; Greig, 2004). Os estudos sobre o desenho, de um modo geral, o
relacionam à investigação do desenvolvimento da inteligência, cognição,
motricidade e afetividade, bem como dos aspectos sociais e culturais do meio
ambiente das crianças (Grubits, 2003).
106
anos. No Estágio Pré-Operacional (dos 04 a 07 anos) ocorre o realismo
intelectual e a criança desenha a partir de um modelo interno, evidenciando as
transparências e a presença de expressionismo e subjetivismo. No Estágio das
Operações Concretas (dos 07 a 12 anos) há a diminuição da subjetividade e a
criança passa a desenhar a realidade visível. As figuras humanas tornam-se
mais proporcionais, sem transparências e as cores são mais convencionais em
virtude do realismo visual. No Estágio das Operações Formais (dos 12 anos em
diante) os desenhos são submetidos à própria crítica e em decorrência disso, a
atividade do desenho diminui, porém, as crianças com habilidades para
desenhar, mantém essa atividade. Observa-se, assim, que o desenho é um
importante meio de comunicação e representação da criança sobre a qualidade
do ambiente em que vive e interage, apresentando-se como uma atividade
fundamental para compartilhar experiências infantis (Derdyk, 1989).
107
O processo de medir pode ser compreendido como a forma de avaliação
que permite a comparação entre um e outro objeto, caracterizando-se como um
meio de mensuração que deve representar a validade entre o fenômeno e os
pressupostos do uso da linguagem matemática. As ciências lançam mão de
formas de análise e representação de idéias através do uso de representações
matemáticas dos fenômenos. No campo da Psicologia, os fenômenos ou
processos psicológicos referem-se às condutas dos indivíduos em diferentes
situações e contextos, originando a necessidade de explicar e construir
conhecimentos sobre tais fenômenos ou processos através da realidade
percebida, comunicada, observada e representada no comportamento (Cruz,
2002). Assim, uma das maneiras mais objetivas de observar e avaliar os
fenômenos e processos psicológicos é através da medida (Alchieri & Cruz,
2004).
O desenho tem sido utilizado em larga escala como uma medida de vários
processos e fenômenos psicológicos, entre eles, a inteligência e o
desenvolvimento cognitivo (Hutz & Bandeira, 2000). O uso do desenho da figura
humana como medida de inteligência pauta-se na premissa de que a mesma é
familiar a todas as culturas, independente das experiências acadêmicas
anteriores e até mesmo da coordenação motora (Wechsler, 2003; Sisto, 2005).
Outro dado relevante é o fato dessa medida ter sido popularizada pela sua
utilidade e brevidade e por não apresentar caráter invasivo, sendo aceita pela
criança, independente da sua faixa etária. A relação entre o desenho da figura
humana e o desempenho em testes de inteligência, tem sido objeto de estudos
cujos resultados apontam para a eficácia do desenho como um instrumento de
medida de funções cognitivas (Wechsler, 2003). Cabe salientar que um
instrumento de medida, segundo Alchieri e Cruz (2004), representa
conceitualmente uma forma de estender-se uma ação em direção ao objeto de
investigação, a fim de minimizar limitações do processo de observação,
potencializando a eficácia na obtenção de dados e resultados.
108
Historicamente, dentre os principais pesquisadores que desenvolveram
instrumentos, a partir do desenho, para avaliar a inteligência, estão:
Goodenough, em 1926, 1964; Machover, em 1949 e Harris, em 1963. Koppitz,
em 1968, ampliou a escala de Harris-Goodenough, através de um sistema
quantitativo, com o objetivo de avaliar problemas de aprendizagem e distúrbios
emocionais (Hutz & Bandeira, 2000). No Brasil, figuram os trabalhos de Van
Kolck, em 1966 e 1984, Alves, em 1981 e 1998, Hutz e Antoniazzi, em 1995,
Wechsler, em 2003, e Sisto, em 2005 (Wechsler, 2003; Sisto, 2005).
109
A utilização projetiva do desenho da figura humana como medida
psicológica é descrita por Klepsch e Logie (1984) para medir vários aspectos
como a personalidade, o self em relação aos outros, os valores grupais e as
atitudes. Sua contribuição tem sido demonstrada em diferentes estudos que
utilizam escores e sistemas variados de interpretação, constantemente
submetidos a revisões de validade e fidedignidade (Klepsch & Logie, 1984).
Compreendem esses autores que o desenho, utilizado como medida da
personalidade, permite investigar aspectos relacionados à identificação sexual,
doença física, neurose, psicose, depressão, ansiedade, estresse, detecção
precoce de problemas escolares, timidez, agressividade, comportamento de
atuação (acting out), ajustamento entre diferentes grupos raciais, diferenças
sócio-econômicas, autoestima, dificuldades de aprendizagem, dificuldades
auditivas, obesidade, incapacidade física, doença mental, dificuldades
emocionais, entre outros.
110
Na utilização do desenho como medida de valores grupais, Klepsch e
Logie (1984) relatam avaliações de valores culturais e religiosos, hostilidade,
expressões infantis de cooperação e dominância de gênero. Já como medida de
atitudes, o desenho infantil foi utilizado para investigar predisposições afetivas e
comportamentais das crianças em relação a professores, médicos, enfermeiras
e dentistas.
111
A esse respeito, Fávero e Salim (1995) chamam a atenção para a questão
teórico-conceitual e metodológica do uso do desenho no campo da pesquisa
psicológica, pois se faz necessária a admissão de que o desenho pode ser
tomado como um veículo simbólico que externaliza o fenômeno psicológico
internalizado. Para tanto, ressaltam a necessidade da utilização de um sistema
de transcrição do desenho de tal modo que “(...) a descrição das características
de seus traços, a utilização de cores, a escolha desta ou sua ausência, e assim
por diante, se transformem em dados que possam dar conta do conteúdo
veiculado, através da forma” (Fávero & Salim, 1995, p.183).
112
A utilização do desenho durante a hospitalização, segundo Baldini e Krebs
(1999), pode caracterizar-se como um recurso denominado brinquedo
terapêutico, que propicia a expressão segura de sentimentos que podem ser
transferidos a personagens ou aos profissionais da equipe de saúde, além de
auxiliar no manejo de situações que desencadeiam o estresse. O desenho, no
contexto hospitalar, também facilita a expressão infantil em situações de inibição,
quando se solicita à criança, por exemplo, que desenhe o que gosta e o que não
gosta no hospital, a fim de captar possíveis conflitos projetados nos desenhos, o
que auxilia no esclarecimento e elaboração de tais situações (Baldini & Krebs,
1999).
113
da preparação da criança para a hospitalização e procedimentos cirúrgicos como
uma medida de proteção ao desenvolvimento infantil.
114
Marrach e Kahhle (2003) realizaram um estudo objetivando identificar o
que pensam e sentem as crianças internadas e suas mães acompanhantes em
relação às suas experiências com saúde e doença e o significado das mesmas
em enfermaria pediátrica. Participaram da pesquisa 66 sujeitos, 33 crianças
hospitalizadas, com idades entre 06 a 12 anos, e 33 mães acompanhantes da
enfermaria pediátrica de um hospital geral. O instrumento utilizado foi o desenho
de três elementos: flor, animal e pessoa em duas situações (saúde e doença).
Os resultados indicaram uma associação de saúde e doença às condições
físicas (possibilidades e restrições) com ênfase na forma e nos sentimentos
decorrentes destas experiências pelos participantes. Neste estudo, cabe
destacar que a experiência da criança hospitalizada não foi somente vinculada
ao caráter negativo atribuído à internação infantil, dado que, para algumas
crianças o processo de hospitalização também pode ser percebido como uma
experiência agradável e positiva.
8.5 O desenho como medida dos conceitos de saúde e doença para crianças
118
planta (flor), ao animal e ao ser humano, solicitando-se às crianças que
desenhassem as diferentes espécies nas três situações (sadia, doente e morta).
Os critérios para a análise dos desenhos foram: cor, tipo e forma do traçado,
presença ou ausência de elementos constitutivos, traços nas expressões faciais
e tamanho, agrupados para cada desenho, situação e faixa etária. Os resultados
indicaram que o conhecimento do contexto funcional dos conceitos de saúde,
doença e morte são necessários para respaldar as intervenções com pacientes
infantis e destacam ainda, que os critérios utilizados para a interpretação dos
desenhos dos participantes, mostrou a viabilidade do desenho enquanto
instrumento de coleta de dados.
119
(2003) houve maior expressão acerca dos significados da consulta pediátrica
nos desenhos do que nas falas das crianças.
120
Muitas delas tinham vergonha de contar o que haviam sofrido nas mãos
dos abusadores, por isso os profissionais usaram o método dos desenhos para
identificar verdadeiramente os traumas sofridos pelos pequenos.
9.1 Desenho 1
121
9.2 Desenho 2
122
9.3 Desenho 3
123
9.4 Desenho 4
Victor, de 7 anos mostra como era brigado pelo pai a fazer sexo oral.
9.5 Desenho 5
124
David, de 8 anos foi abusado sexualmente e destacou em seu desenho
os olhos vermelhos do estuprador e seu órgão genital.
9.6 Desenho 6
Isabel, de 8 anos foi abusada sexualmente pelo pai, ela desenhou o que
ocorreu durante o momento do abuso.
Colocada sobre uma cadeira para ser abusada enquanto seu irmão mais
novo assistia tudo junto à porta.
125
9.7 Desenho 7
Marina, uma menina de 5 anos, era abusada pelo pai sendo obrigada a
assistir a filmes pornográficos. No desenho ela retrata um trecho de um dos
filmes que foi obrigada a assistir.
9.8 Desenho 8
126
Ester, de 9 anos desenhou a posição que era obrigada a ficar durante os
momentos de abusos feitos pelo pai.
9.9 Desenho 9
127
9.10 Desenho 10
9.11 Desenho 11
Às vezes o abuso identificado não é sexual, mas não deixa de ser abuso
e deixar marcas também, veja o caso dessa pequena.
128
Já a menina sofria preconceito racial dos colegas de classe. No desenho
a criança desenhou a si mesma em tamanho menor e envolvida por uma
barreira.
129
tarefa não-verbal) e em contexto clínico (como uma técnica livre de expressão
gráfica).
130
de Arteche (2006) e os estudos de Segabinazi e Bandeira (2012), este último
apresentando evidências de validade das escalas globais de avaliação do DFH.
132
Questionário de Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares (Q-CARP),
um inventário de autor relato empiricamente baseado, destinado a avaliar os
comportamentos agressivos de crianças de 7 a 11 anos bem como diferentes
reações frente à agressão dos pares (Borsa, 2012). Esses, contudo, são
resultados iniciais, e novos estudos estão sendo realizados pelo Grupo de
Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica (GEAPAP), da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenado pela Professora Denise
Ruschel Bandeira.
133
REFERÊNCIA:
- https://www.infoescola.com/artes/historia-do-desenho/
- http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-
34822008000100002
- https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/21008_9578.pdf
- http://inseer.ibict.br/cafsj/index.php/cafsj/article/viewFile/150/131
-
https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/1756/C
amila%20Korb%20Guth.pdf?sequence=1&isAllowed=y
- https://lapsiudesc.files.wordpress.com/2017/03/o-que-estc3a1-escrito-no-
desenho.pdf
- http://fics.edu.br/index.php/rpgm/article/view/768/696
- https://www.redalyc.org/pdf/3350/335027184010.pdf
- https://www.quartodebebe.net/extra/noticias/desenhos-de-criancas-abusadas-
sexualmente/
- https://www.redalyc.org/pdf/3350/335027505018.pdf
134
Curso de Capacitação: Interpretação do
Desenho Infantil
https://bit.ly/3dD5OKD
135