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APOSTILA
SEXUALIDADE HUMANA
ESPÍRITO SANTO
SEXUALIDADE HUMANA
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Apesar do seu inquestionável valor, a Medicina Sexual tem sido insuficientemente
atendida, quer pela formação pré-graduada, quer pela formação dos internatos médicos,
quer mesmo pela formação pós-graduada específica.
A escolha dos temas e dos autores não foi fácil. Porventura há assuntos dispensáveis,
assim como temas em falta. Com certeza que há individualidades que mereciam figurar e
que tal não aconteceu.
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Agradecemos profundamente a todos os colaboradores e amigos que se
empenharam e permitiram que esta obra fosse uma realidade.
Estamos convictos de que este foi um primeiro passo, de um caminho longo e árduo,
mas prazeroso.
SAÚDE SEXUAL
Esta é a definição, obtida por consenso, em 2002, entre a OMS, a World Assotiation
for Sexology (WAS) e a Pan American Health Organization (PAHO). Nesta reunião foram
também concebidas e definidas estratégias e ações a implementar para promover a saúde
sexual. Assim, a sociedade, para se tornar sexualmente saudável, deve aceitar os seguintes
desafios: reconhecimento de que a saúde sexual é um direito humano fundamental, de que
devem existir políticas públicas para a sua promoção e proteção, de que devem existir leis
que protejam os direitos sexuais, de que deve existir acesso universal a uma cuidada
educação sexual adequada à idade, acesso também a serviços de saúde equipados com
profissionais especializados, vigilância e monitorização adequada de comportamentos e
indicadores de saúde sexual.
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DIREITOS SEXUAIS DA OMS
SEXUALIDADE
A saúde sexual não pode ser definida, entendida ou operacionalizada sem uma ampla
consideração da sexualidade. A sexualidade é: “Um aspecto central do ser humano que ao
longo da vida engloba sexo, identidade, género, orientação sexual, erotismo, prazer,
intimidade e reprodução. A sexualidade é vivida e expressa em pensamentos, fantasias,
desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas e relacionamentos. Embora a
sexualidade possa incluir todas essas dimensões, nem todas são sempre vivenciadas ou
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expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos,
sociais, económicos, políticos, culturais, legais, históricos, religiosos e espirituais”. (OMS,
2006).
O primeiro relatório da OMS sobre saúde sexual surge em 1975 e teve origem numa
reunião sob o tema “Education and Treatment in Human Sexuality”. A reunião teve lugar em
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Genebra, em 1974, e nela participaram importantes nomes da Sexologia - Helen Kaplan,
Willi Pasini, Giorgio Abraham, John Money e John Bancroft entre outros: “A saúde sexual
tem por objetivo o bem estar, integrando os aspectos somáticos, emocionais, intelectuais e
sociais, de modo a enriquecer positivamente a personalidade, a comunicação e o amor. O
conceito inclui três elementos básicos: a capacidade para usufruir do controlo da sexualidade
e reprodução de acordo com a ética social e pessoal; ausência de sentimentos de receio,
vergonha, culpa, falsas crenças e outros fatores psicológicos que inibam a resposta sexual
ou afetem a relação sexual; ausência de doenças orgânicas ou deficiências que prejudiquem
as funções sexuais e de reprodução.
Nas últimas décadas a saúde sexual tornou-se uma questão de saúde crucial para o
desenvolvimento económico e social. O aparecimento da sida no início da década de 80 e o
aumento das doenças sexualmente transmissíveis constituem a parte mais visível e
economicamente mais pesada para os governos mas existem outras situações, igualmente
preocupantes, como a gravidez não desejada, principalmente quando respeita a
adolescentes, o abuso sexual, a tortura, a escravatura sexual e a violência sexual.
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Desde 1994, após a realização da “International Conference on Population and
Developmant (IPCD, Cairo), 184 países adoptaram como programa de ação o
reconhecimento de que a saúde sexual tem uma dimensão essencial na saúde global, para
o desenvolvimento e bem estar humano. Este programa de ação agrupou a saúde sexual
dentro da saúde reprodutiva – “estado de completo bem estar físico, mental e social e não
simplesmente a ausência de doença em tudo o que concerne ao sistema reprodutor e todo
o seu processo de funcionamento”. Assim, está implícito ter direito a uma vida sexual
satisfatória e segura, capacidade de reprodução e a liberdade de decidir livremente, se se
quer ou não ter uma família, planear a gravidez, quando e quantas vezes, a ser informada
sobre os métodos de planeamento familiar, de ter acesso a um sistema de saúde que permita
apoio a uma gravidez segura e a gerar uma criança saudável.
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Mais recentemente a IPCD 2004 (International Conference on Population and
Development), vem questionar o conceito de saúde sexual como um dos componentes da
saúde reprodutiva pois a saúde sexual tem um âmbito mais alargado do que a saúde
reprodutiva; temas como disfunções sexuais, violência sexual, identidade sexual, erotismo,
relacionamento e prazer não estão necessariamente associados à fertilidade e ao
planeamento familiar. Além disso dizem respeito a todas as idades, desde a criança ao idoso
e não à idade da reprodução. As políticas de saúde sexual e os programas de educação são
diferentes, tem objetivos e abrangência diferente. São dois conceitos que se interceptam e
sobrepõem. Na reunião da OMS, em 2002, a definição de sexualidade e saúde sexual é
revista tendo como suporte o bem estar no seu todo e os direitos sexuais.
RESPOSTA SEXUAL
As quatro fases da resposta sexual, descrita por Masters e Johnson, são: Excitação,
Plateau, Orgasmo e Resolução - (modelo EPOR). Ambos, homem e mulher, experimentam
estas fases embora não seja muito provável que elas surjam ao mesmo tempo,
principalmente no que respeita ao orgasmo. A intensidade experimentada em cada fase e o
tempo, variam de pessoa para pessoa. É importante salientar está diversidade, para que
haja um melhor entendimento da resposta do parceiro e para uma melhor experiência sexual
de cada um.
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A primeira fase do ciclo, Excitação, pode durar alguns momentos ou horas e nela se
verifica, aumento da tensão muscular, aumento da frequência cardíaca e respiratória, os
mamilos tornam-se turgidos ou eretos, aumenta o fluxo sanguíneo para a área genital; surge
no homem a ereção e aumento de volume dos testículos; na mulher tumescência do clítoris
e dos pequenos lábios, lubrificação vaginal e das paredes da vagina.
Na terceira fase, Orgasmo, atinge-se o clímax da resposta sexual, é a fase mais curta,
dura só alguns segundos, com contrações involuntárias musculares, a tensão arterial atinge
o máximo, frequência respiratória e cardíaca aumentam mais ainda para uma melhor
oxigenação, há espasmos musculares nos pés, contrações rítmicas dos músculos da vagina,
do útero e dos músculos da base do pénis com ejaculação do sémen.
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O modelo linear, continua a ser referido como, o que melhor descreve a resposta
normal, considerando-se os modelos circulares na mulher com disfunção sexual.
PÉNIS
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A base,
O corpo e a
Extremidade.
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A base do pénis encontra-se no períneo, entre o folheto inferior do diafragma
urogenital e a fáscia de Colles. As extremidades proximais dos corpos cavernosos, os crura,
encontram-se recobertos pelos músculos isquio-cavernosos, enquanto que o corpo
esponjoso encontra-se envolvido pelo músculo bulbo cavernoso.
A pele do pénis é contínua com a pele da parede abdominal inferior e após recobrir a
glande dobra-se sobre si mesma formando uma prega - o prepúcio - que vai inserir-se no
sulco balano-prepucial ou coronal na base da glande.
Abaixo da pele existem 2 fáscias principais: a mais superficial ou fáscia de Dartos que
é contígua com as fáscias de Scarpa a nível abdominal e de Colles no períneo. A camada
mais profunda é a fáscia de Buck que recobre os corpos cavernosos e o corpo esponjoso
em compartimentos separados.
As três estruturas são por sua vez recobertos pela túnica albugínea, uma estrutura
forte e espessa, com duas camadas, de anatomia variável, cuja função é dar rigidez aos
corpos erécteis e funcionar com mecanismo venoclusivo.
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ANATOMIA VASCULAR DO PÉNIS
A maior parte do aporte sanguíneo para o pénis é feito através da artéria pudenda
interna, ramo da artéria ilíaca interna.
A artéria pudenda interna origina a artéria peniana após emitir um ramo perineal. Por
sua vez a artéria peniana divide-se em três ramos: as artérias dorsal, bulbo-uretral e
cavernosa que se anastomosam num anel vascular à volta da glande.
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A drenagem venosa dos três corpos origina-se a partir de pequenas vénulas que se
unem num plexo venoso abaixo da túnica albugínea, que sai do pénis sob a forma de veias
emissárias.
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A túnica albugínea, a pele e tecido celular subcutâneo drenam através de múltiplas
veias superficiais que se unem perto da raiz do pénis formando uma veia dorsal (única ou
dupla), que por sua vez drena nas veias safenas.
ESCROTO
O escroto é uma bolsa de pele que contém os testículos e a porção inferior dos
cordões espermáticos.
Na zona média, observa-se uma rafe testicular que se estende desde a base do pénis
adiante, ao longo do períneo até ao ânus posteriormente.
TESTÍCULOS
São órgãos pares, de forma ovoide, que antes do nascimento descem da cavidade
abdominal pelo canal inguinal, até às bolsas escrotais onde se encontram suspensos pelos
cordões espermáticos, o que lhes permite estar a uma temperatura 2-3ºC inferior à
temperatura corporal, condição essencial para a espermatogénese.
Cada testículo é recoberto pela túnica albugínea que na face dorsal é mais espessa
e origina o mediastino testicular. Este, constitui o local de entrada dos vasos sanguíneos e
linfáticos bem como dos ductos eferentes (que drenam os espermatozoides para o
epidídimo).
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A partir da túnica albugínea originam-se numerosas trabéculas fibrosas que dividem
o parênquima testicular em lóbulos onde se encontram os túbulos seminíferos, local da
produção do esperma.
Os túbulos seminíferos são contínuos com os ductos eferentes que levam o esperma
até ao epidídimo.
http://www.auladeanatomia.com/upload/site_pagina/testiculo1.jpg
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EPIDÍDIMO
É formado pela convergência de vários ductos eferentes que originam um ducto único,
o ducto epididimário, que se enrola sobre si mesmo numerosas vezes formando “um novelo”
que drena no canal deferente.
A veia testicular drena o sangue do testículo para a veia cava inferior à direita ou para
a veia renal à esquerda.
CANAL DEFERENTE
Por sua vez o ducto ejaculatório atravessa a próstata terminando ao nível da uretra
prostática, perto do orifício do utrículo prostático.
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VESÍCULAS SEMINAIS
Cada vesícula consiste em um único tubo, enrolado sobre si mesmo e emitindo vários
divertículos, que dão à glândula um contorno lobulado. A drenagem vesicular é feita para
cada vesícula, separadamente na uretra posterior, depois de se fundirem com os respectivos
ductos deferentes.
PRÓSTATA
A próstata é uma glândula única com o tamanho aproximado de uma castanha, que
ocupa uma posição central na cavidade pélvica circundando a porção inicial da uretra.
Encontra-se localizada abaixo da bexiga, adiante do reto, atrás do púbis e por cima do
diafragma pélvico. Lateralmente encontram-se os músculos levantadores do ânus.
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GLÂNDULAS BULBOURETRAIS (GLÂNDULAS DE COWPER)
URETRA MASCULINA
Do ponto de vista funcional, pode ainda ser dividida em uretra anterior e uretra
posterior.
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O esfíncter urinário masculino é constituído pelo colo vesical (esfíncter interno) e
esfíncter urinário propriamente dito (esfíncter externo).
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FISIOLOGIA SEXUAL MASCULINA
FISIOLOGIA DA ERECÇÃO
Poder-se-á definir ereção peniana como o estado de rigidez peniana necessária para
que o homem consiga realizar a penetração sexual.
Para que a ereção ocorra são necessárias uma série de estruturas interligadas entre
si: sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e estruturas penianas, existindo para
isso uma rede de aferências e eferências notáveis entre os diferentes níveis.
VIAS PERIFÉRICAS
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Os nervos simpáticos têm origem a nível da medula espinhal torácica (T11 e T12) e
lombar (L1 e L2). A inervação parassimpática origina-se a nível da medula espinhal sagrada
(S2, S3 e S4), encontrando as fibras simpáticas, acabando por formar o plexo pélvico. Os
nervos cavernosos são ramos do plexo pélvico que inervam o pénis. A estimulação
parassimpática causa ereção e a atividade simpática causa ejaculação e detumescência
peniana.
No que respeita à inervação somática, as aferências têm a sua origem nos receptores
ao nível da pele, glande, uretra e corpos cavernosos. As fibras sensoriais dos receptores
vão acabar por formar ramos do nervo dorsal do pénis que por sua vez se vai unir a outros
nervos, acabando por originar o nervo pudendo. O nervo pudendo encontra a medula
espinhal a nível de S2-S4. São estas estruturas somatosensoriais que são responsáveis pela
mensagem da dor, temperatura e toque. Por sua vez, o núcleo de Onuf (S2-S4) é o centro
somático para a inervação eferente (somatomotor) dos músculos ísqueo-cavernosos e bulbo
cavernosos.
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REGIÕES DE ACTIVAÇÃO FUNÇÃO
CEREBRAL
Córtex temporal inferior Área de associação visual
Ínsula direita Processamento da informação somatosensorial com
estados motivacionais
Córtex frontal direito inferior Processamento de informação sensorial
Córtex cingulato anterior Controlo das funções autonómica e neuroendócrina
esquerdo
Córtex occipital direito Processamento visual
Hipotálamo direito Comportamento sexual masculino
Caudado esquerdo Processamento da atenção e resposta a novos estímulos
1- EREÇÃO PSICOGÊNICA
2- EREÇÃO REFLEXOGÉNICA
Este tipo de ereção é provocado pela estimulação dos órgãos genitais. Esta
estimulação gera impulsos que atingem os centros espinhais da ereção, sendo que uns
ativam o núcleo autonómico que envia mensagens para o nervo cavernoso e ativam a
ereção, enquanto outros seguem uma via ascendente gerando percepção sensorial. Este
tipo de ereção encontra-se preservada nos doentes com lesão alta da medula espinhal.
3- EREÇÃO NOTURNA
Este tipo de ereção ocorre na maior parte das vezes durante o sono REM. O centro
responsável por esta ereção é a formação pontina reticular: durante o sono REM ocorre
ativação dos neurónios colinérgicos no tegumento pontino lateral enquanto que os
serotoninérgicos do mesencéfalo e os adrenérgicos do lócus ceruleus são inativados.
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HEMODINÂMICA DA EREÇÃO E DA DETUMESCÊNCIA
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Figura 1: Mecanismo Veno-Oclusivo
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A Noradrenalina libertada pelas terminações nervosas e as endotelinas e
prostaglandinas libertadas pelo endotélio, ativam receptores localizados no músculo liso,
aumentando o trifosfato inositol e diacilglicerol, resultando no aumento de Cálcio a partir do
retículo sarcoplasmático e abertura dos canais de cálcio na membrana celular do músculo
liso. Este aumento de Cálcio liga-se à Calmodulina e altera a sua conformação expondo o
local de interação com a quinase de cadeia leve de miosina. Seguidamente ocorre
fosforilação das cadeias leves de miosina com formação de pontes da miosina com os
filamentos de atina, com o desenvolvimento de força e contração muscular subsequente.
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Existem vários neurotransmissores que são fundamentais no fenómeno eréctil. O
óxido nítrico é considerado como o principal neurotransmissor envolvido na ereção, ao
aumentar o GMPc, levando ao relaxamento do músculo liso cavernoso. A acetilcolina,
apesar de não ser o neurotransmissor principal, contribui indiretamente para a ereção ao
permitir a inibição dos neuróneos adrenérgicos e estimulação da libertação de óxido nítrico
pelas células endoteliais. Já a noradrenalina é a responsável pelos estados de flacidez e
detumescência penianas, pela sua ação a nível das fibras α-adrenérgicas. A nível da via do
AMPc, as moléculas envolvidas nesta via são a Adenosina, Calcitonina, Prostaglandinas e
Péptido Vasoativo Intestinal.
REGULAÇÃO HORMONAL
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FISIOLOGIA DA EJACULAÇÃO
A fase de emissão é a fase inicial, e consiste num reflexo espinhal definido pela
deposição de fluido seminal na uretra prostática. Já a fase de expulsão representa uma ação
combinada do sistema nervoso simpático e somático.
A inervação somática por via do Nervo Pudendo é responsável pela fase de expulsão,
através de uma ação síncrona dos músculos ísquio-cavernoso, bulbo-esponjoso, esfíncteres
anal e uretral externo e músculos do ânus e perineais.
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A ejaculação envolve áreas cerebrais sensoriais, centros motores e vários núcleos
espinhais. Existem vários neurotransmissores envolvidos no processo, incluindo serotonina,
dopamina, oxitocina, ácido gama-aminobutírico (GABA), adrenalina, acetilcolina e óxido
nítrico.
O testículo tem uma função endócrina e uma exócrina. A função endócrina vai
traduzir-se no desenvolvimento normal do macho da espécie, na sua virilização e na sua
capacitação para a reprodução. A função exócrina vai resultar na espermatogénese.
ESPERMATOGÉNESE
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espermatogónias crescem e duplicam os seus cromossomas, transformando-se em
espermatócitos primários ou do tipo I. Os espermatócitos primários sofrerão meiose, dando
origem a duas células haplóides chamadas de espermatócitos secundários ou do tipo II, que
sofrerão outra meiose, originando quatro células haplóides, conhecidas por espermátides.
As duas meioses que os espermatócitos sofrem representam a fase de maturação.
AMBIENTE HORMONAL
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também participam neste processo. A regulação é feita pelo eixo hipotálamo hipofisário. O
Hipotálamo produz hormona libertadora da hormona luteinizante (LHRH), a nível dos núcleos
pré-óptico e arqueado, de forma pulsátil, de 90 a 120 minutos. Esta secreção é inibida pelos
seguintes agentes: Beta-adrenérgicos, endorfinas, testosterona, dopamina, serotonina,
progestagénios, prolactina, GABA e IL-1. A sua estimulação é feita pelo neuropéptido Y, pela
leptina e por alfa-adrenérgicos. A nível da adeno-hipófise a LHRH vai provocar a libertação
da LH e FSH. A LH com a sua semivida de 20 minutos, atua sobre as células de Leydig e
por intermédio do AMPc leva a produção de testosterona a partir do colesterol. A FSH, com
uma semivida de 3 horas, atua nas células de sertoli por mecanismos ainda não totalmente
esclarecidos, levando a produção de aromatase, da inibina e da ativina.
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A genitália feminina pode ser subdividida na sua globalidade em órgãos sexuais
internos e órgãos sexuais externos, ou vulva, e será essa a divisão considerada neste
capítulo. Seguidamente descreveremos de forma sucinta cada uma das estruturas que a
compreendem.
Vulva
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MONTE PÚBICO
CLITÓRIS
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É um órgão puramente sensorial cuja única função conhecida é gerar prazer sexual
através da sua estimulação direta. A sua estrutura assemelha-se a um iceberg uma vez que,
de acordo com O`Connell, apenas um quinto é visível à superfície, correspondendo
internamente a um complexo triplanar de tecido eréctil (figura 3, 4 e 5).
Cada um dos corpos cavernosos encontra-se rodeado por uma túnica albugínea
fibroelástica. O corpo e as raízes do clitóris podem ter mais de 10cm de comprimento no seu
conjunto, sendo o seu tamanho médio de 5-7cm. O corpo do clitóris tem a forma de
boomerang em corte sagital e a sua posição é suportada pelo componente mais profundo
do ligamento suspensor do clitóris. O corpo do clitóris prolonga-se sob o monte púbico
bifurcando-se e formando a zona crural do clitóris a nível do bordo inferior do púbis. A glande
do clitóris localiza-se cerca de 1cm acima do meato uretral, é uma estrutura fibrovascular
constituída por tecido cavernoso em contato direto com a pele devido à ausência de túnica
albugínea.
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o tecido eréctil do clitóris é composto por grandes espaços vasculares com epitélio
essencialmente vascular (trabéculas e sinusóides) entremeados por músculo liso; está
natureza cavernosa do tecido eréctil permite o seu ingurgitamento e expansão durante a
excitação sexual. Durante a excitação sexual os músculos isquiocavernosos contraem-se, o
que aumenta o afluxo sanguíneo para o corpo e glande do clitóris, aumentando o seu grau
de ereção.
BULBOS VESTIBULARES
O tecido eréctil que os constitui não é envolvido por uma túnica albugínea. O tamanho
dos bulbos vestibulares varia entre indivíduos e pode ser dependente da idade e níveis de
estrogénio e considerados como o equivalente feminino ao corpo esponjoso masculino. As
características histológicas dos bulbos vestibulares são semelhantes ao do clitóris, sendo
contudo mais ricos em tecido fibroelástico intersticial e tecido muscular liso em redor dos
seus espaços vasculares.
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PREPÚCIO DO CLITÓRIS
O prepúcio do clitóris é uma porção de pele que reveste parcialmente o clitóris e que
se continua postero-inferiormente com os pequenos lábios. Tem a forma de um triângulo
invertido e desempenha um papel importante a nível das aferências sensoriais aquando da
excitação sexual.
FREIO DO CLITÓRIS
Pequenas dobras de tecido elástico recoberto por mucosa que se projetam da glande
do clitóris para os pequenos lábios.
HÍMEN
O hímen é uma fina prega de membrana mucosa que cobre parcialmente o limite
inferior da vagina. A sua aparência é muito variável podendo ter uma forma anelar,
semilunar, cruciforme ou mesmo encontrar-se ausente. Ele pode rodear totalmente ou
parcialmente o introito vaginal, e corresponder a uma membrana vestigial ou oclusiva, quase
a totalidade, do orifício vaginal. O hímen pode ou não romper com a atividade sexual ou ser
uma estrutura particularmente fibrosa e espessa originando dispareunia introital. Após a sua
ruptura mantém-se sobre a forma de pequenas carúnculas/restos himeniais que rodeiam o
orifício vaginal.
GRANDES LÁBIOS
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a nível do corpo perineal formando a comissura posterior. Os grandes lábios circundam e
limitam o vestíbulo e, no espaço compreendido entre eles encontram-se os pequenos lábios,
a glande do clitóris e o introito vaginal. O tecido subcutâneo dos grandes lábios consiste
principalmente em gordura, a sua face interna é rica em glândulas sebáceas que a mantêm
lubrificada.
Eles também contêm estruturas fasciais dos ligamentos redondos, feixes de células
musculares lisas, terminações nervosas, vasos linfáticos e sanguíneos. O seu aspecto
altera-se com a excitação sexual, sofrendo um processo de vaso congestão passiva,
contrariamente ao aumento ativo de fluxo sanguíneo que ocorre nas outras partes da vulva.
Na mulher jovem a pele que os cobre é lisa e ligeiramente hiperpigmentada; com o ciclo da
vida a hiperpigmentação torna-se mais notória bem como o surgimento de pelos púbicos.
PEQUENOS LÁBIOS
Pode haver algum grau de atrofia com a diminuição dos níveis de estrogénios e o
ciclo menstrual influencia a sua estrutura anatómica e vascular. O trauma devido ao parto e
processos inflamatórios crónicos pode resultar em hipertrofia assimétrica. São constituídos
por numerosas estruturas vasculares rodeadas por colagénio, não possuem músculo liso
pelo que não têm uma atividade eréctil, são ricos em elastina, presumivelmente para permitir
o ingurgitamento labial e alargamento durante a excitação sexual (figura 7). A sua face
interna é rica em terminações nervosas e receptores sensoriais, em contraste com os
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grandes lábios onde estas terminações e receptores são escassos. Desempenham um papel
importante na resposta sexual através da sua capacidade de ingurgitamento, o que permite
duplicar ou triplicar a sua espessura.
figura 7
SULCO INTERLABIAL
Região localizada entre a face interna dos grandes lábios e a face externa dos
pequenos lábios.
VESTÍBULO VULVAR
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Corresponde à área compreendida entre a face inferior do clitóris, as faces mediais
dos pequenos lábios e a fouchette vaginal. No centro do vestíbulo encontra-se a face externa
do hímen, que marca o limite entre o introito vaginal e o canal vaginal.
URETRA
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vesical foi identificada como correspondendo ao ponto de Gräfenberg (ou “ponto G”), uma
área que em algumas mulheres, é particularmente sensível à estimulação táctil.
CORPO PERINEAL
A principal fonte de suprimento vascular pélvico é a artéria ilíaca interna (figura 8). A
artéria pudenda interna, ramo da artéria ilíaca interna, atravessa o canal de Alcock, dá
origem à artéria dorsal do clitóris, à artéria perineal, artéria labial posterior e artéria do bolbo
vestibular, bem como, na profundidade à artéria profunda/dorsal do clitóris, que está
localizada centralmente no tecido eréctil dos corpos cavernosos e origina a artéria comum
do clitóris que por sua vez dá origem às artérias cavernosas e à artéria dorsal do clitóris.
A artéria dorsal do clitóris, juntamente com as artérias perineais (que se dividem num
ramo bulbar e num ramo uretral), são as responsáveis pelo suprimento sanguíneo do tecido
eréctil do clitóris e bulbos vestibulares. Uma fonte secundária de suprimento sanguíneo para
a genitália externa é a artéria femoral. Um ramo da artéria femoral, a artéria pudenda externa,
divide-se numa série de ramos labiais anteriores que vascularizam o prepúcio e parte dos
grandes e pequenos lábios, sendo a restante área vascularizada pelas artérias labiais
posteriores, e pelas artérias perineais, ramos da artéria pudenda interna.
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INERVAÇÃO DA GENITÁLIA EXTERNA
Vagina
A vagina é uma estrutura tubular achatada com quatro paredes que no seu conjunto
formam uma cavidade virtual, que se estende desde o introito (vestíbulo vulvar) ao cérvix
uterino e fórnix posterior. Ao longo da superfície mucosa das paredes anterior e posterior
encontra-se sulco longitudinal a partir do qual se estendem elevações transversais
secundárias chamadas rugas (figura 10). A parede vaginal é constituída por três camadas:
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através da parede da vagina. O transudato fornece a lubrificação necessária para o coito
vaginal não doloroso e não traumático. A mucosa vaginal não possui estruturas glandulares,
é constituída por um epitélio escamoso estratificado com várias camadas de espessura. A
camada basal é uma camada de células cilíndricas com núcleo oval. Acima desta
encontram-se várias camadas de células poliédricas ligadas entre si, achatadas e com
citoplasma rico em glicogénio. As camadas mais superficiais descamam para o lúmen
vaginal, onde o glicogénio intracelular é convertido em ácido láctico por bactérias da flora
comensal da vagina. A acidez resultante desempenha um papel importante na proteção do
sistema reprodutivo feminino contra a infecção por bactérias patogénicas.
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também muito menor após a menopausa. O introito vaginal é rodeado pela musculatura
esquelética do pavimento pélvico, incluindo o músculo elevador do ânus (ilioccoccígeo, pubo
coccígeo, pubo retal), os músculos bulbo esponjoso, e os músculos perineais transversos
superficiais e profundos. Esta relação da musculatura pélvica com o introito vaginal permite
a contração da vagina em redor do pénis durante o orgasmo.
ÚTERO
CORPO DO ÚTERO
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do endométrio encontra-se sob controlo hormonal, nomeadamente, na dependência dos
níveis de estrogénio e de progesterona. O miométrio é constituído por feixes de fibras
musculares lisas separados por cordões de tecido conjuntivo. O estrogénio é essencial para
a manutenção do tamanho e da função das células do músculo liso miometrial. A serosa
corresponde ao revestimento do fundo e corpo uterinos pelo peritoneu. O útero é suportado
por um conjunto de estruturas que englobam as vísceras pélvicas, as reflexões peritoneais
e um conjunto de estruturas ligamentares denominadas de ligamentos largos, redondos,
cardeais, e útero-sagrados.
CÉRVIX
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OVÁRIOS E TROMPAS
Todos os órgãos pélvicos são vascularizados por um único tronco arterial, a artéria
ilíaca interna (hipogástrica). No seu trajeto descendente, lateralmente à pélvis e sob a
reflexão peritoneal a artéria ilíaca interna origina uma série de ramos viscerais que incluem
as artérias retais, uterinas, e as artérias vesicais. Antes de atingir o útero, as artérias uterinas
originam ramos para a vagina e cérvix uterino. Dentro do ligamento largo, a artéria uterina
origina numerosos ramos para o corpo do útero até se anastomosar com a artéria ovárica
na junção uterotubar. A região proximal da vagina é vascularizada pelos ramos vaginais das
artérias hipogástricas e uterinas e a porção distal pelas artérias comum do clitóris e
hemorroidária média.
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A veia uterina é normalmente uma estrutura plexiforme, que percorre lateralmente o
corpo uterino na base do ligamento largo, antes de atingir a parede lateral da pélvis, aqui, o
plexo de veias uterinas forma uma série de veias tributárias que são aferentes da veia ilíaca
interna, que por sua vez é aferente da veia cava inferior.
As estruturas nervosas do útero têm origem do plexo hipogástrico inferior formado por
ramos dos nervos hipogástricos (simpáticos, T10-L1) e por fibras esplâncnicas
(parassimpáticas, S2S4), este plexo fornece ramos que se deslocam via ligamentos
cardinais e uterosagrados, para o cérvix, porção superior da vagina, uretra, bulbos
vestibulares e clitóris.
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PONTO G (DE GRÄFENBERG)
NEUROANATOMIA E NEUROFISIOLOGIA
O nervo pudendo e seus ramos são a origem da maioria das fibras motoras e
sensitivas para os músculos e pele da região vulvar. O nervo pudendo tem origem na
segunda, terceira e quarta raízes sagradas. Quando o nervo pudendo se aproxima do
diafragma urogenital, divide-se em três ramos: o hemorroidário inferior, perineal profundo e
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perineal superficial. A pele do ânus, clítoris e porções média e inferior da vulva são inervados
pelos ramos distais do nervo pudendo. A região vulvar recebe inervação sensitiva adicional
de três nervos. O ramo anterior do nervo ilioinguinal envia fibras para o monte de Vénus e
porção superior dos grandes lábios. O nervo génito-femoral envia fibras para os grandes
lábios e o nervo fémuro-cutâneo posterior envia fibras para a porção ínfero-posterior da
vulva.
FATORES ENDÓCRINOS
1- Estrogénio e Progesterona
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estrogénios pode afetar indiretamente a função sexual pela diminuição da congestão
vascular e lubrificação vaginais e pela atrofia do epitélio vaginal. O estrogénio tem função
reguladora da parede vaginal e da expressão da óxido nítrico sintetase. Assim, a menopausa
leva a apoptose da parede vaginal, músculo liso e epitélio. Terapêutica com estrogénios
aumenta a expressão de óxido nítrico sintetase, restaura a lubrificação vaginal e diminui a
dispareunia, levando a maior satisfação sexual feminina.
De forma geral, os progestagénios não têm impacto direto na função sexual feminina.
Indiretamente, a progesterona pode afetar o comportamento sexual por aumentar o humor
depressivo.
2- Testosterona
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Além do envelhecimento, várias outras condições clínicas em mulheres pré-
menopausa estão associadas a níveis baixos de testosterona. Os sintomas de insuficiência
de androgénios incluem disforia, astenia, diminuição da libido, da receptividade sexual e
prazer, instabilidade vasomotora e diminuição da lubrificação vaginal.
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Figura: Ciclo de resposta sexual.
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