Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Marxismo
G. V. Plekhanov
1908
Primeira Edição:........
Fonte: Biblioteca Marxista Virtual do Partido da Causa Operária.
Tradução: ........
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, janeiro 2006.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e
indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
Prefácio
Tudo o que foi dito até hoje pelos "críticos" de Marx sobre
o suposto caráter unilateral do marxismo e sobre seu pretenso
desprezo por todos os "fatores" da evolução social, exceto o
fator econômico, resulta simplesmente da incompreensão do
papel que Marx e Engels reservam à ação e reação recíprocas
entre a "base" e a "superestrutura". Para persuadir-se quão
pouco Marx e Engels pretendiam ignorar, por exemplo, a
importância do fator político, é suficiente ler as páginas do
"Manifesto Comunista", onde é abordado o movimento de
emancipação da burguesia. Está dito: "Classe oprimida pelo
despotismo feudal, associação armada se auto-governando na
comuna, aqui livre república municipal, lá terceiro
estado tributário da monarquia, depois, durante o período
manufatureiro, contrapeso da nobreza nas monarquias
limitadas ou absolutas, pedra angular das grandes monarquias,
a burguesia, após o estabelecimento da grande indústria e do
mercado mundial, conquistou finalmente o poder político
exclusivo no Estado representativo moderno. O governo
moderno nada mais é que um comitê administrativo dos
negócios comuns da classe burguesa".
[1] O livro de VI. Verigo: Marx als Philosoph (Berna e Leipzig, 1904), é consagrado
à filosofia de Marx e Engels. É difícil, todavia, imaginar obra tão insatisfatória.
[2] Ver seu interessante livro: A Alemanha nas vésperas da Revolução de 1848, São
Petersburgo, 1906, p. 228-229.
[6] O próprio Feuerbach diz muito bem, que o começo de toda filosofia é determinado
pelo estado precedente do pensamento filosófico.
[15] "O pensar", diz ele,"é precedido pelo ser; antes de pensar a qualidade, você a
sente" (Oeuvres , II, p. 253).
[19] Ver também o terceiro capítulo de seu livro: l'Âme et le Systême Nerveux.
Hygiene et Pathologie, Paris, 1906.
[22] Ibid., p. 7 e 8.
[23] Ibid.
[25] "O espírito absoluto de Hegel não é outra coisa que o espíritcs abstrato, que o
espírito isolado de si mesmo, o que chamamos o espírito finito, assim como o Ser
infinito da teologia não é outra coisa que o Ser abstrato finito". (Oeuvres, II, p. 263).
[27] Ver T. Gomperz: Les Penseurs de la Grèce, trad. por Aug. Reymond, Lausanne,
1905, p. 414-415.
[39] No que concerne à questão dos "saltos" ver nossa brochura L'Iniortune de M.
Tikhonrirov, São Petersburgo, edição M. Malykh, p. 6-14 (v. o anexo).
[43] Sem falar de Espinosa, é preciso não esquecer que muitos materialistas
franceses do século XVIII tendiam para a teoria da "matéria animada".
[45] Ver nosso artigo "Bielinski ct Ia Réalité Rationnelle", na coletânea Vingt Années
(Oeuvres, t. X).
[47] Assim como já disséramos, Feuerbach não tinha ido, neste caso, mais longe
que Hegel.
[54] Vàlkerkunde, 1, p. 83. E, além disso, é preciso lembrar que reduzir à escravidão
é, por vezes, nos primeiros graus da evolução, simplesmente incorporar os
prisioneiros à força na organização social dos vencedores conferindo-lhes os mesmos
direitos. Não há pois lucro fornecido pelo sobre-trabalho do prisioneiro, mas
simplesmente um proveito comum decorrente da colaboração com este último. Mas
esta forma de escravidão pressupõe a existência de algumas forças de produção e
de certa organização da produção.
[55] Ed. J. Eyre: Manners and Customs of the Aborigines of the Australia, Londres,
1847, p. 243.
[56] Dans les Ténèbres de l'Afrique, Paris, 1890, t. II, p. 91.
[57] Burton: Voyage aux Grands Lacs de l'Afrique Orientale, Paris, 1862, p. 666.
[59] É o que Engels explica muito bem nos capítulos do Anti-Dühring, consagrados à
análise da "teoria da violência". Ver também Les Maitres de la Guerre, pelo Tenente-
Coronel Rousset, professor na Escola Superior de Guerra, Paris, 1901 (p. 2).
[62] Ver sua History of Civilization in England, vol. 1, Leipzig, 1865, p. 36-37.
Segundo Buckle, "o aspecto geral da região" (the general aspect of nature), que é
uma das quatro causas determinantes do caráter particular de um povo, influi
sobretudo sobre a imaginação, e uma imaginação fortemente desenvolvida engendra
as superstições que, por sua vez, retarda o desenvolvimento do saber. A freqüência
dos tremores de terra no Peru, agindo sobre a imaginação dos indígenas, também
exerceu influência sobre seu regime político. Se os espanhóis e os italianos são
supersticiosos, isto ainda provém dos tremores de terra e das erupções vulcânicas
(Ibid. p. 112-113). Esta ação diretamente psicológica é particularmente forte nos
primeiros estágios do desenvolvimento cultural. A ciência moderna, estabelece,
entretanto, uma semelhança evidente entre as crenças religiosas das raças primitivas
situadas ao mesmo nível de desenvolvimento econômico. As opiniões de Buckle, que
ele empresta dos escritores do século XVII, já haviam sido exprimidas por Hipócrates
(ver Des Airs, des Eaux et des Lieux, tradução de Coray, Paris, 1800, parágrafos 76,
85, 86, 88 etc.).
[63] Para tudo o que se refere à raça, ver o interessante ti abalhn de 1. Finot: Le Pré
jugé des Races, Paris, 1905. Waitz diz: "Certas tribos negras apresentam um notável
exemplo da ligação existente entre a principal ocupação e o caráter nacional"
(Anthropologie der Naturvölker, II, p. 107).
[64] No que concerne à influência exercida pela economia sobre as relações sociais,
ver Engels: Der Ursprung der Familie des Privateigenthums und des Staats, 8.a
edição, Stuttgart, 1900; R. Hildebrand: Recht und Sitte aul verschiedenen
Kulturstufen, 1ª. parte, lena, 1896. Infelizmente Hildebrand não sabe utilizar bem os
dados econômicos. A interessante brochura de T. Achelis: Rechtsentstehung und
Rechtsgeschichte, Leipzig, 1904, trata do direito enquanto produto do
desenvolvimento social, mas não aprofunda a questão de saber o que condiciona este
desenvolvimento. No livro de M. A. Vaccaro: Les Bases Sociologiques du Droit et de
I'Etat, Paris, 1898, encontramos muitas observações de detalhes esparsas que
iluminam alguns aspectos da questão, mas, enfim, o próprio autor ainda não tem
idéia clara do objeto. Ver também Teresa Labriola: Revisione Critica delle più Recenti
Teorie sulle Origini del Diritto, Roma, 1901.
[71] No que concerne aos "povos pastores exclusivos", ver especialmente o livro de
Gustav Fischer: Eingeborene Süd-Afrikas, Breslau 1872. Fischer diz: "O ideal do
cafre, o objeto com o qual sonha e que exalta com predileção em seus cantos, são
os bois, quer dizer, seu mais precioso bem. Os louvores ao gado se alternam no
canto, com os do chefe da tribo e ainda é seu gado que tem grande papel, nos
louvores que dele se faz". (t. 1, p. 85). Os cuidados a dispensar ao gado são, aos
olhos do homem cafre, a labuta mais honrosa (1, p. 85); a própria guerra é a
ocupação favorita do cafre, principalmente porque, em seu pensamento, ela está
associado à idéia de um butim composto de gado" (1, p. 79). "Os litígios entre os
cafres vêm de disputas que têm por móvel o gado" (1, p. 322). Fischer também fez
uma descrição muito interessante da vida dos bosquímanos caçadores (1, p. 424 e
seguintes).
[72] Mytlzes, Cu1t~s et Religions, trad. por Charillet, Paris, 1896, p. 332.
[75] Consultar G. Schurz: Vorgeschichte der kultur, Leipzig e Viena, 1909, p. 559-
564. Mais adiante, retornaremos a este objeto em outra circunstância.
J.-H. Speke diz em Les Sources du Nu (Paris, 1865, p. 21) que, entre os negros, os
escravos consideram que evadir-se é cometer para com o senhor que pagou por ele,
uma ação contrária à honra, infamanto. A isto se soma que esses mesmos escravos
consideram sua situaçao como mais honrosa que a de um trabalhador assalariado.
Tal maneira de ver corresponde àquela fase da sociedade "onde a escravidão ainda
se mantém como fenômeno de progresso".
[84] Consultar Les Classes Rurales et le Régime Dornanial en France au Moyen Âge,
por Henri Sée, Paris 1901, p. 554. Ver também Fr. Meyer: Die Stände, ihr Leben
Treiben, Marburg 1882, p. 8.
[85] L'Histoire de la Philosophie, ce qu'elle a été, ce qu'elle peut être, Paris, 1888.
[87] Ibid., p. 99
[93] Ver nosso artigo intitulado "Du Róle de la Personnalité dans l'Histoire" em nosso
livro Vingt Annés (Oeuvres, t. VIII).
[94] Ele denominou de grega "sua teoria" porque, segundo ele, as teses
fundamentais "foram anunciadas pelo grego Tales e desenvolvidas novamente por
um grego" (quer dizer, por Eleuteropoulos; v. seu livro, p. 17).
[95] A este respeito, ver nosso prefácio à segunda edição de nossa tradução russa
do Manifesto.
[97] Ver Souvenirs d'un Hugolâtre por Augustin Challamel, Paris, 1885, p. 259.
Ingres foi mais conseqüente que Delacroix que, romântico em pintura, conservou
unia predileção pela música clássica.
[99] E sobretudo na história do papel exercido por cada uma destas artes, enquanto
intérpretes dos estados de alma da época. Sabemos que em épocas diferentes
surgem, em primeiro plano, diferentes ideologias e diferentes ramos ideológicos. A
teologia exerceu, na Idade Média, um papel muito mais importante que atualmente;
a dança era, na sociedade primitiva, a arte mais importante, hoje está longe de ser
assim etc. etc.
[100] Há no livro de Chesneau (Les Chels d'École, Paris, 1883, p. 378-379) uma
observação muito sutil sobre a psicologia dos românticos. Chesneau salienta que o
romantismo surgiu logo após a Revolução e o Império. "Na literatura e na arte, houve
uma crise, semelhante àquela que se produziu nos costumes após o Terror, uma
verdadeira crise dos sentidos. As pessoas haviam vivido num medo perpétuo. Depois
seu medo cessa a elas se abandonam ao prazer de viver. As aparências exteriores,
as formas exteriores atraíam exclusivamente a atenção. O céu azul, a luz
deslumbrante, a beleza das mulheres, os veludos suntuosos, as sedas de cores
cambiantes, o brilho do ouro, o fogo dos diamantes, tudo dava prazer. As pessoas só
viviam com os olhos, tinham cessado de pensar". Isto se assemelha, em muitos
pontos, à psicologia da época que vivemos atualmente na Rússia. Mas a marcha dos
acontecimentos, que era a causa deste estado de alma, era, por sua vez, provocada
pela marcha da evolução econômica.
[103] Aqui temos o mesmo qüiproquó que faz com que os partidários do
arquiburguês Nietzsche se tornem verdadeiramente divertidos quando atacam a
burguesia.
[104] "A obra de arte", diz Taine, "é determinada por um conjunto que é o estado
geral do espírito e dos costumes do meio".
[107] Em sua Histoire das Français (t. I, p. 59), Sismondi emite uma interessante
opinião sobre o significado destes romances, que fornece elementos para o estudo
sociológico da imitação.
[108] Exposition du Système du Monde, Paris, ano IV, t. II, p.29 1-292.
[109] A este respeito ver, entre outros, o artigo de Engels anteriormente citado:
Ueber den historischen Materialismus.
[112] Ainda algumas palavras para explicar o que precede. Segundo Marx, "as
categorias econômicas são apenas expressões teóricas, abstrações das relações
sociais de produção" (Miséria da Filosofia, II parte, 2.a nota). Isto significa que Marx
considera as categorias econômicas também do ponto de vista das relações mútuas
que existem entre os homens no processo social da produção e pela evolução das
quais ele explica em suas linhas fundamentais o movimento histórico da humanidade.
[114] O paralelo que traçaremos aqui, será extremamente instrutivo. Segundo Marx,
a dialética materialista, explicando o que existe, explica, ao mesmo tempo, seu
desaparecimento inevitável. Nisto Marx vê o aspecto vantajoso, o valor da dialética
sob o ponto de vista do progresso. Mas Seligman diz: "O socialismo é uma teoria que
se reporta ao porvir, o materialismo histórico é uma teoria que se reporta ao passado"
(Ibid., p. 108). Por esta razão, unicamente, Selígman considera possível para si,
defender o materialismo histórico. O que equivale a dizer que se pode ignorar este
materialismo na medida em que ele explica o desaparecimento inevitável do que
existe, mas dele servir-se para a explicação do que existiu. Esta é uma das
numerosas variedades da "contabilidade por partidas dobradas" no domínio
ideológico, contabilidade também engendrada por causas econômicas.
[115] Herrn Eugen Dühring Umwãlzung der Wissenschalt, 5,8 edição, p. 113.
[119] "A necessidade, por contraste com a liberdade, nada mais é que o
inconsciente". (Schelling, System des Tranzendentalen Idealismus, 1880, p. 524).
[120] Este aspecto da questão foi exposto por nós de forma suficientemente
detalhada em diferentes pontos de nosso livro sobre o Monismo Histórico (Oeuvres,
t. VII).
[122] A. Bargy: La Religion dans la Société aux États-Unis, Paris, 1902, p. 88-89.
A esta questão, quem quer que tenha uma idéia, por fraca
que seja, do socialismo contemporâneo, responderá sem
hesitação pela afirmativa. Todos os socialistas sérios da Europa
e da América se atêm à doutrina de Marx; mas então quem
ignora que esta doutrina é antes de mais nada a doutrina da
evolução das sociedades humanas? Marx era um defensor
ardente da "atividade revolucionária". Ele simpatizava
profundamente com todo movimento revolucionário dirigido
contra a ordem social e política existente. Podem, se quiserem,
não partilhar de simpatias tão "destrutivas". Mas, em todo
caso, só o fato de elas terem existido não autoriza a concluir
que a imaginação de Marx estivesse exclusivamente "fixada
nas transformações pela violência", que ele esquecia a
evolução social, o desenvolvimento lento e progressivo. Não
apenas Marx não esquecia a evolução, como descobriu grande
número de suas leis mais importantes. Em seu espírito, a
história da humanidade se desenrolou pela primeira vez num
quadro harmonioso, não fantástico. Ele foi o primeiro a mostrar
que a evolução econômica leva às revoluções políticas. Graças
a ele o movimento revolucionário contemporâneo possui um
objetivo claramente fixado e uma base teórica vigorosamente
formulada. Mas se é assim, por que então M. Tikhomírov
imagina poder, com algumas frases descosidas sobre a
"construção" social, demonstrar a inconsistência das
tendências revolucionárias existentes "entre nós, aliás não
apenas entre nós"? Não será porque ele não se deu ao trabalho
de compreender a doutrina dos socialistas?
Agora M. Tikhomírov experimenta repugnância pelas
"catástrofes súbitas" e pelas "transformações pela violência". E
seu problema: ele não é o primeiro, nem o último. Mas ele está
enganado ao pensar que as "catástrofes súbitas" não são
possíveis nem na natureza, nem nas sociedades humanas.
Inicialmente a "subitaneidade" de semelhantes catástrofes é
uma idéia relativa. O que é súbito para um, não o é para outro:
os eclipses do Sol se produzem subitamente para o ignorante,
mas não são absolutamente súbitos para um astrônomo.
Exatamente o mesmo acontece com as revoluções. Estas
"catástrofes" políticas se produzem "subitamente" para os
ignorantes e a multidão de filisteus pretensiosos, mas não são
absolutamente súbitas para um homem que esta a par dos
fenômenos que se passam no meio social que o cerca. Em
seguida, se M. Tikhomírov experimentasse volver os olhos para
a natureza e a história, colocando-se do ponto de vista da
teoria que agora faz sua, ele se exporia a toda uma série de
surpresas espantosas. Ele tem bem fixado na memória que a
natureza não dá saltos e que se abandonamos o mundo das
miragens revolucionárias para descer ao terreno da realidade.
"só se pode falar cientificamente da lenta transformação de um
dado tipo de fenômeno". Mas, no entanto, a natureza dá saltos,
sem se preocupar com todas as filípicas contra a
"subitaneidade". M. Tikhomírov sabe muito bem que as "velhas
idéias de Cuvier" são erradas e que as bruscas catástrofes
geológicas e chega mais são que o produto de uma imaginação
sábia. Ele leva uma existência sem preocupações, digamos, no
sul da França, sem entrever nem alarmes, nem perigos. Mas
eis, de repente, um tremor de terra, semelhante ao que se
produzira há dois anos. O solo oscila, as casas desabam, os
habitantes fogem terrificados, em poucas palavras, é uma
verdadeira "catástrofe", indicando um incrível desleixo na mãe
natureza. Instruído por esta amarga experiência, M.
Tikhomírov verifica atentamente suas idéias geológicos e chega
à conclusão de que a lenta "transformação de um tipo de
fenômeno" (no caso, o estado da crosta terrestre) não exclui a
possibilidade de transformações que possam parecer, sob certo
ponto de vista "súbitos" e produzidas pela "violência" [2].
[2] Que a ciência tenha refutado a doutrina de Cuvier, ainda não implica que ela
tenha demonstrado a impossibilidade, em geral, das "catástrofes" ou "convulsões"
geológicas. Ela não poderia demonstrar isso, sob o risco de estar em contradição com
os fenômenos geralmente conhecidos, tais como as erupções vulcânicas, os tremores
de terra etc. A tarefa da ciência consistia em explicar estes fenômenos como produtos
da ação cumulativa de forças da natureza cuja influência, lentamente progressiva,
nós podemos observar a cada instante. Falando em outros termos, a geologia devia
explicar as revoluções que sofre a crosta terrestre em sua evolução. Uma tarefa
semelhante foi enfrentada pela sociologia que, na pessoa de Hegel e de Marx, a
cumpriu com o mesmo sucesso que a geologia.