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27 de Maio de 2021

Direitos humanos e o meio ambiente: a educação


ambiental como direito fundamental

Hellen Crisley de Barros Franco*

Resumo: Para elaboração deste artigo, cabe ressaltar que o meio


ambiente precisa ser visto e respeitado em estreita vinculação com os
direitos humanos, já que são inegáveis as relações de interdependência
existentes entre o direito à vida e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e sustentável, de modo que venha
constituir um dos fatores decisivos para garantir a sadia qualidade de
vida e dignidade da pessoa humana. Nesse diapasão, imprescindível é
destacar que a educação ambiental tem papel fundamental para
fomentar a sustentabilidade equitativa, devendo ser um processo de
aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de
vida.[1]

Palavras-chaves: Meio ambiente. Direitos humanos. Educação


ambiental. Dignidade da pessoa humana.

Abstract: In preparing this article, it is worth noting that the


environment needs to be respected and seen in close connection with
human rights, as they are undeniable relations of interdependence
between the right to life and the right to an ecologically balanced and
sustainable so that will be a decisive factor to ensure a healthy quality
of life and human dignity. In this vein, it is essential to emphasize that
environmental education has a fundamental role to promote
sustainability fair and should be a continuous learning process, based
on respect for all life forms.
Keywords: Environment. Human rights. Environmental education.
Human dignity.

Sumário: 1. Constituição Federal brasileira. 2. Direitos humanos. 3.


Educação ambiental. 3.1. A Educação Ambiental e a Legislação. 3.2.A
Educação Ambiental e a Cidadania. 3.3. A Educação Ambiental como
Direito Fundamental. Referências.

1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

A Carta Magna, como março jurídico da transição ao regime


democrático, alargou expressivamente o campo dos direitos e garantias
fundamentais, colocando-se entre as Constituições mais avançadas do
mundo no que diz respeito ao tema.

Desde o preâmbulo, projeta a construção de um Estado Democrático


de Direito, “destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista, e sem preconceitos...”

A Constituição há de ser compreendida como unidade e como sistema


que privilegia valores sociais, elege o valor da dignidade humana como
valor essencial, dando-lhe unidade de sentido, imprimindo-lhe feição
ímpar.

“Art. 3º, CF/88 - Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Infere-se desses dispositivos quão acentuados é a preocupação da


Constituição em assegurar os valores da dignidade da pessoa humana,
como imperativo de justiça social.

2. DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos estão ligados ao valor da pessoa, sua dignidade e


liberdade. Uma sociedade somente poderá existir plenamente se
representar os anseios de todos os seus cidadãos e respeitar seus
direitos fundamentais, incluindo aí o direito de ter uma vida digna.

Para o insigne tributarista Ricardo Lobo Torres (1995 apud TORRES,


2004, p. 131), “são direitos preexistentes à ordem positiva,
imprescritíveis, inalienáveis, dotados de eficácia erga omnes, absolutos
e autoaplicáveis”.

Ao citar A. Margalit, TORRES (2004, p. 141) concorda que “sociedade


decente é a que evita a humilhação e respeita os direitos humanos dos
indivíduos, pelo controle da arrogância burocrática, do combate ao
desemprego e ao esnobismo social”.

Para Dallari (FERREIRA, 2010, p. 01) “(...) tais direitos correspondem


às necessidades essenciais da pessoa humana, melhor dizendo, os
direitos humanos seriam aqueles sem os quais a pessoa humana não
conseguiria existir ou não seria capaz de se desenvolver e/ou de
participar plenamente da vida”.

Importante mencionar que nos dias atuais, a antropologia filosófica dá


lugar à antropologia social, estudando o comportamento humano pelo
prisma dos fatos sociais. Estes é que narrarão as regras, as quais vêm
de dentro da sociedade e não de fora ditando condutas
preestabelecidas. Então, sob esta nova visão social, hodiernamente, o
Direito começa a tomar conotações sociais.
Nessa tendência, as leis devem refletir cada vez mais as necessidades
sociais, devem abranger os anseios de todos os cidadãos
independentemente da classe social.

“Atribuir um direito humano a alguém é reconhecer uma situação real


(...), é atribuir um poder, uma titularidade para pleitear, reclamar,
defender e pedir à comunidade apoio no concernente à promoção e
defesa do direito em tela”. (TORRES, 2004, p. 132)

A proteção dos direitos humanos é fundamental, do contrário,


estaremos fadados à obscuridade de nossos piores instintos, com
rompantes de egoísmo e desrespeito aos mais fracos.

Todos são iguais perante a lei e por isso devem usufruir de seus direitos
independentemente das diferenças sociais, culturais, religiosas,
intelectuais ou econômicas. Nesse contexto, juristas e legisladores
passaram a estudar a questão, provocando o surgimento de um novo
direito, o direito humano ao meio ambiente.

Para ALMEIDA (2010, p. 02) “Este direito humano emergente pode ser
facilmente enquadrado como sendo de 3ª geração[2], haja vista que é
nesta fase que os interesses difusos se enquadram. Forma-se então, um
raciocínio lógico, ou seja, que é necessário um meio ambiente sadio e
equilibrado, que deve ser preservado para a presente e futuras
gerações”.

O raciocínio é lógico, entretanto, na prática, o surgimento deste direito


humano carece de uma reflexão profunda, visto que, a possibilidade de
reconstrução de uma nova concepção de sociedade e natureza,
relaciona-se à educação, uma vez que, permiti à esta, questionar e
apontar caminhos, promovendo a consciência ambiental e a justiça
social como requisitos para o exercício da cidadania.

“Art. 225, CF/88 - Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder


Público:

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” (grifo
nosso)

3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Devemos incluir em nossa práxis o compromisso de uma educação


responsável, voltada à inclusão da Terra como parte integrante e vital
da nossa existência.

“Os problemas atuais, inclusive os problemas ecológicos são


provocados pela nossa maneira de viver. E a nossa maneira de viver é
inculcada pela escola.” (JESUS et al., 2004 apud GADOTTI, 2000, p.
12)

Portanto, é necessário incentivar a produção de conhecimentos,


políticas, metodologias e práticas de educação ambiental em todos os
espaços da educação, para todas as faixas etárias, aguçando o senso
crítico, de modo que não apenas a escola seja a promotora de valores
socioambientais, mas as comunidades sejam parceiras da
transformação social.

3.1. A Educação Ambiental e a Legislação

Como resultado das discussões sobre o tema, foi promulgada a Lei nº


9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política
Nacional de Educacao Ambiental (PNEA).
Em consonância com a Carta Magna, a Lei reconhece a educação
ambiental como um componente urgente, essencial e permanente em
todo processo educativo, formal e/ou não formal. A PNEA é uma
proposta programática de promoção da educação ambiental em todos
os setores da sociedade, não estabelece regras ou sanções, mas
responsabilidades e obrigações.

3.2.A Educação Ambiental e a Cidadania

A cidadania consiste em romper com a pobreza política. Para tanto, é


necessário o exercício do direito de cidadania independentemente de
classe social. Este exercício envolve desde a responsabilidade com as
ações do cotidiano, como economizar água e energia, até a capacidade
das organizações coletiva para reivindicar não apenas os seus direitos,
mas as responsabilidades dos Governos e das grandes empresas na
promoção de um ambiente saudável.

Nos ensinamentos de Santos (GRÜN, 2004 apud SANTOS, 1993, p.


39), o exercício da educação ambiental, possibilita à cada pessoa
“tornar-se um ser no mundo, ao assumir com os demais, uma herança
moral, que faz de cada qual um portador de prerrogativas sociais.”

3.3. A Educação Ambiental como Direito Fundamental

A promoção da educação ambiental deve assumir o caráter de


instrumento fundamental, considerando que, as oportunidades de
transformar os aspectos éticos das relações entre a sociedade e o
ambiente físico dependem, em grande parte, de nosso nível de abertura
à tradição em que estamos inseridos. E é esta abertura à tradição que,
segundo Gadamer (GRÜN, 2005 apud GADAMER, 1983, p. 114) “nos
coloca frente a todas as nossas possibilidades humanas e, desta
maneira, nos põe em contato com o nosso futuro”.

A educação é parte integrante e fundamental da vida. Nos


ensinamentos de Brandão (2004 apud AZEVEDO, 2000, p. 11) “a
educação não muda o mundo, a educação muda pessoas. Pessoas
mudam os seus mundos.”

A educação ambiental é um processo de aprendizagem permanente,


frente às profundas transformações que precisamos experimentar. É
necessário um convívio respeitoso e articulado com todas as formas de
vida, pois tal educação reafirma valores e ações que contribuem para a
transformação humana, social e ecológica.

“O despertar da consciência de estar incluído num grande movimento


em defesa da vida, a partir dos problemas ambientais, constitui um
novo espaço aglutinador de gestos solidários e ações de cidadania.”
(JESUS et al., 2004, p. 11)

Destarte, a educação ambiental deve envolver uma perspectiva


holística, atuar na preparação da cidadania, tornando as pessoas
capazes para ajudar na construção de um projeto político, social,
educacional, ecológico e econômico que atue na busca de soluções
voltadas para o bem-estar social e para a vida digna em harmonia com
a natureza.

Tal educação corrobora valores e ações que contribuem para a


transformação humana e social, estimula a formação de sociedades
socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre
si relação de interdependência e diversidade, requerendo, portanto,
responsabilidade individual e coletiva.

Finalmente, a educação ambiental cumprirá o seu papel, pois o dever


de preservação cabe ao Estado e a coletividade, uma vez que o meio
ambiente não é um bem privado ou público, mas bem de uso comum
do povo. Neste sentido, é importante ressaltar que a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (art. 3º), quando diz que todo
individuo tem direito “à vida”, incluído está o meio ambiente
equilibrado, pois este é uma das condições essenciais à existência da
vida em toda a sua plenitude e dignidade humana.

Referências
ALMEIDA, Jefferson. O Meio Ambiente e sua transversalidade
com a temática de Direitos Humanos. Disponível em:
<http://www.webartigos.com/artigos/direito-humano-ao-meio-
ambiente/48914/> Acesso em: 22 set 2012.

BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos.


Disponível em:
<http://www.comitepaz.org.br/download/Declara%C3%A7%C3%A3o
%20Universal%20dos%20Direitos%20Humanos.pdf> Acesso em: 21
set 2012.

BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constitui%C3%A
7ao.htm> Acesso em: 21 set 2012.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a


educação ambiental, institui a Política Nacional de educacao ambiental
e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm.> Acesso em:
21 set 2012.

FERREIRA, Adriana Machado. Direitos Humanos e Cidadania.


Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Docência na
Educação Superior (UFTM). Disponível em:
<http://www.uftm.edu.br/upload/ensino/AVIposgraduacao090310131
226.pdf/> Acesso em: 26 set 2012.

GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão


necessária. 9 ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. p. 35-115.

JESUS, Claudio Portilho de; STOREY, Christine; JESUS, Edilza Larey;


SANTOS, Elizabeth da Conceição; SILVA, Rosilene Gomes da.
Educação Ambiental. Universidade Estadual da Amazônia. 2004, p.
11-12.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14 ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 740-742.

TORRES, Ricardo Lobo. Arquivos de Direitos Humanos. Rio de


Janeiro: Renovar, 2004, vol. 1-6. p. 131-141.

Notas:

[1] Trabalho orientado pelo Prof. Luiz Otavio Pereira

[2] Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de


segunda geração, emergiram hoje o chamado direitos de terceira
geração, que constituem uma categoria, (...). O mais importante deles é
o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num
ambiente não poluído. (BOBBIO apud LENZA, 2010, p. 740)

Informações Sobre o Autor

Hellen Crisley de Barros Franco

*Acadêmica de Direito na Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências


Humanas Gamaliel – FATEFIG/Tucuruí/Pará

Fonte: http://ambitojuridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12688

Disponível em: https://carollinasalle.jusbrasil.com.br/artigos/112225772/direitos-humanos-e-o-


meio-ambiente-a-educacao-ambiental-como-direito-fundamental

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