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ÍNDICE

DEDICATÓTIA ………………………………………………………………….……….. pág. 2

AGRADECIMENTOS ………………………………………………………………..… pág. 3

1. INTRODUÇÃO …………………………………………..……………………… pág. 4


2. CONCEITOS CHAVES ………………………………………………..………. pág. 5
3. . O ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO ………………………...……… pág. 5
3.1. A FUNÇÃO JURISDICIONAL: AS SUAS GARANTIAS …………………… pág. 6
4. A COMPLETUDE DO JUIZ: CONSCIÊNCIA IDÓNEA E A LEI ………...… pág.7
5. JUIZ: SEU PERFIL E AS GARANTIAS DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO………pág. 7
5.1. PERFIL HUMANO ………………………………………………………….…. pág. 8
5.2. PERFIL JUDICIÁRIO ……………………………………………………….… pág. 8
6. O MAGISTRADO JUDICIAL E A SUA CONSCIÊNCIA …………………… pág. 9
7. INFLÊNCIAS EXTERNAS QUE LIMITAM A DECISÃO IDÓNEA …………pág. 10
CONCLUSÕES ……………………………………………………………………….…. pág. 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ………………………………………...............… pág. 13
DEDICATÓRIA
Dedicamos o presente artigo primeiro para toda a comunidade jurídica académica, por
todo o seu engajamento no trabalho árduo de pesquisas e investigações; em seguida, a
todos os magistrados, especialmente os judiciais, que dedicam seus esforços para
apreciarem e dirimirem casos concretos; e por último e não menos importante aos
nossos colegas, futuros engenheiros jurídicos, que possam estar munidos de
independência, imparcialidade sempre que forem chamados para tal, começando agora.

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AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus, por todos os dias nos emprestar o fôlego de vida, por permitir-nos
a concretização desse artigo; agradecemos aos juristas e juristas em potência que
colocam a disposição de todos os seus conhecimentos e investigações por via de artigos
científicos, livros, e outras publicações; e agradecemos aos nossos professores por
fazerem parte do leque de pessoas que munem o nosso intelecto.

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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da nossa abordagem falaremos sobre “a consciência como instrumento idóneo
na jurisprudência dos magistrados”, fazendo uma analíse concreta a questão referente ao
Estado democrático e de direito, e apresentamos a problemática da postura a ser
adoptada pelo juiz quando, no plano das suas actividades, interferências externas se
colocam como valores capazes de abalar as suas convicções pessoais.
Historicamente, o pensamento jurídico, imbuído de formalismo, tratava o Direito como
um conjunto de normas destinadas a regular a vida em sociedade. Portanto, o homem,
como um ser social, necessita normatizar o seu comportamento para que a vida em
sociedade não se torne um caos se apenas baseada em satisfações e instintos pessoais.
Dentre as funções soberanas do Estado, há a função jurisdicional, a qual incumbe ao
Poder Judiciário, e que vem ser a missão pacificadora exercida diante das relações
sociais. Não há dúvida de que a actividade de dirimir conflitos é um dos fins primários
do Estado, visto que, desde que privou os cidadãos de fazer actuar seus direitos pelas
próprias mãos, a ordem jurídica teve que criar para os particulares, um direito a essa
tutela jurídica.
Desse modo, o Estado passou a deter não apenas o poder jurisdicional, mas também o
dever de jurisdição. Hoje, por prevalecerem as ideias de um Estado social, em que se
reconhece ao Estado a função fundamental de promover a plena realização dos valores
humanos, destaca-se a relevante função jurisdicional pacificadora, bem como a
necessidade de se ter um processo como meio efectivo para a realização da Justiça. O
objectivo do Estado contemporâneo passa a ser o bem comum e por isso o bem comum
na função jurisdicional é a pacificação com justiça.
Aos modos de formação das normas jurídicas, ou seja, sua entrada no sistema do
ordenamento, dá-se o nome de Fontes do direito; A Jurisprudência é, assim, uma das
fontes mediatas do Direito, a par do costume, da doutrina, Da analogia, dos princípios
geral do direito e da equidade, sendo a lei, a nível do Direito Angolana, a única fonte
imediata/formal do Direito. O juiz ao dirimir determinado caso concreto deve
obediência a lei e a sua própria consciência.

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2. CONCEITOS CHAVES
Antes de entrarmos no âmago da questão, sentimos a obrigação de expor o conceito de
das palavras-chaves que compõem o nosso tema, dentre as quais:
Consciência: em sentido moral, é uma habilidade, capacidade, intuição ou julgamento
do intelecto que distingue o certo do errado; é o conhecimento que o homem possui dos
seus próprios pensamentos, sentimentos e actos; pode ainda defenir-se, como a
faculdade da razão julgar os próprios actos ou o que é certo e o que é errado do pomto
de vista da moral.
Idoneidade: etmologicamente deriva do latim “idoneitas, atis”, que significa
convenência, capacidade; é a característica de quem é idóneo, honesto, moralmente
correcto, íntegro; é a qualidade da pessoa apta a desempenhar funções, cargos ou
trabalhos (capacidade, habilidade, aptidão, competência, confiabilidade, autoridade,
habilitação,, fiabilidade.
Jurisprudência: tem origem no latim “jusprudentia”, onde jus (justo) e prudentia
(prudência), significando “a ciência da lei”. é um termo jurídico, que designa o
conjunto das decisões sobre interpretações das leis feitas pelos tribunais/juízes de uma
determinada jurisdição; é o conjunto de soluções dadas pelos tribunais as questões de
Direito.
Magistrado: provém do latim “magistratus – que significa função de governar ou a
pessoa que governa”, derivado de “magister”, que significa chefe, superintendente;
designava, em sentido amplo, um funcionário do poder público investido de autoridade;
actualmente remete-nos aos juízes e aos procuradore, aqui concretamente nos referimos
aos juízes.
Palavras-chaves: Consciência, Idoneidade; Jurisprudência; Magistrado.

3. O ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO


Nos princípios fundamentais consagrados na Lei Constitucional (art. 2 CRA), o
princípio do Estado de direito democrático ocupa um lugar de enorme relevo. Tanto
assim é que o legislador constitucional considera “o reforço da democracia, da
liberdade, da estabilidade social e da harmonia social e individual” como uma das
tarefas fundamentais do Estado.
Da conjugação dos artigos 1º, 21º e 174.º da CRA sobressai o entendimento de que a
República de Angola é “um Estado independente, soberano, democrático e de justiça
social”, assente na separação e interdependência de poderes, visando a realização da
democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia
participativa.
Os tribunais estão na primeira linha da defesa destes princípios concretizadores. Basta
ver o que na Constituição se estabelece em matéria de princípios gerais que regem a
actividade dos tribunais (arts. 174 e seguintes): “Os tribunais têm como objectivo
garantir e reforçar a legalidade como factor da estabilidade jurídica, garantir o respeito
pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos, assim como os interesses

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jurídicos dos diferentes órgãos e entidades com existência legal” (artigo 174º, n.º 2 e
177º, nº 1); “Os tribunais sancionam as violações da legalidade e decidem pleitos de
acordo com o estabelecido na lei” (artigo 177º, n.º 3); “Nos feitos submetidos a
julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que ofendam a
Constituição” (artigo 179.º nº 1); “No exercício das suas funções, os juízes são
independentes e apenas devem obediência à lei” (artigo 175); “Os juízes têm igualmente
as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade” (artigo 175.º); “Os juízes são
inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos, senão
nos casos previstos na lei” (artigo 179º. nº 2); “As decisões dos tribunais são de
cumprimento obrigatório para todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas e
prevalecem sobre as de outras autoridades” (artigo 177.º).
3.1. A FUNÇÃO JURISDICIONAL: AS SUAS GARANTIAS
De todas as funções, há uma que é essencial ao Poder Judicial: a função jurisdicional.
José Norberto Carrilho define esta como” a função de dirimir conflitos, resolver
diferendos, solucionar disputas, punir as violações à legalidade.”
Esta função é acometida aos tribunais, desde logo os tribunais comuns, bem assim a
todos os previstos no texto da Constituição; competindo aos tribunais administrar a
justiça em nome do povo, bem se vê que recai sobre os juízes esta dura tarefa, cada vez
mais escrutinada e comentada.
As garantias da função judicial, consubstancia-se: na independência, imparcialidade e
legalidade dos tribunais (juízes), isto é, no exercício de funções judiciais, os juízes são
independentes e imparciais e apenas devem obediência à Constituição e a lei. A
independência dos juízes é assegurada pela existência de um órgão privativo de gestão e
disciplina (o Conselho Superior da Magistratura Judicial – art. 179º. nº8), pela
inamovibilidade e pela não sujeição a quaisquer ordens ou instruções, salvo o dever de
acatamento das decisões proferidas em via de recurso pelos tribunais superiores” (art.
179º. n.º 2). A Judicatura tem assim uma legitimidade própria, decorrente de uma opção
histórica e cultural assente, sobretudo, em critérios de independência e imparcialidade.
Para assegurar a sua independência e imparcialidade, também deverá existir um
compromisso ético dos juízes, que afaste a sua participação em actividade subordinada a
outros órgãos de soberania e qualquer ligação a organizações de carácter secreto ou que
promovam qualquer forma de discriminação das pessoas. Porém, as meras garantias de
independência não asseguram a integridade dos juízes, que é condicionada pelos
factores endógenos ligados à dimensão ética e moral dos juízes, ou seja, a sua própria
consciência, que importa assegurar. É, assim, um direito fundamental do juiz o de julgar
com independência e imparcialidade. Nenhum juiz pode ser alheio a esta questão. Mais
do que um dever, esta é uma questão essencial para o desenvolvimento profissional do
juiz e para o desenvolvimento integrado da sociedade. O juiz não pode, no processo de
apreciação da prova e decisão, em qualquer das jurisdições, correr o risco de perder a
sua independência e imparcialidade. Sem a primeira a sua actividade é ineficaz e sem a
segunda é estéril.
A liberdade e a independência podem ser, além do mais, consideradas ad modum unius
a ulterior qualidade exigida ao juiz. De facto, a ele é pedido que julgue ex consciência

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sua e inutilmente nos podemos esforçar por limitar e reduzir a centralidade desta
posição. Liberdade interior e independência exterior são assim duas premissas para o
exercício e manifestação da sua consciência na hora de julgar. Não pode objectivamente
acontecer que um juiz, imerso nas numerosas relações de carácter económico,
profissional, social, político, etc. possa manter-se distante e imparcial no momento em
que é chamado a fazer justiça. Aquelas relações facilmente se tornarão, as vezes até
inconscientemente, vínculos e influências que, indevidamente se acrescentarão ao único
critério da consciência do juiz, ou constituirão para o juiz, um vínculo que, para dele se
libertar, seria necessária uma força muito superior à que comummente é disponível.
É também um direito do juiz julgar de acordo com a legalidade, não existe boa
Judicatura à margem de uma boa panóplia legal que permita a clareza das decisões e
garanta a verdade do julgamento.
4. A COMPLETUDE DO JUIZ: CONSCIÊNCIA IDÓNEA E A LEI
A essência da função judicial é a combinação entre a consciência ou integridade do juiz
e a lei.
Apenas um juiz com uma consciência idónea pode aplicar a lei correctamente.
Entendendo-se aqui que a aplicação correcta da lei é aquela que comece na escolha da
lei adequada ao caso concreto, passe pelo respeito dos cânones legais na ponderação da
prova e acabe na subsunção que melhor sirva, neste contexto, as finalidades do
processo, ou seja, a decisão justa do caso concreto. E isto não se consegue sem que estas
tarefas fundamentais compitam a pessoas íntegras, ou seja, a juízes de consciência
idónea.
O juiz deve pautar a sua actividade profissional por critérios de estrita exigência no que
tange à idóneidade e integridade enquanto pessoa e enquanto jurista. Não há Justiça
justa aplicada por quem não seja íntegro enquanto pessoa.
No seu desempenho profissional o juiz depende da credibilidade que merecem os seus
juízos e censuras, os seus métodos de trabalho, a abordagem que faça das questões e dos
confrontos entre os interesses em causa.
Mas a conduta profissional do juíz não é só aquela que tenha no seu relacionamento
com o mundo exterior.
De facto, a relação do juíz com o próprio processo é, mais das vezes, a transparência
essencial à sua avaliação como magistrado e, ainda, como pessoa. A forma como
despacha, como qualifica, como se eleva acima das disputas, são reveladores, ou não, da
sua maior ou menor capacidade para estar nas funções.
5. O JUIZ: SEU PERFIL E AS GARANTIAS DO EXERCÍCIO DA
FUNÇÃO
Os juízes, quando eram chamados, tinham a missão de simplesmente dizer a lei no caso
concreto, ou seja, o juíz era a boca da lei, como afirmava “Montesquieu” deles
esperavam-se virtudes passivas, traduzidas num comportamento no processo revestido
sempre de imparcialidade, independência, neutralidade e equidistância dos interesses
das partes e do tratamento destas na linha da mais absoluta igualdade.

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O juiz moderno nenhuma identificação guarda mais com o modelo antigo do magistrado
visto por Montesquieu como “des êtres inanimês qui n´en peuvent moderer ni la force
ni la rigueur”. O juiz dos tempos actuais, não é mais o frio aplicador das leis, que antes
as tinha “letra morta”, mas que as vê agora “como tecido vivo capaz de reacções novas
ante a provocação de situações supervenientes”. As leis, que o juiz cabe aplicar, têm
seu alinhamento em autêntica pirâmide jurídica, na qual a juridicidade de cada norma é
haurida da norma que a suspende”.
Concentrando a nossa atenção no perfil do juiz actual, podem ser evidenciados dois
perfis da sua pessoa: o perfil humano e o perfil judiciário.
5.1. PERFIL HUMANO
Os requisitos para a nomeação do juiz parecem justamente destinados a defender e a
garantir a existência desta maturidade e experiência, e devem ser aplicados de modo
rigoroso, ou seja, consiste na maturidade que o juíz irá alcançar fruto das experiências
vivenciadas.
O juiz deve ter habilidade de se julgar a si mesmo e concluir que para julgar os outros,
deverá renunciar a má vida. Isto significa obter a serenidade de juízo, que é como o
efeito principal da maturidade. Ela consiste na capacidade de agir e julgar destacando-se
dos próprios e pessoais pontos de vista e opiniões, de julgar abstraindo-se de quaisquer
preconceitos, quer gerais quer particulares, referentes ao caso; de saber abstrair-se de
considerações humanas, políticas ou sociais; de saber aceitar também a opinião de
outrem, mesmo se contrária a sua (mostrando, por exemplo, indiferença a uma sentença
de apelação que reformule a própria); de saber enfrentar e confrontar as razões dos
outros colegas sem prevenção ou qualquer tipo de reserva; saber aceitar, ao nível de
voto de recurso, a posição da maioria; e, essencialmente, saber aceitar que não é o único
protagonista do processo, no qual se impõe o respeito pelos diferentes papeis.
Para a jornada que lhe é confiada, é impreterível que o juiz seja dotado de um elevado
nível ético e moral nas suas práticas quotidianas, característica de personalidade que não
é o diploma universitário que a atribui, mas a magistratura exige. Daí a importância da
deontologia profissional – o quid que diferencia um juiz de um licenciado em direito,
enquanto sujeição daquele não só a elevados padrões de competência técnica, mas
igualmente a valores éticos e morais que garantam a confiança social da profissão.
Mas faz parte da maturidade pessoal também a capacidade de julgar o próprio tempo.
Com efeito, isto não é simplesmente reconduzível ao conhecimento de factos e
acontecimentos. Trata-se de conhecer a cultura do próprio tempo. De facto o juiz
maduro não deve se colocar numa redoma fechado em si mesmo. Não pode deixar de
conhecer o estilo de vida dos homens de hoje, as suas escalas de valores, o seu modo de
raciocinar, as suas reacções imediatas, irreflectidas, os acontecimentos da vida, é
preciso partilhar, sem criar distância de privilégios, ou diafragma de linguagem
incompreensível, os hábitos comuns, que sejam humanos e honestos.
5.2. PERFIL JUDICIÁRIO
O juiz é um técnico do direito. Como tal, o que se lhe exige é que domine os princípios
e institutos jurídicos fundamentais, que interprete e aplique adequadamente as normas

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legais pertinentes, que conheça e acompanhe a evolução das correntes doutrinais e
jurisprudenciais. Trata-se de um dever do juiz por respeito a si próprio, cuja honestidade
intelectual deve ser irrepreensível, mas também por respeito para com os cidadãos, que
devem poder confiar na correcta aplicação da lei por parte dos depositários da
autoridade de julgar
Consequentemente, a formação do juiz deve ser uma formação cada vez mais
especializada. A formação do juiz deve ser o necessário reverso da sua responsabilidade
de julgar. Se ao juiz incumbir julgar assuntos de complexidade, em matéria
especializada, deve previamente ter formação especializada na correspondente área.
A formação adequada dos juízes deve visar, sempre, atingir a qualidade na
administração da justiça e beneficiar os seus utentes. A formação não deve ser aferida
pelo prisma do benefício pessoal do juiz. A formação adequada é aquela que diz
respeito à área em que o juiz trabalha. Mas toda a formação em áreas conexas e que vise
melhorar os conhecimentos do juiz no exercício da sua função, é formação adequada.
6. O MAGISTRADO JUDICIAL E A SUA CONSCIÊNCIA
Os juízes julgam apenas de acordo com a Constituição, a lei e a sua própria consciência.
Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, por consciência temos
que se trata de “atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria
realidade”; bem como “faculdade de estabelecer julgamentos morais dos actos
realizados”; ou ainda “senso de responsabilidade”.
A consciência do homem não contempla apenas valores positivos. É nela também que
se encontram seus preconceitos, traumas, crenças, etc. Podemos nos deparar com
decisões judiciais preconceituosas envolvendo simpatias ou antipatias por certas causas
ou sujeitos. Preconceitos em relação aos homossexuais; o tom de pele; inclinação pró ou
contra aborto; a factores politícos ou partidários; factores como a religião do intérprete
também poderão servir de base para julgar pessoas (a título de exemplo,e citado pelo
jornal público, o caso do juiz desembargador da secção cível do Tribunal da Relação do
Porto Neto Moura, que julgava de acordo as suas crenças religiosas, as tradições: ele
decidiu retirar a pulseira electrónica a um homem que rebentou um tímpano à mulher ao
soco e que atribuiu pena suspensa a dois homens que agrediram a companheira com
uma moca de pregos, afirma que os casos de violência doméstica que tem julgado “não
são particularmente graves”. Em entrevista ao Expresso o juiz reitera que faz sentido
citar a Bíblia para fundamentar acórdãos sobre agressões motivadas por infidelidade
conjugal e diz que é “de esquerda”, em termos sociais, mas “conservador” nos
costumes.
Para o direito, a consciência aparece como um conceito determinado e determinável. É
determinado porque o seu conteúdo tem um âmbito definido, quer no que tange às
regras sociais vigentes e educacionais propriamente ditas, quer no que tange a normas
assentes e dispersas pelo ordenamento jurídico nacional e internacional. É determinável
porque o seu conteúdo encontra fundamento no contexto humano, histórico, cultural e
social em cada momento da sua efectiva avaliação.

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A liberdade de consciência consiste assim na faculdade de escolher os próprios padrões
de valoração ético-moral da conduta própria ou alheia.
A consciência não é uma fonte autónoma e exclusiva de que o juiz se serve para decidir
o que é bom e o que é mau. Está inscrito nela, de modo profundo, um princípio de
obediência em relação a normas objectivas, que fundam e condicionam quaisquer
decisões em atenção aos mandamentos e as proibições que estão na base do
comportamento humano.
Ao pronunciar a decisão, o juiz não deve manifestar a própria vontade, mas sim a
vontade da lei num caso concreto. Por conseguinte, a sentença contém apenas a vontade
ou a intenção da lei transferida concretamente pelo juiz.
7. INFLÊNCIAS EXTERNAS QUE LIMITAM A DECISÃO IDÓNEA
Theo Callignon define-se causa injusta como aquele litígio que, podendo apresentar-se
de boa fé, pode ser defendido, com a ajuda de meios inescrupulosos. Tal deve-se à falta
de fundamento da pretensão seja por carência de direito do assistido, seja por manifesta
inviabilidade da pretensão, às situações de abuso de direito, uso de meios injustos,
dentre os quais os meios de defesa falsos, por um lado, e, por outro lado, os expedientes
dilatórios. Há interesses sobre a decisão de forma que o juiz vê o seu poder
condicionado por entidades estranhas ao processo, sejam grupos políticos, económicos,
ou de outro jaez; como por exemplo o caso brasileiro do juiz Sérgio Mouro, que
inviabilizava o processo de Lula.
Neste caso, o juiz tem consciência da injustiça vertida no petitório, mas há influências
externas que recaem sobre ele. Pretendem que ele haja no sentido de acautelar esses
interesses, que podem ser políticos. Mostra-se quebrada a independência do juiz face a
qualquer outro poder não necessariamente político.
Em regra o juiz receia quem exerce essa influência. Acaba, por isso, em conformidade,
por decidir contra a própria consciência, acomodando os interesses injustos. Há deste
modo uma limitação da decisão livre e independente do princípio do julgamento ex
conscientia sua por factores externos ao processo judicial.
Aduz-se que, se por desonestidade intelectual, fazer-se colidir a consciência do juiz
com o interesse público, o juiz em apreço não estará em condições de servir a
comunidade onde inserido porque tem a consciência alienada a favor de um interesse
particular.
Afinal, sendo o juiz jurista, novamente citamos Castanheira Neves que afirma que “o
jurista é o mediador na comunidade e para a comunidade da ideia do direito”. Continua
este professor alertando que “esta função implica inevitavelmente uma grande
responsabilidade, posto que o jurista não pode então iludir o dever de dizer não às
situações e relações de não direito que os homens entre si ou o poder perante eles se
proponham criar ou impor.”
Pelo que histórico-comunitariamente situado, a conduta do jurista, de que o juiz não é
alheio, não pode deixar de ser a de dizer “não” às situações que a sua consciência repute
como “não direito”. É que dando cobertura a estas práticas, propugnando por uma
decisão na qual não acredita, só por resposta as pressões vindas de fora, frustrar-se-á o

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intuito do juiz pugnar pela boa aplicação das leis e pelo aperfeiçoamento da cultura e
instituições jurídicas.

Perante estes casos, o órgão de disciplina, no caso de Angola, o Conselho Superior da


Magistratura Judicial, não pode deixar de intervir, de não censurar, porque não é
exigível nos juízes outro comportamento que não a observância da lei e da consciência,
ainda sobre o caso já acima referido, do juiz desembatgador Neto Moura, acabou por ser
punido com uma advertência, uma das sanções mais leves do catálogo disciplinar da
classe; foi transferido para o Tribunal da Relação do Porto, e afastado da análise de
todos os recursos criminais nesse tribunal, para uma secção cível do tribunal que não
analisa processos-crime de violência doméstica; e sancionou Neto de Moura com uma
advertência registada que impede a progressão na carreira.

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CONCLUSÕES
Após a exposição chegámos as seguintes conclusões:
a) A liberdade do juiz de julgar nos ditames de sua consciência e subjectividade,
visando absolutizar e perpetuar a ideologia da justiça e da paz social é mero
reflexo de um concepção autocrática e de um modelo de processo que se
desenvolve a partir do entendimento teórico de que a jurisdição é uma actividade
pessoal do magistrado, cuja legitimação decorre de argumentos e de
fundamentos pressupostos que coincidem com a sacralização e a divinização da
pessoa do julgador.
b) A construção de todo o pensamento teórico concernente, especificamente, ao
processo e a jurisdição encontra-se directamente vinculado à autoridade do juiz,
pessoa dotada, no entendimento da maioria dos estudiosos, de uma sabedoria
inata capaz de diluir e solucionar os conflitos de interesses a partir de sua
percepção individual, pressuposta e inata sobre o que é o justo.
c) Um sistema judiciário que abra mão dessas duas fundamentais garantias é um
sistema morto, injusto e volátil. Um sistema judicial que imponha limites a estas
duas virtudes é totalitário, anti-democrático e perverso, deixando ao sabor do
risco e da arbitrariedade aquela que é uma função essencial do Estado, e nesta
senda, é dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de
empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua
independência funcional.
d) A Imparcialidade implica considerar imparcial o magistrado que busca nas
provas a verdade dos fatos, com objectividade e fundamento, mantendo ao longo
de todo o processo, uma distância equivalente das partes, evitando todo o tipo de
comportamento que possa reflectir favoritismo, predisposição ou preconceito,
asseverando que, no exercício da judicatura, ao magistrado fica vedada qualquer
espécie de injustificada discriminação, exceptuado o tratamento diferenciado
resultante de lei.

e) O ser consciente possui qualidades mentais que abrangem qualificações, tais


como a sapiência e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente.
Ter consciência, portanto, é estar ligado à realidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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NA A SENTENÇA JUDICIAL TRANSFORMADORA COMO FORMA DE
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Costa, Fabrício Veiga, IMPARCIALIDADE DO JUÍZO E A CONSCIÊNCIA DO
JULGADOR NO ATO DE DECIDIR, 2016.

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