A crise cultural atualmente – ou a deturpação da Vida
Contemplativa grega pelo mundo moderno.
A influência da cultura grega no ocidente é indubitável. Herdamos dos gregos a majoritária parte dos nossos valores éticos, como a coragem e a prudência (expressos, aliás, nas obras de Homero).
No entanto, com a inserção de um novo contexto, novas perspectivas e
novos costumes, muitos preceitos gregos foram esmagados e jogados fora; considerados antigos, conservadores e sem utilidade. Ora, esse discurso caracteriza-se por um forte reducionismo, pois, sim, há valores que são inadmissíveis hoje em dia, como a subordinação da mulher ao homem, mas também há valores que são deveras importantes para o nosso cenário atual.
O passado é uma das melhores ferramentas para a produção intelectual e
a melhoria da sociedade. Como dizia Eric Voegelin, filósofo alemão radicado nos Estados Unidos, em “Reflexões Autobiográficas”: “A melhor forma de retomar o contato com a realidade é recorrer a pensadores do passado que ainda não a tinham perdido ou estavam empenhados em recuperá-la”. Com ajuda desses pensadores, poderemos analisar profundamente os problemas da modernidade.
Na Grécia antiga, havia uma grande cultura acerca da Vida Contemplativa,
a qual consistia na busca daquilo que é imutável – da verdade – a partir da contemplação e reflexão do mundo. Em contraposição, havia a Vida Ativa, a qual consistia nos exercícios práticos e utilitários efetivamente.
Nos dias atuais, com o sistema capitalista vigente, a vida contemplativa
tornou-se uma vida prática. O mundo educacional e pedagógico, englobando desde as escolas de idades mais tenras até as universidades, apresenta-se, majoritariamente, como um mundo propedêutico – assim como a lógica em relação às outras disciplinas aristotélicas – em relação ao mercado de trabalho.
Influenciados pela massiva cultura alienadora do trabalho, da
competitividade e da utilização de si, como ser, direcionado inevitavelmente para um emprego, os estudantes, cada vez mais, distanciam-se da finalidade essencial do ser e do próprio estudante: conhecer. Para, em vez disso, tornarem-se subordinados ao mercado de trabalho, a uma sociedade coercitiva e, logo, se tornarem possuidores de um conhecimento – deturpado na sua finalidade – tão somente utilitário. Dessa forma, há a reificação da ciência – no sentido de episteme – tornando-a base da vida prática, erroneamente, e não da vida contemplativa.
Perpetua-se, pois, a deturpação da finalidade e do próprio conhecimento,
tornando-o mera mercadoria. A consequência dessa desvalorização aparece-nos claramente na desconsideração da verdade, na indiferença acerca de tudo. Por exemplo, o fenômeno das “Fake News” e, ademais, a crença de muitos nessas “notícias”.
Sobretudo com o advento da globalização, com os meios de comunicação
extremamente facilitados, encontra-se um ápice na crise cultural – no sentido de torna-la mercadoria. Os conhecimentos, antes adquiridos com paciência e serenidade por meio dos livros, tornaram-se peças reducionistas no meio de um emaranhado de outros conhecimentos na internet. Tudo está em nossas mãos, pensamos, mas, na verdade, apenas uma parte está em nossas mãos – a parte que nos interessa, como fazem as redes sociais, nossas ideologias, nossas opiniões; fazendo perpetuar o não questionamento.
Com isso, a população – que elege seus líderes democraticamente – torna-
se incapaz de analisar e avaliar os candidatos mais aptos aos seus devidos cargos. Não à toa vemos nossa situação hoje em dia... Aliás, semelhante à descrita acima.