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Resumos Finan SSas P Blicas
Resumos Finan SSas P Blicas
Noção de Finanças Públicas: atividade económica de um ente público tendente a afetar bens à
satisfação de necessidades que lhe estão confiadas. A expressão poderá ser utilizada num
sentido orgânico- simbolizando o conjunto de órgãos do Estado ou outro ente público a quem
compete dirigir recursos para a satisfação de certas necessidades-, sentido objetivo- atividade
através da qual o Estado afeta bens económicos à satisfação de certas necessidades sociais-, e
sentido subjetivo- disciplina cientifica que estuda os princípios e regras que regem a atividade
do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que lhe estão confiadas.
Baseada em decisões políticas: como apresenta Michael Walzer as opções acerca das
necessidades que devem ser satisfeitas pela comunidade assumem uma natureza
política, visto que será a decisão política, que decidirá quais as maneiras para gastar os
dinheiros públicos. A atividade financeira do Estado e, em concreto a despesa pública,
é ditada pela decisão política. Os regimes mais intervencionistas (finanças
intervencionais, chamadas funcionais/ativas) levam a que o princípio do mínimo
(característico dos regimes liberais) seja substituído pela regra do ótimo, aumentando a
despesa pública, o que acarreta uma diversificação das receitas do Estado (exploração
do património público e recurso ao crédito).
Baseada numa racionalidade económica, tendo em vista a prossecução da eficiência
no mercado e da justiça na distribuição de bens: A existência de um Estado do bem-
estar exige que o Estado afete receitas na prossecução do ótimo social e procure
soluções para a manutenção de um mercado eficiente e justo. Deverá existir um
mercado de base individualista em que as empresas, em princípio, se encontram em
concorrência perfeita. A busca de eficiência é o que leva o Estado a atuar no mercado
colmatando as falhas que este possa colmatas. Procurando a justiça, o Estado não se
conforma com as distribuições feitas pelo mercado, procedendo à correção das mesmas
de forma a promover uma afetação de recursos socialmente mais justa. A atividade
financeira do Estado tem como função também a estabilização económica (para além
da eficiência e justiça- ainda que a estabilização se reconduz à procura da eficiência e
justiça), que se concretiza, por exemplo, em manter o emprego elevado, um razoável
grau de estabilidade do nível de preços e uma apropriada taxa de crescimento
económico.
Provocada por falhas de intervenção do Estado: a despesa pública acaba por ser
também determinada por falhas na intervenção do Estado ou falhas do Governo, como
por exemplo: falhas de informação (Estado desperdiça recursos por não conseguir uma
informação cabal acerca do beneficiários de certos problemas); deficiências no
planeamento e execução das suas tarefas; excesso de burocracia; captura das decisões
por parte dos lobbies, que defendem interesses privados; oscilação de ciclos eleitorais
(“medidas financeiras simpáticas com proximidade dos atos eleitorais”); despesas
indevidamente realizadas que não são fiscalizadas ou das quais não resulta a
responsabilização financeira; corrupção.
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um bem, que faz com que este não se produz ou se produza insuficientemente; ou porque se
geram custos/benefícios para a comunidade sem que esta possa imputá-los a quem os provoca;
ou porque a produção de certos bens conduz à destruição da concorrência nesse mercado. Esta
realidade exige que se arranjem outras formas de produzir os bens em causa.
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bens (pois a utilidade social desses bens não foi paga ao fornecedor) e das
externalidades negativas levam a que se gere uma proliferação das atividades que a
causaram (pois não é imposta uma compensação). O Estado intervém socializando a
externalidade, permitindo o acesso à justiça e impondo tributação,
➢ Assimetria de informação, que gera distorções nos preços ou nas condições dos
produtos, visto que o mercado para funcionar de forma eficiente necessita de uma não
desigual informação na oferta e procura. O Estado supre esta incapacidade com o
fornecimento de mais informação, criando serviços de certificação de qualidade ou
mesmo assumindo alguns serviços de informação).
➢ Existência de bens que não são produzidos pelo mercado- mercados incompletos- mas
que são bens que satisfazem necessidades sentidas pela comunidade. Está associada a
esta incompletude a incerteza e risco na atividade económica, visto que há situações de
risco tão elevado que o mercado só pode cobri-los com custos muito elevados e
desproporcionados em relação ao risco. Assim, há falha de mercado quando os riscos
que deveriam ser protegidos só o são a preços muito elevados ou simplesmente não são
de todo. Assim, o Estado assegura a função de segurador, por exemplo através da
segurança social ou então legisla no sentido de promoção destes seguros (Sistema de
Indemnização dos Investidores).Por outro lado, temos o caso dos mercados
complementares, isto é, existem bens que a sua produção não é rentável sem a
produção de outros bens. Nestes casos, ou existe interesse em produzir os dois bens em
simultâneo ou existe o perigo de o seu produtor correr o risco de o seu bem ser um
fracasso face à ausência do produto complementar, sendo assim o Estado chamado a
promover a cooperação entre produtores de bens complementares.
➢ Verificação de desemprego, inflação e desequilíbrio.
É o Estado que providencia estes bens na medida em que só ele tem uma perspetiva de interesse
geral e temporalmente ilimitada, assim como detém poderes de autoridade para impor reras de
utilização de bens e seu financiamento. Por outro lado, só o Estado tem uma dimensão que lhe
permita empreender esforços que não estão ao alcance dos privados, sendo apenas possível ao
Estado realizar o bem-estar desejável.
Receita Pública: qualquer recurso obtido durante um determinado período, mediante o qual o
sujeito público pode satisfazer as despesas públicas que estão a seu cargo. Distingue-se em
receitas patrimoniais, receitas creditícias e receitas tributárias.
➢ Receitas Patrimoniais: são aquelas que provém da gestão dos bens de que o Estado é
titular ou que tem à sua disposição para a satisfação das suas necessidades. O
património bruto do Estado é constituído por ativos e passivos, sendo os primeiros uma
valorização económica do conjunto de bens e direitos e os segundos a oneração de bens
e direitos. O património líquido corresponde ao passivo descontado do ativo. No âmbito
do ativo podemos distinguir entre património real (coisas de que o estado dispõe e
direitos sobre elas) e financial (dinheiro, ativos monetário-financeiros, créditos e débitos
do Estado), por um lado, e património mobiliário (direitos sobre bens móveis e direitos
de objeto imaterial) e imobiliário (património dominial de objeto imóvel e património
creditício de objeto imaterial) por outro. No âmbito do património do Estado podemos
distinguir entre património duradouro (permanece na esfera jurídica do Estado para
além do período orçamental) e património não duradouro (permanência na esfera
jurídica do Estado fica aquém do período orçamental). Esta última diferenciação serve
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de base para a distinção entre receitas correntes (não alteram a situação passiva ou
ativa do património duradouro do Estado) e receitas de capital (alteram a situação
passiva ou ativa do património duradouro do Estado); distinção entre divida flutuante e
fundada (consoante os ativos ou passivos vão ou não para além do período orçamental);
e ainda para autonomizar (em relação ao património do estado e à disciplina
orçamental) o património da Tesouraria do património do Estado, sendo o primeiro os
meios monetários do Estado e os meios de liquidez a curto prazo (património não
duradouro). As receitas patrimoniais, em geral, podem provir da gestão normal do
património ou da disposição de elementos do seu ativo (alienações ou onerações)-
sendo estes últimos não presentes na Lei de Orçamento de Estado, visto que esta não
reflete a permanência ou não na esfera jurídica do Estado dos bens de que é titular.
➢ Receitas Creditícias: resultam de uma atuação de dilatação temporal entre duas
prestações, sendo que desse dilatação resulta benefício para um ou ambos os sujeitos
da operação.
Dívida Pública (Lei Quadro da Dívida Pública): conjunto de todas as situações
passivas de que o Estado é titular. A dívida pública serve para financiar o défice
global do Orçamento de Estado (dívida fundada) ou pode configurar opções de
boa gestão financeira ou económica. A dívida pública em sentido amplo engloba
a dívida administrativa (Estado é devedor por força de uma espera forçada ou
voluntária de alguns dos seus credores), dívida vitalícia (Estado se coloca numa
posição devedora em virtude da prática de serviços considerados excecionais,
relevantes ou distintos), divida empresarial (resulta da participação social que o
Estado tem em empresas) e dívida aquisitiva (resulta da aquisição de bens
recorrendo aos meios de financiamento privado). A dívida pública em sentido
estrito corresponde à situação na qual o Estado é devedor em virtude de uma
operação financeira, pela qual lhe foram prestados ativos financeiros, devendo
reembolsá-los e/ou pagar juros ou rendas- estamos perante o crédito e dívida
pública financeira. A dívida pública financeira engloba as seguintes distinções:
dívida principal (Estado é devedor de uma determinada quantia) e acessória
(Estado responde subsidiariamente em caso de incumprimento do devedor
principal, sendo o garante de uma situação de dívida); flutuante (vencimento
verifica-se no período orçamental em que foi gerada, sendo paga no total no
período de 1 ano- crédito de curto prazo) e fundada (prazo de vencimento é
superior a um ano, isto é, a dívida vence fora do período orçamental em que foi
originária- crédito de longo prazo. Dentro desta podemos distinguir entre a
dívida perpetua ou consolidada- o Estado não é obrigado a reembolso, mas
apenas ao pagamento de um certo juro anual, podendo ser remíveis (o Estado
pode pagar quando quiser) ou irremíveis (o Estado não tem de reembolsar, só
tem de pagar juros)- e dívida temporária- dívida com prazo de reembolso, como
empréstimos reembolsáveis à vista, vencimento em omento incerto,
vencimento por morte do devedor e vencimento em momento certo (tipo mais
comum)); interna (contraída dentro do próprio país) e externa (contraída no
estrangeiro); em moeda nacional e em moeda estrangeira- tem relevância para
efeitos de limitação do endividamento das Regiões Autónomas; efetiva (Estado
é devedor de uma entidade estranha ao setor público) e fictícia (Estado é
devedor do próprio Estado ou de uma entidade do setor público).
O artigo 10º/1 da Lei-Quadro da dívida pública apresenta-nos os instrumentos
a que o Estado pode recorrer para aumentar a sua dívida pública. Segundo o
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emitir e contrair dívida (embora com limites). Assim, se se autoriza, mesmo sem
autorização e definição das condições, não faria sentido que sendo autorizada,
tivesse de seguir o regime das autorizações parlamentares para serem alteradas
as condições. Segundo o artigo 5º da Lei-Quadro da Dívida Pública, após
concedida a autorização parlamentar, o Conselho de Ministros define, por meio
de resolução, as condições complementares a que obedecerão a negociação,
contratação e emissão de empréstimos. A gestão da dívida pública é feita pela
Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP, EPE). Esta entidade
deve também prestar apoio às Regiões Autónomas no que toca à organização
de dívida pública regional e no acompanhamento da respetiva gestão. O artigo
13º da Lei-Quadro da Dívida Pública descreve um conjunto de operações que
cabem à Assembleia da República, mas que esta pode autorizar o Governo,
através do Ministro das Finanças a realizá-las.
A dúvida pública pode extinguir-se através da amortização, o que significa “o
pagamento das prestações de capital”. O IGCP deve evitar uma excessiva
concentração temporal de amortizações e a amortização de empréstimos
deverá ser coberta por receitas não consignadas do Orçamento de Estado (12º
LQDP). A dívida pode também extinguir-se através da prescrição da dívida: os
créditos correspondentes a juros e rendas perpétuas prescrevem em 5 anos a
contar do seu vencimento; os créditos correspondentes ao capital mutuado e a
rendas vitalícias prescrevem em 10 anos a contar do vencimento ou do primeiro
vencimento de juros ou rendas posterior ao dos últimos cobrados.
Regime da dívida acessória do Estado (Lei 112/97): o Estado pode conceder
garantias pessoais sob forma de fiança ou aval. Essas garantias são concedidas
a título excecional e o fundamento para a sua atribuição deve ser o manifesto
interesse para a economia nacional, devendo essa concessão seguir o princípio
da igualdade e respeitar as regras de concorrência. A concessão de garantias
exige 3 requisitos de verificação comutativa: o Estado ter participação na
empresa ou interesse no empreendimento, projeto ou operação financeira
(com características especificas- 9º/2 DL) que justifique a concessão; tem de
existir um projeto concreto de investimento ou um estudo especificado de
operação a garantir e uma programação financeira rigorosa; o beneficiário tem
de apresentar características económicas, financeiras e organizacionais que
ofereçam segurança suficiente para fazer face às responsabilidades que
pretende assumir. O Estado nunca pode assumir uma garantia em que haja uma
forte possibilidade de ser chamado a pagar a dívida assumida. A concessão de
garantias depende da prova de imprescindibilidade dessa garantia para a
realização da operação de crédito ou financeira, o que significa que nunca
poderá conceder garantias com o fundamento de que a entidade concedente é
incapaz de assumir compromissos de pagamento de dívidas. O créditos de
utilização terão prazos de utilização não superiores a 5 anos, devendo ser
totalmente reembolsados no prazo máximo de 30 a 50 anos a contar das datas
dos respetivos contratos. O Estado aplica, nalguns casos, regimes especiais de
concessão de garantias. O limite máximo de garantias pessoas a conceder pelo
Estado é fixado pela AR (161º h) CRP e 5º DL)
➢ Receitas Tributárias: aquelas que o Estado obtém no exercício do seu poder de
autoridade, impondo aos particulares um sacrifício patrimonial que não tem por
finalidade puni-los nem resulta de qualquer contrato com eles estabelecido.
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Notas: as freguesias têm muito poucas receitas, sendo essa escassez acompanhada do
número diminuto de tarefas que lhe incumbem. A descentralização administrativa,
operada com a repartição de competências entre Estado e AL, será tanto mais efetiva,
quanto mais capacidade de financiamento se conceder a estas últimas.
1. Transferências Orçamentais: a principal receita resulta das transferências que o Estado
faz para estas, tendo estas como objetivo a dotação das autarquias das condições
financeiras adequadas à prossecução das suas atribuições, promovendo também a
correção das desigualdades, como forma de garantir um desenvolvimento harmonioso
de todo o território nacional. O orçamento de Estado determina o que cabe em concreto
a cada autarquia. Anualmente, transfere-se para o Fundo de Equilíbrio Financeiro 19,5%
da média aritmética simples da receita líquida de IRS, IRC e IVA, sendo que esse depois
vai atribuir uma subvenção a cada um dos Municípios, através do Fundo Geral Municipal
e do Fundo de Coesão Municipal. Este Fundo Geral Municipal, que visa dotar os
municípios de condições financeiras adequadas ao exercício das suas atribuições,
distribui 50% da verba atribuída ao FEF às Autarquias, de acordo com os critérios fixados
no artigo 32º do Regime Financeiro das Autarquias Locais e entidades intermunicipais.
O Fundo de Coesão Municipal visa reforçar a coesão municipal e fomentar a correção
de desigualdades entre municípios, e atribui os restantes 50%. É também transferida
uma quantia para o Fundo Social Municipal e pode também operar uma transferência
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recebem ainda receitas dos municípios destinadas a cobrir encargos com a delegação
de competências.
1. Receitas Tributárias: IRS devido ou retido por pessoas singulares residentes nas RA; IRC
devido por pessoas coletivas residentes das RA; IVA cobrado pelas operações realizadas
nas RA; impostos especiais de consumo cobrados sobre os produtos tributáveis que
sejam introduzidos no consumo das RA; imposto de selo devido por sujeitos passivos
com sede ou direção efetiva nas RA ou com sede ou direção efetiva em território
nacional, mas com sucursais, delegações ou quaisquer formas de representação
permanente nas RA; impostos extraordinários liquidados como adicionais ou sobre a
matéria coletável ou a coleta de outros impostos que já constituem receita das RA;
impostos extraordinários autónomos respeitantes a bens localizados nas Regiões, a
contatos aí celebrados ou a bens que garantam obrigações que se situem nessas
mesmas Regiões; importo especial pelo exercício da atividade do jogo devido pelas
empresas concessionárias nas respetivas circunscrições territoriais; IRS e IRC de pessoas
singulares ou coletivas sem sede no território português. Note-se que as receitas
tributárias compreendem ainda as próprias das RA, resultantes do exercício de poder
tributário próprio: adaptação do sistema fiscal às especificidades regionais (277 alínea
i)), devendo esta ser feita pelas AL Regionais; criação de impostos pelas AL Regionais.
Pode haver impostos apenas vigentes nas RA desde que não incidam sobre matéria
objeto da incidência prevista para qualquer dos impostos nacionais, caducando os
impostos regionais se forem criados outros semelhantes a nível nacional. As RA podem
proceder à cobrança destes impostos, criando para o efeito serviços ficais competentes
ou utilizar os serviços regionais do Estado, mediante o pagamento de uma
compensação; adicionais a impostos, criados pelas AL Regionais, sendo lançados
adicionais até 10% sobre a coleta dos impostos em vigor nas RA. Podem ainda fixar
taxas, fixando o quantitativo de taxas, tarifas e preços devidos pela prestação de
serviços regionais, pela outorga de licenças, alvarás e outras remoções de limites
jurídicos às atividades regionais dos particulares e pela utilização dos bens de domínio
público regional.
2. Receitas Creditícias: o recurso ao crédito é retirado na combinação do 227º/1 alínea h)
e p) CRP, retirando-se também a necessidade de este ser limitado pelo caráter unitário
do Estado. Assim, as RA podem contrair empréstimos de longo e curto prazo, limitados
nos termos definidos pela Lei de Finanças das RA. A autorização para contrair dívida
regional compete à AL Regional, exceto se for a contração de empréstimos em moeda
sem curso legal em Portugal, de forma a não provocar efeitos negativos quanto ao rating
de dívida da República. A dívida contraída a longo prazo destina-se apenas a financiar
investimentos ou a subsistir e amortizar empréstimos anteriormente contraídos. A
dívida a curto prazo deve ser contraída para fazer face a necessidades de tesouraria e,
portanto, ser paga até ao último dia do ano em que for contraída, não podendo
ultrapassar 35% das receitas correntes líquidas cobrados no 3 anos anteriores. A Lei de
Finanças das RA fixam os limites máximos de endividamento, mas a Lei de Orçamento
de Estado pode estabelecer limites específicos de endividamento anual para as RA, com
a particularidade de prevalecer. O incumprimento destes limites leva a que haja uma
redução do montante de transferências orçamentais do ano subsequente. Admite-se
que o Estado assuma uma posição devedora no que toca às dívidas das RA, se prestação
garantia pessoal ou se isso resultar de lei expressa.
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Setor Público: conjunto de entidades que exercem atividade financeira. Este subdivide-se em
Setor Público Administrativo (atuação financeira do Estado, através de órgãos da administração
pública, sem fins lucrativos) e Setor Empresarial do Estado (atuação do Estado por entidades
com a forma jurídica de empresas, cuja ação é motivada por critérios económicos). Só o primeiro
nível do Setor Administrativo é que é regulado pelo Orçamento de Estado (Estado e outras
entidades públicas dependentes do Estado), beneficiando o 2º nível e o Setor Empresarial do
Estado de independência orçamental, o que significa uma separação jurídica do orçamento
dessas entidades do Orçamento de Estado; existência de processos próprios de elaboração e
aprovação do Orçamento; administração financeira próprias e formas próprias de execução e
controlo, perceção de receitas e realização de despesas; existência de formas de
responsabilidade próprias.
A nível interno, até à revisão da LEO em 2011, o perímetro orçamental era definido
unicamente do ponto de vista jurídico-institucional, e, portanto, partia-se do
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a. Serviços Integrados: são aqueles serviços do Estado que não disponham de autonomia
administrativa e financeira, tendo autonomia administrativa. Estes poderão ter ou não
ter personalidade jurídica. Os serviços integrados deverão sem identificados pela
ausência de uma lei ou decreto-lei que expressamente diga que estão sujeitos a um
regime diverso do regime regra (autonomia administrativa- atribuição de competência
aos dirigentes dos serviços e organismos da Administração para a prática de atos
administrativos definitivos e executórios apenas para a gestão corrente e para a
realização das respetivas despesas e ordenação do seu pagamento): autonomia
administrativa e financeira. Estão sujeitos aos poderes de direção, supervisão e inspeção
dos membros de Governo, como forma de garantir que a competência dos dirigentes
destes serviços se restringe aos atos de gestão corrente e para garantir a tomada de
decisões respeitantes a atos que não são gestão corrente fica para órgãos superiores.
Não dispõem de orçamento próprio, sendo o seu orçamento integrado no Orçamento
de Estado. Para efetuar as suas despesas, efetuam levantamentos mensais junto da
Direção-Geral do Tesouro. Não podem contrair empréstimos.
b. Serviços e Fundos Autónomos: não são serviços e fundos autónomos os serviços e
organismos da Administração que tenham natureza e forma de empresa (quer afastar-
se a atividade mercantil da atividade administrativa, sendo só esta última que integra o
OE), fundação ou associação pública, apenas podendo ser aqueles organismos que
tenham autonomia administrativa e financeira. Existem 3 formas de obtenção do regime
de autonomia administrativa e financeira: (1) nos termos da Lei de Bases da
Contabilidade Pública, expressando esta os seguintes pressupostos: os serviços e
organismos carecem deste regime para adequada gestão, têm receitas próprias que
cobrem pelo menos 2/3 das despesas, e cumprindo os anteriores requisitos têm uma lei
ou decreto-lei que reconhece autonomia financeira e administrativa; (2) por imperativo
constitucional- Universidades; (3) por imperativo legal excecional- possibilidade de
atribuição de autonomia financeira e administrativa em função de ponderosas razões
expressamente reconhecidas por lei ou decreto-lei e a Lei Quadro dos Institutos
Públicos, em que se reconhece a possibilidade de mais organismos beneficiarem de
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O seu regime é definido no decreto-lei nº 133/2013 e é composto pelo conjunto das empresas
públicas e empresas participadas. Nas empresas públicas, o Estado ou outra entidade pública
estadual ou detém maioria do seu capital social ou dos direitos de voto ou tem o direito de
designar ou de destituir a maioria dos membros dos seus órgãos de administração ou de
fiscalização ou dispõem de participações qualificadas ou direitos especiais que lhe permitam
influenciar de forma determinante os processos decisórios ou opção estratégicas da empresa.
As empresas participadas são aquelas que têm uma participação permanente do Estado ou de
quaisquer entidades públicas estaduais, desde que nessas o Estado não exerça influencia
dominante. Entre as empresas públicas distinguem-se as sociedades constituídas nos termos da
lei comercial e as entidades públicas empresariais (não revestem a forma de sociedade, sendo
produto de criação governamental e estão sujeitas a tutela económica e financeira do Ministro
das Finanças).
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A partir de 1999, com o início da terceira fase da União Económica Monetária, os países regem-
se por uma política monetária única, assente na existência de uma moeda única e na existência
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de uma só taxa de câmbio. A estratégia europeia assenta numa “policy mix”, isto é, a articulação
entre a centralização da política monetária e a descentralização das políticas orçamentais de
cada um dos Estados-Membros. Assim, o sucesso da política monetária dependeria do rigor com
que os orçamentos dos Estados fossem elaborados e executados. As regras orçamentais existem
como forma de impedir que a inexistência de disciplina orçamental leve à pressão sobre os
preços o que implicaria um aumento da taxa de juro do BCE e consequentemente os países com
défice mais baixo enfrentariam um custo resultante do comportamento dos países com défice
mais elevados. Segundo o artigo 126º TFUE e o Protocolo 20 sobre o procedimento relativo aos
défices excessivos, deverá ser cumprida uma disciplina orçamental assente na não
ultrapassagem de um valor de referência no que toca à relação entre o défice orçamental e o
PIB (3%) e no que toca à relação entre a dívida pública e o PIB (60%).
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para a sustentabilidade das finanças públicas que conduza à estabilidade dos preços,
crescimento sustentável forte e à criação de emprego. Estes programas estão sujeitos a
autorização prévia por parte do Conselho Europeu e da Comissão, no âmbito do semestre
europeu, criado para permitir uma coordenação mais estreita das políticas económicas e uma
convergência sustentada dos comportamentos das economias dos Estados Membros. Estes
programas apresentados pelos Estados-Membros servem para a monitorização por parte dos
órgãos comunitários, do cumprimento dos limites de défice e dívida previstos e para adotar
medidas. O acompanhamento da Comissão e do Conselho seve para identificar qualquer desvio
da situação orçamental em relação ao objetivo previsto. Caso seja detetado algum desvio
significativo, o Conselho deve dirigir uma advertência ao Estado e passado um mês o Conselho
analisa de novo a situação e se o desvio persistir ou se agravar, fará uma recomendação com
um prazo máximo de 3 ou 5 meses para a adoção de medidas corretivas. Se não forem tomadas
tais medidas, a Comissão pode recomendar ao Conselho que adote, por maioria qualificada,
uma decisão constatando que não foram tomadas medidas necessárias e ainda recomendar que
o Conselho recomende medidas a tomar. Se o Estado não tomar medida nenhuma poderá
sujeitar-se à constituição em depósito remunerado junto da Comissão de montante equivalente
a 0,2% do PIB do ano anterior.
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SEC 95: para efeitos de controlo da situação orçamental, os Estados devem reportar de acordo
com o Sistema de Contas Nacionais e Regionais. Este instrumento é considerado fundamental
para efeitos da aplicação do Pacto de Estabilidade e Crescimento, visto que promove a
harmonização de conceitos e estatística para que todos possam fazer uso das suas informações;
fornece uma visão sobre os ativos e passivos de cada país e do respetivo valor patrimonial; revela
stocks de ativos e passivos e o seu património líquido. É com base na informação que ele
apresenta que as instituições comunitárias avaliam a execução orçamental dos Estados e
detetam os desvios significativos que possam vir a constituir violações às suas obrigações. O SEC
95 integra as receitas e as despesas em setores institucionais: Sociedades não financeiras;
Sociedades financeiras; Administração Públicas: famílias; Instituições sem fins lucrativos ao
serviço das familiar: resto do mundo que inclui as unidades institucionais não residentes que
efetuem transações com unidades institucionais. Quanto à distinção entre o setor público
administrativo e o setor empresarial, a distribuição das receitas e despesas segue um duplo
critério económico: critério dos preços economicamente vantajosos, que faz depender a
distinção dos preços serem ou não economicamente relevantes, e o critério dos 50%, que atenta
à cobertura dos custos de produção. Para efeitos do perímetro do setor administrações públicas,
serão consideradas todas as entidades não mercantis por meio das quais o Estado atue,
independentemente do Estatuto de independência orçamental reconhecido internamente a
certas delas, consistindo na Administração Central, Administração Estadual, Administração Local
e Segurança Social.
O Orçamento do Estado
Princípios Orçamentais1:
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Aplicam-se a todos os Orçamentos do setor público administrativo.
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105º/3 CRP.
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O Orçamento do Estado é uma referência para os demais orçamentos, até porque é nele que se
pretende coordenar as receitas e despesas do universo das entidades púbicas que, nos termos
da SEC 95, pertencem ao setor administrações públicas, independentemente da sua forma e
natureza (2º/4 LEO). Por outro lado, é através deste que se promove a coordenação da atividade
financeira do Estado e dos subsetores com independência orçamental.
Prorrogação do Orçamento: no artigo 58º LEO prevê-se que o OE mantém-se em vigor para
além do ano económico, prolongando-se para o ano posterior, pretendendo-se evitar
perturbações no normal funcionamento do Estado que ficaria imobilizado à espera de novo
orçamento.
5 Com limites: devem ser respeitados os vínculos a que a lei OE está sujeita, como a LEO, Lei das Grandes Opções e as
leis e contratos que impõem obrigações ao Estado, e os princípios constitucionalmente impostos e os instrumentos
plurianuais a que está subordinada (ex. programa de estabilidade e crescimento); a AR não pode proceder a
alterações que não se inscrevam no âmbito da proposta do Governo.
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aprovação e de execução. Por outro lado, receitas e despesas aprovadas, apenas pelo executivo
são inválidas, podendo gerar responsabilidade civil, disciplinar, criminal e financeira.
Princípio da legalidade da despesa pública: traduz-se na exigência de que todo o facto gerador
de despesa deve respeitar as normas legais aplicáveis. Inicialmente este princípio estava
associado à verificação do cumprimento da tipicidade qualitativa e quantitativa a que as
despesas estão sujeitas, mas hoje este princípio estende-se determinando que a Administração
pode realizar as despesas previstas na lei OE e ainda a despesa que derivar dos contratos
públicos, desde que celebrados nos termos da lei (sustentado no Acórdão Tribunal de Contas
nº142/94). Em suma, o respeito do princípio da legalidade verifica-se se ocorrer um
cumprimento da legalidade genérica, das normas legais aplicáveis ao caso (legalidade
financeira), do cabimento orçamental (legalidade orçamental), do respeito das regras de
contabilidade e da verificação da economia, eficiência e eficácia.
Controlo Orçamental
Apresentação de Contas
o Contas provisórias publicadas 45 dias após o final de cada trimestre decorrido
de execução orçamental.
o Conta Geral do Estado: é um registo sintético da execução orçamental,
indicando as receitas e despesas efetivamente efetuadas; da situação de
tesouraria, apresentando as cobranças e pagamentos orçamentais, as
reposições abatidas nos pagamentos e os movimentos e saldos das contas e nas
caixas de Tesouraria do Estado; situação patrimonial, dando a conhecer a
aplicação do produto de empréstimos e o movimento da dívida pública; e dos
fluxos financeiros dos serviços integrados do Estado de um dado ano
económico. Este registo é elaborado pelo Governo (Direção de Serviços da
Conta), no fina do ano económico e posteriormente enviado à Assembleia para
posterior emissão de resolução de aprovação ou rejeição (166º/5 CRP). O
âmbito subjetivo da Conta é mais amplo que o do Orçamento de Estado,
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6 O Conselho Coordenador do Sistema de Controlo Interno garante o funcionamento do sistema de forma coerente e
racional, funcionando junto do Ministro das Finanças e presidido pelo Inspetor-Geral de Finanças. A partir de 2006 o
TC tem um papel de colaboração com este Conselho, podendo os relatórios referências às ações do Conselho servir
de base para processos de responsabilidade financeira que venham a correr no TC. Os órgãos de controlo interno têm
legitimidade processual subsidiária, isto é, podem requerer o julgamento de responsabilidade financeira no TC, no
caso de o MP não pretender requerer esse processo.
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Receitas Públicas
Regem-se pelo principio da legalidade, visto que só podem ser regidas e criadas por lei ou no
seu respeito; pelo principio da renovação anual, não podendo ser cobradas sem autorização
orçamental atual; pelo principio de que as receitas devem encontrar-se integralmente previstas
no Orçamento de Estado; pelo princípio da não dedução das despesas de cobrança; pelo
principio da não consignação a despesas especificas, salvo em casos especiais ou excecionais
previstos na lei; e pelo principio, tendo exceções, da cobrança através do processo de execuções
fiscais.
O artigo 165º alínea i) da CRP reserva à AR a competência legislativa de criar impostos e seu
sistema fiscal e o regime geral das taxas e demais contribuições financeiras feitas às entidades
públicas. Assim, a respeito dos impostos a AR tem a reserva relativa da criação do tipo fiscal e
respetivos elementos essenciais, como incidência, taxas, benefícios fiscais e garantias dos
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
contribuintes. Por outro lado, quando às taxas e contribuições financeiras apenas regula o
regime geral7.
7 Que engloba segundo Costa: noção de taxa e sua caracterização, possíveis modalidades e indicação típicas dos
domínios da sua incidência, princípios e regras gerais relativos à competência para o seu estabelecimento e à forma
ou procedimento que neste deve ser observado, critérios a que deve obedecer a fixação do respetivo montante e
elementos ou circunstâncias para tanto atendíveis e alguns aspetos relevantes do regime da relação jurídica e da
obrigação tributárias.
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Despesas Públicas: é o conjunto de dispêndios realizados pelos entes públicos para custear os
serviços públicos (despesas correntes) prestados à sociedade ou para a realização de
investimentos (despesas de capital). A despesa abrange assim o consumo, investimento e
transferências. O consumo é a aquisição presente de bens , tendo em vista a satisfação das
necessidades a que um sujeito se propõe. O investimento representa todo o capital adicional
adquirido pelo setor público e privado ao fim de um determinado período. Este poderá ser real
se se reportar aos bens de capital empregues no processo produtivo ou pode ser financeiro se
tiver como referência o mútuo ou depósito de fundos juntos de mercados ou instituições
especializadas. Valerá investir se o retorno do investimento adicional for superior à taxa de juro.
As transferências poderão ser de capital ou correntes, consoante afetem ou não o património
duradouro do Estado; diretas ou indiretas, consoante visem aumentar diretamente os
rendimentos disponíveis ou traduzam um benefício meramente indireto pelo aumento das
possibilidades de consumo; para entidades do setor público ou do setor privado. A despesa
Pública tem diversas modalidades: despesas de investimento (concorrem para a formação de
capital fixo do Estado) e despesas de funcionamento (gastos necessários para assegurar o
normal funcionamento da máquina administrativa); despesas em bens e serviços (asseguram a
criação de utilidades por meio da compra de bens ou serviços do Estado) e despesas de
transferência (limitam-se a proceder a uma redistribuição de recursos atribuindo-os a entidades
que se situam no setor público ou no setor privado); despesas produtivas (limitem a gerar
utilidades no presente) e despesas reprodutivas (impliquem o aumento da capacidade produtiva
no futuro); despesas civis (dentro das quais podemos destacar as despesas económicas, sociais,
com funções gerais de soberania) e despesas militares (destinam-se a manter a Defesa Nacional)
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• Impostos sobre o rendimento: imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS)
e o imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC).
• Impostos sobre o património: imposto municipal sobre as transmissões onerosas de
imóveis (IMT) e imposto único de circulação (IUC)
• Impostos sobre o consumo: imposto sobre o valor acrescentado (IVA), impostos
especiais de consumo e Imposto sobre os veículos (ISV)
Setor Público: abrange todas as entidades controladas pelo poder político, sendo essas a
totalidade de administrações públicas (central, regional, local e segurança social) e ainda o setor
público empresarial (empresas públicas, empresas municipais e sociedades anónimas de
capitais exclusiva ou maioritariamente públicos).
Unidades Institucionais: são entidades económicas com capacidade de possuir bens e ativos, de
contrair passivos e de realizar atividades e operações económicas com outras unidades em seu
próprio nome. Estas têm autonomia de decisão no exercício da sua função principal (tem direito
a ser proprietária de bens ou ativos e poderá transacionar a propriedade dos bens ou ativos;
capacidade para tomar decisões económicas e realizar atividades económicas pelas quais é
diretamente responsável; capacidade para contrair passivos em seu nome, aceitar obrigações
ou compromissos futuros e celebrar contratos), dispõem de uma contabilidade completa
(circunstância de a mesma dispor de documentos contabilísticos que reflitam a totalidade das
suas operações económicas e financeiras efetuadas no decurso do tempo de referência das
contas e de um balanço dos seus ativos e passivos) ou podem elaborá-la.
Função = produção de bens > distinção entre tipo de produtor: a) produtores mercantis privados
e públicos →Sociedades Financeiras, Sociedades não Financeiras ou Familias; b) produtores
privados para a utilização final própria →Familias; c) outros produtores não mercantis privados
e públicos →Administrações Públicas ou Instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias.
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Produção destinada a utilização final própria: bens ou serviços que são retidos para consumo
final pela mesma unidade institucional ou para formação bruta de capital fixo pela mesma
unidade institucional.
Produção Não Mercantil: abrange a produção que é fornecida gratuitamente ou a preços que
não são economicamente significativos.
Preço economicamente significativo: ocorre quando mais de 50% dos custos da produção são
cobertos pelas vendas. Flutuações de menor importância de vendas de um ano para o outro não
devem implicar uma reclassificação de unidades institucionais.
Os orçamentos das empresas públicas não figuram no Orçamento de Estado, tal como não
figuram nos orçamentos das RA e AL. No entanto, as regras do SEC 95 pretendeu capturar os
encargos financeiros associados a transferências financeiras entre as administrações públicas e
setor empresarial local, através da consolidação das contas. Isto é, a contabilização de receitas
e despesas deverá fazer-se, não apenas através de valores brutos de transferência, mas também
através de valores líquidos dessas transferências- valores consolidados. Este meio é uma forma
também de uma progressiva inclusão dos orçamentos das Administrações Públicas Regional e
Local e do Setor Público Empresarial no perímetro orçamental, visto que permite perceber a
dimensão dos fluxos financeiros entre todos eles. Por outro lado, esse objetivo poderá ser
alcançado através da reclassificação de entidades empresariais: são entidades reclassificadas
aquelas que independentemente da sua forma e natureza se incluam no setor público
administrativo no âmbito do SEC 95.
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não tem sido devidamente articulado com o processo de atribuição de meios de financiamento.
O federalismo financeiro manifesta-se independentemente da natureza do Estado e da sua
organização político-administrativa. Este acontece sempre que existem níveis inferiores de
decisão e desde que essa existência se traduza num acervo de funções e/ou recursos financeiros.
O Estado financia outros setores: Regiões Autónomas através da subvenção geral e subvenção
especifica (Fundo de Coesão para as Regiões Ultraperiféricas); Municípios através de subvenção
geral (Fundo de Equilíbrio Financeiro) e subvenção especifica (Fundo Social Municipal);
Freguesias através de subvenção geral (Fundo de Financiamento das Freguesias); empresas
públicas nacionais por via de financiamentos e indemnizações compensatórias.
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O Orçamento de Estado (OE) pode ser definido como o documento onde são previstas e
computadas as receitas e despesas anuais, competentemente autorizadas. Assim, o OE é tanto
uma previsão (associa-se às funções económicas do OE, que serão a racionalidade económica e
a eficácia como quadro de elaboração das políticas financeiras, ou seja, o OE permite uma gestão
mais eficiente e racional dos dinheiros públicos e através deste é possível conhecer os aspetos
fundamentais da política económica do Estado) como uma autorização (associa-se às funções
jurídicas e políticas do OE, sendo que este se assume como uma autorização política, pois esta
está a cargo do Parlamento, sendo este que autoriza as despesas e receitas, que serão
executadas pelo Governo- existe uma limitação jurídica da Administração, visto que os
respetivos poderes financeiros carecem de ser autorizados). O OE é uma lei em sentido formal
e material. Desde a revisão de 1982 da CRP que vigora um sistema monista no que toca ao OE,
na medida em que a lei do OE é apenas um documento que contém tanto a vertente normativa
(autorização jurídico-política de realização de receita e cobrança de despesa) como a vertente
contabilística (conjunto de mapas, agregadores e desagregadores de receita e despesa- suporte
contabilístico de previsões de receita e dotações de despesa). Assim, o OE pode ser visto num
dimensão económico-financeira sendo efetivamente um orçamento do Estado, ou seja, um
plano de condução das finanças públicas do país e instrumento principal da ação
macroeconómica do Estado, ou então pode ser visto na sua dimensão jurídica, isto é, enquanto
expressão do princípio da democracia financeira. A Lei de OE tem sido considerada como uma
lei de valor reforçado devido ao seu procedimento especial de aprovação (iniciativa exclusiva do
Governo- 161º alínea g) CRP- tempos de aprovação, entrada em vigor e vigência que visam
garantir a sua duração anual) e ao facto de ser uma lei irrevogável.
Enquadramento Legal do OE
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reforçado (uma reconhecida pela CRP- LEO- e outra defendida pela doutrina- OE) e a CRP não
prevê qualquer dependência entre leis de valor reforçado, tendo, portanto que seguir as regras
de direito que se aplicam às leis de igual valor; por outro lado, a LEO não exige nenhuma
exigência especifica no plano da aprovação ou alteração, podendo acontecer no limite que a
LEO fosse alterada pela própria lei enquadrada- lei OE.
Planos de incidência da LEO: esta é uma lei multifacetada, encontrando nela níveis de incidência
muito diversos dos quais podemos destacar os planos de incidência sobre vertente contabilística
do OE, sobre a vertente normativa do OE e planos de incidência formal e planos de incidência
substancial. Verifica-se que a LEO é cada vez menos uma lei de incidência formal, reguladora de
procedimentos e estruturas orçamentais, para ser cada vez mais uma lei de incidência
substancial, ou seja, preocupada com os resultados orçamentais, sendo hoje exigido, para além
do respeito pelo processo devido, o resultado orçamental concordante com as exigências de
disciplina orçamental. Assim, a LEO tem três eixos de matérias: (1) estrutura, conteúdo e
resultados orçamentais; (2) processo orçamental; (3) controlo orçamental e responsabilidade
financeira.
A crise de 2008 veio aprofundar um conjunto de tendências relativas ao desenho dos sistemas
orçamentais, sendo possível observar nas reformas um conjunto de boas práticas internacionais:
Vinculações Internas do OE
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ser deduzidas às receitas as importâncias gastas com a sua cobrança nem às despesas
as receitas originadas pela sua realização. Pretende-se possibilitar um controlo efetivo,
político e administrativo, da execução fiscal; (ii) regra da não consignação: num
Orçamento não pode afetar-se qualquer receita à cobertura de determinada despesa,
como forma de evitar a existência de uma Administração Pública fragmentária
desprovida de uma gestão financeira de conjunto. Contudo, excetuam-se desta regra as
receitas apresentadas no artigo 16º/2 LEO. Para ocorrer consignação de receita é
preciso que se verifique: a) receitas deverão ter lugar no mesmo património
administrativo: b) e deverão cobrir uma despesa ou um grupo de despesas; (iii) regra da
especificação: o orçamento deve individualizar suficientemente cada receita e cada
despesa. Assim, a cada espécie de despesas públicas deve ser concedido um crédito que
deve ser exclusivamente afeto ao serviço ou função prescrita. Existem despesas que por
serem imprevisíveis (e inadiáveis) não podem ser suficientemente individualizadas e,
portanto, devem ser inscrita a dotação provisional destas no Orçamento do Ministério
das Finanças. O cumprimento desta subregra exige a classificação das receitas e
despesas segundo o critério económico (sob pena de ilegalidade) e classificação das
despesas segundo os critérios orgânico (assenta na distribuição das despesas pelos
departamentos do Estado e pela rubrica dos Encargos Gerais da Nação-serviços
integrados- e na distribuição das receitas e despesas por cada um dos fundos e serviços
integrados) e funcional (sob pena de inconstitucionalidade material, por violação do
105º/3 CRP).
Publicidade: condição de eficácia da autorização e do consentimento parlamentares
para a cobrança de receitas e a realização de despesas e, ao mesmo tempo, tanto os
decisores e executores financeiros como os cidadãos têm de conhecer os termos
concretos da autorização para que essa possa ser aplicada, controlada e fiscalizada. A
necessidade de publicação decorre do facto de se exigir a forma de lei para a aprovação
do OE, sendo que às leis se aplica o regime geral de publicação dos atos(119º CRP). Por
outro lado, o legislador prevê que sejam tornados públicos todos os documentos que se
revelem necessários para assegurar a adequada divulgação e transparência do OR e da
sua execução (ex. Publicidade do Diário da AR que publica o relato das reuniões de
Comissão do Orçamento e Finanças). O regime de publicação deve ser garantido e
assegurado também pelas RA e pelas AL.
Equilíbrio: (i) Equilíbrio Formal (105º/4 CRP): igualdade entre as receitas e as despesas,
traduzindo a interdição dos défices (nunca a totalidade de despesas exceda a totalidade
das receitas, sob pena de se ter de financiar os défices com empréstimos, pela criação
de um imposto suplementar ou pelas manipulações monetárias) e excedentes de receita
(relacionado com a ideia de Estado Liberal). O conceito de equilíbrio formal foi sendo
abandonado; (ii) Equilíbrio Substantivo: baseia-se na teoria do défice sistemático e na
teoria dos orçamentos cíclicos (receitas aumentam em períodos expansionistas e as
receitas diminuem em períodos de recessão). Podemos ter 4 critérios de equilíbrio
substancial: (A) Critério Clássico: só há equilíbrio orçamental quando as receitas
normais (patrimoniais e tributárias) cobrissem todas as despesas. O défice orçamental
só é admissível no caso de sobrevivência nacional (guerra ou calamidade pública), o que
significa que nas restantes situações é preferível o aumento dos impostos que o
agravamento dos impostos; (B) Critério do Orçamento Ordinário: há equilíbrio quando
as despesas ordinárias foram cobertas pelas receitas ordinárias e as despesas
extraordinárias sobertas pelo excedente das receitas ordinárias e as receitas
extraordinárias. O problema deste critério está nas variadas definições de verbas
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
Uma regra financeira de base deve comportar oito elementos: a) clareza, que impõe a necessária
cobertura institucional e a existência de clausulas de salvaguarda, de forma a evitar
ambiguidades na sua execução; b) transparência e c) simplicidade garantindo estas a
proximidade das decisões tomadas pelo Executivo; d) flexibilidade, representado a necessidade
de adaptação aos choques exógenos que escapam ao controlo politico; e) adequação, ou seja,
necessária conexão entre os meios e os fins; f) coercibilidade, isto é, existência de uma norma
constitucional ou legal, possivelmente acompanhada de sanções pelo não cumprimento e tutela
efetiva, de natureza administrativa ou jurisdicional; g) consistência, que exige adaptabilidade às
medidas de política macroeconómica a tomar; h) eficiência, que prevê que uma regra deve servir
de catalisador para eventuais reformas, assegurando a sustentabilidade das políticas públicas.
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
de forma a manter as taxas de juro contraentes e criar espaço de manobra para preparação de
uma resposta para outra crise/recessão eventual; na determinação eventual de limites
numéricos aos défices ou a superávides, de forma a evitar desequilíbrios graves.
Perímetro Subjetivo da Regra Financeira de Base: a definição dos sujeitos abrangidos pelas
regras financeiras dependente da delimitação do perímetro de consolidação (pressupõe a
apresentação de um quadro exato- que determinamos através de critérios qualitativos, mais
precisamente de cinco formas de dependência- e fiel à realidade financeira e a determinação do
método de consolidação formal mais adequado- podemos falar de integração global (há
controlo exclusivo de uma entidade por parte de uma entidade pública mãe e, portanto as suas
finanças são agregadas após a eliminação de operações recíprocas), integração proporcional
(contabiliza os contributos financeiros de uma entidade consolidado em função do seu peso no
sistema financeiro público, usado nas entidades sujeitas a um controlo conjunto e não exclusivo
por entidades públicas e/ou provadas) e integração por equivalência (determina-se o montante
equivalente nos títulos e participações no resultado da entidade consolidada, sendo esse
montante integrado por equivalência no estado consolidado da entidade-mãe) e da
consequente homogeneização e eliminação das operações recíprocas.
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
Acolhimento das novas regras numéricas na legislação portuguesa: este acolhimento surge das
imposições da legislação comunitária, designadamente PEC, e da necessidade de concretização
dos princípios apresentados anteriormente.
Vinculações Externas do OE: estão presentes no artigo 44º LEO. A vinculação dominante é a que
resulta das exigências de disciplina orçamental e de sustentabilidade das finanças públicas
resultante da legislação comunitária aplicável (PEC). Veja-se que o artigo 8º/4 CRP apresenta
uma aplicabilidade direta destas normas, transformando-as em fonte de direito, sendo,
portanto, obvio a necessidade do OE se conformar com estas. O OE está ainda vinculado aos
limites de despesa consagrados nos instrumentos de programação orçamental: quadros
plurianuais (artigo 35º LEO apresenta o Quadro Plurianual das despesas públicas) que fixam,
para o período de programação em causa, limites máximos para a despesa agregada e para a
despesa em cada setor ou área funcional. Existem ainda despesas obrigatórias, isto é, obrigações
decorrentes de lei, contrato ou associadas ao cumprimento de sentenças judiciais. Veja-se que
para que uma despesa possa ser realizada o facto gerador da obrigação da despesa deve
respeitar as normas legais aplicáveis (legalidade genérica) e deve encontrar-se prevista/inscrita
e cabimentada no orçamento(legalidade especifica). O OE acolhe tanto a legalidade genérica
como especifica, visto que pode criar despesa pública, mas por vezes acolhe passivamente a
despesa pública já criada. Não há violação do artigo 105º/2 CRP e 42º LEO quando o OE deixa
de ter dotações suficientes para respeitar obrigações decorrentes de lei ou de contrato, desde
que essas alterações na atribuição dos direitos sejam definidas por lei, sendo as obrigações
decorrentes de lei e de contrato tidas em conta, mas nesses novos termos. O OE é o instrumento
legal por excelência de criação/conformação de obrigações para o Estado. As vinculações
externas mais relevantes são as obrigações decorrentes do cumprimento das regras do PEC (ex.
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
Podemos falar de “boleias” ou “cavaleiros” orçamentais, ou seja, matérias que não têm um
conteúdo orçamental, mas que por vezes são inseridas no OE. Existem duas teses quanto a este
problema: inconstitucionalidade e irrelevância jurídica. A última apresenta que os cavaleiros
orçamentais não são inconstitucionais, por não beneficiarem do regime jurídico orçamental e,
portanto, não interferindo na repartição de competências definida pela CRP, não beneficiando
das regras especiais de aprovação e caducidade previstas pela CRP para a lei OE. Apesar da LEO
ter integrado algumas matérias como orçamentais, legalizando a prática orçamental, outras
matérias não foram integradas no conjunto apresentado no artigo 41º LEO. Veja-se o caso
relevante do universo fiscal que, permitindo-se que a matéria seja reguada pela lei do OE, evita-
se o exclusivismo orçamental, possibilitando que as alterações ou inovações na área fiscal
possam ser feitas fora do OE. Com esta não integração nas matérias do artigo 41º LEO permite-
se que os deputados e/ou grupos parlamentares tenham capacidade de iniciativa originária (o
que advém também do principio da democracia fiscal que exige que os representantes do povo
aprovem a lei fiscal e tenham também iniciativa desta), visto que as matérias lá apresentadas
estão sujeitas a exigências procedimentais associadas à aprovação do OE, nomeadamente à
iniciativa originária exclusiva do governo. Contudo, o legislador, noutras disposições, afirma a
ideia de que a matéria fiscal é matéria de conteúdo especificamente orçamental e prevê que,
mesmo que a vigência do orçamento seja prorrogada, não são prorrogadas as autorizações
legislativas em matéria fiscal, devendo caducar sempre no final do ano.
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
A proposta de Lei OE para o ano económico seguinte é apresentada pelo Governo à AR até 15
de outubro de cada ano (exceções artigo 39º LEO). A iniciativa é exclusiva do Governo (161º g)
CRP), na medida em que o OE é o principal instrumento da execução do programa político do
Governo, sendo o Governo que presta contas no final do seu mandato pela execução desse
programa. É o Parlamento que tem a reserva absoluta da votação e aprovação do OE (161º g)
CRP)- decorre do princípio da democracia financeira, cabendo aos representantes dos cidadãos
autorizar politicamente o Governo a conduzir a gestão financeira do país, gerir recursos
financeiros, cobrando receita e realizado despesa pública. A votação da proposta realiza-se 45
dias após a apresentação da proposta. As matérias são discutidas e votadas tanto na
generalidade (a maioria das coisas- articulado e mapas orçamentais) como na especialidade
(criação de impostos ou alterações e extinção aos vigentes, no tocante à incidência, taxas,
isenções e garantias dos contribuintes e as matérias relativas a empréstimos e outros meios de
financiamento; e tudo o que a AR entenda submeter a apreciação na especialidade).
Prorrogação de vigência do OE: em princípio um governo de gestão não pode apresentar uma
proposta de lei OE (186º/5 CRP), mas, excecionalmente, verificando-se manifesta insuficiência
dos meios financeiros previstos no OE anteriores para a prossecução do funcionamento normal
do Estado e da Administração, será possível ao Governo utilizar o seu direito de iniciativa em
matéria orçamental junto da AR apresentando uma proposta de alteração da lei OE. Contudo, é
obvio que esta alteração não pode envolver autorização de despesas para projetos novos ou
decorrentes de alterações de fundo da política económica nem para a cobrança de receitas que
visem financiá-las. A LEO consagra uma prorrogação automática da autorização parlamentar
extensiva para além do final do ano, altura em que caducaria, evitando uma perturbação no
normal funcionamento do Estado em virtude de inexistência do OE (58º LEO). Contudo, exige-
se que para que ocorra prorrogação, o Governo determine por DL o regime orçamental
transitório para o ano em causa. O artigo 58º/1 apresenta as causas que levam a prorrogação
do OE: a) rejeição da proposta de lei OE; b) tomada de posse do novo governo, se essa tiver
ocorrido entre 1 de julho e 30 de setembro; c) caducidade da proposta de lei OE em virtude da
demissão do Governo proponente; d) não votação parlamentar da lei OE. O nº 2 apresenta que
a prorrogação abrange o articulado e mapas orçamentais, assim como os decretos-lei de
execução orçamental, sendo que o nº3 apresente aquilo que a prorrogação não abrange. Por
fim o nº 4 apresenta aquilo que o Governo durante este período pode fazer: emitir dívida
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
fundada, conceder empréstimos e realizar outras operações ativas de crédito (com limites) e
conceder garantias pessoais.
a) Orçamento da despesa:
a. Princípio da segregação de funções entre autorização da despesa e autorização
de pagamento;
b. Princípio da legalidade, genérica e especifica;
c. Princípio da tipicidade qualitativa;
d. Princípio da tipicidade quantitativa: exigência do cabimento simples;
e. Despesas com receitas consignadas: exigência do duplo cabimento orçamental;
f. Princípio da utilização por duodécimos;
g. Regras de Economia, Eficiência e Eficácia.
b) Orçamento da Receita:
a. Princípio da segregação de funções entre liquidação e cobrança;
b. Princípio da legalidade genérica e específica;
c. Princípio da tipicidade qualitativa.
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
Tribunal de Contas
O Tribunal de Contas é um autêntico tribunal integrado no poder judicial (209º/1 c) CRP), tendo
uma integração especial, na medida em que não está na dependência do Conselho Superior de
Magistratura. Integra um Presidente (nomeado pelo PR- 133º m) CRP) e 16 juízes. Faz parte,
com o Tribunal de Contas Europeu, da rede europeia de instituições superiores de auditoria. O
Tribunal é organizado e regulado no essencial pela lei nº 98/97- Lei de Organização e Processo
do Tribunal de Contas (LOPTC). O tribunal é o órgão de controlo, de fiscalização e auditoria das
contas públicas, o que se traduz na competência de : a) dar parecer sobre a Conta Geral do
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Inês Godinho 2019/2020 2º Semestre
Estado, incluído a da Segurança Social e sobre as contas das RA; b) fiscalizar previamente a
legalidade e cabimento orçamental dos atos e contratos de qualquer natureza que sejam
geradores de despesa ou representativos de quaisquer encargos e responsabilidades para as
entidades sujeitas ao seu controlo e jurisdição; c) julgar a efetivação de responsabilidades
financeiras; d) realizar auditorias; e) apreciar a legalidade, bem como a economia, eficiência e
eficácia das entidades sujeitas ao seu poder de controlo- não se trata de fazer apreciações de
índole política, mas sim de proceder à avaliação técnica e económica sobre o modo como o
dinheiro público é utilizado e aplicado. Note-se que o TC procede à fiscalização, tanto prévia,
concomitante como sucessiva e pode proceder à aplicação de sanções que a lei manda aplicar
em resultado do apuramento de responsabilidades. Pode ainda formular recomendações. Cabe
a este tribunal a tarefa essencial de credibilização das finanças públicas tendentes à boa e
correta utilização dos dinheiros públicos. São indispensáveis coordenações efetivas entre os
diferentes tipos de fiscalização confiados ao TC e uma colaboração estreita entre os sistemas de
controlo interno da Administração financeira do Estado e a atividade do tribunal, sem esquecer
a fiscalização política da AR.
a) Consultiva
b) Jurisdicional: julga e efetiva responsabilidades financeiras.
c) Fiscalização a priori das despesas públicas: examina e concede o visto ou emite
declaração de conformidade relativamente a diversos atos gerados de despesa.
d) Fiscalização concomitante e sucessiva: recorre à auditoria, avaliando procedimentos
administrativos relativos a atos que impliquem despesa de pessoa e contrato que não
estejam submetidos a visto prévio , verificando as contas das entidades sujeitas à sua
prestação e o seus respetivos sistemas de controlo interno (…).
e) Administrativa (6º lei nº 7/98).
Através dos artigos 214º CRP e 1º (define ao nível legal, as atribuições do Tribunal, a sua missão
e o interesse público que o Tribunal visa realizar, que será o interesse no controlo da legalidade,
de regularidade e da boa gestão dos dinheiros públicos), 5º e 6º LOPTC é possível definir que a
jurisdição do Tribunal incide sobre a generalidade das receitas e das despesas públicas e da
correspondente atividade de gestão, sem que seja possível desassociar da sua competência a
utilização de dinheiros públicos por parte das entidades sujeitas ao seu controlo e jurisdição (a
sua jurisdição baseia-se num critério objetivo- princípio da perseguição do dinheiro e valores
públicos, independentemente da natureza das entidades que os tem à guarda). É, então muito
vasto, o número de entidades sujeito à atuação do TC: toda as entidades que tenham a seu cargo
a gestão de dinheiros ou valores públicos independentemente da natureza jurídica de tais
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entidades. O âmbito da sua jurisdição é ainda condicionado pelo fim de controlo financeiro
desses dinheiros públicos. Portanto, onde inexistam dinheiros públicos, o exercício de funções
de controlo não tem razão de ser. O artigo 2º da Lei nº 98/97 determina que o TC exerce a função
de controlo financeiro e a função e controlo jurisdicional em relação às entidades que fazem
parte do SPA, SPE e também em relação às entidades que gerem ou utilizam dinheiros públicos.
O artigo 2º/1 da LOPTC apresenta as entidades sujeitas à jurisdição e poderes de controlo do TC,
acrescentando o artigo 2º/2 outras entidades também sujeitas essa jurisdição e controlo, entre
as quais se incluem as associações públicas (de entidades públicas, de entidades privadas e de
caráter misto), desde que sejam financiadas maioritariamente por entidades públicas ou
estejam sujeitas ao controlo de gestão de entidades públicas. Há que atender-se à diversidade
de natureza que os vários tipos de associações públicas apresentam, nomeadamente quanto ao
regime financeiro e das suas relações com as finanças do Estado, podendo ter diversos níveis de
sujeição ao TC (ex. academias estão sujeitas a prestação de contas porque são financiadas
diretamente por verbas orçamentais do Estado, mas as ordens profissionais e a Casa do Doutro
já não estão). O artigo 2º/3 LOPTC pretende criar uma cláusula de salvaguarda que permita
sujeitar à jurisdição do TC entidades não abrangidas pelos números 1 e 2 desse artigo, mas
enuncia claramente os princípios que devem guiar a interpretação do âmbito dessa mesma
jurisdição: (i) definição da jurisdição do TC reside na garantia da boa gestão dos dinheiros e
valores públicos; (ii) a sua atuação, enquanto forma de controlo externo sobre a gestão de
outras entidades, deve cingir-se ao necessário para assegurar a fiscalização da legalidade,
regularidade e correção económica e financeira dos dinheiros e valores públicos.
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