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CAPíTULO I

A afetividade política e sua reprodução

Cada momento da vida política é marcado pela difusão de múltiplas


gens, que visam influenciar os vínculos e as repugnâncias, as esperanças e os
temores, os sentimentos positivos e negativos em relação a objetivos
ções ou heróis da cena política. Todo jornal, seja de informação ou de
participa da gestão desses sentimentos, produz informações que obietÑam
provocar o interesse, a desconfiança ou a indignação, Da mesma forma, OShis-
toriadores da vida política não cessam de mostrar que toda situação
nhada, em diferentes ambientes sociais, de atitudes afetivas diversas homo•
gêneas ou conflitubsas. Sublinham, também, as mudanças das sensibilidades
coletivas, as evoluções lentas ou rápidas, da indiferença à cóleraàdo entusias-
mo à decepção. Tudo se passa como se, a despeito dos fenômenos aparentes ou
mensuráveis, a vida política fosse também sustentada por uma história difusa
e qualitativamente observável: a dos sentimentos coletivos e das pai\óes, que
se inscrevem ou interferem nas práticas políticas,
Ora, essa dimensão permanente da vida social e política é geralmen-
te negligenciada pelas ciências sociais. A sociologia políticaàprivilegiando o
estudo dos comportamentos quantitativamente observáveis tende a evitar a
análise das configurações afetivas. O cuidado para isolar os dados objetivaveis
leva à renovação da distinção positivista entre o objetivo e 0 subjeOeo e, assim,
conduz ao inefável as afetividades políticas,
A importância histórica das paixões políticas é usualmente reconheci-
da apenas nas fases de sua mais alta intensidade, nas revoltas e nas revoluções
e elas são, então, com frequência, atribuídas ao "fanatismo". A oposição entre
fanatismo e normalidade sugere que as paixões políticas são excepcionais, ir-
racionais e de pouca importância nos períodos relativamente menos Violentos
da história. Em conformidade com esses princípios, as ciências políticas aban-
donam de bom grado ao jornalista ou ao romancista a reconstituição das emo-
ções dos sujeitos políticos, individuais ou coletivos.
Os grandes teóricos e filósofos da vida política, de Platão a Marx,
foram muito mais atentos à dimensão afetiva da história e à necessidade de
procuraros instrumentos para analisá-la. Montesquieu, por exemplo, for-
mulou a hipótesede que a cada grande sistema político corresponde uma
paixão política dominante: a virtude, a honra e o temor, que participavam da
manutenção e regulação do sistema.2Alexis de Tocqueville, comparando as
sociedadeseuropeiasà vida social americana, notou a importância daquilo
que propôs chamar de "paixões gerais e dominantes" de uma sociedade. Mas
é, talvez, na obra de Marx, contrariamente à vulgata economicista do
marxis-
mo,que vemos fortemente enfatizada a importância das diversas
dimensões
da afetividade política.
Marx acentua, primeiramente, o fato de que os vínculos
coletivos, os
sentimentos políticos, são diferentes segundo as classes sociais.
Nas socieda-
des europeias do século XIX, por exemplo, parece-lhe que os
vínculos entre os
grandes proprietários burgueses são profundamente diferentes
daqueles en-
tre os pequenos burgueses e, mais ainda, entre os operários
explorados. Mas,
é nos períodos de revolta e de revolução que os fenômenos
de sensibilidade
coletivavão se revelarimportantes ao desenrolar da história:
nos trabalhos so-
bre a Revolução de 1848 e sobre a Comuna de Paris, Marx
se detém mais longa-
mente em descreveras mudanças nas sensibilidades,
suas contradições e con-
sequências.Para ele, a Revoluçãomarca um ápice na
intensidade dos afetos
políticos;ela é caracterizada, no interior das
classes em revolta, pelo "entusias-
mo extático".3A dimensão de êxtase
ganha importância, pois é graças a esta in-
tensidadeemocional que os revolucionários
podem se afastar da fria lucidez,

2 MONTESQUIEU.
Del'espritdeslois. Livres II, III. Paris;
3 MARX, Karl. [1852]Le18 Flammarion,1979.
Brumairede Louis Bonaparte, Paris:
Editions Sociales, 1969, p. 19.

12 PIERREANSART
ultrapassando seus próprios limites, e encontrar a energia social necessária à
ação histórica. Ao contrário, as classes vinculadas afetivamente às suas tradi-
ções políticas, como os camponeses franceses ao longo dos anos 1848-1850,
são demovidas de se engajarem na ação revolucionária e agem, efetivamente,
contra seus próprios interesses.
Marx faz das paixões políticas e, mais amplamente, das sensibilida-
des políticas, um fenômeno decisivo ao desenrolar da história. Evidentemente
esses fenômenos estão em relação e inter-relação com toda a conjuntura his-
tórica, com as relações de classe e o desenvolvimento da luta de classes. Mas é
importante nos determos especificamente nessa questão, pois as intensidades
emocionais podem se constituir, em certas circunstâncias, na dimensão essen-
cial dos enfrentamentos. Isso pode ser percebido no caso de uma classe do-
minante, internamente dividida, que tenha como único elemento de coesão o
"mesmo ódio"4contra as classes revoltadas. A razão central da insistência com
que Marx analisa as sensibilidades políticas e suas mudanças reside na relação
por ele estabelecida entre os níveis de intensidade emocional e aquilo que de-
signa por «energia revolucionária "5•,portanto, nas possibilidades de ação coleti-
va. É quando as paixões políticas estão exasperadas que é possível se produzir
uma verdadeira revolução e é pela manutençãodesse nível passional que se
pode dar continuidade à obra de destruição do antigo regime. Dessa forma,
uma revolução proletária apenas será possível se a classe operária alcançar, em
um momento da sua história e de acordo com as circunstâncias, uma intensi-
dade suficiente de paixão revolucionária.
Sob essa perspectiva, é preciso destacar que Marx não faz da sensibi-
lidade política uma mera consequência das condições materiais, como pode-
ríamos pensar. Ao contrário, ele diz que todas as condições materiais podem
estar reunidas sem que surja uma verdadeira paixão revolucionária. Em 1870,
ele indica claramente a propósito dos operários ingleses: "Os ingleses possuem
toda a matéria necessária à revolução social. O que lhes falta é...a paixão revo-
lucionária "6. Acrescenta que falta também a esses operários "o espírito genera-

4 MARX, Karl. [1852] Le18 Brumairede Louis Bonaparte, op.cit., p. 46.


5 Ibid., p. 70.
6 MARX, Karl. CirculaireduConseilGénéraldel'AlT,jan.1870.

A CESTÃO DAS PAIXÕES POLÍTICAS 13


lizador", mas é preciso distinguir as paixões e as teorias políticas,
pois sua dis_
sociação pode se produzir na prática histórica. Marx chama a
atenção para este
fato na Revolução de 1848, exprimindo em uma fórmula lapidar
a dissociação
entre a afetividade coletiva e as ideologias políticas: "Paixões sem
verdade,ver_
dades sem paixão"7
Devemos nos perguntar por que os grandes analistas da vida política
foram tão atentos a essa dimensão da prática sociopolítica, à dimensão afetiva
de ser apreendida
tão difícil e analisada, pois diz respeito a cada
cidadão com

suas particularidades e diferenças? É precisamente a onipresença e o caráterdi-


fuso da sensibilidade política que analistas e historiadores procuraram enfatizar.
Com efeito, a vivência política de cada indivíduo é incessantemente marcada,em
graus diferentes de intensidade, por nuances sutis de satisfação e/ou desconten-
tamento, interesse elou animosidade. A gama de nuances é tão rica e complexa
que toda classificação é simplificadora. Toda a sutil escala de sentimentos e emo-
ções, do júbilo à angústia, do amor ao ódio, pode ser encontrada em nossa expe-
riência política e, da mesma forma, todas as intensidades do desejo, da exaltação
à indiferença. Marx baliza, em grandes traços, três configurações essenciaisda
vivência política: o entusiasmo, o "mal-estar", a cólera revoltada. O entusiasmo,
sujeitos revolucionários para
que qualifica de "extático"8,conduz literalmente os
particular, arrastando-os a uma
fora de si próprios, fora de sua situação histórica
provisóriadesrealização coletiva que lhes proporciona a energia necessáriaà
Marx, "um longo mal-estar
ação histórica. Conquistados os objetivos, acrescenta
e se opõem irrita-
toma conta da sociedade, mal-estar no qual se acumulam
embriagador,
ções,descontentamentos e decepções. No extremo do entusiasmo
ódio coletivo e
os descontentamentos acumulados preparam o renascimento do
suprema
da cólera revoltada. No interiordessa gama, que vai da intensa alegria à
raiva,colocam-se todas as nuances da afetividade e Marx faz uso de uma série de
termos, na tentativa de descrever as gradações da sensi bil idade política segundo
os ambientes sociais, as conjunturas e os objetos: "esperanças" e "temores"; "sim-
patias e antipatias"; "triunfo" e "terror"...

7 MARX, Karl. [1852]Le18 Brumairede Louis Bonaparte, op.cit., p.44.


8 Ibid., p.19,
9 Ibid., p.19.

14 PIERRE ANSART
A insistência de Marx ou de Tocqueville em compreender os senti-
mentos dominantes de uma conjuntura faz entender que a afetividade coleti-
va não é apenas uma dimensão da vida cotidiana e um aspecto da vivência in-
dividual, mas uma dimensão da realidade histórica. Interrogando-se sobre as
consequências do "fervor",que intervém para fomentar as indignações, Marx
expõe claramente que os vínculos afetivos participam da história: não se pode
concluir a análise de uma situação política sem considerar os sentimentos e
as paixões em que se apoiam, permanentemente, as relações, os conflitos, os
compromissos políticos.
Três conjuntos de relações são particularmente agenciados na afetivi-
dade coletiva e individual: as relações com o poder e com as normas impostas;
as relações internas e externas ao grupo de pertença; os modelos de identidade.
1) Max Weber faz do poder carismático aquele em que a imposição
da vontade dominante realiza-se através de vínculos coletivos com o chefe;
a obediência é marcada por uma emotividade positiva em relação ao chefe,
que encarna uma sacralidade. Mas, os dois outros tipos de poder definidos
por Weber comportam também uma configuração afetiva particular e ten-
sões emocionais próprias. O poder tradicional mantém-se graças aos múlti-
plos elos com os usos, os ritos, as tradições próprias ao grupo, relacionados a
diferentes lugares de poder; são conhecidos os esforços realizados por esses
sistemas para preservar o respeito aos ritos, ao culto do passado, esforços
para conjurar os esquecimentos.Da mesma forma, pode-se dizer que no
poder democrático ou legalizado uma dimensão essencial é a do respeito
à lei: são igualmente conhecidosos esforçose as lutas empreendidas para
cultivar os respeitos, as reiteraçõesda ideologia democrática para conven-
cer cada um da validade, legitimidade e excelência das leis. Nos três tipos
ideais de dominação política, externos ao mero efeito de medo exercido por
um poder terrorista, intervêm a aceitação dos sujeitados, sua tolerância e
aquiescência, as nuances de sua resistência ou resignação. Não é surpreen-
dente encontrar em toda sociedade política apelos visando à manutenção
de sentimentos positivos em relação aos poderes, quer se trate de exaltar um
príncipe sobre-humano que encarna o divino ou de explicar, com excesso de
racionalização,a cientificidade das burocracias modernas. No redespertar,

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tantas vezes constatado, das personalizações do poder, não
apresentasur_
presa assistir ao recrudescimento dos fervores, das adulações,
dos amorese
ódios em torno de um personagem político ou, mais exatamente, como
ana_
lisaremos a seguir, em torno de uma imagem construída.
2) Uma segunda dimensão da afetividade política diz respeito
à
natureza dos vínculos sociais no interior e no exterior do grupo. Aqui,
igual_
mente, dicotomias simplificadoras sugerem que vínculos fortementeafeti_
vos teriam existido outrora, em comunidades tradicionais, e que a afetivi_
dade social desapareceria nas sociedades modernas fundadas na lei e nos
contratos.10Apesar da relativa pertinência dessa dicotomia, é precisopensar
que a ideia do fim dos amores políticos poderia bem ser uma das ilusõesde
nosso tempo. Freud argumentou que as relações sociopolíticas são marca-
das, em todo grupo social, etnia, classe ou nação, por vínculos, que propôs
chamar de «vínculos libidinais", que não são necessariamente proclamados
como em um grupo religioso, mas que podem tomar formas mais modera-
das e discretas." Demonstrou a permanência e a repetição da complemen-
taridade dinâmica entre os vínculos no interior de um grupo e a intensidade
da agressividade em relação ao exterior.12Como todo conflito, a natureza
dos vínculos sociais e a intensidade das trocas entre os membros do grupo
se articulam, também, no plano dos impulsos coletivos e se desenrolam no
campo de mutações particulares, lentas ou aceleradas.
É nos momentos de conflito que se reforçam mais claramenteos
medos,as hostilidades e os ódios. Podemos formular a hipótese de que, em
certas circunstâncias, foi a violência dos ódios ou a potência dos medos co-
letivos que tornou possível uma vitória ou inevitável um fracasso. Como es-
creveuMarx, um movimento revolucionário pode fracassar em virtude dos
excessosde ingenuidade e de No campo das sensibilidades
coletivasarticulam-se, assim, as tensões não ditas, as distâncias sociais, as

10 TONNIES, Ferdinand. [1887)Communautéetsociété. Paris: PUF, 1946.


11 FREUD, Sigmund. [1921]Psychologiecollectiveetanalysedu moi. In: Essais de psychanalyse.
Paris: Payot, 1963.
12 Ibid.
13 MARX, Karl. Lesluttesdeclassesem France. Paris: Ed. Sociales, 1966, p.52,

16 PIERRE ANSART
diferenciações sutis entre as classes ou, por exemplo, entre os grupos étni-
cos. Conforme demonstrado pelos raros estudos que conseguiram romper o
muro de palavras bem comportadas em relação à temática das relações inte-
rétnicas, as sensibilidades difusas, geralmente desprovidas de expressão, po-
dem subsistir, cultivando, de maneira latente, as distâncias entre os grupos.'4
Esses estudos são relevantes, pois evidenciam, para além das instituições e
leis escritas, a existência de um nível oculto do vivido, fomentando sensibili-
dades particulares carregadas de ressentimento e agressividade. Revelam-se,
então, sentimentos escondidos, «temores secretos" —como escreveu Marx —
que possuem sua lógica própria e dos quais importa compreender o funcio-
namento e as consequências possíveis.
3) Por fim, nas sensibilidades políticas exprime-setudo o que diz
respeito à identidade, à imagem de si —imagem envaidecida ou destrutiva,
cristalizada ou inconsistente.Aqui, também, a gama de nuances é conside-
rável e rica entre a identidade gloriosa, megalomaníaca,e a consciência da
indignidade através das identidades fraturadas, hesitantes e atravessadas de
contradições.Ora, as imagens políticas de si dependem, em grande medida,
da afetividade e não se limitam, em sua gênese e dinamismo, a seus aspectos
cognitivos. A análise freudiana da identificação afirma que nossas identidades
políticas mantêm relação tanto com nosso passado infantil como com nossos
equilíbrios ou contradições psíquicas. Não apenas nossas identidades não nos
são emocionalmente indiferentes, como nelas se produzem algumas de nos-
sas tensões intrapsíquicas para aí se resolverem ou se agravarem. Ao mesmo
tempo, no campo das sensibilidades sociopolíticas, representam-se as relações
dinâmicas entre as imagens de si e as imagens do outro, pois as qualidades de
autorrepresentação convivem com as valorizações e desvalorizações do outro.
As imagens de si, as autorrepresentações
políticas,têm efeitos nos
comportamentos coletivos, mesmo que as pesquisas quantitativas não consi-
gam apreendê-los. Os historiadores compreendem melhor, no campo das men-
talidades, como o orgulho de uma minoria pode fundamentar uma ação de do-

14 WINDISCH, Uli. Xenophobie?Logique de Ia pensée populaire. Colaboração: Jean-Marc )aeggi;


Gérard de Ram. Lausanne: l'Age dlHomme, 1978.

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diversas e comportamentos pontuais que lembram
minação,provocarreações
o direito da casta dominante a seus empreen_
incessantementeaos dominados
demonstram como a humildade, a consciência do
dimentos.Da mesma forma,
si dos dominados podem participar da reiteração de uma
fracasso,a vergonha de
desigualdade política. Para melhor compreender a reprodu_
ordem política e da
e a mudança, é preciso, portanto, repensar o orgulho dos dominantes e a hu_
ção
seus ressentimentos e resignações.
mildade dos dominados,
se passam no campo da sensibili-
Muitas dimensões da vida política
possibilita entender por que os observadores clássicos
dade coletiva, o que nos
as emoções sociopolíticas, sua natureza
insistiram tanto sobre os sentimentos,
e suas consequências.
de uma sociedade nô-
Para Ibn Khaldun, o que assegura a perenidade
sociais particulares e o espírito de grupo
made—a usabiyya"—são as relações
se pode compreender a duração da au-
que as revigora.15Para La Boétie, não
difusão do medo entre os dominados.
tocraciasem levar em consideração a
e do escravo representa a história de
Hegel considera que a dialética do mestre
o escravo é aquele que, primeira-
uma ampla mutação da sensibilidade, pois
morte, a seguir vence seu medo na
mente,consente em obedecer por medo da
lenta conquista de sua afirmação pelo trabalho. 16
mais ricas de indi-
No entanto, essas grandes sínteses exemplares, por
histórica dos fenômenos
caçõesque sejam sobre a amplitude e a importância
fazem de maneira insufi-
de sensibilidade política, não analisam —ouapenas o
Com
ciente—osmecanismos de conservação e reprodução das sensibilidades.
frequência,as mutações da sensibilidade são, contrariamente à lição de Hegel,
mais constatadas que explicadas, como se as estruturas, formas e intensidades
dos sentimentospolíticos não fossem objeto de um trabalho de produção e
reprodução,como qualquer outra dimensão da vida política.
Os fenômenosmodernos de propaganda, de imposição sistemáti-
ca de ideologias,permitem-nos compreender como a sensibilidade política

15 IBN KHALDUN.Discourssurl'histoireuniverselle.
Beyrouth: Comission Libanaise Pour La Traduc-
tion -Deschefs-d'Oeuvres, 1968. v. l, L. l, chap.
2, La civilisation bédouine.
16 HEGEL, C.W.F.Conscience desoi.
In: . La phénoménologiedel"esprit, IV. Paris: Vrin, 1971.

18 PIERRE ANSART
não é um dado, mas o resultado de múltiplas mensagens, de apelos, ínter-
pelaçóes e dramatizações que vêm alimentar ou modificar diariamente os
sentimentos coletívos, As pesquisas sobre a influência e persuasão políticas
nos deixam atentos para o fato de que as confianças e desconfianças, as ad-
mirações e ódios, são objeto de um trabalho permanente e multiforme de
renovação e inculcação,
Propomo-nos a estudar neste livro esse trabalho de produção de sen-
timentos políticos em suas diferentes dimensões: seus autores, seus dísposítí-
vos, suas consequências,
Localizar os agentes produtoresde mensagens emocionais constituí
nossa primeira tarefa. Nas democracias parlamentares, os homens políticos,
os jornalistas de opinião, os intelectuais engajados, os candidatos às diversas
eleições, são suficientemente visíveis para que possamos designar a categoria
dos produtores de bens simbólicos emocionais. Veremos rapidamente que
essa lista apenas tem sentido se vinculada aos aparelhos sociais, ao sistema
político, aos partidos que criam os palanques, os lugares de incitação, de onde
são enunciadas as mensagens apaixonadas. E, como também veremos, esses
lugares de emissão são objeto de uma disputa permanente,seja pelo reforço
das posições, seja pela criação de novos lugares de enunciação.
Os meios de persuasão emocional são, em primeiro lugar, os discur-
sos, falados ou escritos, difundidos pela mídia audiovisual, e as publicações.
Comumente, é através da linguagem, das palavras e das figuras de estilo que
o homem político transmite suas mensagens estimulantes,suas indignações
e seus apelos de apoio. Mas, muitos outros precisam ser inventariados, como,
por exemplo, os meios iconográficos—eles também objetos produzidos e di-
fundidos. Percebe-se rapidamente que as mensagens, discursivas e iconográ-
ficas, não são tão arbitrárias como parecem, que elas obedecem a normas ex-
plícitas e implícitas que nos importa analisar. As normas implícitas, informais,
serão aqui enfatizadas mais do que quaisquer outras, pois essas mensagens
participam da face encoberta da vida política.
Há sempre dúvidas sobre a eficácia dos apelos emocionais, pois pou-
cos procedimentos objetivos permitem perceber exatamente até que ponto, e
com quais consequências, as mensagens emocionam, até que ponto as mensa-

A CESTÃO DAS PAIXÕES POLÍTICAS 19


interiorizadas. Esse aspecto, no entanto, é tão decisivo que a produção
gens são
emocionais permanece ininteligível sem a consideração de sua
de mensagens
Como explicar a abundância dos apelos líricos senão por sua aceitas
recepção.
das mensagens a
mesmo limitada; como considerar o conteúdo
bilidade,
recepção de seus conteúdos? Como na circulação de bens econÔmicos
ser pela
condiciona, em alguma medida, a produção?
o consumo
produção-consumo de mensagens politica_
Ao término do ciclo de
portanto, restituir a escuta do cidadão e compre_
mente emocionais, convém,
são recebidas, porque elas perturbam e Comovem
ender como as mensagens
irritação. O lugar do sujeito no sistema social, seu per_
ou são rejeitadascom
uma religião, condiciona tanto a seleção por
tencimentoa uma categoria ou a
como o modo de recepção que realiza. Mas
ele operadaentre as demandas
brota de uma escuta e, em última instân_
restaa inquirir por que a emoção
possível. Nesse campo, as análises de Freud e
cia, porque a emoção política é
a recepção das mensagens são in-
os desenvolvimentosda psicanálise sobre
dispensáveis.Sem esse aporte, não se poderia compreender a dimensão pro-
priamente afetiva do político, compreender porque a simples audição de uma
mensagem política, sua mera leitura provocam a zombaria, o riso ou a empa-
tia. Não se poderiacompreenderpor que, para além dos juízos e avaliações
racionalizadas,tal mensagem e tal cartaz suscitam nossa emoção com toda a
forçae evidência de uma resposta íntima e aparentemente inevitável.
Uma teoria da produção e consumo de mensagens políticas emo-
cionais supõe, portanto, o exame das trocas entre três níveis heterogêneos de
realidade:o sistema de produtores (lugar eminentemente organizado, que
chamaremoso campo dos produtores de bens emocionais), as mensagens
e seus conteúdos,e, enfim, os receptores enquanto seres socialmente situa-
dos e portadoresde suas próprias contradições psíquicas. Em outros termos,
umateoriada sensibilidadepolítica supõe a articulação das ciências políti-
cas e da sociologia política, da sociolinguística e da semiologia, da psicologia
social e da psicanálise.
Nenhumadessas três ciências ou grupos de ciências poderia, isolada-
mente,compreenderuma explosão de
alegria ou um pânico coletivo. A ciência
política,por exemplo,analisa as
estruturas e a dinâmica do conflito, mas não

20 PIERRE ANSART
e das individuais,
00/ 0111/0 os para a
os meios para se compreender
e culturais de um fluxo emocional coletivo, Uma
emoçáo coletiva pode ser repensada apenas se colocarmos em rejac,áovárias
perspectivas de sociológica e psicológica,
l)tovisorlameote, no exemplo do meeting político,
considerando=osob esses três pontos de vista, Tratasse,corno sabido, de um
lugar exemplar de circulação dos atetos políticos,
0 estudo da organizaçáo do meetingdiz respeito, antes de mais nada,
ciência política, entendida como o conjunto de conhecimentos que diz res-
peito ao sistema politico em toda sua complexidade, histórica, estrutural e dí-
namica, O meetingé organizado por um partido, decidido por uma instancia
precisa na hierarquia interna do partido; ele acontece em uma fase determi-
nada dos ciclos eleitorais e é, em sua organização, condicionado pelo sistema
politico e as leis que o regem, Em seu desenrolar vão intervir os depositários
reconhecidos da legitimidade do partido e, também, as rivalidades que o atra-
vessam e as lutas para conquistar,nessa ocasião,um acréscimo de prestígio,
Todos os aspectos objetivos são indispensáveis para a compreensão das gran-
des linhas dessa cena particular, que remete, em suas determinações gerais, ao
sistema político como um todo e à conjuntura,
Mas o meetingé, simultaneamente, um lugar eminente de trocas
simbólicas, um lugar de signos e de trocas de signos. As significações ideo-
lógicas são lembradas antecipadamente pelas siglas que convocam os ade-
tentes, pelos slogans que ordenam o palanque, pelos emblemas aí colocados,
Os momentos culminantes do meetingsão marcados por discursos, palavras,
raciocínios e imagens que provocam o interesse, o tédio, o riso, a indignação.
O observador percebe que a sala se apaixona ou se fadiga, explode em risos
ou vocifera e é pela recepção das significações, nesse círculo de signos, que
nascem e se exprimem as emoções,Antes das palavras, as alusões e cono-
taçóes evocam elementos diversificados da cultura dos participantes, lem-
bram fragmentos do passado, reanimam os sistemas de referência através
dos quais surgem as emoções,Analisar os sentimentos e emoções impõe,

A cesrÀo DAS PAIXOESPOLITICAS 21


portanto, a consideração dos suportes que são as palavras, as frases e todos
os sistemas significantes que fazem surgir as afetividades e associam
emoção, as representações e os afetos.
O meeting,no entanto, não é apenas um lugar de emissão de mensa_
gens; representa o lugar muito particular de organização do espaço, onde os
corpos, os olhares, são dispostos de modo a convergir para o palanque; onde o
local elevado sugere a proeminência daquele que fala; lugar de reunião onde
são construídos os face a face e os ombro a ombro que legitimam a docilida_
de da escuta e dificultam as trocas de uma fileira à outra. Lugar de reunião
ordenada, que desenha as aprovações e os objetos de respeito. Nesse espaço
construído vão se produzir trocas específicas, interações determinadas entre o
orador, encarregado de explicar e emocionar, e o público convidado somente a
manifestar suas aprovações e desaprovações, massa convidada a aplaudir.
Por fim, o prazer e desprazer, o riso e o tédio são experimentados, no
decorrerdo meeting,em graus diversos pelos indivíduos particulares. Esse as_
pecto,por mais evidente que seja, precisa ser realçado. Pois, se acontece uma
alegria coletiva, um clima de euforia ou ansiedade, é porque o indivíduo pode
experimentar,nele mesmo, alegria e inquietude; é porque a maioria dos par-
ticipantes do meetingexperimenta, nela própria, sentimentos similares. E se
falamos de sentimentos coletivos é precisamente porque os sentimentos são
também individuais, experimentados de alguma maneira pela maioria dos su-
jeitos concernidos. Evocar um sentimento político comum é ter como princípio
que o sentimento é interiorizado, vivenciado pelos indivíduos com múltiplas
nuances e que essa subjetividade do sentimento lhe é essencial.
A perspectivapsicanalítica, como investigação privilegiada da afeti-
vidade individual, impõe-se para completar o estudo das sensibilidades polí-
ticas. O próprio termo "sensibilidade" sugere que designamos fenômenos co-
letivos que têm a especificidade de serem interiorizados, de serem ao mesmo
tempoobjetivose subjetivos. É precisamente no interior dessa sensibilidade
políticaque se realizará um tipo de inserção do sujeito no coletivo, uma arti-
culaçãoparticulardo individual e do social. Essa articulação é examinada por
Freudquandose propõe compreender os processos de identificação, de inte-
riorizaçãodas normas,de introjeção, de projeção. No campo dos afetos políti-

PIERRE ANSART
cos, significa-se, assim, o lugar do sujeito como receptor,reprodutor ou produ-
tor, como «sujeito" político.
O exemplo do meetingpode ainda nos servir para destacar o tipo de
interações e trocas realizadas; seu desenrolar evidencia a existência de um tipo
particular de comunicação entre os oradores e o público. Um a um, os oradores
que se sucedem propõem criar com seus ouvintes uma relação de simpatia,
de conivência, de entendimento. Propõem despertar o entusiasmo ou, ao me-
nos, o interesse; provocar a estima e as marcas de adesão. Durante o discurso, o
orador busca criar uma relação de escuta, visando reforçar simpatias e antipa-
tias. Ele terá maior êxito se manifestar seu entusiasmo e se fizer portador das
paixões comuns. Uma comunicação particular se estabelece entre o orador e
o público, um círculo de interações no qual o público é convidado a partilhar
seus
os sentimentos expostos, a encontrar no tom do orador, nas nuances de
sentimentos, a imagem legitimada de seus próprios sentimentos.
o
Sabemos que essa comunicação provisória não é arbitrária e que
orador não poderia impor ao público sentimentos que possam ser experimen-
enga-
tados como ofensivos. O meeting reúne, com frequência, participantes
assegura o
jados numa mesma causa e a relativa homogeneidade de opinião
mais é do que
seu desenvolvimento pacífico. O meeting,frequentemente, nada
seja, a comu-
uma ocasião de reiterar os vínculos e as rejeições políticas. Ou
anteriormente
nicação provisória não faz senão reativar sentimentos políticos
constituídos, uma estrutura socioafetiva formada previamente.
a ser retido.
A hipótese de "estruturassocioafetivas" parece-nos algo
meio social dados, de
Ela acentua a relativa estabilidade, em um período e
intragrupais e de
sentimentos políticos comuns, que participam de relações
eventuais mobilizações ou desmobilizações.
conflito, os
Além disso, deve-se pesquisar se, em certas condições de
em relação
afetos de grupos rivais não entram em relação e, eventualmente,
escrita, onde
dialética. Vemos isso sem ambiguidade nas comunidades sem
se opõem. Na comu-
os afetos legítimos dos grupos em tensão se articulam e
das mulheres, sua
nidade indígena descrita por Pierre Clastres, a humildade
orgulho dos homens.
atitude depressiva, responde de forma complementar ao
morte respondem os cânticos
Às melopeias femininas sobre o sofrimento e a

A GESTÃODAS PAIXÕESPOLíTlCAS 23
enaltecendo o sucesso na caça e sua superioridade
orgulhosos dos homens in
se os sentimentos coletivos,
dividual.n Tudo se passa como veiculando
normas
repartissem em uma oposição complementar: a
de comportamento, se uns
de si; a outros, a postura depressiva. Os
orgulho e a exaltação narcísica
um sistema de complementaridade que alicerça
legítimos distribuem-se em
grupos. a
distribuição desigual dos dois

Da mesma forma, podemos formular a hipótese da existênciade


grupos de uma mesma sociedadeem
correlaçõesafetivas entre os diferentes
que os separa. Precisaríamos, portanto
relaçãoao sistema de desigualdades
recíprocas, os respeitos e os ódios
refletir se as tolerâncias ou desconfianças
de classe, não constituem um sistema de reciprocidade, no qual as atitudes
afetivasse dariam em uma distribuição complementar. A possibilidade des_
sa ação é ilustrada pelas revoluções, onde as paixões se opõem e se replicam
formando uma rede de comunicações violentas. O entusiasmo dos revoltados
replica o medo e o ódio das classes ameaçadas. Como bem notou Marx sobre
a revoluçãode 1848: face à insurreição das classes populares, os partidos da
ordem foram atravessados por violentos sentimentos de medo, mas, simulta-
neamente, esse medo comum calou suas querelas internas e permitiu que eles
se unissem contra as classes populares em revolta.
Nessa perspectiva, a noção de "lógica afetiva"será retomada em um
duplo sentido: seja designando a lógica dos sentimentos políticos no seio de
um grupo, de um partido ou de uma classe; seja enunciando a lógica dialética
que separa e une dois grupos em conflito. Com o primeiro sentido do termo,
procuramosenfatizar o sistema de vínculos e de temores que se renovam no
interiorde um mesmo grupo e que constitui o regime dos "sentimentos domi-
nantes"em seu interior.Com o segundo, buscamos evidenciar os elementos do
sistema de oposição, no qual os afetos de grupos rivais opõem-se, completam-
se ou levam a uma ruptura.
Essa segundafigura da lógica afetiva no campo do político surge
com toda complexidadenos períodos de grande mutação social. Assim,
quando uma elite dirigente busca arrastar a população a ações rápidas, as as-

17 CLASTRES, Pierre.Lasociétécontrel'État.
Paris: Ed. de Minuit,1974, p.96-99.

24 PIERRE AHSART
piraçóes e os vínculos dos dirigentes entram em conflito com as deferências
e os vínculos tradicionais, A ação dos modernizadores (Mustafa Kemal Ata-
türck, por exemplo) '8se realiza no interior de interaçóes passionais intensas,
em que as iniciativas concretas ou simbólicas dos dirigentes agridem afetos
antigos, provocando efeitos e contra efeitos, levando aqui à resistência e aco-
lá à adesão, quando o consenso afetivo era o buscado, Porque não há cer-
tezas se as mensagens convocando à adesão serão ouvidas, como podemos
ver nas preliminares de algumas revoluções. Em um período de tensão, uma
iniciativa política visando à adesão/submissão pode provocar uma emoção
imediata de recusa que conduz à rebelião.
Salta aos olhos, pois, a importância de nos desembaraçarmos do
preconceito racionalista que lança ao absurdo do "irracional" tudo aquilo que
diz respeito à emotividade política. Segundo este preconceito amplamente
difundido, pode-se distinguir com total clareza os comportamentos racionais
e as sensibilidades, dissociar na vida política o que depende da razão e o que
se considera afeto e desrazão. Como sabemos, a irracionalidade é comumente
atribuída às classes dominadas, como se a razão fosse o atributo das nações ou
classes ditas superiores e a emotividade, o das nações ou classes dominadas.
A hipótese da qual partimos postula, ao contrário, a universalidade
dos fenômenos de sensibilidade política e insiste na pluralidade, na notável
diversidade destes fenômenos. Postulamos que o político, sendo da ordem da
vida e da morte, sendo também do campo do incerto e da persuasão no interior
do incerto, convoca necessariamente, em graus diversos, os valores e a adesão
afetiva aos valores.
Assim, seria oportuno, para se compreender o caráter dos afetos polí-
ticos, a produção de signos emocionais, sua ci rculação e consumo, afastar pro-
visoriamente os exemplos excepcionais (stalinismo, hitlerismo) e considerar
os amores políticos comuns, os apelos cotidianos às devoções e às ansiedades.
Mais do que retomar a análise de situações excepcionais (violência política,
terrorismo),nas quais as paixões políticas ganham um destaque que as tor-

18 Mustafa Kemal Atatürk (Salônica, 1881- Istambul, 1938)foi oficial do exército turco e um dos
arquitetos da República da Turquia, em 1923,da qual foi o primeiro presidente. (N.T.)

A CESTÃODAS PAIXÕESPOLÍTICAS 25
es traçes
a paztit se

a censàderaçàodos e és bestilidàdes
Além
do exereciodo e no
Se
anfiites nas decnxracias pluralistas Ax\ese pensar o
des
não efetua, pode ser o caso nos
do pcderaqui
terroristas mas pela
o stçcrte de mensagens
incitativas mobiliado—
e de múltiplasmensagens
Aqui. também, um preconceito
apaziguadorascu euforizantes
tendea nsar o papel das emoçõese a evitar sua análise
as comunidades tradicionais seriam
gundo um —quema consagrado,
por vínculos afetivos enquanto nosas sociedades se

Tev,tarems ao compreendercomo as duas lógicas


externas—se encontram nas scci±à-
—alágia intema e a lógia das relações
Stas duas lógicas em ação em
ds de demcaaa plural&ü-
partzo prexemplo. e em suas relações conflituosas com os partidos
partir daí. refletirsobre os traços gerais das duas IS

gies as pr exemplosdas rnensagensque visam às identifica-


e os rituaÉ que ter±rn à manuteneo de sensibilidades diferenciais
Ao imá de ao dsaparecimento dos afetos políticos as-
sifiirnos à sua incssante produ#o, à sua complexifica#Q Sem dúvida. pode-
rnos,a partir das análiss. identifiar certos aspectos das técnicas modernas
de exercído do poder,as quais qualifiar de técnicas suaves', por
oposião à utiliza#o de mensagens violentas. A tecnologia suave é ümbém
produtorade apelos emocionais, mas de uma forma diferente, mais persuasiva
que bruai, valendo-sede outros procssos de mobilização afeüva.
Para ilustrar essas primeiras hipóteses, é útil comeprmos por um
exempw o da monarquia absolutista. com o qual poderemos testar nossas
hipóteses(CaA II). A seguir, desenvolveremos duas dimensões essenciais: as

19

26
significaçÕes dos sentimentos vis-à-visdos poderes e de sua gestão (Cap. III);
a natureza dos meios que lhes servem de suporte (Cap. IV). Na continuidade,
analisaremos uma sucessão de lugares sociais e situações históricas diferen-
ciadas: a seita, o partido, o totalitarismo, a situação revolucionária (Cap. V, VI,
VII e VIII). Para terminar, a questão das significações particulares das sensibili-
dades políticas nos regimes de democracia pluralista (Cap.lX).

A CESTÃO DAS PAIXÕES POLÍTICAS 27

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