Você está na página 1de 98

w w w. u n i s u l .

b r
Universidade do Sul de Santa Catarina

Macroeconomia

UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt

Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão


Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Luciano Rodrigues Marcelino
Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos
Valter Alves Schmitz Neto

Diretor do Campus Universitário de Tubarão


Heitor Wensing Júnior
Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
Fabiano Ceretta

Campus Universitário UnisulVirtual


Diretor
Fabiano Ceretta

Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços


Amanda Pizzolo (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes
Felipe Felisbino (coordenador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
Aureo dos Santos (coordenador)

Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos


Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica
Eliza Bianchini Dallanhol
Wagner Dantas de Souza

Macroeconomia

Livro didático

Designer instrucional
Marcelo Tavares de Souza Campos

UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2014 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professor conteudista Projeto gráfico e capa


Wagner Dantas de Souza Equipe UnisulVirtual

Designer instrucional Diagramador(a)


Marcelo Tavares de Souza Campos Cristiano Neri Gonçalves
Ribeiro

Revisor(a)
Smirna Cavalheiro

339
S71 Souza, Wagner Dantas de
Macroeconomia : livro didático / Wagner Dantas de Souza ; design
instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. – Palhoça:
UnisulVirtual, 2014.

96 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Macroeconomia. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Política


monetária. I. Campos, Marcelo Tavares de Souza. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Introdução | 7

Capítulo 1
Abertura do mercado de bens, serviços e
financeiro | 9

Capítulo 2
Mercado de trabalho | 41

Capítulo 3
Tipos de financiamentos do governo e o mercado
de títulos públicos | 59

Capítulo 4
Aspectos internacionais | 77

Considerações Finais | 91

Referências | 93

Sobre o Professor Conteudista | 95


Introdução

Se pudesse elencar, entre as áreas de estudo que compõem as Ciências


Econômicas, aquela que é a mais contemporânea na formação de um
economista, diria que a Macroeconomia está no topo da minha lista. No entanto,
como professor dessa área sou suspeito para emitir uma afirmação como esta.

Contudo, basta um olhar crítico em relação às transações econômicas de nosso


dia a dia para observarmos a importância da Macroeconomia, a qual gera
informações macroeconômicas a todo momento. Ao negociarmos o aluguel, por
exemplo, qual será o índice de inflação utilizado? O Índice Geral de Preços do
Mercado (IGP-M), Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ou o Índice Nacional de
Custo da Construção (INCC)? A taxa de câmbio pode afetar as exportações e se
valorizar além da cesta de moedas internacionais? Quais serão as consequências
desse movimento?

As informações macroeconômicas interagem entre si e são de fontes diversas,


fornecidas por agentes públicos e privados. Como consequência segue
o desenvolvimento ou não de uma nação. É nesta etapa que você, futuro
profissional da área econômica, ingressa no cenário macroeconômico; sendo
assim, uma excelente formação em Macroeconomia possibilitará a você entender
como funciona o referido cenário, sua estrutura e as regras que o regulam.

Diante desse contexto, o material didático que integra o presente estudo foi
estruturado de modo que você possa desenvolver, por meio de habilidades
específicas, as competências de análise dos problemas macroeconômicos, sejam
eles físicos (bens produzidos como exemplo) ou monetários, da verificação das
mudanças nos cenários projetados e a sua execução, de desenvolvimento de
raciocínio lógico aplicado ao estudo da Macroeconomia bem como capacidade
para avaliar e tomar decisões que alterem as variáveis macroeconômicas.

Neste sentido você estudará a abertura dos mercados de bens e serviços e


financeiro, que é fundamental quando analisamos uma economia com as suas
fronteiras abertas ao resto do mundo; conhecerá o modelo IS-LM para uma
economia aberta, modelo conhecido como modelo Mundell-Fleming, ainda
hoje muito utilizado no campo de estudo das políticas econômicas monetária,
fiscal e cambial; verá as especificidades que compõem o mercado de trabalho,
entenderá como funciona o financiamento público e a utilização dos títulos
públicos como instrumento, e, por fim, estudará sobre aspectos internacionais,
mais precisamente com relação às instituições internacionais de apoio financeiro
internacional.

Desejo a você um excelente estudo de Macroeconomia!

Professor Wagner Dantas de Souza


Capítulo 1

Abertura do mercado de bens,


serviços e financeiro1

Habilidades Neste estudo você desenvolverá a habilidade


de analisar o mercado de bens e serviços num
contexto de economia aberta, ou seja, aquela que
interage com o resto do mundo.

Seções de estudo Seção 1: Abertura do mercado de bens e serviços

Seção 2: Abertura dos mercados financeiros

9
Capítulo 1

Seção 1
Abertura do mercado de bens e serviços

1.1 A interação de agentes econômicos internos e externos


Agentes econômicos Quando se lê um título como este “Abertura do mercado
são considerados de bens e serviços”, de alguma maneira muito intuitiva
agentes econômicos as imaginamos o nosso dia a dia. Na rotina diária dos
famílias, as empresas,
o governo e os demais
agentes econômicos há compras, vendas, trocas e
agentes econômicos doações de bens e serviços. Nela ocorrem transações
do resto do mundo corriqueiras como comprar o pãozinho na padaria, cortar o
com os quais o país
cabelo, comprar uma televisão nova e em todas as outras
mantém transações
econômicas. formas de consumo que conhecemos tão bem.

A interação entre os referidos agentes ditará a evolução


econômica do país. O crescimento econômico sustentável de determinada
economia, por exemplo, tende a ser acompanhado de um aumento na transação
de bens e serviços sem causar outros desequilíbrios econômicos como o
aumento generalizado de preços (inflação).

Para determinar o volume dessas transações, dois indicadores macroeconômicos


são utilizados, Produto Interno Bruto (PIB) e o Produto Nacional Bruto (PNB). O
PIB é a soma de tudo aquilo que foi produzido dentro do país sem considerar
a diferença entre agentes estrangeiros e locais, ou seja, não contabiliza os
lucros que os agentes econômicos locais geram em outros países. No entanto,
o PNB desconta o envio de parte da renda nacional pertencente aos agentes
econômicos de outros países e adiciona a renda recebida de agentes nacionais
que atuam fora das fronteiras do país.

É importante destacar que um dos objetivos da Macroeconomia é agregar


indicadores que permitam, de forma simplificada, identificar se o país está em
expansão, estável ou em declínio e um dos indicadores mais utilizados é
justamente o PIB. Neste sentido, é essencial analisarmos a sua composição e as
interligações entre o consumo (C), o investimento (I), os gastos do governo (G) e a
interação com o resto do mundo. É essencial analisar também as exportações de
agentes locais (X) e suas compras internacionais; as importações (M).

10
Macroeconomia

1.2 Composição do PIB


O PIB é a soma de tudo aquilo que foi produzido dentro das fronteiras de um
país, portanto, podemos concluir que este indicador econômico demonstra
as condições de oferta de bens e serviços de uma economia. A expressão
matemática da oferta total de bens e serviços é expressa pela equação a seguir,
referente à Oferta Agregada (OA).

OA = PIB + M

Em que:

PIB = Produto Interno Bruto

M = Importações

Ao somar toda a produção de um país (representada pelo PIB) mais os produtos


e serviços que são importados (complementam a oferta interna) temos as
condições de oferta, cuja equação anterior demonstra toda a capacidade
produtiva de um país para abastecer o mercado interno. O PIB corresponde
à soma dos produtos produzidos dentro das fronteiras do país mais a soma
daqueles que, por algum motivo (falta de tecnologia adequada, matéria-prima
escassa, preço, entre outros), forem adquiridos no mercado internacional.

Outra forma de analisar a produção ou geração de riqueza de um determinado


país é verificar o destino dela ou, da mesma forma, definir quem são os agentes
econômicos que consomem tudo aquilo que é produzido dentro das fronteiras do
país. Pensando em termos de Demanda Agregada (DA), podemos formular uma,
da mesma forma que fizemos para a Oferta Agregada:

DA = C + I + G + X

Em que:

C = Consumo

I = Investimento

G = Gastos do governo

X = Exportações de agentes locais

Na equação da demanda agregada temos o consumo como um dos fatores de


maior importância para a economia de um país. A tabela a seguir, elaborada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traz um exemplo concreto de
decomposição do PIB de um país, neste caso o PIB trimestral brasileiro para o
ano de 2012.

11
Capítulo 1

Tabela 1.1 – Decomposição do PIB trimestral brasileiro para o ano de 2012

Janeiro- Abril- Julho- Outubro-


Setores e subsetores março junho setembro dezembro Total %
2012 2012 2012 2012
Agropecuária – total 44.666 66.220 46.228 39.006 196.120 4

Indústria – total 229.559 241.337 250.551 261.948 983.395 22

Extrativa mineral 35.386 42.156 40.878 40.660 159.080 4

Transformação 115.195 117.624 127.476 135.416 495.711 11

Construção civil 50.592 53.213 54.452 55.159 213.416 5

Produção e distribuição 28.386 28.344 27.746 30.713 115.189 3


de eletricidade, gás,
água, esgoto e limpeza
urbana

Serviços – total 602.063 630.671 633.884 694.623 2.561.241 58

Comércio 109.653 117.020 121.420 125.345 473.438 11

Transporte, 47.469 47.692 50.639 53.541 199.341 5


armazenagem e correio

Serviços de informação 25.362 26.942 26.591 28.575 107.470 2

Intermediação 67.633 65.874 63.006 66.436 262.949 6


financeira, seguros,
previdência
complementar e
serviços relacionados

Outros serviços 134.077 142.516 145.698 157.758 580.049 13

Atividades imobiliárias e 73.242 75.640 77.319 79.304 305.505 7


aluguéis

Administração, saúde e 144.626 154.987 149.212 183.665 632.490 14


educação públicas

Valor adicionado a 876.287 938.228 930.663 995.576 3.740.754 85


preços básicos

Impostos líquidos sobre 157.062 163.322 167.651 173.748 661.783 15


produtos

PIB a preços de 1.033.349 1.101.550 1.098.314 1.169.324 4.402.537 100


mercado

Despesa de consumo 658.906 672.066 692.216 721.264 2.744.452 62


das famílias

12
Macroeconomia

Despesa de consumo 203.095 228.505 220.111 292.832 944.543 21


da Administração
Pública

Formação bruta de 193.198 196.949 204.980 203.568 798.695 18


capital fixo

Variação de estoque -4.103 18.460 -10.645 -25.941 -22.229 -1

Exportação de bens e 115.029 141.429 148.074 148.310 552.842 13


serviços

Importação de bens e 132.776 155.858 156.422 170.709 615.765 14


serviços (-)

Fonte: IBGE (2012).

Podemos observar na tabela anterior que o consumo das famílias no Brasil,


em 2012, foi responsável por 62% da DA. Em segundo lugar, em ordem de
importância na composição do PIB, estão os gastos do governo, sendo que,
no exemplo, observamos que 21% da produção provêm do consumo da
Administração Pública.

Os gastos do governo com a Administração Pública são importantes, uma


vez que é por meio do governo que são realizados os investimentos que a
iniciativa privada sozinha não seria capaz de providenciar.

Outro agente importante para o crescimento e desenvolvimento de um país são


as empresas da compra de maquinários e outros bens, as quais geram consumo
de outras empresas, gerando ainda renda ao fornecer vagas de emprego. Para
o IBGE, o Investimento (I) dos empresários é definido como formação bruta de
capital fixo.

Assim, ao somarmos os valores dos setores e subsetores de produção em um


país, conforme verificamos na tabela de decomposição do PIB trimestral
brasileiro, teremos de um lado a oferta produtiva, ou seja, o PIB, e, de outro, os
agentes da demanda agregada conforme explorado anteriormente. Igualando
as equações de oferta agregada (OA) e a demanda agregada (DA), teremos uma
situação de equilíbrio:

OA=DA

PIB + M = C+I+G+X

13
Capítulo 1

Deixando em evidência apenas o PIB, temos a seguinte equação:

PIB = C+I+G+X-M

Em que:

C = Consumo

I = Investimento

G = Gastos do governo

X = Exportações de agentes locais

M = Importações

Diante do exposto podemos concluir que o PIB, além da somatória do consumo


dos agentes econômicos internos: famílias, empresas e governo, deve
considerar também as exportações líquidas, as quais se referem às vendas que
o país faz para agentes econômicos de outros países menos as compras desses
agentes. Blanchard (2012, p. 39) destaca que “a diferença entre exportações e
importações é chamada de exportações líquidas ou balança comercial”.

Para entendermos o processo de abertura econômica é importante ter em mente


que, além do mercado interno, o país deverá negociar com o exterior (agentes
econômicos externos) vendendo (exportando) suas mercadorias e serviços e
comprando (importando). Apenas para ilustrar a situação real dessas compras
e vendas (balança comercial) vamos examinar a situação brasileira, destacando
suas exportações e importações.

1.2.1 Exportações brasileiras


A figura a seguir ilustra o gráfico das exportações brasileiras anuais ocorridas
entre o fim do ano 2000 e o fim do ano 2012.

14
Macroeconomia

Figura 1.1 – Exportações brasileiras anuais de 2000 a 2012 em US$ (milhões)

Fonte: Adaptado de Ipeadata (2012).

Nesse gráfico verificamos a tendência de alta das exportações em todo o período


que foi delimitado, bem como um pico de pouco mais de US$ 250 bilhões de
dólares americanos em 2011. Cabe destacar que as exportações dependem de
diversos fatores, internos e externos, sendo um deles fundamental: aquele que
diz respeito à relação da moeda local comparada à estrangeira, ou seja, a taxa de
câmbio.

A taxa de câmbio pode fazer com que um país exporte com mais facilidade
quando a moeda local está desvalorizada, ou seja, taxa de câmbio mais
alta (como exemplo a utilização de mais reais para comprar a mesma
quantidade de dólares americanos). Por outro lado, se a moeda permanece
valorizada por muito tempo, o poder de compra dos agentes locais
aumenta e as importações prevalecem.

Outro fator importante na formação do PIB é a condição de demanda externa.


Ainda pelos dados do gráfico das exportações brasileiras anuais de 2000 a 2012,
podemos observar que no período compreendido entre 2008 e 2009 há uma
queda das exportações, que pode ser explicada pela fraca demanda mundial em
virtude da crise no mercado imobiliário americano nesse período.

15
Capítulo 1

1.2.2 Importações brasileiras


A próxima figura ilustra o gráfico das importações brasileiras, fator que
complementa a oferta de bens no país.

Figura 1.2 – Importações brasileiras no período de 2000 a 2012 em US$ milhões

Fonte: Adaptado de Ipeadata (2012).

Nesse exemplo verificamos que após certa estabilidade nas importações


brasileiras, em torno de US$ 50 bilhões, no período compreendido entre os
anos 2000 e 2003 há uma tendência de alta interrompida pelo período de crise
americana e retomada do crescimento entre 2009 e 2012. Cabe ressaltar que
a diferença entre as exportações e importações dá origem ao saldo conhecido
como balança comercial.

1.2.3 Balança comercial brasileira


O gráfico na sequência ilustra os dados da balança comercial brasileira entre
2000 e 2012.

16
Macroeconomia

Figura 1.3 – Balança comercial brasileira no período de 2000 a 2012 em US$ milhões

Fonte: Adaptado de Ipeadata (2012).

Esse gráfico mostra o saldo da balança comercial brasileira no período entre os


anos 2000 a 2012, o qual resulta da diferença entre exportações e importações
brasileiras. Podemos observar que no período compreendido entre os anos 2000
e 2006 houve um crescimento expressivo do mencionado saldo. No entanto, em
virtude de um aumento crescente nas importações brasileiras, a partir de 2006
sua tendência vem diminuindo ano a ano, excluindo apenas o breve intervalo
entre 2010-2011.

Vale ressaltar que parte da demanda interna por bens e serviços em um país é
atendida por vendedores externos (importação). Outro ponto relevante é a venda
de produtos nacionais (exportação) aos parceiros comerciais internacionais, ou
seja, as vendas internacionais complementam a demanda externa. O comércio
internacional entre países é extremamente eficiente uma vez que abre espaço
para que o país concentre suas forças produtivas naquele produto ou serviço que
é mais efetivo em termos produtivos. (RICARDO, 1996).

Como a estrutura política de um país reage aos efeitos de uma abertura


de suas fronteiras aos bens produzidos em outras economias, que muitas
vezes apresentam vantagens competitivas superiores aos bens nacionais?

Efetuar políticas macroeconômicas em uma economia aberta ao comércio


exterior, com o objetivo de ajuste do produto e da renda, gera diferentes
consequências àquelas utilizadas em uma economia fechada, como, por exemplo,
o efeito da valorização ou desvalorização do câmbio, a concorrência na produção

17
Capítulo 1

e comercialização de bens e serviços e o poder de atração de investimentos


estrangeiros entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Com base nesse contexto, e objetivando ampliar nossos horizontes, vamos


examinar na sequência um modelo de economia aberta ao comércio internacional
que foi desenvolvido por Robert Mundell e Marcus Fleming, na década de 1940.

Seção 2
Abertura dos mercados financeiros
Quando tratamos da abertura dos mercados financeiros ainda estamos
analisando possíveis transações entre agentes econômicos locais e estrangeiros,
mas, desta vez, aquelas que envolvem os chamados ativos financeiros de ambos
os países envolvidos.

2.1 Ativos financeiros em uma economia aberta


Flight to quality – A decisão dos investidores em escolher seus ativos
Ação de investidores financeiros para alocar seus recursos, seja em títulos
movendo seu capital locais ou de outros países que tenham abertura de seus
para longe de
investimentos mais
mercados, é tomada com base no diferencial da taxa de
arriscados para os mais juros e risco que cada país apresenta. Há uma expressão
seguros possível. no mercado financeiro que resume bem como o risco
de crédito dos países influencia a decisão de investir ou
desistir, o chamado flight to quality.

Entre os motivos considerados por um investidor para mover seu capital de um


país para outro estão a diversificação da carteira de investimento, aproveitamento
das oscilações das taxas de juros domésticas em relação às estrangeiras,
movimentos na taxa de câmbio, alteração de políticas macroeconômicas, entre
outros.

Blanchard (2011, p. 345) afirma que:

A abertura dos mercados financeiros permite que os investidores


retenham tanto ativos domésticos quanto ativos estrangeiros,
para diversificar suas carteiras, para especular sobre os
movimentos das taxas de juros domésticas, sobre o movimento
das taxas de câmbio, e assim por diante.

18
Macroeconomia

Com essa afirmação Blanchard descreve que o mercado internacional cria uma
mobilidade do capital, o qual poderá ser investido em ativos (imóveis, ações,
títulos públicos ou privados, etc.) no mercado do país de origem do capital ou de
outros países. Essa diversificação é uma forma que investidores encontraram
para diminuir o risco de seus investimentos, uma vez que um eventual prejuízo
obtido em determinada aplicação financeira seria compensado em parte por
lucros em outro investimento.

Swap cambial: O De acordo com o relatório de pesquisa bancária (BIS,


instrumento swap
2013), as negociações nos mercados cambiais, no mundo
serve para se efetuar
trocas de moedas, todo, movimentaram, em média, 5,3 trilhões de dólares por
taxas de juros e índices. dia em abril de 2013. Esse volume de negociações está
No caso específico acima dos 4 trilhões negociados em abril de 2010 e 3,3
do swap cambial há
troca da variação
trilhões de dólares em abril de 2007. Entre os instrumentos
cambial (variação financeiros mais negociados em abril de 2013 estão os
do preço do dólar swaps cambiais, os quais representaram um total de 2,2
americano) por taxa de
trilhões de dólares por dia, seguido pelo comércio local em
juros pós-fixados ou
prefixados. 2,0 trilhões.

O mencionado crescimento do comércio em moeda


estrangeira foi confirmado por diferentes relatórios das instituições financeiras
participantes da pesquisa. A pesquisa realizada em 2013 recolheu uma análise
setorial detalhada dessas instituições financeiras pela primeira vez.

Não participaram dessa pesquisa bancos com pouca expressividade no


mercado como dealers, os quais responderam por 24% do volume de negócios;
investidores institucionais, como fundos de pensão e companhias de seguro
11%, e os fundos de hedge e empresas comerciais proprietárias outros 11%.
As negociações com clientes não financeiros, principalmente as corporações,
pesquisadas entre 2010 e 2013, reduziram a sua participação no volume de
negócios global para apenas 9%.

Cabe observar que o dólar dos Estados Unidos continuou a ser a moeda
dominante, veículo que representou 87% de todos os negócios transacionados
em abril de 2013. O euro foi a segunda moeda mais negociada; contudo, sua
participação caiu para 33% em abril de 2013 comparados aos 39% de abril de
2010. Já o volume de negócios do iene japonês aumentou significativamente
entre as pesquisas de 2010 e 2013. O mesmo aconteceu com a de várias moedas
de mercados emergentes, sendo que o peso mexicano e o chinês renminbi entrou
na lista do top 10 de moedas mais negociadas.

19
Capítulo 1

As mencionadas negociações estão cada vez mais concentradas nos


maiores centros financeiros. Em abril de 2013, por exemplo, mesas
de negociações no Reino Unido, Estados Unidos, Cingapura e Japão
intermediaram 71% das divisas do comércio, ao passo que, em abril de
2010, representava 66%.

No que se refere ao Brasil, o volume de Investimento Estrangeiro Direto (IED), em


2012, foi de, aproximadamente, 34 vezes o que era em 1980, conforme podemos
observar na figura a seguir.

Figura 1.4 – Investimento estrangeiro direto no Brasil no período de 1980 a 2012

Fonte: Adaptado de Ipeadata (2012).

Para um país, a abertura dos mercados financeiros implica poder atuar


comercialmente com superávits ou déficits comerciais. É válido observar que um
país atuando com déficits comerciais está comprando mais do resto do mundo
que vendendo para ele. Diante deste cenário, o país a fim de pagar o diferencial
entre o que compra e que vende deve tomar recursos financeiros emprestados do
resto do mundo.

Ao tomar recursos financeiros emprestados, o país torna-se atraente


para investidores estrangeiros aumentar suas participações em ativos
domésticos. Adquirindo títulos públicos, investindo em títulos privados e
também por meio do IED.

20
Macroeconomia

Para que possamos compreender as especificidades das negociações


internacionais de ativos financeiros, vamos focar nossa análise na relação entre
os fluxos de comércio e também dos fluxos financeiros. Quando fazemos isso,
temos os determinantes desses fluxos financeiros vistos através do Balanço de
Pagamentos (BP).

2.2 Balanço de pagamentos


As transações de um país com o resto do mundo, incluindo o comércio
internacional e a intermediação financeira, resume-se por um conjunto de contas
denominado balanço de pagamentos (BP).

No sentido de melhor compreender esse conjunto de contas, vamos utilizar


como exemplo de BP o relatório anual do Banco Central do Brasil (Bacen) do
ano de 2012, o qual destaca os muitos desafios que tiveram de ser vencidos em
época de crise externa para se obter superávit com o exterior que, apesar das
adversidades, foram naquele ano superados.

Na tabela a seguir apresentamos o balanço de pagamentos do Brasil em 2012, no


qual os investimentos externos, representados como o somatório do resultado
em transações correntes e dos fluxos líquidos de IED, totalizaram US$ 11 bilhões
no ano (0,49% do PIB), ante US$ 14,2 bilhões (0,57% do PIB) em 2011.

21
Capítulo 1

Tabela 1.2 – Balanço de pagamentos do Brasil 2012

Fonte: Bacen (2012).

A tabela anterior apresenta dois dos grupos mais importantes de contas que
registram os fluxos de negócios entre o país e o exterior. A primeira conta
denomina-se Transações correntes, na qual a subdivisão de contas concentra o
comércio de bens e serviços e todas as transações não financeiras. A outra conta
destaque no BP refere-se à conta Capital e financeira. A somatória dessas duas
contas é o resultado do BP.

22
Macroeconomia

2.2.1 Transações correntes

A conta Transações correntes do BP é formada pelas seguintes subcontas:

•• Balança Comercial – registra as Exportações (X) e as Importações


(M) de mercadorias físicas (bens).
•• Serviços – concentram as viagens internacionais (turismo), seguros,
assistência técnica, royalties, fretes, dentre outras.
•• Rendas: registra os pagamentos dos serviços do capital e do
trabalho (basicamente, juros, lucros e salários) entre países; estes
são denominados serviços de fatores (referem-se a fatores de
produção), enquanto aqueles constantes da balança de serviços
denominam-se serviços não fatores.
•• Transferências unilaterais correntes: nesta conta são contabilizados
os pagamentos e recebimentos sem contrapartida financeira, a
manutenção de embaixadas no Exterior (e de outros países no
Brasil), remessas de emigrantes e imigrantes, doações, etc.

Conforme podemos observar na tabela do BP do Brasil 2012 cada uma dessas


contas têm seu saldo consolidado e pode apresentar um superávit ou um déficit.
Quando somamos as três subcontas: balança comercial, serviços e transferências
unilaterais como resultado teremos o saldo das transações correntes expresso
pela equação a seguir.

TC = BC + BS + TU

Em que:

TC = Saldo em transações correntes do BP

BC = Saldo da balança comercial

BS = Saldo da balança de serviços e rendas

TU = Saldo das transferências

23
Capítulo 1

2.2.2 Conta capital e financeira


Ao mesmo tempo em que acontecem as transações
O fluxo de capital
pode ser entendido correntes (bens e serviços) entre brasileiros e o resto
como a troca de do mundo poderá ocorrer um desequilíbrio no fluxo
poupança interna de moedas estrangeiras necessário para efetuar os
e externa, ou seja,
empréstimos,
pagamentos internacionais. Um exemplo seria um país
financiamentos e que importa mais do que exporta e, por este motivo, deve
investimentos de um dispor de dólares para ajustar o fluxo de capital.
país para outro.
Da mesma forma, aquele país que possui superávit poderá
aplicar seus excessos no mercado internacional. Este
ajustamento se dá pela conta Capital e financeira e, basicamente, é um ajuste
monetário em moeda externa entre os agentes econômicos internos e externos.

Em um cenário econômico normal, um déficit em conta-corrente indica mais


aquisições de produtos e serviços do exterior pelos agentes locais. Neste caso,
para financiar esse excesso de transação ocorrerá um empréstimo do exterior.
Dessa forma, o movimento de capitais deverá ter saldo positivo para que o país
consiga liquidar os compromissos assumidos em moeda estrangeira.

Quando o movimento de capitais é corriqueiro, em que as decisões de se


investir no exterior ou receber esses investimentos, aqui no Brasil denomina-
se movimentos autônomos de capitais. Por outro lado, quando o déficit em
transações correntes está fora de controle e há necessidade de um empréstimo
de regularização, o movimento de capital é chamado de compensatório.

É interessante destacar que existem duas subcontas do movimento de capitas,


sendo elas o Investimento Estrangeiro Direto (IED) e os Investimentos em
Carteira (IC). O IED é o investimento no setor produtivo do país, sendo que esses
investidores permanecerão por longo prazo com seus recursos aplicados, como,
por exemplo, a abertura de uma concessionária estrangeira.

O IED é um indicador da confiança dos investidores externos na economia


nacional, uma vez que expressa a disposição de arriscar capital nessa
economia.

No que diz respeito aos investimentos em carteira, fazem parte dos chamados
capitais especulativos a compra de ações, títulos públicos e privados, operações
com derivativos, dentre outras modalidades.

24
Macroeconomia

2.2.3 Representação esquemática do BP


Como definimos anteriormente, o BP nada mais é que a somatória das contas
Transações correntes e Movimentos de capitais. Esquematicamente, podemos
representar pela equação na sequência:

BP = TC + BK

Em que:

BP = Saldo final do balanço de pagamentos

TC = Saldo de transações correntes

BK = Saldo da balança de capitais

É possível verificar que, em caso de déficit em transações correntes, serão os


movimentos de capitais que financiarão o balanço de pagamentos. Conforme
verificamos, se este financiamento for efetuado via IED tanto melhor, porque
serão financiamentos que ficarão nas fronteiras brasileiras por bastante tempo.
Contudo, se a maior parte do financiamento vier dos investimentos em carteira
(capital especulativo) o país fica vulnerável à rápida saída de investimentos para
seu país de origem, causando instabilidade cambial.

Aos analisarmos os dados da tabela Balanço de Pagamentos do Brasil 2012


constatamos que o país, apesar de deficitário em conta-corrente nos anos de
2011 e 2012, conseguiu um vasto financiamento via IED e ainda considerável
investimento em carteira, que resultou em BP positivo no período.

Para resumir essas operações temos as seguintes equações:

Equação 1: BC + BS + TU = TC

Equação 2: TC + BK + EO = BP

Equação 3: BP + KC = BP

Em que:

BC = Balança comercial

BS = Balança de serviços

TU = Transferências unilaterais

BK = Saldo balança de capitais

KC = Capitais compensatórios

EO = Erros e omissões

25
Capítulo 1

Como em toda estrutura de contas contábeis, alguns lançamentos são passíveis


de erros, uma vez que algumas transações não serão localizadas pelos
contadores do Banco Central. Talvez equívocos na análise das transações sejam
a explicação ou até mesmo erros administrativos.

Quando existem esses erros eles serão contabilizados na rubrica Erros e


Omissões, cuja equação 2 incorpora este fato. Se o saldo do BP é deficitário, a
conta de capital (IED e carteira) não foi suficiente para dar a cobertura financeira
necessária. Desta forma, o país deverá pegar dinheiro emprestado de órgãos
internacionais de apoio como, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional
(FMI), cujos capitais são chamados de Capitais Compensatórios (KC), dando
origem à equação 3.

2.3 Modelo Mundell-Fleming


O Modelo Mundell-Fleming (MMF) descreve o funcionamento de uma pequena
economia aberta ao comércio internacional de bens, serviços e ativos financeiros,
e fornece uma perspectiva para a análise de políticas econômicas. Esse modelo
ajuda na análise das políticas monetária e fiscal por meio da estática comparativa
e sem recorrer à microeconomia.

O MMF pode ser considerado uma extensão do Investment Saving


– Liquidity Preference Money Supply (IS-LM) com preços fixos ao
consumidor.

Neste sentido, partimos do modelo IS-LM para examinar uma economia aberta;
contudo, devemos lembrar que este modelo analisa uma economia fechada
ao comércio internacional e ainda utiliza a identidade de renda, o que exige a
igualdade entre a produção total da economia e a soma da absorção da renda.

A equação a seguir expressa o equilíbrio em uma economia fechada ao comércio


internacional. Observe que em economia fechada não há exportações (X) ou
importações (I).

  (1)

Em que:

Y = Produto Interno Bruto

C = Consumo privado

I = Investimento privado

26
Macroeconomia

G = Gastos públicos

Em vez de ser apenas uma identidade, a equação anterior propicia uma


interpretação alternativa, uma vez que define a composição da DA e a condição
de compensação para o mercado de bens. Cada um dos itens que a compõem,
na verdade, descreve o comportamento de um tipo particular de agente que
preenche a economia. O primeiro componente (C) da mencionada equação
descreve o comportamento das famílias, e pode ser moldado sob a forma da
seguinte relação linear expressa pela próxima equação:

(2)

Em que:

C = Consumo

Cº = Gasto autônomo

c = Elasticidade renda

Y = Renda pessoal

T = Tributos (impostos)

O consumo privado, portanto, é uma função crescente de Y (a renda pessoal),


líquido de impostos pagos à autoridade fiscal T, no qual os níveis de renda mais
elevados tornam a restrição orçamentária mais flexível e suporta altos níveis
de gastos. O parâmetro “c” define a elasticidade-renda do consumo privado,
também conhecida como a “propensão marginal a consumir”, enquanto o
parâmetro C° diz respeito ao gasto autônomo ou um mínimo de consumo que as
famílias necessitam, mesmo na ausência de renda. O segundo componente (I)
daquela equação descreve o comportamento das empresas e seus investimentos,
e pode ser convertido na forma da seguinte equação:

(3)

Em que:

I = Investimento

Iº = Investimento autônomo

a = Elasticidade do investimento

i = Taxa de juros

27
Capítulo 1

Entende-se por essa equação que a demanda por investimento privado é


decrescente em função da taxa de juros (juros mais altos reduzem o número de
projetos de investimento que são rentáveis ​​o suficiente para serem preferidos aos
títulos que, por sua vez, pagam a taxa de juros) com elasticidade (a).

Por fim, o terceiro componente da DA descreve o comportamento da autoridade


fiscal, controlando a quantidade de gasto público (G = G0), e os impostos
recolhidos de acordo com a função linear representada pela equação a seguir:

(4)

Em que:

T = Impostos

Tº = Impostos fixos

t = Taxa de imposto marginal

Y = Renda

Por meio dessa equação podemos observar que os impostos são compostos
de um componente fixo (T°) e outro proporcional à renda, com t sendo a taxa de
imposto marginal.

É importante destacar que o MMF trata de uma economia aberta, portanto,


considera que os bens e serviços produzidos internamente também podem ser
adquiridos por agentes estrangeiros (exportação) e que os agentes internos
podem adquirir bens e serviços produzidos em outras economias.

Da mesma forma, os consumidores e as empresas nacionais podem consumir


bens produzidos no exterior e vice-versa. Assim, as “importações” (M) e as
exportações (X), ocupam destaque no modelo. A diferença entre esses dois
componentes resulta nas “exportações líquidas” (NX = X-M). A equação de
renda, expressa na sequência, para o caso de uma economia aberta terá mais um
componente:

(5)

Em que:

Y = Oferta agregada (PIB)

C = Consumo privado

I = Investimento privado

28
Macroeconomia

G = Gastos públicos

NX = Exportações líquidas

Neste caso, de fato, C e I capturam a demanda total de agentes domésticos


(agentes econômicos que vivem dentro das fronteiras econômicas do país) para
consumo e bens de investimento, incluindo os produtos nacionais e estrangeiros.
Por outro lado, Y mensura a produção doméstica de bens, independentemente
do fato de que o uso final desses bens ocorrer no país ou no exterior. As contas
do NX ajustam essa discrepância, subtraindo-se a parte da demanda doméstica,
que envolve mercadorias estrangeiras (M), e adicionando a parte dos bens
produzidos internamente direcionados para o mercado externo (X).

Para melhor entendermos este componente adicional e como ele se relaciona


com o resto da Macroeconomia, é necessário neste momento introduzirmos
outra variável macroeconômica, ausente no modelo IS-LM em economia fechada,
como é peculiar de um sistema aberto para as relações internacionais: a taxa
de câmbio. A taxa de câmbio nominal (e) define o preço da moeda nacional em
unidades de moeda nacional.

No Brasil interpreta-se a taxa de câmbio em quantidades de moeda


nacional necessárias para comprar uma unidade de moeda estrangeira
(dólar, euro, etc.). Assim, quando há uma desvalorização da moeda
nacional (Real) a taxa nominal de câmbio tende a subir, ou seja, seriam
necessários mais reais para comprar a mesma quantidade de dólares e
vice-versa na valorização.

Vale ressaltar que a taxa de câmbio é a chave para entendermos o


comportamento dos agentes que interagem nos mercados internacionais, porque
um consumidor brasileiro, ao comprar um bem ou serviço de um estrangeiro, tem
que desembolsar um valor denominado em moeda estrangeira. Quando o agente
econômico local se depara com um bem substituto produzido no exterior, ele tem
que comparar os respectivos preços, e para fazer isso, tem que convertê-los em
uma moeda comum. Para este fim, vai usar a taxa de câmbio.

Além disso, com relação a esta variável adicional, cabe definir o regime
monetário: em particular, o Bacen pode deixar a taxa de câmbio livre para flutuar
em resposta às diferentes condições econômicas internacionais, ou então ele
pode se comprometer com a meta de um dado valor (ou intervalo) para a moeda
nacional.

No primeiro caso, falamos de um regime de taxas de câmbio flexíveis, enquanto


no segundo caso falamos sobre as taxas de câmbio fixas. Caso a taxa de câmbio

29
Capítulo 1

se apreciar (moeda valorizada – taxa de câmbio em queda), as exportações


cairão e ocorrerá aumento das importações.

Assim, dada a definição da taxa de câmbio especificada anteriormente, podemos


representar, por meio da equação a seguir, as exportações líquidas como uma
função decrescente da taxa de câmbio:

(6)

Em que:

NX = Exportações líquidas

NX0 = Componente exógeno de exportações

bY = Sensibilidade das exportações líquidas em relação ao produto

qe = Sensibilidade das exportações ao câmbio real

Neste modelo as variáveis b e q capturaram, respectivamente, a saída cambial e


a elasticidade das exportações líquidas e a variável NX° mensura o componente
exógeno (dependendo, por exemplo, do nível de produção estrangeira).

Em economia aberta a curva IS é, portanto, uma função decrescente, tanto da


taxa de juros (como também é em economia fechada) como da taxa de câmbio.
Inferir que a IS é negativamente inclinada em relação à taxa de câmbio passa a
ser primordial para diferenciar uma economia aberta (MMF) de uma economia
fechada. Observe a figura a seguir:

Figura 1.5 – Curva de uma economia aberta como função da taxa de juros e da taxa de câmbio

i e
J C
u â
r m
o b
s i
o
IS IS

Produto Y Produto Y
Fonte: Elaboração do autor (2014).

As mudanças na taxa de câmbio ocasionam alterações na demanda agregada


e implicam movimentos ao longo da curva IS. Se a moeda local se valoriza em
relação à moeda estrangeira, maiores serão as compras no exterior e menor o
produto local, coeteris paribus. Dessa forma, podemos observar que uma moeda

30
Macroeconomia

valorizada, ou seja, um aumento de e fará com que NX seja menor, levando à


queda do produto interno Y. O motivo é o aumento das importações e queda das
exportações.

Mercado monetário
O mercado monetário também é descrito pelas mesmas equações da estrutura
de uma economia fechada, sendo que a demanda por moeda depende
positivamente do nível do produto e responde negativamente a variações na taxa
de juros. A equação a seguir representa o lado monetário:

(7)

Em que:

Md= Demanda por moeda

kY = Efeito transações

Mi= Efeito portfólio

A demanda por moeda Md sugere que ela é formada pelo efeito transação kY e
portfólio Mi, ou seja, o aumento de compras de bens e serviços na economia,
dada a velocidade k, eleva a demanda por moeda e o aumento da taxa de juros
faz com que as pessoas demandem menos dinheiro, pois os títulos do mercado
financeiro serão mais interessantes.

É importante destacar que a oferta de moeda é exógena e está sob o controle


direto do Banco Central, e é, portanto, instrumento de política monetária (Ms = M°).
O equilíbrio descreve a compensação do mercado monetário (Md = Ms), demanda
de moeda igual a oferta de moeda, portanto, uma relação positiva entre a produção
e a taxa de juros, assim como na versão economia fechada do modelo.

A equação seguinte expressa a quantidade de moeda utilizada nas transações


no mercado de bens e serviços como uma função positiva da oferta monetária,
controlada pelo Bacen, e negativamente pelo efeito portfólio.

(8)

Em que:

kY = Efeito transações

Mº = Oferta de moeda

Mi = Efeito portfólio

31
Capítulo 1

A lei de Walras O nível de oferta de moeda determina a localização no


supunha que, no plano (Y, i). Em uma economia fechada, o equilíbrio em
equilíbrio geral dos
mercados, toda a oferta
ambos os mercados de bens, serviços e de dinheiro é
de moeda, ou seja, o suficiente para descrever o equilíbrio geral da economia (o
dinheiro em circulação equilíbrio no mercado de títulos residual é assegurado pela
seria gasto com todos
lei de Walras).
os bens. O preço de
equilíbrio dos bens seria
Por outro lado, em uma economia aberta, além do
dado pelo mercado, os
compradores gastariam equilíbrio geral exige-se também o equilíbrio no setor
todos os recursos externo, descrito pelo balanço de pagamentos, que
financeiros em bens e registra todas as transações internacionais. Em particular,
serviços. Dessa forma,
Walras demonstrou
o balanço de pagamentos consiste na soma da conta-
que se existissem corrente (balança comercial) e a conta de capital (o fluxo
“n” mercados e “n-1” de capital).
mercados em equilíbrio,
o n-ésimo mercado, É interessante observar que a balança comercial é
o seguinte, também
mensurada pelas exportações líquidas e depende da
estaria em equilíbrio.
produção doméstica e da taxa de câmbio, conforme
discutido anteriormente. Com relação ao fluxo de capital,
representado pela próxima equação, ocorre o contrário, pois ele aumenta quando
há diferença entre as taxas de juros nacionais e estrangeiras:

(9)

Em que:

CF = Fluxo de capital

= Fator entre 0 e 1

i = Taxa de juros doméstica

i* = Taxa de juros internacional

Em virtude de a taxa de juros doméstica ficar acima da estrangeira, os ativos


financeiros denominados na moeda nacional pagam relativamente melhor que
os ativos estrangeiros, recebendo mais capital (CF > 0). Portanto, o equilíbrio no
setor externo pode ser descrito pela equação a seguir, que incorpora o BP em
sua definição.

(10)

Em que:

NX = Exportações líquidas

32
Macroeconomia

CF = Fluxo de capital

NXº = Componente exógeno de exportações

bY = Sensibilidade das exportações ao produto

qe = Sensibilidade das exportações ao câmbio real

(i-i*)= diferencial juros locais e internacional

Essa relação é positivamente inclinada, de forma semelhante à descrita pela


relação LM. No setor externo, o Modelo Mundell-Fleming impõe pressupostos
específicos. Em particular, o modelo considera que: a economia é uma pequena
economia aberta, os ativos domésticos e estrangeiros são substitutos
perfeitos uns para os outros e não existem restrições de qualquer tipo de
movimento de capitais por meio de suas fronteiras.

As consequências diretas dessas suposições são que: a taxa de juros externa é


exógena às condições nacionais, os fluxos de capital dependem unicamente do
diferencial de taxa de juros, e a elasticidade dos fluxos de capital relativamente ao
diferencial de taxa de juro é infinita.

Esses pressupostos são refletidos na posição e inclinação da curva BP, ilustrada


pela seguinte figura, descrevendo o equilíbrio no setor externo.

Figura 1.6 – Condição de equilíbrio no setor externo: curva BP


i

J *
i BP
u
r
o
s

Y
Produto
Fonte: Elaboração do autor (2014).

33
Capítulo 1

Em particular, a curva BP é horizontal quando possui como intercepto a taxa de


juros externa. Dessa forma, até mesmo um diferencial infinitesimal entre as taxas
de juros nacionais e estrangeiras, dada a substituibilidade perfeita e restrições zero
aos movimentos de capitais, seria fator de indução a um fluxo de capital infinito do
outro lado da fronteira. Portanto, o equilíbrio do setor externo requer i = i*.

O equilíbrio geral do modelo é obtido quando todos os mercados se igualam ao


mesmo tempo. No contexto do MMF, isso exige uma tríade de produção, juros e
taxas de câmbio em que estão satisfeitas todas as equações apresentadas até
aqui. Do ponto de vista gráfico, isto requer a intersecção das curvas IS, LM e BP
em um único ponto, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 1.7 – Equilíbrio geral no Modelo Mundell-Fleming

i LM

i LM
J
u i
* BP
r
o
s i BP
*

IS

IS Y
Yo

Yo Y
Produto
Fonte: Elaboração do autor (2014).

Do ponto de vista analítico, a solução para o modelo depende do regime de taxa


de câmbio específica. Por exemplo, com taxas de câmbio flexíveis, o sistema
pode ser resolvido de forma recursiva, em que o equilíbrio no setor externo
determina a taxa de juros doméstica (i = i* e, portanto, a posição da curva BP). Já
o equilíbrio no mercado monetário determina o nível de produção Y°, dada a taxa
de equilíbrio doméstica de juros (a partir da interseção de LM e BP) e, finalmente,
o equilíbrio no mercado de bens e serviços, tendo em vista os níveis de produção
e taxa de juros, encontrado anteriormente, implica o nível de equilíbrio da taxa de
câmbio (e, portanto, a posição das curvas é que garante um cruzamento único
entre o BP, as curvas IS e LM).

34
Macroeconomia

Por outro lado, com câmbio fixo, o Bacen se compromete a assegurar um


determinado nível da taxa de câmbio (por exemplo e°). Uma vez que o
instrumento de política monetária é a oferta de dinheiro (Ms), o regime de câmbio
fixo implica que o referido instrumento seja determinado endogenamente para
apoiar a meta da taxa de câmbio.

Nesse contexto, o sistema também pode ser resolvido de forma recursiva,


embora seguindo uma ordem diferente: o equilíbrio do setor externo determina
a taxa de juros doméstica, i = i*; dado tal valor, e o nível meta para a taxa de
câmbio (e°), o equilíbrio no mercado de bens e serviços determina o nível do
equilíbrio para a saída real (a partir do cruzamento entre a BP e a IS, cuja posição
é determinada por e°).

Por fim, o equilíbrio no mercado monetário produz o nível de abastecimento de


dinheiro de acordo tanto com o equilíbrio de saída Y ° e nível alvo da taxa de
troca da e° (isto é, determina a posição da programação LM, garantindo um
cruzamento original com o BP e IS).

É importante ressaltar que o regime específico de taxa de câmbio tem


consequências importantes para a análise dos efeitos da tanto da política
monetária quanto da política fiscal. Com taxas de câmbio flexíveis, a política
monetária é mais eficaz porque é amplificada pelas flutuações da taxa de câmbio.
Em um cenário cambial contrário, a política fiscal não tem nenhum efeito sobre a
atividade real, porque é completamente esterilizada por meio da reação da taxa
de câmbio.

De fato, a expansão monetária desloca a LM e o excesso de oferta de moeda


provoca pressões descendentes sobre a taxa de juros, que, em uma economia
fechada, elevaria a demanda especulativa por dinheiro que acabaria com
o excesso de oferta. Em uma economia aberta, no entanto, as pressões
descendentes sobre a taxa de juros se traduzem imediatamente em saída de
capital e consequente desvalorização da moeda nacional (dada a elasticidade
infinita do fluxo de capitais para o diferencial de taxa de juros).

A desvalorização cambial, por sua vez, torna os produtos nacionais mais


competitivos nos mercados internacionais e a demanda externa por bens
domésticos aumenta: as exportações líquidas se elevam deslocando a curva IS’.
Com a elevação das exportações líquidas aumenta a produção de equilíbrio de
Y ° e Y’ e, consequentemente, a demanda por transações de dinheiro: o mercado
monetário se equaliza, mesmo que a taxa de juros não se mova.

A próxima figura ilustra os efeitos de uma expansão monetária com taxas de


câmbio flexíveis.

35
Capítulo 1

Figura 1.8 – Efeitos de uma expansão monetária com taxas de câmbio flexíveis

i LM

LM’
J i BP
u *
r
o
s IS’
IS

Yo Y’ Y

Produto
Fonte: Elaboração do autor (2014).

A eficácia global da política monetária é mais forte em uma economia aberta,


pois o mecanismo de transmissão só funciona por meio da taxa de câmbio, sem
variações na taxa de juros: em uma economia fechada, ocorre o inverso, a
taxa de juros cai, o investimento e a produção aumentam, e o excesso de
oferta de moeda acaba por meio de um aumento nas duas operações e
também pela demanda de dinheiro especulativo.

Já a política fiscal, pelo contrário, é completamente ineficaz em relação à


produção de equilíbrio. Um aumento nos gastos públicos, de fato, muda a curva
IS para fora IS’, elevando a demanda doméstica. Ao fazê-lo, no entanto, induz
pressões altistas sobre a taxa de juros (para uma determinada oferta de dinheiro)
que, por sua vez, se traduzem em uma apreciação da moeda nacional e uma
redução das exportações líquidas: a queda da demanda externa é exatamente o
mesmo que o aumento da doméstica.

36
Macroeconomia

Figura 1.9 – Efeitos de uma expansão fiscal com taxas de câmbio flexíveis

i
LM
J
u LM`
r
o i* BP
s

IS`
IS

Y0 Y` Y

Produto
Fonte: Elaboração do autor (2014).

A figura anterior mostra os efeitos de uma expansão fiscal com taxas de câmbio
flexíveis.

Neste cenário os gastos públicos, portanto, anulam as exportações líquidas


completamente, e a curva IS se desloca de volta. As taxas de juros não mudam
e o único efeito da política fiscal é uma apreciação da taxa de câmbio. Embora
ineficaz em relação a uma economia fechada, vale ressaltar que a política
fiscal não é completamente ineficaz, uma vez que, na verdade, ela induz
uma redistribuição de renda entre os agentes que produzem bens para os
mercados estrangeiros e aqueles que produzem bens para o doméstico.

Diante deste contexto, as decisões de política econômica são completamente


revertidas com as taxas de câmbio fixas, pois a política monetária é ineficaz uma
vez que a oferta de dinheiro não pode ser afetada sem violar a meta para a taxa
de câmbio. A expansão monetária induz pressões descendentes sobre a taxa de
juros, que implicaria uma desvalorização da moeda nacional, em contraste com a
meta de taxa de câmbio.

37
Capítulo 1

Figura 1.10 – Efeitos de uma expansão monetária com taxas de câmbio fixas

i LM = LM``

LM`

J
u
i* BP
r
o
s

IS
0
Y = Y` Y

Produto
Fonte: Elaboração do autor (2014).

A figura apresentada ilustra os efeitos de uma expansão monetária com taxas de


câmbio fixas.

Para atingir a meta, então, o Bacen teria de fechar o excesso de oferta de moeda
nacional nos mercados internacionais de divisas com a venda de moeda estrangeira
em troca do doméstico. Nesse cenário a oferta de moeda cai e a LM se desloca para
trás, o único efeito da expansão monetária seria a substituição, no lado do ativo do
balanço do Bacen, das reservas internacionais por títulos domésticos.

Já a expansão fiscal, ao contrário, é amplificada pela reação do Bacen, uma vez


que ele precisa garantir o cumprimento da meta da taxa de câmbio. No entanto,
um aumento nos gastos públicos induz pressões altistas sobre a taxa de juros e,
consequentemente, uma apreciação da taxa de câmbio.

Figura 1.11 – Efeitos de uma expansão fiscal com taxas de câmbio fixas

L
i LM`
J
u
r Y`
o i* BP
s

IS`
IS

Fonte: Elaboração do autor (2014).

38
Macroeconomia

A figura apresentada ilustra os efeitos de uma expansão fiscal com taxas de


câmbio fixas.

Essa valorização da moeda nacional faz com que o Bacen doméstico atue nos
mercados internacionais de divisas para fechar o excesso de demanda de moeda
corrente nacional, por meio da compra de moeda estrangeira em troca de o
doméstico. Nesse caso a curva LM se desloca para fora, aumenta a oferta de
moeda e acomoda a expansão fiscal. O produto de equilíbrio aumenta de Y ° e Y',
enquanto nem a taxa de juros nem a taxa de câmbio variarem.

É importante ressaltar que a eficácia na produção de equilíbrio em uma economia


aberta é mais forte que em uma economia fechada, pois a meta da taxa cambial
obriga o Bacen a aumentar a oferta de moeda, evitando que a taxa de juros
doméstica se eleve e expulse os gastos privados.

39
Capítulo 2

Mercado de trabalho1

Habilidades Por meio do presente estudo você desenvolverá


as habilidades de interpretar a dinâmica de
funcionamento do mercado de trabalho, bem como
o significado de desemprego. Desenvolverá ainda a
habilidade de saber analisar o efeito do desemprego
no mercado de mão de obra, e determinar o
equilíbrio no mercado de trabalho.

Seções de estudo Seção 1: O emprego

Seção 2: O desemprego e a curva de Phillips

Seção 3: O equilíbrio no mercado de trabalho

41
Capítulo 2

Seção 1
O emprego

1.1 Definição de emprego


A definição de emprego está relacionada a duas questões: a primeira diz respeito
à população existente em um país e, a segunda, à capacidade de essa população
produzir. No Brasil, por exemplo, o termo emprego é sinônimo de trabalho
conforme prevê a metodologia da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo assim definida:

a. ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou


benefícios (moradia, alimentação, roupas, etc.) na produção de
bens e serviços; ou
b. ocupação remunerada em dinheiro ou benefícios (moradia,
alimentação, roupas, entre outros) no serviço doméstico; ou
c. ocupação sem remuneração na produção de bens e serviços, em
ajuda na atividade econômica de membro da unidade familiar.
(IBGE, 2013).

Cabe destacar que o trabalho pode ser classificado como remunerado e sem
remuneração, sendo que se excluem do conceito de trabalho as ocupações sem
remuneração de ajuda a instituições religiosas, beneficentes ou cooperativismo,
bem como situações em que o trabalho tem como objetivo produzir apenas para
o consumo próprio ou familiar.

Para melhor análise do emprego e do desemprego é necessário subdividir a


população. Segundo a metodologia do IBGE, a população se subdivide em
População em Idade Ativa (PIA), População Economicamente Ativa (PEA) e
População Não Economicamente Ativa (PNEA), conforme apresentamos na
sequência.

1.2 Pessoas em idade ativa


Entre todos os habitantes de um país encontram-se aqueles aptos ao trabalho,
portanto, estarão propensos a empregar-se e aqueles inaptos ao trabalho. Segundo
o IBGE, somente as pessoas acima de 10 anos poderão se empregar, essas são
enquadradas como PIA. Vale observar que a idade ativa não deve ser confundida
com a legislação trabalhista que fixa limite de 14 anos para o trabalho formal.

42
Macroeconomia

Quando as pessoas estão à procura de emprego, estão aptas ao trabalho


e em idade ativa, mas que no período em questão ficaram sem ocupação
efetiva serão consideradas desempregadas, o termo técnico utilizado pelo
IBGE para essa situação é desocupação.

A figura a seguir mostra a divisão entre as condições de atividade e as condições


de ocupação da população em idade ativa.

Figura 2.1 – Divisão da população em idade ativa

Fonte: IBGE (2014).

Podemos observar nessa figura que a PIA está subdividida em duas categorias:
População Economicamente Ativa (PEA) e População Não Economicamente Ativa
(PNEA). A PEA, por sua vez, está subdividida em Ocupados e Desocupados e
demonstra a condição de ocupação de um país. Considerando que as pessoas
geradoras de valor econômico estão enquadradas dentro do PEA, entender
a capacidade de um país em gerar ocupação para a população pode ser a
diferença entre o crescimento sustentável e os problemas com o desemprego da
mão de obra.

1.2.1 População economicamente ativa


De acordo com a definição do IBGE, a categoria da PEA compreende o potencial
de mão de obra que o setor produtivo pode contar, isto é, a população ocupada e
a população desocupada.

43
Capítulo 2

População ocupada
A população ocupada diz respeito a pessoas que, em um determinado período de
referência, trabalharam ou tinham trabalho, ou, ainda, estavam com algum vínculo
empregatício; contudo, em virtude de um motivo legal, não estavam trabalhando,
por exemplo, pessoas em férias.

A classificação das pessoas ocupadas (ocupados) é feita da seguinte forma:

a. Empregados – são pessoas que trabalham para um ou mais


empregadores, cumprindo uma jornada de trabalho e recebendo,
em contrapartida, uma remuneração em dinheiro ou outra forma de
pagamento (moradia, alimentação, vestuário, etc.). Estão inclusas
entre as pessoas empregadas aquelas que prestam serviço militar
obrigatório e os clérigos. Cabe destacar que os empregados são
classificados segundo a existência ou não de carteira de trabalho
assinada.
b. Conta própria – diz respeito a pessoas que exploram uma atividade
econômica ou exercem uma profissão ou ofício, sem empregados.
c. Empregadores – são pessoas que exploram uma atividade
econômica ou exercem uma profissão ou ofício, com auxílio de um
ou mais empregados.
d. Não remunerados – engloba pessoas que exercem uma ocupação
econômica, sem remuneração, pelo menos 15 horas na semana,
em ajuda a membro da unidade domiciliar em sua atividade
econômica, ou em ajuda a instituições religiosas, beneficentes ou
de cooperativismo, ou, ainda, como aprendiz ou estagiário.

População desocupada 
A população desocupada engloba pessoas que não tinham trabalho em um
determinado período de referência, mas estavam dispostas a trabalhar, e
que, para isso, tomaram alguma providência efetiva (consultando agências de
emprego, jornais, entre outros).

A análise dos desocupados dentro do PEA é de extrema importância, pois


um país com baixas taxas de desocupados estará gerenciando bem a sua
atividade econômica. Nesse caso, a massa de renda gerada pela ocupação
poderá significar a diferença entre um país que cresce e aquele que se mantém
estagnado. Além dos desocupados, outro ponto crítico para o crescimento do
país é a população não economicamente ativa.

44
Macroeconomia

1.2.2 População não economicamente ativa


O IBGE define a PNEA como a parcela da população que não está envolvida
diretamente em atividades produtivas. Na categoria estão incluídas crianças,
estudantes deficientes físicos, idosos e pessoas que exercem atividades, mas
não são remuneradas, como as mulheres nas atividades domésticas.

1.3 Um giro pelo emprego e desemprego no Brasil


Uma das maiores preocupações que o gestor público de um país pode ter é o
emprego de mão de obra, ou seja, manter os cidadãos ativos e produtivos. Um
alto nível de emprego significa que as empresas estão produzindo em um nível
capaz de manter a mão de obra do país empregada e possivelmente a geração
de renda no país estará em alta.

Quando uma parcela da mão de obra de uma população está à procura de


emprego e não encontra, essa parcela será classificada oficialmente, nesse caso
no Brasil pelo IBGE, como desocupada. A próxima figura mostra um gráfico com
a tendência da desocupação em número de pessoas no Brasil no período de
março de 2002 a novembro 2013.

Figura 2.2 – Pessoas desocupadas/escala em mil pessoas

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Podemos observar que a desocupação brasileira era aproximadamente um


milhão e cem mil pessoas no mês de novembro de 2013, muito menos que os
dois milhões e meio observados no mês março de 2002. Assim, constatamos que

45
Capítulo 2

há uma nítida tendência de queda da desocupação da mão de obra brasileira no


período em análise.

É importante destacar que o controle do desemprego da mão de obra ou da


quantidade de pessoas desocupadas é uma tarefa importante dos agentes
públicos. Uma economia com o desemprego baixo se mostra aquecida, ou seja,
produzindo, e quando essa produção se associa com uma demanda por bens
e serviços estável, tanto de agentes internos como externos, pode chegar ao
equilíbrio e crescimento sustentável. Nessas condições, males como a inflação
não serão temidos.

A figura na sequência mostra a relação de ocupados e desocupados em


percentual de PEA no Brasil em 2013.

Figura 2.3 – Ocupados e desocupados em percentual de PEA

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A desocupação ou desemprego leva em conta a PEA, considerada como a força


de trabalho no Brasil. Em abril de 2013, por exemplo, havia mais de 19 milhões de
pessoas desocupadas, o que representava 5% da população economicamente
ativa, conforme mostra a figura a seguir.

46
Macroeconomia

Figura 2.4 – Taxa de desocupação

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Observamos nessa figura que no mês de novembro de 2013 a taxa de


desocupação foi de 5,4% da PEA, sendo também observada uma tendência de
queda da referida taxa que, em março de 2002, estava em pouco mais de 12%.

Quando há uma grande massa de desocupados em uma economia e a


falta de ocupação se estende por um período muito longo, um sinal de
perigo é acionado. Nesse cenário econômico espera-se das autoridades
governamentais um conjunto de ações políticas no sentido de dinamizar a
economia.

Uma das causas da economia de um país entrar em recessão é a redução das


atividades produtivas, que geram, em consequência, dois movimentos distintos:
desemprego de mão de obra e queda nos preços em virtude de promoções de
vários setores em busca de aumento de receita.

Esses movimentos criam entre si uma relação inversa, pois a queda dos preços,
uma deflação, é seguida de um aumento do desemprego e vice-versa. Foi por
meio deste raciocínio que o economista neozelandês Alban William Phillips, em
1958, na época professor na London School of Economics, através do artigo: The
relationship between unemployment and rate of change of money wages in the
United Kingdom, 1861-1957, desenvolveu a teoria chamada curva de Phillips, a
qual permite analisar a relação entre inflação e desemprego no curto prazo.

47
Capítulo 2

Seção 2
O desemprego e a curva de Phillips

2.1 Curva de Phillips 


Em macroeconomia, a curva de Phillips representa um conflito de escolha, ou
seja, um trade-off, como é comumente utilizado nos meandros da economia,
especificamente entre inflação e desemprego.

Como indica o título do trabalho original produzido pelo professor Phillips, na


época ele estudou a variação do salário nominal a partir da análise do nível de
inflação, compilando dados das duas variáveis, inflação e desemprego no curto
prazo, entre 1861 até 1957. As equações originais formatadas por Phillips são as
seguintes:

Em que:

gw = Taxa de variação do salário nominal

ut = Taxa de desemprego no tempo t

un = Taxa de natural de desemprego

α = Parâmetro de sensibilidade das alterações do salário nominal com relação ao


desemprego

Wt = Salário nominal no tempo t

Wt-1 = Salário nominal no período anterior

A curva de Phillips do final da década de 1950, cujo gráfico original é ilustrado


pela figura na sequência, e que pode ser considerada uma teoria econômica, foi
prontamente utilizada como ferramenta para a tomada de decisões em políticas
macroeconômicas a partir do mencionado período.

48
Macroeconomia

Figura 2.5 – Curva de Phillips original

w
S
a
l
á
r
Ue U
i Un
o

Desemprego

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Nessa figura verificamos que quando o desemprego (U) se afasta da sua taxa
natural (Un) a taxa de crescimento dos salários nominais diminui uma vez que
a oferta de mão de obra aumenta. Por outro lado, quando o desemprego cair
abaixo da sua taxa natural, a economia observará um aumento no nível médio
dos salários.

Em virtude das especificidades das economias em que foi aplicada, a


referida teoria foi, ao longo do tempo, bastante modificada, sofrendo, assim,
alguns ajustes.

Na década de 1960, por exemplo, os economistas, Paul Samuelson e Robert


Solow, ganhadores do prêmio Nobel de Economia no ano de 1970 e 1987,
respectivamente, aplicaram a descoberta de Phillips à economia americana.
Entretanto, esses economistas substituíram a taxa de variação dos salários
nominais pela taxa de inflação. Na época conseguiram argumentos favoráveis
para representar como iguais a variação nominal dos salários e a taxa de variação
da inflação (πt). Entretanto, há críticas sobre essa igualdade, uma vez que pode
ocorrer uma relação não linear entre o nível de salário e inflação na realidade.

A partir das contribuições de Samuelson e Solow, o que antes era apenas uma
correlação entre variáveis recebe então o nome de curva de Phillips, que passa a
ser considerada a pedra fundamental na decisão de políticas macroeconômicas
das autoridades governamentais. Como exemplo podemos citar a decisão do
governo em optar por uma taxa de inflação um pouco mais elevada na economia,
ou seja, um estímulo por meio da política fiscal expansionista, que teria como
consequência a queda do desemprego.

49
Capítulo 2

No entanto, na década de 1970, a aplicação da teoria Phillips para estudos


realistas ou empíricos não funcionou, uma vez que nesse período a relação entre
desemprego e inflação foi positiva contrariando a teoria. Portanto, a relação entre
as variáveis não era estável e mudava de país para país (BLANCHARD, 2013).

A equação original formulada por Samuelson e Solow é a seguinte:

Em síntese, a presente equação indica que uma queda na taxa


de desemprego leva a um aumento na taxa de inflação, e uma taxa de
desemprego maior a uma taxa de inflação menor. Essa relação inversa entre
inflação e desemprego é estável no curto prazo, contudo, não se sustenta
no Longo Prazo (LP) porque outras variáveis econômicas influenciam tanto o
desemprego como a própria inflação.

Cabe destacar que entre os anos de 1973 e 1979, em virtude das crises do
petróleo, houve retração econômica em muitas das economias mundiais. Esse
aumento de preço do “ouro negro”, como o petróleo era conhecido, elevou o
custo dos produtos, desencadeando uma queda no consumo, em especial no
mercado americano.

O Brasil também foi afetado pela referida crise, impactando negativamente o


momento econômico pelo qual passava, conhecido por “Milagre Econômico
Brasileiro”. A estagnação da economia brasileira estendeu-se pela década de
1980 e apenas conseguiu estabilidade após o término da ditadura militar.

Nos Estados Unidos, durante as crises do petróleo a relação negativa


da curva de Phillips ficou comprometida, uma vez que a inflação possuía
outros fatores que a influenciavam, como, por exemplo, o aumento do
custo do petróleo, insumo básico em muitos segmentos. (BLANCHARD,
2013).

2.2 Avanços da teoria da curva de Phillips


Investigando a equação da curva de Phillips, partindo da variável inflação,
Edmund Phelps e Milton Friedman verificaram resultados distintos para políticas
monetárias expansionistas no curto e longo prazo. Esses autores constataram
que uma política monetária expansionista no curto prazo gera um aumento
do Produto Interno Bruto (PIB), aumentando o nível dos empregos e, por
consequência, uma elevação no nível de preços.

50
Macroeconomia

Esse resultado já era esperado para a curva de Phillips em uma economia de


inflação em alta e nível de desemprego em baixa, na qual a atividade econômica
esteja acima da taxa natural de emprego e haja uma grande demanda por
trabalho.

Nesse cenário o preço médio dos salários aumenta e, em virtude de os contratos


de trabalho serem preestabelecidos, ajuda a economia a não sofrer um efeito
retrativo imediato pelos ajustes de salários, ou seja, as empresas ficam presas
aos contratos antigos e não demitem no curto prazo. Entretanto, no longo prazo,
quando os contratos de trabalho forem renegociados, o aumento do preço médio
dos salários reduzirá a demanda por mão de obra.

Frente a esse contexto, em virtude de a demanda por emprego retornar


à sua taxa natural, assim como o PIB, podemos concluir que a política
monetária no longo prazo gera apenas aumento de preços, inflação.

Essa observação sobre o comportamento da curva de Phillips no curto e no longo


prazo foi uma crítica construída por Friedman e Phelps no decorrer da década de
1960, os quais demonstraram que a curva de Phillips era efetiva apenas no curto
prazo. Dessa forma, os governos não conseguiriam, utilizando apenas a curva de
Phillips, escolher, como forma de fazer políticas governamentais, entre emprego e
inflação.

Assim, os mencionados autores efetuaram uma emenda à curva de Phillips


incorporando a inflação esperada pte pelos agentes econômicos, conforme mostra
equação a seguir:

Em que:
Inflação

Inflação esperada

Taxa de desemprego

Taxa Natural de desemprego

O componente de inflação esperada ficou conhecido como expectativas


adaptativas, uma vez que os agentes econômicos aprenderiam com seus erros
de precificação da inflação passada e adaptariam, ou fariam um ajuste para
a inflação futura. Diante dessa adaptação, a curva de Phillips, que passou a
incorporar as expectativas dos agentes econômicos, ficou conhecida como curva
de Phillips aceleracionista, conforme mostra a próxima figura.

51
Capítulo 2

Figura 2.6 – Curva de Phillips aceleracionista

Curva de Phillips de LP

I ``
n
f
`
l
a
ç n
ã U C3
o
C2
Desemprego C1

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Esse gráfico sintetiza o raciocínio de Friedman e Phelps. No ponto inicial a


inflação esperada é zero, sendo representada pela curva C1, e a economia
está no seu nível natural de desemprego. Assim, uma expansão monetária, por
exemplo, faz com que o desemprego caia abaixo da taxa natural; contudo,
ocasiona um aumento da inflação.

Os agentes econômicos, sabendo que a inflação passou a π`, incorporam essa


informação no longo prazo, e a economia agora encontra-se novamente em seu
nível natural de desemprego. Entretanto, apresenta um nível de preços mais
alto, sendo que no gráfico apresentado da curva de Phillips aceleracionista essa
afirmação é representada pela curva C2.

O termo aceleracionista vem justamente desse encadeamento de dados da


inflação passada, os quais são incorporados nas expectativas futuras dos
agentes econômicos.

É interessante observar que o Brasil sentiu os efeitos da inflação acelerada entre


as décadas de 1970 e 1980, caso esse que foi objeto de estudo pelo economista
Mário Henrique Simonsen, que a denominou de inflação inercial. De acordo com
o modelo desenvolvido por Simonsen no longo prazo as políticas para aumentar
o PIB teriam como efeito colateral o aumento de preços.

2.2.1 Expectativas racionais dos agentes econômicos


Uma hipótese central que gira em torno das expectativas racionais, o
conhecimento do modelo econômico, está disponível para todos os agentes
econômicos. Esse modelo contém todas as variáveis necessárias para o controle
da inflação, do produto, e, por conta disso, do emprego e do desemprego, e

52
Macroeconomia

também incorporaria toda a informação disponível ao mercado. Nesse sentido,


os policy makers teriam à sua disposição uma forma de corrigir os rumos da
economia e até mesmo estimar efeitos futuros.

Há duas versões sobre a formação das expectativas racionais pelos agentes


econômicos, as quais são destacadas a seguir:

Versão fraca: Por meio dessa versão os agentes econômicos fazem uso de toda
a informação disponível, sendo que os erros do passado deixam de influir nas
expectativas. Com isso, tais agentes não incorrem em erros sistemáticos, ou seja,
os erros dos diferentes períodos não são correlacionados.

Versão forte: Nessa versão os agentes econômicos sempre acertam em média o


valor efetivo da variável econômica em estudo. Eles conhecem o “modelo correto”
de formação das expectativas.

O primeiro estudo relevante sobre as expectativas racionais dos agentes


econômicos foi o artigo publicado em 1961, por John Muth. No entanto, este
artigo passou quase despercebido pela comunidade científica. O reconhecimento
da importância dos estudos de Muth veio com outro artigo, o escrito por Robert
Lucas e Leonard Rapping, intitulado “Salário real, emprego e inflação”, publicado
em 1969 no Journal of Political Economy (JPE).

Alternativa de Lucas-Sargent
A alternativa de Lucas-Sargent para a existência de uma taxa natural de
desemprego é descrita no artigo Lucas e Rapping (1969, p. 739), os quais
reconhecem que existe uma taxa natural de desemprego na economia como
Friedman havia proposto.

Parece que uma política econômica destinada a manter uma


inflação pode reduzir temporariamente o desemprego, mas
a menos que se sustente um aumento dos preços de forma
permanente, uma tentativa posterior para retornar à taxa original
de inflação irá resultar em um deslocamento para os valores
iniciais de emprego.

De acordo com esses autores, as políticas econômicas de um país são


destinadas à redução do desemprego, estratégia essa que só será mantida se
houver constante aumento de preços, inflação, caso contrário, o desemprego
voltará para suas taxas naturais.

53
Capítulo 2

2.2.2 A ideia básica das expectativas racionais dos agentes econômicos


Na teoria das expectativas racionais os agentes econômicos: famílias, empresas
e governos; em qualquer parte do planeta conhecem o modelo da economia
e se antecipam aos fatos. Esses agentes utilizam toda e qualquer informação
disponível para a tomada de decisão.

Em teoria, os agentes econômicos não são pegos de surpresa e reagem


às alterações das políticas monetária, fiscal e cambial. Assim, uma
antecipação na tomada de decisões neutralizaria qualquer tentativa de
manipulação econômica no sentido de sustentar o nível de emprego.
Portanto, os governos não teriam como influenciar os rumos da economia.

A teoria das expectativas racionais teve origem no trabalho de Robert Lucas e


Thomas Sargent, que inicialmente analisaram o contexto do mercado financeiro,
em especial o mercado de ações e depois ampliaram seus estudos para os
demais mercados, inclusive o de produção de bens, que acabou determinando
que as políticas de geração de emprego e renda seriam inócuas.

Como exemplo dessas políticas de geração de emprego e renda, imaginemos


que o Banco Central de um determinado país resolva emitir moeda utilizando
o método de compra dos títulos públicos em circulação. O efeito seguinte será
um aumento da inflação (devido à grande quantidade de dinheiro disponível aos
agentes no lugar dos títulos) e, por conta disso, dependendo do nível, o Banco
Central reagirá com aumento dos juros.

Essa atuação do Banco Central será aprendida por todos os agentes econômicos.
Assim, em síntese, eles saberão que toda vez que ocorrer um incentivo monetário
para gerar emprego o resultado será aumento dos preços médios (inflação) e
aumento das taxas de juros. Dessa forma, esse aprendizado cancela ou minimiza
a receita keynesiana de estímulo monetário ou fiscal.

Essa inibição dos estímulos ocorre em virtude de os trabalhadores e as empresas


anteciparem-se aos aumentos de preços e taxas. Assim, os trabalhadores
conhecedores do modelo exigirão salários maiores, e as empresas concederão
esse aumento a partir da elevação dos preços de seus produtos e serviços.
Portanto, se pensarmos em termos de salários reais, o que temos é um equilíbrio,
e, desse modo, o objetivo de o Banco Central gerar empregos será frustrado.

Diante deste cenário as políticas ativas utilizadas atualmente pelo Banco Central
tentam surpreender os agentes econômicos para minimizar a sua impotência
perante as expectativas racionais. Entretanto, elas conseguem surpreender
esses agentes por determinado tempo, mas não podem fazê-lo sempre. Dessa

54
Macroeconomia

forma, os policy makers devem ser criativos e a cada momento efetuar uma ação
diferente para aumentar o erro de previsão dos agentes econômicos.

Seção 3
O equilíbrio no mercado de trabalho

3.1 Oscilação de salários e o emprego


É de conhecimento geral que trabalhadores preferem ganhar salários altos, por
outro lado, empresas preferem contratar quando o salário é baixo. A esse conflito
de interesses entre empresas e trabalhadores na busca da maximização do
salário chamamos de equilíbrio no mercado de trabalho. Ao compreender como
esse equilíbrio é atingido, podemos abordar o que seja, talvez, a pergunta mais
interessante na economia do trabalho.

Por que os salários e o emprego oscilam para cima e para baixo?

A oscilação ocorrida no mercado de trabalho pode ser caracterizada pelo fato de


existirem diversos tipos de mercados de trabalho. Os mercados de trabalho que
não são eficientes geram assimetrias, como no caso dos monopsônios (onde
há apenas um comprador de trabalho) e os monopólios (onde há apenas um
vendedor de mão de obra). Uma investigação dos tipos de mercados de trabalho
ajudará na compreensão dessa oscilação.

3.2 Mercado de trabalho competitivo


O equilíbrio competitivo em qualquer mercado significa a igualdade entre a
demanda e a oferta. No mercado de trabalho não é diferente, uma vez que, se
há muita mão de obra disponível, os salários nominais tendem a cair, sendo o
inverso também verdadeiro: se as empresas estão à procura de trabalhadores e
não encontram terão de aumentar os salários nominais. A figura a seguir mostra
essa relação.

55
Capítulo 2

Figura 2.7 – Equilíbrio competitivo no mercado de trabalho

O
S
a
l
á w
r
i
o
s
D

E* Emprego

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A figura apresentada ilustra a intersecção da oferta de trabalho (O) e demanda


de trabalho (D) em um mercado competitivo. A curva de oferta representa o
número total de carga horária que parte dos agentes econômicos estão dispostos
a oferecer ao mercado em qualquer nível salarial dado. Já a curva de demanda
representa o número total de carga horária que as empresas desejam contratar. O
equilíbrio nesse mercado ocorre quando a oferta se iguala à demanda, gerando o
salário competitivo w e o nível de emprego competitivo, E*.

O salário w* é o salário de equilíbrio de mercado, porque qualquer outro nível


salarial criaria pressões para cima ou para baixo sobre ele; haveria muitos
empregos e poucos trabalhadores disponíveis ou muitos trabalhadores que
competiriam entre si pelos poucos empregos disponíveis.

Assim, uma vez que o nível salarial competitivo é determinado desta forma, cada
empresa de um determinado setor econômico contratará trabalhadores até o
ponto em que o valor do produto marginal do trabalho seja igual ao salário
competitivo. Por exemplo, a primeira empresa contrata um “E” de trabalhadores,
a segunda empresa contrata dois “E” trabalhadores, e assim por diante. O
número total de trabalhadores contratados por todas as empresas do setor deve
ser igual ao mercado de nível de emprego de equilíbrio, E*.

A figura referente ao equilíbrio competitivo no mercado de trabalho mostra que


não há desemprego em um mercado de trabalho competitivo, uma vez que no
caso do salário de mercado w*, o número de pessoas que querem trabalhar é
igual ao número de trabalhadores que as empresas querem contratar. Já as
pessoas que não estão trabalhando também não estão à procura de trabalho no

56
Macroeconomia

salário de equilíbrio, contudo, muitas dessas pessoas tenderão a ingressar no


mercado de trabalho se o salário aumentar (e muitas se retiram se o salário cair).

A economia moderna é constantemente submetida a muitos choques, que


mudam tanto a curva de oferta como a curva de demanda. É provável,
portanto, que o mercado de trabalho, na verdade, nunca chegue a um
equilíbrio estável, com salários e emprego constantes por um longo tempo.

No entanto, o conceito de equilíbrio do mercado de trabalho continua a ser útil


porque nos ajuda a entender por que os salários e o emprego parecem oscilar
para cima ou para baixo em resposta a determinados eventos econômicos ou
políticos, sendo que, à medida que o mercado de trabalho reage a um choque
particular, salários e empregos tenderão a se mover em direção a seu novo nível
de equilíbrio.

Para Blanchard (2013), vários são os fatores que determinam o salário, tendo
destaque o papel das negociações coletivas entre trabalhadores, empresas e
sindicatos. Para o autor, quanto maior a qualificação dos cargos, maiores serão
as negociações em termos de fixação de valores salariais.

O referido autor aborda os fatores mercadológicos, ou seja, a qualificação da mão


de obra, a condição de crescimento do país, a política de estabilidade salarial,
políticas de salário mínimo dentre outras, esses são decisivos para determinar o
valor de salário de equilíbrio no mercado de trabalho.

57
Capítulo 3

Tipos de financiamentos do
governo e o mercado de títulos
públicos1

Habilidades O presente capítulo desenvolverá em você as


habilidades de interpretar a dinâmica do mercado
financeiro e da dívida pública federal, bem como
saber analisar as funções dos títulos públicos e
como eles se tornam instrumentos essenciais à
atividade governamental e financeira de um país.

Seções de estudo Seção 1: Dívida pública federal

Seção 2: Funções e tipos de títulos públicos


federais

59
Capítulo 3

Seção 1
Dívida pública federal

1.1 Uso de dívida pública


Interpretar como o governo interage com o mercado financeiro é uma importante
habilidade requerida do profissional que atua ou pretenda atuar na área
econômica, tanto na Administração Pública quanto em instituições participantes
do Sistema Financeiro Nacional (SFN), a fim de saber analisar a dinâmica do
conjunto de ações utilizadas pelo governo federal e instituições financeiras, como
ferramenta para a tomada de decisão.

O debate sobre a Dívida Pública Federal (DPF) desencadeia uma série de


questionamentos, sendo que um dos primeiros refere-se ao fato de que ela seja
inerentemente ruim. Hoje em dia, o cenário econômico mundial ainda se mantém
bastante keynesiano, uma vez que, quando determinado país enfrenta queda
no Produto Interno Bruto (PIB) e por consequência tem aumento na taxa de
desemprego, o governo utiliza o déficit público como medida de correção dessas
variáveis, ou seja, aumentará a dívida pública visando ao bem comum.

Blanchard (2013) observa que os efeitos dos déficits orçamentários ao longo


do tempo são imprevisíveis, tanto para a formação de capital quanto para a
elevação do produto. Mesmo assim, a política fiscal deve continuar a ser utilizada
para amenizar as flutuações do produto. A recomendação mais utilizada pelos
analistas econômicos é a aplicação de uma política fiscal expansionista (elevando
gastos públicos em momentos de recessão) e de uma política de superávit
quando o país está em expansão.

É importante observar que, além de o governo utilizar a dívida pública para proteger
o país das oscilações no produto e no emprego, ele poderá ainda utilizá-la para
investimentos públicos estratégicos para o desenvolvimento econômico. Esses
que, em virtude de muitas vezes serem de grande vulto, como, por exemplo,
hidrelétricas, não podem esperar que o dinheiro esteja em caixa. Assim, a única
forma de providenciar tais investimentos é por meio da elevação da dívida federal.

Mas o que é a dívida pública federal?

Podemos dizer que a DPF é uma obrigação de determinada entidade com


terceiros, gerada pela diferença entre as receitas e as despesas. Ela é a dívida
contraída pelo Tesouro Nacional (TN) para financiar o déficit orçamentário do
governo federal e pode ser emitida pelo simples fato de que as despesas públicas

60
Macroeconomia

superaram as receitas (Impostos – Gastos), uma vez que há a necessidade de o


governo pagar fornecedores de todos os tipos como: funcionários, empreiteiras
de mão de obra, fornecedores de material escolar, medicamentos, dentre outros.

A DPF também é contraída quando não há dinheiro para o governo pagar as


dívidas que estão vencendo no exercício fiscal. Neste caso, precisa refinanciá-la,
cujo processo se dá pela emissão de dívida nova para pagar uma dívida antiga.
Entretanto, toda e quaisquer dessas operações devem ter suas finalidades
específicas definidas em lei.

1.2 Classificação da dívida pública federal


A DPF pode ser classificada de várias maneiras. Inicialmente temos a dívida
bruta, conceito no qual apenas os passivos do governo são considerados. Temos
ainda a dívida líquida, conceito de dívida que se retira, ou desconta, os passivos
dos ativos que o governo possui. Há também a classificação da forma utilizada
para o endividamento e a moeda à qual ocorrem os fluxos de recebimento e
pagamento da dívida.

Em relação à forma, o endividamento pode ocorrer por meio da emissão de títulos


públicos ou pela assinatura de contratos de financiamento. Quando os recursos
são captados por meio da emissão de títulos públicos, a dívida daí decorrente é
chamada de mobiliária. Já quando a captação é feita via celebração de contratos,
a dívida é classificada como contratual.

A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) é o total da dívida bruta do setor público
(União, Estados, municípios e estatais) deduzida das disponibilidades em moeda
nacional ou estrangeira (caso das reservas líquidas internacionais). Podemos
dizer que a DLSP é o equilíbrio entre as dívidas e os créditos do setor público não
financeiro e do Banco Central.

Os saldos são apurados pelo critério de competência, ou seja, apropriam-se


as receitas e despesas ao período de sua realização, independentemente do
efetivo recebimento das receitas ou do pagamento das despesas. Eventuais
registros contábeis que não utilizam esse critério são corrigidos para manter a
homogeneidade da apuração. A DLSP é utilizada como base para o cálculo do
déficit público pelo método de apuração “abaixo da linha”.

O método de apuração abaixo da linha corresponde à variação nominal


da Dívida Fiscal Líquida (DFL), excluídos os ajustes patrimoniais, de
privatização e metodológico.

Cabe destacar que no caso do Brasil os saldos da dívida externa são,


primeiramente, convertidos para dólar americano e, posteriormente, para reais

61
Capítulo 3

pela cotação de venda do dólar dos Estados Unidos no mercado de câmbio


de taxas livres. Diferentemente de outros países, o conceito de dívida líquida
utilizado no Brasil considera os ativos e passivos financeiros do Banco Central
(Bacen), incluindo, dessa forma, a base monetária como componente da dívida,
principalmente pelo fato de constituir forma de financiamento.

1.3 Origem da dívida pública


Segundo a origem, a dívida pública pode ser classificada em interna ou externa.
Um dos critérios que demonstra melhor o risco do país é a moeda utilizada para
negociação do título. No caso do Brasil, seria classificada como dívida interna
aquela denominada na moeda corrente do país (real) e como dívida externa
aquela denominada em outras moedas que não a moeda corrente.

A partir desse critério, podemos perceber melhor a pressão do fluxo gerado por
uma dívida ao longo do tempo sobre o balanço de pagamentos, bem como os
riscos inerentes a uma possível crise cambial. Essa é a forma de classificação
atualmente utilizada pelo Brasil.

Outro critério possível de classificação da origem da dívida é considerar como


dívida interna aquela que está em poder dos residentes no país, e como externa
aquela em poder dos não residentes. Essa classificação é mais interessante
para países que possuem livre fluxo de capitais, assumindo que o investidor não
residente tem comportamento diferente do residente.

Desse modo, títulos denominados em moeda local, mas possuídos por não
residentes, seriam considerados dívida externa, e títulos denominados em moeda
estrangeira detidos por residentes seriam considerados dívida interna. Esse
segundo critério é o proposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para
divulgação das estatísticas de dívida dos países.

No que se refere aos contratos de financiamento, esses são usualmente


firmados com organismos multilaterais, tais como o Banco Mundial e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), com agências governamentais,
como o Japan Bank for International Cooperation (JIBC) e o Kreditanstalt für
Wiederaufbau (KfW), e com bancos privados.

Em relação à moeda na qual ocorrem seus fluxos de recebimento e pagamento,


a DPF também pode ser classificada como interna ou externa. Assim, quando os
pagamentos e recebimentos são realizados na moeda em circulação no país, no
caso brasileiro o real, a dívida é chamada de interna. Por sua vez, quando tais
fluxos financeiros ocorrem em moeda estrangeira, usualmente o dólar americano,
a dívida é classificada como externa.

62
Macroeconomia

Atualmente, toda a dívida pública federal em circulação no mercado brasileiro é


paga em real e captada por meio da emissão de títulos públicos, sendo por essa
razão definida como Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Já a DPF
existente no mercado internacional é paga em outras moedas que não o real
e tem sido captada tanto por meio da emissão de títulos quanto por contratos,
sendo por isso definida como Dívida Pública Federal externa (DPFe).

No Brasil, a responsabilidade sobre a administração de títulos públicos é dada


pelo Decreto n° 7.482/2011, sendo o Ministério da Fazenda o responsável
pela “administração das dívidas públicas doméstica e externa”. O referido
decreto define ainda o Tesouro Nacional como a área do Ministério da Fazenda
responsável por administrar as dívidas públicas mobiliária e contratual, interna e
externa, de responsabilidade direta e indireta do Tesouro Nacional.

A figura a seguir ilustra o fluxograma referente à estrutura de subordinação da


secretária adjunta da dívida pública.

Figura 3.1 – Subordinação da dívida pública

Presidência da
República

Ministério do Ministério da
Outros Ministérios
Planejamento Fazenda

Banco Central Secretaria da Secretaria do Outras


do Brasil Receita Federal Tesouro Nacional Secretarias

Secretaria
- Adjunta
Corporativa, Sistemas,
Contabilidade e Normas

Secretaria
- Adjunta de
Política Fiscal

Secretaria
- Adjunta da
Dívida Pública

Secretaria
- Adjunta de
estados e municípios
Fonte: Elaboração do autor (2014).

O Ministério da Fazenda é o órgão que na estrutura administrativa da República


Federativa do Brasil é ligado diretamente à Presidência da República conforme
demonstra a figura anterior, e que cuida basicamente da formulação e execução
da política econômica. Em seguida, subordinadas ao Ministério da Fazenda, estão

63
Capítulo 3

duas instituições importantes para a administração da dívida pública federal. A


primeira é a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e, a segunda, o Banco Central.

É importante destacar que a gestão da dívida pública federal está a cargo da


Secretaria do Tesouro Nacional, enquanto o Banco Central é o responsável pela
condução da política monetária. O Bacen efetua operações de compra e venda
de títulos da DPMFi exclusivamente para fins de execução da política monetária.
Essas operações são realizadas no mercado secundário – isto é, envolvem títulos
negociáveis já emitidos pelo Tesouro – e têm como contraparte as instituições
financeiras.

O § 1º do art. 164 da Constituição Federal estabelece que: “É vedado ao banco


central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a
qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira.” (BRASIL, 1988).
O § 2º do mesmo artigo, por sua vez, estabelece que “O banco central poderá
comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional com o objetivo de
regular a oferta de moeda ou a taxa de juros.” (BRASIL, 1988).

Já a Lei Complementar nº 101/2000, intitulada Lei de Responsabilidade Fiscal


(LRF), nos §§2º e 3º do art. 39 disciplina que “§ 2º O Banco Central do Brasil só
poderá comprar diretamente títulos emitidos pela União para refinanciar a dívida
mobiliária federal que estiver vencendo em sua carteira.” e “§ 3º A operação
mencionada no § 2º deverá ser realizada à taxa média e condições alcançadas no
dia, em leilão público.” (BRASIL, 2000).

Em síntese, o responsável pela emissão dos títulos públicos no Brasil é a


instituição Tesouro Nacional e quem negocia esses títulos com o mercado
financeiro é o Banco Central do Brasil. Os títulos públicos negociados com o
mercado financeiro pela autoridade monetária têm ligação direta com a política
monetária ou seja, o controle da quantidade de moeda em circulação.

64
Macroeconomia

Seção 2
Funções e tipos de títulos públicos federais
Os títulos públicos federais são instrumentos financeiros de renda fixa emitidos
pelo governo federal via oferta pública (leilão) ou diretamente ao detentor. Eles
podem ser classificados como títulos da dívida interna ou externa.

2.1 Títulos da dívida interna


A dívida interna é formada por um grande número de títulos do governo federal,
os quais são detalhados no Decreto nº 3.859/2001. Na sequência, destacamos os
principais títulos da dívida externa.

2.1.1 Letras do Tesouro Nacional


As Letras do Tesouro Nacional (LTN) são os títulos
Cupom de juros se
refere ao pagamento mais simples de precificação no mercado doméstico,
periódico de juros sobre visto que não pagam cupom de juros e apresentam
a dívida nominal do um único fluxo de principal na data de vencimento do
governo federal. Ou
seja, se dizemos que
título. Adicionalmente, é importante mencionar que o
o título vence com um valor unitário de principal a ser pago será sempre de R$
valor nominal de R$ 1.000,00, independentemente da data de emissão ou de
1.000,00 e paga juros
resgate do título.
semestrais de 3% ao
semestre, teremos
Quando é dito que um determinado título é prefixado isso
a cada semestre o
valor fixo de R$ 30,00, significa que ele possui rentabilidade definida no momento
esse valor periódico e da compra. A LTN possui fluxo de pagamento simples,
calculado sobre o valor ou seja, o investidor faz a aplicação e recebe o valor de
nominal do título é o
cupom de juros.
face (valor investido somado à rentabilidade), na data de
vencimento do título, conforme ilustra a figura a seguir:

Figura 3.2 – Fluxo de pagamentos da LTN


Resgate: R$ 1.000,00
Data da
compra

Valor do
investimento
Fonte: Elaboração do autor (2014).

65
Capítulo 3

Observamos nessa figura que, com o valor nominal estipulado em R$ 1.000,00, o


que determina a rentabilidade, ou seja o ganho com o título, é o valor de compra.
Quanto menor o valor do investimento maior será a rentabilidade ao longo do
tempo de investimento.

2.1.2 Notas do Tesouro Nacional série F


As Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) são títulos prefixados que pagam
cupons de juros (10% a.a.) semestrais, compostos, e apresentam um único
fluxo de principal na data de vencimento. Assim como as LTN, no vencimento o
principal pago será sempre de R$ 1.000,00, porém, diferentemente da LTN, seu
rendimento é repassado ao investidor ao longo do investimento por meio de
cupons semestrais de juros e na data de vencimento do título, quando do resgate
do valor de face (valor investido somado à rentabilidade) e pagamento do último
cupom de juros.

O fluxo de cupons semestrais de juros aumenta a liquidez, possibilitando


reinvestimentos, conforme mostra a seguinte figura.

Figura 3.3 – Fluxo de pagamentos das NTN-F


Resgate

Cupom de juros

Investimento

Fonte: Elaboração do autor (2014).

No caso do título público representado na figura anterior observamos os


cupons de juros sendo pagos ao longo do tempo de investimento. Para apurar
a rentabilidade de títulos com a presença de cupom utiliza-se o método da
Taxa Interna de Retorno (TIR). Considerando o investimento inicial, os fluxos
intermediários (cupons de juros) e o valor nominal ao fim do prazo, a TIR será a
taxa que representará a rentabilidade do título.

2.1.3 Notas do Tesouro Nacional séries B e C


As Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) são títulos que se subdividem em
principal e normal. As NTN-B classificadas como normal são títulos pós-fixados

66
Macroeconomia

que pagam cupons de juros semestrais e contam com o fluxo final de pagamento,
e as denominadas principal não contam com o cupom de juros semestral.
Ambas possuem correção pelo IPCA e, no vencimento, esses títulos pagam R$
1.000,00 mais a correção do indexador.

Cabe ressaltar que as NTN-B principal são títulos com rentabilidade vinculada à
variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acrescidos
dos juros definidos no momento da compra. Este título permite ao investidor obter
rentabilidade em termos reais, mantendo seu poder de compra ao se proteger de
flutuações do IPCA ao longo do investimento, sendo indicado para o investidor
que deseja fazer poupança de médio/longo prazos, inclusive para aposentadoria,
compra de casa própria e outros.

Além disso, normalmente as NTN-B principal são títulos que possuem prazo para
aplicação bem longa, que possui fluxo de pagamento simples, ou seja, o investidor
faz a aplicação e resgata o valor de face (valor investido somado à rentabilidade) na
data de vencimento do título. A próxima figura ilustra o referido fluxo.

Figura 3.4 – Fluxo de investimento das NTN-B principal

Data da compra Principal + rentabilidade

Valor investido Data de vencimento

Fonte: Elaboração do autor (2014).

O título representado nessa figura, além de proporcionar os rendimentos


periódicos (cupons de juros), fornece a rentabilidade baseada na inflação medida
pelo IPCA. Oferece, dessa forma, um rendimento real, independentemente do
valor da inflação ao longo do tempo.

Assim como as NTN-B principal, as NTN-B normal são títulos com rentabilidade
vinculada à variação do IPCA, acrescidos dos juros definidos no momento da
compra. Este título permite ao investidor obter rentabilidade em termos reais,
mantendo seu poder de compra ao se proteger de flutuações do IPCA durante a
aplicação. Seu rendimento é recebido pelo investidor ao longo do investimento,
por meio de cupons semestrais de juros, e na data de vencimento do título,
quando do resgate do valor de face (valor investido somado à rentabilidade) e
pagamento do último cupom de juros. A figura na sequência mostra o fluxo das
NTN-B principal.

67
Capítulo 3

Figura 3.5 – Fluxo de pagamentos das NTN-B principal

Cupom de juros
Data da compra Principal + rentabilidade

Valor investido Data de vencimento

Fonte: Elaboração do autor (2014).

E as Notas do Tesouro Nacional série C (NTN-C) são títulos pós-fixados que


pagam cupons de juros semestrais e apresentam um único fluxo de principal na
data de vencimento, de modo similar às NTN-F. Entretanto, os valores do principal
e dos juros são atualizados desde a data-base pelo indexador do respectivo
título, IPCA para as NTN-B e Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) para
as NTN-C. No vencimento, esses títulos pagam R$ 1.000,00, corrigidos pelo
indexador desde a data-base até a data de resgate.

É interessante ressaltar que as NTN-C são títulos com rentabilidade vinculada


à variação do IGP-M, acrescidos de juros definidos no momento da compra. O
rendimento da aplicação é recebido pelo investidor ao longo do investimento por
meio de cupons semestrais de juros e na data de vencimento do título, quando
do resgate do valor de face (valor investido somado à rentabilidade) e pagamento
do último cupom de juros, conforme mostra a figura a seguir.

Figura 3.6 – Fluxo de investimento das NTN-C

Cupom de juros
Data da compra Principal + rentabilidade

Valor investido Data de vencimento

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Essa figura demonstra o fluxo de pagamentos das NTN-C. Observamos, nesse


caso, os cupons de juros sendo pagos semestralmente e na data de vencimento
do título o valor nominal do título é resgatado pelo investidor, encerrando o fluxo
de pagamentos do governo.

68
Macroeconomia

2.1.4 Letra financeira do tesouro


A Letra Financeira do Tesouro (LFT) é um título pós-fixado cuja rentabilidade
segue a variação da taxa de juros básica da economia, a taxa Selic. Sua
remuneração é dada pela variação da taxa Selic diária registrada entre a data de
liquidação da compra e a data de vencimento do título, acrescida, se houver, de
ágio ou deságio no momento da compra. A LFT é indicada para o investidor que
deseja uma rentabilidade pós-fixada indexada à taxa de juros da economia (Selic).

Além disso, o valor de mercado da LFT apresenta baixa volatilidade, evitando


perdas no caso de venda antecipada. Mas também por isso sua rentabilidade
tende a ser mais baixa que a dos demais títulos. A LFT possui fluxo de
pagamento simples, ou seja, o investidor faz a aplicação e recebe o valor de face
(valor investido somado à rentabilidade) na data de vencimento do título.

Vale observar que as LFT possuem estrutura semelhante à das LTN, visto que
também não pagam cupom de juros e apresentam um único fluxo de principal na
data de vencimento do título. Entretanto, o valor do principal é atualizado pela taxa
Selic acumulada no período, ou seja, os R$ 1.000,00 pagos no vencimento são
corrigidos pelo indexador anteriormente indicado, desde a data-base até a data de
resgate. O fluxo de investimento da LFT é ilustrado por meio da seguinte figura.

Figura 3.7 – Fluxo de investimento da LFT

Valor de face: investimento +


correção (Selic)

Valor do
investimento
Fonte: Elaboração do autor (2014).

Diversos são os títulos públicos e as suas características. Portanto, o governo


federal tem à sua disposição uma gama de possibilidades para conduzir a política
econômica alterando a relação entre taxa de juros e compra e venda de títulos
públicos. Cada título se adéqua a um cenário econômico. A tabela a seguir
sintetiza as características dos títulos públicos atualmente negociados.

69
Capítulo 3

Tabela 3.1 – Títulos públicos da dívida interna

Características dos títulos da DPMi


Título Indexador Prazo de emissão Principal Juros Padrão de
contagem de dias

LTN Prefixado 6, 12 e 24 meses No vencimento Não há DU/252

NTN-F Prefixado 3, 5 e 10 anos No vencimento 10% a.a., pagos DU/252


semestralmente

NTN-B IPCA 3,5,10,10,30 e 40 No vencimento 6% a.a. pagos DU/252


anos semestralmente

LFT Selic 3 e 5 anos No vencimento Não há DU/252

Fonte: Elaboração do autor (2014).

Cada título público observado na tabela anterior apresenta características


próprias em relação ao indexador o prazo de vencimento e juros adicionais.
Por exemplo, a LFT apenas remunera a Selic sem juros adicionais, ou seja,
acompanhará a taxa básica de juros que o Banco Central determinar. No caso
das NTN-B, além da correção pelo IPCA, serão adicionados juros semestrais de
6% ao ano, dessa forma as NTN-B remuneram juros reais.

2.2 Títulos da dívida externa


A dívida externa brasileira atualmente contempla os chamados títulos globais,
ou Global Bonds, e os Euro Bonds. De acordo com o conceito utilizado para
classificação dos títulos da Dívida Pública Federal externa (DPFe), os globais
são títulos negociados no mercado norte-americano. Entretanto, sua moeda não
é, necessariamente, em dólar americano, assim o Tesouro Nacional pode emitir
títulos globais em reais. Já os títulos negociados no euromercado, os Euro Bonds,
são geralmente representados denominados em euros.

2.2.1 Global US$ bonds e BRL bonds


Os globais US$ bonds e BRL bonds são os principais títulos de financiamento
externo do Tesouro Nacional. Os globais (US$) são títulos emitidos no mercado
global, isto é, podem ser negociados em vários mercados e já fazem parte da
estratégia de atuação do Tesouro Nacional brasileiro há muitos anos. Já os
BRL, que são títulos prefixados em reais, foram emitidos pela primeira vez em
setembro de 2005, com o lançamento do BRL 2016. Desde então esses títulos
estão sendo emitidos regularmente. Vale notar que, pela definição anterior, os BRL
também são títulos globais.

70
Macroeconomia

Em relação ao pagamento de juros, ambos os títulos pagam cupons de juros


semestrais e apresentam um único fluxo de principal na data de vencimento, de
modo similar às NTN-F.

Euro bonds
Os euro bonds brasileiros (ou eurobônus) são títulos emitidos em euros, pagam
cupons de juros anuais e apresentam um único fluxo de principal na data de
vencimento. Por já serem emitidos em euros, não há atualização do valor nominal.
Em virtude de os títulos emitidos mais recentemente poderem também ser
negociados no mercado global, torna o euro bonds também títulos globais. Por
simplificação, são tratados simplesmente por euro bonds, a exemplo dos demais
nessa moeda.

A-Bond
O A-Bond foi emitido pelo Tesouro Nacional brasileiro
O termo Brady, ou
Bradies, no plural quando o Brady C-Bond foi recomprado por ele. Os
surgiu quando o títulos C-Bond possuíam uma opção embutida, call, que
Brasil emitiu cerca de dava direito ao emissor (no caso o Tesouro Nacional) de
US$ 50 bilhões de
títulos no processo de
recomprá-lo ao valor “ao par” a partir de 15 de setembro
renegociação da dívida de 2005.
externa elaborado por
Nicholas Brady, então No intuito de reduzir a grande parcela em dinheiro que
secretário do Tesouro deveria ser desembolsada no momento em que o Tesouro
norte-americano.
exercesse sua opção, decidiu-se realizar antecipadamente
uma operação de troca de parcela dos C-Bonds por
outros títulos com características semelhantes (os A-Bonds), porém mais longos
e sem opção de compra embutida. Os poucos investidores que optaram por não
participar da operação tiveram seus C-Bonds recomprados pelo Tesouro na data
de exercício da opção, em 15 de abril de 2006.

A tabela na sequência apresenta os títulos da dívida externa e suas principais


características.

71
Capítulo 3

Tabela 3.2 – Títulos da dívida externa

Descrição dos títulos da DPMe


Título Moeda de Prazos de Principal Juros Padrão de
contagem de
origem emissão dias

Global Dólar 10 e 30 No vencimento Varia de acordo com 30/360


americano anos o prazo

BRL Real 10, 15 e 20 No vencimento Varia de acordo com 30/360


anos o prazo

Euro Euro 10 anos No vencimento Varia de acordo com Dc/Dc


o prazo

A-Bond Dólar Vencimento Em 18 parcelas 8% a.a., pagos 30/360


americano em 2018 iguais semestralmente

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A tabela apresentada fornece dados sobre os títulos brasileiros negociados no


exterior. Uma característica desses títulos em comparação com os da dívida
interna é a possibilidade de rentabilidade em dólar, euro e reais. Ou seja, os
investidores externos podem escolher a sua remuneração entre os títulos.

2.2.2 Precificação de títulos


Podemos dizer que precificar, na linguagem do mercado financeiro, é colocar
preço nos títulos públicos ou privados que são negociados entre credores e
tomadores de recursos. No caso dos títulos públicos, observando que todos
possuem fluxos futuros de recebimento, seja através do valor nominal ou dos
cupons de juros, precificar é a forma de trazer a valor presente esses fluxos de
caixa futuros. Para entender como funciona a forma de cálculo da precificação
seguem exemplos dos títulos públicos da dívida interna.

Precificação das Letras do Tesouro Nacional


As LTNs são conhecidas pelo termo zero coupon bonds (sem pagamento
de cupom de juros) ou discount bonds (bônus de desconto). Para obter a
rentabilidade ao investir neste título e o valor referencial de caixa que o governo
vai obter, devemos proceder com o deságio do valor nominal do título, conforme
ilustra a figura a seguir.

72
Macroeconomia

Figura 3.8 – Cálculo do preço de uma LTN

Valor nominal= R$ 1.000

Taxa de juros efetiva para o período (i p)

Dias úteis (DU)

Preço unitário
(PU)

Fonte: Elaboração do autor (2014).

A figura anterior ilustra a forma de cálculo de uma LTN. Ela sempre terá o valor
presente inferior ao valor final fixado pelo governo em R$ 1.000,00. A diferença
entre o valor presente do título, ou seja o investimento, será o juro da operação.

A equação a seguir expressa a precificação da LTN:

Valor Nominal
PU =
(1+ i p )

Em que:

PU = Preço unitário

Valor nominal = R$ 1.000,00 (caso da LTN)

Ip = Taxa de juros efetiva

Como exemplo de precificação da LTN vamos supor a seguinte operação, na


qual tenhamos que encontrar o valor que deve ser investido em uma LTN que tem
valor nominal de R$ 1.000,00 e com taxa efetiva de 11,25%. Vejamos:

Nessa operação, ao investir R$ 898,88 na LTN o investidor estará sendo


remunerado à taxa de 11,25% ao período em termos de taxa efetiva.

Precificação da Nota do Tesouro Nacional – F


As NTN-F pagam cupom de juros semestral, cujas datas de pagamento dos
cupons podem ser verificadas contando-se seis meses retroativamente à data de
vencimento do título ou do último cupom de juros determinado. Adicionalmente,
o valor do cupom de juros é fixo, mesmo que o primeiro pagamento de cupom
ocorra com menos de seis meses da data de emissão do título.

73
Capítulo 3

As NTN-F, assim como as NTN-B, podem ser adquiridas com ágio ou


deságio nos mercados primário e secundário, a depender do cupom de
juros do título e do nível de rendimento desejado pelo investidor.

Cabe destacar que as NTN, por serem um título com fluxo de juros, podem ser
precificadas por uma única taxa (TIR) ou por taxas de desconto específicas
para cada prazo. O resultado, conforme já mencionado, é o mesmo,
independentemente do critério adotado. Em geral, esse título é calculado tendo
como referência uma curva de mercado.

O cálculo dos valores dos cupons de juros é feito de forma exponencial, ou seja,
o valor do cupom mostra a próxima equação:

Em que:

Cs = Cupom semestral

Ca = Cupom anual

A próxima figura mostra a estrutura de uma NTN.

Figura 3.9 – Estrutura de pagamentos de uma NTN

C4 + VN
C1 C2 C3

PU
Fonte: Elaboração do autor (2014).

Conforme estudamos, os títulos públicos, tanto internos como externos, são


fundamentais para a condução da política econômica. Para a política fiscal eles
possuem a função de conseguir recursos para o governo quando a quantidade
de obrigações supera a arrecadação de impostos e ocorre o déficit fiscal. No
entanto, há uma ligação estreita entre a política monetária e os títulos públicos
que veremos a seguir.

74
Macroeconomia

2.3 A dívida pública federal e a política monetária


A Secretaria do Tesouro Nacional faz a gestão da dívida pública federal enquanto
o Banco Central é o responsável pela execução da política monetária. O Bacen
efetua operações de compra e venda de títulos da DPMFi exclusivamente para
fins de execução da política monetária.

As operações efetuadas pelo Bacen com títulos públicos federais ocorrem


no mercado secundário, isto é, envolvem títulos negociáveis já emitidos pelo
Tesouro Nacional e apenas podem ser executados com instituições financeiras. A
Constituição Federal (CF) de 1988, nos §§ 1º e 2º do art. 164, estabelece que:

§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente,


empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade
que não seja instituição financeira.
§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão
do Tesouro Nacional com o objetivo de regular a oferta de moeda
ou a taxa de juros. (BRASIL, 1998).

Podemos observar que, além das vedações efetuadas pela Constituição Federal,
o Bacen, como autarquia do governo, ainda está sujeito às restrições da Lei de
Responsabilidade Fiscal.

A disposição legal quanto as mencionadas operações diz respeito à Lei


Complementar nº 101/2000, intitulada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que
nos §§ 2º e 3º do art. 39 dispõe:

§ 2º O Banco Central do Brasil só poderá comprar diretamente


títulos emitidos pela União para refinanciar a dívida mobiliária
federal que estiver vencendo em sua carteira.
§ 3º A operação mencionada no § 2º deverá ser realizada à taxa
média e condições alcançadas no dia, em leilão público. (BRASIL,
2000).

Frente a essas disposições legais o Bacen executa a política monetária através


dos títulos da DPMFi em operações compromissadas que são operações de
compra ou venda de títulos com compromisso de revenda ou recompra dos
mesmos em data futura. Se o Banco Central atuar como parte vendedora nessas
operações estará enxugando a liquidez da economia e, quando atuar na parte
compradora, aumentará a liquidez.

Vale lembrar que essas operações afetam apenas temporariamente a liquidez do


sistema financeiro, somente no período compreendido entre a data da operação
até a data de revenda ou recompra. O Bacen executa também as operações
definitivas que são operações de compra ou venda final de títulos, sem
compromisso de revenda ou recompra.

75
Capítulo 4

Aspectos internacionais1

Habilidades Neste estudo você desenvolverá a habilidade


de identificar o funcionamento de importantes
organismos internacionais de apoio
macroeconômico. Desenvolverá ainda a habilidade
de analisar a atuação do Fundo Monetário
Internacional, da Organização Mundial do Comércio
e o Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e
Comércio e também do Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento.

Seções de estudo Seção 1: Organismos internacionais

Seção 2: Atuação conjunta dos órgãos


internacionais

77
Capítulo 4

Seção 1
Organismos internacionais
Existem três principais instituições econômicas internacionais de caráter
universal: o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e o Acordo
Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT) / Organização Mundial do
Comércio (OMC).

1.1 Histórico de formação das instituições econômicas


universais
Os três organismos econômicos internacionais se originaram no planejamento
de guerra para um futuro econômico melhor, embora o GATT tenha sido criado
depois do FMI e o Banco Mundial, após a planejada Organização Internacional do
Comércio (OIC), que não conseguiu entrar em vigor.

O planejamento dessas instituições teve início no contexto do enfraquecimento


das políticas econômicas da década de 1930, e também em um planejamento
audacioso, que levou à criação da superinstituição de política universal, a
Organização das Nações Unidas (ONU).

A abordagem quanto ao contexto histórico dessas instituições é


relativamente rápida em função da velocidade com que elas foram criadas,
as quais são baseadas no fato de que uma prosperidade mundial depende
da integração inseparável das economias nacional e internacional.

Tal prosperidade condiz com os fins dessas instituições que têm alcance universal,
com uma adesão crescente refletindo os interesses comuns entre os Estados e,
consequentemente, o crescimento da comunidade entre eles. Essas instituições
representam, no conjunto, uma força poderosa de atração, que levou a uma
diminuição do número de não membros.

As instituições econômicas universais coexistem com organizações econômicas


internacionais de caráter regionais que podem ser mais limitadas, mais ou menos
padronizadas ou têm sobreposições de funções relacionadas. Como exemplo
podemos citar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), a Comunidade Europeia (CE), o Banco de Compensações Internacionais
(BIS), os bancos de desenvolvimento regionais, e na órbita distinta em torno
da União Soviética, o Conselho de Assistência Econômica Mútua (CAEM). Elas
fogem do escopo deste trabalho e não serão abordadas. Vamos estudar somente
as três principais instituições econômicas universais, o FMI, o Banco Mundial,

78
Macroeconomia

e o GATT, as quais possuem, a bem dizer, o propósito único de promover a


prosperidade nacional e internacional.

Podemos caracterizar cada atividade histórica dessas instituições da seguinte forma:

•• FMI: promover um sistema monetário internacional estável e aberto,


o crescimento econômico;
•• Banco Mundial: por meio da reconstrução do pós-guerra, fomentar
o desenvolvimento através do investimento produtivo;
•• GATT: pratica esforços para o estabelecimento de um sistema de
comércio internacional aberto.

No contexto histórico, se as instituições criadas conseguissem a prosperidade,


a paz seria alcançada por meio da cooperação de política institucionalizada na
ONU. Entretanto, a realidade do pós-guerra não foi gentil com o grande projeto
de prosperidade, pois ocorreram muitas dificuldades ao longo da estruturação
dessas instituições internacionais e ainda hoje estão sendo promovidas outras.

Em retrospecto, é fácil verificar que os conflitos imprevistos, as falhas de


projeto, as imperfeições de execução e as demais questões envolvidas são, na
perspectiva da história, muito controversas. Vale observar que as principais
instituições econômicas universais ainda se fazem presentes e atuantes em
nosso dia a dia, e que suas atividades financeiras são de extrema importância
para o desenvolvimento da economia mundial.

1.2 Funções básicas e regime de tomada de decisão

1.2.1 FMI
O FMI pode ser considerado a peça central do sistema monetário
internacional. Como um paradoxo interessante de se compreender, a própria
noção de que existe tal instituição como um sistema monetário internacional não
se desenvolveu até quase duas décadas após a criação do Fundo, em 22 de julho
de 1944, em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos.

Atualmente, o FMI tem como objetivo básico zelar pela estabilidade do


sistema monetário internacional, por meio da promoção da cooperação e
da consulta de assuntos monetários entre os seus 188 países membros,
sendo que todos os membros da ONU fazem parte do FMI.

É importante observar que os problemas financeiros de desenvolvimento


econômico das últimas décadas desviaram a atenção de sua missão básica,

79
Capítulo 4

uma vez que as funções do FMI não estão definitivamente limitadas aos Estados
Nacionais em desenvolvimento. De acordo com Stiglitz (2002, p. 194),

à medida que as pessoas começaram a olhar para o que sucedia


no FMI e no Banco Mundial e para os fracassos da regulação dos
mercados financeiros globais, houve um amplo reconhecimento
de que algo não havia dado certo.

Os problemas do mercado privado, principalmente o financeiro, passam assim


a fazer parte das preocupações do FMI. Juntamente com o Banco Internacional
para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o FMI foi criado a partir
das Conferências de Bretton Woods como um dos pilares da ordem econômica
internacional do pós-guerra, e também para evitar que erros de políticas
econômicas, como as observadas na grande depressão de 1929, se repetissem. 

A função básica do FMI é evitar que o desequilíbrio no balanço de pagamentos e


no sistema cambial dos países-membros possa prejudicar a expansão do
comércio e dos fluxos de capitais internacionais. Dessa forma, o FMI facilita a
progressiva eliminação das restrições cambiais nos países-membros e concede
recursos financeiros de curto prazo para evitar ou amenizar o desequilíbrio no
balanço de pagamentos. Além disso, o órgão atua como consultor para os países
que integram programas de ajustes estruturais, e ainda representa uma
combinação única de funções de assistência consultiva, normativa, financeira e
técnica em nível intergovernamental para países tanto industrializados como em
desenvolvimento.

Stand-by agreement: Como é apropriado para o desempenho dessas funções,


Acordo de crédito o FMI tem desenvolvido uma forma de atuação única: a
contingente ou
acordo stand-by – é a
condicionalidade política em relação ao ajuste do balanço
política mais comum de pagamentos e seu financiamento; stand-by agreement
de empréstimos do (SBA) e arranjos similares, manutenção de valor
FMI. É utilizada desde
depositado em termos de direitos de especiais de saque
1952 em países com
problemas de curto (DES ou SDR), em inglês Special Drawing Rights ou SDRs),
prazo na balança de e garantia de DES como uma questão fiduciária
pagamentos. Essa internacional para complementar a liquidez global oficial.
política envolve apenas
o financiamento direto Como é apropriado a uma instituição financeira, o FMI
de 12 a 18 meses.
O prazo de pagamento
é autossustentável quanto às despesas administrativas,
vai de três a cinco no sentido de não depender de contribuições anuais ou
anos. São cobrados taxas sobre os seus membros (como a ONU); e, conforme
juros fixos de 2,22%
o caso, atua como uma instituição intergovernamental
mais uma taxa variável
que pode chegar a 2%. independente, que tem o poder de autointerpretação de
seu ato constitutivo.

80
Macroeconomia

A combinação desses dois atributos fornece apoio institucional importante para


a independência operacional. Adaptações institucionais ao longo da história do
Fundo têm sido aplicadas por meio de emendas dos artigos do estatuto do FMI
e elas são importantes para atualizar a atuação do Fundo e atendem a algumas
demandas dos membros. Como destaca Portugal (2012, p. 19), se considerarmos
a necessidade de mudanças constantes podemos perceber a iminência de um
Bretton Woods II, referenciando o primeiro acordo de 1944. Ou seja, há sempre
mudanças na atuação do Fundo como deve ser em um ambiente econômico-
financeiro dinâmico.

Deixando de utilizar o ouro como padrão, foi estabelecido o DES, em 1969,


sujeito a um código de comportamento sob vigilância do Fundo, em que a total
desvinculação do padrão ouro ocorreu em 1978, desde então como o ativo
financeiro ou moeda. Por enquanto, a organização monetária do Fundo em
termos de uma cesta de moedas, como o DES, ainda atende as necessidades
operacionais, no entanto, novas formas de monetização do Fundo podem surgir.

O DES funciona apenas entre bancos centrais e também pode ser trocado


por moeda corrente com o aval do FMI. O valor de um DES é determinado
pela variação média da taxa de câmbio dos cinco maiores exportadores
do mundo: França (euro), Alemanha (euro), Japão (iene), Reino Unido (libra
esterlina) e Estados Unidos (dólar estadunidense).

A tomada de decisão das ações do FMI é feita por meio do sistema de cotas, ou
seja, cada país-membro detém no Fundo uma quantidade de cotas a ser baseada
em indicadores econômicos daquele membro, como, por exemplo, o PIB.
Nesse sentido, quanto maior a contribuição ao FMI, maior é o peso do voto nas
decisões.

Vale ressaltar que o FMI pode propor um aumento nas cotas de determinado
país, contudo, é necessária a aprovação por 85% dos votos para qualquer
modificação. Os membros que queiram aumentar sua cota devem pagar ao
Fundo a mesma quantia em DES correspondente ao aumento. Os cinco maiores
acionistas são: Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Reino Unido.

Essa quantidade de cotas atribuídas aos membros é a base não só para


a tomada de decisão interna e administrativa do FMI, mas também para a
ajuda financeira propriamente dita como o acesso aos recursos financeiros, o
financiamento que não seja por meio de empréstimos, e as alocações de DES e
as obrigações de aceitação. A tabela a seguir mostra a relação de países com
maior quantidade de cotas no FMI.

81
Capítulo 4

Tabela 4.1 – Países com maior quantidade de cotas no FMI

Fonte: FMI (2014).

Observamos nessa tabela que o país com maior participação é os Estados


Unidos, com 17,69% do total de votos, seguido pelo Japão em segundo e
Alemanha, em terceiro. O Brasil ocupa a décima sétima posição com 1,79% do
total de DES. No entanto, o sistema de tomada de decisão não é tão simples,
como a forma de votos ponderados pode sugerir.

A maioria das decisões nas reuniões do FMI é tomada por colegiado, e não
por meio de votação em si. Este procedimento promove consenso, tendo
em conta o poder de voto subjacente dos membros. Ou seja, os países
podem se juntar no sentido de aprovar ou negar uma questão. No entanto,
a fim de proteger os interesses da minoria, e por membros que tenham
algum interesse específico, várias técnicas foram sobrepostas à votação
ponderada.

Além do processo de tomada de decisões, como tal, novas medidas de


salvaguarda foram criadas pela adesão ao princípio altamente desenvolvido de
uniformidade nas decisões de políticas que exige o tratamento uniforme dos
membros para que a política se aplique.

Em suma, a estrutura legal do FMI representa um quadro flexível de regras


constitucionais, com garantias, além da política e discrição operacional
apresentado na instituição para permitir a evolução tanto por meio de criação de
regras e de tomada de decisões de improvisação caso a caso. Essa discrição
é particularmente importante em períodos de rápidas mudanças na economia

82
Macroeconomia

internacional, com os inerentes problemas de ajustamento e de financiamento,


como o problema das dívidas dos países emergentes desde 1982.

1.2.2 Banco Mundial


O Banco Mundial é a instituição central para a promoção do desenvolvimento
econômico. É a principal fonte de financiamento para o investimento produtivo
para os países que ainda não atingiram o estágio de desenvolvimento econômico
em que sejam capazes de gerar poupança interna suficiente para investimento ou
obter financiamento externo necessário em termos comerciais. A sua missão é,
assim, diferente do FMI.

O termo “Banco Mundial” refere-se apenas ao Banco Internacional


para Reconstrução e Desenvolvimento e à Associação Internacional de
Desenvolvimento (IDA). O termo “Grupo Banco Mundial” incorpora cinco
entidades estreitamente associadas que trabalham em colaboração para
a redução da pobreza: o Banco Mundial (BIRD e a IDA), e três outras
agências, o International Finance Corporation (IFC), a Agência Multilateral
de Garantia de Investimentos (MIGA), e do Centro Internacional para
Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (ICSID). Informações sobre
o papel detalhado de cada instituição poderão ser obtidas no portal do
Grupo Banco Mundial.

A atuação do Banco Mundial é mais ampla que a do FMI, no sentido em que o


desenvolvimento econômico de um determinado país é uma tarefa complexa,
ao contrário do ajuste do balanço de pagamentos, que trata dos distúrbios
temporários nas relações econômicas de um país com o resto do mundo.

No entanto, sua atuação em relação ao FMI se diferencia uma vez que se


os países são capazes de gerar poupança ou atrair fluxos de capitais sem a
necessidade de assistência do Banco e não necessitam ficar a ele ligados
como ao FMI. Embora o Banco Mundial tenha o propósito de contribuir para o
desenvolvimento econômico dos referidos países, estes podem experimentar um
desequilíbrio ocasional de pagamentos e outros problemas que podem levá-los a
solicitar assistência do FMI.

Cabe destacar que o Banco Mundial é a instituição central para o financiamento


do desenvolvimento, não apenas como uma questão de tamanho relativo, mas
também porque é modelo para outros bancos de desenvolvimento multilateral em
características, funções, políticas e procedimentos.

Ele é uma instituição altamente eficiente para a intermediação financeira porque,


ao contrário do FMI, que obtém seu financiamento de fontes oficiais, até o
momento, a estrutura financeira do Banco Mundial é substancialmente financiada

83
Capítulo 4

pelo mercado. Nesse sentido, o próprio Banco financia, assim, por meio de
empréstimos nos mercados de capitais internacionais, as operações financeiras
dos solicitantes.

As modalidades de decisão no Banco Mundial são semelhantes, em linhas gerais,


a do FMI, refletindo a filiação e presença comum; contudo, existem diferenças
de procedimento e prática. Essas diferenças devem-se à cultura institucional
do Banco de orientação do projeto, que até recentemente era a norma em suas
operações, e financiamento de mercado em relação à cultura de empréstimos
baseados em políticas e financiamento oficial do Fundo. É válido observar que
cada membro do Banco Mundial deve ser também membro do FMI.

No Banco Mundial existem suportes semelhantes ao FMI para a independência


operacional, através do autofinanciamento para as despesas administrativas.
Curiosamente, no entanto, adaptações institucionais para o Banco ocorreram
em sua maior parte a partir da criação de entidades juridicamente distintas
como afiliados, os membros do Grupo do Banco Mundial, em vez de estruturas
financeiras dentro da própria instituição, como é o caso do FMI. Este processo
pode ser visto em certa medida, para refletir, por um lado, a interação entre o
financiamento baseado no mercado e aqueles de recursos oficiais.

Como, por exemplo, em um financiamento baseado no mercado temos a


Corporação Financeira Internacional (IFC – sigla para International Finance
Corporation), que é a instituição membro do Grupo Banco Mundial voltada para
o fortalecimento do setor privado nos países em desenvolvimento com vista
a combater a pobreza. Para isso, financia investimentos, mobiliza capitais nos
mercados financeiros e presta serviços de assessoria a empresas e governos.

Assim, o IFC foi criado em 1956 para apoiar o desenvolvimento econômico dos
países em desenvolvimento, promovendo o crescimento do setor privado de suas
economias, e ajudando a mobilizar o capital nacional e estrangeiro, onde o capital
privado exerce um papel fundamental no financiamento ao desenvolvimento
desses países.

A IFC possui 184 países-membros que conjuntamente determinam as políticas


da organização, sendo que suas prioridades estratégicas consistem em fortalecer
o enfoque nos mercados fronteiriços; abordar a mudança climática e assegurar
a sustentabilidade; abordar as restrições ao crescimento do setor privado
em infraestrutura, saúde, educação e na cadeia de suprimentos alimentares;
desenvolver mercados financeiros locais, e criar relacionamentos de longo prazo
com clientes de mercados emergentes.

Com relação aos demais membros do Grupo Banco Mundial, a Associação


Internacional de Desenvolvimento (IDA) conta com os recursos oficiais subscritos

84
Macroeconomia

de países mais ricos para emprestar aos países-membros mais pobres com
termos bem estabelecidos.

ICSID é uma instituição internacional autônoma estabelecida sob a Convenção


para a Resolução de Disputas sobre Investimentos entre Estados e nacionais
de outros Estados (o ICSID ou a Convenção de Washington), com mais de 140
Estados-membros. A Convenção estabelece o mandato, a organização e as
principais funções do ICSID. O objetivo principal do ICSID é proporcionar os
meios de conciliação e arbitragem de disputas internacionais de investimento.
Outro membro importante do Grupo Banco Mundial é o Multilateral Investment
Guarantee Agency (MIGA). Sua missão é promover o Investimento Estrangeiro
Direto (IED) nos países em desenvolvimento para ajudar a apoiar o crescimento
econômico, reduzir a pobreza e melhorar a vida das pessoas.

1.2.3 Acordo geral sobre pautas aduaneiras e comércio e Organização Mundial


do Comércio
Embora o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement on
Tariffs and Trade, GATT) tivesse origem no mesmo contexto e período histórico
que o FMI e o Banco Mundial, os seus primórdios já eram prenunciados pelas
dificuldades do cenário econômico internacional vistas à frente. O planejamento
inicial era estabelecer uma organização mundial de comércio OMC para aplicar
as disposições abrangentes sobre as políticas comerciais estabelecidas na Carta
de Havana, de 1948, porém sem êxito. Embora a OMC não viesse, assim, a existir,
algumas das disposições da Carta de Havana foram acordadas em 1947 durante
as negociações tarifárias multilaterais.

O GATT foi transformado, em 1995, na Organização Mundial do Comércio


(OMC), que é um fórum permanente para negociar regras multilaterais para
o comércio internacional.

Organização Mundial do Comércio


A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada para organizar os conflitos
e lidar com as complexas regras de comércio exterior dos diversos países.
Portanto, atua em escala global. Além das antigas regras do GATT, a estrutura
legal da OMC recebeu novas regras e diferentes formas de atuação. Hoje, a
OMC atua conforme regras estabelecidas pelos seus membros e dentro de suas
atribuições ainda possuem poder jurídico internacional.

A maior parte das atuações da OMC foi criada a partir da Rodada do Uruguai,
iniciada em setembro de 1986 e durou até abril de 1994. Baseada no encontro

85
Capítulo 4

ministerial de Genebra do GATT (1982), foi lançada em Punta del Este, no Uruguai,


seguido por negociações em Montreal, Genebra, Bruxelas, Washington e Tóquio.

A principal função da OMC é facilitar a implantação, a administração, a operação,


bem como levar adiante os objetivos dos acordos da Rodada do Uruguai e das
demais reuniões realizadas depois desta.

Seção 2
Atuação conjunta dos órgãos internacionais
As relações formais e operacionais entre as instituições econômicas
internacionais são amplamente baseadas no reconhecimento de que cada
instituição pode promover os seus propósitos de forma eficaz, desde que sejam
promovidos de forma sinergia com os efeitos das outras instituições. Esse
reconhecimento se reflete não só nas relações orgânicas entre eles, as quais
foram estabelecidas no início, mas também nas relações operacionais que dão
substância a reafirmações de uma estreita cooperação.

Na verdade, o que é notável sobre essas relações é a forma como as instituições


universais assumiram a liderança nas funções que eles consideram necessárias,
a fim de cumprir seus próprios fins, mesmo em certas circunstâncias em que as
funções, sem dúvida, pertenceriam a outra instituição.

Três exemplos da liderança das instituições: a interpretação inicial do Convênio


Constitutivo do Banco Mundial, que clarificou a sua autoridade para emprestar
recursos para a estabilização do balanço de pagamento; a condicionalidade relativa
à política comercial, tanto pelo Banco Mundial como pelo FMI; empréstimos de
ajuste estrutural pelo Banco e, mais recentemente, adotado também pelo Fundo, a
fim de promover políticas de desenvolvimento econômico.

Os esforços para lidar com o problema dívida contraída pelos participantes, tanto
pelo Banco Mundial quanto pelo FMI reforçam que, apesar de independentes,
esses órgãos atuam em conjunto cujos objetivos parecem únicos. Essas
considerações levam ao tema da coordenação entre essas instituições, a
oportunidade para que evoluíssem a partir da necessidade de reforçar a sua
eficácia e também para aprender a lidar com problemas comuns.

86
Macroeconomia

2.1 Ligações orgânicas entre as instituições de apoio


internacional
A associação ao FMI é o princípio básico, com base na importância central
de uma ordem monetária cooperativa e estável para relações econômicas
internacionais. O relacionamento mais próximo dessas instituições é entre o FMI
e o Banco Mundial em que os recursos do Banco estão disponíveis apenas para
financiar membros do Fundo.

A relação com o GATT/OMC é novamente centrada sobre o FMI, embora com


menos rigidez: signatários do GATT devem ser membros do Fundo ou devem
fazer acordos com o GATT com base nos princípios do código de conduta do
Fundo para as políticas de câmbio.

Além disso, as atuações da OMC/GATT são importantes para auxiliar nas


decisões do FMI. Como exemplo, se as reservas cambiais de determinado
membro estão baixas, ou seja, o país está vulnerável a especulações financeiras
pela saída de capital do país, em tal situação o FMI poderia de imediato liberar
recursos. No entanto, medidas de comércio exterior como alterações das regras
aduaneiras, quebras de barreiras entre outras que estão no âmbito da OMC/GATT
poderiam ser efetivas, diminuindo o acesso aos recursos do FMI.

2.2 Ligações operacionais entre as instituições de apoio


internacional
Políticas macroeconômicas sólidas incluem aquelas adequadas para ajuste do
balanço de pagamentos e o financiamento deste. Essas políticas, em muitos
casos, para que tenham sucesso, devem promover o crescimento econômico.
Por sua vez, a formulação de políticas de desenvolvimento e de investimento,
e da implementação de políticas microeconômicas e também de projetos de
investimento requerem um ambiente de apoio de políticas macroeconômicas
sólidas.

As perspectivas para liberalização do comércio entre países dependem de


um equilíbrio adequado do ajuste de pagamentos internacionais e políticas
de investimento; assim, sem políticas comerciais voltadas para o mercado
externo, a economia pode não crescer de forma satisfatória.

Em virtude dessa relação é que as políticas econômicas promovidas pelas


instituições econômicas internacionais são complementares, criando com isso
uma matriz operacional para suas atividades. Vale observar que, além dessas
ligações entre si, as referidas instituições absorvem a experiência das relações
existentes em outras entidades.

87
Capítulo 4

Baker 1985: Em 1985, Essas interações resultantes formaram uma rede


James Addison Baker, técnica e jurídica, complexa de relações econômicas e
então secretário do
tesouro estadunidense,
financeiras, construída com base na importância central
elaborou um plano de promover e apoiar as políticas econômicas nacionais
para conceder de desenvolvimento econômico. Um exemplo dessas
novos empréstimos
relações é a iniciativa Baker 1985 para ajudar a lidar
aos países, com
dificuldades de fechar com os problemas da dívida externa dos países em
os seus balanços dificuldades com seus balanços de pagamentos, unindo
de pagamentos, todas as forças e promovendo um programa para o
condicionados às
crescimento sustentado.
regras de mercado
e seguindo a cartilha
definida pelo FMI como
Essas relações podem ser melhor entendidas quando
a implantação de vistas a partir de diferentes perspectivas, conforme as
reformas estruturais, apresentadas na sequência.
como: privatizações,
abertura do comércio
exterior e liberalização
de investimentos.

2.2.1 A perspectiva do fundo


Do ponto de vista do FMI, as políticas de ajuste do balanço de pagamentos são
abrangentes, cobrindo tanto as políticas internas quanto externas. As razões para
isso incluem o fato de que ambas políticas afetam as transações internacionais,
e refletem o âmbito do balanço de pagamentos como a conta de todas as
transações internacionais de um país. Esta perspectiva reflete-se nas obrigações
gerais dos membros do FMI em relação a acordos de intercâmbio.

Elas também são refletidas no art. I, § V, dos artigos do Fundo de Acordo, lidando
com os propósitos do FMI, que se baseiam no reconhecimento de que não é
possível haver várias formas de corrigir desajustes na balança de pagamentos
de um país uma vez que alguns dos métodos, tais como restrições de câmbio,
podem ser destrutivos para a prosperidade internacional, e, portanto, sua
prevenção justifica a ampliação do apoio financeiro oficial internacional.

Esses princípios são fundamentais para a compreensão de como o FMI tem


desenvolvido as suas políticas financeiras. Cabe destacar que o Fundo é uma
complexa instituição financeira que atende às necessidades de seus membros
de várias maneiras. Assim, políticas financeiras e acordos discutidos aqui não
esgotam as técnicas financeiras do FMI.

Com relação aos princípios do Fundo, eles ajudam a esclarecer o âmbito das
políticas que normalmente são cobertas pelos programas econômicos dos
membros apoiados por recursos do Fundo através de acordos stand-by e
ampliados, e como esses arranjos tornaram-se a técnica financeira básica e mais
eficaz do Fundo.

88
Macroeconomia

O escopo das políticas das instituições econômicas internacionais pode


ser visto por meio de critérios de desempenho que normalmente incluem
um limite de crédito interno, com sublimite de crédito do setor público;
financiamento externo, e da taxa de câmbio e sistema de intercâmbio de
políticas, incluindo a eliminação de pagamentos em atraso, caso existam.

Outras políticas podem incluir políticas de taxas de juros e medidas fiscais


para aumentar a receita, a redução dos gastos governamentais, eliminação de
subsídios, e melhorias no desempenho financeiro das empresas estatais.

Cabe ressaltar que uma técnica global semelhante para o apoio a política
econômica internacional é uma variante desses acordos, o arranjo de ajustamento
estrutural, que fornece recursos para os membros em desenvolvimento de
baixa renda em condições favoráveis ao abrigo do mecanismo de ajustamento
estrutural do FMI.

2.2.2 Perspectiva do Banco Mundial


Do ponto de vista do Banco Mundial, o objetivo fundamental estabelecido
nos propósitos do Banco é incentivar o desenvolvimento econômico, facilitar
o investimento para fins produtivos. Até 1980, a ênfase do Banco na busca
deste objetivo foi em empréstimos para projetos a partir de suas atividades
financeiras, e que continua a representar até hoje a maior parte das atividades
da Instituição. Todo projeto de empréstimo é um processo que requer um
ambiente político favorável. Isso leva à ampliação do interesse dos projetos
para os setores econômicos, desde que os projetos se encaixem. O interesse
setorial, em seguida, amplia a participação nas reformas estruturais que possam
ser necessárias para atingir o ambiente político desejável para ambos os projetos
específicos e os setores relevantes da economia.

A ampla linha de empréstimos e auxílios do Banco Mundial mobiliza recursos


internos por meio de uma variedade de políticas. Estas incluem monetárias, de
crédito e fiscais (tais como levantamento de fundos e as medidas de limitação de
despesas, limitação do endividamento externo, e descontrole das taxas de juro);
melhoria do ambiente regulatório e a eficiência da alocação de recursos e uso pelo
setor público (incluindo alienação, se for caso disso, de participações públicas, e
a alocação de recursos como entre investimento e custeio); e reforma da estrutura
de incentivos para promover alocação eficiente de recursos (como a reforma
do comércio de reduzir o viés contra as exportações, o nível de racionalização
de proteção de preços e reformas para alinhar os incentivos em áreas como a
agricultura, a distribuição da produção, energia e preços empresa estatal).

89
Capítulo 4

Nesse sentido, é necessidade do Banco Mundial promover um ambiente


macroeconômico sólido bem como políticas de desenvolvimento adequadas que
levarão ao crescimento das relações operacionais com as demais instituições
econômicas que têm lidado com estas políticas, como parte de suas funções.

2.2.3 A perspectiva do GATT/OMC


Da perspectiva do GATT/OMC, destacam-se as interações entre as três
instituições de assumir várias formas, além de conclusões e determinações já
referidas do FMI. Ademais, as atividades de consulta e financiamento do FMI não
estão limitadas à sua competência regulamentar.

Assim, o FMI consulta regularmente os seus membros sobre as suas políticas


econômicas gerais. As consultas cobrem as políticas comerciais, e o FMI dá
conselhos sobre essas políticas. As políticas comerciais também são abordadas
em programas econômicos dos membros e apoiados por recursos do FMI,
normalmente tanto do ponto de vista das políticas de ajuste macroeconômico
e estruturais quanto no entendimento de que as políticas restritivas nos
pagamentos e áreas comerciais são substitutos entre si. A política comercial é
também um aspecto importante das políticas de ajustamento estrutural e setorial
apoiados pelo Banco Mundial.

2.2.4 Coordenação entre as instituições


A promoção dos objetivos do FMI, do Banco Mundial e do GATT leva a uma
necessidade, não só de uma estreita cooperação e as interações operacionais,
mas o que é mais importante: a uma necessidade de coordenação. A
coordenação é desejável, no mínimo, para evitar políticas conflitantes, mais
afirmativamente, é uma busca de complementaridade. Isto é, realizado com
o desejo de evitar a abdicação do poder de decisão independente por cada
instituição, muitas vezes referida como “condicionalidade cruzada”, que é uma
questão particularmente relevante para as instituições financeiras.

90
Considerações Finais

Caro(a) estudante

A Unidade de Aprendizagem de Macroeconomia foi estruturada visando lhe


oportunizar um aprendizado independente, reflexivo e atualizado quanto aos
fatores relacionados ao funcionamento de uma economia que mantém transações
com o exterior ou como foi tratado no estudo uma economia aberta.

Você teve a oportunidade de compreender a funcionalidade da economia aberta


em perspectivas variadas sendo elas a negociação de bens entre os países, o
fluxo monetário envolvendo diversos tipos de moeda, as relações trabalhistas e
os órgãos internacionais de apoio.

Aprendeu que uma economia aberta se diferencia de uma economia fechada devido
ao fluxo de bens e serviços e do fluxo monetário. Dessa forma, entendeu que as
curvas de análise macroeconômica IS e LM foram complementadas pela curva do
Balanço de Pagamentos (BP) e, em virtude disso, as decisões de política monetária e
política fiscal passaram a depender também de uma política cambial adequada.

Teve ainda a oportunidade de discutir sobre o mercado de trabalho e conhecer a


realidade brasileira em termos de classificação e distinção entre as classificações
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Você estudou organismos internacionais de apoio econômico como o Fundo


Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, e o Acordo Geral sobre Pautas
Aduaneiras e Comércio (GATT)/ Organização Mundial do Comércio (OMC), e
compreendeu que uma organização monetária pode ser fundamental para ajudar
financeiramente os países-membros menos favorecidos. No entanto, cabe destacar
que críticas às políticas executadas por essas instituições existem e vimos que a
dinâmica mundial sempre exigirá alteração nas regras de atuação mundial.

Para finalizar, não tenho a pretensão de esgotar o assunto, espero que os temas
abordados tenham contribuído para a compreensão da complexa realidade que
envolve o estudo e a pesquisa nas Ciências Econômicas.

Sucesso em seus estudos!

Um abraço

Professor Me. Wagner Dantas de Souza

91
Referências

BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,


2011.

BRASIL. Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://


goo.gl/HwJ1Q>. Acesso em: 20 ago. 2014.

______. Lei Complementar nº 101, de  4 de maio de 2000. Disponível em: <http://
goo.gl/MlW1V>. Acesso em: 20 ago. 2014.

______. Lei n° 7.482, de 16 de maio de 2011. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7482.htm#art7>. Acesso
em: 26 nov. 2014.

FMI. IMF members’ quotas and voting power, and IMF board of governors.
Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/sec/memdir/members.aspx>.
Acesso em: 10 dez. 2014.

IBGE. Banco de Dados Agregados. Sistema IBGE de Recuperação Automática


– SIDRA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.

______. Estatísticas. Conceitos e definições do mercado de trabalho.


Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_
mercado_trabalho/default.shtm>. Acesso em: 26 nov. 2014.

IPEADATA. Macroeconômico. Séries históricas. Disponível em: <http://www.


ipeadata.gov.br>. Acesso em: 26 nov. 2014.

LUCAS JR., Robert E.; RAPPING, Leonard A. Real Wages. Employment and
inflation. Journal of Political Economy, v, 77, n. 5, p. 721-754, 1969.

PORTUGAL, Murilo. A crise financeira internacional, as reformas necessárias e o


papel do Fundo Monetário Internacional (FMI). Revista de Economia e Relações
Internacionais, v. 10, n. 20, p. 109, jan. 2012.

RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo:


Nova Cultural, 1996.

STIGLITZ, Joseph E. A globalização e seus malefícios. São Paulo: Futura, 2002.

93
Sobre o Professor Conteudista

Graduado em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Álvares Penteado


(2002), mestre em Economia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2005). É professor do Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE),
ministrando aulas nas disciplinas de Economia, Mercado de Capitais e Análise
de Investimentos. Presta serviço de consultoria em treinamento de executivos
financeiros para grandes instituições (Itaú, ABN, Citibank, Unibanco e outros).
Foi profissional do mercado financeiro durante aproximadamente dez anos
participando de instituições como BankBoston, Fininvest e Credicard. Atuou
principalmente na área de investimentos e estratégias financeiras. Atua na área de
pesquisa que se delimita a tratar de assuntos relacionados à Política Monetária e
Investimentos.

95
w w w. u n i s u l . b r

Você também pode gostar