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AULA 4

As orações vocais presentes no Santo Rosário


A prática do Rosário compõe-se de duas formas de oração: a mental e a vocal.
Esta última consiste na récita do Credo, com o qual exercemos a virtude da fé; do
Pai-Nosso, instituído pelo próprio Filho de Deus; da Ave-Maria, com a qual
exaltamos a grandeza de Nossa Senhora; e do Glória, expressão de nossa
submissão à Santíssima Trindade.

Nesta quarta aula do curso "O Segredo do Rosário", você irá descobrir o poder e a
imensa riqueza contida numa só Ave-Maria, à qual a Mãe de Deus, assunta em
corpo e alma à glória do Céu, responde com um eterno "Magnificat" em favor dos
que a invocam piedosamente.
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Dando continuidade ao nosso curso sobre O Segredo Admirável do Santíssimo
Rosário, de São Luís Maria Grignion de Montfort, estudaremos na aula de hoje a
segunda parte ou dezena do livro, em que se explicam as orações vocais de que
o Rosário está constituído: o Credo, o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Não percamos
de vista, como dito anteriormente, que esta devoção, para ser completa e dar
todos os frutos de que é capaz, compõe-se essencialmente de dois tipos de
oração, de forma que a meditação (ou seja, a oração mental) dos mistérios da
vida de Cristo e de sua Mãe Santíssima deve perpassar e "preencher"
a repetição (isto é, a oração vocal) das fórmulas que a acompanham. Por isso, é
importante que a recitação do Rosário seja feita num ritmo tranquilo e sereno,
favorável a "uma certa demora a pensar" [1], a fim de que a inteligência e a
imaginação possam fixar-se nos mistérios contemplados, saboreando-os,
degustando-os e, a exemplo de Maria, conservando-os e ponderando-os no
coração (cf. Lc 2, 19.51).

A oração vocal com que iniciamos o Rosário é o Símbolo dos Apóstolos,


também conhecido como Credo. Rezamo-lo no pequeno crucifixo do Terço com
o propósito de suscitar em nós a virtude da fé, "raiz, base e começo de todas as
virtudes cristãs, de todas as virtudes eternas e também de todas as orações que
são do agrado de Deus" [2]. Pois quem quer aproximar-se dEle deve, antes de
tudo, crer no que Ele nos manda crer e honrar os mistérios todos de nossa santa
fé católica: "Ora, sem a fé", lemos na Epístola aos Hebreus, "é impossível
agradar a Deus, pois para se achegar a Ele é necessário que se creia primeiro
que Ele existe e que recompensa os que O procuram" (Hb 11, 6). A recitação do
Credo, portanto, ao mesmo tempo que dá expressão à obediência que devemos
a Deus com nossa inteligência e vontade, firma-nos na fé eclesial, porque nele
estão compendiados os principais pontos do que crê e ensina a Santa Igreja,
Católica, Apostólica, Romana, a quem o Filho de Deus encarnado confiou a
missão de custodiar o sagrado depósito das verdades que Ele mesmo, infalível e
sumamente veraz, lhe revelou.
Antes de explicar em detalhe as riquezas contidas na oração do Pai-Nosso e da
Ave-Maria, São Luís Maria faz questão de dar-nos um conselho que nunca foi
tão atual quanto necessário. É importante, diz ele, que ao rezarmos o Rosário
sejamos firmes na fé e constantes em nosso propósito, não buscando nesta
devoção tão grata à Virgem Maria consolações espirituais. Ainda que Deus
possa conceder-nos de quando em quando a alegria de sentirmos em nosso
corpo o júbilo que a alma experimenta ao rezar à Mãe de seu Redentor, a prática
do Rosário não deve ter por fim o gosto sensível que nela às vezes se obtém.
Mesmo que nos encontremos cheios de distrações involuntárias, cansados e
impossibilitados de imaginar as cenas que os mistérios nos propõem, não
devemos deixar de rezá-lo. "Nem gosto, nem consolo, nem suspiros, nem
arroubos, nem lágrimas ou a atenção contínua da imaginação são necessários",
escreve o santo de Montfort. "A fé e a boa intenção são suficientes" [3]. Nem o
desgosto de alma, às vezes oprimida por tristezas e melancolias, deve levar-nos
a abandonar, ainda que por um só dia, esta prática tão salutar.

Mesmo que nada sintamos, fatigados sob o peso de distrações ou do tédio deste
desterro, não tenhamos dúvida alguma de que cada Ave-Maria nossa,
prolongando os louvores de Santa Isabel à Mãe de seu Senhor, há de alegrar
tanto o Coração Imaculado de Nossa Senhora que ela, assunta em corpo e alma
à glória do Paraíso, prolonga por sua vez o cântico do Magnificat que
prorrompera outrora de seus lábios em louvor dAquele que fez nela maravilhas.
Creiamos com firmeza que o nosso humilde Rosário, ainda que recitado com
dificuldade, ressoa no Céu e move nossa Mãe querida a clamar de júbilo: "Minha
alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,
porque olhou para sua pobre serva" (Lc 1, 46ss). E como aceitou o de Isabel, ela
aceita também o nosso modesto elogio e o refere Àquele "que é poderoso e cujo
nome é Santo" (Lc 1, 49). Com as contas do Terço em mãos, saibamos que o
pobre amor que pomos em cada Pai-Nosso, em cada Saudação Angélica, tem
como resposta os louvores e súplicas, ardentes de caridade, que em nosso favor
a Mãe de Cristo dirige a Deus, amando-O com um amor que nós, degredados
filhos de Eva, não somos capazes de Lhe dar.

Referências

1. Paulo VI, Exortação Apostólica "Marialis Cultus", de 2 fev. 1974, n. 47


(AAS 66 [1974] 156).

2. Luís Maria Grignion de Montfort, O Segredo Admirável do Santíssimo


Rosário. Trad. port. de Geraldo P. Faria Jr. [S.l.: s.n.], 1997, p. 23.

3. Id., p. 24.

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