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AULA 5

Como contemplar os mistérios do Santo Rosário?


O Rosário, como escreve o Papa São João Paulo II, é uma oração de caráter tão
contemplativo que, privado desta dimensão essencial, ele se torna um corpo sem
alma, uma matéria sem forma. Meditar e, portanto, saborear cada uma das
verdades que o Rosário nos propõe nada mais é do que contemplar a Cristo
através dos olhos de Maria, em cujo Coração Imaculado ela conservava e
ponderava todos os mistérios que rodeavam o bendito Fruto de seu ventre.

Nesta quinta aula do curso “O Segredo do Rosário", você irá descobrir por que e
como meditar bem, a exemplo da Mãe de Deus, os mistérios contidos nesta doce
devoção!
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Na aula de hoje, estudaremos a terceira dezena do livro O Segredo Admirável do
Santíssimo Rosário, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Trata-se de uma
parte de suma importância, já que nela o santo nos vai esmiuçando a dimensão
contemplativa do Rosário, ou seja, a oração mental que devemos praticar ao
rezá-lo. Com efeito, "a meditação", como disse a Virgem Santíssima ao beato
Alano de la Roche, "é a alma desta devoção" [1]. Ao meditarmos, pois, os
sagrados mistérios que o Rosário nos propõe, colocamos na cabeça de Cristo as
três coroas que por direito Lhe são devidas: a) a coroa da graça, correspondente
aos gozosos mistérios de sua Encarnação; b) a coroa da Paixão, que Ele
adquiriu pelas obras contempladas nos mistérios dolorosos, que não são mais
do que um retrato da nossa Redenção; e c) a coroa da glória, que damos ao
Senhor quando meditamos o triunfo de sua Ressurreição e Ascensão e as
glórias de que Ele revestiu sua Mãe ao elevá-la ao Céu e coroá-la Rainha
universal.

Mas como fazer uma boa meditação, afinal de contas?

Antes de responder a essa pergunta, precisamos ter em mente que o exercício


espiritual em que consiste a meditação cristã é não só conveniente para a nossa
salvação, mas "absolutamente imprescindível para a alma que aspira santificar-
se" [2]. De modo que podemos afirmar, sem medo de exageros, que nenhum
santo chegou a sê-lo sem meditar, e meditar muito. Pois a meditação e a oração
mental — incompatíveis por si mesmas com uma vida de pecado [3] — são o
meio por que nos abrimos à ação de Deus em nós, quer dizer, às graças atuais
que Ele bondosamente nos envia e dispensa pela intercessão de Maria
Santíssima. É aqui, portanto, que reside um dos segredos mais admiráveis do
Rosário, a saber: a Virgem bendita, que trazia sempre presentes no espírito as
palavras e ações de seu Filho, quer ajudar-nos a contemplar os mesmos
mistérios em que ela O via envolto. Rezar o Rosário, neste sentido, nada mais é
do que recordar Cristo com Maria e aprender Cristo de Maria [4], configurando
assim o nosso coração ao dela, no qual foram conservadas "todas estas coisas"
( Lc 2, 19), por ela vistas e contempladas.
Também convém esclarecer que a finalidade principal da meditação, enquanto
aplicação discursiva da inteligência a uma verdade sobrenatural, é fazer-
nos amar essa verdade e praticá-la com o auxílio da graça [5]. Como explica um
autor espiritual, este é

[...] o elemento mais importante da meditação enquanto oração cristã. É


necessário que a vontade se entregue ao amor da verdade que o entendimento
lhe apresenta elaborada discursivamente. Se todo o tempo dedicado à meditação
se esgotasse nos procedimentos discursivos preliminares, não haveria
meditação, na realidade; seria um estudo mais ou menos orientado à piedade,
mas não um exercício de oração. Esta tem início propriamente quando a alma,
estimulada pela verdade sobrenatural que o entendimento, convencido dela, lhe
apresenta, prorrompe em afetos e atos de amor a Deus, com quem estabelece
um contato íntimo e profundo que dá à meditação anterior toda sua razão de ser
enquanto oração cristã.

Claro, é preciso que este amor e entusiasmo afetivo não fique restrito às puras
regiões do coração ou da imaginação; ele tem de traduzir-se em enérgicas
resoluções práticas [6].
A própria Ave-Maria nos oferece, por si só, material mais do que suficiente para
uma vida inteira de meditação. Trata-se de uma oração "tão celestial", escreve o
santo de Montfort, "tão mística e incompreensível a nós em sua profundidade de
significado que o bem-aventurado Alano de la Roche acreditava que nenhuma
criatura humana comum pudesse compreendê-la, e que somente Nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo, que nasceu da Santíssima Virgem Maria, poderia
realmente explicá-la" [7]. Com que transportes de amor não deveríamos meditar,
por exemplo, o assombro de que foi tomado São Gabriel Arcanjo ao encontrar-
se com aquela menina de Nazaré, em cujo Coração Imaculado borbulhava uma
caridade mais ardente que a de toda a corte celeste reunida! E que resoluções
não deveríamos tomar depois de o termos meditado, para que vivamos como
dignos filhos dessa Mãe tão pura e tão amável, que deseja ardentemente ver-
nos ao seu lado na glória do Céu, onde cantaremos eternamente a glória
dAquele que fez nela e por meio dela grandes coisas!

São verdades como essa, propostas em cada um dos três ciclos meditativos do
Santo Rosário, que devemos ruminar serena e pausadamente, examinando-as
de todos os lados, como quem aprecia sem pressa um quadro de inumeráveis
detalhes e riquezas. Por isso, quando rezamos o Rosário, temos de adotar uma
postura interior de procura, de busca da verdade, de ânsia por compreender "o
porquê e o como da vida cristã, a fim de aderirmos e respondermos ao que o
Senhor pede" [8]. Que o nosso Terço diário se torne, a partir de hoje, mais do
que a repetição de umas tantas fórmulas, a expressão viva do nosso mais
ardente desejo de encontrar Aquele a quem ama o nosso coração (cf. Ct 1, 7; 3,
1-4), de procurá-lO na fé pura, "esta fé que nos faz nascer dEle e viver nEle" [9],
de amá-lO nos mistérios pelos quais fomos remidos e elevados à dignidade de
filhos, cuja herança imarcescível de glória está à nossa espera no Céu.
Referências

1. Luís Maria Grignion de Montfort, O Segredo Admirável do Santíssimo


Rosário. Trad. port. de Geraldo P. Faria Jr. [S.l.: s.n.], 1997, p. 41.

2. A. Royo Marín. Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: BAC, 2012, p.


663, n. 499.

3. Cf. Id., ibid.

4. João Paulo II, Carta Apostólica "Rosarium Virginis", de 16 out. 2002, nn.
13-14 (AAS 95 [2003] 12-14).

5. Cf. A. Royo Marín, op. cit., p. 661, n. 498.

6. Id., p. 662, n. 498.

7. Luís Maria Grignion de Montfort, op. cit., p. 31.

8. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2705.

9. Id., n. 2709.

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