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Este material foi gentilmente cedido pela

"Coleção O Livro Católico" para os


colaboradores e amigos da
Associação Devotos de Fátima.
A VERDADEIRA
DEVOÇÃO MARIANA
Esclarecimentos, fatos inéditos e análise da maior obra
literária sobre a devoção à Santíssima Virgem, de São Luís
Maria Grignion de Monfort

1
~~~~~~~~~~

Comemorou-se em 2012 o terceiro centenário de um


livro providencial, o Tratado da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de
Montfort.

Escrito em 1712, ele apresenta um aprofundamento


essencial da devoção mariana, e sua extraordinária
difusão universal constitui marco decisivo na história
da espiritualidade católica.
Plinio Maria Solimeo

Dada a importância ímpar da “Escravidão de amor” no


desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora, o escopo
deste trabalho é proporcionar a nossos leitores uma visão
de conjunto do Tratado da Verdadeira Devoção, essa obra
providencial que pode a justo título ser qualificada de
profética.

~~~~~~~~~~

2
I
São Luís Maria Grignion de Montfort, Doutor,
Apóstolo e Profeta

Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista


Grignion e de Joana Roberta de la Vizeule, Luís nasceu
no dia 31 de janeiro de 1673 em Montfort-la-Cane (hoje
Montfort-sur-Meu), na Bretanha (França). Ao ser
crismado, fez questão de acrescentar Maria a seu nome.
Mais tarde passou a ser conhecido como “Padre
Montfort”, do nome de sua cidade natal.

Luís fez seus estudos com os jesuítas de Rennes


(Bretanha), e depois no afamado seminário de São
Sulpício, de Paris, ordenando-se sacerdote em 1700.

Nosso santo fundou, no Hospital Geral de Poitiers,


uma associação de donzelas que “dedicou à Sabedoria do
Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das
pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do
Evangelho”.(1)

Entretanto, certos clérigos e leigos infeccionados


pela heresia jansenista (espécie de protestantismo
camuflado) começaram, juntamente com livres-
pensadores, uma campanha de calúnia contra esse
missionário, tachando-o de “extravagante”, acusando-o
de pregar uma devoção “exagerada” à Mãe de Deus. Ele
precisou dissolver sua associação e retirar-se do Hospital,
apesar dos protestos veementes dos pobres e dos
enfermos.

3
O Padre Montfort empreendeu então uma
peregrinação a Roma, tendo sido nomeado Missionário
Apostólico pelo Papa Clemente XI. Permanecia,
entretanto, sob a dependência dos bispos, boa parte deles
tisnada pela heresia jansenista.

Recusado e expulso de várias dioceses — uma vez,


na festa da Assunção, foi proibido até mesmo de celebrar
a Missa, tendo que partir imediatamente para chegar em
tempo à diocese vizinha para fazê-lo —, ele recebeu
finalmente autorização para pregar nas dioceses de Luçon
e de La Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente anti-
jansenistas. Essas duas dioceses compreendiam uma parte
da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, sublevou-
se contra a ateia, sanguinária e regicida Revolução
Francesa.

Ardente devoto de Maria Santíssima e da Cruz de


Nosso Senhor Jesus Cristo, Luís Grignion escreveu
numerosos cânticos religiosos e livros de espiritualidade,
entre eles a Carta Circular aos Amigos da Cruz e o
Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.

Logo após o falecimento de São Luís Grignion de


Montfort (no dia 28 de abril de 1716, aos 43 anos, em
Saint-Laurent-sur-Sèvre), ocorreram numerosos e
assinalados milagres por sua intercessão.

Ele foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 1888, e


canonizado por Pio XII em 27 de julho de 1947. Sua
festividade é celebrada pela Igreja no dia 28 de abril.

4
II
Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem:
um livro profético

O Tratado da Verdadeira Devoção é um verdadeiro


mundo. Sua densidade teológica e filosófica é tão grande,
que para comentá-la seriam necessários vários volumes.
Procuraremos apresentar aqui apenas uma visão de
conjunto da obra, detendo-nos nas partes que nos
parecerem mais dignas de nota.

Trata-se de uma obra verdadeiramente profética,


tanto no sentido de ter aberto para as almas de escol um
novo rumo de perfeição, quanto pelo fato de revelar
eventos futuros.

Nesse sentido, cumpriu-se ipsis verbis esta profecia,


que o santo fez em relação ao próprio Tratado. Escreveu
ele:
“Vejo, no futuro, animais frementes, que se
precipitam furiosos para dilacerar com seus
dentes diabólicos este pequeno manuscrito, e
aquele de quem o Espírito Santo se serviu para
escrevê-lo, ou ao menos para fazê-lo ficar
envolto nas trevas e no silêncio de uma arca, a
fim de que ele não apareça” (n.114).

Com efeito, após a morte do santo, algum


colaborador zeloso, porém indiscreto, talvez por receio
dos jansenistas, escondeu os preciosos manuscritos numa
caixa de livros velhos.

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Sobreveio depois a funesta Revolução Francesa com
suas perseguições, devastações e mortes. Isso fez com
que os manuscritos, de 1712, permanecessem no olvido
até serem encontrados muito mais tarde, em 1842, por um
missionário da Companhia de Maria — fundada por São
Luís Grignion — que procurava material para seus
sermões.

Para ilustrar o outro aspecto da profecia — isto é, da


perseguição que sofreria seu autor —, citamos aqui seu
próprio testemunho, contido numa carta de 15 de agosto
de 1713, que ele escreveu à sua irmã menos de três anos
antes de sua morte:

“Se soubésseis, no mínimo, as minhas cruzes e


as minhas humilhações, duvido que desejásseis
tão ardentemente ver-me; porque nunca estou
em nenhum sítio sem dar um pedaço da minha
cruz aos meus melhores amigos.

Quem me sustenta e ousa declarar-se a meu


favor, sofre as consequências e, por vezes, cai
sob os pés do inferno que eu combato, do
mundo, que contradigo, e da carne, que persigo.

[Qualquer] formigueiro de pecados e de


pecadores que eu ataque, não me concede, nem
a mim nem aos meus, nenhum descanso:
[estou] sempre sobre o que se agita, sempre
sobre os espinhos, sobre pedras cortantes.

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Sou como uma bola num jogo de péla: atirado
de um lado para o outro com violência; eis o
destino de um pobre pecador; há 13 anos,
desde que saí [do seminário] de Saint-Sulpice,
que não me dão tréguas nem repouso”.(3)

A originalidade
de Montfort
O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem orientou e conduziu muitas almas no caminho da
perfeição em todo o mundo. “A originalidade maior de
Montfort — observa o Pe. Louis Perouas — consiste,
provavelmente, em ter descoberto Maria como garantia
de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do
apego imperceptível que se esconde em suas melhores
ações. Desapego que consiste, provavelmente, na
essência mesma da consagração em forma de
escravidão”.(4)

É preciso ressaltar aqui que São Luís Grignion


escreveu seu Tratado para católicos autênticos.

Por isso o Pe. William Faber, célebre sacerdote


oratoriano inglês do século XIX, conclui o prefácio de
sua tradução do original francês do Tratado com estas
palavras: “Com certeza os que vão ler este livro já amam
a Deus e desejariam amá-lo ainda mais.

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Todos desejam alguma coisa para a sua glória: a
propagação de uma boa obra, a vinda de melhores
tempos, o sucesso de uma devoção. [...] Qual é, pois, o
remédio que lhes falta? Qual o remédio indicado pelo
próprio Deus? É, segundo as revelações dos santos, uma
dilatação imensa da devoção à Santíssima Virgem. Mas,
reflitamos bem, o imenso não admite restrições nem
limites”.

Por isso nossa devoção à Mãe de Deus deve ser sem


limites.(5)

Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, São Luís


Grignion expressa sua espiritualidade, centrada numa
devoção filial e numa entrega total a Nossa Senhora.

“Alguns teólogos, surpresos com as audácias do


autor, e especialmente com a sua expressão
preferida de sagrada escravidão, quiseram
diminuir-lhe a obra.

As suas críticas, porém, não impediram a


célebre obra de se espalhar, sem reforço de
propaganda, com assombroso sucesso, no
mundo inteiro. Hoje está traduzida em quase
todas as línguas: sinal incontestável da sua
utilidade e benefício na Igreja de Deus”.(6)

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Apóstolo da
Contra-Revolução
São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser
considerado um apóstolo da Contra-Revolução, tomada
esta no sentido que lhe dá o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira em sua obra mestra “Revolução e contra-
revolução”.

Isto é, nos esforços e trabalhos daqueles que se


empenham em combater com todas suas forças e em
todas as suas manifestações a revolução gnóstica e
igualitária que se implantou no mundo à partir da
decadência da Idade Média, e que em nossos dias atingiu
um clímax pavoroso.

Seus livros e escritos inspiraram grandes vultos


católicos no século XX, sobressaindo-se Plinio Corrêa de
Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e
ardente difusor de sua doutrina.

Profeta do
Reino de Maria que virá
Ainda sobre o aspecto profético do Tratado da
Verdadeira Devoção, diz Plinio Corrêa de Oliveira:

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“Por último, interessa-nos o Tratado [da
Verdadeira Devoção] pelo aspecto profético
que o santo lhe imprimiu. São Luís Grignion é
profeta no sentido restrito que esta palavra tem
depois de encerrada a Revelação oficial, isto é,
as suas profecias não são oficiais e
obrigatórias como as da Sagrada Escritura.

Mas sem dúvida ele é dotado por Deus do


carisma da profecia, e isto se percebe pela
leitura de seu livro. Ele profetiza
acontecimentos que fazem antever a Revolução
Francesa e a crise de nossos dias, e afirma
também, com antecipação, a imensa vitória da
Igreja Católica através de uma nova era do
mundo, que será uma era marial.

São Luís Maria Grignion de Montfort previu


um reino de Maria que virá, e este reino será a
plenitude do reino de Cristo”.(Id.Ib.)

Para os leitores que desejarem aprofundar-se mais


neste estudo, recomendamos o seguinte link:

www.pliniocorreadeoliveira.info/mariologia.asp

10
“Nossa Senhora tem sido
até aqui desconhecida”
A devoção a Nossa Senhora foi se desenvolvendo ao
longo dos séculos com as explicitações dos teólogos e os
dogmas sobre Ela promulgados, ratificados por várias
aparições mariais, sobretudo no século XIX e início do
século XX.

Por isso o próprio São Luís Grignion afirma que, já


em seu tempo, “toda a Terra está cheia de sua glória,
particularmente entre os cristãos, que a tomam como
padroeira e protetora em muitos países, províncias,
dioceses e cidades. Inúmeras catedrais são consagradas
sob a invocação do seu nome. Igreja alguma se encontra
sem um altar em sua honra.

Não há região ou país que não possua alguma de


suas imagens milagrosas, junto das quais todos os males
são curados e se obtêm todos os bens” (n.9).
Apesar disso, ele afirma na introdução ao Tratado:
“Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com
especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima
tem sido até aqui desconhecida, e que é esta uma das
razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve
ser” (n.13).

Portanto, quando São Luís Grignion afirma que

11
“a Santíssima Virgem tem sido até aqui
desconhecida”, quer ele dizer “conhecida
insuficientemente”, ou “conhecida
superficialmente”.

Pois logo acrescenta:

“Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e


serviu suficientemente a Maria, pois muito mais
louvor, respeito, amor e serviço Ela merece”
(n.10).

E continua, parafraseando as palavras de São Paulo


na 1ª Epístola aos Coríntios (1 Cor 2,9):

“Os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem


o coração do homem compreendeu as belezas,
as grandezas e excelências de Maria, o milagre
dos milagres da graça, da natureza e da glória”
(n.12).

Para sanar essa lacuna, o autor apresenta uma


devoção que, se bem não fosse inteiramente nova, não
tinha sido muito difundida nem, sobretudo, chegado a
todas suas consequências, como as apresentadas pelo
santo. Nesse sentido, ele afirma:

“Declaro firmemente que não encontrei nem


aprendi outra prática de devoção à Santíssima
Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que
exija de uma alma mais sacrifícios a Deus...

...que a despoje mais completamente de seu

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amor próprio, que a conserve com mais
fidelidade na graça e a graça nela, que a una
com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo
e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus,
santificante para a alma, e útil ao próximo”
(n.118).

E São Luís, entusiasmado pelo tema, exclama:

“Ó, bem empregado seria o meu esforço, se este


escrito, caindo nas mãos de uma alma bem
nascida, nascida de Deus e de Maria, e não do
sangue ou da vontade da carne, nem da vontade
do homem (cfr. Jo 1,13), lhe desvendasse e
inspirasse, pela graça do Espírito Santo, a
excelência e o prêmio da verdadeira e sólida
devoção à Santíssima Virgem como vou
indicar.

Se eu soubesse que meu sangue pecaminoso


poderia servir para fazer entrar no coração as
verdades que escrevo em honra de minha Mãe
querida e soberana Senhora, da qual sou o
último dos filhos e escravos, em lugar de tinta
eu o usaria para formar esses caracteres, na
esperança que me anima de encontrar boas
almas que, por sua fidelidade à prática que
ensino, compensarão minha boa Mãe e Senhora
das perdas que lhe têm causado minha
ingratidão e infidelidade” (n.111).

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III
Princípios Fundamentais da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem

São Luís inicia seu livro enunciando um princípio


que vai presidir a todo o seu desenvolvimento:

“Foi por intermédio da Santíssima Virgem


Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é
também por meio dela que Ele deve reinar no
mundo” (n.1).

Entretanto, afirma o ardoroso missionário, que,


comparada com Deus, Maria Santíssima nada é:

“Confesso, com toda a Igreja, que Maria é uma


pura criatura saída das mãos do Altíssimo.
Comparada, portanto, à Majestade infinita, Ela
é menos que um átomo; é, antes, um nada, pois
que só Ele é ‘Aquele que é’ (Ex 3,14). E, por
conseguinte, este grande Senhor, sempre
independente e bastando-se a si mesmo, não
tem nem teve jamais necessidade da Santíssima
Virgem para a realização de suas vontades e a
manifestação de sua glória. Basta-lhe querer,
para tudo fazer” (n.14).

A esta afirmação categórica, o santo acrescenta:

“Digo, entretanto, que supostas as coisas como


são, já que Deus quis começar e acabar suas

14
maiores obras por meio da Santíssima Virgem
depois que a formou, é de crer que não mudará
de conduta nos séculos dos séculos, pois Deus é
imutável em sua conduta e em seus
sentimentos” (n.15).

Necessidade de uma
Mediadora junto ao
único Mediador
Eco fiel da Igreja, São Luís reconhece que a
mediação de Nossa Senhora não dispensa a mediação de
Nosso Senhor Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e
os homens. Pois a mediação d’Ela é uma mediação de
intercessão, que recebe toda a sua eficácia dos méritos de
Nosso Senhor Jesus Cristo, único Mediador.

Ela é, pois, a Mediadora junto ao Mediador, segundo


as palavras de Leão XIII: “Ela deu o seu admirável
assentimento, ‘em nome de todo o gênero humano’ (S.
Tomás de Aquino, 3 q. 30 a. 1).

Ela é aquela ‘da qual nasceu Jesus’, sua verdadeira


Mãe, e por isto digna e agradabilíssima ‘Mediadora junto
ao Mediador’” (Encíclica Fidentem piumque, de 20 de
dezembro de 1896).

15
Se, pois, Cristo Jesus é nosso único Mediador junto
a Deus, por que precisamos de uma medianeira junto a
Ele?

Ao tratar dessa indagação, São Luís faz as seguintes


perguntas:

“Será a nossa pureza suficiente para que nos


permita unir-nos diretamente a Ele, e por nós
mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual ao Pai
e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de
tanto respeito como seu Pai?

Se Ele, por sua caridade infinita, se constituiu


nosso penhor e medianeiro junto a Deus seu
Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que devíamos,
quer isto dizer que lhe devemos menos respeito
e temor por sua majestade e santidade?” (n.85).

E acrescenta:

“Digamos, pois, ousadamente, com São


Bernardo, que temos necessidade de uma
medianeira junto ao Medianeiro por excelência,
e que Maria Santíssima é a única capaz de
exercer esta função admirável. Por Ela Jesus
Cristo veio a nós, e por Ela devemos ir a Ele.

Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus,


em vista de sua grandeza infinita, ou por causa
de nossa baixeza ou, ainda, devido aos nossos
pecados, imploremos afoitamente o auxílio e a
intercessão de Maria, nossa Mãe” (n.85).

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Em consequência, conclui São Luís que:

“para ir a Jesus, é preciso ir a Maria, pois Ela é


a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai
eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso
medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que
preconizo, é esta a ordem perfeitamente
observada” (n.86).

“Deus quis servir-se de


Maria na Encarnação”
São Luís Grignion dá, então, dois princípios para
mostrar a necessidade da devoção à Santíssima Virgem.

O primeiro é:

“Deus quis servir-se de Maria na


Encarnação”.

“Suspiraram [pelo Messias] os patriarcas e


pedidos insistentes fizeram os profetas e os
santos da Antiga Lei”, afirma ele, porém “só
Maria o mereceu e alcançou graça diante de
Deus, pela força de suas orações e pela
sublimidade de suas virtudes”.

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Isso “porque o mundo era indigno, diz Santo
Agostinho, de receber o Filho de Deus
diretamente das mãos do Pai, Ele o deu a Maria,
a fim de que o mundo o recebesse por meio
dela” (n.16).

Isso tem como consequência que

“Jesus Cristo deu mais glória a Deus


submetendo-se a Maria durante 30 anos, do que
se tivesse convertido toda a Terra pela
realização dos mais estupendos milagres”.

Por isso, exclama o santo:

“Ó quão altamente glorificamos a Deus quando,


para lhe agradar, nos submetemos a Maria, a
exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo”
(n.18).

“Deus quer servir-se de


Maria na santificação
das almas”
O segundo princípio expresso por São Luís é
consequência do primeiro: querendo Deus servir-se de
Maria na Encarnação, quer servir-se também de Maria
na santificação das almas.

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Com efeito, afirma o doutor marial:

“A conduta das Três Pessoas da Santíssima


Trindade, na Encarnação e primeira vinda de
Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias, de um
modo visível, na Igreja, e esse procedimento há
de perdurar até a consumação dos séculos, na
última vinda de Cristo” (n.22).

Pois...

“Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua


fiel esposa, seus dons inefáveis, escolhendo-a
para dispensadora de tudo que Ele possui. Deste
modo Ela distribui seus dons e suas graças a
quem quer, quanto quer, como quer e quando
quer, e dom nenhum é concedido aos homens
que não passe por suas mãos virginais” (n.25).

Aqui São Luís Grignion insere um parêntesis para


dizer que, caso se dirigisse “aos espíritos fortes desta
época”, ele poderia provar suas assertivas com citações
das Escrituras, dos Santos Padres e dos teólogos.

“Falo, porém — continua ele — aos pobres e


aos simples que, por serem de boa vontade e
terem mais fé que a maior parte dos sábios,
crêem com mais simplicidade e mérito, e,
portanto, contento-me de lhes apresentar
simplesmente a verdade, sem me preocupar em
citar todos os textos latinos” (n.26).

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Maria é a
Rainha dos Corações
Como resultado de quanto ficou dito até aqui, São
Luís apresenta duas consequências:

1ª.) Maria é a Rainha dos Corações

Afirma o santo:

“Maria é a Rainha do Céu e da Terra, pela


graça, como Jesus é o Rei por natureza e
conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo
compreende principalmente o coração ou o
interior do homem, [...]

...‘o reino da Santíssima Virgem está


principalmente no interior do homem, i.é, em
sua alma, e é principalmente nas almas que Ela
é mais glorificada com seu Filho, do que em
todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la
a Rainha dos Corações” (n.38).

Cabe aqui um comentário do ilustre batalhador pela


glória de Maria que foi Plinio Corrêa de Oliveira, ao
analisar esta obra:

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“A derrota do espírito do mundo e a
restauração da civilização sobre os princípios
da Igreja Católica não começam, portanto, por
meio da política, das obras, do talento ou da
ciência.

Na época mesma de São Luís Grignion, Bossuet


encantava e deslumbrava Versalhes e Paris
com seus sermões; entretanto, para evitar a
derrocada religiosa da França, não foram
decisivos.

O começo da regeneração de todas as coisas


está na piedade, no afervoramento da vida
interior, está propriamente nos fundamentos
religiosos da vida de um povo.

O apostolado essencial é de caráter


estritamente religioso: afervorar, formar na
piedade, formar o caráter. O mais são
consequências, são complementos. Importantes,
é verdade, mas complementos” (2).

2ª) Maria é necessária aos homens para chegarem ao


seu último fim

O santo autor divide esta consequência em três


parágrafos:

1. A devoção à santa Virgem é necessária a todos os


homens para conseguirem a salvação.

21
São Luís afirma que, conforme a opinião de vários
santos:
“a devoção à Santíssima Virgem é necessária à
salvação, e que é um sinal infalível de
condenação [...] não ter estima e amor à
Santíssima Virgem” (n.40).

Argumenta o santo que:

“assim como na geração natural e corporal há


um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatural,
um pai que é Deus e uma mãe, Maria
Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de
Deus e os predestinados têm Deus por pai e
Maria por mãe. Quem não tem Maria por mãe,
não tem Deus por pai”.

Como consequência, diz São Luís Grignion:

“os réprobos, os hereges, os cismáticos, etc.,


que odeiam ou olham com desprezo ou
indiferença a Santíssima Virgem, não têm Deus
por pai, ainda que disto se gloriem, pois não
têm Maria por Mãe” (n.29).

Portanto, a devoção à Santíssima Virgem é


necessária a todos os homens para conseguirem a
salvação.

2. A devoção à Santíssima Virgem é mais necessária


ainda àqueles chamados a uma perfeição particular.

22
“Se a devoção à Santíssima Virgem é
necessária a todos os homens para conseguirem
simplesmente a salvação é ainda mais para
aqueles que são chamados a uma perfeição
particular...

...nem creio que uma pessoa possa adquirir uma


união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita
fidelidade ao Espírito Santo, sem uma grande
união com a Santíssima Virgem e uma grande
dependência de seu socorro” (n.43).

Porque:

“os mais santos, as almas mais ricas em graça e


em virtudes, serão as mais assíduas em rogar à
Santíssima Virgem que lhes esteja sempre
presente, como seu perfeito modelo a imitar, e
que as socorra com seu auxílio poderoso”
(n.46).

Devoção mais apta para


nos despojar do nosso
fundo mau
São Luís Grignion afirma que, para chegarmos à
perfeição, devemos nos despojar do fundo mau que há em
nós, consequência do pecado original.

23
Pois, diz ele:

“Nossas melhores ações são ordinariamente


manchadas e corrompidas pelo fundo de
maldade que há em nós. [...] Quando Deus põe
no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado
original e pelo pecado atual, suas graças e
orvalhos celestiais ou o vinho delicioso de seu
amor, estes dons divinos ficam ordinariamente
estragados ou manchados pelo mau germe e
mau fundo que o pecado deixou em nós...

...nossas ações, até as mais sublimes virtudes,


disto se ressentem. É portanto de grande
importância, para adquirir a perfeição, que só se
consegue pela união com Jesus Cristo,
despojar-nos de tudo que de mau existe em nós.
Do contrário, Nosso Senhor, que é
infinitamente puro e odeia infinitamente a
menor mancha na alma, nos repelirá e de modo
algum se unirá a nós” (n.78).

“Por isso, conclui ele, é preciso escolher, entre


todas as devoções à Santíssima Virgem, a que
nos leva com mais certeza a este aniquilamento
do próprio eu.

Esta será a devoção melhor e mais santificante,


pois é mister reconhecer que nem tudo que
reluz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem
tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais
santificante”.

24
E essa devoção é exatamente a da sagrada
escravidão à Santíssima Virgem, como ele explica:

“A prática que quero revelar é um desses


segredos da graça, desconhecido da maior parte
dos cristãos, conhecido de poucos devotos,
praticado e apreciado por um número bem
diminuto” (n. 82).

As devoções falsas
Antes de tratar da verdadeira devoção, o santo alerta
sobre os falsos devotos e as devoções falsas à Santíssima
Virgem:
“Conheço sete espécies de falsos devotos e
falsas devoções à Santíssima Virgem”.

E passa a descrevê-los:

1°) Os devotos críticos, que vivem criticando as


práticas de devoção das pessoas simples e de boa fé.

2°) Os devotos escrupulosos, que receiam desonrar


o Filho honrando a Mãe, e rebaixá-Lo se a exaltarem
demais.

3°) Os devotos exteriores, que fazem consistir suas


devoções só em práticas exteriores.

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4°) Os devotos presunçosos, pecadores ou amantes
do mundo, que escondem seus defeitos e dizem que Deus
os perdoará porque são devotos da Santíssima Virgem.

5°) Os devotos inconstantes, que veneram a


Santíssima Virgem por intervalos, segundo o capricho.

6°) Os devotos hipócritas, que cobrem seus pecados


e maus hábitos com o manto da Virgem para passar por
aquilo que não são.

7°) Os devotos interesseiros, que recorrem à Virgem


quando têm alguma necessidade material (cfr. ns. 92 e
ss.).

Características da
verdadeira devoção
Pelo contrário, a verdadeira devoção à Santíssima
Virgem é:

1º) Interior, isto é, parte do espírito e do coração.

2º) Terna, isto é, cheia de confiança na Santíssima


Virgem.

3º) Santa, isto é, leva a pessoa a evitar o pecado e a


imitar suas virtudes.

26
4º) Constante, isto é, firma uma alma no bem e
ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção.

5º) Desinteressada, isto é, leva a alma a buscar não a


si mesma, mas somente a Deus e sua Mãe Santíssima.
(ns. 105-110)

A consagração a Maria é a
mais perfeita consagração a
Jesus Cristo
São Luís diz que a devoção que ele prega é a
“verdadeira devoção”. Por quê? Ele esclarece:

“A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos


conformamos, unimos e consagramos mais
perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa
perfeição consiste em sermos conformados,
unidos e consagrados a Ele.

Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a


mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de
todas as devoções, a que mais consagra e
conforma uma alma a Nosso Senhor é a
devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e
que, quanto mais uma alma se consagrar a
Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo.

27
Eis por que a perfeita consagração a Jesus
Cristo nada mais é que uma perfeita e inteira
consagração à Santíssima Virgem [...] ou, por
outra, uma perfeita renovação dos votos e
promessas do batismo” (n.120).

O autor do Tratado recomenda com empenho que o


fiel faça sua consagração à Santíssima Virgem num dia
determinado, sugerindo para isso diversas orações e
práticas piedosas que devem precedê-la, as quais podem
ser encontradas em qualquer edição do livro ou mesmo
na internet, onde há vários sites contendo a íntegra do
Tratado.

Em resumo, essa preparação consiste em 12 dias


iniciais, dedicados a “desapegar-se do espírito do
mundo”, seguidos de três semanas para “encher-se de
Jesus Cristo por intermédio da Santíssima Virgem”.

A primeira semana é dedicada a “pedir o


conhecimento de si mesmo e a contrição de seus
pecados”; a segunda “em conhecer a Santíssima
Virgem”; a terceira “em conhecer a Jesus Cristo”.

“Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e


comungarão na intenção de se darem a Jesus Cristo na
condição de escravos por amor, pelas mãos de Maria”. E
depois da comunhão recitarão a sublime fórmula da
“Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria
Encarnada, pelas mãos de Maria”.

IV

28
A essência da Verdadeira Devoção

A consagração ensinada por São Luís Maria


Grignion de Montfort não é uma consagração qualquer a
Nossa Senhora, mas a consagração mais radical possível
e, por isso, a mais perfeita. Explica o santo:

“Esta devoção consiste, portanto, em entregar-


se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de,
por Ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É
preciso dar-lhe:

1º) Nosso corpo com todos os seus membros e


sentidos;

2º) Nossa alma com todas as suas potências;

3º) Nossos bens exteriores, que chamamos de


fortuna, presentes e futuros;

4º) Nossos bens interiores e espirituais, que são


nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras
passadas, presentes e futuras.

“Numa palavra, tudo que temos na ordem da


natureza e na ordem da graça, e tudo que, no
porvir, poderemos ter na ordem da natureza, da
graça e da glória, e isto sem nenhuma reserva,
sem a reserva sequer de um real, de um cabelo,
da menor boa ação, para toda a eternidade, sem
pretender nem esperar a mínima recompensa de
sua oferenda e de seu serviço, a não ser a honra
de pertencer a Jesus Cristo por Ela e nela,

29
mesmo que esta amável Senhora não fosse,
como é sempre, a mais liberal e reconhecida
criatura” (n.121).

Entrega total à
Santíssima Virgem
Segue-se que

“uma pessoa, que assim voluntariamente se


consagrou e sacrificou a Jesus Cristo por Maria,
já não pode dispor do valor de nenhuma de suas
boas ações.

Tudo o que sofre, tudo o que pensa, diz e faz de


bem, pertence a Maria, para que Ela de tudo
disponha conforme a vontade e para maior
glória de seu Filho, sem que, entretanto, esta
dependência prejudique de modo algum as
obrigações de estado no qual esteja
presentemente, ou venha a estar no futuro”
(n.124).

30
Alguns dirão:

“Se eu der à Santíssima Virgem todo o valor de


minhas ações para que Ela o aplique a quem
quiser, terei de sofrer talvez muito tempo no
purgatório”.

O santo responde:

“Esta objeção, produto do amor-próprio e da


ignorância da liberalidade de Deus e de sua
Mãe Santíssima, destrói-se por si mesma.

Uma alma, cheia de fervor e generosa, que


antepõe os interesses de Deus aos seus próprios,
que tudo que tem dá a Deus inteiramente, sem
reserva, que só aspira à glória e ao reino de
Jesus Cristo por intermédio de sua Mãe
Santíssima, e que se sacrifica completamente
para obtê-lo, esta alma generosa, repito, e
liberal, será castigada no outro mundo por ter
sido mais liberal e desinteressada que as outras?

Muito ao contrário, é a esta alma, como


veremos, que Nosso Senhor e sua Mãe
Santíssima se mostram mais generosos neste
mundo e no outro, na ordem da natureza, da
graça e da glória” (n.133).

31
“Escravidão por amor” ou
“Sagrada escravidão”
Essa entrega total à Santíssima Virgem não é uma
consagração como as demais: na perspectiva de São Luís
Grignion de Montfort, ela constitui uma verdadeira
escravidão; porém, uma “escravidão por amor” (cfr. ns.
56, 68), ou “Sagrada escravidão”.

Para bem estabelecer o caráter da escravidão a Nossa


Senhora, São Luís mostra a diferença existente entre uma
simples servidão entre os cristãos, pela qual um homem
se põe a serviço de outro por um certo tempo, “recebendo
determinada quantia ou recompensa”, e a escravidão, pela
qual um homem fica inteiramente dependente de outro,
sem esperar recompensa alguma, tendo o segundo sobre o
primeiro até o direito de vida e de morte, pelo menos
como era nos tempos primitivos e entre os pagãos (ns.
69ss).

O santo continua explicando que todos nós, antes do


batismo, éramos escravos do demônio, e que o batismo
nos transformou em escravos de Jesus Cristo, pois fomos
comprados por Ele por um preço infinitamente caro, o
preço de seu Sangue.

Donde ele conclui que há três espécies de


escravidão:

32
1ª) por natureza (todas as criaturas são escravas de
Deus);

2ª) por constrangimento (os demônios e os


réprobos são escravos de Deus desse modo);

3ª) e outra por livre e espontânea vontade (como a


dos justos e dos santos para com Deus).

Essa escravidão voluntária é a mais perfeita e


agradável a Deus. Pois, “nada há que mais absolutamente
nos faça pertencer a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima
do que a escravidão voluntária, conforme o exemplo do
próprio Jesus Cristo, que, por nosso amor, tomou a forma
de escravo [...] e da Santíssima Virgem, que se declarou a
escrava do Senhor” (n.72).

Vantagens desta devoção


para a vida espiritual
São Luís Grignion enumera as vantagens desta
devoção para a vida espiritual.

Esta devoção é recomendável porque:

1º) nos põe inteiramente ao serviço de Deus;

2º) nos leva a imitar o exemplo dado por Jesus


Cristo, e a praticar a humildade;

33
3º) nos proporciona as boas graças da Santíssima
Virgem (Maria se dá a quem é seu escravo por amor, e
purifica nossas boas obras, embeleza-as e as torna
aceitável a seu Filho);

4º) é um meio excelente de promover a maior glória


de Deus;
5º) conduz à união com Nosso Senhor (é um
caminho fácil, curto, perfeito, seguro);

6º) dá uma grande liberdade interior;

7º) nosso próximo aufere grandes bens desta


devoção (pois que lhe damos, pelas mãos de Maria, o que
temos de mais caro, isto é, o valor satisfatório e
impetratório de todas as nossas boas obras, sem excetuar
o menor dos bons pensamentos e o mais leve sofrimento;

...é o meio de converter os pecadores sem temer a


vaidade, e de livrar as almas do purgatório, sem fazer
quase nada mais do que aquilo a que cada um está
obrigado por seu estado);

8º) é um meio admirável de perseverança.

34
Relações entre a Santíssima
Virgem e seus escravos
Depois o santo passa a falar das relações que se
estabelecem entre a Santíssima Virgem e seus
escravos por amor:

1ª) Ela os ama;


2ª) Ela os mantém;
3ª) Ela os conduz;
4ª) Ela os defende e protege;
5ª) Ela intercede por eles.

Efeitos maravilhosos
desta devoção
Por sua vez, são maravilhosos os efeitos que esta
devoção produz numa alma fiel:

1º) Conhecimento e desprezo de si mesmo;

2º) Participação da fé de Maria;

3º) Graça do puro amor;

35
4º) Grande confiança em Deus e em Maria;

5º) Comunicação da alma e do espírito de Maria;

6º) Transformação das almas em Maria à imagem de


Jesus Cristo;

7º) A maior glória de Jesus Cristo.

Práticas exteriores e
interiores desta devoção
Após falar das práticas exteriores dessa devoção, o
santo doutor marial mostra que o mais importante são as
práticas interiores por ele recomendadas:

1ª. Fazer todas as ações por Maria:

“É preciso fazer todas as ações por Maria, quer


dizer, em todas as coisas obedecer à Santíssima
Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito,
que é o santo espírito de Deus” (n.258).

2ª. Fazer todas as ações com Maria:

“Em todas as ações olhar Maria como um modelo


acabado de todas as virtudes e perfeições, que o
Espírito Santo formou numa pura criatura, e imitá-la

36
na medida de nossa capacidade” (n.260).

3ª. Fazer todas as ações em Maria:

“Para compreender cabalmente esta prática, é


necessário saber que a Santíssima Virgem é o
paraíso terrestre do novo Adão [Jesus Cristo],
de que o antigo paraíso é apenas figura”
(n.261).

4ª. Fazer todas as ações para Maria:

“Porque, desde que nos entregamos


completamente a seu serviço, é justo que
façamos tudo para Ela, como um criado, um
servo, um escravo” (n.265).

37
Conclusão

Quem praticar verdadeiramente esta devoção,


unindo-se à Santíssima Virgem do modo preconizado por
esse grande missionário, atingirá sem dúvida a santidade.

Entretanto, São Luís Maria não o espera de todos os


que abraçarem esta devoção. Diz ele que

“o essencial desta devoção consiste no interior


que ela deve formar e, por este motivo, não será
igualmente compreendida por todo o mundo.
Alguns hão de deter-se no que ela tem de
exterior, e não passarão avante, e estes serão o
maior número; outros, em número reduzido,
entrarão em seu interior, mas subirão apenas
um degrau.

Quem alcançará o segundo? Quem se elevará


até ao terceiro? Quem, finalmente, se
identificará nesta devoção? Aquele somente a
quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este
segredo.

Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel,


fazendo-a progredir de virtude em virtude, de
graça em graça, e de luz em luz, para que ela
chegue a transformar-se em Jesus Cristo, e
atinja a plenitude de sua idade sobre a Terra e
de sua glória no Céu” (n.119).

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Desejamos de todo coração que nossos leitores e nós
mesmos possamos ser incluídos entre esses privilegiados.

39
_____________

Notas:
1. Pe. Louis Perouas, San Luis María Grignion de Montfort,
Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1984,
Introdução, p. 11.
2. Circular aos Propagandistas de Catolicismo, 1951.
3. Apud Louis Le Crom, São Luís Maria Grignion de Montfort,
Editora Civilização, Porto, 2010, p. 322.
4. Louis Perouas, op. cit., p. 35.
5. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem,
Editora Vozes, Petrópolis, 1961, Introdução, pp. 12 e 13. Todas
as citações da obra são desta edição, figurando no fim de
cada parágrafo o número do tópico citado.
6. Louis Le Crom, op. cit. p. 505.

_______________ Apêndice 1 _____________

A “Onipotência Suplicante”

A Igreja invoca Nossa Senhora como a “Onipotência


Suplicante”. Parece um paradoxo, mas não é, pois as súplicas de
Nossa Senhora tudo obtêm de seu Divino Filho.

Para mostrar essa “onipotência” no Céu, São Luís apresenta


um argumento contundente: “Pois que a graça aperfeiçoa a
natureza, e a glória aperfeiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor
continua a ser, no Céu, tão Filho de Maria como o foi na terra. Por
conseguinte, Ele conserva a submissão e obediência do mais
perfeito dos filhos para com a melhor das mães.

Cuidemos, porém, de não atribuir a essa dependência o menor


abaixamento ou imperfeição em Jesus Cristo. Maria está
infinitamente abaixo de seu Filho, que é Deus, e, portanto, não lhe
dá ordens, como uma mãe terrestre as dá a seu filho. (...)

Quando se lê nos escritos de São Bernardo, São Bernardino, São


Boaventura, etc., que no Céu e na Terra tudo, o próprio Deus está
submisso à Santíssima Virgem, deve-se entender que a autoridade
que Deus espontaneamente lhe conferiu é tão grande, que Ela

40
parece ter o mesmo poder que Deus, e que suas preces e rogos
são tão eficazes, que se podem tomar como ordens junto de sua
Majestade. E Ele não resiste nunca às súplicas de sua Mãe,
porque Ela é sempre humilde e conformada à vontade divina”
(n.27).

_______________ Apêndice 2 _____________

A inimizade entre os que são de Deus e os que são do


demônio

É particularmente importante a afirmação de São Luís


Grignion sobre a luta que os bons têm de manter neste vale de
lágrimas:

“Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu,


inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar
até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio;
entre os filhos e servos da Santíssima Virgem, e os filhos e servos
de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus
armou contra o demônio.

Ele lhe deu até, desde o paraíso, tanto ódio a esse


amaldiçoado inimigo de Deus, tanta clarividência para descobrir a
malícia dessa velha serpente, tanta força para vencer, esmagar e
aniquilar esse ímpio orgulhoso, que o temor que Maria inspira ao
demônio é maior que o que lhe inspiram todos os anjos e homens
e, em certo sentido, o próprio Deus” (n.52).

O santo insiste: “Deus não pôs somente inimizade, mas


inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também
entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do
demônio.

Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios


secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima
Virgem, e os filhos e escravos do demônio. [...]

Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do


mundo (pois é a mesma coisa), sempre perseguiram até hoje e
perseguirão, no futuro, aqueles que pertencem à Santíssima
Virgem como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu
irmão Jacó, figurando os réprobos e os predestinados” (n.54).

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A propósito dessa inimizade, comenta Plinio Corrêa de
Oliveira: “Entre Vós [a Santíssima Virgem] e o demônio, entre o
bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo,
irreconciliável, eterno. As trevas odeiam a luz, os filhos das trevas
odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e outros durará até a
consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da
Mulher e a raça da Serpente [...]

E toda a história do mundo, toda a história da Igreja não é


senão esta luta inexorável entre os que são de Deus, e os que são
do demônio, entre os que são da Virgem, e os que são da
Serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência,
nem só fraqueza, mas também maldade, maldade deliberada,
culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e humanas que
seguem a Satanás” (Via Sacra, 11ª. Estação, Catolicismo n. 3,
março de 1951).

_______________ Apêndice 3 _____________

Os “Apóstolos dos Últimos Tempos”

São Luís Grignion nos fala dos “Apóstolos dos Últimos


Tempos”, cuja presença deverá fazer-se sentir “particularmente no
fim do mundo e em breve, porque o Altíssimo e sua santa Mãe
devem suscitar grandes santos, de uma santidade tal que
sobrepujarão a maior parte dos santos como os cedros do Líbano
se avantajam às pequenas árvores em redor” (Tratado, n. 47).

Essas almas de escol, “com a direita combaterão,


derrubarão, esmagarão os hereges com suas heresias, os
cismáticos com seus cismas, os idólatras com suas idolatrias, e os
ímpios com suas impiedades. (...)

Por suas palavras e por seu exemplo arrastarão todo o


mundo à verdadeira devoção, e isto lhes há de atrair inimigos sem
conta, mas também vitórias inumeráveis e glória para o único
Deus” (n.48).

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Normalmente as edições do Tratado da Verdadeira Devoção
trazem em apêndice a “Prece de São Luís Grignion de Montfort
pedindo a Deus missionários para sua Companhia de Maria”, mais
comumente conhecida como “Oração abrasada”, da qual citamos
apenas um parágrafo para ilustração de nossos leitores:

“Que vos peço eu? [...] Verdadeiros servos da


Santíssima Virgem que, como outros tantos São
Domingos vão por toda parte, com o facho lúcido e
ardente do santo Evangelho na boca, e na mão o santo
rosário, a ladrar como cães fiéis contra os lobos que só
procuram estraçalhar o rebanho de Jesus Cristo;

...que vão, ardendo como fogos, e iluminando como


sóis as trevas deste mundo; e que, por meio de uma
verdadeira devoção a Maria Santíssima, isto é, uma
devoção interior, sem hipocrisia; exterior, sem crítica;
prudente, sem ignorância; terna, sem indiferença;

...constante, sem versatilidade, e santa, sem


presunção, esmaguem por todos os lugares em que
estiverem, a cabeça da antiga serpente, a fim de que a
maldição que sobre ela lançastes seja inteiramente
cumprida: Inimicitias ponam inter te et mulierem, et
semen tuum et semen illius; ipsa conteret caput
tuum”(*)

_____________
(*) Tratado da Verdadeira Devoção, op.cit. p. 305.

43
A VERDADEIRA
DEVOÇÃO MARIANA
Esclarecimentos, fatos inéditos e análise da maior obra
literária sobre a devoção à Santíssima Virgem, de São Luís
Maria Grignion de Monfort

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