Você está na página 1de 15

Colação Debates

Dirigidapor J. Guinsburg

carlos calado
OJAZZCOMO
ESPETACULO

Equipe de realização -- Revisão: Dilce Yukie Yamamoto e Berenice Baeder


Produção: Ricardo W. Neves e Raquel Fernandes Abranches.

::lã't\xs'PERSPECTIVA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(CânaaraBrasileíia do Livro, SP,Brasil)

Calado, Carlos, 1956-


O jazz como espetáculo / Cardos Calado
São Paulo : Perspectiva, 2007.
(Debates; 236/ dirigida poi J. Guinsburg)

I' reimprcssãoda I' edição de 1990


Discografia sclecionada
Bibliogra fia
ISBN 978-85-273-0040-7

1. Jazz.1.Título.11.Série. A ilwus pais, Aberto e Ittês


peb eterttoapoio.

90-2249 CDD-781 .57

Índices para catálogo sistemático


l.Jazz 781.57

I' edição -- I' reimprcssão

Direitos reservadosà
EDITORA PERSPECTl\H S.A

Av. Brigadeiro Luís Antânio, 3025


01401-000 -- São Paulo -- SP -- Brasil
Teleíàx: (0-1 1) 3885-8388
www. editoraperspectiva.com .br
2007
Paulo e Rio) e à Embrafilme, pela cessãode seusequipamentos e
serviços.
A todos os amigos que assistiram, sempre carinhosos, este
longo parto.

SUMÁRIO

ApKKSENTAÇÃoJÓ Sobres 17

COISA DE CRIOULO SergfO 4UgZ/S/O 19

l JAZZ E TEATRO: O TEMA 23

Música para os Olhos 23


A Estrutura Mínima do Espetáculo 28
28
A relação músico-instrumento
31
O jazz como "texto dramático'
A relação com a platéia 35
O instrumento como "máscara' 36

A Expressão e a Improvisação 39
A Máscara no Espetáculo Jazzístico 48

/2
2. O RIrUAL E O TEATRO POPULAR: DUAS MATRIZES NA 4 NOTASSOBREA MÚSICA POPUI,ARBRASILnRA E O JAZZ 221
PRÉ-HISTÓRIADO JAZZ 65 Similaridades na Música Negra do Brasil com os EUA 22]
Africa: Música e Ritual 221
65 Os Antepassados Comuns ..
O Núcleo Africano 225
65 O Pregão
A Linguagem dos Tambores 67 O Vissungo 226
A Música de Feitiçaria 227
Um Ritual Africano: o Hoodoo 71
80 A Música Negra nas Irmandades Católicas 228
Manifestações Ritualísticas nas Raízes do Jazz
81 A Música Instrumental dos Barbeiros 229
O Field Holler e o StreetCry
O Lundu e o Maxixe 231
A Work Some 83
Jazz e Espetáculo à Brasileira 233
O Rins-Short e o Spirituat 88
O Blues Pixinguinha e os Jazz Ba/rds 233
92
97 As Orquestras 241
O Teatro Popular nas Raízes do Jazz
O Minstre{ 97 A Bossa Nova 245

O Z?/z/esClássico e o Halfdeví//e 103 Henneto Pascoal e o ,f)rappeníng 248


]l l A Pe/:áorn?af7cedos 80 252
O Show de Cabaré e a Revista Negra ........
A Matriz Teatral 117
DE VOLTA AO TEMA 259
2 QUATRO MOOELOS OE ESPETÁCULONA HISTÓRIA OO JAZZ 121
BIBLIOGRAFIA 263
O Jazz Tradicional e a Dança 121
O Funeral Negro, um Ritual de New Orleans 121 DISCOGRAFIA SELECIONADA 273
O New Orleans 129
O Dixleland e o Chicago 132
0Swjng 138
O Jazz Modems e o Concerto 150
OBepob 150
O Cool, o West Coast, QProgressive e a
]'hird Stream 160
O Funky e Q Hard Bop 166
O Frei Jazz e Q Happening 171
A Origem do Happen/ng 171

Free Jazz e o Art Ensetuble ofChicago ]78


O Modelo /:Íappen;ng 19}
O Ecletismo dos Anos 70 e 80 e a Pe/:áornzance.. 193
A.Fttsion 193
0 "Estilo" ECM 203
A Pe/:Áor/77a/7ce
Teatral . .... .. ... 2o8
O Modelo Pe/gor/nasce 218
função primordial de produzir música dançante, o jazz, em suas g#r c/ab localizado no Hadem de New York, aberto pelo ex-sa-
primeiras décadas,desenvolveu toda uma larga utilização de re- xofonista Henry Minton, em 1938.Uma habitualfreqüentadom
cursos cênicos, com os quais os .fazzP7zen
buscavam chamar a do local, a pianista Mary Lou Willians o descreve:
atenção do público para si e sua música. Fossem inicialmente au-
to-expressivos(como as caretase trejeitos de Louis Amlstrong), O Minton's. Playhousenão em um lugar grande,embora agradávele
provenientesdo teatro de variedades(os chapéuse efeitos cómi- intimo. O bar ficava na frente e o.cabaré atrás. O praticável da bandasi-
tuava-se no fundo da sala de üás, onde a parede em coberta com estanhos
cos da Original Dixieland Jazz Band), números de habilidades(os
desenhosrelatando esquisitas personagens sentadas numa cama de metal,
/mkza7zacfs dos músicos do cAicago), decorativos(os unifom)es abraçando ou conversando com garotas .
das big ba/z(Zs), e até mesmo acrobáticos(os malabarismos de Dumnte o dia, as pessoastocavam a viüola e dançavam. Eu as cha-
Lionel Hampton ou da bandade Jimmie Lunceford), todos esses mava fteqüentemente e dava muitas risadas. É surpreendenteo quanto
elementos contribuíram para a composição de uma particular eram felizes aquelas personagens -- vivendo, dançandoe bebendo. Parecia
que todos falavam ao mesmo tempo; o barulho em tremendoSZ
fom)ade espetáculo,
que, apesarde secundária
em relaçãoà
atração da dança sobre o público, também era concebida para ser
vista. A partir de 1940, a banda da casa contava com dois músi-
cos exponenciais do futuro estilo -- o pianista Thelonious Monk
Resultandode uma particular associaçãodas matrizes do ri-
e o baterista Kenny Clarke -- sem falar que o trompetista Dizzy
tual e do teatro, os espetáculosdo jazz dançanteacabaramfun-
Giaespie ia até lá diariamente. Perwbendo o que acontewra
cionando como um modelo radicalmente rejeitado pelos adeptos çom os músicos negros do ówí/zg,que viram os músicos brancos
de estilos posteriores,componentesdo jazz modems. A partir ficarem com a fama e a fortuna, aquele grupo de jovensjazz/mn
dessa negação surgia o concerto de jazz, a forma modema do es-
negros tinha a intenção de criar um novo e inimitável estilo.
petáculo jazzístico. Os jovens .jazzzmn recusavam-se a continuar
'Nós vamos criar algo que eles não possam roubar, por não sa-
vendo sua música ser veiculada como entretenimento; exigem pa- berem tocar", dizia Monk33. As idéias foram sendoreunidas aos
ra ela o status de arte. Acabava de nascer o bebop.
poucos, nos intervalos de trabalho. E logo em seguidacolocadas
em prática, nas .fam seisianz.ç,
com uma não-disfarçada intenção
O Jazz Moderno e o Concerto
de afastar os músicos principiantes ou "quadrados". Quem conta
é Kenny Clarke:
O bebop
Nós freqüentementeconversávamosà tarde. Foi como viemos a es-
No início da década de 40, o swing já dava evidentes sinais crever progressões de acordes diferentes e outras coisas. Fazíamos isso
de desgaste, abusando na repetição das mesmas fórmulas e cli- para desencorajaros participantes que não queríamosà noite. Monk, Joe
chés. A comercialização excessiva desse estilo musical, aliada à Guy, Dizzy e eu os inventávamos.
Freqüennmente,
os escrevíamos
no
trabalho também. Mesmo duranteo decorrer danoite no Minton's. Geral-
estrutura rígida das grandes orquestras, que proporcionavam mente tocávamoso que nos agradasse.Não havia uma hora certa paraco-
pouco espaço de criação aos músicos, instauram a necessidade meçarou parar de tocar. Teddy Hall, o empresáriodo Minton's, nosentre-
de mudanças radicais. O descontentamento dos jazzrzzenmais gou o controle da sala de üás. Quanto aos participantes que não queríamos,
Jovens, frente à estandartização do nt,iPzg,podia ser facilmente quando começávamos a tocar aquelas mudanças de acordes diferentes que
inventávamos, perdiam a coragem depois do prüneiro c/zo/zu e saíamdeva-
detectado pelas sessõesde improvisação que eles procuravam,
gar, deixando osmúsicos profissionais em cena34.
avidamente, após saírem do "emprego" nas ólg óa/z(ü; as jam
sexxiom(embora sua origem seja um tanto controvertida, há uma
Embora o Minton'$ tenha sido por vezes um poupo mitifi-
explicação comente .do temia como sendo derivado de
cado em relação ao nascimento do bebop -- foi um entre os
"J.A.M." -- abreviatura de "jazz after midnight", isto é, "jazz
após à meia-noite"). 32. Citado por Shapiro, (1)p.dz'., p. 338.
Um local que acabouficando registrado como importante 33. Citado por Shapiro, Op. ci/., p. 341.
antro dessas reuniões musicais foi o Minton's Playhouse -- ní- 34. Citado por Shapiro, Op. cíf., pp. 337-338
muitos lugares onde esse estilo surgiu -- seu exemplo é bastante Dizzy GiUespie,que registrou importantesgravaçõesem 1945,
revelador da nova atitude assumida por essageração. Era mu- serviu de modelo básico çom sua fonnação de compete, sax,
tante a intençãode inovar e conseguirum estilo s6 praticado piano, contrabaixo e bateria(em alguns casos recebendo varia-
por "poucos e negros". E foram tantas as transfonnações em- ções com guitarra, trombone ou mesmo vibrafone). Daí o épico
preendidaspor eles, que muitos deHmemo bebop como uma caráter de "câmara" do bop, embora alguma experiências no-
revolução". Com o bop, o Jazz tradicional estavajigado lite- üveis tenham sido feitas com bandas maiores, como a orquestra
ralmente sendo derrubado: de Gillespie, por exemplo. A expnssão individual dos solistas
era buscada com maior intensidade, após os anos e anos de es-
Esta atitude, esta maneira de w apresentarem,tinha evoluído das truturas rígidas nas õig ba/zdr.
mudanças no pensamento negro, que foram ocornndo nos anos 20 e 30.
Não em mais necessáriobajular os brancos. E se fosse, para o inferno com
Também o repertório foi transfom)ado, é evidente. O ó/aes
isso. É quase surprwndente,levando isto em consideração-
que esses -- que, com poucas exceçõesdurante o swing, foi substituído
músicos mudamm a música à sua volta. Onde os tempos tinham sido mé- pelos sm/z(ürdf(canção popular clássica) -- voltou a ser bastante
dios, agora eram rápidos ou leitos. Onde a tónica, terça, quinta e sétima uüjizado pelos músicos do bebop como estrutura básica para
da escala tinham sido acentuadas,agora a segunda e a quarta eram desta-
muitos improvisos e temas. Já os sfa/zelar(Zs
agoraeram totalmente
cadas.Onde o primeiro e o terceiro cear de um compassotinha sido
acentuado, agem em o segundo e o quarto. Onde pares de notas l)aviam recriados, utilizando-se apenas suas seqüências harmónicas para
sido tocadas de modo desigual, agora emm tocadas quaseigualmene. On- compor novos temas, geralmente em rápidos andamentos.
de coros de imüumentos tinham harmonizado, agora eram tocadosem "How High the Moda" foi transfomlada por Charlie Parker em
uníssono. O bop era, no sentido exato da palavra, uma revolução musical.
Esses homens viraram o mundo do jazz de cabeça para baço e sentaram
'Omithology", assim como "What is Tais Thing Called Love'
em cima desacatandoos mais velhos, diminuídos do outro lado3S serviu de base a "Hot House". E sem falar nas inúmerascom-
posições que já eram criadas pelos beb(#)pera sob as fom)as do
Por esses comentários, jí se perwbe muito do sentido de novo estilo. A improvisaçãocomandavaas interpretações,
ao
negação que o óebop dançou sobre o jazz anterior. O aspwto contrário dos arranjos rígidos e cristalizadosem vigor no sndng,
mais marcante das inovações introduzidas por seus criadores, em muitos casos.
wm dúvida, foi quanto ao ritmo, revelando uma maior aproxi- O contexto teçnológico em que surgiu e se desenvolveu
mação com a complexidade ríünica africana. Aliás, o próprio o bebop também não pode ser esquecido. No ümal dos anos 40
temo bebop(ou apenasbop) sintetiza uma típica célularítmica coimçavam a ser introduzidos os discos de 33 1/3 rotaçõespor
empregada em frases desse estio, também frequente em seus inhuto(os /ong-p/ays), pemlitindo a gravação de faixas muito
vocais soar(como várias composições de Dizzy GiHespie -- mais longas em duração do que os três minutos possíveisante-
"Oop-Bop-Sh'Bam", "Jump Did-Le Ba" e "Oop-Pop-A- rionnente nos de 78 rotações(onde foram feitos os primeiros
Da" -- cujos vocais ele mesmo executava). registros do bop). Para um estilo onde as longas improvisações
A tradicional separação entre os instrumentos melódicos eram frequentes, nada mais necessário. E mesmo a qualidade de
(sopros e piano) e ríünicos(bateria e contrabaixo) começava som proporcionadapelo Hi-FÍ(sistema de alta fidelidade)era
a ser desfeita. Agora, o conüabaixo também fazia intervenções muito importante a partir de todas as inovações dmbrísticas que
melódicas ou mesmo selava, em alguns momentos. Também a são introduzidas pelos estilos podemos.
bateria desempenhavaum papel bem mais destacadodo que só A partir dessasérie de tmnsfomlações e mudançastrazidas
marcar o ritmo básico, passando a interferir muito mais nas es- e desenvolvidas pelo óebop, é natural que a atitude de seus cria-
truturas ríünicas dos temas e improvisações. dores também fosse diferente dos jazzznzenque os precederam.
A instrumentação
foi outrasigniHlcativa
inovação.
De Uma nova música pedia nwessariamenteuma nova fonna de
grandes orquestras passou-se ao conjunto pequeno, o camba apmsentá-la ao público:
(abreviaturade combi/zaüo/z).
O quintetode CharlieParkere
Ficava claro, então, que o bop era mais que uma forma musical; em
também o centro de um conjunto de idéias sociais. Associada a ele havia
35. Colher, OP.cfr., pp. 360-361.
IS2 153
uma atitude expressanum hábito de linguagem, roupas e comportamento aparente.Apesar de citado por Colher entre as exwções,devi-
Isto foi o que se chamava cooJ, com importantes conotações sociais. O in- do a suasroupas, Charlie Parker era no palco a própria imagem
térprete de jazz dos anos 20 e 30 via a si mesmo como, enfie ousas coisa
do músico coo/, segundo a descrição do saxofonista Jimmy
um en/e/'zain:er
público. Havia Annlstrong com suascaretase o grandelen-
ço pendente; Cab Calloway usando um temo branco de cetim; a orquesüa
Heath: "Fora do palco, Bird(seu apelido) dava somsos largos e
de EUington de colarinho branco e gmvata, lapela de cetim e uma faixa ria, mas no palco era muito sério e ia direto ao ponto -- nada era
de cetim descendo pela pema; Billie Holiday com longas luvas brancas e a desperdiçado. Ele apenas tocava a música, sem qualquer trejeito
grandegardênianocabelo. ou movimento físico ao seu redor"3z
O modo adotado pelos músicos bop e seusseguidores em o reverso
Mesmo se tratando de notáveis exceçõescomo o citado
daquele. O músico bop vestia-se como um corretor inglês da Bolsa; falava
tanto quanto possível como um professor universitário -- qiíando não esta- trompetista Dizzy Gillespie, não há dúvida que este jamais as-
va usando sua gíria particular -- e evitava qualquer coisa que cheirasse a sumiu uma atitude próxima à de Louis Armstrong, por exem-
emocionalismo. Nada do sorriso largo e dos bmços estendidosde Arms- plo. Apesar de seu temperamento histriónica e gozador, as pa'
üong; ao contrário, ele friamente cumprimentava a plateia com a cabeça Ihaçadas de Gillespie são revestidas por uma capa de Hmaironia
ao ãim do número e saíado palco. Por cem, a imagem era algumasvezes
-- ele jamais exerceu o papel de enrenainer ingênuo. Gijlespie
quebradana suaformação. Gillespie era um palhaço por naturezae caçoa-
va em volta da estante; Monk era dado a usar chapéus engraçados; e Par- não tenta servilmente agradar à platéia. Apenas leva ao palco
ker nuncatevemuita consciênciade suasroupas, de um modoou deouço seus traços de personalidade iconoclasta e ali se diverte bastan-
Mas a intenção coo/ era bastante real, e tinha dois significados. Por um la- te, ao invés de fazer tudo com a intenção de divertir a plateia.
do, era uma tentativa delibemda de evitar desempenharo papel de en/er- Outro nome citado como exceção, Thelonious Monk, tam-
üzúzernegro ./ZanzbaJ;anf,que os brancos esperavam. Por outro lado, em
bém não chega a negar a atitude coo/. Na verdade, a música
uma paródia do que os negros viam como o quadrado e restrito mundo dos
brancos36 destepianistae compositorsoa tão original e tem traçostão
pessoais que, sob certos aspectos, é mesmo difícil caracteriza-lo
como um autêntico músico bop, apesar de encontra-lo já em
A atitude coo/ é fundamental para se compreender não só
1940 nas famosasjam iesiiom do Minton's. Aliás, essaindivi-
os bebopperscomo várias conentes do jazz moderno(que
grão analisadasmais adiante). O jazz tradicioin] era /zof,isto é, dualidade musical tinha plena conespondência em sua persona-
seus músicos revelavam uma atitude expansiva, emocional e de lidade. Monk ülcou célebre no meio jazzístico, além de sua mú-
sica, é claro, por suas inúmeras esquisitices -- o que Ihe valeu o
'sanguequente". Contrapondo-w a ela, o novo jazz só poderia
ser coo/, ou nUa, mais racional, despojado de sentimentalismos apelido dé "Mad Monk"(o "monge louco", ou apenas "o louco
Monk"). Além do hábito de usar chapéusde todosos tipos(mili-
ou histrionismos. Ao que parece, o temia já existia anterior-
tares, eclesiásticos,ou de outros paísese culturas) e das eventuais
mente entre setores negros do u/a/ergrow/zd, os chamados Àlps
ou Àfps/ers(unhaespéciede grupo de contracultura que adotava cotoveladas que aplicava no teclado do piano, buscando sonori-
dades diferentes, ele levava mais excentricidades para o palco:
algumasroupas particulares, uüjizavam um jargão próprio, dro-
gas, bebida, e era adepto das últimas inovações do jazz, ao con-
As atitudes estranhas também continuaram a enriquecer sua biogra-
trário dos sqüiares, "quadrados" ou "caretas"). O beóop serviu fia: em wus concertos, costumava levantar-se do piano, andar pelo palco e
de propagados'dessasidéias e um de seusdewnvolvimentos ex- depois ensaiar um curioso e desajeitado bailado de urso. A dança em uma
tramusicais foi a chamada"geração cear", que revelou escrito- tentação à qual Monk não nsistia, mesmo quando ouvia suas próprias
res como Jack Kerouaç, Allen Ginsberg e Gregory Corso, entre gravações.O bailado, segundoele, Ihe servia paraconsolar se suamúsica
'funcionava'' e se o i'wüzg era adequado. Havia, no entanto, quem visse
outros. A improvisação do bop influenciou decisivamentea Hlc-
nisso uma pmva indiscutível de sua sandice. Conta-se também que costu-
ção e a poesia dessesautores, que a utilizaram como modelo de mava passarhoras ou dias da cama, cingindo-sede morto, com um gorro
criação. na cabeça;e que saía com uma folha de alfaw pegada na lapela. Além
Para os músicos do bop, ser coo/ no palco era tocar quase
com frieza, sem qualquer espécie de afetação, gestos ou emoção 37. Citado por Leonard Feather e Conrad Silvert, ''Jazz World Re
members Bird'', .Z)own.Beaf,Maher, Chicago, v. 47, n9 8, aug. 1980, p
36. Colher, Op. cír., p. 360. 27
154
disso, gostava de repetir, com ar absoluto, seu aforismo preferido: "É
sempre noite; se não fosse assim, não sentiríamos tanta necessidadede
Itiz''38

Tivesse ele algum tipo de perturbação mental ou não, o


T porque você não podia dançar num clube. Se alguémcomeçassea dança
haveria uma taxa de vinte por cento a mais em dólar. Se alguémcantasse
uma cançãoseria mais vinte por cento. Se alguém dançaswno palco em
vinte por cento a mais. Paraque pelo menoshouvessealgum entreteni-
mento durante aqueleperíodo, as pessoastinham os insüumentistasto-
certo é que Monk não fazia qualquer dessa excentricidades cando, e essefoi um maravilhosoperíodo parao desenvolvimentodos
insüumentistas30
com a intenção de agradar ou divertir a plateia. Sua atitude ab-
sorta e distante era natural, tanto no palco como fora dele.
É elmo que apenas esses dados económicos não explicam
Mono estava preocupado apenas consigo mesmo e sua música; a todo o contexto. Naquele momento já havia uma certa disposi-
presençada platéia à sua frente era mem casualidade.A exwn-
ção em ouvir a música e não apenas dançar, o que pode ser jus-
tricidade de Monk não exclui, dessamaneira, à caráter coo/ de
sua atitude como músico. tificado pelo próprio desgastedo Swinge suasbig ba/z(ü.Uma
Além dos traços comuns verificáveis nos diferentes de- experiência notável, não só por prenuncia o novo estilo musical
aplicado à linguagem de uma grande orquestra, como por de-
sempenhos de músicos como Chame Parker ou Thelonious
monsUar essa nova relação ente músicos e platéia, foi a or-
Monk, o que se tomou flagrante a partir do nascimentodo be-
questra do cantor Billy Eçkstine. Existindo apenas por alguns
óop(e conseqiientemenüe do jazz modems) foi o estabeleci-
meses,durante o ano de 1944, e contandocom Dizzy GiEespie
mento de uma nova forma de espetáculojazzístico: o canwrto.
(seu dintor musical) e a cantora Sarah Vaughan, além de fun-
Vários fatores concorreram para essa fom)ulação, de origem
damentais músicos do bop, como Males Davas, Fats Navarro,
económica a estritamente musicais. De fato, esseprocesso co-
Charlie Parker, Dexter Gordon e Art Blakey, entre outros,
meçou ainda na "era do iwi/zg, quando, além dos bailes, eram
comuns os afaga i/mws, nas sessõesde cinema. Para a exibição a blg ba/zd de Eckstine foi um verdadeiro balão de ensaio do
bebop. Seu líder fala das apresentações:
de filmes mais famosos, reuniam-se artistas e blg ban(ü, no pal-
op do cinema ou de um teauo, onde era realizado um espetáculo nosso tipo de música era mais ou menos um estilo de concerto de jazz.
de inüodução à fita. Essecostume, comum já em meadosda dé- As pessoascomeçavam a dançar, e então se viravam e escutavam. Algu-
cada de 30, mostra ligaçõesdiretas com a tradição do valdevl//e mas vezes nossos andamentos eram quase não-dançáveis também. Diz fez
e do próprio cinemamudo, que utilizavam a música ao vivo. um armnjo pam ''Max is Makin' Max", apresentando
ele e Bird. Você
não poderia dançar aquilo de modo algum, mas as pessoaspamvam ali e
Toda uma nova situação embalava o surgimento do óop. A assistiam. Mas eu acho que uma das principais coisas é que em o Him da
SegundaGuena trouxe pesadosimpostose taxassobrea in- guerm e, durante a guerra, as pessoasnão estavam prontas ainda para um
dústria de diversões -- o que é explicado pelo baterista Max estilo de conwrto de jazz40
Roach:
Outro exemplo, que deixa clara a passagem dos bailes para
Quando a dança, os comediantes e todas aquelas coisas w lomamm a forma do concerto, é narrado por August Blame, um executi-
muito custosasdevido aos impostosda guerra, o sporálgã/se voltou para a vo da gravadoraRCA Viçtor. Paraele, o problemanão se vin-
música in.strumental. A música insüumental foi a fonte de entretenimento culava, necessariamente, ao caráter pouco dançante do bebop,
durante todo o período dos anos 40 e, assim, o insüumentista virtuosa em
mas também a uma predisposição da plateia;
o único que üabalhava(-.) Eles tinham um imposto de guena de vinte por
cento; eles tinham uma taxa municipal; eles tinham uma taxa estatal. Você
a escassezda dança tem sido atribuída à qualidade não-dançável do jazz
não poderia ter uma óig óa/zz/porque a bíg ba/zd tocava pua dançar. Court
Baste viajava com uma banda pequena. A única óig ba/zd que eu acho que moderno -- ou melhor, é a atenção para o brilho do desenho da música que
sobreviveu durante todo esseperíodo foi a de Duke Ellington(.-) As
pessoascomeçaram a sentar; elas estavam se sentando para ouvir a música,
39. Citado por Dizzy Gillespie & AI Fraser, 7'o .Beor /Vor /o .Bop.
r/ze A fobíograpáy of DlzW Gaespü, Quartet Books, London, 1982, pp
38. Artigo Polillo, ''Thelonious Monk'', vol. da colação Gígan/es
232-233.
doJazz,p. 6, Abril Cultural. 40. Citadopor Gillespie,(1)p.cfr., p. 190.
156 /57
impede de dança. Cerca de 1 500 S/zrüers negros, em Balümore, decidi-
ram organizar uma dança.Eles contratamm dois grupos: um lidemdo por
A posecoo/deAI Cohle
Lestes ''Prós'' Young, incluindo acompanhantes poderosos como Jessie
Zoot Sims(FotoCarolo
Reiff). Drakes e Roy Haynes; e o outro liderado por Yardbird, auxiliado e apoia-
do por uma ''turma de assassinos''con.sistindoem AI Haig, Kenny Do-
rham, Tommy Potter, e Max Roach. Após dez minutos de música, olhei
para a platéia, e das 1 500 pessoassomente seis casais estavam dançando;
Modem Jazz Quartel os ouros se sentaramno chão. A dança tinha se üamformado num con-
(Foto Banco de Dados da certn41
T

Foltm de S. PauhÜ.

O caso citado é particularmente significativo. De um lado,


o grupo liderado pelo saxofonista Lestes Young, mais ligado ao
wlng e à /mlnsDeam(corrente jazzística, que tem seu núcleo
no swí/zg,mas aceita elementos de estilos modernos). Do outro
lado, um típico conjunto do Z)eóop,tendo à frente Charlie Par-
ker("Yardbird"). Emborao autor não especifiquea datadesse
evento, pela fomlação do grupo de Parker ele deve ter oconido
em 1948. Duas geraçõesestavamlado a lado participandode
uma festa dançante, o que nessa época já não acontecia neces-
sariamente. De música até então usada para a dança,o jazz al-
cançavao s/a s de arte,deixandode ser apenasouvido,para
ser atentamente escutado.

Com o advento desta nova música, o õop, a energia criativa investida


até aquele momento na produção da música de dança foi üaDlsfcridapara o
intérprete. E embora a função da dança fosse ainda evidente no bop e /
jrrerbag, o papel do dançarino se tornou secundário em relação ao do ou-
vinte. Enquanto que, antes, a música tinha sido ouvida, ela requeria agora
audição concentrada, permitindo uma expansão de si mesma através da
identiõcação com a comunicaçãosimbólica do intérprete.(Há diferenças
conceituais entre ouvir e escutar. O primeiro inclui outros estímulos além
da música, e pode ser um acompanhamento para outras atividades. Escu-
tar requer concentração, restringindo-se somente aos estímulos musicais
articulares). O intérprete, por seu lado, estava pela primeira vez na posi-
ção de auto-expressão praticamente ilimitada, não mais confinado ao pa-
pe] de fornecer o cear da dança. Anteriormente, um descomplicado e cla-
ramente acentuado beaf tinha facilitado os ritmos complicados e a impro-
visação na dança mas, agora, o processo tomou-se focado sobre a música
como uma função primária nela mesma. O óeaf podia se tomar mais com-
plexo e estimular o solista a novos feitos na improvisação. A seçãoríüii-
ca, mais que a reação platéia-dançuino, ''alimentava'' o solista. O que
parecia ser indiferença do intérprete durante esseperík)doera o resultado
de uma concentração principalmente sobre a relação artística; os ínpz4zs
da

41. Citado por Robert Reisner, gira T&e Lega/zd of C/mr#e Parker
London, Quartet Books, 1978, p. 55.
159
comunicação poderiam agem fluir de um músico para ouço, num Sistema extensão mais natural daquela atitude cerebral e nada emotiva
musical que continha seus próprios recursos dejeecfZ)acÉ42. dos primeiros bebo/)pera.Mesmo que a atitude do músico bop
não fosse Àof, isto é, desprezassequalquer emocionahsmoou
Como se pôde observar até aqui, o bop trouxe não apenas gesticulação típicos dos jazzme/z mais tradicionais, ainda assim,
mudançasestilísticas, mas também uma nova relação entre o em seu aspecto puramente musical, o bop mantinha certos ele-
músico e a platéia, aproximando a exibição musical do concerto mentos Aor, tanto em sua sonoridade agressiva como em sua di-
propriamente dito. O músico e a música passavam para o centro nâmica nervosa, além de um certo humor.
das atenções e não mais a dança. Na verdade, o bop apenasin- Embora seja difícil precisar onde e quando esseestilo co-
troduziu essa mudança. Algumas conentes surgidas posterior- meçou a ser praticado, sua origem é comumenteligada ao nome
mente, no início dos anos 50, radicalizaram essa nova atitude ao de um destacadobeóopper:o trompetista Miles Davas.Miles li-
introduzir vários elementos da música erudita em seus estios e derou um grupo de músicos,brancosem sua maioria e até
composições.A partir daí as diferenças entre um concerto de
aquele momento desconhecidosdo grande público, que se reu-
música clássica e um de jazz eram quase inexistentes. O con- niram para uma série de gravações,entre janeiro de 1949e
certo estava definitivamente inscrito na evolução das fonnas do março de 1950. Ao lança-las, posteriormente, a gravadora Ca-
espetáculojazzbtico. pital intitulou-as "The Birth of the Cool"44. Entre essesmúsi-
cos estavam o ananjador Gil Evans, o sax barítono e arranjador
O pool, o west coast, o progressivo e a third stream Gerry MulHgan, o pianista John Lewis e o sax alto Lee Konitz.
O traço mais original dessegrupo era sua fomlação: além do
nos clubes notumos, as próprias platéias parecem conceber nossamúsi-
tradiciona] trio de base(piano, baixo e bateria),mais dois sa-
ca como um tipo de música de câmara. Todos ficam quietos, e se alguém
faz qualquer barulho, é colocado para fora mpidamente pelas pessoasdo xofones, trompete e trombone, apareciam uma tuba e uma
local trompa -- instrumentos bastante incomuns para o jazz daqueles
djm
O comentário é de John Graas, trompetista e compositor Evidentemente, essa fomiação nada usual trazia conse-
norte-americanoque atuou ao lado de Stan Kenton, Shorty quências sonoras, o que, ao lado da bagagem erudita da maioria
Rogers e Gerry Mulligan, além de outros músicos da Costa de seus integrantes, acabava por constituir uma nova proposta
Oeste dos EUA. Introduzida pelo bebop, essanova fonnu de em tem)os do jazz modemo. As dinâmicas eram mais brandas,
espetáculojazzístico foi ainda mais exacerbadapor vários esti- perfazendo um som mais calmo e inüospectivo. Os andamentos
los ou escolas que surgiram a partir de uma espécie de reação ao eram moderados e a sonoridade geral era limpa, sem vibrato. O
bop, ainda no Hmaldos anos 40. Algumas negavammais, ousas jazz modemo acabava de encontrar seu correspondente sonoro
menos, mas o certo é que todas elas tomaram o bebop como à atitude coo/ introduzida pelo bebop. Para qualiHlçá-la, o temia
referência para as transfomiações que operaram sobre o jazz da mais imediato não poderia ser outro: coo/.
época. Apesar da própria figura de Miles Davis indicar a partici-
A primeira dessas escolas -- e talvez a mais significativa em pação negra na fomiulação do coo/ -- estilo que já tinha no sax
função da evolução estilística -- foi o coo/. Em tempos gerais, de Lester Young um evidente precursor -- o certo é que essa
esse estilo nada mais é que um abrandamento do beóop original, tendência a "esfriar" o Z)op acabou sendo dominada por músi-
um bop "esfriado". Abas, vendo-se a questão pelo aspwto cê- cos brancos. Quase todos eles tinham fomiação erudita, o que
nico, pode-se perfeitamente definir esseestilo jazzbtico como a demarcava uma diferença básica em relação aos músicos do be-
bop. No fundo, eram duas tradiçõesque se defrontavam:a
clássico-européia e a afro-americana.
42. Ortiz b{. Walton, .A/zz.slc.: .Bbck, WTAüe a/zd .B&e. New Yoík
Willian Monos, 1972,pp. 95-96. 44. Miles Davis and His Orchestra,T/zeColzWhre
Bir/h oÍ //zeCo
43. Citado por Shapiro, Op. cír., p. 399. oZ/disco/Capitol/EMl-Odeon, SC 13012, 1972, 33 rpm, estéreo, 12 pol.
161
Uma face significativa desse confronto foi a denominação Um dos músicosmais populares dessacorrente de jazz com
dada a duas escolas(na verdade duas regiões geogránlcas com influências eruditas foi o pianista e compositor Dava Brubeck.
característicasdiferentes entre si) jazzbticas: a West Coast e a Seu grau de popularidade pode ser avaliado pelo fato de ter sido
East Coast. A primeira compreendia músicos, em sua maioria o segundo músico de jazz a aparecer na capa da revista rime
brancos, que foram atraídos para as principais cidades da Cali- (anteriomlente, apenas Duke Ellington havia conseguido essa
fórnia, em função das oportunidades oferecidas pela indústria distinção). Aluno do compositor contemporâneoDarius Mi-
cinematográHlca
de HoHywood, por volta de 1950. Entre eles Ihaud -- cuja influência, ao lado de Bach, Bartók e Rachmani-
destacavam-seferry Mulhgan, o trompetista Shorty Rogers, o noff, é sensívelem sua obra, entre outros elementoseruditos --
clarinetista Jimmy Giuffre e o saxofonista Wardell Gray. Na Brubeck lançou-se primeiramenteno circuito universitário
verdade, o temia wesf boas/ é freqüentemente substituído por norte-americano. As vezes classificado como membro do wesf
coo/, não havendo uma diferenciação precisa entre ambos. coasr, outras como do progreisive, ele discorda do tempo:
Já o temia eas/ opas/ é principalmente utilizado em obras
históricas e críticas, fomiulado como oposição ao wes/ boas/. As pessoasme perguntam porque alguns de nós se irritam com os
Seus praticantes, em geral negros, atuavam na região de New rótulos que têm sido colocadosem nossamúsica. Chamem-nadecontem-
porânea. Você não pode realmente chamar o jazz de hoje ''progressivo'
York e se aproximavam mais do b/lias, do./ü/zAye do Àan/ #op, porque Jelly Roll Mortos estava fazendo a mesma coisa trinta anos aüás...
estilos que serão analisadosmais adiante. Entre essesmúsicos
então por que usar o termo?
destacavam-seo bateristaArt Blakey, o contrabaixistaCharles Kenton? Bem, é um exemplo do por quê não usá-lo. Eu não acho
Mingua e os saxofonistasSonny Rollins e John Coltrane. que ele ou qualquer um de nós esteja fazendo qualquer coisa que não tenha
Como se nota de imediato, a diferença fundamental entre sido feita antes por Stravinsky, Bartók, e os outros. Eu gostaria que você
me dissessealguma coisa que é completamente nova e progressiva no jazz.
essasduas escolasjazzísticas encontra-se na fomiação dos mú-
Seu melhor exemplo seria Lennie Tristano.- Hindemith e Schoenberg
sicos que as integravam. Foi justamente essa tendência dos mú- estão mais avançados no limbo atonal do que ele, ou qualquer um de nós,
sicos brancos -- a utilização de elementos da música erudita eu- e certamente estão explomndo o sistema dodecafónico e o atonalismo40
ropéia -- que ativou o aparecimento de algumas escolas e estilos,
como é o caso do progressíve e da r/lira sacam, que em alguns Boa parte do sucessode Brubeck, principalmenteno meio
momentos se confundem. mais estritamente jazzístico, devia-se à sua associaçãocom o
O termo progressiva, ao que parece idealizado pelo anan- sax a]to e compositor Paul Desmond. Não só a sonoridade lírica
jador e óa/zdleader Stan Kenton, aplicava-se em geral a deter- e coo/ de seu sax, assim como algumas composições importantes
minados arranjos para big ba/zds que utilizavam elementos da -- o caso de "Take tive", o tema mais característico da dupla --
música contemporâneaeuropeia. Para Kenton, a música erudita devem ser creditadas a Desmond, como fundamentais no su-
já não era capaz de acompanhar as necessidadesestéticas do cesso de Brubeck. Uma referência do próprio saxofonista, a
homem contemporâneo -- daí sua opção pelo jazz "progressi- respeito de seu enconüo com Brubeck, capta um pouco da
vo perfomlance de palco do pianista:

Há mais liberdade no jazz, mais conusidemção


pela emoçãoindivi- Eu conheci Dava em 1944, quando ele estavavindo em seu caminho
dual. O jazz é um movi)modo de expressaremoção.Acho que a raçahu- marítimo como fuzileiro. Participamos de uma sessãorápida, começamos
mana, hoje, pode estar passando por coisas que ela nunca antes experi-
a toca um b/aesem si-bemol, e o primeiro acordetocado foi sol maior.
menDu, tipos de ftusüação nervosa e desenvolvimento emocional 'blo- Não sabendo nada sobre politonalismo, naquela época, pensei que ele era
queado, que a música tradicional é inteiramente incapaz não somente de desajeitado, um louco delirante .
Sua aparência, naquela época, embalava esseponto de vista admim-
satisfazer como de representar. É por isso que acredito ser o jazz a nova
música deste tempo. velmente. Descabelado, aparência feroz, com um toque de bate-estacaao
O nosso é o.pro.gressh'e jazz45. piano, e a expressãode um rude sioux. Eu precisei de muitas explicações

45. Citado por Shapiro,(1)p.cíf., pp. 384-385. 46. Citado por Shapiro, Op. clf., pp. 385-386
162 163
pacientes e várias ouvidas a mais, antes de começar a entender em que al. daí o termo "terceira corrente": as correntes clássicae jazzística
tuta ele estava47. formando uma terceira.
As apresentações do MJQ não ficavam devendo nada a um
Exacerbando a atitude coa/ a partir da utilização de ele- concerto erudito de música de câmma. A conespondênciaentre
mentos do concerto erudito, Brubeck é um bom exemplo da sua música e pe/$0/7zza/zcecénica era quase total, levemente
imagem dos músicos wesf coair, geralmente de fonnação clássi- quebrada apenas por Jackson e suas baquetas:
ca e erudita. No entanto, mais que eie, o grupo que levou às úl-
timas consequênciasessa nova atitude, não só em nível musical A música dessaformação de ''jazz de câmara'' agrada tanto em New
pomo também cinicamente, foi o Modem Jazz Quartet. York quanto em Pauis. Sempre de wzmX:ú'zg, como os músicos clássicos,
todos de barba, os quatro componentes do Modem Jazz Quartet üaduzem
Fomiado em 1952, esse grupo era integrado pelo pianista
em som as idéias de John Lewis. Não é bebop, não é coo/: é uma fórmula
John Lewis, que já havia participado das gravações do "Birth original, um jazz refinado e swingante, que vai do bZüesmais comum a
of the Cool", maiso vibrafonistaMilt Jackson,o baixistaPercy Johann Sebastian Bach, passando pela bossa-nova ou pela interpretação de
Heathe o bateristaConde Kay. A duplaLewis e Jackson,es- peças tradicionais49.
trelas do grupo, refletia de certo modo o caráter ambivalentede
sua música. Embora os dois tenham trocado experiências com Um filme que registraa apresentação
do MJQ no Festival
os principais criadores do bop, como Parker, GiUespiee Monk, de Jazz de Monterey, na Califómia, em meadosda décadade
suas atitudes e papéis musicais eram bastante diversos no grupo, 60, consuma com precisão a descrição de Frank Ténot. O vo-
na verdade, complementares: lume e a intensidade de sua execução são bem mais baixos e, em
geral, qualquer sentido de entusiasmo é pouco perceptível.
Uma das razõesdo sucessoda associaçãode John e Milt está na di- Quanto muito este aparece nos movimentos frenéticos de Milt
ferença de setastemperamentos.John é um intelectual refinado e ínteres-, Jackson, batendo com as baquetas no teclado de seu vibrafone,
gadopela teoria, enquanto Milt é mais instintivo e direto. A dupla ti .hao ainda assim sem demonstrações de emocionalismo. Já Lewis
mesmo amor pelo b/ae.y, mas enquanto John buscava de modo bem cere-
bml captar sua essência,Milt realizava instintivamente uma espécie de mantém sua atitude totalmente compenetrada,impassível, com
retomo às fontes dessa música. Com efeito, muito poucas vezes na história gestos muito discretos e mínimos ao piano. Até mesmo a bate-
do jazz ocorreu tantaintegração entre dois músicos. Como escreveuLu- ria, instrumento geralmente mais "barulhento" na tradição jaz-
cien Malson, ''Milt Jackson comenta o pensamento de John Lewis, dá-lhe zíktiça, é abrandadapor Clonnie Kay, que a toca suülmente,uti-
o impulso que falta a este. Não há nadamais antagónicoqueessesdois lizando também sininhos e outros recursos da percussão erudita.
homens. Um im(5vel, impenetrável, com dedos que deslizam sobreo te- Na soma final, a aünosfera é de austeridade e comedimento50
clado como que guiados pelas leis do movimento mínimo; o outro irri-
quieto, rápido como um raio, pronto sempre a martelar loucamenteno vi- Duas décadasdepois(o quarteto voltou a atuar em 1981), o
brafone. É como se John Lewis impusesse continuamente a calma a um estilo de apresentação do grupo permanece basicamente o mes-
interlocutor que quasenão o escuta''48. mo. Foi o que se viu em seu "concerto" no Frw Jazz Festival, cm
setembro de 1988. Uniformizados, com ternos azuis, gravatas lis-
Em atividade ininterrupta até 1974, o Modem Jazz Quartel tradas e uma espécie de insígnia no peito, tocaram com a mesma
foi talvez o grupo instrumental quc mais tempo se manteve unido precisão e sincronia de sempre seu jazz de câmara. Os toques de
em toda a história do jazz. E também o exemplo mais bem-suce- maior frenetismo com Jackson atacandoas teclas de seu vibrafo-
dido da chamada fÀird süeam, escola que buscava unir as formas ne são balanceadas pela concisão do piano de Lewis e a percussaõ
e disciplinas da música clássica e barroca(como a fuga e o con- de Kay. Quase tudo é comedido e coeso nesse quarteto, que che
traponto, por exemplo) aos procedimentos e técnicas jazzísticas

49. Frank Ténot, (1)p.dr., p. 5.


47. Citado por Shapiro, Op. ci/., p. 392. 50. Filme do arquivo pessoalde FaustoCanova,exibido pelaTV
48. Frank Ténot, ''John Lewis'', in Gí8an/esdo Jazz,p. 3. Cultura.

164 }65
ga a lembrar(sem qualquer conotação pejorativa) uma máquina era ampliado por uma aura de intensidade emocionale expressão
de tocarjazz erudito. de sentimentos. Suas apresentações refletiam com vigor a atitude
Com o coo/, o weif coast e, principalmente, o progresiive e a emotiva dos adeptos dojazz./bnÃy:
fAird süeam, o concerto de caráter erudito firmava uma nova re-
lação entre osjazz/nze/z
e suasplatéias. A dança era definitivamen- para o amador do jazz, Horace não tem apenas a reputação de um
instrumentista, mas igualmente a de um compositor feliz, de um armnjador
te deixada de lado por eles, buscando dessa maneira conferir o eülcaz, de um chefe de grupo cheio de dinamismo e de um chefe de escola
estado de arte à sua música. No entanto, reações que eram ao be- respeitado(entre 1954 e os primeiros anos 60, o./ü/z&yapareceucomo uma
óop, estes estilos e escolastambém foram logo atacadospelo verdadeira terra prometida à maior parte dos jovem músicos negros). Paraa
abandono das raízes africanas e negras que sua música implicava. lenda, a memória conserva esta visão: um pequenohomem de tez clara,
C) retomo às origens, ao ó/filese ao bop, foi a pronta respostaaos crispada, sobre seu banco, os braços colados ao corpo; executando com os
estilos eruditos. pés, perto dos pedais, uma dança louca ao ritmo da improvisação. Uma me-
cha negra cai sobre a vista; um riso demoníaco destapa o rosto; os punhos
deslocam-seem anancadas.Homce é, talvez, o único.»znzmncapazde:
O funky e o hard bop num só trecho, encharcar completamente com suor não só a camisa como
também toda a roupaSI
A partir da expansãodos estilos jazzísticas influenciados pe-
la música erudita européia, já em meados dos anos 50 uma espé- Como se pode notar, a atitude coo/ introduzida pelos bebop-
cie de reação podia ser sentida, principalmente na Costa Leste /2ers sofreu mais um golpe. E agora desferido por músicos que
dos EUA. Seus adeptos buscavam uma volta às raízes negras do eram praticamentediscípulosde Charlie Parker ou Bud Powell.
Passada quase uma década da eclosão do bop, jazz/nzencomo Sol-
jazz, através de suasJ'armasmais primitivas, como o b/êlese
o cospe/. A sofisticação c europeização dos estilos cooZ,os pro ver, Art Blakey,Clifford Brown e SonnyRollins,entreoutros,
ponentes dessa reação negra respondiam com uma música mais tentam responder à crescenteerudição do jazz fazendo-o retor-
simples e de alto grau emotivo. Um termo, em particular, passou nar às suasraízes, vmrendo dele qualquer espéciede intelectua-
a scr muito utilizado para explica' e denominar essanova maneira lismo. Baseado no blues e na música religiosa negra, esse novo
de tocarjazz:./ün©. estilo tanto dá uma nova forma ao veio bebop como reaproxima
o jazz de suas origens rituais. Não só nas pe/g0/7 za/ices de Horace
Originalmente, o termo./ülzAy significava um forte cheiro ou
fedor, além de algo suta ou indecente. Mas a partir dessa época, Silvar, como nas de vários outros músicos dessaépoca, o transe
primeiramente entre os músicos negros de jazz, passou a ser volta a frenqüentar as apresentações de jazz. Curiosamente,
sinónimo de harmonias menos complicadas, ritmos mais passados o bop retorna com força, um pouco modificado, ou melhor, sim-
e execuções francamente emocionais. Outro termo bastante utili- plificado melódica e. ritmicamente, mas agora totalmente disso-
zado em relação a essenascente estilo era sou#ü/(cheio de alma), ciado da atitude coo/. Revalorizado, o bebop passa a chamar-se
deixando claras certas implicações religiosas que permearam sua /mrd bop, segundo os instrumentos e composições de uma nova
geração. A ressonância dessa nova atitude negra foi grande e a geração de músicos.
prova disso encontra-seaté mesmofora dos limites do jazz. E interessante notar que a denominação/mrd bop não parece
A soz{/ mmic dos anos 60 e o./ünk, muito populm nos anos 70 e ter sido aditada em função de aspectos estritamente musicais.
em fase de redescobertanos dias de hoje, tiveram sua origem São várias as obras e analistas que apontam uma certa inade-
exatamente nesse movimento de idéias. quação do termo. Na verdade, o bebop original, tocado por Par-
Um músico considerado como um dos iniciadores desseesti- ker, Giaespie e companhia, era muito mais/mrd musicalmente.
lo é o pianista e compositor Horace Silvar, que se tornou conhe- Isto é, suas melodias eram mais complexas e angulosas, seus an-
cido a partir de sua associaçãocom o baterista Art Blakey, outro
criador do ./ü/z#y.Solver desenvolveu uma maneira muito pessoal
de tocar b/ues lentos e médios, ou mesmo velhas canções de igre- 51. Alain Gerber,''HoraceSilvar'', in JazzÃ/ode/vm,
Braga,Edi
ja(as golpe/ sonos), cujo caráter fundamentalmente percussivo torialPlano,s.d.,p.123.
166 /Ó7
T'
damentos eram mais velozes, quase frenéticos, suasevoluções nas alguns anos de sua introdução, o concerto dejazz erudito re-
rítmicas mais intrincadas. A denominação/mrd, no entanto, é to- cebia a resposta mais vigorosa possível. A atitude compenetrada
talmente apropriada quanto à atitude de seus músicos em cena, e polida da wesf coam/e congéneres era contraposta pelo concerto
em geral bastante envolvidos emocionalmente, refutando a antiga catártico e emocional dos/mrd óoppers.
atitude coo/,fria e distante.
Outro músico, que também extrapolou não só o/mrd bop em
Um exemploparticularmente radical dessanova atitude tra- direçãoao ./}eejazz como contribuiu decisivamentepara a evo-
zida pelo/azrd bop e depois estendida ao ./}ee Jazz podia ser en- lução do concerto jazzístico rumo ao /zappenlng, foi Charles
contrado no saxofonista e compositor John Coltrane, cm geral Mingua. Contrabaixista, pianista, compositor, arranjador e ba/zd
reconhecido como o mais importante saxofonista e improvisador leader, sua obra constitui um verdadeiro painel de influências e esti-
surgido após Chame Parker. Depois de tocar com vários mestres los integrando num só corpo a tradição e a vanguardajazzística.
do bop, como GiEespie,Thelonious Monk, Bud Powell e Miles Sua carteira musical pode explicar um pouco dessamistura
Davis, Coltrane lançou-se à carreira individual, a partir de 1957. estilibtica. Atuou ao lado de músicos do jazz tradicional, como
Progressivamente, suas apresentações iam se tornando cada vez Louis Armstrong e Kid Ory. Depoisacompanhouo swl/zgde
mais frenéticas e tempestuosas: Lionel Hampton e integrou o "jazz de câmara" do trio de Red
Nervo. Em seguida começa a se aproximar do bebop e, em 1953,
Era por ocasiãodas atuações públicas do sexteto que John semostrava
mais arrebatado, afrontando o furor das platéias, frustradas nos seushábitos
funda seu "Jazz Workshop", laboratório musical onde começaa
queridos. Com efeito, nenhum dos velhos critérios podia ser aplicado a esta fazer experünentaçõesimportantes ao lado de Teo Macero, J. J.
tumultuosa agressãosonora. Perante ela, ficávamos obrigatoriamente nus, Johnson e John Lewis, entre outros. Desde então Mingus passaa
desannados,vulneráveis(-.)[)esprezando a exigência de regu]aridade rít- desenvolver sua concepção totalmente original para a época, on-
mica, aspirava, dir-se-ia, a enlouquecer cada vez mais o ritmo, a comuni-
de a improvisação coletiva era elemento fundamental. Um bom
car-lhe o canse onde os sons seinebriavam já(...). E John, o rosto desfigu-
rado numa máscara de esforço, agitava o seusax, impotente para o abancar exemplo desse procedimento aparece em sua composição "Wed-
à ferida dos lábios. Ninguém antes dele havia improvisado tão longamente e nesday Night Prayer Meeting"S3, onde uma espécie de cerimónia
tão furiosamente,ninguém havia ióanifestado uma avidez tão crispada.A religiosa negra é simulada. Mingua impulsiona os músicos com
JacquesBenls, por exemplo, dada ele a impressão de um ''cão correndo atrás
dacauda''S2
gritos, como se fosse um pregador em meio a sua congregação de
fiéis. A atmosfera de ritual se completa durante o solo do saxo-

A referência a nunca antes alguém ter improvisado de modo fonista Booker Ervin, quando todosparamde tocar seusinstru-
mentos e o acompanham apenas com palmas, bem ao estilo dos
tão extenso e furioso não é exagero. As apresentaçõesde Coltra-
rituais negros. A tradição abro serve de tema para um arranjo
ne caracterizavam se por um grau muito intenso de execução so-
inovador e altamente expressivo.
nora, onde solos com vinte minutos ou mais de duração eram
freqüentes. Suas exibições frenéticas deixavam evidentes a volta Essa constante busca de agressividade levou Mingus a expe-
rimenta os mais diversos elementos em sua música. Um exemplo
ao transe e ao êxtase proporcionado pela música, elemento quc o
jazz moderno havia abandonado até aquele momento. Coltrane é o de sua colaboração com o poeta Langston Hughes, marcando
a breve eclosãodo movimento"Jazz & Poetry", no final dos
levou sua música, principalmente quando apresentadaao vivo
anos 50. Já em 1961, no álbum OA yeaA, ele compõe "Passions
frente a uma platéia, ao mais alto grau de expressão e paroxismo
of a Man", "na qual evoca 'a constante luta entre prazer e frus-
que um concerto poderia conter. É bastante possível que sua
morte prematura, aos 41 anos de idade, em 1967, tenha uma certa tração, entre vida e morte, presente no interior de todos nós'.
Numa ousada pesquisa, Mingus mescla música e recitação, teatro
relação com essaentrega total em suasapresentações. Seu esfor-
ço físico empreendido nessasocasiões ultrapassava claramente os e psicodrama"s4
limites humanos de uma pe/yb/7zzanceinstrumental. Passados ape-
53. ''Charles Mingus'', Gigante.s do Jazddisco/ Abril Cultural, 1980
33 rpm, estéreo,12 pol.
52. Alain Gerber, ''John Coltrane'', inlazz.A/oderzzo,p. 54. 54. Pino Candini, ''Charles Mingua'' , in G@anre.s(ü Jan, p. 6.
168 }69
MODELO 2: O CONCERTO As referências pessoais e autobiográficas são inúmeras na
obra de Mingua, como em "Clown" (Palhaço), que ele mesmo
Voltando à proposição de relacionar os níveis de teatralidadedo es explica:
petáculo jazzístico com a improvisação musical, o concerto apresentaa se
guinte conformação geral: Um dia sentia-me feliz e tocava ao piano uma melodia alegre. Depois
encontrei uma dissonância que entristecia. Então dei-me conta que estetre-
cho devia compreender duas partes. A história é a de um palhaço que tenta
agradar às pessoas-- como fazem os músicos de jazz -- mas que ninguém
gosta de sua expressão. A minha versão acabavano seuúltimo suspiro, com
aspessoasprontas para rir. Julgam que isso faz parte do número e se diver-
tem muito. Mas gosto da maneiracomo JeanShepherdmodificou o final;
deixa mais liberdade ao auditor. Ensaiamosuma vez em minha casae de-
OCONCERTO pois em estúdio.As palavrasque tinha escritoJeanShepherdpara esta
canção mudavam de cada vez. Improvisava mesmo no interior da história.
Quanto aos músicos, Jimmy Knepper conduz tudo neste trecho, salvo aspa'
TEATRALIDADE lavras. Toda a orquestrao segue.Quando atingimos um passoque não é
apoiado pelas palavras, Jimmy imita um palhaço...55.

Todos esses procedimentos introduzidos por Mingus, alguns


de aspecto bastante dramático, preparavam uma nova forma de
espetáculojazzístico, que surge juntamente com um novo estilo: o
}mppetúng e aÜ'ee jazz.

O Frei Jazz e o Happening

A origem do happening

Outubro de 1959, Reuben Gallery, New York. Um inusitado


evento começa a acontecer nesselocal. Dias antes, muitas pessoas
na área metropolitana dessa cidade receberam convites para dele
participar ''você se tomará uma parte dos acontecimentos; você
os experimentara simultaneamente". Pouco tempo depois, mais
um convite foi mandado. Envelopes plásticos, contendo colagens
com pedaços de papel, fotografias, madeira, fragmentos pintados
e figuras recortadas, davam mais algumasindicaçõessobre o

./': /
evento "há três salaspata essetrabaho, cada uma diferente em

/*.;*' tamanho e sentimento-. Alguns convidados também atuarão:


Tudo estava pronto para 28 /íappe/zi/zgs ín ó Paras, a cüação do
ex-aczlon-pailzler Allan Kaprow

Aqueles que foram até a Reuben Gallel engordaram um sótão no se-


gundo piso com paredes de plástico divididas. Nos três quartos assim cria-
dos, cadeiras foram ananjadas em círculos e retângulos, forçando osvisitan-
tes a virarem-se em várias direções. Luzes coloridas foram colocadas

55. Philippe Car]es,''Char]esMingus'', in Jazz]t4oderrm,p. 260.


170 171

Você também pode gostar