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APROFUNDAR
A fé & a razão

Será a fé consequência da falta de cultura? Será que os crentes não têm capacidade crítica? Será que se
pode conciliar a ciência séria, ou a filosofia honesta, e a crença em Deus? Afinal, será que a razão
impossibilita a fé?

Começaremos a resposta a estas perguntas por tentar perceber o que é a fé.

A comunidade dos crentes, a Igreja, foi-se apercebendo que há 4 dimensões que não se podem excluir do
núcleo central da fé: a relação pessoal com Deus, a pertença a uma comunidade, a moral e a doutrina.
Vejamos a relação pessoal: Jesus Cristo revelou-nos um Deus pessoa que se quer relacionar connosco,
um Deus que é nosso Pai. A fé não pode ser só ideologia, precisa de ser relação, abertura pessoal a Deus.
Ter fé é assumir que não sou sem Ele, e deixar que Ele seja comigo.
Então, quando falamos de Deus como Pai-Nosso, assumimo-nos como filhos de Deus, mas também como
irmãos de cada Homem. Ser católico não é um acto isolado ou privado. É, necessariamente, uma pertença
comunitária, de partilha da vida no Espírito e de discernimento conjunto da vontade de Deus. Pai de cada
um, Pai de todos.
Mas a comunidade não vive no vazio, habita o mundo. O agir do crente, ou é acção criadora de bem, ou é
oportunidade perdida para o ter feito.
A moral é uma súmula da experiência acumulada por uma comunidade histórica, que vai discernindo o
que dá verdadeira felicidade, ou seja, o que é a vontade mais profunda de Deus para o Homem.
Por fim, a doutrina é o conhecimento da Revelação de Deus. Deus não é definível, não podemos limitá-lo,
ou impor-lhe conceitos nossos. Contudo há aspectos de Deus que os homens foram reconhecendo. As
conclusões sobre Deus, que aplicadas à vida deram ainda mais vida, foram aceites como verdadeiras. O
núcleo doutrinal da fé é a vida de Jesus Cristo, Deus encarnado Homem, e essas conclusões a que vamos
chegando.

Falámos da fé sem apelar à razão, mas será que a fé pode dispensar a razão? “A fé supõe a razão”, diz
Bento XVI, e o Catecismo da Igreja Católica continua: “A partir da criação, isto é, do mundo e da pessoa
humana, o homem pode, só pela razão, conhecer com certeza a Deus”. Mas acrescenta mais a baixo que
“Ao conhecer Deus só com a luz da razão, o homem experimenta muitas dificuldades.” Portanto, a fé
precisa da razão, mas a razão parece não ser suficiente para alcançar a fé, pois mesmo a razão tem os seus
limites.Por exemplo: Ninguém consegue explicar, só com a razão, o que é o amor de uma mãe por um
filho, nem o que é a paixão entre dois namorados.à imagem de relação mãe-filho, também a fé tem uma
forte dimensão de relação pessoal, e essa dimensão não se reduz à racionalidade.

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No entanto, se não conhecemos a fé que professamos corremos o risco de cair no fundamentalismo. A

desinformação pode gerar insegurança e isso bloqueia o diálogo com quem não concorda connosco.
Portanto, a fé não pode prescindir do auxílio da razão, mas não se limita a uma dimensão racional.

Para responder às questões que iremos abordando, convidaremos especialistas da área em análise para nos
apresentarem o seu ponto de vista. O espaço de cada artigo será curto, cerca de 700 palavras, por isso
acrescentaremos sugestões de bibliografia para quem quiser aprofundar o tema. Não vamos fugir aos
temas quentes, como a eutanásia ou a moral sexual, nem esquecer os mais transversais, como o conceito
de pessoa ou a Bíblia, mas comprometemo-nos a ter sempre uma atitude de aprofundamento das razões e
dos porquês, e a não fazer argumentações apologéticas. Assim, crentes e não crentes poderão aqui
conhecer um pouco melhor as razões da fé dos católicos. Uma fé adulta pede profundidade. Pede
compromisso na comunidade, pede tempo para relação com Deus, mas também pede conhecimento das
suas razões.

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Sugestões bibliográficas:
• SÍNTESE DA FÉ CATÓLICA , François Varillon S.J, 1997
• INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO, Joseph Ratzinger, 2005
• ALEGRIA DE CRER E DE VIVER , François Varillon S.J, 1996
• CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA A.A.V.V.

Manel Cardoso Comentários (0)

01.03.2009 Imprimir

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