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FILOSOFIA DA RELIGIÃO
A razão e o transcendente
“A razão, na sua incapacidade de satisfazer a necessidade moral,
estende-se até ideias hiperbólicas que poderiam suprir tal
deficiência, mas sem delas se apropriar como de uma posse
ampliada.” A razão estende-se para o insondável, não para sabê-lo,
mas para suplemento de sua impotência moral. A essa abordagem
Kant chama de fé reflexionante. É fé prática, no sentido de que a
razão tenta conferir a seus conteúdos uma certeza racional de
segunda instância. Esses conteúdos da fé reflexionante não podem
ser incluídos entre os não racionais, mas são párerga da razão que
possibilitam encontrar resposta para certos problemas que ela põe
para si mesma e que, sem os quais não poderia satisfazer às suas
exigências.
Sobre a possibilidade de representação do sobrenatural
A Razão só pode conceber ou representar realidades empíricas,
sobre as quais aplica as formas a priori, não pode conceber ou
representar para si realidades extra-empíricas ou sobrenaturais. Em
razão disso, ela necessariamente tem de socorrer-se daquilo que
Kant chama de esquematismos de analogia, pelos quais ela,
analogicamente, representa o sobrenatural à maneira do empírico.
Essa é a raiz dos antropomorfismos, mas trazem consigo um perigo:
de transformar uma simples representação
esquemática como se ela fosse a realidade.
Por analogia se possa deduzir que aquilo que
pertence ao mundo sensível pertença
igualmente à realidade supra-sensível. Essa
analogia não alarga nosso conhecimento
teórico para além dos limites da razão.
Distinção entre Cânon e Órganon
Cânon é a pura fé religiosa que não se funda em estatutos, mas na
simples razão, enquanto órganon é a fé eclesial, inteiramente
baseada em estatutos, os quais requerem uma revelação, caso
possam ser assumidos como doutrina ou mandamentos divinos.
A religião sem estatutos é aquela em que conteúdos revelados são
apenas párerga. Por tais razões seria mais adequado dizer-se: esse
homem é desta ou daquela fé, ao invés de desta ou daquela
religião. Cada grupo humano faz a sua metábasis a seu modo,
segundo suas tradições culturais, disto resultando a multiplicidade
de manifestações religiosas. Os esquematismos da Sagrada Escritura
têm sua explicação na cultura, e é à luz de tal princípio que ela
deveria ser interpretada. Os dogmas fundamentais do cristianismo
parecem ser resultado de esquematismos.
A igreja invisível como protótipo da visível
A ideia da comunidade ética, resultante da vitória do princípio bom
sobre o do mal. A comunidade ética ou Igreja invisível resultaria não
só de uma exigência da razão prática, em ordem ao reino dos fins
em si, mas também de uma ação supra-sensível. Kant, entretanto,
deixa-nos, salvo melhor juízo, uma lacuna: não define e não
especifica como isso se daria. Aquilo que Kant chama de Igreja
invisível é a união de todos os homens de boa vontade sob o
governo moral divino. Ela nada mais seria que a realização da
comunidade ética. Essa Igreja não é algo de concreto, mas uma
ideia. Efetivá-la não está ao alcance do homem. Somente Deus é que
pode tornar real a ideia de um “povo de Deus”.