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PESQUISA

PERFIL DE DELEGADOS(AS)
DA III CONFERÊNCIA
NACIONAL DE SEGURANÇA
ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Outubro de 2007

Realização
Realização
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
Outubro de 2007

Coordenador geral
Francisco Menezes

Coordenação estatística
Leonardo Méllo
Marco Antônio de Souza Aguiar
Márcia Tibau

Coodenação de conteúdo
(elaboração de questionário, leitura de dados e relatório final)
Márcia Tibau
Mariana Santarelli
Vívian Braga

Processamento de dados
Pesquisa Social

Coleta de dados
Daniel Victor Rodrigues
Denise Camurça de Lima
Erbênia Vidal
Marcos Paulo Campos
Rodrigo Noronha
Rozi Billo

Edição
Jamile Chequer

Revisão
AnaCris Bittencourt

Diagramação em PDF
Imaginatto Design

Produção do CD-Rom
Diego Heredia

Ibase
Av. Rio Branco, 124/8º andar
20040-916 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2178-9400
Fax: (21) 2178-9402
<www.ibase.br>
Sumário

Apresentação, metodologia e amostra............................. 4

Perfil de delegados(as) ...................................................... 7

Formas de participação social


e perfil político de delegados(as) ..................................... 9

Opinião sobre Conseas


e processo de conferências de SAN .................................. 15

Opinião sobre temas da agenda política .......................... 19

Conclusão .......................................................................... 23
Apresentação, metodologia
e amostra

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) tem como principais objetivos
institucionais contribuir para uma cultura democrática de direitos, fortalecer o tecido associativo
na sociedade civil e ampliar a capacidade de incidência em políticas públicas. Nesse sentido,
acredita que conhecer o perfil de delegados(as) da III Conferência de SAN (III CNSAN)1, contri-
bui para o fortalecimento desse espaço democrático de grande importância na construção de
políticas públicas de forma participativa.

A pesquisa identifica as formas de participação social e o perfil político de delegados(as) pre-


sentes na III CNSAN – Por um desenvolvimento sustentável com soberania e segurança alimen-
tar e nutricional. Traz, ainda, informações sobre a percepção desses(as) participantes sobre o
processo de conferências e atuação dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional (Con-
seas) municipais, estaduais e o nacional e suas opiniões sobre temas considerados polêmicos
relacionados ao campo da SAN. A III CNSAN obedeceu aos critérios estabelecidos pelo Consea
nacional em relação à representatividade de delegados(as) no processo de conferências. Tais
critérios de proporcionalidade e de participação da sociedade civil e do poder público foram
fundamentais para a definição dos procedimentos metodológicos da pesquisa.

Tal como a conferência, a amostra definida pela pesquisa foi composta por representantes
do poder público (também chamados de delegados(as) representantes do governo) e por
representantes da sociedade civil (também chamados de delegados(as) representantes da
sociedade civil).

Optou-se por fazer duas amostras independentes, uma para cada estrato (para delegados(as)
do governo e para delegados(as) da sociedade civil). Essa decisão permitiu uma análise sobre o
perfil e as opiniões para cada segmento separadamente, além de possibilitar uma análise com-
parativa entre os dois. Definimos, então, duas amostras de mesmo tamanho, independentes,
aleatórias e simples, da seguinte forma:

• 180 entrevistas com delegados(as) representantes do governo;

• 180 entrevistas com delegados(as) representantes da sociedade civil.

1. Acompanham este relatório os Anexos I, II e III, referentes ao questionário e às tabelas de freqüência e cruzamentos,
respectivamente.

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III CNSAN

O Consea nacional, órgão ligado à Presidência da República, convocou, pela terceira vez, represen-
tantes da sociedade civil e do poder público a participarem da Conferência Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional. Ocorrida de 3 a 6 de julho de 2007, em Fortaleza – CE, a III CNSAN foi a
etapa culminante de um processo de mobilização e debates realizado nos estados e municípios, por
intermédio de conferências estaduais e municipais, durante as quais foram eleitos(as) representan-
tes de diversos segmentos e áreas de atuação.

A III CNSAN reuniu, aproximadamente, 2 mil pessoas, entre delegados(as), convidados(as),


observadores(as) e participantes. Seu documento-base – dividido em três eixos de discussão: Sobe-
rania e segurança alimentar e nutricional nas estratégias de desenvolvimento; Política Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional; e Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan)
– foi debatido e aprovado por 1.346 participantes delegados(a) representando os 27 estados brasilei-
ros e Distrito Federal.

O entendimento sobre os critérios estabelecidos para a composição das delegações estaduais e DF é


fundamental para uma leitura adequada das informações aqui apresentadas. Segundo as orientações
dadas pelo Consea nacional, cada estado e DF elegeu um número de delegados(as), com direito a voz
e voto, de acordo com dois critérios de proporcionalidade. O primeiro atende à proporção de um terço
de representantes do poder público e dois terços de representantes da sociedade civil. Tal proporção
é adotada na atual composição do Consea nacional e pela maior parte dos conselhos municipais e
estaduais de SAN. O segundo critério atende à proporcionalidade em relação à população total dos es-
tados e DF e à incidência da população em situação de insegurança alimentar leve, moderada ou grave,
de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (PNAD/IBGE) de 2004.

Para a III CNSAN, foi adotado, ainda, um sistema de cotas, contemplando representantes dos povos
indígenas, da população negra – com destaque para quilombolas e comunidades de terreiros e demais
comunidades tradicionais presentes em cada estado. A orientação foi de que, pelo menos, 20% do total
de delegados(as) estaduais fossem representantes desses grupos populacionais.

O resultado desse processo coletivo de debates e mobilização social, para além de seu caráter de
formação e construção de conhecimento, é o Documento Final da Conferência Nacional. Nesse estão
contidas propostas e orientações que nortearão o governo federal na identificação de prioridades para
construção da Política Nacional de SAN e do Sisan nos próximos anos.

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A aplicação dos questionários foi feita no segundo e terceiro dia de conferência por cinco
entrevistadores(as), estudantes da Universidade Federal do Ceará, recrutados localmente com
a ajuda de colaboradores(as) da pesquisa. Foram aplicados 388 questionários, sendo 185 refe-
rentes às entrevistas com delegados(as) representantes do governo e 203 referentes às entre-
vistas com delegados(as) da sociedade civil. Os resultados foram posteriormente ponderados,
com base nas informações do universo presente, de acordo com documento enviado pela or-
ganização da III CNSAN.

O questionário aplicado (ver Anexo I), composto por 23 perguntas, foi dividido nas seguintes
partes:

• Identificação do(a) entrevistado(a);

• Participação;

• Processo de conferências; e

• Temas da agenda política.

A seguir, apresentaremos uma seleção feita pelo Ibase dos resultados gerais (ver Anexo II e
Anexo III), divididos em três seções.

Na primeira, caracterizam-se os(as) delegados(as) de acordo com seu perfil social básico como:
sexo, idade, cor/raça e escolaridade. Em seguida, apresenta-se um retrato do perfil político e
de participação, aferindo sobre temas como: participação em fóruns, Conseas e partidos políti-
cos; segmentos e áreas de atuação nos quais os(as) delegados(as) estão inseridos. Informações
sobre o âmbito da atuação e a posição política de delegados(as) são complementares. Mostra-
se a opinião desses(as) delegados(as) sobre temas relacionados aos Conseas e ao processo de
realização das conferências de SAN, como destaque para a adoção de cotas para movimento
negro e grupos populacionais. Por fim, revela-se a opinião desses atores sociais sobre temas
importantes relacionados à temática de segurança alimentar e nutricional, como a transposição
do rio São Francisco e a liberalização dos transgênicos.

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Perfil de delegados(as)

Segundo informações da organização, de 1.346 delegados(as) presentes, 31% eram representan-


tes do governo e 69% eram representantes da sociedade civil. Dos(as) representantes governa-
mentais, 27% eram nacionais e 73% estaduais. Entre delegados(as) da sociedade civil, essas pro-
porções eram de 7% e 93%, respectivamente. A distribuição por grande região de delegados(as)
estaduais presentes na conferência apresentou variações significativas. Como pode ser visto na
Tabela 1, 36% representavam estados da região Nordeste e 23% da região Sudeste. As regiões
que tiveram menor número de representantes foram Sul (10%) e Centro-oeste (11%).2

Tabela 1

Delegação por grande região (%)

Grande região Delegação

Nordeste 36
Sudeste 23
Norte 20
Centro-oeste 11
Sul 10

Total 100

Fonte: organização da III CNSAN.


Nota: alguns dados referentes aos totais das tabelas deste relatório
podem apresentar variações residuais decorrentes de arredondamentos.

No que diz respeito ao recorte de gênero, observamos que, entre delegados(as) do governo,
a maior parte é formada por mulheres (57%). Essa proporção não se confirma no estrato de
delegados(as) da sociedade civil, que possui uma distribuição equilibrada, em torno de 50%
para cada sexo.

Em relação à escolaridade, identificamos uma diferença significativa entre os estratos ana-


lisados. Mais de 92% de delegados(as) representantes do governo têm curso superior (in-
completo/completo) ou mestrado/doutorado. Entre delegados(as) da sociedade civil, esse

2. O número de delegados(as) por estado foi definido pelo Consea nacional, de acordo com critérios de proporcionalidade em relação
à população total dos estados e Distrito Federal e à incidência da população em situação de insegurança leve, moderada ou grave
(segundo dados da PNAD/IBGE de 2004).

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percentual é de 57%. No geral, a escolaridade de participantes é alta: 28% têm ensino médio
(incompleto/completo) e cerca de 68% têm curso superior (incompleto/completo) ou mestra-
do/doutorado.

Ainda em relação ao perfil de participantes, observamos que a presença de pessoas negras


entre delegados(as) da sociedade civil é três vezes maior (33%) que entre delegados(as) do go-
verno (12%). O percentual de pessoas brancas é de 28% e 51%, respectivamente. Amarelos(as)
e pardos(as) parecem estar presentes em proporções semelhantes nos dois estratos.

Considerando o universo de participantes, pessoas brancas representam maior proporção (35%)


e pessoas pretas (27%) e pardas (29%) encontram-se em proporções parecidas, como pode ser
visto na Tabela 2.3

Tabela 2
Distribuição de participantes por cor/raça (%)
Delegado(a) Delegado(a)
Total
governo sociedade civil
Branca 51 28 35

Preta 12 33 27

Parda 31 29 29

Amarela 4 4 4

Indígena 2 6 5

Total 100 100 100


Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

3. A III CNSAN adotou um sistema de cotas na composição das delegações estaduais contemplando representantes dos povos indígenas,
da população negra, com destaque para quilombolas e comunidades de terreiros e demais comunidades tradicionais presentes em cada
estado. De acordo com o sistema de cotas proposto, pelo menos 20% do total de delegados(as) estaduais deveriam ser representantes
desses segmentos da população brasileira.

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Formas de participação social
e perfil político de delegados(as)

a) Perfil de delegados(as) com atuação em partidos políticos


e com posições políticas

A fim de conhecer o engajamento e o perfil de participação de delegados(as) presentes na


conferência, foi perguntado se as pessoas entrevistadas eram filiadas ou atuavam em algum
partido político. Observamos que a filiação é maior entre delegados(as) representantes da so-
ciedade civil (53%) que entre delegados(as) governamentais (42%).

Dentre delegados(as) que atuam, 42% são mulheres e 58% são homens. E ainda, comparando-se
as faixas etárias mais predominantes, percebemos uma menor concentração de ativistas em
partidos entre pessoas mais jovens. Dos(as) que militam, 22% têm entre 25 e 34 anos enquanto
33% têm entre 35 e 44 anos. Também foi possível observar algumas tendências em relação ao
ativismo. Dos(as) que atuam, 31% têm ensino médio (incompleto/completo), 55% têm curso
superior (incompleto/completo), e 8% têm mestrado/doutorado. Ainda sobre atuação em par-
tidos, entre as pessoas que atuam, a participação em Fóruns de SAN é maior (67%) que entre
as pessoas que não não atuam (60%).

Em relação à posição política, cerca de 60% de participantes declararam ser de “esquerda”


ou “centro-esquerda” e mais de 21% disseram não ter posição, não havendo diferenças sig-
nificativas entre os estratos. Considerando a opinião sobre o documento-base da III CNSAN,
observamos que mais de 97% concordam com o referido documento, independentemente de
posição política.

b) Perfil de delegados(as) com atuação em Conseas

Em relação à participação em Conseas, a maioria de participantes disse não ser conselheiro(a)


– 56%. Considerando os estratos, a participação nesses conselhos parece ser maior entre re-
presentantes da sociedade civil (46%) que entre representantes governamentais (38%). Foi per-
guntado ainda sobre a existência de Conseas nos municípios de entrevistados(as): mais de 61%
disseram que existe Consea em sua cidade.

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Informações sobre delegados(as) entrevistados(as) membros de Conseas

Destaca-se que a participação de homens (55%) nos Conseas é um pouco maior que a das mulhe-
res (45%). Quanto à escolaridade, 26% têm ensino médio (incompleto/completo), 58% têm curso
superior (incompleto/completo) e 15% têm mestrado/doutorado. Em relação à cor/raça, mais de
42% de delegados(as) conselheiros(as) são brancos(as), 32% pardos(as) e 18% negros(as). Dentre
delegados(as) conselheiros(as), predominam o Poder público (municipal e estadual), com 24% e a
Sociedade civil dividida em: 14% ONGs, 14% Centrais sindicais, 12% Associações/federações comuni-
tárias ou de bairro, 10% Movimentos sociais e 10% Igrejas. A área de atuação mais presente é Direito
humano à alimentação/SAN, com 19%. Dentre delegados(as) conselheiros(as), 76% atuam em Fóruns
de SAN, uma proporção significativamente maior dentre não-conselheiros(as) – 53%.

c) Perfil de delegados(as) que estiveram na II CNSAN,


em 2004, e a participação em Fóruns de SAN

Ainda em relação à participação, foi perguntado sobre a II CNSAN – ocorrida em março de


2004, em Olinda – e Fóruns de SAN. Pouco mais de 21% de participantes disseram estar pre-
sentes na conferência realizada em Olinda, não apresentando diferenças muito significativas
entre os estratos. Os segmentos com os maiores percentuais de participação nessa conferên-
cia foram: Fóruns/articulações/redes sociais (43%); Centrais sindicais/federações/associações de
classe (25%); Instituições religiosas e Poder público estadual (ambos com 21%); Movimentos
sociais (20%); ONGs (19%); e Associações/federações comunitárias ou de bairro (16%).

Delegados(as) conselheiros(as) participaram em maior número da última conferência (28%) em


relação aos(às) delegados(as) não-conselheiros(as) – 17%. No que diz respeito ao documento-
base, dentre delegados(as) que estiveram presentes na II CNSAN, 45% se identificam totalmen-
te com o referido documento. Já com relação aos(às) delegados(as) que não compareceram à
II CNSAN, apenas 32% se identificam totalmente com o documento.

No que diz respeito à participação em fóruns, cerca de 63% disseram participar de algum Fó-
rum de SAN.4 As áreas de atuação que mais se destacaram em relação à participação nesses
fóruns foram: Direito humano à alimentação adequada/SAN (74%); Movimento negro/ comuni-
dades tradicionais (64%); Reforma agrária/agricultura familiar (60%); e Saúde e nutrição (59%).

4. Os Fóruns de SAN são espaços de participação da sociedade civil na discussão e construção de políticas públicas de SAN, bem como
na definição de estratégias para sua implementação. Participam dos fóruns entidades da sociedade civil organizada, como ONGs,
movimentos sociais, pastorais sociais e pessoas que atuam com o tema. O Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional,
composto por representantes dos Fóruns Estaduais de SAN, é o mais atuante neste contexto.

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Identificou-se, também, que 68% de delegados(as) que participam de fóruns declararam que
no seu município existe Consea. Entre os(as) que não participam, apenas 49% declararam haver
Consea em seu município.

d) Segmentos e áreas de atuação de delegados(as)

Com o objetivo de conhecermos os tipos de instituições, organizações ou movimentos, e suas


temáticas, representados na conferência, perguntamos às pessoas entrevistadas em quais seg-
mentos estavam inseridas e suas áreas de atuação. Como pode ser visto na Tabela 3, entre
delegados(as) da sociedade civil, quase 20% disseram ser representantes de Centrais sindicais/
federações/associações de classe, sendo ONGs e Movimentos sociais o segundo e terceiro seg-
mentos mais citados, com 18% e 17%, respectivamente. Entre delegados(as) governamentais,
são bastante parecidas as proporções de representantes do Poder público estadual e municipal:
37% e 35%, respectivamente

Tabela 3
Segmento social representado por delegados(as) na III CNSAN (%)

Delegado(a) Delegado(a)
Segmentos Total
governo sociedade civil

Centrais sindicais/federações/
- 20 14
associações de classe

ONGs 1 18 13

Movimentos sociais - 17 12

Poder público estadual 37 0 12

Poder público municipal 35 - 11

Associações/federações
- 15 11
comunitárias ou de bairro

Governo federal 28 - 8
Fóruns/articulações/
- 7 5
redes sociais
Instituições religiosas - 7 5

Pastorais sociais - 3 2

Universidades/centros
- 3 2
de pesquisa

Outro - 9 6

Total 100 100 100


Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

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Informações sobre o perfil de delegados(as), de acordo com os segmentos
mais representados na III CNSAN

• Poder público municipal/estadual: 61% são do sexo feminino; 45% são pessoas brancas, 35%
pardas e 12% pretas; 78% possuem curso superior e 12% mestrado/doutorado; 62% se consideram
de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

• Governo federal: 51% são do sexo masculino; 70% são pessoas brancas; 57% possuem curso
superior e 43% mestrado/doutorado; 65% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

• Centrais sindicais: 58% são do sexo feminino; 35% são pessoas brancas e 22% pretas; 48% pos-
suem ensino médio; 62% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda”e 10% de “direita”.

• Fóruns/articulações/redes e Movimentos sociais: 62% são do sexo masculino; 44% são pes-
soas pretas; 41% possuem ensino médio e 42% possuem curso superior; 69% se consideram de
“esquerda” ou “centro-esquerda”.

• Associações e federações comunitárias ou de bairro: 62% são do sexo feminino; 42% são pessoas
pretas; 52% possuem curso superior; 44% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda” e
12% de “direita”.

• ONGs: 55% são do sexo masculino; 32% são pessoas brancas, 30% pretas e 31% pardas; 65% possuem
curso superior; 67% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

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Em relação à área de atuação, como mostra a Tabela 4, a mais citada foi Reforma agrá-
ria/agricultura familiar (18,6%), seguida de Saúde/nutrição, Direito humano à alimentação
adequada/SAN, Movimento negro/comunidades tradicionais, todas essas opções com pouco
mais de 14%.

Considerando os estratos, vale ressaltar diferenças observadas em relação a duas áreas: Assis-
tência social, citada por 20% de delegados(as) governamentais e por apenas 9% de represen-
tantes da sociedade civil; e Movimento negro/comunidades tradicionais, citada por 20% de
delegados(as) da sociedade civil e por pouco mais de 2% de representantes governamentais.

Tabela 4
Áreas de atuação de delegados(as) participantes da III CNSAN (%)
Áreas Delegado(a) Delegado(a) Total
governo sociedade civil
Reforma agrária / agricultura 19 19 19
familiar
Agronegócio / indústria 2 0 1
de alimentos
Agricultura / pesca / abastecimento / 6 4 5
comércio de alimentos
Economia solidária 3 4 4
Direito humano à alimentação 14 15 14
adequada / SAN
Saúde e nutrição 21 12 14
Educação 3 8 7
Assistência social 20 9 13
Meio-ambiente 2 2 2
Movimento negro / comunidades 2 20 14
tradicionais
Outro 9 7 8
Total 100 100 100
Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

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Informações sobre o perfil de delegados(as), de acordo com as áreas de atuação
mais representadas na III CNSAN

• Reforma agrária/agricultura familiar e `Pesca/abastecimento/comércio de alimentos: 67%


são do sexo masculino; 40% são pessoas pardas; 45% possuem curso superior; 68% se consideram
de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

• Direito humano à alimentação/SAN e Saúde e nutrição: 53% são do sexo feminino; 50%
são pessoas brancas; 55% possuem curso superior; 50% se consideram de “esquerda” ou “cen-
tro-esquerda”.

• Assistência social: 70% são do sexo feminino; 45% são pessoas brancas; 76% possuem curso
superior; 50% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

• Movimento negro/comunidades tradicionais: 57% são do sexo feminino; 82% são pessoas
pretas; 51% possuem ensino médio; 45% se consideram de “esquerda” ou “centro-esquerda”.

As áreas de atuação mais presentes entres os segmentos também puderam ser observadas.
Nota-se que 41% do Poder público (municipal/estadual) e 34% de Fóruns/articulações/redes
sociais e Movimentos sociais atuam nas áreas Direito humano à alimentação adequada/SAN e
Saúde e nutrição e 29% das ONGs e 45% das Centrais sindicais atuam nas áreas Reforma agrá-
ria/agricultura familiar e Pesca/abastecimento/comércio de alimentos.

e) Esfera de atuação de delegados(as)

Ainda para caracterizar o trabalho e atividades de delegados(as), foi perguntado qual o âmbi-
to de sua atuação em políticas públicas/iniciativas. Os mais citados foram municipal (65%) e
estadual (59%).

Considerando a variável gênero, identificou-se que os homens atuam mais tanto no âmbito
internacional (66%) como no nacional (56%). Essa proporção se inverte no âmbito comunitá-
rio, no qual a atuação das mulheres é maior (56%). Nos âmbitos estadual e municipal, há um
equilíbrio entre os percentuais de atuação entre homens e mulheres.

No âmbito internacional também atuam mais delegados(as) com mestrado/doutorado (36%),


sendo essa proporção comparativamente menor em relação aos âmbitos nacional (20%), estadual
(14%), municipal (8%) e comunitário (9%). Nos âmbitos internacional e nacional atuam mais
pessoas brancas (52% e 43%, respectivamente), sendo a proporção de pessoas negras de 12%
e 21%, respectivamente. Por outro lado, no âmbito comunitário, o percentual de atuação de
pessoas brancas é menor (27%) que de pessoas negras (33%) e pardas (32%).

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Opinião sobre Conseas
e processo de conferências de SAN

As pessoas entrevistadas foram questionadas sobre a atuação dos Conseas municipais, esta-
duais e o nacional, na construção de políticas públicas e sobre os problemas, as conquistas e a
eficiência do processo de conferências.

a) Opinião de delegados(as) sobre Conseas (municipal, estadual e nacional)


e processo de conferências

Como mostra a Tabela 5, destaca-se que para 79% das associações de bairro, o Consea do
respectivo município “tem força política suficiente para garantir a implementação de políticas
públicas”. Em relação aos outros segmentos, 11% de representantes de ONGs e 11% de repre-
sentantes do governo federal consideram que o Consea de seu município “é comprometido
apenas com a realização de conferências”.

Quanto à opinião dos segmentos sobre os Conseas de seus estados, 15% de representantes das
Centrais sindicais, 14% de representantes de ONGs, 15% de representantes de Fóruns/articula-
ções/redes sociais e 15% de representantes de Movimentos sociais acham que o Consea esta-
dual “não é atuante”. Por outro lado, 80% de representantes do Poder público estadual acham
que o Consea de seu estado “tem força política para garantir a implementação/é altamente
comprometido com a construção de politicas públicas”. Cabe dizer que a opinião dos diversos
segmentos sobre a atuação do Consea nacional acompanha os totais gerais.

Em relação aos Conseas existentes nos respectivos municípios, cerca de 57% disseram que o
conselho “tem força política suficiente para garantir a implementação de políticas de SAN/
é altamente comprometido com a construção de políticas públicas”. Essa proporção aumenta
em relação ao Consea estadual e, principalmente, ao nacional: 64% e 87%, respectivamente.
Vale ressaltar que não foram observadas diferenças significativas entre os estratos analisados.

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Tabela 5
Opinião de participantes sobre os Conseas municipais, estaduais e nacional (%)
Municipal Estadual Nacional
Não é atuante 18 11 1

Tem força política suficiente para


garantir a implementação de políticas
58 64 87
de SAN / É altamente comprometido
com a construção de políticas públicas

É comprometido apenas com


7 11 4
a realização das conferências
NS/NR 17 14 8
Total 100 100 100
Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

b) Opinião de delegados(as) sobre as conferências, por segmento e áreas de atuação

Quando perguntados(as) sobre os principais problemas do processo das conferências de SAN,


cerca de 57% de delegados(as) governamentais citaram a “dificuldade no debate sobre o mo-
delo de desenvolvimento/Sisan e políticas nacionais de SAN” ao passo que essa proporção não
chegou a 38% entre representantes da sociedade civil. Em relação a “baixo envolvimento por
parte do poder público”, a diferença também foi de aproximadamente 20 pontos percentuais:
26% para delegados(as) do governo contra 46% de delegados(as) da sociedade civil. Na Tabela 6,
podemos observar os percentuais para cada um dos problemas citados.

Tabela 6
Principais problemas do processo das conferências de SAN segundo os(as) participantes
(considerando conferências municipais, regionais e estaduais) (%)
Problemas Delegado(a) Delegado(a) Total
governo sociedade civil
Nenhum 4 4 4
Baixo conhecimento sobre o tema SAN por
51 44 46
parte de delegados(as)
Dificuldade no debate sobre o modelo de
desenvolvimento/Sisan e politicas nacionais 57 38 44
de SAN
Baixo envolvimento por parte
26 46 40
do poder público
Conflitos políticos em torno da eleição
33 35 35
de delegados(as) durante as conferências
Falta de mobilização por parte
20 28 25
da sociedade civil
Processo excludente / Pouco
democrático / Problemas de comunicação 13 29 24
e difusão de informação
Outro 7 3 4
Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN. Nota: resposta múltipla.

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De modo geral, os três principais problemas destacados pelos segmentos são: “baixo conhe-
cimento sobre SAN por parte de delegados(as)”, “dificuldades no debate sobre o modelo de
desenvolvimento/Sisan e políticas nacionais de SAN” e “baixo envolvimento do poder público”.
Os percentuais estão muitos próximos em cada um dos segmentos. No entanto, destaca-se
que 68% de representantes das Universidades/centros de pesquisa, 42% de representantes de
Fóruns, redes e articulações e 43% de representantes das Instituições religiosas consideram os
conflitos como principal problema enquanto para os outros segmentos esse problema não está
entre os principais.

Por área de atuação, os percentuais a seguir fazem referência aos principais problemas destacados:

• 40% de representantes do Movimento negro e 39% de representantes da Educação


acham o “processo excludente e pouco democrático/problemas de comunicação e difu-
são de informação”;

• 70% de representantes da Agricultura/pesca/ comércio de alimentos acham que existe “bai-


xo conhecimento sobre o tema da SAN por parte de delegados”; 53% de representantes
da Assistência social e 49% de representantes do Direito humano à alimentação adequada/
SAN acham que existem “dificuldades no debate sobre o modelo de desenvolvimento do
Sisan e políticas nacionais de SAN.”

Em relação às principais conquistas do processo de conferências de SAN nos estados de


delegados(as) participantes, a mais citada foi “discussão e encaminhamentos de contribuições
ao documento-base da CNSAN”, com 73%; seguida de “qualificação do debate de SAN” e
“construção do Plano Estadual de SAN ou aprovação de proposta de Lei Orgânica de SAN”, com
55% e 54%, respectivamente. Na Tabela 7, podemos observar a distribuição entre os estratos.

Tabela 7
Quais foram as conquistas do processo de conferências de SAN em seu estado? (%)
Conquistas Delegado(a) Delegado(a) Total
governo sociedade civil
Nenhuma 2 4 4
Discussão e encaminhamento
das contribuições ao documento- 79 70 73
base da CNSAN
Qualificação do debate de SAN 55 55 55
Construção do Plano Estadual de SAN
ou aprovação de proposta 49 56 54
de Lei Orgânica de SAN
Amplo processo de mobilização 40 41 41
Planejamento de atividades
29 39 36
pós-conferência
Outro 4 5 5
Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN. Nota: resposta múltipla.

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Em relação às “principais conquistas”, não foram encontradas diferenças significativas entre os
diversos segmentos e/ou áreas de atuação (os percentuais acompanham totais gerais).

Ainda no que diz respeito ao processo de conferências, 88% de participantes acham esses
eventos “totalmente eficientes” ou “eficientes” como forma de construção participativa de
políticas públicas de SAN. No entanto, existe um pequeno percentual, em alguns segmentos,
entre participantes que consideram as conferências “ineficientes”’: 29% das Pastorais sociais,
17% das ONGs, 10% das Associações e federações de bairro, 8% das Centrais sindicais, 7% das
Instituições religiosas e 6% dos Movimentos sociais.

E ainda, dentre delegados(as) que se consideram de “esquerda”, apenas 6% acham as confe-


rências “ineficientes” enquanto 14% que se consideram de “direita” têm essa opinião. Vale
lembrar que, do total de participantes, a proporção de quem respondeu “ineficientes” não
chegou a 7%.

Quando perguntados(as) se estavam preparados(as) para intervir na construção dessas polí-


ticas públicas, 87% de delegados(as) responderam positivamente. Sobre esse aspecto, iden-
tificou-se que delegados(as) conselheiros(as) de algum Consea se sentem um pouco mais
preparados(as) para intervir na construção de políticas públicas de SAN (92%) que
delegados(as) não-conselheiros(as) – 84%. No que diz respeito às áreas de atuação, são altos
os percentuais dos grupos que se sentem preparados para intervir no processo de constru-
ção de políticas públicas (conforme os totais gerais). No entanto, a área de atuação identifi-
cada como Movimento negro/comunidades tradicionais é a que se apresenta com maior
percentual de resposta “não se sente preparado para intervir no processo de construção de
politicas públicas” (20%).

Quando perguntados(as) sobre o documento-base da III CNSAN, mais de 99% disseram se iden-
tificar total ou parcialmente com o documento. As áreas de atuação que tendem a se identificar
mais são: Economia solidária (84%), Movimento negro /comunidades tradicionais (71%), Agri-
cultura /pesca /abastecimento/comércio de alimentos (70%) e Assistência social (70%).

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Opinião sobre temas
da agenda política

Sobre os temas da agenda política, as opiniões foram diversas e, em alguns casos, mesmo
entre os estratos. Em relação à “transposição do rio São Francisco”, 36% de delegados(as) do
Poder público são “totalmente contra” ou “contra” ao passo que quase 52% de representantes
da sociedade civil têm essa opinião. Vale ressaltar que esse tema foi o que apresentou a maior
proporção de respostas “sem opinião” (27%).

Em relação ao programa “Fome Zero”, menos de 4% de participantes disseram ser “totalmente


contra” ou “contra”, passando de 90% a proporção dos(as) que são “totalmente a favor” ou “a
favor”. As opiniões sobre o “Programa Bolsa Família” foram parecidas: 92% disseram ser “to-
talmente a favor” ou “a favor”, sendo de 5% o percentual de “totalmente contra” ou “contra”.
No Gráfico 1A, podemos observar os percentuais totais desses temas.

Gráfico 1A

Posição de participantes em relação a (%):

Transposição 26,5
do rio São 46,9
Francisco
26,5

Fome Zero 5,6


3,6
90,8

Programa 2,5
Bolsa Família 5,1
92,4

20 40 60 80 100

Totalmente a favor / a favor Totalmente contra / contra Sem opinião

Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

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Outro tema com grande aceitação por parte de participantes da conferência é a “agroecolo-
gia”: 93% disseram ser “totalmente a favor” ou “a favor”. Em relação ao “agronegócio”, mais
da metade de participantes é “totalmente a favor” ou “a favor” (58%), sendo de 32% a propor-
ção dos(as) que são “totalmente contra” ou “contra”.

Já em relação à “liberalização dos transgênicos”, a maioria disse ser “totalmente contra” ou “con-
tra” (75%). Esse tema foi o que gerou a segunda maior proporção de “sem opinião” com 14%, não
tendo diferenças significativas entre os estratos, assim como a “agroecologia” e o “agronegócio”.

No entanto, a “regulamentação da publicidade de alimentos não-saudáveis” gerou opiniões


diferentes entre delegados(as) governamentais e não-governamentais, como mostra o Gráfico
1B: 77% de representantes do Poder público disseram ser “totalmente a favor” ou “a favor”, ao
passo que menos de 60% de representantes da sociedade civil têm essa mesma opinião.

Gráfico 1B

Posição de participantes em relação a (%) :

Agroecologia 6,0
1,0
93,0

Agronegócio 10,5
31,5
58,0

Liberalização 13,6
dos transgênicos 74,6
no Brasil
11,7

Regulamentação 3,9
da publicidade 31,12
de alimentos
não-saudáveis 64,8

20 40 60 80 100

Totalmente a favor / a favor Totalmente contra / contra Sem opinião

Fonte: Ibase – Pesquisa III CNSAN.

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a) Opinião de delegados(as) sobre os temas abordados, por segmentos e áreas de atuação

Pode-se observar que, em alguma medida, as opiniões sobre os temas da agenda política apre-
sentados são mais sensíveis aos segmentos e às áreas de atuação que em relação às variáveis
sexo, escolaridade, idade e cor/raça. Para cada tema apresentam-se os segmentos e as áreas de
atuação que mais se destacaram5 nas opiniões favoráveis e não-favoráveis e algumas informa-
ções (quando foram possíveis) sobre sexo, cor/raça e escolaridade.

Transposição do rio São Francisco


As áreas de atuação que parecem ser mais favoráveis são Agronegócio/indústria de alimentos,
com 61%, e Agricultura/pesca/abastecimento/comércio de alimentos, com 41%. Em relação
ao gênero, 31% das mulheres são “totalmente a favor” ou “a favor” ao passo que 69% dos
homens têm essa opinião. Considerando a escolaridade, delegados(as) mais favoráveis têm
curso superior (incompleto/completo) – 53%, sendo essa proporção de 16% entre pessoas com
mestrado/doutorado. Quanto às respostas favoráveis, 43% são de representantes do Governo
federal; 36% de Associações/federações comunitárias ou de bairro; 28% das Centrais sindicais/
federações/associações de classe; 27% do Poder público (municipal/estadual) e dos Fóruns/arti-
culações/redes sociais; 21% das ONGs.

Os segmentos que menos apóiam a transposição são as Instituições religiosas e as Pastorais


sociais, com apenas 14% de delegados(as) favoráveis. Nesta pesquisa, o tema da transposição
do rio São Francisco não apresentou sensibilidade à variável posição política de delegados(as).

Liberalização dos transgênicos


A área de atuação mais favorável é Agricultura/pesca (22%). Em relação ao recorte de gênero,
58% dos homens concordam com a liberalização enquanto entre as mulheres esse percentual
é de 42%. Os percentuais de concordância entre os segmentos sociais são: 16% de Repre-
sentantes do governo federal; 8% das Centrais sindicais; 12% dos Fóruns/articulações/redes
sociais e Movimentos sociais; 13% das Associações/federações comunitárias ou de bairro; 8%
das ONGs; e 13% do Poder público (municipal/estadual). Quanto à posição política, entre
quem se considera de “esquerda”, a concordância é de 9% e entre quem se considera de
“direita”, a concordância e de 19%.

Regulamentação da publicidade de alimentos não-saudáveis


As áreas de atuação mais favoráveis são: Saúde e nutrição e Assistência social (ambas com
76%) e a menos favorável é Agronegócio/indústria de alimentos, com 20%. Pessoas brancas
concordam mais com regulamentação da publicidade de alimentos não-saudáveis (40%) que
pessoas que se declararam pretas (24%) ou pardas (29%). Os segmentos que mais concordam
são Governo federal (84%) e Poder público (municipal/estadual) – 74%.

5. Foram considerados na análise os segmentos com significância estatística.

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Agronegócio
As áreas de atuação mais favoráveis são: Agronegócio/indústria de alimentos (80%) e Assistên-
cia social (75%). Em relação aos segmentos, as ONGs são as que concordam menos com o agro-
negócio, com 47%, e o segmento que concorda mais é o Poder público, com 67%. Observamos
que quem é de “esquerda” concorda menos com o agronegócio (42%) que quem se considera
de “direita” (78%).

Agroecologia
As áreas de atuação mais favoráveis são Reforma agrária/agricultura familiar (96%); Direito hu-
mano à alimentação/SAN (98%); e Assistência social (96%). Em relação aos segmentos, a concor-
dância só não é superior a 90% para Universidades/centros de pesquisa e Instituições religiosas.

Cotas para negros(as) e comunidades tradicionais nas conferências


As áreas de atuação mais favoráveis foram: Movimento negro (95%) e Direito humano à ali-
mentação/SAN (80%). Essas últimas informações coincidem com a opinião sobre os resultados
alcançados com a adoção de cotas no processo de conferências – esses dois segmentos con-
sideram que a adoção de cotas trouxe mais benefícios que conflitos ou dificuldades de com-
preensão. Quanto às cotas, as pessoas pretas concordam mais com a sua adoção (94%) que
brancas (70%) e pardas (78%). Os segmentos que mais concordam com a adoção de cotas são
de Fóruns/articulações/redes sociais e Movimentos sociais, com 92%, e os que concordam em
menor número são o Poder público (municipal/estadual) e Centrais sindicais/federações/asso-
ciações de classe, com 74% e 78%, respectivamente.

Programa Fome Zero


Os segmentos mais favoráveis ao programa Fome Zero são o Governo federal, com 98%, e o
Poder público (municipal/estadual), com 95%. Em relação às áreas de atuação, os percentuais
estão acima de 84%.

Finalmente, perguntamos qual era a posição de participantes em relação à adoção de sistema


de “cotas para populações tradicionais e negros nas conferências de SAN”. Sem diferenças sig-
nificativas entre os estratos, mais de 80% disseram ser “totalmente a favor” ou “a favor”. Ainda
em relação à adoção de cotas, 65% disseram que elas trouxeram “benefícios”, 32% disseram
que trouxeram “dificuldades de compreensão” e 37% disseram que passaram a ter “conflitos”
após a implementação da política de cotas.

Para esse tema, em relação aos segmentos, destaca-se que para 71% de representantes de
Fórum/articulações/redes sociais e Movimentos sociais; 81% de representantes das Pastorais
sociais e Instituições religiosas; e 75% das Centrais sindicais, a adoção de cotas trouxe “be-
nefícios”. Por outro lado, na percepção de 48% de Associações/federações comunitárias ou
de bairro e 41% de representantes do Poder público (municipal/estadual), a adoção de cotas
trouxe “conflitos”.

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Conclusão

A pesquisa traz informações sobre o perfil de delegados e delegadas presentes na III CNSAN,
ocorrida de 3 a 6 de julho de 2007. As informações reveladas oferecem uma aproximação ao
processo de realização das conferências de SAN, evento no qual se anunciam os marcos e as
resoluções fundamentais para esse campo. Por outro lado, a perspectiva de registro faz jus à
relevância histórica que as conferências, de um modo geral, têm para a construção, amadure-
cimento e consolidação da democracia participativa que buscamos.

A democracia participativa não implica apenas garantir direitos já definidos, mas ampliá-los e
participar da definição e da gestão desses direitos. Nesse sentido, o que se busca não é apenas
a inclusão na sociedade, mas, sobretudo, a participação na definição do tipo de sociedade em
que queremos ser incluídos. (Dagnino,1994).

O histórico de realização de conferências de SAN aponta para conquistas e resultados efetivos,


o que, por seu turno, qualifica o significado da participação social na construção de políticas
públicas. Sobre esse aspecto, vale citar o avanço alcançado na formulação conceitual de SAN6 e
sua disseminação, ampliando o entendimento da sociedade sobre o tema. A SAN foi inserida de
forma permanente na agenda política e as conferências tiveram um forte papel nesse sentido.
Outra conquista que traduz perfeitamente o caráter efetivo das conferências foi a aprovação da
Lei Orgânica de SAN (Lei 11.346/06) no Congresso Nacional. A Losan foi aprovada como uma das
principais resoluções de delegados(as) da II CNSAN, realizada em 2004. Considera-se a importân-
cia da atuação do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional nesses processos.

O encaminhamento das resoluções aprovadas nas conferências, e sua posterior conversão em


políticas públicas, pode ser descrito como um dos principais resultados a serem alcançados.
Para tanto, é necessário o diálogo permanente entre governo e sociedade civil. Acredita-se que
ambos segmentos precisam estar envolvidos e comprometidos com o processo de democratiza-
ção. Do lado da sociedade civil, aponta-se para a necessidade de superação dos particularismos
corporativos e ideológicos. Por outro lado, os governos precisam ter fortalecidas as vontades
políticas do Legislativo e Executivo, buscando transparência para superar a tradição tecnocráti-
ca, burocrática e setorizada da gestão pública (Albuquerque, 2004).

6. Na II CNSAN, foi aprovada a definição de SAN que atualmente orienta a construção de políticas públicas: “Segurança Alimentar e
Nutricional é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a
diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (II CNSAN. Olinda, 2004).

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A importância da participação de representantes dos Poderes públicos (municipais e estaduais)
e Governo federal nas conferências e conselhos precisa ser destacada. Sem essa participação,
tais espaços perdem o caráter de negociação e cogestão, reduzindo-se a espaços de lutas so-
ciais reivindicativas.

O presente relatório descreve os resultados mais gerais da pesquisa e contribui para a identifi-
cação de algumas dessas questões observadas como tendências e possibilidades para análises.
Essas se relacionam à participação e ao engajamento da sociedade civil (em seus diversos seg-
mentos e suas áreas de atuação) e dos governos (federal, estaduais e municipais) que atuam
no campo da segurança alimentar e nutricional na construção de políticas públicas. Dentre as
possibilidades de análise, destaca-se o conjunto de informações produzido sobre a Sociedade civil
e Poder público. Observou-se uma diversidade (esperada e desejada) inerente a esses segmentos,
bem como suas opiniões acerca de temas centrais para a Política Nacional de SAN.

Outro conjunto de informações que merece destaque é sobre os Conseas. De acordo com a
pesquisa, ficou aparente a potencialidade desse espaço de participação e a necessidade de
investir em seu fortalecimento (principalmente, os estaduais e municipais), bem como na
busca por maior diversidade e eqüidade em suas composições. Vale destacar que a cons-
trução do Sisan tem nos Conseas um de seus componentes principais. A III CNSAN apontou
para desafios como a construção do Sisan, juntamente com a Política Nacional de SAN. Esses
desafios têm como pano de fundo um aprofundamento da discussão acerca do atual modelo
de desenvolvimento e de qual modelo queremos.

Sobre esse aspecto, as opiniões de delegados(as) retratadas na pesquisa foram reveladoras


do quanto ainda é preciso avançar na discussão. Observou-se a existência de dificuldades en-
frentadas por delegados(as) com os conteúdos relacionados ao modelo de desenvolvimento,
presentes no documento-base orientador dos debates na conferência.

Esses são exemplos de questões que precisam ser enfrentadas, a partir de uma investigação
qualitativa. A presente pesquisa traduz-se em um primeiro esforço de produzir informações.
Não pretendeu oferecer respostas; pelo seu oposto, provocar dúvidas e suscitar questões. E ain-
da, apresenta-se como um material complementar àquele fruto do registro e da sistematização
realizados pelo Consea nacional sobre a III CNSAN contidas em seu documento final.

Referências
DAGNINO, E. (Org.) Anos 90. Política e Sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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