Você está na página 1de 11

Praticando a Presença de Deus

Irmão Lawrence

Um estilo de vida

Uma vez o Irmão Lawrence foi questionado por um de seus companheiros, um homem a quem
ele foi obrigado a responder sobre o que significava ter conseguido esse hábito da percepção de
Deus. Ele respondeu ao seu superior que desde a sua chegada ao mosteiro, considerava Deus como
o objetivo de todos os seus pensamentos e desejos e como um marco onde ele finalizava.
No começo do seu noviciado, passava as horas reservadas às orações pensando em Deus.
Seu propósito era convencer a sua mente e imprimir no seu coração a existência divina. Isso foi
feito através de sentimentos de devoção e de submissão à fé, sem premeditação ou meditações
elaboradas. Com esse método rápido e certo, logo ele ficou apto a exercitar-se no amor e no
conhecimento de Deus. Resolveu utilizar seus esforços interiores para viver sempre percebendo a
presença do Senhor e, se possível jamais esquecendo Dele. Depois que ele preencheu sua mente
através das orações com sentimentos grandiosos do Senhor, começou a trabalhar na cozinha (ele
era cozinheiro). Lá, primeiramente, ele organizou o seu trabalho com cuidado, quando e onde as
coisas deveriam ser feitas. Depois, passava todos os intervalos do seu tempo que tinha antes e
depois do trabalho, orando.
Quando ele começava as suas tarefas dizia para Deus: “Oh, meu Deus, desde que Vós estais
comigo e que sei que obedeço as Vossas ordens, fazei com que a minha mente execute com
capricho essas coisas externas, mas Vos peço a graça de continuar na Vossa presença. Para
finalizar, peço-Vos que eu seja próspero da Vossa assistência. Todos os meus trabalhos são Vossos
assim como toda a minha afeição”. Ele continuava no seu trabalho diário, conversando familiarmente
com seu Mestre, implorando por Sua graça e oferecendo a Ele todos os seus atos. Quando o Irmão
Lawrence terminava seus exercícios, avaliava o seu próprio desempenho. Se ele achasse que havia
cumprido tudo de maneira correta, agradecia a Deus; se achasse que não, pedia perdão e sem se
desencorajar fazia com que sua mente se colocasse de novo no caminho certo. Jamais deixou de
praticar. Ele comentava: “Assim, levantando-me depois de meus erros, e renovando com freqüência
meus atos de fé e de amor, cheguei a um estado onde será difícil para eu não pensar em Deus,
assim como no início foi difícil habituar-me a pensar Nele”.
Como para ele foi fácil e vantajoso caminhar sempre na presença de Deus, era natural que
recomendasse a todos para fazer o mesmo. Seu exemplo foi um incentivo mais forte do que qualquer
argumento que ele possa ter proposto. Seu semblante era edificante e deixava transparecer uma
devoção calma e doce. Foi observado que mesmo no meio da correria de suas atividades na cozinha,
ele preservava em sua lembrança as coisas celestiais. Ele não era apressado, nem preguiçoso. Fazia
cada coisa a seu tempo, sempre com uma postura tranqüila de espírito. “O horário de trabalho para
mim“, dizia ele, “não tem diferença da hora de orar. No meio do barulho da minha cozinha,
enquanto várias pessoas ao mesmo tempo pedem coisas diferentes, estou com Deus, dentro de
uma grande tranqüilidade, como se eu estivesse ajoelhado diante Dele”.
Algumas porções dos seus escritos no seu diário e de cartas a outros irmãos

Como começar:

Selecione uma hora favorável, fácil e descomplicada. Veja quantos minutos dessa hora
você pode lembrar ou tocar Cristo, por pelo menos uma vez a cada minuto; quer dizer, traze-lo
para a sua mente pelo menos um segundo de cada sessenta segundos.

Os preços que temos de pagar:

1 – Determinação:
O primeiro preço é a pressão sobre a nossa vontade, suave, mas constante. Mas, qual é o prêmio
que se consegue sem esforço?

2 – Perseverança:
O segundo preço é a perseverança. Resultados não muito satisfatórios não são motivos para nos
desencorajarmos. Todo mundo pratica essa experiência durante um longo período de tempo. A cada
semana fazemos progressos e despendemos menos esforços.

3 – Rendição:
O terceiro preço é a rendição perfeita. Perdemos a presença de Cristo no momento em que a nossa
vontade se revela. Se tentarmos conservar um mínimo de nossas vidas preso a nós mesmos ou ao
mal e nos recusarmos a deixar o Senhor nos governar, esse pequeno verme estragará a fruta inteira.
Nós devemos ser totalmente sinceros.

4 – Comunhão:
O quarto preço é estar com freqüência em grupo. Necessitamos do estímulo daqueles que possuem
o que nós possuímos, a presença de Cristo.
Um simples testemunho

Eu descobri que podemos nos fortalecer no sentido da presença de Deus, conversando


continuamente com Ele. É simplesmente vergonhoso abandonar a conversação com Deus para
pensar em trivialidades e coisas tolas. Precisamos alimentar e nutrir a nossa alma com grandes
idéias sobre Deus, as quais produzirão uma grande alegria. Nós devemos ser mais apurados, quer
dizer, devemos estimular a nossa fé. É lamentável que tenhamos uma fé tão pequena. O homem se
diverte com devoções triviais que mudam a cada dia, ao invés de ter fé em Deus, deixando-o guiar a
sua conduta. O caminho da fé é o espírito da igreja, que é o suficiente para levar-nos a um degrau
muito alto de perfeição. Devemos nos dar a Deus, tanto nas coisas temporais como nas espirituais.
Encontraremos a nossa satisfação somente fazendo totalmente a Sua vontade.

O momento em que tudo mudou

Eu sempre fui governado por um amor sem egoísmo e resolvi fazer do amor de Deus o
objetivo de todos os meus atos. Sempre me senti satisfeito com apenas esse motivo. Fico feliz
quando posso pegar um graveto do chão só por amor a Deus, buscando só a Ele e nada mais
– sem a intenção de receber Dele qualquer retribuição.
Para conseguir adquirir o hábito de conversar com Deus continuamente e remeter tudo o que
fazemos a Ele, temos de nos dedicar completamente a isso. Depois de algum tempo encontraremos
o Seu amor interiormente, o que provocará a obter a Sua presença sem nenhuma dificuldade.
Em alguns momentos, quando queria exercitar alguma virtude, eu me virava para Deus e
confessava: „‟Senhor, só poderei fazer isso ajudado por Vós‟‟. Então, eu recebia uma força mais do
que suficiente para fazer o que era necessário. Devemos agir com a maior simplicidade quando nos
relacionamos com Deus, falando com Ele francamente, implorando a Sua assistência em nossos
negócios à medida que eles acontecem. Ele nunca falha e sempre concede a Sua ajuda.
Os meus horários de orar não são diferentes dos outros horários do dia. Embora eu tenha
que me isolar (por orientação do meu superior), não necessito na realidade de isolamento e nem
peço mesmo isso, porque nenhuma grande atividade pode me desviar de Deus. Eu realizava todas
as coisas desejando agradar ao Senhor e deixava tudo o mais vir do jeito que viesse. Descobri que
o caminho mais curto para chegar até Deus é ir diretamente a Ele através de um exercício
contínuo de amor e fazendo todas as coisas através Dele.
Temos de saber a grande diferença que há entre os atos do conhecimento e os da vontade. Os
atos que são unicamente uma resposta para o nosso conhecimento mental são, comparativamente,
de pouco valor. Os atos que fazemos em resposta a impressões profundas do nosso coração são os
de maior valor. A nossa única ocupação é amar e nos deleitarmos em Deus. Os nossos
pensamentos usuais estragam tudo. Eles provocam sempre algum dano. Devemos rejeitá-los logo
que percebemos que são impertinentes e retornar à nossa comunhão com Deus.

Uma nova visão Dele

Se algumas vezes os meus pensamentos não foram dirigidos a Ele, por algum tempo, não fico
apreensivo por causa disso. Depois de reconhecer a minha falha, retorno a Ele com uma grande
confiança e reconhecendo que fui desprezível por haver me esquecido Dele.
Quando tenho um trabalho a fazer, não começo a me preocupar antes. Quando chega o
momento vejo como devo agir, através de Deus, com muita clareza, como se fosse um espelho e
tudo o que preciso saber está ali. Quando um trabalho externo afasta o meu pensamento de Deus por
um tempo, Ele provoca uma suave lembrança Dele em minha alma, deixando-me tão inflamado e
transtornado que fica difícil, algumas vezes, me conter.
Estou mais unido a Deus em minhas atividades externas do que quando fico retirado em
devoção. O pior que poderá me acontecer, nesta vida, é perder esse senso de Deus que me tem
dado tanta felicidade. No entanto, a bondade de Deus me assegura que Ele não vai me abandonar.
Ele me dará forças para agüentar qualquer mal que me for destinado. Tenho consciência que minha
vida tem sido correta e dedicada ao amor de Deus e, por isso, não temo o perigo. Uma perfeita
dedicação a Deus é o caminho mais certo para o céu, e é por ele que eu estou indo através de uma
conduta bem iluminada. Tudo o que é necessário é um coração determinado a dedicar-se totalmente
a ele e ao Seu amor.
No início da vida espiritual temos de ser fervorosos e fazer o que temos direito, negando
a nós mesmos. Depois disso, virão prazeres indescritíveis. Quando tivermos dificuldades temos
apenas de recorrer a Jesus Cristo e pedir Suas Graças. Com isso, tudo se torna fácil. Muitos não
fazem progressos em Cristo porque não suportam as disciplinas espirituais, negligenciando o amor
de Deus – que é o fim de tudo. Isso fica plenamente comprovado através de seus trabalhos e é a
razão pela qual vemos tão poucas virtudes sólidas.

A excelência do método

Vou abrir o meu coração e comentar de que maneira eu vou até Deus. Tudo depende de uma
renúncia sincera de todas as coisas sobre as quais você tem consciência de que estão sendo
conduzidas por Deus. Você tem de se acostumar a manter uma conversação contínua com Ele – uma
conversação que é simples e livre. Temos de reconhecer que Deus está sempre intimamente
presente em nós e dedicar todos os momentos a Ele. Se tivermos alguma dúvida devemos pedir a
Sua assistência para saber qual é a Sua vontade. E, nas coisas que sentimos que Ele está
solicitando de nós devemos ter um desempenho perfeito. Devemos oferecer todas as coisas a Ele
antes mesmo de realizá-las e agradecer quando tivermos terminado. Em nossa conversação com
Deus, devemos mostrar que tudo o que fazemos é com a intenção de louvá-Lo e amá-Lo
incessantemente, por Sua infinita bondade e perfeição. Deus sempre nos dá luz para esclarecer as
dúvidas, sobretudo quando Ele vê que não temos outro desejo a não ser o de agradá-Lo.
A nossa santificação não está condicionada a trocar o nosso trabalho. Muito pelo contrário:
basta que dediquemos a Ele todas as coisas que fazemos normalmente para nós mesmos. É
lamentável constatar que muitas pessoas confundam os meios com os fins, dedicando-se somente a
alguns de seus trabalhos. Elas não conseguem um desempenho perfeito por causa do egoísmo de
seus propósitos humanos. O método que encontrei para chegar a excelência na minha caminhada
em direção a Deus foi o de realizar os trabalhos mais banais sem visar o interesse do homem e,
quanto mais longe eu sou capaz de chegar eu o faço puramente por amor a Ele.
É uma grande ilusão pensar que o momento de orar seja diferente dos outros. Temos a
obrigação de estar com Deus em todos os momentos, exatamente como estamos durante o período
em que estamos orando. Minhas orações nada mais são do que o reconhecimento da presença de
Deus. Minha alma fica insensível a qualquer coisa que não seja o amor divino. Quando o momento de
orar acaba, não há diferença para mim, pois continuo com Deus, louvando-O e abençoando-O com
todas as minhas forças. Por isso, tenho vivido com uma alegria contínua.
Não devemos nos desgastar fazendo pequenas coisas pelo amor de Deus, porque Ele não está
olhando a grandeza do trabalho mas, sim, a grandeza do amor com que ele está sendo feito. Se no
começo falharmos no esforço de adquirir essa maneira de vida não devemos nos espantar, pois no
final ganharemos um hábito que fará com que realizemos tudo, naturalmente, sem dificuldade e com
um grande prazer.
Quanto maior é a perfeição que você aspira ter, mais dependente você fica da graça divina.

Nada mais, apenas Ele

Li em muitos livros maneiras diferentes de chegar a Deus e de praticar a vida espiritual. Esses
métodos serviram mais para me confundir do que para me ajudar, razão pela qual cheguei depois à
conclusão de como era simples dedicar-me integralmente a Deus. Resolvi, então, dar tudo a quem é
TUDO e dei-me completamente a Ele. Renunciei a todas as coisas que não fosse Dele.
Algumas vezes, eu O contemplava como se estivesse dentro do meu coração – como meu Pai e
meu Deus. Eu O adorava tantas vezes quantas fossem possíveis. Mantive a minha mente na Sua
santa presença. Sempre que podia, voltava a chamá-lo quando percebia que a minha mente estava
se afastando Dele. Descobri que esse era um exercício muito difícil! Mesmo assim, continuei apesar
de todas as dificuldades que encontrei. Eu me esforçava para não ficar nervoso, quando a minha
mente se distraía. Ter a presença do Senhor tornou-se a minha atividade diária. Não havia nada que
pudesse perturbar a minha mente e interromper o meu pensamento em Deus. Fiz isso todas as
horas, todos os minutos, mesmo nos dias em que o trabalho era mais intenso.
Sei que toda glória deve ser atribuída somente à misericórdia e à bondade de Deus. Nada
podemos fazer sem Ele... e eu sei disso mais do que qualquer pessoa. Contudo, quando somos
devotados e conseguimos nos manter na Sua santa presença e ter o Seu rosto para sempre diante
de nós, podem estar certos de que é um bom resultado. Nos resguardamos para não ofende-lo, nem
praticarmos nada que desagrade a Sua vontade. Mas mesmo assim, tal exercício nos dá a sensação
de uma liberdade sagrada e de uma familiaridade com Deus. Nós pedimos e pedimos pela graça que
estamos necessitando. Em pouco tempo, de tanto repetir, isso vira um hábito e a presença de Deus
torna-se uma coisa natural para nós.

Consagração

A prática da presença de Cristo, na minha opinião, engloba toda a vida espiritual. Todas as
pessoas que vierem a praticar constantemente a presença de Deus, logo se tornarão espirituais.
Permita-me ir um pouquinho mais adiante. Se um cristão pratica verdadeiramente a presença do seu
Senhor e o faz da maneira apropriada, então o coração desse cristão deve estar esvaziado de tudo
mais. Tudo? Por quê? Porque a vontade de Deus quer possuir esse coração e ser a única coisa
dentro dele. Ele não pode ser o único dono do seu coração, se ele não estiver completamente
esvaziado de tudo. Deus não poderá colocar o que deseja em um coração, se ele não estiver vago
somente para Ele.
Você quer conhecer a maneira mais sublime de vida que se pode experimentar? Não existe no
mundo uma maneira de vida mais doce e maravilhosa do que estar continuamente caminhando com
Deus.
Se eu fosse um pregador, pregaria acima e tudo a prática de estar permanentemente com
Cristo e aconselharia ao mundo inteiro exercitar a Sua presença. Isso é tão necessário e ao mesmo
tempo tão fácil. Oh! Se todos nós tivéssemos a consciência de quanto necessitamos da presença de
Deus! Como seria maravilhoso que todos pudessem enxergar a necessidade da presença do Senhor
em todas as coisas. Se pudéssemos ver como ficamos indefesos sem Ele, nunca mais deixaríamos
de contemplá-Lo, nem mesmo por um momento.
Vamos nos voltar para o nosso interior. O tempo está passando rápido e nossas almas estão
em jogo. Acredito que você tenha procurado responder ao Espírito do Senhor. Isso é louvável, porque
é a única coisa necessária em nossas vidas. Devemos continuar sempre a trabalhar em função disso.
Por quê? Porque não progredir dentro da vida espiritual é andar para trás. Não progredir é retroceder.
Mas aqueles que sentem o sopro forte do Espírito Santo vão em frente, mesmo quando estão
dormindo! E se a nossa alma ainda está sacudida por ventos e tempestades é preciso acordar o
Senhor, pois Ele está adormecido dentro dela. Ele responderá e rapidamente a acalmará como o
mar.

Totalmente devotado a Ele

Não consigo imaginar que um cristão possa viver uma experiência satisfatória sem praticar a
presença de Cristo. De minha parte, mantenho-me retirado, com Ele sempre no centro da minha
alma, o máximo de tempo possível. Quando estou com Ele, não tenho medo de nada. Estou sempre
pronto a perceber qualquer pequeno movimento que venha Dele.

Algumas palavras práticas

Deus não coloca nenhum grande fardo sobre nós. Ele apenas quer que O chamemos para
nossa mente, tantas vezes quantas forem possíveis e que O adoremos e oremos por Suas graças.
Ofereça a Ele as suas aflições. Retorne a Ele sempre que for possível, calmamente, e com pureza,
agradeça por todos os benefícios que Ele lhe deu através do Seu conhecimento. Agradeça também
por todas as coisas boas que Ele fez jorrar sobre você, mesmo quando estava no meio de seus
problemas.
O Senhor pede que O deixe ser o seu único consolo tantas vezes quanta você necessitar e for
até Ele. Você pode ir até Ele por si mesmo. Aprenda a fazer com que o seu coração se expresse no
momento em que você se volta para o Senhor interiormente. Fale com Ele. Fale com doçura,
humildade e amor. Qualquer um é capaz de ter um diálogo muito íntimo e muito próximo com o
Senhor. É verdade que alguns têm mais facilidade do que outros. Mas isso não é importante.
Comece. Ele sabe em que categoria você está! É possível que Ele esteja apenas esperando que
você tome a iniciativa de começar. Então, decida-se agora! Seja arrojado. Nenhum de nós tem ainda
um longo tempo para viver. Por isso, repito, não importa quantos anos ainda nos restem. Vamos viver
agora com Deus. Mesmo que tenhamos algum sofrimento, será doce e agradável viver com Ele.
Comece a acostumar-se, pouco a pouco, a adorá-Lo. Peça graças a Ele. Ofereça-Lhe o seu
coração . Faça isso no meio do seu trabalho, a cada momento que você possa e apenas ofereça o
seu coração. Isso pode ser feito sem que você precise nem mesmo fazer uma declaração em voz
alta. Não precisa ser audível, pode ser no seu interior, ou você pode apenas sussurrar. Não se
prenda a regras, formas ou a maneiras. Aja apenas com fé – vá até Ele. Mas vá com uma atitude de
amor e de grande humildade.
Acima de qualquer método

Agora tenho apenas uma coisa a fazer: aplicar-me cada vez mais para ter sempre a presença
de Deus e nada fazer ou dizer que possa desagradar a Ele. Atualmente tenho a experiência da
presença de Deus. Para usar um outro termo, chamo a isso de conversa secreta de minha alma com
o Senhor.
Freqüentemente me perguntam: “O que você faz quando a sua mente se distrai com outras
coisas?”. Isso acontece algumas vezes quando é necessário ou quando estou enfraquecido. Mas o
Senhor logo me chama de volta. Esse chamado acontece através de uma emoção ou de um
sentimento, também perdido e incapacitado de descrevê-lo.
Minhas horas de oração são exatamente iguais aos outros momentos do dia, para mim. Elas
são uma continuação do mesmo exercício que tenho feito para obter a presença de Deus. Algumas
vezes vejo-me como uma pedra antes de ser esculpida, pronta para que façam dela uma estátua.
Peço a Deus que forme a Sua imagem perfeita em minha alma, tornando-me inteiramente igual a Ele.
Outras vezes, enquanto estou orando, sinto que minha alma e meu espírito se elevam, sem nenhum
esforço de minha parte, para o centro de Deus.

Chamando a mente distraída

Todos nós temos problemas de distração, pois a mente é uma verdadeira ambulante. Mas, logo
que conseguimos disciplinar a vontade e ela se torna a dona de todas as nossas faculdades,
controlamos nossos pensamentos e os levamos a Deus. Quando iniciei meus exercícios, minha
mente também era indisciplinada. Por causa disso, os meus primeiros esforços foram dificultados
pela distração. São hábitos difíceis de serem superados. Eles nos distanciam do Senhor e nos fazem
lutar contra a nossa verdadeira vontade.
Creio que o remédio para isso é você confessar suas faltas e humilhar-se perante Deus. Não
aconselho o uso de muitas palavras durante essas orações, pois elas formam longos discursos que
são ótimas oportunidades para que a mente se distraia.
Faça com que a sua única ocupação seja concentrar-se na presença do Senhor. Se, mesmo
assim, ela bater em retirada ou distrair-se, não fique inquieto ou nervoso. Esse tipo de
comportamento faz com que a distração seja maior ainda. É a vontade que deve trazer a mente de
volta, tranqüilamente. Se você insistir dessa maneira, o Senhor terá piedade. Para conseguir trazer a
mente de volta, com tranqüilidade, no momento da oração, é necessário não deixá-la ir muito longe,
como das outras vezes. Mantenha-se estritamente concentrado na presença de Deus, a cada dia.
Acostume-se a dirigir sua mente ao Senhor várias vezes. Quanto mais você praticar, mais fácil vai se
tornando.
A solução que abrange tudo

Recupere o tempo perdido. Retorne, com segurança, ao Único que é misericordioso e que
concede graças. Retorne a seu Pai que sempre e a qualquer momento está pronto a recebê-lo. E
ainda digo mais: Ele o receberá com profunda afeição.
Deixemos que o nosso amor transborde e renunciemos a tudo que não seja Ele. Deus merece
isso e muito mais. Pensemos Nele permanentemente e coloquemos Nele, nossa confiança. Não
tenho dúvidas de que logo sentiremos os efeitos disso.
Não há maneira de escapar dos perigos da vida sem a ajuda contínua da presença de Deus.
Oremos, então, para que Ele continue a nos ajudar. E como orar para Ele sem estar com Ele? E
como estar com Ele sem pensar sempre Nele? E como pensar Nele sem adquirir o santo hábito de
estar na Sua presença?
Você vai dizer que estou sempre repetindo a mesma coisa. É verdade, porque este é o método
melhor e mais rápido que conheço. Nele está a solução para todos os problemas espirituais. E como
não conheço outro método, aconselho a todos a seguirem este.
Direi isso em outras palavras: antes de podermos amar, precisamos conhecer. É preciso que
conheçamos a pessoa, para que possamos amá-la. Como poderemos manter o nosso “primeiro
amor” para com o Senhor? Conhecendo-O cada vez mais! E como podemos conhecer o Senhor?
Estando contemplando. Então, nossos corações encontrarão os seus tesouros.

Seus inúmeros caminhos

O Senhor faz, com muita freqüência, com que sejamos levados a sofrer um pouco. E Ele faz
isso por duas razões: para purificar a nossa alma e obrigar-nos a continuar na Sua presença (ou, se
for necessário, levar-nos através do sofrimento – de volta para a Sua presença).
O que você deve fazer diante das suas atuais dificuldades? Oferecer todas as suas dores ao
Senhor, constantemente. Peça a Ele forças para suportar a dor. Mas, acima de tudo, adquira o hábito
de passar o seu tempo com Deus. Procure não esquecê-lo.
Parece que Deus tem inúmeros caminhos para conduzir-nos até Ele. Talvez o menos comum
seja o de esconder-Se de você. O que devemos fazer quando não conseguimos mais encontrar o
Senhor? A palavra-chave é fé. Fé é a única coisa que não falha nesses momentos. Deixe que ela
seja o seu suporte. Ela deve sr o alicerce da sua confiança. Nos momentos em que Deus parece nos
ter abandonado é preciso, mais do que nunca, exercitarmos a nossa fé Nele.
Daqui a bem pouco tempo irei encontrar-me com Deus. O que me conforta nesta vida é que
agora já consigo ver o Senhor, por meio da fé. Vendo-O como eu O vejo atualmente, posso dizer: “Eu
não creio mais! Eu vejo!”. Posso sentir que essa fé ensina; posso sentir o que a fé faz ver. Isso é
claro me dá uma grande segurança. Com essa segurança e com a prática da fé, viverei e morrerei
com Ele. Por isso continue sempre com Deus. Estar com Ele será o único apoio e o único conforto
que você terá durante as suas aflições.
Qual será o meu fim e no que vou me transformar, não sei. Mas, estou naquele ponto em que
a paz da alma e o descanso do espírito são uma constante, mesmo quando estou acordado. Ficar
sem esse estado constante de paz seria realmente um sofrimento. Não, eu não sei o que Deus
pretende em relação a mim, nem o que me está reservado. Mas estou muito calmo e nada temo. E
como poderia temer? Eu estou com Ele. E estar lá com Ele, na Sua presença, é o motivo pelo qual
tenho me guardado o máximo possível.

Pensar sempre Nele

Você está guardando bem na sua mente o que estou recomendando? Pense sempre em
Deus, faça isso dia e noite, trabalhando ou divertindo-se. O senhor está sempre perto de você. Ele
está com você. Nunca deixe sozinho. Você não acha que seria indelicado deixar sozinho um amigo
que vem nos visitar? Por que, então, Deus é tão freqüentemente negligenciado? Não esqueça do
Senhor. Pense Nele sempre. Esteja sempre O adorando. Viva e morra com Ele. Essa é a gloriosa
ocupação que um cristão deve ter. Essa é a nossa profissão como cristãos. Se ainda não fizemos
isso, precisamos aprender a fazê-lo.

Até a vista

O Senhor sabe o que é melhor e mais necessário para nós. Tudo o que Ele faz é para o nosso
bem. Se nós soubéssemos, realmente, o quanto Ele nos ama, estaríamos sempre dispostos a
receber alguma coisa Dele. Receberíamos o amargo e o doce, sem distinção. Tudo e todas as coisas
seriam bem recebidas porque viriam Dele.
Vamos nos emprenhar para conhecer a Deus, mesmo que você ache que atualmente O
conhece. Quanto mais você aprofundar esse conhecimento mais desejará conhecê-Lo. Sendo o
conhecimento uma medida de amor, quanto mais profundamente e intimamente você estiver com Ele,
maior será o seu amor. E, se nosso amor pelo Senhor for muito grande, nós O amaremos nas
tristezas e nas alegrias.
Estou certo de que você sabe que o amor da maioria das pessoas pelo Senhor pára num
estágio muito superficial. Muitos só o amam pelas coisas tangíveis que Ele dá ou por causa dos
favores que Ele concede. Você não deve ficar parado nesse estágio, não importa o quão ricas
tenham sido as graças que Ele lhe tenha dado. As graças externas jamais poderão levá-lo para bem
perto de Deus, como um simples ato de fé. Por isso, procure-O através da fé. O Senhor não está fora
de você, espalhando favores. O Senhor está dentro de Você. Procure por Ele lá dentro... e em
nenhum outro lugar. Deixe que o Senhor seja o único amor de sua vida. Se nós amarmos a Ele, será
que não estaremos sendo rudes se nos ocuparmos com coisas insignificantes, coisas que não
agradam a Ele e que até O ofendem? Seja sábio e tema tais insignificâncias. Um dia elas poderão ser
mortais. Faça o que puder e logo verá as mudanças que ocorrerão em você, enquanto estiver
procurando pelo Senhor.
Eu não me canso de agradecer a Ele pelo alívio que tem lhe dado. Espero, por Sua
misericórdia, pelo privilégio de ver sua face em poucos dias. Oremos um pelo outro.

Final

O irmão Lawrence já estava confinado em sua cama dois dias antes de escrever esta última
carta, e morreu na mesma semana. Certamente ele reconheceu o seu Senhor muito rapidamente
uma vez que, embora limitado pelo seu corpo terreno, seus olhos raramente olharam para qualquer
coisa que não fosse o Senhor.

Você também pode gostar